Por milhares de anos, o dinheiro tem servido não só como meio de pagamento e de acúmulo de riquezas, mas também como unidade de conta. Ou seja, como um sistema que nos permite fixar preços e registrar dívidas. Eu sou Nathalia Passarinho, da BBC News Brasil, e conto neste vídeo a fascinante história do dinheiro.
Uma história que começou com objetos de argila, pedras, conchas e sementes e que evoluiu, ao longo de milhares de anos, para os complexos sistemas atuais, que usam o dólar americano como referência. Vamos lá. A origem do dinheiro é controversa.
Alguns pesquisadores acham que quem inventou a figura do dinheiro foram os sumérios, por volta de 3 mil antes de Cristo. Isso aconteceu na antiga Mesopotâmia – onde hoje fica o Iraque. Os sumérios registravam em argila a quantidade de cereais ou gado de uma comunidade, em uma época em que a vida se desenvolvia em cidades-Estado como esta, Uruk, que já tinha desenvolvido um sistema comercial sofisticado.
Nas ruínas dessa civilização os historiadores encontraram pequenos objetos de argila que serviam não só para a contabilidade de bens. Eram usados também para fazer a troca por comida ou animais, conforme explica o historiador Niall Ferguson. Esses objetos não tinham um valor padrão, mas tinham inscrito o que poderia ser trocado por eles.
Ao longo da história, comunidades e civilizações no mundo inteiro chegaram a usar conchas de praia como dinheiro. E os maias e astecas, nas Américas, faziam trocas usando sementes de cacau. Mas há quem ache que o dinheiro mais antigo da história humana seja outro: a cevada, usada pelos sumérios para a troca de produtos.
E outra corrente de historiadores acha que esse papel na verdade cabia aos siclos – que não eram uma moeda como conhecemos hoje, mas sim uma unidade de peso usada antigamente em partes do Oriente Médio. Dependendo do lugar, um siclo podia pesar de oito a 17 gramas. E nos códigos da civilização suméria havia regras econômicas muito claras, como esta: “Se um homem quebrar o dente de outro, tem de pagá-lo com dois siclos de prata”.
Recentemente, alguns arqueólogos afirmaram que os sumérios utilizavam anéis de metal ou machados com pesos pré-determinados como um tipo de moeda padronizada. As primeiras moedas oficialmente cunhadas por um governo parecem ter surgido por volta do ano 640 antes de Cristo em Lídia, na Anatólia, onde hoje fica a Turquia. Tinham o brasão do rei Alíates.
Acredita-se que a moeda de Lídia, feita de uma liga de ouro e prata conhecida como electro, seja mais antiga que as moedas cunhadas em lugares como China, Índia ou de civilizações como a egípcia, persa, grega ou romana. A cunhagem teve sucesso porque era capaz de produzir moedas duráveis, facilmente transportadas e que tinham um valor próprio. Não demorou para que a moeda virasse um instrumento de controle político.
Elas ajudavam a organizar a cobrança de impostos que sustentavam as elites, permitiam financiar os Exércitos e também expandir o comércio para além das fronteiras. Mas junto com elas circulavam outras formas de dinheiro. A palavra salário, por exemplo, vem do latim, salarium.
No Império Romano, soldados e funcionários públicos eram pagos com sal, um produto muito valioso na época, porque servia para conservar os alimentos. E quando surgiram as notas de dinheiro? Ao longo de séculos, a unidade monetária básica da China eram moedas de cobre ou bronze com uma perfuração quadrada no centro.
Esse furinho permitia que as moedas fossem penduradas juntas, formando uma corrente. Mas à medida que as viagens e o comércio foram se expandindo, a demanda por moedas cresceu rapidamente. O cobre começou a ficar escasso.
Foi na dinastia Song, no ano mil da era atual, na província chinesa de Sichuan, que foi emitido oficialmente o primeiro papel- moeda do mundo. Era o “jiaozi”, fabricado a partir do tronco de amoreiras. E como isso aconteceu na prática?
Bom, naquela época, os governantes não queriam que as valiosas cargas de ouro e prata acabassem indo parar em terras estrangeiras. Por isso, impuseram uma regra: só moedas feitas de ferro podiam ser usadas. Mas as moedas de ferro eram tão pesadas que nem mulas nem carros de boi conseguiam levar cargas de grandes transações.
Foi assim que os comerciantes aderiram aos jiaozi, que eram como uma nota promissória acordada entre as partes que faziam negócio. Logo o governo tomou controle do sistema e transformou a nota em uma moeda oficial. Tão oficial quanto o dólar na época em que foi convertido, por decreto, na moeda oficial dos Estados Unidos, o que aconteceu em 1792.
E na história mais recente? Bem, quando a Segunda Guerra Mundial estava perto do fim, os governos aliados se deram conta de um problema: as economias estavam devastadas pelo conflito e se questionavam com qual moeda fariam o comércio internacional quando começasse a reconstrução. Foi quando os representantes de 44 países se reuniram em um hotel de Bretton Woods, nos Estados Unidos, em julho de 1944, e negociaram o futuro das finanças e do comércio mundial no pós-guerra.
Os países europeus chegaram à reunião com profundas carências econômicas, enquanto os Estados Unidos, do outro lado, acumulavam as maiores reservas de ouro do mundo. Foram 22 dias de reuniões em Bretton Woods, com intensas discussões regadas a uísque e charutos, como relata Ed Conway no livro A Conferência. Dois homens se enfrentaram num duro duelo intelectual: o britânico John Maynard Keynes, com sua utópica ideia de criar uma moeda comum mundial, chamada bancor, e o americano Harry Dexter White, do Departamento do Tesouro, que acabou ganhando a batalha.
No fim de Bretton Woods, ficou estabelecido que o dólar americano seria a moeda oficial de transações internacionais. E as duas instituições criadas naquela reunião, que são o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, passaram a realizar empréstimos em dólar aos países em dificuldades econômicas depois da guerra. Aquelas negociações moldaram uma arquitetura financeira global que, em grande parte, se mantém até hoje.
Com isso eu fico por aqui, mas dá uma olhada em outros vídeos de história no nosso canal no YouTube, nas redes sociais e em bbcbrasil. com. Até a próxima.