DIPIRONA é REALMENTE segura?

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Nunca vi 1 cientista
00:00 - Introdução 00:20 - Em que países a dipirona é proibida? 02:10 - Como a dipirona age no corp...
Video Transcript:
[Laura] Perguntas respondidas neste vídeo: Por que a dipirona é proibida em alguns países? E por que ela é a rainha da América Latina? Eu juro, essas são as perguntas.
Bora começar? ♪ O Levi disse: "Vou insistir na minha sugestão. " Tudo bem, a gente já tinha anotado, fica tranquilo.
"Por favor, faça um vídeo sobre dipirona e a proibição em outros países. " Vamos falar de dipirona então, um dos medicamentos mais vendidos no Brasil. Além do genérico dipirona monoidratada, ela é o princípio ativo da Novalgina, do Dorflex, do Lisador, Anador, Neosaldina, Buscopan composto e Benegrip.
Entre outros, tô só citando alguns exemplos. Se fala muito sobre ela ser permitida no Brasil e proibida em outros países, isso soa como se o Brasil fosse o único país vendendo dipirona, indo contra todo o resto do mundo. -Tem no Brasil.
[Laura] Mas a real é que ela é permitida em mais países do que é proibida. Ela é usada na América Latina, do México pra baixo. É usada na África do Sul, Oriente Médio, Índia, China, Rússia, Alemanha, Itália, Espanha, Portugal, Suíça, Polônia.
. . ♪ Guatemala, Bolívia, depois Argentina Equador, Chile e nosso Brasil ♪ Ela é proibida nos Estados Unidos e Canadá.
No Canadá, pra pessoas; mas para animais de pequeno porte, pode. No Reino Unido, Austrália, Japão e alguns países da Europa, incluindo França e países escandinavos. Então a gente realmente tem mais países no mundo onde a dipirona é permitida do que onde é proibida.
O que levou esses países a proibirem a dipirona é controverso, porque envolve um possível efeito colateral grave, que chama agranulocitose, que é quando diminui muito a concentração de algumas células de defesa no sangue, chamadas granulócitos. Os granulócitos são neutrófilos, basófilos e eosinófilos, que são tipos especializados de células brancas, de leucócitos. E são células que têm grânulos no citoplasma.
Então daí vem todo o nome. Como essas células são importantes pra defesa do corpo como um todo, esse efeito adverso é grave e, se não for tratado, pode ser fatal. -A gente vai morrer!
[Laura] Mas antes de você jogar o seu estoque de dipirona fora, vamos entender isso. Começando com como a dipirona funciona no corpo. Mas antes só confere aí se você já curtiu o vídeo, se inscreveu no canal, porque, né, contribuição com a ciência brasileira.
Bom, a resposta sobre a dipirona no corpo é muito simples: não sabemos. ♪ Meio que mesmo com dipirona ou metamizol, que é o nome gringo dela, tendo sido criada em 1920, até hoje a gente não entende bem exatamente como ela age no corpo pra aliviar a dor e a febre. Isso tanto pra humanos quanto pra animais.
Ela é considerada uma molécula da classe dos anti-inflamatórios não esteroidais, conhecidos como AINEs, e essa classe como um todo age bloqueando as enzimas COXs ou ciclooxigenases. Existem três formas que seriam como irmãs trigêmeas dessas enzimas que agem nas reações químicas que criam a inflamação e, com isso, a dor, a febre etc. As COXs 1 e 2 são as que estão por todo o corpo e estão mais ligadas com a inflamação e dor, e geralmente aonde os AINEs mais comuns se ligam.
Eles podem se ligar nas duas ou mais na COX-2. Mas a dipirona parece se ligar principalmente na COX-3, que é a irmã que mora no cérebro, e isso também estaria relacionado com dor, além de estar bastante ligado à febre. Parece que ela se liga também na COX-1 e COX-2, mas de um jeito bem mais fraco.
Por isso ela é considerada um anti-inflamatório fraco e não é indicada pra inflamação, só pra dor e febre. Só que mais recentemente alguns trabalhos apontaram que a dipirona pode ativar os sistemas canabinoide e opioidérgico endógenos. Endógeno significa que é um sistema nosso.
E esses sistemas são grupos de neurônios onde moléculas canabinoides, né, da plantinha, e de derivados de morfina se ligam, obviamente. Mas também se ligam moléculas do nosso próprio corpo. É pra isso que eles existem, a gente tem esses sistemas porque a gente tem moléculas que se ligam neles, e aí, eventualmente, moléculas externas também se ligam.
Esses dois sistemas, o canabinoide e o opioidérgico, estão relacionados com a dor, por isso moléculas se ligando neles podem aliviar dores. Por causa desses mecanismos, que lembrando não são 100% comprovados, segundo alguns autores, a dipirona não deveria ser classificada como AINE, e sim como analgésico não-opioide, ou seja, não derivado da morfina. E o poder analgésico dela viria pela interação com os três sistemas: a interação com a COX-3, com o sistema canabinoide e com o opioidérgico.
Aí você pode se perguntar: o que tudo isso tem a ver com diminuir neutrófilos no sangue e causar agranulocitose? -É uma boa pergunta. [Laura] E a resposta é: nada, porque o mecanismo de agranulocitose não tem nada a ver com o mecanismo de ação da dipirona.
Eu prometo que tem um motivo de eu ter te contado tudo isso sobre o mecanismo de ação antes. A agranulocitose, que é uma reação adversa rara, aparece por causa de mecanismos imunológicos ou citotóxicos, que são mecanismos que matam células e geralmente é induzida por medicamentos. Veja que eu disse por medicamentos e não por dipirona.
Porque existem vários medicamentos que podem induzir uma agranulocitose, incluindo alguns antibióticos como penicilina, ampicilina, oxacilina e vários outros; alguns anti-inflamatórios como diclofenaco, naproxeno, ibuprofeno, paracetamol; anticonvulsivantes, medicamentos pro coração, ansiolíticos, só para citar alguns poucos exemplos de vários medicamentos que podem causar agranulocitose. O mecanismo citotóxico geralmente acontece com medicamentos anticâncer. E nesse caso, o medicamento mata a célula diretamente porque são moléculas feitas pra atacar células que se dividem muito, e as células que dão origem aos neutrófilos são algumas das células que se dividem mais rápido no corpo.
Aí elas acabam levando uma bala perdida enquanto o medicamento tá matando o câncer. Agora, no mecanismo imunológico, também chamado de reação idiossincrática, que esse nome diz que a gente não sabe como acontece, o medicamento induz o corpo a fabricar anticorpos contra o próprio medicamento, e esses anticorpos acabam atacando os neutrófilos, destruindo-os e causando a agranulocitose. Esse mecanismo que acabei de descrever não é 100% esclarecido, mas é a hipótese mais forte com mais evidências pra explicar o que acontece nas reações envolvendo medicamentos que não são os anticâncer.
Por que eles induzem a agranulocitose? E por que o corpo cria esses anticorpos? Porque a pessoa tem uma predisposição genética pra isso.
A gente não sabe exatamente qual é o mecanismo que leva a isso, mas a gente sabe que as pessoas têm predisposições genéticas pra isso acontecer. Foi por isso que eu quis mostrar pra vocês que o mecanismo de ação da dipirona e o de agranulocitose são independentes, porque isso mostra pra a gente que a agranulocitose tá mais envolvida com a genética da pessoa do que com a dipirona em si. Até porque tem vários medicamentos que não são dipirona que podem induzir o mesmo problema.
Por causa disso, a gente tem estudos discrepantes. Então, a gente tem estudos mostrando que, na população sueca, por exemplo, o uso da dipirona causa um caso de agranulocitose pra cada 1. 400 pessoas que tomaram o medicamento, enquanto um estudo internacional encontrou um caso pra cada 1 milhão de pessoas que tomaram o medicamento.
Essa diferença gigantesca no número de casos só pode ter uma explicação genética por trás. Tá. E nós, meros latinos?
Entre 2002 e 2005, cientistas do Brasil, da Argentina e do México fizeram um estudo que ficou conhecido como Latin Study pra investigar a incidência de agranulocitose na população latina. Olhando pros dados da população brasileira dentro do estudo, a média foi de 0,5 casos pra cada 1 milhão. Então, pra cada 1 milhão de pessoas que tomam dipirona, tem menos de um caso de agranulocitose.
Esses dados reforçam que existe uma mutação genética que facilita o surgimento de agranulocitose pra algumas pessoas que usam dipirona, e essa mutação é mais comum em populações nos Estados Unidos e em partes da Europa. Então, nesse caso, como a Suécia identificou que realmente aconteceram muitos casos de agranulocitose relacionados a dipirona no país, isso mostra pra gente que aquela população tem uma mutação que favorece que isso aconteça. Então, faz sentido que pra eles não tenha esse medicamento disponível.
-Ahhh! [Laura] O que não faz sentido é, de tempos em tempos, surgir uma espécie de pressão pra tirar dipirona dos países em que as populações se beneficiam muito dela, como o Brasil. Ainda mais quando ela é uma molécula bastante potente pra alívio da dor, é uma molécula segura com poucos efeitos adversos, pouca interação medicamentosa e muito barata.
E a nossa população não tem uma genética que favoreça tanto assim a indução de agranulocitose. Então, pra gente, ela é uma molécula bastante segura. -A gente vai viver!
[Laura] Existem muitos outros medicamentos no mercado com risco igual ou maior de causar agranulocitose do que a dipirona, que ainda têm mais efeitos adversos, mais toxicidade associada do que a dipirona, e ninguém diz nada sobre eles. Então, isso me leva a crer que essa conversa toda não tem nada a ver com risco de agranulocitose. Por isso, se você tem alguma preocupação ou tinha alguma preocupação sobre a dipirona ser proibida em outros lugares, eu espero ter te ajudado a entender que essa preocupação é infundada.
Lembrando também que a Anvisa fez um extenso levantamento de dados de estudos pra ter certeza de que a dipirona era segura pra população brasileira. E a conclusão foi que sim, ela é muito segura e o benefício dela é infinitamente maior do que qualquer possível risco. Por isso, ela continua sendo vendida aqui.
Mas vamos lembrar que não é porque a dipirona é um medicamento de venda livre ou seja, isento de prescrição, que dá pra transformar numa festa do caqui e tomar o quanto você quiser. Qualquer medicamento usado de forma errada vai trazer riscos. A dose máxima da dipirona em um dia pra pessoas adultas, ou seja, pessoas maiores de 15 anos, nesse caso, é de 4 g, que é o equivalente a um comprimido de 1 g de 6 em 6 horas.
Pra crianças e adolescentes até 14 anos, a dose máxima é de 16 mg por kg de peso corporal, também de 6 em 6 horas. Então aqui a gente tem que multiplicar 16 pelo peso da criança. Se a criança pesa 30 kg, a dose máxima de dipirona vai ser 480 mg em um dia, dividido nessas tomadas de 6 em 6 horas.
E é importante vocês saberem que a dose máxima dos medicamentos leva em conta também o intervalo de tempo entre uma dose e outra. Se é pra tomar a cada 6 horas e você diminui pra cada 2 horas, você tá aumentando a concentração do medicamento no seu sangue e tá aumentando o risco de ter um efeito tóxico. Tem que levar sempre isso em consideração.
Se a dipirona for usada acima da dose recomendada, tem risco de causar danos nos rins e no fígado. Vamos lembrar também que medicamentos como a dipirona são feitos pra tratar quadros agudos pontuais, ou seja, por períodos curtos. Se você tá tendo que tomar todo dia algum medicamento por causa de dor, tá errado.
Você precisa primeiro investigar a causa dessa dor e, segundo, a partir disso, usar o medicamento adequado que seja pra uso crônico, ou seja, pra um período prolongado. E se você quiser ver outros vídeos como esse aqui, respondendo às dúvidas de vocês, pode assistir à nossa playlist do SAC, nosso Serviço de Atendimento ao Curioso. E se você quiser saber se a gente já falou sobre alguma coisa que você quer saber, é só clicar nesse link aqui e acessar o nosso site, o NV1C.
com. Lá você pode fazer a busca por tema pra entender se, de repente, a gente já falou sobre a sua dúvida duvidosa, porque eu tenho certeza que na maioria das vezes a gente já falou. Compartilhe este vídeo com todo mundo que sempre quis saber isso sobre dipirona, e a gente se vê no próximo SAC.
Um beijo, tchau.
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