Trabalhando como garçonete em um cruzeiro, a mulher ficou em choque ao descobrir que o milionário à sua frente era, na verdade, seu marido que havia falecido há 7 anos. Era um dia normal, nada que indicasse que o mundo de Lívia estava prestes a virar de cabeça para baixo. Ela havia saído para resolver algumas coisas na cidade, como fazia sempre. Não era fácil, com uma gravidez de 7 meses, cuidar da casa, das contas e ainda tentar manter tudo em ordem, sem ajuda de Daniel, seu marido, que estava sempre viajando a trabalho. Mas ela dava conta,
ou achava que dava. Mal sabia ela que aquele dia marcaria o início de um pesadelo sem fim. De volta para casa, Lívia estranhou quando seu telefone começou a tocar insistentemente. O número não era conhecido, mas algo no fundo do seu peito fez com que ela atendesse. Do outro lado da linha, uma voz grave quase se identificou como policial. O homem foi direto ao ponto, sem rodeios, e a notícia caiu como uma bomba: Daniel havia sofrido um grave acidente de carro numa estrada deserta. Chovia forte naquela tarde e o veículo, segundo o relato, foi arrastado por
uma correnteza para fora da pista. As autoridades estavam fazendo buscas, mas até aquele momento, nenhum corpo havia sido encontrado. Lívia sentiu o chão sumir sob seus pés; não conseguia falar, pensar ou sequer respirar direito. O policial continuava explicando os detalhes, mas era como se as palavras estivessem vindo de muito longe, ecoando sem fazer sentido. “Como assim, nenhum corpo foi encontrado?” ela ainda tentava processar o que estava ouvindo. “Ele pode estar vivo”, pensou, agarrando-se desesperadamente a essa ideia. Daniel sabia nadar, era forte; ele poderia ter saído do carro e estar perdido, esperando ajuda. Mas, à medida
que o policial falava sobre as condições extremas do local, a esperança de Lívia começava a desmoronar. Aquela noite foi longa. Lívia ligou para parentes, amigos e até para colegas de trabalho de Daniel. Todos estavam em choque, ninguém sabia o que dizer. O clima de incerteza aumentava o sofrimento dela. Não havia corpo, não havia despedida; era como se Daniel tivesse desaparecido, sumido no ar, e aquela falta de respostas a deixava à beira de um colapso. Ela passava as horas deitada no sofá, olhando fixamente para o teto, como se de alguma forma pudesse acordar daquele pesadelo. Mas
as horas passaram, a madrugada avançou, e a dor só aumentava. No dia seguinte, a polícia voltou a ligar. As buscas continuavam, mas não havia novidades. Aparentemente, o carro havia sido totalmente submerso e arrastado por metros na correnteza. A probabilidade de alguém sobreviver a uma situação dessas, eles disseram, era praticamente nula. Lívia não queria acreditar; precisava de provas, queria ver o corpo de Daniel, mesmo que isso significasse encarar a mais dura das realidades. Mas o tempo passava e nada parecia a, apenas o vazio. Os dias seguintes foram uma mistura de dor, negação e exaustão. Lívia, mesmo
grávida de gêmeos, passou a correr atrás de respostas. A cada ligação da polícia ou de qualquer outra pessoa, sua ansiedade aumentava e as perguntas na cabeça dela não paravam de girar: “Por que isso aconteceu? Onde está o corpo? Será que ele conseguiu sobreviver de alguma forma?” Ela começou a procurar na internet, lendo sobre casos semelhantes, sobre pessoas que sobreviveram a acidentes horríveis. Mas a cada novo artigo que lia, sua angústia crescia. A realidade era implacável; se Daniel estivesse vivo, ele teria sido encontrado. Ao mesmo tempo, uma nova onda de problemas começou a bater à porta.
Em meio à dor da perda, Lívia começou a receber cobranças, contas, dívidas, empréstimos que Daniel havia feito sem contar para ela. Era como se, além do luto, ela estivesse sendo afogada por uma avalanche de problemas financeiros. Uma após a outra, as cartas de cobrança chegavam e os telefonemas não paravam. Ela descobriu que Daniel havia deixado uma série de dívidas com bancos, empresas de crédito e até alguns conhecidos. Aquilo era como uma segunda traição; além de perder o marido, ela agora enfrentava sozinha o peso das decisões que ele havia tomado sem consultá-la. O pior de tudo
é que, sem o corpo de Daniel, não havia como declarar sua morte oficialmente. Isso significava que a burocracia para acessar os seguros de vida ou até mesmo para resolver questões ligadas às dívidas seria interminável; para o sistema, Daniel ainda estava desaparecido. Essa ausência de um encerramento concreto parecia sufocar ainda mais Lívia. Sem poder dar um fim definitivo ao capítulo mais doloroso da sua vida, ela se via presa em um ciclo interminável de espera e sofrimento. O peso da perda não era apenas emocional, mas físico. Lívia estava grávida de sete meses e cada dia se tornava
mais difícil. Ela precisava de força, não só por ela, mas pelos filhos que estavam prestes a nascer. Mas como manter a cabeça erguida diante de tanta incerteza? Cada noite era passada em claro, se revirando na cama, tentando encontrar uma solução, uma saída. Ela precisava de respostas, precisava de um corpo, de um funeral, de um ponto final naquela tragédia. Mas o tempo passava e Daniel continuava desaparecido, como se tivesse sido engolido pelas águas sem deixar rastros. Os familiares de Lívia tentavam ajudá-la, mas eles próprios estavam desorientados. Algumas pessoas sugeriram que talvez fosse hora de aceitar a
realidade, que Daniel provavelmente estava morto e que ela precisava seguir em frente. Mas como seguir em frente quando tudo o que restava era uma pergunta sem resposta? Lívia não conseguia aceitar; ela não podia. Mesmo que a razão dissesse o contrário, no fundo do seu coração ainda havia uma esperança, por menor que fosse, de que Daniel estivesse em algum lugar, esperando para ser resgatado. E foi nesse estado de espírito, perdido entre a dor e a negação, que Lívia enfrentou os próximos meses. A barriga crescia, as contas se acumulavam e a ausência de Daniel era sentida em
cada detalhe. Cada canto da casa, o que antes era um lar, agora parecia um espaço vazio onde o silêncio gritava mais alto do que qualquer palavra. O futuro, que antes parecia promissor, agora se transformava em um abismo incerto, e ela estava sozinha, completamente sozinha, esperando por um desfecho que talvez nunca chegasse. Depois da perda de Daniel, os dias de Lívia foram como uma corrida sem fim. No começo, ela ainda estava anestesiada pela dor; a tristeza era tão forte que, às vezes, ela mal conseguia levantar da cama. Mas os filhos estavam a caminho, e ela não
tinha escolha: precisava seguir em frente, por mais impossível que isso parecesse. A vida não esperava que ela se recuperasse, e as responsabilidades estavam batendo à porta de forma implacável. Quando os gêmeos nasceram, a felicidade de ter Lucas e Sofia nos braços foi ofuscada por uma nova realidade: como criar dois bebês sozinha, sem o apoio de Daniel, sem dinheiro e com uma pilha de dívidas crescendo a cada dia? As contas não paravam de chegar, e os cobradores ligavam sem parar. A pressão era enorme, e Lívia mal conseguia respirar. Ela precisava de uma solução rápida, algo que
pudesse colocar comida na mesa e pagar pelo menos uma parte das dívidas que Daniel havia deixado. Os primeiros meses foram uma luta diária; o dinheiro que tinha guardado desapareceu rapidamente com as despesas dos recém-nascidos, e logo ela estava sem saída. Vender a casa foi a única opção. A casa que ela e Daniel haviam comprado juntos, cheia de sonhos e promessas, agora tinha que ser entregue para quitar parte das dívidas. O que restava era um pequeno apartamento alugado, muito mais simples do que ela estava acostumada, mas era tudo que ela podia pagar. Lívia tentou manter a
cabeça erguida, mas a verdade era que cada mudança parecia uma derrota. Cada objeto vendido, cada conta quitada com sacrifício, representava mais um pedaço de sua antiga vida que ia embora. Daniel não estava lá, e as memórias que restavam dele agora eram dolorosas. Tudo aquilo parecia injusto; ela não havia cometido nenhum erro, não era responsável por aquelas dívidas, mas era ela quem estava pagando por tudo. Cuidar dos gêmeos era um trabalho em tempo integral. Lucas e Sofia eram pequenos e frágeis, precisavam de atenção constante, mas Lívia não podia se dar ao luxo de ficar em casa
o tempo todo. O aluguel, as fraldas, os alimentos, tudo precisava ser pago, e o dinheiro estava acabando. Com um aperto no coração, ela decidiu contratar uma baba para tomar conta dos filhos enquanto ela tentava encontrar um emprego, mas o problema era que as ofertas de trabalho eram poucas, e os empregos que pagavam bem inexistiam para alguém sem qualificação especial. Então, Lívia aceitou o que conseguiu. Seu primeiro emprego foi como faxineira em uma lanchonete no centro da cidade. O dinheiro era pouco, mas era o suficiente para comprar comida e pagar a vizinha que cuidava das crianças
durante o dia. O trabalho era pesado; ela chegava cedo e passava o dia limpando mesas, varrendo o chão e tirando o lixo. Às vezes, chegava a se perguntar se conseguiria continuar, porque seu corpo estava esgotado. As noites em claro cuidando dos gêmeos e os dias de trabalho exaustivo estavam cobrando um preço alto em sua saúde. Lívia emagreceu; seu rosto estava cansado e as olheiras eram uma constante, mas ela não tinha escolha. Mesmo com todo o sacrifício, o dinheiro que ganhava ainda não era o bastante. As dívidas pareciam crescer, não importava o quanto ela pagasse; cada
atraso nas contas adicionava mais juros e a sensação de sufoco só aumentava. Ela fazia o possível para equilibrar as finanças, mas a matemática nunca fechava. Era como correr atrás do próprio rabo, sem nunca alcançar a solução. Nos momentos em que conseguia parar por alguns minutos, sua mente voltava a Daniel. Ela ainda se lembrava do sorriso dele, de como ele fazia planos para o futuro, sempre otimista. E, ao mesmo tempo, sentia uma raiva crescente: como ele pôde deixá-la naquela situação? Como ele pôde tomar tantas decisões sem contar nada? E agora ela estava ali, pagando o preço
enquanto ele havia desaparecido, sem dar chance a ela de se despedir ou de encontrar um verdadeiro fechamento. Lívia tentava não se perder nesses pensamentos. Seus filhos precisavam dela, e ela não podia se dar ao luxo de afundar ainda mais. Aos poucos, desenvolveu uma espécie de força interna, quase automática. Ela não tinha mais tempo para se perguntar por quê; agora era tudo sobre como: como pagar o aluguel, como comprar o leite das crianças, como sobreviver ao próximo mês. Com o passar do tempo, os gêmeos cresceram um pouco e passaram a dar menos trabalho, mas Lívia continuava
na mesma rotina. O salário era sempre o mesmo, as contas não paravam e, a cada novo mês, parecia que a dívida aumentava. Ela procurou outros empregos na esperança de ganhar mais, mas não havia muita opção. E foi nesse período que o pior aconteceu. Depois de quase sete anos de trabalho na lanchonete, ela foi demitida. A notícia veio como um soco no estômago; o dono do lugar alegou que as coisas estavam difíceis e que não poderia mantê-la. Para Lívia, aquilo foi como voltar à estaca zero: sem emprego, sem um lugar fixo para buscar renda, ela ficou
completamente sem chão. Mais uma vez, se via diante de uma crise que parecia não ter fim. Sem trabalho, o aluguel do pequeno apartamento atrasou, e os cobradores voltaram com mais força. As ameaças aumentaram, e o medo de ser despejada começou a rondar sua cabeça. A cada semana, a situação ficava mais desesperadora. Ela vendia o que restava de valor para conseguir algum dinheiro, mas já não havia muito para vender. Lívia, sozinha, lutava contra uma correnteza de problemas que só parecia arrastá-la para o fundo. No meio de todo esse caos, os gêmeos, Lucas e Sofia, eram o
único... motivo pelo qual ela ainda continuava. Cada sorriso deles, cada risada inocente, era como um pequeno raio de sol num dia escuro. Eles não sabem o que está acontecendo e se esforçam para seguir em frente. Para eles, era incerto, e ela não sabia mais quanto tempo podia aguentar. De repente, Lívia se via sem esperanças, achando que não havia mais saída para os problemas que pareciam sufocá-la dia após dia. Depois de perder o emprego na lanchonete e ficar ainda mais afundada em dívidas, ela passou semanas se arrastando de uma entrevista fracassada para outra, sem sucesso. Os
cobradores ligavam todos os dias, as contas atrasadas se acumulavam, e o medo de ser despejada do pequeno apartamento era constante. Lucas e Sofia, agora com quase 7 anos, pareciam entender que a mãe estava sempre preocupada, mas Lívia sabia que não conseguiria permanecer naquela situação por muito tempo. Foi quando ela soube, através de uma antiga colega de trabalho, de uma vaga temporária como garçonete em um cruzeiro de luxo. O trabalho parecia difícil e exigente, mas o pagamento era muito bom e, acima de tudo, seria uma chance de escapar da pressão por um tempo. Talvez aquele dinheiro
ajudasse a acalmar os cobradores e a garantir mais uns meses de tranquilidade. A ideia de deixar os filhos por alguns dias a assustava, mas sua mãe se ofereceu para cuidar das crianças enquanto ela estivesse fora. Era o alívio que Lívia precisava para, pelo menos, tentar respirar. Ela aceitou a oferta. O cruzeiro partiria em uma semana, e Lívia rapidamente arrumou suas coisas, tentando não pensar muito em como seria ficar longe de Lucas e Sofia. A ideia de passar dias em um navio cheio de pessoas ricas parecia quase surreal para alguém que, nos últimos anos, mal conseguia
pagar as contas básicas. Ela sabia que não estaria ali para aproveitar nada, mas o simples fato de mudar de ambiente, mesmo que por alguns dias, trazia uma sensação de renovação. Quando chegou ao navio, ficou impressionada com o luxo. Tudo era enorme e brilhante, tão diferente do mundo simples em que vivia. O convés era imenso, as cabines luxuosas e as áreas de lazer pareciam saídas de um filme. Ela, no entanto, não tinha tempo para admirar; seu trabalho começou imediatamente como garçonete. Ela passaria a maior parte do tempo servindo as refeições e bebidas nos vários restaurantes e
bares espalhados pelo cruzeiro. O ritmo era intenso, a quantidade de gente rica e exigente a deixava tensa, com medo de cometer um erro. Mas ela precisava daquele emprego; era uma oportunidade que não podia desperdiçar. Nos primeiros dias, Lívia mal tinha tempo para respirar. O turno dela começava cedo e só terminava tarde da noite. Ela atendia pessoas que viviam em um mundo completamente diferente, homens e mulheres vestido em roupas caras, discutindo suas férias em lugares exóticos. Enquanto isso, ela corria de um lado para outro, equilibrando bandejas. Apesar do cansaço, ela estava focada no que aquele trabalho
temporário poderia fazer uma diferença enorme na sua vida quando voltasse para casa, e era isso que a motivava a levantar todos os dias, mesmo com os pés doloridos e a mente exausta. Mas então, tudo mudou. Foi numa tarde, depois de um turno longo, enquanto ela estava no salão principal, servindo uma mesa perto das janelas, que o mundo de Lívia parou. Ao virar-se para uma nova mesa, ela viu algo que fez seu coração acelerar e suas mãos tremerem, tanto que quase deixou a bandeja cair. Sentado ali, à vontade, em meio a risadas e conversas despreocupadas, estava
Daniel, vivo, rindo e de mãos dadas com outra mulher. Lívia sentiu como se o chão tivesse sumido; não podia acreditar no que seus olhos estavam vendo. Aquele homem que havia desaparecido, que supostamente havia morrido em um acidente, estava ali, vivo e sorrindo como se nada tivesse acontecido, como se os últimos sete anos nunca tivessem existido. A dor, a angústia, as noites sem dormir — tudo pareceu voltar com uma força esmagadora, como uma onda que a afogava. Ela ficou paralisada por alguns segundos, sentindo uma mistura de raiva, confusão e incredulidade, sem saber o que fazer. Lívia
deu meia volta e saiu dali o mais rápido que pôde. Foi direto para o vestiário, trancou a porta e tentou respirar, mas o choque era grande demais. Sua cabeça girava, tentando entender o que aquilo significava. Como ele podia estar ali? Como podia estar vivo? E, acima de tudo, por que ele estava com outra mulher? Mil perguntas surgiam na mente dela, mas nenhuma resposta fazia sentido. Depois de alguns minutos, Lívia sabia que não poderia continuar trabalhando como se nada tivesse acontecido; ela precisava de respostas. Mas sabia que não poderia simplesmente ir até Daniel e confrontá-lo na
frente de todos, não naquele momento. Ela não estava pronta para encarar aquilo de frente, sem entender o que estava acontecendo. Então, com o coração ainda acelerado e a cabeça a mil, ela tomou uma decisão: contrataria alguém para investigar. Precisava descobrir a verdade, mas de uma maneira que não a deixasse tão vulnerável. Lívia conseguiu o contato de Marcos, um detetive particular que era recomendado por uma amiga. Não foi fácil fazer a ligação, ainda mais do navio, mas ela sabia que não podia voltar para casa sem ter respostas sobre o que Daniel estava fazendo ali. Ela explicou
toda a sua situação. Não tinha dinheiro suficiente para pagar Marcos, mas ele se sensibilizou com seu relato de vida e disse que ela poderia pagá-lo quando as coisas melhorassem. Então, ela explicou brevemente a situação e pediu que ele começasse a trabalhar o mais rápido possível. Ela queria todos os detalhes: onde ele estava vivendo, com quem, o que estava fazendo. Precisava saber o que aconteceu de verdade no dia do acidente, porque Daniel forjou a própria morte e, principalmente, porque ele a deixou para trás, sozinha e grávida, para criar os filhos enquanto ele vivia uma vida de
luxo com outra mulher. Os dias seguintes no cruzeiro foram um verdadeiro... tormento para Lívia. Ela continuava trabalhando, atendendo os passageiros. Mas cada vez que via Daniel de longe, seu coração disparava; a dor e a raiva se misturavam em um turbilhão de emoções que ela mal conseguia controlar. Era difícil manter a compostura, mas ela sabia que precisava, agora mais do que nunca, manter a calma e esperar por respostas. O cruzeiro, que antes parecia uma oportunidade de respirar e ganhar algum dinheiro, se transformou em um campo de batalha emocional. Lívia já não sabia o que esperar. Lívia
passou o resto do cruzeiro em um estado de confusão total; cada vez que ela via Daniel, era como uma punhalada. A sensação de traição era esmagadora. Quando voltou para casa, o alívio de estar com Lucas e Sofia foi misturado com a dor de saber que o pai deles estava vivo, mas optou por abandoná-los. Ela não podia simplesmente confrontar Daniel de imediato. Lívia sabia que ele tinha mentido para ela, mas não tinha ideia da extensão de suas mentiras. Ela precisava de respostas, e essas respostas não poderiam vir apenas de uma discussão frente a frente. Daniel era
alguém que havia planejado tudo cuidadosamente; e se ela o confrontasse sem estar preparada, poderia perder a única chance de descobrir a verdade. O detetive particular Marcos já estava em ação. Em pouco tempo, ele conseguiu informações que deixaram Lívia chocada. O que ele descobriu foi muito pior do que ela poderia ter imaginado: Daniel havia forjado sua morte. Aquela correnteza que supostamente o tinha arrastado para longe? Tudo fazia parte de um plano. Ele sabia que estava afundado em dívidas e que nunca conseguiria sair delas, então a solução que encontrou foi escapar. E a única maneira de fazer
isso era desaparecer completamente. Lívia lembrava bem daquele período: as dívidas, os cobradores, o desespero crescente de Daniel. Eles quase não falavam sobre isso, mas ela sabia que a situação estava ficando insustentável. Na época, pensava que ele estava fazendo o possível para resolver as coisas; nunca passou por sua cabeça que ele estava planejando fugir, muito menos forjar a própria morte para recomeçar a vida em outro lugar. Com as informações que Marcos conseguiu, Lívia descobriu que Daniel não só estava vivo, como estava usando outra identidade. Ele agora se chamava Rodrigo e morava em uma cidade distante, ao
lado de Camila, a mulher que Lívia viu com ele no cruzeiro. Daniel vivia uma vida de luxo; aparentemente, ele havia se envolvido em negócios ilegais e, dessa vez, estava prosperando financeiramente. Enquanto isso, Lívia lutava para colocar comida na mesa e criar os filhos, sem saber que o marido havia abandonado tudo para começar de novo com outra mulher. A cada nova descoberta de Marcos, o coração de Lívia se partia mais um pouco. Daniel não só abandonou os filhos, Lucas e Sofia, como também nunca teve a chance deles conhecerem o pai. Eles cresceram ouvindo histórias sobre ele,
sobre como ele era antes do acidente; Lívia sempre tentava manter uma imagem positiva dele para as crianças, mas agora tudo o que ela sabia era que ele havia mentido para todos. Ele não se importou com o que aconteceria com ela e os filhos; Daniel estava preocupado apenas consigo mesmo. Lívia passou noites em claro revendo cada momento de seu casamento, tentando entender em que ponto as coisas começaram a desmoronar. Será que ele sempre havia sido assim, egoísta, calculista? Ou será que algo fez com que ele mudasse drasticamente? Esses pensamentos a torturavam, mas no fundo, ela sabia
que a pessoa com quem ela tinha casado era muito diferente do homem que Marcos estava investigando agora, e isso a deixava ainda mais perdida. Quem era Daniel, afinal? Marcos continuou a investigar, cavando mais fundo na nova vida de Daniel. Ele descobriu que, nos últimos sete anos, Daniel havia construído uma pequena fortuna. Os negócios ilícitos em que estava envolvido lhe renderam muito dinheiro, e Camila, a mulher ao lado dele, sabia de tudo. Ela estava ao seu lado desde o início, ajudando a arquitetar a fuga e a forjar sua morte. Lívia sentiu uma mistura de nojo e
incredulidade ao saber que, enquanto ela chorava sozinha e grávida, Daniel estava celebrando sua nova vida, planejando o futuro com outra pessoa. Com todas essas informações em mãos, Lívia sabia que não podia simplesmente guardar tudo para si. Ela tinha que fazer algo, não só por ela, mas pelos filhos. Se Daniel havia forjado sua morte e começado outra vida, ele não podia simplesmente escapar sem consequências. Além disso, ela ainda estava atolada em dívidas; dívidas que ele havia deixado para trás e que ela estava carregando sozinha por todos esses anos. Era hora de Daniel enfrentar a justiça. Depois
de conversar com Marcos, ela decidiu que o melhor caminho seria expor Daniel para os cobradores que ainda a perseguiam. Se ela pudesse provar que Daniel estava vivo e que tinha dinheiro, eles poderiam ir atrás dele e deixar Lívia e os filhos em paz. Era um risco, mas ela sabia que não podia continuar vivendo naquela prisão financeira e emocional. O detetive reuniu todas as provas necessárias: fotos, registros, documentos; tudo indicava que Daniel estava vivo e prosperando. Com as informações reunidas, ela montou um plano. Não seria algo impulsivo; cada passo precisava ser calculado, e ela não tinha
pressa. Daniel já havia feito isso com ela uma vez. Ele arquitetou sua falsa morte, escapou das dívidas e desapareceu sem deixar rastro. Agora era a vez de Lívia usar o mesmo tipo de tática contra ele. Mas, diferente de Daniel, ela não estava fazendo isso por egoísmo ou para fugir de responsabilidades. Ela estava fazendo isso pelos filhos, por si mesma e por todos os anos de luta que enfrentou sozinha. O primeiro passo foi reunir-se com os cobradores, aqueles mesmos homens que, por anos, atormentaram Lívia, cobrando dívidas que não eram dela. Eles ligavam incansavelmente, deixavam recados intimidadores
e a colocavam contra a parede com prazos impossíveis. Agora, finalmente, Lívia... Tinha algo que os faria parar. Quando ela entregou as provas que Marcos havia reunido, os cobradores ficaram chocados: fotos, documentos, registros bancários, estava tudo ali. Daniel não só estava vivo, mas prosperando; tinha dinheiro, negócios e, acima de tudo, uma nova identidade. Aquilo mudava tudo. Ao mostrar aquelas provas, Lívia fez uma proposta direta: ela sabia que, tecnicamente, ainda estava presa às dívidas, mas também sabia que os cobradores não eram bobos. Eles tinham muito mais a ganhar indo atrás de Daniel, que agora era um homem
rico, do que continuando a perseguir uma mulher sem recursos, que mal conseguia sobreviver. A troca foi simples: Lívia entregaria todas as provas e informações sobre Daniel e, em troca, os cobradores parariam de pressioná-la. Era um acordo que funcionava para os dois lados e, mais do que isso, era um alívio para ela. Não precisava mais viver com aquele peso nas costas. Com o acordo fechado, os cobradores começaram a agir. Eles tinham contatos e métodos que iam além do que Lívia poderia imaginar e sabiam como fazer pressão. O alvo agora era Daniel, ou melhor, Rodrigo, como ele
se chamava agora. Eles começaram a rastrear seus negócios, a fazer perguntas nos círculos onde ele se movia, a espalhar rumores de que ele estava sendo procurado. Lívia sabia que, uma vez que os cobradores decidiam ir atrás de alguém, não havia como escapar facilmente. Mas ela não parou por aí. Enquanto os cobradores faziam seu trabalho, Lívia também tinha algo mais em mente. Ela queria que Daniel soubesse que era ela quem estava por trás de tudo. Não queria que ele apenas enfrentasse a pressão financeira; ilegalmente, ela queria que ele soubesse que a mulher que ele abandonou, a
mulher que ele achava que havia derrotado, estava de pé novamente, mais forte do que nunca. Lívia então pediu a Marcos para enviar uma mensagem anônima a Daniel, uma mensagem simples, mas carregada de significado: "Eu sei o que você fez." Não havia necessidade de mais explicações; Daniel entenderia. Ele saberia que a verdade havia sido descoberta, que suas mentiras estavam desmoronando e que alguém estava prestes a arruinar a vida que ele havia construído com base na traição e na fuga. Os dias que se seguiram foram tensos. Lívia não sabia exatamente quando ou como Daniel reagiria, mas sabia
que aquele era o tipo de golpe que ele não esperava. Nos últimos sete anos, ele viveu confortavelmente, achando que estava seguro, que havia escapado para sempre. Ele não tinha como prever que Lívia um dia o encontraria e, muito menos, que ela teria a coragem de enfrentá-lo de volta. Quando os cobradores começaram a apertar o cerco, Daniel tentou se esconder, mudou sua rotina, começou a agir com mais cautela, mas era tarde demais. As investigações estavam avançadas demais para ele simplesmente desaparecer de novo. A essa altura, ele sabia que estava sendo caçado, mas ainda não tinha dimensão
de quão grave a situação era. O golpe final veio quando as autoridades foram envolvidas. Os cobradores, em parceria com Marcos, conseguiram reunir provas suficientes para mostrar que Daniel havia forjado sua morte, fugido das dívidas e assumido uma nova identidade. Aquilo não era apenas um problema financeiro; era um crime. Com essas provas em mãos, a polícia foi acionada. Lívia soube do momento da prisão de Daniel quando Marcos avisou. Ele foi preso em sua própria casa; a mansão que compartilhava com Camila. Era irônico: enquanto ele vivia cercado de luxo, sem se preocupar com o que deixou para
trás, agora era levado em algemas, sem poder fugir da realidade. A vida que ele havia construído com tanto esforço, uma vida baseada em mentiras, estava desmoronando, assim como ele havia feito com a de Lívia anos antes. Mas, mesmo com Daniel atrás das grades, Lívia sabia que a sensação de vitória era bittersweet. Não havia satisfação completa em ver o pai dos seus filhos sendo preso, mesmo que ele merecesse. Lucas e Sofia, ainda pequenos, não sabiam de nada; para eles, Daniel era apenas uma figura distante, alguém sobre quem ouviram histórias, mas que nunca conheceram de verdade. E
Lívia não sabia se algum dia contaria toda a verdade para eles, mas naquele momento, o que importava era que ela estava livre: livre das dívidas, das mentiras e do fantasma de Daniel que a atormentava há tanto tempo. Enquanto ele era levado, Lívia sentiu uma paz interior que não experimentava há anos. Não era alegria, mas era uma espécie de fechamento. A vida de Lívia estava finalmente começando a entrar nos eixos. Depois da prisão de Daniel, ela já havia se conformado com o que ele havia feito e, embora a cicatriz emocional ainda fosse recente, a sensação de
liberdade era real. Pela primeira vez em anos, ela não tinha cobradores batendo à sua porta ou ligando insistentemente, e o fantasma de Daniel, que sempre pairava sobre ela, havia sido removido. Ele estava preso, e ela poderia finalmente seguir em frente. Lucas e Sofia, ainda pequenos, eram sua maior motivação para recomeçar e viver uma vida tranquila. Mas o destino não ia deixá-la descansar tão cedo. Foi uma tarde aparentemente comum. Lívia tinha saído para fazer compras rápidas enquanto sua mãe cuidava das crianças. Quando voltou para casa, sentiu o coração disparar assim que abriu a porta do apartamento.
Estava pesado; sua mãe não estava na sala, as crianças também não. O que inicialmente parecia uma casa em paz logo se transformou em um desconforto crescente. O celular de Lívia, que ela havia deixado no sofá enquanto saía, mostrava várias chamadas não atendidas. Era a voz de sua mãe, trêmula e apavorada, que a atingiu em cheio na mensagem de voz: "Lívia, ele levou as crianças! Daniel, ele levou Lucas e Sofia!" O chão sumiu; o mundo que há poucos minutos parecia estar voltando aos trilhos desabou de uma vez. Daniel, de alguma forma, havia escapado da prisão. E
pior, ele havia vindo atrás das crianças. Lívia caiu sentada. No sofá, o celular ainda na mão, as mãos tremendo, ela mal conseguia respirar. O pânico tomava conta de seu corpo, e o medo pelos filhos era devastador. Como isso era possível? Como Daniel, preso por forjar a própria morte, havia conseguido sair da cadeia? E, pior ainda, sequestrar os filhos que ele mesmo havia abandonado? Sem perder mais um segundo, Lívia ligou para a polícia, explicando a situação o mais rápido que pôde. Enquanto sua mente tentava desesperadamente entender o que estava acontecendo, as autoridades já sabiam da fuga
de Daniel, mas ainda estavam tentando rastrear seu paradeiro. Agora, com o sequestro das crianças, a busca se tornava urgente. As horas seguintes foram um borrão. Lívia foi chamada à delegacia para fornecer mais informações e ajudar na investigação; seu corpo estava presente, mas sua mente estava em um lugar muito mais escuro, atormentada pelas imagens de Lucas e Sofia nas mãos de Daniel. A cada minuto que passava, a sensação de impotência aumentava. Onde Daniel teria levado as crianças? Qual era o plano dele? Seus filhos em perigo. As perguntas martelavam na cabeça de Lívia, que não conseguia suportar
a ideia de que algo terrível pudesse acontecer com seus filhos. Ela sabia do que Daniel era capaz; ele havia provado ser egoísta e frio, capaz de mentir, enganar e abandonar sua própria família sem remorso. Agora, ele estava desesperado, e não havia como prever até onde ele iria. Foram horas intermináveis de busca. A polícia começou a rastrear câmeras de segurança pela cidade, enquanto Lívia, exausta, permanecia em contato constante com Marcos, o detetive particular que já havia ajudado antes. Ele também se mobilizou para tentar descobrir pistas sobre onde Daniel poderia estar escondido. Cada minuto parecia uma eternidade,
e cada ligação que ela recebia fazia seu coração pular, temendo o pior. Até que finalmente veio uma pista: Daniel havia sido visto em um carro em direção ao aeroporto, acompanhado de uma mulher, provavelmente Camila, a mesma mulher que estava com ele no cruzeiro. As autoridades agiram rapidamente, e Lívia, mesmo completamente abalada, insistiu em ir até o aeroporto. Ela não conseguiria ficar parada esperando por notícias; precisava estar lá, precisava ver com seus próprios olhos e, de alguma forma, tentar resgatar seus filhos. No aeroporto, o ambiente estava tenso, cheio de gente indo e vindo, carregando malas, abraçando
amigos, dizendo adeus ou se apressando para pegar um voo. Mas, para Lívia, o tempo parecia congelado. Seus olhos estavam fixos em uma única cena: Daniel, o homem que ela amou e acreditou estar morto por tanto tempo, estava ali, parado. Ao lado dele, Camila, a mulher com quem ele reconstruíra uma nova vida, e, mais adiante, seus dois filhos, Lucas e Sofia, sendo puxados pela mão, como se nada estivesse errado. Mas tudo estava errado. Seu coração disparava no peito; a dor que sentiu ao vê-los juntos era quase insuportável. Não era só raiva, não era só a traição;
era tudo: todo o sofrimento que ela havia passado, as noites em claro, as lágrimas, o desespero. Tudo vinha à tona naquele momento. Ela precisava fazer alguma coisa. Com passos firmes, o corpo tremendo de emoção, Lívia começou a caminhar em direção a eles. Não era uma escolha; era algo que seu coração a obrigava a fazer. Ao se aproximar, Daniel a viu. Os olhos dele, que uma vez tinham sussurrado promessas de amor, agora estavam frios, quase indiferentes. Ele não parecia surpreso, muito menos arrependido; ao contrário, havia uma expressão de desprezo em seu rosto. Camila, ao lado, observava
em silêncio, sem qualquer traço de culpa. Lívia não conseguia mais se segurar. "Daniel!" ela gritou, a voz rasgando o barulho ao redor. As pessoas ao redor olhavam, mas ela não se importava; nada mais importava naquele momento, além de confrontá-lo. Ele parou, soltou a mão das crianças e se virou completamente para ela. A distância entre eles, apesar de ser apenas alguns metros, parecia um abismo: um abismo feito de mentiras, traições e uma dor que só quem passou por aquilo seria capaz de entender. "Como pode?" A voz de Lívia saiu trêmula; ela queria parecer forte, mas era
impossível esconder o quanto estava quebrada por dentro. As lágrimas queimavam seus olhos, mas ela se recusava a deixá-las cair, não diante dele. Daniel cruzou os braços, erguendo o queixo, quase como se estivesse entediado. "O que você esperava?" Lívia disse, ele com uma calma cruel que só aumentava o ódio dentro dela. "Você sempre foi fraca, sempre precisando de mim, sempre dependente de mim. Eu nunca quis isso. Eu nunca quis você." As palavras dele caíram como punhais em seu peito. Ela se esforçou para manter o controle, para não desmoronar ali mesmo. Tudo o que ela queria era
entender, por isso perguntou, quase implorando: "Por que você fez isso? Por que me fez acreditar que estava morto? E nossos filhos? Como você pode ser tão cruel?" Ele deu de ombros, como se o assunto não importasse mais. "Eu fiz o que precisava ser feito. Eu estava sufocando com você, as dívidas, sua fraqueza... tudo estava me arrastando para baixo. Com Camila, eu pude começar de novo, deixar tudo para trás." Lívia olhou para os filhos, que observavam a cena sem entender completamente o que estava acontecendo, mas claramente assustados, com a atenção no ar. Seu coração doía por
eles. Como explicar para duas crianças inocentes que o próprio pai tinha sido capaz de abandoná-los, de fugir e fingir sua morte, tudo por egoísmo? Mas Daniel não tinha terminado. Ele se aproximou, inclinando-se para ela, a voz baixando para um sussurro, mas cada palavra carregava um veneno mortal. "A verdade, Lívia, é que eu nunca te amei de verdade. Eu fiquei com você por pena. Eu via como você era dependente, como você nunca seria capaz de sobreviver sem mim. Mas, no fim, até isso se tornou insuportável." Ela sentiu o chão desmoronar sob seus pés; tudo que ela
havia acreditado, tudo que ela tinha vivido. Lado daquele homem, de repente, se tornou uma mentira: as promessas de amor, os momentos felizes, o futuro que eles deveriam ter construído juntos, tudo se desfazia como fumaça. Mas, ao invés de cair em prantos, algo dentro de Lívia mudou. Ela percebeu que não tinha mais nada a perder. Daniel, com suas palavras cruéis, tinha destruído o último fragmento de sentimento que ela tinha por ele. Agora, só restava uma coisa: proteger seus filhos. Ela respirou fundo, ergueu a cabeça e olhou para Daniel com uma frieza que ela mesma não sabia
que possuía. “Você não vai mais tocar nos meus filhos”, disse ela, a voz firme, sem vacilar. “Você pode ter me destruído, Daniel, mas eu não vou deixar que você faça o mesmo com eles.” Antes que Daniel pudesse responder, policiais que estavam acompanhando a situação se aproximaram. Eles agarraram Daniel pelos braços e ele tentou resistir, mas era inútil; ele estava acabado. Enquanto era levado, ainda lançou um último olhar para Lívia, um olhar de desprezo, mas também de derrota. Lívia, por sua vez, não desviou o olhar. Ela não chorou, não gritou; ela apenas se ajoelhou e abraçou
seus filhos, sentindo-se perto de si, protegidos, finalmente a salvo. O pesadelo parecia ter acabado, mas ela sabia que as marcas daquilo tudo ficariam para sempre. Mas naquele momento, enquanto sentia o calor dos filhos em seus braços, ela soube que, de alguma forma, conseguiria seguir em frente. Daniel estava preso novamente, mas, dessa vez, não havia mais espaço para ele na vida de Lívia. Ela havia passado por muito, mas tinha sobrevivido, e agora finalmente poderia começar a viver de verdade. Era mais um dia comum na prisão; o sol se infiltrava pelas grades e Daniel estava lá no
pátio, aproveitando o momento de liberdade que aquele banho de sol proporcionava. Ao seu redor, outros detentos caminhavam, conversavam ou simplesmente olhavam para o nada, presos em seus próprios pensamentos. A vida ali dentro era monótona, repetitiva, cheia de silêncio e vozes que ecoavam no fundo da mente. Daniel caminhava lentamente, as mãos no bolso, o olhar distante. Ele pensava em tudo o que havia acontecido, em todas as decisões que o trouxeram até aquele lugar. Não era mais o homem arrogante que fingia ser imbatível; algo nele havia mudado. Naquele pátio, Daniel não era mais o centro das atenções,
não era o homem que tinha o controle da situação; ele era apenas mais um, e isso corroía por dentro. Naquela manhã, seus pensamentos estavam mais pesados do que de costume; sua mente voltava constantemente para Lívia, para os filhos, Lucas e Sofia. Ele pensava nas escolhas que fez, em como acreditou que poderia escapar de tudo. Fez o que fez achando que começaria uma nova vida, mas agora tudo parecia um grande erro. Não que ele estivesse arrependido do que fez; não, Daniel raramente se arrependia de algo. Mas naquele pátio de prisão, ele se sentia pequeno, impotente. A
imagem de Lívia em sua mente não o deixava em paz. Ele lembrava dos momentos em que estiveram juntos, da vida que tinham construído e, ao mesmo tempo, da forma brutal como destruiu tudo. Ele tinha forjado sua morte, abandonado sua família, fugido com outra mulher, Camila, achando que recomeçaria longe de tudo, e ali estava ele, de volta ao ponto zero, preso com nada além de lembranças que o assombravam. Enquanto caminhava pelo pátio, Daniel começou a sentir algo diferente, uma pressão no peito. Leve no começo, como um aperto. Ele parou por um momento, levou a mão ao
peito, tentando entender o que estava acontecendo. Respirou fundo, mas a sensação não passou; ao contrário, ela aumentava lentamente, se espalhando pelo seu corpo como uma onda. Sua visão começou a embaçar e as vozes ao redor dele pareciam ficar distantes, como se ele estivesse submerso em água. Ele olhou ao redor, mas ninguém parecia notar; os outros presos estavam ocupados demais com suas próprias vidas. A dor no peito aumentou, agora aguda, intensa, como se algo estivesse comprimindo seu coração. Daniel tentou caminhar, mas suas pernas começaram a fraquejar. Ele tropeçou, cambaleando até uma parede próxima, onde se apoiou,
tentando se recompor. Seu coração batia descontroladamente, como se estivesse prestes a explodir. Foi nesse momento que ele percebeu: algo estava seriamente errado; a dor era insuportável. Daniel tentou chamar por ajuda, mas a voz não saiu. Sentiu o corpo ceder, como se as forças estivessem escapando por entre seus dedos. Um frio tomou conta de seu corpo e ele desabou no chão, com a mão ainda apertando o peito. Alguns presos mais próximos notaram a situação e começaram a se agitar, chamando por um guarda, mas o tempo parecia se arrastar para Daniel; cada segundo era uma eternidade. A
dor estava insuportável agora e ele lutava para respirar, o ar ficando cada vez mais escasso. Seu corpo se contorcia de dor no chão do pátio enquanto os guardas corriam em sua direção. Um dos guardas, visivelmente nervoso, gritou para alguém chamar o médico da prisão. Daniel estava pálido, o suor escorrendo por sua testa. Ele mal conseguia manter os olhos abertos; a dor no peito era tão forte que ele mal registrava o que estava acontecendo ao seu redor. Quando o médico chegou, tudo parecia um borrão. O homem se ajoelhou ao lado de Daniel, tentou medir seu pulso,
mas seu rosto não demonstrava otimismo. Ele tentou alguns procedimentos de emergência, mas o tempo estava contra eles. A essa altura, Daniel estava quase inconsciente; suas mãos já não tinham forças para segurar o peito. Tudo ao seu redor estava ficando escuro, como se as luzes estivessem se apagando uma por uma. Nos seus últimos momentos de consciência, flashes da sua vida passaram diante de seus olhos. Ele viu os rostos de Lucas e Sofia, os filhos que ele abandonou. Viu o olhar de Lívia, aquele olhar de desespero misturado com raiva que ela lhe deu no aeroporto e, por
um breve segundo, ele se perguntou... Se teria sido diferente se tivesse feito outras escolhas? Se ele poderia ter evitado todo aquele sofrimento, toda aquela dor? Mas antes que pudesse continuar pensando nisso, o corpo de Daniel parou de reagir. O médico continuou tentando reanimá-lo, mas era tarde demais; o coração de Daniel havia desistido. Ele morreu ali, no pátio da prisão, sob o olhar indiferente de outros presos. Sem despedidas, sem amor, sem redenção. Os guardas se afastaram, e o médico suspirou, percebendo que não havia mais nada a ser feito. O corpo de Daniel foi coberto, e a
rotina da prisão seguiu seu curso, como sempre acontecia. Para muitos ali, ele era apenas mais um preso que morreu, mas para Lívia, seus filhos e até mesmo para Camila, que também estava presa em uma penitenciária feminina, longe da cidade, a notícia da morte de Daniel traria um peso completamente diferente. Agora, o homem que havia causado tanto sofrimento já não estava mais ali para atormentar ninguém. Depois de tudo o que passou, Lívia finalmente estava tentando voltar a respirar com leveza. Os meses que seguiram a morte de Daniel foram difíceis, cheios de cicatrizes emocionais que ainda doíam
de vez em quando, mas pouco a pouco ela começava a reconstruir sua vida. A casa que antes parecia tão vazia e cheia de memórias tristes começava a ganhar vida de novo; os risos de Lucas e Sofia preenchiam o espaço que antes era dominado pela dor e pelas lembranças amargas de tudo o que havia acontecido. Eles eram crianças e, como tal, tinham uma capacidade incrível de se adaptarem, de encontrarem alegria mesmo nos momentos mais difíceis, e era isso que, aos poucos, ajudava Lívia a seguir em frente. Ela, por outro lado, ainda carregava um certo peso nos
ombros, como se algo invisível a mantivesse alerta, sempre pronta para que o próximo golpe viesse. Mas mesmo com essa sensação, Lívia sabia que Daniel não podia mais machucá-los; ele se fora para sempre. Agora, o desafio era superar os fantasmas do passado e permitir-se viver de verdade. Foi nesse momento de reconstrução, ainda frágil, que Augusto entrou em sua vida. Ele era um professor recém-chegado à cidade, com um jeito simples e gentil que chamou a atenção de Lívia logo de início, não porque ele fazia algo extraordinário ou tentava impressioná-la, mas justamente pelo contrário. Augusto era leve; seu
sorriso era sincero e sua presença, tranquila como uma brisa suave depois de uma longa tempestade. Eles se conheceram de maneira simples, quase por acaso, em uma reunião escolar. Lucas havia se envolvido numa pequena confusão na aula, e Augusto, sendo seu professor, decidiu conversar com Lívia para esclarecer a situação. Quando se encontraram pela primeira vez, ela não esperava nada além de uma conversa rápida sobre o comportamento do filho, mas algo naquele homem fez com que Lívia, pela primeira vez em muito tempo, relaxasse. Durante a conversa, Augusto foi direto, mas ao mesmo tempo mostrou uma compreensão e
sensibilidade que a tocaram. Ele não julgou Lucas, não colocou toda a culpa no garoto. Em vez disso, falou sobre como a situação de casa poderia ter impacto no comportamento das crianças. Sem perceber, ele estava abrindo uma porta para algo muito maior do que a conversa sobre uma travessura na escola. A partir daí, as conversas entre eles se tornaram mais frequentes. No começo, tudo girava em torno dos filhos, das responsabilidades cotidianas, mas com o tempo, as conversas foram ficando mais pessoais, mais profundas. Augusto tinha uma calma que ajudava Lívia a relaxar, a se abrir. Ele ouvia
com atenção, sem interromper, e sempre parecia saber o que dizer para fazer com que as coisas parecessem menos pesadas. Lívia, no entanto, resistia, não por falta de interesse, mas por medo. Ela já havia passado por tanto e sofrido tanto que a ideia de se permitir sentir algo por alguém de novo parecia assustadora. O fantasma de Daniel, de tudo o que ele havia feito, ainda a assombrava. Ela se perguntava se seria capaz de confiar em outro homem novamente, se seria capaz de abrir seu coração sem o medo constante de ser machucada outra vez. E Augusto parecia
entender isso. Ele não pressionava, não exigia nada; estava ali, presente, mas deixava que Lívia fizesse tudo no seu próprio tempo. E foi essa paciência que, aos poucos, começou a derreter as barreiras que ela havia construído ao redor de si mesma. Um dia, depois de uma longa conversa em que riram sobre as travessuras das crianças e trocaram histórias do passado, Lívia percebeu que algo tinha mudado dentro de si. Era como se, depois de tanto tempo, uma parte do seu coração, que ela havia trancado a sete chaves, estivesse começando a se abrir novamente. Não era algo planejado,
não era algo que ela queria ou esperava, mas estava acontecendo. O medo ainda estava lá, claro, mas agora havia também um sentimento diferente, um sentimento de que, talvez, só talvez, ela pudesse permitir-se ser feliz de novo. E Augusto, com sua calma e paciência, continuava ao lado dela. Ele não tentava forçar nada, apenas mostrava, em pequenos gestos e palavras simples, que estava ali para ela, que ele via a dor que ela carregava, mas também via a força que ela tinha, e era isso que fazia toda a diferença. Com o tempo, Lívia começou a se permitir pequenos
momentos de felicidade, pequenos passos: um jantar com Augusto, uma ida ao parque com as crianças, uma conversa à noite em que eles falavam sobre tudo e nada ao mesmo tempo. Esses momentos simples, mas cheios de significado, ajudavam a reconstruir o que havia sido quebrado dentro dela. Um dia, enquanto caminhavam juntos pelo parque, Augusto segurou a mão de Lívia. Ela parou por um momento, sentindo o toque suave e quente dele. Por um segundo, ela pensou em soltar, em recuar, mas, em vez disso, respirou fundo e apertou a mão dele de volta. Aquele simples gesto significava tanto;
era um passo adiante, uma decisão. De que ela estava pronta para tentar de novo, pronta para acreditar que ainda havia espaço para o amor, apesar de tudo. Não foi fácil; a confiança não voltou de uma hora para outra. Havia dias em que o passado ainda parecia assombrá-la, quando as memórias do que Daniel havia feito ainda eram dolorosas. Mas, com Augusto ao seu lado, Liv aprendeu que não precisava carregar esse fardo sozinha. Ela podia, pela primeira vez em muito tempo, dividir o peso e, assim, aos poucos, começou a encontrar um novo caminho, um caminho que não
era perfeito nem livre de dificuldades, mas que trazia algo que ela não sentia há muito tempo: esperança. Augusto não era um salvador, nem um herói que apareceu para consertar sua vida; ele era apenas alguém que, com paciência e gentileza, mostrou a Lívia que ainda era possível acreditar no amor, e isso, para ela, era tudo o que precisava para seguir em frente. Lívia estava em um momento da vida em que, finalmente, as coisas pareciam caminhar com tranquilidade. Augusto, com sua calma e gentileza, havia entrado em sua vida, trazendo paz e esperança. Com ele, Lívia reencontrou o
amor. Augusto desejou que Lívia sempre foi. Não queria mais ter filhos; os filhos que já tinha, Lucas e Sofia, eram seu maior tesouro. Eles cresceram, enfrentaram desafios juntos e agora estavam em uma fase em que precisavam de menos cuidados, o que dava alívio e um pouco mais de liberdade. A ideia de começar tudo de novo, com noites em claro e preocupações, era algo que a assustava. Ela também estava consciente de sua idade, pois, aos 38 anos, sabia que uma nova gravidez poderia ser arriscada. Mas a vida, como ela bem sabia, às vezes nos surpreende. Tudo
começou de forma sutil. Lívia começou a sentir leves enjoos pela manhã. No início, achou que era algo passageiro, talvez algum alimento que não caiu bem ou simplesmente o estresse do dia a dia, mas os sintomas começaram a se intensificar. Ela se sentia mais cansada do que o normal e, com o passar dos dias, os enjoos não diminuíram; pelo contrário, estavam mais frequentes. Augusto, sempre atencioso, percebeu que algo estava diferente. Ele sugeriu que Lívia procurasse um médico, mas ela relutou. "Não era nada", ela pensava. "Na verdade, eram apenas enjoos; talvez fosse uma virose ou cansaço do
trabalho e da rotina." Um dia, enquanto preparava o café da manhã para Lucas e Sofia, Lívia sentiu uma tontura tão forte que precisou se sentar. O mundo ao seu redor parecia girar e, por um momento, ela ficou ali, com a mão no estômago, tentando controlar a náusea. Foi nesse momento que uma ideia lhe passou pela cabeça, mas ela afastou rapidamente. "Não, isso não pode ser", pensou. "Eu já tenho 38 anos; não faz sentido." Mas a desconfiança ficou plantada em sua mente. Ela sabia que, por mais improvável que fosse, os sintomas que estava sentindo eram familiares;
eram os mesmos que sentira anos atrás, quando estava grávida de Lucas e Sofia. Ainda assim, recusava-se a acreditar. Até que, um dia, depois de mais uma manhã difícil, ela decidiu ir até a farmácia. Com o coração acelerado e as mãos tremendo, ela comprou um teste de gravidez. Chegou em casa e esperou até estar sozinha no banheiro. O teste, nas mãos, parecia pesar toneladas. Respirando fundo, ela fez o que precisava ser feito e, em questão de minutos, a resposta estava ali: duas linhas, positivo. Lívia ficou paralisada. Olhou para o teste, descrente; seus pensamentos corriam em mil
direções ao mesmo tempo. Como isso tinha acontecido? Ela estava usando métodos contraceptivos. Ela não estava planejando isso; na verdade, não queria mais filhos. A primeira reação foi o medo. Aos 38 anos, sabia que a gravidez poderia trazer complicações; já não era tão jovem como antes. As histórias que ouvira sobre gestas de risco começavam a ecoar em sua mente. Como isso iria impactar sua vida? Sua rotina já estava estabilizada; seus filhos mais velhos já estavam crescidos. Agora, teria que começar tudo de novo. E além de tudo, havia Augusto. Lívia sabia que ele sempre teve o desejo
de ser pai, mas eles nunca tinham discutido isso de maneira séria, justamente porque ela deixava claro que não queria mais filhos. Como ele reagiria a essa notícia? Quando contou a ele naquela noite, Lívia estava nervosa. Eles estavam sentados no sofá e ela simplesmente deixou as palavras saírem: "Estou grávida." Augusto, que até então estava relaxado, olhando para ela com carinho, ficou em silêncio por alguns segundos, absorvendo a informação. Então, um sorriso enorme se espalhou pelo rosto dele; seus olhos brilharam de uma maneira que Lívia nunca tinha visto antes. "Eu não acredito!" Ele a abraçou, rindo de
alegria. "Nós vamos ter um filho!" Lívia tentou sorrir, mas a preocupação ainda pesava sobre ela. Augusto percebeu a hesitação e a segurou pelas mãos. "Eu sei que você está preocupada", disse ele, com a mesma calma que sempre usava para tranquilizá-la. "Eu sei que isso não estava nos nossos planos, mas eu estou aqui; vamos passar por isso juntos." Ao ouvir essas palavras, um alívio começou a surgir. Mesmo com o medo do que poderia acontecer e com o risco que a gravidez poderia trazer, Augusto estava ao seu lado; ela não estava sozinha. Os meses seguintes foram cheios
de altos e baixos, como esperado. A gravidez foi delicada; Lívia precisou de acompanhamento constante, consultas regulares e muitos cuidados. Havia dias em que o medo voltava com força, principalmente quando surgiam pequenas complicações. Mas, a cada consulta em que ouvia o coraçãozinho de seu bebê batendo, algo dentro dela se fortalecia. Ela começava a acreditar que talvez tudo fosse dar certo. E deu. Depois de uma longa espera, José veio ao mundo: um bebê saudável, cheio de vida. Quando Lívia o segurou pela primeira vez, sentiu algo que não sabia que ainda. Era possível sentir uma alegria profunda, uma
conexão imediata com aquele pequeno ser. Todos os medos, as inseguranças, as dúvidas que a atormentaram durante a gravidez desapareceram no momento em que o pequeno José abriu os olhos e olhou para ela. Augusto, ao seu lado, estava radiante; ele segurou o filho nos braços com uma pressão de pura felicidade naquele instante. Enquanto os três estavam juntos, Lívia percebeu que, apesar de todo medo e incerteza, a vida tinha lhe dado um presente inesperado e, pela primeira vez em muito tempo, ela se permitiu sonhar com um futuro tranquilo e cheio de música e amor. Ah!