A fachineira de um hotel de luxo atendeu a uma ligação em holandês na frente de um milionário. No dia seguinte, ele mandou chamá-la. O celular de Thaís vibrou no bolso enquanto ela esfregava o chão do suntuoso lobby do Hotel Imperial Palace.
Normalmente ela jamais atenderia durante o expediente. Regra número um da gerente dona Sônia, especialmente para a equipe da limpeza. Mas ela reconheceu o número.
Era da universidade. Depois de seis tentativas frustradas de conseguir uma bolsa para seu mestrado em linguística, aquela ligação podia mudar tudo. "Só um instante", ela sussurrou para si mesma, escondendo-se atrás de uma imponente coluna de mármore.
"Foi que sua vida mudou em segundos. Taís Oliveira. " Ela atendeu discretamente, torcendo para não ser notada pelos hóspedes que circulavam pelo lobby.
A voz do outro lado falou em holandês perfeito. Era o professor Vandermir da Universidade de Amsterdam. Thaís respondeu de imediato no mesmo idioma, sua pronúncia impecável fluindo naturalmente enquanto discutiam detalhes de sua inscrição para o programa internacional.
Minha carta de motivação deveria ter chegado há duas semanas", Thaí explicou preocupada que sua carta supostamente não tivesse chegado a tempo. Foi quando ela percebeu o silêncio repentino ao seu redor, olhou para cima e viu Ricardo Monteiro, o bilionário dono da rede de hotéis, parado a poucos metros, observando-a com um olhar de surpresa indisfarçável. Ao lado dele estava a gerente Sônia, com os olhos arregalados de fúria.
Thaí engoliu em seco. "Preciso desligar. Ligo mais tarde", disse apressadamente em holandês, desligando o telefone.
"Oliveira na minha sala agora. " A voz da gerente cortou o ar. A caminhada até o pequeno escritório administrativo no subsolo pareceu interminável.
Taís sentiu os olhares dos colegas, alguns de pena, outros mal disfarçando a satisfação. Aos 29 anos, era a única mulher negra no departamento de limpeza com diploma universitário, algo que a gerente Sônia fazia questão de constantemente esquecer. Você conhece as regras, Oliveira?
Nada de telefone durante o horário de trabalho, especialmente nas áreas comuns. Dona Sônia disparou assim que ela fechou a porta. E falando em o que era aquilo?
Francês, holandês? Taís corrigiu instintivamente, arrependendo-se no mesmo instante. Não me interessa se era marciano.
O que me interessa é que o senor Monteiro, o dono deste hotel, viu uma fachineira ignorando suas obrigações para falar ao telefone no lobby. A injustiça ardia como brasa. As recepcionistas, todas brancas, faziam ligações pessoais regularmente, sem qualquer consequência.
Mas Taí sabia o que estava acontecendo. Era o mesmo padrão de sempre. Estou te designando para os banheiros do Centro de Convenções pelos próximos três meses.
Talvez lá você possa praticar quantos idiomas quiser, sem envergonhar o hotel. Thaí sentiu o estômago afundar. O centro de convenções significava turnos duplos de limpeza após eventos corporativos sem hora extra.
Era o castigo clássico de dona Sônia para quem saía da linha. Pode ir e agradeça por não estar sendo demitida. Aquela noite foi uma das mais longas.
Em seu pequeno apartamento, dividido com duas colegas enfermeiras, Thaís chorou em silêncio, encarando seu diploma de linguística e certificados internacionais emoldurados na parede descascada. 6 anos limpando quartos de hotel enquanto tentava economizar para o mestrado, enviando currículos que nunca recebiam resposta após as entrevistas presenciais. Na manhã seguinte, chegou cedo, determinada a mostrar profissionalismo, apesar da injustiça, foi quando o telefone da recepção principal tocou.
Thaís Oliveira chamou Jennifer, a chefe das recepcionistas. O RH quer falar com você imediatamente. O departamento de RH ficava no último andar, ao lado dos escritórios da diretoria, território desconhecido para a equipe da limpeza.
No elevador, sentiu-se invisível, como sempre, cercada por executivos, discutindo fusões milionárias, sem sequer notá-la. Oliveira chamou a diretora de RH assim que ela entrou. "Por favor, sente-se.
" Taís sentou-se tensa, preparando-se para o pior. Demissão, muito provavelmente. O Sr.
Monteiro solicitou uma reunião com você. Agora, a sala do dono era maior que seu apartamento inteiro. Ricardo Monteiro, aos 45 anos, era famoso no mundo dos negócios por transformar hotéis falidos em propriedades de luxo.
E agora ele olhava diretamente para ela. Holandês, francês, italiano e mandarim, correto? Ele perguntou sem rodeios, consultando uma pasta aberta sobre a mesa.
Taís piscou confusa. Como o senhor seu currículo? Pedi ao RH assim que a ouvi ontem.
Graduação com honras em linguística pela USP, fluente em seis idiomas, dois deles asiáticos e limpando o meu hotel há 6 anos. O que Thaís não sabia era que aquele momento não era coincidência. O que ninguém naquele hotel suspeitava era que por trás daquela ligação em holandês havia uma história muito maior, uma conexão improvável que não só transformaria a vida de Thaís, mas exporia um sistema de discriminação que por anos manteve talentos extraordinários escondidos atrás de vassouras e produtos de limpeza.
Se essa história de preconceito no trabalho mexe com sua indignação, inscreva-se para descobrir como uma simples ligação em língua estrangeira se tornaria o catalisador para uma virada que nem o mais poderoso bilionário poderia prever. Por alguns segundos, o escritório ficou em completo silêncio. Taís permaneceu imóvel, sua mente processando o que acabara de ouvir.
Ricardo Monteiro sabia quem ela era. Sabia de verdade. E não apenas como a mulher invisível de uniforme de limpeza que todos ignoravam nos corredores.
6 anos. Monteiro repetiu, fechando a pasta e cruzando os braços. Posso perguntar por uma linguista formada pela USP está limpando meus banheiros em vez de trabalhar com traduções internacionais?
Thaí respirou fundo. Enviei 47 currículos para o departamento de relações internacionais deste hotel, todos ignorados. Tentei transferência interna 12 vezes, sempre negada.
Por quem? Pela gerente Sônia e pelo Senr. Medeiros, diretor de operações.
Monteiro anotou os nomes sem piscar. Curioso, o Medeiros vive reclamando da falta de pessoal multilíngue para nossos clientes internacionais. Seus olhos se estreitaram, especialmente para as conferências com asiáticos.
O que Monteiro não disse era que ele havia notado um padrão perturbador três meses antes, contratara uma empresa de consultoria para investigar discretamente porque seus hotéis na região Sudeste tinham taxas alarmantes de rotatividade entre funcionários qualificados não brancos. Thaís, serei direto. Amanhã começa uma conferência de negócios com executivos holandeses e chineses.
Preciso de alguém que fale ambos os idiomas fluentemente e entenda as nuances culturais. E o senhor quer que eu limpe os quartos deles? ", Thaís perguntou, incapaz de esconder o sarcasmo.
Monteiro sorriu brevemente. "Quero que você seja nossa coordenadora de relações internacionais para o evento temporariamente. " Salário: 20.
000 por semana, começando hoje. Thaís quase deixou a bolsa cair. Era mais do que ganhava em três meses.
Porque eu Existem centenas de candidatos qualificados. Porque eu ouvi você falando holandês como uma nativa, porque você tem as qualificações que preciso e porque suspeito que há algo muito errado acontecendo na minha empresa. Uma hora depois, Thaís entrou no elevador com um novo crachá e acesso total aos sistemas do hotel.
A caminho do RH, para finalizar a papelada, esbarrou na gerente Sônia. O choque no rosto da mulher foi impagável. Oliveira, o que está fazendo neste andar sem uniforme?
Trabalhando. Dona Sônia, coordenadora de relações internacionais a pedido direto do senor Monteiro. Sônia empalideceu visivelmente.
Impossível. Você não tem as qualificações. USP.
Fluente em seis idiomas, incluindo mandarim e holandês. Thaí interrompeu, mantendo um tom profissional. Meu currículo está nos arquivos do hotel há 6 anos, junto com meus 12 pedidos de transferência.
Enquanto a gerente gaguejava explicações, Thaís seguiu seu caminho. No departamento de RH, encontrou uma aliada inesperada, Júlia Silva, uma analista de recrutamento recém-contratada que demonstrou entusiasmo genuíno. Thaís, finalmente vi seu arquivo quando comecei há três meses e não consegui entender porque alguém com suas qualificações estava na faxina.
Júlia confidenciou enquanto organizava sua transferência. Tentei falar com o Medeiros, mas ele me cortou na hora. Naquela tarde, enquanto preparava a sala VIP para a conferência, Thaís notou algo perturbador.
Os documentos do evento continuas e inadequadas em mandarim, que poderiam causar sérios mal entendidos diplomáticos com os executivos chineses. Ela rapidamente corrigiu os erros, redesenhando os materiais de boas-vindas. "Como sabia que estavam errados?
", perguntou Monteiro, que vinha observando silenciosamente seu trabalho da porta. A tradução anterior usava termos que podem ser considerados ofensivos no chinês corporativo formal", explicou Thaís. "Quem fez isso conhece o básico do idioma, mas não as nuances culturais.
Monteiro assentiu pensativo. Medeiros me garantiu que contratou os melhores tradutores. Custou uma fortuna.
Ele contratou alguém sem verificar as credenciais. " Taís corrigiu, apontando um erro crítico na tradução de uma proposta de parceria. No dia seguinte, a conferência começou.
Taís deslizava entre os executivos internacionais com elegância natural, alternando sem esforço entre holandês e mandarim, mediando conversas e facilitando conexões que normalmente levariam dias para serem estabelecidas. Durante um intervalo, foi abordada por Medeiros, o diretor de operações, um homem que nunca se dignara a falar com ela em 6 anos. Seu sorriso não alcançava os olhos.
"Senrita Oliveira, estou impressionado. " A Sônia claramente julgou mal seu potencial. Obrigada, senhor Medeiros.
É impressionante como meu currículo listando fluência em Mandarim foi negligenciado, especialmente quando o hotel gastou 250. 000 em serviços de tradução inadequados para esta conferência. O sorriso de Medeiros congelou.
Deve haver algum mal entendido. Eu nunca recebi. Recebi confirmação de leitura de todos os e-mails nos últimos seis anos.
Taí interrompeu calmamente, inclusive aqueles alertando sobre erros críticos nas traduções contratadas para eventos asiáticos. O que Thaís não mencionou foi que Júlia lhe dera acesso aos registros dos contratos de tradução. A empresa pertencia à sobrinha de Medeiros, Amanda, que não tinha experiência comprovada em mandarim formal, mas cobrava valores de especialista.
Pior, todas as traduções anteriores conham erros semelhantes que poderiam ter custado milhões em negócios perdidos. No terceiro dia da conferência, algo inesperado aconteceu. Um dos empresários holandeses reconheceu Thaí: "Espere!
Você não é a estudante que escreveu aquele artigo brilhante sobre variação linguística em negócios internacionais, publicado no Journal of Applied Linguistics? " Thaí confirmou: "Surpresa por ser reconhecida. Citei seu trabalho em duas conferências", exclamou o homem, chamando colegas para conhecê-la.
Monteiro observava de longe, notando como Medeiros parecia cada vez mais desconfortável. O que o diretor não percebia era que, enquanto ele sorria e conversava, Thaís uma teia que revelaria não apenas erros isolados, mas todo um sistema de discriminação institucionalizada e corrupção, que mantivera talentos como o dela suprimidos, enquanto contratos inflacionados eram direcionados a pessoas não qualificadas. O que ninguém no Hotel Imperial Palace percebia era que a faxineira negra que atendeu uma ligação em holandês não estava ali por acaso.
Por trás daquela aparente simples transferência de departamento, um plano se desenrolava que não só mudaria a vida de Thaí, mas exporia um sistema de discriminação que afetava dezenas de funcionários. A questão não era mais se ela conseguiria provar o que aconteceu, mas quão devastadora seria a verdade quando viesse à tona. Na manhã do quarto dia da conferência, o Hotel Imperial Palace fervilhava de energia.
A iniciativa de Thaís havia gerado contratos preliminares que superavam todas as expectativas. Ao atravessar o lobby, ela notou algo perturbador. Medeiros conduzia uma jovem claramente nervosa aos elevadores executivos.
Senhorita Medeiros, sua tradução para o mandarim está adequada", ele disse em tomado. "Não há motivo para preocupação. " Taís reconheceu o sobrenome imediatamente.
A jovem carregava uma pasta marcada. Tradução final, contrato master. Um rápido olhar ao passar confirmou suas suspeitas.
Os mesmos erros críticos de antes persistiam no texto. "O Sr. Monteiro precisa ver isso", Taís pensou, apressando-se para a sala do CEO.
Monteiro revisava documentos quando ela entrou sem avisar. Thaís, o que está acontecendo? Medeiros está substituindo minhas traduções corretas por versões falhas feitas pela sobrinha dele.
Thaí explicou, mostrando-lhe capturas de tela em seu celular. E tenho provas de que isso acontece há anos. Monteiro levantou-se abruptamente.
Você tem certeza absoluta? Tenho tudo documentado. Além disso, encontrei registros de pagamentos inflacionados para a empresa de tradução dela, três vezes acima do valor de mercado, enquanto candidatos qualificados como eu, éramos sistematicamente rejeitados.
Enquanto falavam, Júlia do RH entrou apressada. Senhor Monteiro, desculpe interromper, mas encontrei algo que o senhor precisa ver imediatamente, disse ela, entregando-lhe uma pasta. Registros de contratação dos últimos 5 anos.
Padrão consistente de rejeição de candidatos qualificados não brancos, especialmente mulheres. Monteiro foliou os documentos, o rosto endurecendo a cada página. A investigação externa havia detectado algo, mas isso isso era sistemático.
Naquele momento, Medeiros entrou na sala sem bater, interrompendo a conversa. Ricardo, os holandeses estão prontos para assinar, mas estão perguntando sobre algumas inconsistências nas traduções. A Oliveira deve ter misturado alguma coisa.
O silêncio que se seguiu foi gélido. Monteiro caminhou lentamente até a porta e a fechou. Tomás, estou vendo registros de pagamento de 250.
000 ralli por traduções incompetentes, enquanto temos funcionários qualificados limpando banheiros", disse Monteiro. A voz perigosamente calma. Alguma explicação?
Medeiros empalideceu visivelmente. Não sei do que você está falando. Nós contratamos os melhores.
Sua sobrinha Tomás Monteiro interrompeu. Com zero experiência em mandarim formal. Ela tem uma certificação falsa.
Thaís completou colocando um e-mail impresso sobre a mesa. Acabei de confirmar com a Universidade de Pequim. Eles nunca certificaram Amanda Medeiros.
Medeiros lançou a Thaís um olhar de puro ódio. Você não é ninguém. Uma fachineira que acha que pode brincar com os grandes, doutoranda em linguística aplicada pela USP.
Thaís corrigiu calmamente. Com seis publicações internacionais, tudo nos arquivos do RH que você perdeu repetidamente. Tomás Monteiro interveio.
Convoquei uma reunião de emergência do conselho em 30 minutos. Até lá, quero sua carta de demissão na minha mesa. Você não pode estar falando sério.
Medeiros riu nervoso. Por causa dessa dessa? Escolha suas próximas palavras com extremo cuidado", advertiu Monteiro.
Duas horas depois, o auditório executivo estava lotado. Todos os gerentes, supervisores e diretores, haviam sido convocados urgentemente. Na primeira fila, executivos holandeses e chineses aguardavam curiosos.
Dona Sônia, a gerente da limpeza, parecia confusa, sentada ao lado de outros gerentes de departamento. Monteiro subiu ao palco, Taís ao seu lado. Hoje descobrimos um esquema sistemático de discriminação e nepotismo que custou milhões a esta empresa, anunciou gravemente.
Durante anos, gerentes como Tomás Medeiros e Sônia Ferreira implementaram políticas não oficiais que prejudicaram não apenas nossos funcionários, mas também nosso resultado final. Uma apresentação começou atrás dele, mostrando gráficos comparativos de qualificações de funcionários versus cargos, estatísticas de contratação e rejeição por raça e gênero e contratos superfaturados com empresas ligadas a familiares de gerentes. Senhorita Oliveira, que alguns de vocês conheciam apenas como fachineira, salvou nossa empresa de um desastre diplomático e financeiro esta semana", continuou Monteiro, corrigindo traduções que teriam custado milhões em mal entendidos contratuais.
Os empresários asiáticos a sentiram em reconhecimento, alguns aplaudindo discretamente. Como resultado desta investigação, Tomás Medeiros foi demitido por justa causa, anunciou Monteiro. Sônia Ferreira está suspensa enquanto concluímos nossa investigação sobre seu envolvimento e com efeito imediato, estamos implementando uma auditoria completa de todas as contratações e promoções dos últimos 5 anos.
A sala mergulhou em silêncio, chocado. Dona Sônia, agora pálida, encarava o chão. E finalmente Monteiro sorriu levemente.
Tenho o prazer de anunciar que a Dr. Thaí Oliveira está sendo nomeada nossa nova diretora global de comunicações internas, supervisionando todas as nossas operações multilíngues. O auditório explodiu em aplausos.
Alguns hesitantes, muitos entusiasmados, especialmente da equipe de limpeza sentada ao fundo, que aplaudia com lágrimas nos olhos. Ao deixar o palco, Thaís notou o Medeiros sendo escoltado para fora do prédio por seguranças, o rosto contorcido numa máscara de raiva impotente. Ao passar por Thaís, ele murmurou: "Você não dura um mês?
" Thís apenas sorriu serenamente. No bolso de seu blazer recém- adquirido, havia um gravador, o mesmo que capturara cada ameaça e comentário racista que Medeiro sussurrara nos últimos dias, enquanto tentava desesperadamente encobrir seu esquema. Naquela noite, em seu novo escritório com vista para a cidade, Taís finalmente se permitiu chorar.
Não eram lágrimas de tristeza, mas de profunda catar-se. Se anos limpando corredores enquanto seu potencial era negado. 6 anos de seu currículo deve ter se perdido e talvez você não se encaixe na cultura da empresa.
Ela pegou o telefone e ligou para sua mãe que sacrificara tudo para pagar sua educação. Eu consegui, mãe disse simplesmente a voz embargada. O que ninguém no Hotel Imperial Palace poderia prever naquele dia era que a verdadeira transformação estava apenas começando.
Enquanto alguns executivos ainda digeriam o choque de ver velhos privilégios desmoronarem, outros já percebiam a verdade inevitável. O verdadeiro talento, quando finalmente liberto, não apenas corrige injustiças passadas, mas redefine completamente o futuro. A queda de Medeiros e seu esquema discriminatório foi apenas o primeiro capítulo de uma reformulação completa que abalaria as fundações não apenas daquele hotel, mas de toda a indústria hoteleira brasileira.
E tudo começou com uma simples ligação em holandês. Seis meses se passaram desde aquele dia fatídico em que Thaís atendeu uma ligação em holandês no lobby do Hotel Imperial Palace. O que antes fora um caso isolado de justiça pessoal, transformara-se numa revolução silenciosa na hotelaria nacional.
O escritório de Thaís no 32º andar agora tinha vista para toda São Paulo. Uma placa discreta na porta de Carvalho dizia: "Dríse Oliveira, vice-presidente de diversidade e relações internacionais. O salário era de cinco dígitos mensais, não anuais, mas o verdadeiro poder residia além do título ou da compensação financeira.
Comitê de reestruturação reunido e aguardando Dortra Oliveira", anunciou Júlia, agora sua assistente executiva e amiga próxima. Todos os gerentes regionais estão na teleconferência. Thaí assu, respirando fundo antes de entrar na sala de conferências, onde Ricardo Monteiro e o conselho de diretores a esperavam.
Era o dia da apresentação final do programa Talentos Invisíveis, uma iniciativa pessoal que Thaís desenvolvera para identificar e promover funcionários qualificados que eram sistematicamente negligenciados em toda a rede hoteleira. Os resultados do programa piloto excederam todas as nossas expectativas. Taís começou apresentando os números na tela.
Em apenas seis meses, identificamos 147 funcionários com habilidades em idiomas, finanças, gestão e tecnologia que estavam em funções muito abaixo de suas capacidades. 83% deles negros, latinos ou de outros grupos minoritários. Monteiro assentiu com aprovação.
O programa fora a sua primeira exigência ao aceitar a promoção. Não apenas consertar sua situação individual, mas mudar todo o sistema. O mais impressionante, continuou Thaís, é o impacto financeiro.
Os custos, com tradução terceirizada caíram 78%. A satisfação do cliente internacional aumentou 42%. E nossos índices de diversidade estão agora no topo da indústria.
Tudo isso enquanto oferecemos oportunidades reais a pessoas que já estão em nossa folha de pagamento. Do outro lado do país, dona Sônia assistia a transmissão da conferência de um pequeno hotel no interior. Após uma extensa investigação, ela escapara da demissão, aceitando um rebaixamento e transferência.
agora gerenciava a lavanderia de uma propriedade de segunda categoria, uma humilhação diária para quem um dia rejeitou talentos com base no preconceito. "A próxima expansão do programa incluirá um sistema de mentoria interna", explicou Thaís. Cada talento promovido se compromete a identificar e apoiar outros funcionários com potencial.
Tomás Medeiros não estava participando da conferência. Após sua demissão, nenhum hotel de luxo o contrataria. Alegações de discriminação sistemática e desvio de verbas mancharam permanentemente seu nome na indústria.
Corria o boato de que ele agora trabalhava como gerente noturno num motel de beira de estrada no Centro Oeste. Sua sobrinha, Amanda, tivera que devolver todos os pagamentos inflacionados, concluir um programa de ética profissional e agora estudava mandarim, ironicamente com uma bolsa criada pela Fundação Monteiro para Educação Linguística Inclusiva. Para encerrar", disse Thaís, virando-se diretamente para a câmera que transmitia para todas as propriedades da rede.
"Quero compartilhar algo pessoal. " Ela fez uma pausa, deixando o silêncio preencher a sala. Quando eu era pequena, minha mãe trabalhava como camareira num hotel como este.
Ela tinha diploma universitário, mas nunca conseguiu um emprego em sua área. Ela sempre me dizia: "Taís, não importa o quanto tentem te fazer sentir invisível, seu valor não depende do reconhecimento deles. " Taís respirou fundo, mantendo a compostura.
Minha mãe faleceu acreditando que algumas portas jamais se abririam pra gente como nós. Ela nunca viveu para ver este momento, para ver que seu sacrifício valeu a pena. Do outro lado da sala, vários executivos, muitos recém promovidos pelo programa, enxugavam lágrimas discretamente.
O verdadeiro poder de uma empresa não está no quanto ela fatura, mas no potencial que ela liberta. Por décadas, a indústria da hospitalidade, como tantas outras, enterrou talentos extraordinários sob uniformes de serviço, presumindo que pessoas de certas cores, sotaques ou origens só serviam para funções invisíveis. Monteiro levantou-se aplaudindo, seguido por toda a sala e centenas de funcionários assistindo remotamente.
Mais tarde, naquele dia, Thaís recebeu um envelope em seu escritório. Dentro, um cartão postal de Amsterdam e uma carta da Universidade de Linguística Aplicada, oferecendo-lhe uma posição como professora visitante. O professor Vanderm, que fizera aquela ligação fatídica em holandês se meses antes, acompanhar a sua ascensão meteórica.
Ironicamente, pensou Thaís, olhando pela janela para a cidade. Tenho que agradecer a dona Sônia por me punir naquele dia. Se ela tivesse simplesmente me dado uma advertência, eu talvez ainda estivesse limpando os mesmos quartos, meu diploma acumulando poeira.
No dia seguinte, Thaís lançou oficialmente um fundo de bolsas de estudo para funcionários do hotel e seus filhos, financiado em parte por seu novo salário. A primeira beneficiária, a filha de sua ex-colega de limpeza, que sonhava em estudar hotelaria, o que começou como uma ligação em holandês enviar a ondas que agora se espalhavam muito além daquele hotel, muito além daquela indústria. A mensagem era clara: "Talento existe em toda parte.
O que falta são oportunidades e reconhecimento. A verdadeira justiça não é apenas punir quem discrimina, mas reconstruir sistemas inteiros para que o preconceito não tenha onde se esconder. A vingança mais doce de Thaís não foi ver seus antagonistas caírem, mas assistir centenas de pessoas como ela finalmente se erguerem.
Se esta história te emocionou e te fez refletir sobre como o preconceito silencioso pode sufocar talentos extraordinários, deixe seu comentário e não se esqueça de se inscrever no canal para mais histórias inspiradoras sobre pessoas que transformaram a injustiça em plataformas para a mudança real. Afinal, a maior lição que Thaís nos ensina é que a verdadeira grandeza não é sobre superar barreiras sozinho, mas sobre garantir que as portas permaneçam abertas para todos que vierem depois. Yeah.