Este vídeo é cheio de esperanças sobre o futuro da Terra, mas não no sentido de que podemos ficar tranquilos, de que tudo vai ficar bem. Não. Do jeito que estamos, caminhamos de maneira preocupante para desestabilizar nosso planeta e colocar nossa própria existência em risco.
A esperança aqui é no mesmo sentido do que foi dito pela ativista Greta Thunberg durante a cúpula do clima: Sou Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil, e neste vídeo vou falar sobre um influente estudo científico que determinou quais processos mantêm a Terra em equilíbrio, quão perto estamos de quebrá-lo e, é claro, o que devemos fazer para evitar que isso aconteça. Antes de falar sobre nosso presente e futuro, é necessário dar um passo atrás. .
. bem para trás: até o fim da última era glacial. Seu fim, há cerca de 11 mil anos, deu início a uma era geológica conhecida como Holoceno.
Foi um período de estabilidade climática que permitiu aos humanos desenvolver a agricultura, domesticar animais e basicamente criar o mundo moderno de hoje. O problema é que ao longo do caminho extinguimos espécies e danificamos ecossistemas, poluímos o ar, a água e a terra, e desencadeamos os episódios de clima extremo que sofremos hoje. Em outras palavras, forçamos a entrada no Antropoceno, a era geológica atual em que os humanos são os principais responsáveis pelas mudanças planetárias.
É nesse contexto que um grupo internacional de cientistas liderado pelo Centro de Resiliência de Estocolmo começou a investigar qual risco corremos de desestabilizar o planeta. Sua conclusão foi que existem 9 processos que mantêm a Terra no estado de equilíbrio e resiliência de que precisamos. Eles definiram uma série de medidas quantitativas muito específicas que marcam uma zona segura e uma zona de risco para cada um dos 9 processos.
E, por isso, os chamaram de "limites planetários". Se não cruzarmos essas fronteiras, dizem os cientistas, a humanidade poderá continuar prosperando por gerações. Mas, se cruzarmos apenas uma dessas fronteiras, corremos o risco de gerar mudanças ambientais irreversíveis em todo o sistema e desencadear o colapso da nossa sociedade.
Em outras palavras, esses 9 processos funcionam como os três mosqueteiros: "um por todos e todos por um". Tanto para o bem, quanto para o mal. Isso é explicado pelo pesquisador do Centro de Resiliência de Estocolmo, Arne Tobian, que é alemão.
Bom, desses 9 limites, já ultrapassamos 4. E como se não bastasse, nesses 4 estão os 2 que são considerados centrais por causa de sua influência em todo o sistema. Vamos começar com o que talvez seja o limite mais famoso de todos: as mudanças climáticas.
Desde a Revolução Industrial, a temperatura global já subiu 1,1°C e continua aumentando. Os efeitos das mudanças climáticas já se fazem sentir nas temperaturas mais quentes em todo o mundo, mas também no aumento de eventos climáticos extremos, como secas e inundações. Hoje temos 5 vezes mais desastres meteorológicos do que em 1970, e eles são 7 vezes mais caros.
E pode piorar. Para evitar consequências ainda piores, é necessário que o aumento da temperatura seja mantido em torno de 1,5ºC. Mas se continuarmos como estamos hoje, o aumento da temperatura até o final deste século pode chegar a 4,4°C, o que seria catastrófico.
O segundo desses limites centrais é a perda de biodiversidade e extinção de espécies, que os cientistas chamam de integridade da biosfera. Ultrapassamos tanto esse limite que alguns pesquisadores acreditam que estamos no meio da sexta extinção em massa na história do planeta. Para se ter uma ideia, as extinções em massa foram períodos em que 60 a 95% das espécies foram exterminadas.
O objetivo aqui é nada menos do que perder zero biodiversidade e espécies a partir do próximo ano, o que é um grande desafio considerando que, hoje, das 8 milhões de espécies de animais e plantas que habitam o planeta, 1 milhão está ameaçada de extinção. Além desses, como eu falei, existem outros limites que já ultrapassamos. Um deles é a mudança no uso do solo, que é a transformação de florestas, pântanos e outros tipos de vegetação em terras para agricultura e pecuária.
Esse processo é um dos motores das reduções severas da biodiversidade. E o desmatamento, em particular, tem um grande impacto na capacidade do clima de se autorregular. A outra fronteira que também cruzamos está ligada às mudanças nos ciclos dos nutrientes, o que os cientistas chamam de fluxos bioquímicos.
Isso abrange principalmente os ciclos de fósforo e nitrogênio, dois elementos essenciais para o crescimento das plantas. No entanto, seu uso em fertilizantes os coloca na zona de risco. .
. e bem avançado. Um dos problemas que isso gera é que parte do fósforo e do nitrogênio aplicados nas plantações são levados para o mar, onde fazem os sistemas aquáticos cruzarem seus próprios limites ecológicos.
Vamos agora aos 3 limites que ainda não ultrapassamos, começando pelo único em que a humanidade viu os sinais de alerta e agiu com sucesso: a redução do ozônio na estratosfera. Mais de 30 anos atrás, o mundo inteiro concordou em banir certos produtos químicos que estavam abrindo um "buraco" na camada de ozônio. Desde então, o ozônio estratosférico vem se recuperando, o que hoje nos permite ficar calmos, dentro de uma zona de segurança.
Aí também entra o uso da água doce. Embora a Terra tenha tanta água que pareça um ponto azul visto do espaço, a maior parte dela é salgada. Apenas 2,5% da água é doce e essa porcentagem está diminuindo principalmente devido ao aumento da pressão da agricultura.
Essa atividade, que já representa 70% do uso de água doce, tem o desafio de produzir cada vez mais em um mundo que já tem quase 8 bilhões de habitantes e que em 2050 pode ultrapassar os 10 bilhões. E, é claro, também precisa fazer isso sem roubar mais solo da natureza. Os cientistas dizem que, embora o uso de água doce ainda esteja dentro da zona de segurança, estamos caminhando rapidamente em direção à zona de risco.
O mesmo acontece com a acidificação do oceano, um problema crescente que afeta, por exemplo, a sobrevivência dos corais. Ainda não ultrapassamos esse limite, mas se isso acontecer, implicaria em uma camada extra de perigo, pois várias das extinções em massa da história tiveram o aumento da acidez dos oceanos como gatilho. A boa notícia é que esse limite está intimamente ligado às mudanças climáticas.
Ou seja, se os objetivos do último acordo forem atingidos, a acidez do oceano será mantida sob controle. Agora, ainda faltam 2 limites que não mencionei nem em um, nem no outro lado da fronteira. São os limites que os cientistas ainda não como sabem medir.
Um deles é a contaminação da atmosfera com aerossóis de origem humana, ou seja, a presença de partículas microscópicas na atmosfera que afetam o clima e os organismos vivos. O exemplo mais claro é que a cada ano cerca de 800 mil pessoas morrem prematuramente por respirar ar altamente poluído. O nono e último processo é a incorporação das chamadas “novas entidades”.
São elementos ou organismos modificados por humanos, e também substâncias totalmente novas. Isso inclui uma lista muito longa, variando de materiais radioativos a microplásticos. Como falei no início do vídeo, esses 9 limites planetários funcionam de forma interconectada.
E como já ultrapassamos 4 dos 9 limites, existe o risco real de quebrar o equilíbrio natural do planeta e criar um mundo com ainda mais refugiados climáticos, mais pobreza, doenças e fome. Mas eu comecei dizendo que esse vídeo era de esperança. E a verdade é que os cientistas dizem que ainda temos tempo para agir.
São necessárias ações rápidas e ousadas de todos os governos do mundo, começando com o corte do uso de combustíveis fósseis, ou seja, petróleo, carvão e gás mineral, e substituindo por energia renovável. Mas também são necessárias mudanças no estilo de vida das pessoas. Comer mais vegetais e menos carne, economizar energia, plantar árvores e optar por caminhar, pedalar ou usar o transporte público são medidas concretas que fazem a diferença.
Em suma: nesta década, que termina em 2030, precisaremos passar por uma grande transformação para continuarmos existindo. Não há mais espaço para desculpas. Eu fico por aqui.
Obrigada pela audiência e até a próxima.