Chegamos ao Capítulo 5 do Eclesiástico, e o autor começa fazendo algumas afirmações: não confies nas tuas riquezas e não digas "basta-me viver". Não deixes que tua força te leve a seguir as paixões do coração; não digas "quem terá poder sobre mim? " ou "quem me fará prestar contas das minhas ações?
". Pois o Senhor, com certeza, te castigará. Essas três primeiras afirmações são três concepções de vida que o homem pode ter para si.
Esses dias, houve uma polêmica entre um artista evangélico e os demais teólogos e pastores evangélicos, porque ele disse: "Jesus não te faz feliz. " E aí fez uma série de afirmações de um sabor um pouco estranho. O que me pareceu mais curioso é que, nas respostas, não houve quem lhe fizesse uma pergunta simples: "Mas o que diabos você entende por felicidade?
O que é felicidade para você? " Porque ele diz que tudo o que te faz feliz é pecado. Como assim "felicidade"?
Alguns acham que a felicidade se encontra nas riquezas; é uma concepção materialista da vida. E aí o autor do Eclesiástico diz: "não confies nas tuas riquezas e não digas 'basta-me viver'. " O que é bastante evidente, porque vejam: os bens mais caros são aqueles que o dinheiro não pode comprar: o amor, a fidelidade, a dedicação, o respeito, a consideração.
O dinheiro pode comprar muitas coisas, e, de fato, nós seríamos hipócritas se disséssemos que não precisamos de, ao menos, um pouco de coisas materiais para viver. Se eu não tenho, por exemplo, como comer, como beber, como morar, então é muito difícil que eu de fato tenha felicidade. Porém, o acúmulo de bens não é garantia da felicidade de ninguém, porque nós temos dramas, questões e sentimentos que ultrapassam muito a nossa capacidade de compra; aliás, são coisas inestimáveis.
Uma segunda concepção da felicidade é aquela que, aliás, esse rapaz parece ter, que é a felicidade como prazer. E aí diz o autor do Eclesiástico: "Não deixes que tua força te leve a seguir as paixões do coração. " Isso é muito evidente também; uma pessoa que não refreia os seus instintos mais baixos não consegue ser feliz.
Então, por exemplo, um homem que quer satisfazer todos os seus desejos sexuais não vai ser fiel a mulher nenhuma; ele vai ter filhos espalhados pelo mundo inteiro. Ele vai ter uma vida desmanchada, sem sentido, quebrada, esquizofrênica, para dizer pouco. Uma pessoa que come tudo aquilo que quer vai adoecer.
Uma pessoa que sempre se trata com todo conforto não vai chegar a lugar nenhum, porque a vida é dura; ela demanda de nós disciplina. Então, deixar-se levar pelo prazer, pelas paixões, é um estilo de vida que traz na hora satisfação, mas a conta que você vai ter que pagar depois vai ser terrível, e o boleto chega. Então, a felicidade não consiste no prazer.
Em terceiro lugar, não digas "quem terá poder sobre mim? " ou "quem me fará prestar contas das minhas ações? ", pois o Senhor com certeza te castigará.
É a soberba, é a vaidade humana. Alguns acham que a felicidade consiste nisso: em estar no topo, em ser conhecido por todos, em ser admirado, em ter fama e prestígio. O problema é que você não deixa de ser um ser humano por causa de nada disso.
A morte nos pisa por igual, diz o provérbio latino; ela calpesta a todos por igual. Você pode ser um rei ou um mendigo, um artista famoso ou alguém ignorado; a tua carne vai doer. Ninguém está por cima da carne seca.
Chama ilusão: a felicidade não consiste em nada disso. Então, em que consiste a felicidade, para o livro do Eclesiástico? A felicidade consiste na sabedoria, numa vida sábia, numa vida que se regula por um princípio alto, por um princípio inteligente, arquitetônico.
É uma vida de quem, de fato, tem uma biografia sólida, bem construída, com começo, meio e fim; que sabe onde quer chegar, que sabe como quer morrer, como quer ser lembrado. De quem, por exemplo? De quem, na hora da morte, quer ser rodeado pela sua família, pelos seus filhos, pelos seus pais, pelos seus sobrinhos, pelo seu cônjuge, e não abandonado num lugar a sós, porque, nessas horas, os ditos amigos dão as costas.
Ninguém é amigo no pecado. Uma vida sábia é uma vida virtuosa, é uma vida de equilíbrio, é uma vida de moderação. É uma vida em que eu não quero ser um louco que vai vivendo de impulsos.
É por isso que o autor do Eclesiástico continua dizendo: "Não digas 'pequei, e que de mal aconteceu', pois o Altíssimo é paciente. " Isso é muito, muito sério, porque, por exemplo, quando uma pessoa se converte, ela consegue se manter fora do pecado por um tempo. Aí, a fraqueza humana irremediavelmente vai puxá-la, e quando o homem cai e não acontece nada, depois ele pensa: "Bom, então tá tudo bem.
" Mas o Altíssimo é paciente; Deus age no fim. Não percas o temor por causa do perdão, cometendo pecado sobre pecado. Essa é uma insensatez, por exemplo, de quem diz: "Não, Deus sempre perdoa.
Então vou lá, peco, me chafurdo na lama. " Por quê? Porque o pecado me destrói, o pecado me desfigura.
Então, quem mente, é mentiroso; quem é ladrão, quem trai o seu cônjuge, é adúltero. Você se embrutece. Algumas pessoas pensam assim: "Ah, já que eu pequei, então agora vou até o fim", como se fosse a mesma coisa.
Um pecado leve, um pecado grave ou um pecado in, e um pecado consumado, não é a mesma coisa. Os protestantes, às vezes, dizem que não tem pecadinho e pecadão. Pecado não tem tamanho; é o caminho de uma pessoa se tornar louca, porque ela perde o senso das proporções.
Quer dizer que é a mesma coisa dizer uma mentira e matar uma pessoa. Existem pecados que. .
. São graves. Então, eu preciso manter a reverência a Deus.
Calma, eu vou voltar. Eu não, eu não vou ter coragem. Existem algumas coisas na vida em que a gente tem que ter medo; não tem que ter coragem.
As pessoas hoje em dia são meio imbecis, então elas se expõem, por exemplo, na internet. Elas caem em armadilhas das mais bobas e vão aí atrás de coisas perigosas, se expõem à possibilidade, por exemplo, de contrair doenças, achando que não vai acontecer nada. O Carnaval tá aí, chegando, todo mundo muito otimista: "Não, não vai acontecer nada comigo, tá tudo bem.
" E acontece que não é assim. [Música] Nesse quesito, é melhor ser medroso. É melhor ter temor e não se expor ao perigo.
Versículo 6: "Não digas: A misericórdia do Senhor é grande; Ele me perdoará a multidão dos meus pecados, pois dele procedem misericórdia e cólera, e sua ira se abate sobre os pecadores. " É isso, né? Algumas pessoas abusam da misericórdia de Deus e vão abusando.
"Ah, Deus perdoa. " E vão se tornando cada dia piores, vão se embrutecendo mais. "Não, Deus perdoa.
" E vão se tornando cada vez mais vis. Não abuse da misericórdia, porque um dia a casa cai. Quando você menos esperar, Deus pede contas da tua alma e o juízo de Deus te recolhe.
Versículo 8: "Não demores em voltar para o Senhor e não a dizes de um dia para outro, pois a sua cólera vem de repente, e no dia do castigo serás aniquilado. " É o que eu digo para as pessoas que se desviaram: não demora para voltar, não tá brincando aí fora. Muito bem, volta enquanto é tempo, porque chega uma hora em que o coração se endurece.
Você cria mil argumentações para se enrijecer no mal, e isso vai se tornando para você um caminho sem volta. Não brinque com a misericórdia de Deus. Às vezes, o homem enche a boca de soberba e, com a sua arrogância, diz: "Ah, mas por que isso é assim?
Por que Deus me trata assim ou trata os outros assim? " Eu não acredito nisso. Ignora os mandamentos ao invés de meditar sobre eles.
Tudo aquilo que Deus nos manda é bom, mas nós precisamos meditar para entender por que é bom. Se você pecou, não espere amanhã; se arrependa agora, se confesse o quanto antes. "Ah, sexta-feira eu me confesso.
" E você sabe se você vai chegar até sexta-feira? Sabe lá você se vai conseguir, de fato, um arrependimento perfeito. Nós temos que ter essa reverência para com Deus.
Ou seja, uma vida feliz é uma vida na qual eu aprendo a buscar os bens verdadeiros e a não me refugiar nas miragens dos bens aparentes. Mas alguém vai dizer: "Não, mas isso não é uma vida feliz. " Porque aí você peca com dor de consciência, chorando.
O que você quer? Você quer perder o temor do Senhor? Então você peca e fica: "Ótimo, tô bem, tô tranquilo.
" Então você passa a dar perdas nos outros e: "Ah, que bom, tá ótimo assim. " Trai lá a sua mulher, tá tudo bem, não tem problema. Você quer virar um monstro moral, uma pessoa que não tem culpa, um psicopata?
Não. Eu tenho que ser rápido para me arrepender. Eu tenho que voltar o quanto antes, não deixar para amanhã, voltar logo.
Termina o versículo 10: "Não te apoio em riquezas injustas, pois elas de nada te valerão no dia da desgraça. " É claro, quando a morte soar a trombeta sobre a sua cabeça e te der um beijo letal, que adianta você ser rico? Vai pro inferno do mesmo jeito.
Deus não aceita suborno. É claro, nós precisamos olhar para a nossa vida de um jeito diferente, não sermos como as pessoas da nossa geração que são todas impulsivas, governadas pelo impulso atual. Não pensam a vida como um todo.
Não estou escrevendo uma biografia diante de Deus. Nós precisamos olhar a nossa vida desde a perspectiva da sabedoria, então nós fugiremos do pecado. Não porque Deus proibiu, não.
Nós fugiremos do pecado porque ele é mau mesmo, ele é ruim. Ele nos embrutece, ele nos animaliza, ele nos impede de experimentar a intimidade divina na sua sutileza, naquilo espiritual que ela tem. Se eu não entendo isso, eu passo a minha vida inteira vivendo a lei de Deus a pulso, e não é o que Deus quer para nós.
Ele quer que nós mergulhemos na sabedoria da sua lei e entendamos, através da meditação, por que tal coisa não me convém. E com consciência. Porque nós temos uma visão integral da nossa vida, nos encaminharmos para o nosso fim.
Afinal de contas, nós não somos animais. Quem é guiado pelo instinto é o animal. O ser humano deveria se guiar pela razão, e a razão sempre busca o fim, ou seja, o porquê de todas as coisas.
Que Deus nos leve a um caminho de sensatez, de mergulho na sua sabedoria. Nada é à toa. Se Deus nos manda ou nos proíbe, há uma razão profunda por detrás daquilo.
Que nós sejamos cientes disso, e então nos encaminharemos para uma vida sábia, que tem lá os seus sacrifícios, as suas autonomias, as suas privações, como é inevitável que, neste mundo, não haja. Mas é o único tipo de vida que vale a pena ser vivido.