Educação 360 - António Nóvoa - Conexão Futura - Canal Futura

[Música] o professor português Antônio novoa é autor de dezenas de trabalhos na área da história e da educação e é sobre esses assuntos que a gente conversa a partir de agora Professor prazer em conhecê-lo tudo bem muito prazer tudo bem grande prazer estar aqui com muito bem o professor defende a pedagogia com humanidade e como desenvolver essas práticas pedagógicas a partir do trabalho do professor é a ideia da pedagogia com a humanidade dentro é porque nós precisamos de perceber que os conhecimentos por si só não nos trazem um conhecimento da humanidade e precisamos de criar

um conhecimento que tenha uma Consciência Humana o Edgar mã fala muito disso nas nos sete saberes necessários para uma educação do futuro ele começa por dizer que temos que compreender os limites do conhecimento as cegueiras do conhecimento e que o conhecimento por si só não forma uma criança é um conhecimento que tem que ter essa dimensão da humanidade E para isso há quatro ideias que são ideias que têm mais de 100 anos que nós temos que levar à prática Primeira ideia não podemos servir a mesma escola para todas as crianças segunda ideia educar é também

cooperar com os outros é trabalharmos com os outros trabalharmos sobre o conhecimento Com certeza mas não é aquele conhecimento que é transmitido sem que nós cooperem uns com os outros a comunicação a comunicação nas sociedades do século XX é decisiva a revolução digital permite-nos modelos de comunicação impressionantes pedagogia tem ao seu alcance um instrumento de comunicação fabuloso mas para nós a comunicação na sala de aula quase sempre é indisciplina são os alunos a falar uns com os outros e a perturbar a aula do professor quarta ideia a ideia da pesquisa da criação a ideia daquilo

que já o Paulo fereiro nos dizia não se aprende consumindo saber a ideia da educação bancária não se aprende consumindo saber aprende-se produzindo saber criando saber criando conhecimento Ora bem a escola tradicional a sala de aula tradicional os modelos de organização das práticas pedagógicas para responder à sua questão não permitiam isto como é que numa sala de aula tradicional se individualizam os percursos não o aluno tá lá sentado na sua carteira como é que se pode fazer um trabalho de ação impossível o aluno tá lá sentado na sua carteira como é que se pode comunicar

entre os alunos impossível o aluno está lá a ouvir o professor como é que se pode criar não há maneira de criar não há os laboratórios não há os instrumentos não há os espaços Então as novas práticas pedagógicas implicam uma nova atitude do professor uma nova atitude da Escola Novos espaços escolares que possam ser coerentes com esta realidade um conhecimento que hoje se expande em toda a socied com a realidade de Novas crianças de uma nova geração que pensa de maneira diferente do que nós que se relaciona com o conhecimento de maneira diferente do que

nós sobretudo que é isso que nos interessa que aprende de maneira diferente do que nós b o senhor fala em educação dos deveres humanos O que são esses deveres e como aplicá-los é é uma educação comprometida Isto é educação não se faz fora de um compromisso social e esse compromisso social é com as questões da condição humana há dois grandes compromissos que a educação deve ter nas palavras do Edgar mã com a condição humana e com a identidade terrena com a identidade da terra estes dois compromissos são centrais nós estamos a destruir a nossa relação

com os outros não estamos em paz com os outros estamos num processo de mais intolerância de mais guerra de mais incompreensão precisamos de Ender a condição humana e de construir a paz com os outros não porque somos todos iguais eu não quero toda a gente igual mas porque somos capazes de dialogar uns com os outros de comunicar uns com os outros de nos entendermos uns aos outros e de nos entendermos até e sobretudo nas nossas diferenças a paz com os outros a paz com a terra o homem a humanidade não resiste muito mais tempo se

não tiver outras formas de produzir se não tiver outra relação com a terra com as alterações que áticas com o consumo da energia e tudo isto é uma educação que nós não temos tido esta Educação de uma consciência planetária daquilo é que alguns designam pelo uma cidadania planetária a consciência que a Terra é a nossa casa F como o Papa Francisco disse de maneira tão notável na Encíclica laud não é enfim essa consciência da terra é absolutamente central hoje brincando com as palavras nós podíamos dizer que o local é o mundo hoje o local é

o mundo não é não há o local e o Global hoje o local é o mundo e portanto essa essa consciência do mundo quer seja do mundo dos outros quer seja do mundo da terra é Central para educar uma criança isto quer dizer que os conhecimentos são menos importantes não os conhecimentos são centrais da matemática do português da física da biologia da história não há educação sem conhecimento cono é a matéria prima Em que em que o professor trabalha mas esses conhecimentos não têm que estar cortados disciplinarmente em fatias curriculares rígidas engessadas eles devem estar

construídos em torno de grandes temas de grandes problemas daquilo que na ciência se chama a revolução da convergência não é Ora nós precisamos de uma revolução da convergência também na área do ensino e na área da Educação para sermos capazes de educar ou de ter uma pedagogia com a humanidade dentro bom o senhor fala muito sobre o papel do professor defende que nada substitui o professor Então nesse sentido Qual deveria ser o papel e a formação continuada do professor nos dias de hoje que há no século XIX uma um célebre político francês que aliás muito

mais tarde o Tony Blair em Inglaterra vem a repetir perguntava Quais são as três grandes prioridades para o país e respondeu a primeira é a educação a segunda a educação a terceira é a educação se me perguntar hoje Quais são as três grandes prioridades para a educação eu respondo-lhe a primeira é o professor a segunda é o professor a terceira é o professor Isto é se não houver professores qualificados bem formados com autonomia a trabalharem com Liberdade nós não conseguiremos Como dizia um teórico inglês Educar humanos por humanos para o bem da humanidade a educação

de humanos faz-se por outro humanos não se faz por robôs não se faz por pessoas desqualificadas muitas vezes nós reduzimos o professor a uma dimensão técnica como se ele fosse um robô que estava ali a dar uma aula disto a uma hora daquilo professor é uma pessoa em toda a sua humanidade e é o reforço desta pessoa que nos permite enriquecer o trabalho educativo nos dias de hoje para isso a formação professores é Central formação inicial de professores na formação inicial de professores nós temos formado o professor como se ele fosse uma junção de 30

coisas diferentes ele sabe um pouco de matemática um pouco de didática um pouco de pedagogia um pouco de história da educação um pouco disto e aem junção desses poucos todos não faz um professor precisemos por isso de ter um foco na formação do professor como um profissional Claro que ele tem que ser saber matemática Claro que ele tem que saber pedagogia Claro que ele tem que saber história e filosofia da educação mas isso deve contribuir para a formação de um foco como formação profissional de um professor e é por isso que eu defendo que haja

um lugar dentro das Universidades onde se tem um lugar onde se faça esta coerência da formação de um professor onde estejam todos aqueles das Matemáticas das biologias das pedagogias das didáticas que possam contribuir para a formação de um professor como um profissional e enquanto este lugar não existir eu acho que a fragmentação que existe dentro das Universidades não é benéfica para construir um programa coerente de formação de um professor como um profissional depois defendo que as políticas educativas têm dar mais atenção aos três ou quatro primeiros anos como professor o que nós chamamos a indução

profissional a chegada à profissão a profissão tem que acolher melhor aqueles que estão a chegar à profissão aqueles que que estão a ser socializados na profissão naquele momento em que nós nos tornamos professores em que nos socializamos como professores e infelizmente no Brasil não há alguns exemplos da residência docente no colégio e Dom Pedro I no Rio de Janeiro e experiências em Belo Horizonte muito interessantes ligadas à Universidade Federal de Minas Gerais mas de um modo geral há poucas políticas de indução profissional de acolhimento dos professores e depois formação continuada e a formação continuada é

uma formação que se faz no espaço da escola e no espaço da profissão é uma é uma conversa organizada é um diálogo estruturado entre professores O que é que estamos a fazer como é que podemos fazer melhor o que é que Devíamos ter feito de outra maneira o que é que precisamos de ir estudar ou de ir conhecer para fazer melhor o nosso trabalho que experiências existem noutras escolas noutros lugares como é que podemos aproveitar dessas experiências isto é que é formação continuada e isto faz-se pouco no Brasil acabamos por chamar à formação continuada a

ida a congressos a ida a eventos a ía a seminários com 1000 pessoas com 2.000 pessoas onde se fala de tudo e do contrário de tudo que tem alguma utilidade em pôr em contao doos professores com algumas ideias mas obviamente isso não substitui o trabalho de formação continuada no locos da escola e da profissão porque é aí que se pode encontrar uma política de desenvolvimento profissional do Cent a função da escola na sua opinião é ensinar a trabalhar e a conviver com o outro a nossa escola atual proporciona esse tipo de espaço não nem uma

coisa nem outra as duas grandes ideias do que a escola na verdade pode e sabe fazer melhor que a escola pode e sabe fazer melhor mas não faz Regra geral é levar os alunos a aprender a trabalhar o que eu espero da escola não é propriamente que ela encha a cabeça do meu filho de todos os conhecimentos é que ela ensina o meu filho a trabalhar a estudar a saber como é que vai buscar o conhecimento como é que vai escrever como é que vai comunicar como é que pode ir procurar e Pesquisar outras coisas

como é que uma criança se organiza para trabalhar no sentido do do estudar é isto que eu peço à escola que faça para o meu filho não é que lhe encha a cabeça de uma coisa enciclopédica que hoje está no no celular de qualquer criança não é portanto que ela aprenda a trabalhar que aprenda a estudar que aprenda a organizar o conhecimento e a escola sabe fazer isto bem os professores estão deviam estar formados e preparados para fazer isto e as melhores escolas são as escolas onde os nossos filhos aprendem a trabalhar não é e

por outro lado a segunda dimensão indissociável desta primeira que é aprender a viver com o outro aprender as regras da palavra aprender as regras do Diálogo aprender que quando eu falo tu estás calado aprender a escuta aprender que nós temos que olhar para o outro e ouvir o outro e portanto esta regra do do conviver do aprender a viver com o outro com o outro que é diferente de nós com o outro que pensa de maneira diferente do que nós é absolutamente central e aqui reside um dos pilares das sociedades democráticas a educação que tem

esta capacidade de formar e de Educar para a democracia na democracia e pela democracia está a construir cidadãos que mais tarde são capazes de agir na sociedade também com estes mesmos valores aprender a trabalhar e aprender a viver com o outro são provavelmente dois pilares centrais da Educação desde sempre mas talvez ainda mais necessários no nosso século o senhor defende um espaço público da educação construindo e aprendendo juntos como isso se aplicaria na prática na prática Educacional é é muito difícil de concretizar é muito fácil de dizer e o fácil de dizer é o seguinte

nós há 150 anos fomos buscar as crianças às famílias ao trabalho ao campo à agricultura e fo dissemos A escola é obrigatória foi uma enorme violência uma violência brutal que foi exercida sobre as sociedades quando o estado decidiu que a escola era obrigatória fomos lá buscar e trouxemos as crianças para dentro da escola e dissemos nós vamos educar as crianças e fizemos o nosso trabalho a escola ganhou ao longo do século XX uma batalha contra o trabalho infantil contra a criança que era explorada nos campos contra muitas famílias que não queriam que as criança fosse

a escola a escola ganhou os professores ganharam essa batalha no século XX só que agora temos uma outra batalha que é a batalha de dizer a escola só por si não vai conseguir educar todas as crianças portanto a escola precisa da sociedade toda a escola precisa da cidade no sentido da pólis da pólis grega não é da cidade no sentido da responsabilidade social precisamos da cidade para educar a criança não é e esta cidade hoje no sentido de simb é uma cidade com todos os problemas claro que há muita gente analfabeta claro que há muita

gente que não quer saber da educação claro que há muita emcultura mas esta cidade não tem nada a ver com o que era há 100 anos atrás é uma cidade que tem instituições culturais que tem ciência que tem universidades que tem associações que tem movimentos sociais que tem clubes diversos olha esta cidade cedade de cidadãos cidade da pólis tem de contribuir para a dimensão educativa e para contribuir para a para a dimensão educativa é preciso que haja um espaço público no qual Estas pessoas possam decidir também e portanto possam dar a sua opinião possam ter

a sua voz possam dizer como é que entendem que deve estar organizada a educação no interior de um determinado espaço público sem nunca sem nunca entrarem no que é a dimensão profissional dos professores mas Nunca entrar nessa dimensão el tem uma palavra a dizer sobre isso e portanto no fundo é dizer de uma maneira mais simples que há mais educação para além da escola não é que a escola não esgota todas as nossas possibilidades educativas e que temos de perceber a necessidade desse envolvimento das famílias da sociedade das associações dos movimentos sociais nos processos educativos

e se percebermos isso estamos a perceber uma das grandes revoluções do Século XXI que é que que vivia fechada num determinado espaço vai passar a viver capilar em toda a sociedade capilar mete no sentido dos vasos capilares destes vasos sanguíneos que estão no nosso corpo todo não é o nosso corpo tem um coração tem esse coração é escola provavelmente mas este coração Não viveria se ele não irrig Asse o conjunto das nossas dos nossos membros e do nosso corpo precisamos que haja sangue nos de dedos que haja sangue nas pernas que haja sangue nos braços

precisamos que haja educação nesses membros todos sem que o coração deixe de ter o seu papel e este é a escola mas contribuindo capilar para que a educação esteja em muitos lugares e por isso precisamos que as pessoas participem que as pessoas tenham Liberdade tenham participação e tenham capacidade de deliberar neste espaço público da educação é uma das grandes revoluções em curso no mundo todo que tem a ver com com mais cidadania com mais participação com mais responsabilidade de Todos Pela Educação a educação não é responsabilidade das escolas e dos professores a educação é a

responsabilidade de todos e todos quem que assumir a sua parte pela educação a escola O que é da escola à sociedade O que é da sociedade e a sociedade tem que ter esse compromisso com a educação sou Pena de não conseguirmos encontrar soluções para os problemas que temos pela frente atualmente o Brasil vive um momento de discussão da reforma do ensino médio Qual a sua opinião a respeito eu eu conheço mal a situação do Brasil e portanto não me quero pronunciar sobre isso em termos genéricos o que eu posso dizer é que as grandes reformas

curriculares que tiveram lugar na década de 80 em muitos países foram muitas vezes condenadas ao fracasso não é porque elas não tocam no essencial e o essencial é a liberdade das escolas e dos professores é o reforço das escolas e dos Professores e o essencial é a capacidade de outra dinâmica de construção dos conhecimentos que não é necessariamente através de currículos que não é necessariamente através de um conhecimento enciclopédico mas que é através desta Pedagogia da que eu vos vim a falar não é portanto para mim o que me interessa é menos as grandes reformas

curriculares eu como Historiador da educação se há uma coisa que eu sei é que as grandes reformas da educação normalmente deram pouco resultado não é e o que deu resultado foram mudanças foi o reforço dos professores o reforço de capacidade das escolas o reforço do espaço público da educação claro que é mais complicado é mais fácil sentar 10 pessoas numa mesa e inventar uma reforma curricular do que trabalhar todos os dias para este reforço da educação mas é isso que se espera as grandes reformas normalmente servem para justificar políticas servem para prestar contas aos eleitores

de que se fez alguma coisa mas a sua capacidade de mudar efetivamente as escolas e a pedagogia Regra geral é bastante limitada Professor Ant Nova Muito obrigado Muito prazer prazer imenso