somos clandestinas por toda a cidade mulheres meninas de todas as idades e de todas cores e de todas classes Correndo Perigo culpa do impasse quem faz proibido guarda em segredo para não ser julgada para não sentir medo 4000 sin juros passando apuro método inseguro sangrando no escuro e quem não tem como pagar fica refém do que dá agulha remé chá e continua por lá por lá sangrando no escuro só e quem não tem como pagar fica refendo que dá agulha remédio CH e continuar por lá por lá eu me tornei clandestina com 22 anos eu
me tornei clandestina aos 25 anos com 19 anos com 29 anos eh eu virei clandestina com 21 o meu primeiro contato com aborto não foi com o meu aborto eu tinha uma amiga Carol o nome dela um dia eu tava em casa e eu o telefone tocou e atendi A Carol tava era a Carol no telefone com uma voz trêmula tava nervosa e aí eu saí correndo e aí quando eu cheguei na casa dela a porta tava aberta assim tinha um rastro de sangue ela tomou o comprimido quando chegou da escola e ela não imaginava
que o efeito ia ser muito rápido eu tive duas experiências significativas a primeira tinha 19 anos eu tava cheia de planos pra vida estudar trabalhar e aí eu conheci um rapaz e um dia ele me disse que tinha problemas de saúde e que não poderia ter filhos eu tinha um namorado com quem eu já tenho uma filha mas eu engravidei eu não tinha a menor condição de ser mãe eu trabalhava estudava no cara mais velho eu tava tão na contramão de uma gravidez que eu jamais teria pensado nisso minha menstruação estava atrasada dois dias eu
não ia perceber sabe foi minha mãe que percebeu lembro como se fosse hoje a gente estava tomando café da manhã aí minha mãe me chamou num canto assim pro meu pai não me não ouvir né e e falou você tá grávida quando terminou a escola eu comecei a trabalhar no no C Center E aí nesse cal Center tinha um cara que eu flertava e aí a gente sempre tomava um shoping n sexta-feiras nunca sozinha Só eu e ele tinha um grupo de amigos também que iam E aí num dia ele perguntou se eu se eu
queria uma carona de volta para casa hum naquele dia Fui estuprada ele transou sem camisinha quando ele terminou ele fingiu que nada aconteceu me deixou na porta de casa as pessoas viam eu flertando as pessoas viram que eu aceitei a carona como é que eu podia falar que eu tinha sofrido uma violência eu tinha parado de tomar pílula porque tava numa Vibe Natureba aí eu tava tentando usar diafragma mas ainda não tava enfim transei desprotegida mesmo tal e no meio da transa me veio vou ficar grávida namorava fazia do anos um rapaz e eu já
tinha uma filha já tinha 6 anos a gente não tinha muita grana né assim para ter dois filhos porque enfim aí ele foi querendo que eu virasse a mãe perfeita uma mãe exemplar que aí aí a gente começou a brigar um monte E então eu não era a mãe que ele queria pros filhos dele eu liguei pro rapaz que eu tinha conhecido e falei que eu interromperia aquela gravidez liguei pra minha mãe que me disse que me apoiaria em tudo e que me contou que muitas mulheres próximas já tinham interrompido gravidez Inclusive a minha avó
Bom enfim aí eu fui fazer o exame e aí tava eu lá com aquele resultado incrédulo assim eu olhava aqueles números daquelas palavras e não acreditava E aí voltei para casa conversando com a minha mãe e ela me perguntou e aí que você quer fazer e eu falei para ela não quero não quero ter filho não quero eu não sabia que que aborto era legalizado no caso de violência sexual e eu logo que agitei ter o filho fui pra fazenda de férias tal aí um dia eu acordei de madrugada uma fome que Deus mandava a
hora que eu entrei na cozinha Assim que bateu aquele cheiro da comida do povo que ia sair pro campo né que aquela comida forte mesmo né arroz feijão carne não sei o qu bateu eu enjoei eu falei hum tô grávida e já tinha me batido lá né quer dizer eu já tava meio e agora que eu faço não sei que bar e sem apoio nenhum né não tinha conversa com mãe porque já tava mais velhinha né mas ah eu sou dependente e tal não tinha parceiro porque era uma transa eventual e tal deu bateu aquele
desespero Fi cáspita e agora como faz Fi bom tira né tive que ter uma conversa super difícil com esse cara e eu lembro que a minha mãe ligou para uma amiga dela que ofereceu COTEC E aí minha mãe ficou morrendo de medo eu nem tive medo porque eu tava tão alheia a todo o processo porque aquilo para mim era tão absurdo era tão eu tava tão incrédula porque eu me cuidava o único deslize que eu tive uma vez eu tomei pírula do dia seguinte como assim eu tava grávida eu poderia falar algumas justificativas em relação
a a pílula e camisinha mas toda mulher sabe que a gente tem o risco de engravidar né eu tenho eu tenho reações horríveis a a anticoncepcional tenho dores de cabeça fortes náusea e naquele dia a gente simplesmente não tinha camisinha para mim parecia que as coisas iam se resolver magicamente com certeza não queria ter filho mas ao mesmo tempo eu não queria ter um aborto Sempre tem alguém que conhece alguém que já abortou essa coisa do aborto ser ilegal é é é uma ilusão assim todo mundo sabe onde se faz um aborto todo mundo sabe
onde se compra uma uma um Citotec só que é difícil é perigoso é Il legal né mas no fim das contas eu me dei muito bem e eu acabei nessa clínica de um médico bacana que faz isso por convicção Claro que ele cobra ele não faz por convicção de graça mas ele faz porque ele acredita nisso e eu lembrei de uma prima minha mais velha que era mais próxima quando era criança e ela conhecia uma pessoa que vendia Citotec e aí S que era R 200 uma pílula e eu precisava tomar quatro para fazer efeito
E aí ela viu meu desespero e falou que podia me emprestar e quando eu conseguisse eu pagava ela eu não podia contar com a minha mãe ela não ia me apoiar nem um pouco eu não tinha um relacionamento muito bom com ela e então eu fui para uma clínica eu paguei R 700 para ir numa clínica de aborto morava numa casa com dois cômodos e dormia com os meus pais aí todo mundo dormir e aí eu fui pro banheiro todo o tempo me passava Carol na cabeça quando eu cheguei lá eu fui recebida por um
por um médico vestido de açogueiro com um avental branco todo ensanguentado e com instrumentos claramente artesanais rudimentares ele aplicou uma injeção local que eu não me lembro se funcionou ou não mas eu senti Dores surdas E aí eu comecei a ter uma crise de vômito enquanto o médico me torturava dizendo que se eu não tivesse procurado ele eu não estaria vivendo aquilo quando eu deitei eu comecei a chorar e eu não conseguia parar de chorar o médico e a enfermeira me aconselharam a voltar para casa e repensar saindo de lá a gente foi para um
bosque minha mãe me abraçava muito e eu decidi prosseguir com a com a gravidez eu comprei os remédios que eu tinha que que comprar e nos seis dias seguintes eu fiquei completamente fora de mim e pela situação toda e com sangramentos muito constantes até que um dia depois de muito sangramento de um sangramento muito forte eu desmaiei sozinha no meu quarto eu deixei um recado pra minha mãe dizendo que eu estava indo viajar e fui encontrar o meu namorado que me levou para um hospital particular perto da casa dele a minha sorte é que o
o hospital tinha um convênio com SUS mas eu cheguei no hospital e eu desmaiei de novo quando eu cheguei e quando eu acordei a plantonista falou que eram 6 da manhã e que o plantão dela tinha acabado que ela não ia poder me atender mas que era para eu dizer pro médico seguinte que eu tinha feito que eu tinha tido um aborto espontâneo e E aí eu vi ela instruções pras técnicas de de enfermagem que estavam por lá quando ele chegou ele ficou falando coisas horríveis sobre o aborto as técnicas de aborto e aí as
enquanto as enfermeiras ficavam tentando reconhecer convencer ele de que eu era uma moça direita e que eu tinha realmente sofrio um aborto que eu tava sofrendo muito e desde que eu cheguei lá a a a plantonista anterior tinha me dito que se eu não dissesse que era um aborto espontâneo ele ia me deixar morrer tava meio sem ter para quem correr né E liguei pro médico da minha mãe aí ele me deu todo o roteirinho assim bonitinho né como é que fazia tal aí eu falei bom tá aí fui lá na clínica tal passei em
consulta eram Teoricamente se olhava do lado de fora uma Clínica Ginecológica normal aí desci para um porão eu e uma galera assim tinha umas nove meninas eu acho que tinham nove mulheres naquela sala eu olhei assim falei assim Jesus amada essa mulherada toda fazendo aborto por baixo do pano escondida morrendo de medo todo mundo tinha uma sensação de medo assim tinha um medo que parava em cima da gente e entrei em contato com essa Uia holandesa e o processo todo demorava cerca de do meses e aí começou o Pânico porque eu achava dois meses ia
demorar muito e correios e vai k uma amiga de um amigo que tinha feito falou que tinha um lugar em Salvador que vendiam esse remédio e é basicamente o lugar que em Salvador vende material de umbanda para você fazer trabalhos então é uma praça específica que eu fui eram tipo gritos Ah você quer simpatia para crescer cabelo e aí é toda uma parada subliminar que você tem que chegar e reconhecer no olhar a pessoa que vende um remédio e aí tipo olhei para uma mulher olhou para mim foi aquela coisa de ok Saquei ela vende
aí ela me puxou para um outro canto e aí eu fui e aí ela me fez uma pergunta que eu nunca vai esquecer que ela falou assim você que é do verdadeiro ou do falso eu falei assim oi Como assim Existe remédio falso ela não porque tem gente que que é obrigada a a fazer aborto porque o marido ou namorado o pai quer E aí pá foram R 500 dinheiro que eu não tinha fiquei [ __ ] durante um mês e não deu certo cheguei em casa de fui fazer tudo que tinham mandado n fui
no banheiro a hora que eu olho uma baita sangueira grossa horrorosa falei i aí fui entrei na clínica eí fizeram uma outra curetagem sem anestesia não sei que pré peré tiraram tudo tinha ficado alguma coisa lá dentro na hora de aspirar e tal e aí eu voltei para São Paulo e aqui acionei mais duas outras amigas que acionaram uma rede falaram então tem uma opção de você ir num num hospital público por uma portaria que foi colocada em 2010 se eu não me engano que é caso você seja vítima de uma violência sexual você pode
você tem direito e aí troue essa segunda fase as pessoas que iam lá para para enfim estar em contato com essa portaria eram meninas de 10 anos eram meninas de 12 anos eram mulheres muito fragil você passa por uma Sabatina muito complicada muito escrota e inclusive você passa por mulheres que você Teoricamente deveriam te apoiar te colocando contra parede perguntando Mas por que que você quer fazer uma burto E aí chegou depois de um mês um mês não depois de umas duas ou três semanas nesse processo eu fui negada porque a última das médicas que
eu passei a entrevista achava que a minha história tava Redonda demais depois a minha mãe conseguiu o telefone de uma clínica que era no nosso bairro num super casão uma clínica linda com manobrista na porta Jardim aquela coisa que você jamais imaginar que fosse uma clínica de aborto Eu lembro que eu cheguei lá quem me atendeu foi um médico que foi super Gentil comigo me explicou todo o processo disse que eu não não ia ter problema de ter filhos futuramente tinha uma enfermeira que chegou Pegou minha mão pediu PR contar de 100 a zero assim
a contrário e ela me chamou de menina eu era uma menina mesmo né lembro que eu voltei andando PR casa e eu e minha mãe a gente nunca mais falou sobre o assunto quando meu filho tinha 5 anos Eu me casei eu engravidei novamente dessa vez o meu marido também sem planejamento eu fui com o meu marido no endereço da clínica clandestina eu entrei sozinha e eu tive muito medo por muito tempo eu me senti julgada criminalizada eu não ia ter um filho somente porque me disseram você tem que ter um filho porque uma médica
ou duas ou três me disseram a sua obrigação com mulher carregar um filho não assim a minha obrigação como mulher eu tenho a responsabilidade com meu próprio corpo cada vez que eu tinha que repetir a história não é não existe grau de comparação mas a violência simbólica de ter que repetir e ser distrat e sentir como uma mulher vítima de violência sexual é destratada e as pessoas não acreditam na sua história e aí óbvio que isso tip coloca para pensar né porque eu tava lá sustentando uma história por uma por um motivo particular mas óbvio
que você a você se coloca no lugar de uma mulher que foi violentada sexualmente fui Pedi dinheiro emprestado pra minha mãe uma uma amiga minha me indicou um médico obviamente pra minha mãe não podia dizer que que eu tava pedindo esse dinheiro para fazer um aborto minha mãe tem 65 anos e ela foi obrigada a fazer um aborto pelo meu pai porque meu pai não queria mais ter filhos mas aí fiz fiz na clínica e e foi tranquilo e foi ótimo eu fui muito bem muito bem cuidada e acaba caindo no Clichê né mulher branca
classe média que tem R 3000 vai numa clínica e tá tudo certo bom depois disso acho que passei minha vida adulta quase inteira com uma culpa gigante de ter feito aquilo que foi a melhor coisa que eu fiz para mim eu realmente eu me acho uma Tuda porque tive acesso a uma clínica razoável coisa que muita muita mulher não tem né porque o problema da ilegalidade é que a você dizer que o aborto é crime não faz com que ele deixe de existir as responsabilidades que vem com isso eu não me sinto preparada para ser
mãe eu não me sinto preparada para educar uma pessoa eu acho que é básico eu decidi quando eu quero ser mãe se eu quero ser mãe e assim o método é problema meu eu acho que o o aborto ser e o aborto ser banalizado São coisas completamente diferentes e banalizar o aborto é você ser atendido por um açogueiro quando você precisar fazer um aborto banalizar o aborto é você fingir que ele não acontece colocar uma cortina na frente isso para mim é banalizar o aborto é uma ideia tão estapa FUR de achar que uma mulher
vai engravidar Ah vou fazer um abho depois ninguém vai pensa em fazer um abor Não acho nem um pouco nem por por um momento que isso vai se transformar numa banalização do sexo ou do Cuidado ou sei lá do que qual argumento estúpido que as pessoas usam é comprovado já que não porque no Uruguai quando legalizaram o aborto ninguém não teve tipo uma onda de abortos com todo mundo indo atrás do aborto agora que é fácil você levar a discussão para nessa essa direção é basicamente você tomar as pessoas e principalmente as mulheres como seres
desprovidos de qualquer responsabilidade e autoconhecimento eh basicamente é um argumento furado para você não dar soberania não dar o poder que as mulheres merecem ter sobre elas próprias eu acho que até Abre pro debate sobre métodos anticoncepcionais e legalizando o aborto as políticas públicas de dos direitos reprodutivos das mulheres também entram Ness em Pauta né claro que quando você olha por exemplo pro Uruguai pro processo de até onde a mulher o processo que que acontece quando ela decide fazer um aborto e vai a saúde pública claro que passam por entrevistas e conversas e uma ajuda
psicológica agora uma ajuda psicológica não é um interrogatório e o que acontece nos no sistema público é que você passa pro interrogatório assim você é colocada debaixo de um holofote de por Diabos você está fazendo isso só falt dizer que você é uma criminosa eu acho que se a gente legalizar aborto as mulheres vão continuar tendo o mesmo cuidado que elas têm hoje ou mais né porque elas vão ter mais condições de pensar nisso nessa interrupção de gravidez como uma coisa real concreta assim eu acho que cai a taxa de aborto cai a taxa de
mortalidade Feminina as e os profissionais ainda partem de uma crença pessoal própria que são contra o aborto todo mundo pode ter crença eu posso acreditar em um milhão de coisas mas as pessoas têm que parar de Partir só da própria opinião e olhar para outras pessoas as mulheres vão continuar abortando seja o aborto Legal ou não se ele for legalizado a vida das mulheres não vai mais estar em risco porque vai ser legal vai ser seguro não ela não vai correr risco de ir pra cadeia ela não vai ter medo de ir no hospital depois
né é um crime aborto é crime então é uma coisa que eu eu sempre quando tem alguém contra aborto que eu vou conversar com a pessoa eu falo pessoa não mas é crime eu digo Vem cá você acha que eu tinha que tá presa porque eu já fiz um aborto você acha que eu tinha que est na cadeia aí a pessoa dá aquele Sabe quantas mulheres mais você acha que você que você conhece que já abortaram enquanto a gente fica discutindo essa legalidade a gente não discute o que realmente importa pra mulher e as pessoas
precisam encarar isso como uma questão de direito e de saúde pública e não não como uma questão de crença ou ideologia ou opinião encarar como questão de opinião que é a pior coisa que pode haver como eu ouvi uma mulher me dizendo uma médica não porque eu acho que você deveria ter esse filho você é tão nova você tem a vida toda pela frente sem discussão não passa por aí a discussão não passa pelo que você quer pelo que você acha pelo a mulher nunca tinha me visto na vida e ela fala um negócio desse
ela não imagina o qu absurdo é isso que ela tá falando e e o que acontece é isso a a realidade é essa as pessoas se pautam pelas suas opiniões pessoais e não pelo sentido do coletivo e pelo sentido da Cidadania e pelo sentido do direito veja bem veja bem quem é que é refém veja bem veja bem e quem lucra com veja bem veja bem eu que sou a refém veja bem veja bem e quem lucra com quem o sistema machista quer nos proibir com um papo furado mas se homem engravidasse já seria legalizado
e se já não cabe mais aqui já aconteceu é hora de decidir mas de quem é a decisão O corpo é meu não diga que não o estado aplica uma punição laico e obedece uma religião veja só que contradição Liberdade rapidamente é prisão então deixe-me escolher não me obrigue a ceder não é só questão de ser é uma questão de querer não é só questão de ter é uma questão de poder muito fao de entender não me obrigue a ceder deixe-me escolher não é só questão de ter é uma questão de querer não é só
questão de ser é uma questão de poder muito fácil de entender não me obrigue a ceder E aí qual vai ser