este livro que está nas minhas mãos Memórias de um Sargento de Milícias foi um dos livros que a Lívia adolescente abandonou sim ele foi uma das minhas leituras obrigatórias de ensino médio e eu bem me lembro que não cheguei até o final felizmente o mundo dá voltas e cá estou eu novamente com ele em mãos podendo dessa vez saborear e curtir muito o humor e a sagacidade desse clássico da nossa liter no vídeo de hoje então vamos falar da nossa edição de Memórias de um Sargento de Milícias de Manuel Antônio de [Música] Almeida a primeira
curiosidade desse livro é que ele foi publicado em folhetim de forma anônima no suplemento pacotilha no jornal Correio Mercantil entre junho de 1852 e julho do ano ano posterior 1853 a primeira edição do livro então Saiu em 1854 e no lugar do nome do autor saiu a seguinte identificação por um brasileiro o romance conta a história de Leonardo um menino endiabrado como dizem os vizinhos e tem um dos primeiros Capítulos mais memoráveis da literatura brasileira ele começa com era no tempo do Rei fazendo referência à Fuga de Dom João VI que veio com a família
real pro Brasil fugindo das tropas francesas esse capítulo narra então o romance entre Leonardo pataca e Maria os pais do protagonista que também se chama Leonardo a Bordo de um navio que viajava de Portugal ao Brasil ao sair do Tejo estando a Maria encostada à borda do navio o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma Valente pisadela no pé direito a Maria como se já Esperasse por aquilo sorriu-se como envergonhada do gracejo e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda era
isto uma declaração em forma segundo os usos da terra meses depois o resultado da pisadela e do beliscão aparece e Maria tem um filho com muita comicidade e sátira o narrador vai nos levando pela infância e juventude de Leonardo acompanhando a separação dos seus pais as brigas entre eles os novos amores de Leonardo pataca a sua relação com os seus padrinhos o compadre a comadre as ruas do Rio de Janeiro as aventuras e as malandragens de Leonardo até ele ser convocado pelo exército e se tornar um um sargento da milícia e é bom dizer que
aqui nesse livro A palavra milícia tem um significado bem diferente de Milícia como a gente usa hoje no tempo em que se passa a história ou seja no início do século XIX no Rio de Janeiro o exército tinha divisões e funções diferentes das de hoje as tropas de primeira linha eram as que mais se aproximavam da formação de um exército estavam à disposição de forma constante podiam ser recrutadas a qualquer momento já a as milícias eram as tropas de segunda linha formadas por cidadãos que não recebiam soldos Ou seja a remuneração dos militares a obra
de Manuel Antônio de Almeida é conhecida por sua linguagem simples sem muita pompa nem enfeites no posfácio do escritor e crítico literário Sérgio Rodrigues ele argumenta que é justamente essa simplicidade que aproxima esse livro de tantos anos atrás dos leitores de hoje em dia essa simplicidade que dá frescor pra experiência da leitura e eu não podia concordar mais além disso na minha visão a simplicidade também contribui pro efeito cômico de diversas cenas do livro para ilustrar essa questão da simplicidade o Sérgio Rodrigues destaca um trecho em que o narrador fala de vidinha uma das mulheres
por quem Leonardo se apaixona vidinha era uma rapariga que tinha tanto de bonita como de movediça e leve um sopro Zinho por Brando que fosse a fazia voar outro de igual natureza a fazia revoar e voava e revoa na direção de quantos sopros por ela passassem isto quer dizer em linguagem Chã e despida dos três jeitos de retórica que ela era uma formidável namoradeira como hoje se diz para não dizer lambeta como se dizia naquele tempo e não se preocupem com os termos que caíram em desuso O livro é cheio de notas que explicam Tin
tim por tim tim cada um deles vidinha aliás é apontada por alguns pesquisadores como uma espécie de irmã mais velha de Capitu de Dom Casmurro uma mulher com personalidade forte no mínimo o fato é que a simplicidade e a originalidade de Manuel Antônio de Almeida renderam várias boas discussões entre os críticos literários até hoje não há um consenso em como classificar a obra ao longo do tempo Memórias de um Sargento de Milícias recebeu diversas denominações romance picaresco por retratar esse personagem esperto e um pouco malandro romance romântico por ter sido escrito durante o Romantismo ou
então o romance pré-realista documental de costumes e por aí vai por conta da sua rica linguagem ele já foi até chamado de romance pré-moderno Vejam Só quem parece ter solucionado a questão da classificação foi o grande crítico Antônio Cândido no seu o ensaio dialética da malandragem Ele defende que Memórias de um Sargento de Milícias inaugura no Brasil uma nova linha teórico literária o romance de malandro ou seja esse livro traz pela primeira vez a figura do malandro que vai servir de inspiração para Mário de Andrade Criar o seu Macunaíma por exemplo e essa figura do
Malandro é muito forte no nosso Imaginário e nas expressões da nossa cultura quando eu fazia esse eu me lembrei das canções do Chico Buarque várias delas trazem o malandro ou então de tantos e tantos sambas cariocas que evocam essa figura meio fora da lei que às vezes até tem Charme e que está por toda parte as vídeoaulas que acompanham a nossa edição são do pesquisador Vinícius Barbosa e eu adorei o jeito como ele fala da malandragem do Leonardo Ele nasceu descompromissado das responsabilidades da vida adulta e diferente de outros heróis semelhantes já nasceu dissimulado Memória
de um Sargento de Milícias também é um dos primeiros romances urbanos do nosso país centrado na população livre e pobre que não costumava aparecer na literatura do período a história não se passa em um cenário das elites na corte como muitos livros do Romantismo pelo contrário se passa nas ruas agitadas do Rio de Janeiro e faz um retrato do cotidiano daquela época no pós-fato escrito pela professora e pesquisadora Giovana de ela aborda essa questão da malandragem não apenas como um traço de personalidade de alguns dos personagens mas como uma relação que tem a ver com
as trocas de favores as dependências e a luta pela sobrevivência diária não estamos falando apenas da esperteza da astúcia e da vadiagem presentes em outras obras inclusive não brasileiras mas em uma malandragem nascida do atrito entre as estruturas de opressão e as possibilidades temporárias de existência na mobilidade das ruas cuja máxima traduz-se pela constante negociação já o posfácio escrito pela jornalista Gabriela meer retoma a trajetória profissional de Manuel Antônio de Almeida ele transitou entre o Jornalismo e a literatura ela fala do surgimento do jornalismo no Brasil e também também da ambiguidade da obra O autor
nasceu no dia 17 de novembro de 1831 e apesar da sua origem humilde ele cursou medicina mas não chegou a exercer a profissão ele perdeu o pai quando ainda era criança a vida o Forçou a ser o responsável pelo sustento da família ele iniciou então a sua carreira como jornalista aos 22 anos no correio Mercantil onde Ele publicou a memória de um Sargento de Milícias ele também foi funcionário público na tipografia nacional onde ele conheceu um jovem aprendiz chamado Joaquim Maria Machado de Assis ele mesmo o Bruxo do Cosmo e velho infelizmente a vida de
Manuel Foi bastante breve em 1861 aos 30 anos ele tentava uma candidatura política mas infelizmente ele não levou os planos à frente porque ele faleceu em um naufrágio em Macae gente em geral eu faço os vídeos sobre os livros da antofágica quando eles estão em pré-venda e é por isso que quase nunca eu tô com eles em mãos mas hoje é diferente Memórias de um Sargento de Milícias chegou aqui em casa há poucos dias e eu fiquei encantada com as mais de 50 ilustrações da artista Manuela Navas ela escolheu cores delicadas e pintou cenas desse
Rio de Janeiro que não existe mais perdido no passado mas que se faz tão presente durante a leitura a além dos personagens propriamente ditos ela desenhou vários objetos e detalhes que tornam a leitura muito agradável Ah e eu não posso deixar de falar que a apresentação é do compositor Nei Lopes e entre outras coisas ele conta que foi lendo esse livro aqui que ele descobriu que a ala das baianas tão importante nos desfiles das escolas de samba do nosso carnaval veio do Rancho das baianas uma procissão Católica do tempo do Rei e tudo isso aparece
no capítulo 17 intitulado Dona Maria esse clássico da nossa literatura é assim mesmo é um mergulho na nossa história na formação da nossa identidade nas nossas ruas e pessoas agora eu quero saber me conta aqui embaixo nos comentários qual a sua relação com Memória de um Sargento de Milícias e se você tem um malandro preferido a gente se vê na próxima semana com mais um vídeo [Música] CSO