Se você tivesse que dizer onde se encaixa na pirâmide de riqueza brasileira, responderia o que? Entre os 10% mais ricos? 10% mais pobres?
Ali no meio? Afinal, quem é rico? Tempos atrás muita gente ficou horrorizada quando um ator famoso escreveu que não estava no topo da pirâmide - mas não é preciso ir tão longe.
Sou Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil, e nesse vídeo explico quem está no topo da pirâmide e porque tanta gente acha que não faz parte dela. Sem demora, vamos direto lá. Tomando a Pnad Contínua, pesquisa do IBGE, a renda mensal média do 1% mais rico, ou seja, a pessoa com renda média superior à de 99% da população brasileira adulta, é de R$ 28.
659. O parâmetro é o rendimento habitualmente recebido, então isso é renda bruta. A renda média do indivíduo que está entre os 5% mais ricos é de R$ 10.
313. Entre os 10% mais ricos, R$ 5. 429.
Esses são dados até 2019, os mais recentes, então não contabilizam esse aumento da pobreza que a gente viu de lá pra cá, mas dão uma boa ideia do cenário. A base da pirâmide é relativamente homogênea — 80% dos brasileiros têm renda inferior a R$ 3,4 mil por mês e 60% ganham até dois salários mínimos, R$ 1. 871, aí considerando os dados de 2019.
Já o topo da pirâmide é bastante heterogêneo, e por isso tanta gente acredita que não está ali dentro. Tomando a faixa da pesquisa do IBGE, de R$ 28 mil, por exemplo, o grupo dos 1% mais ricos inclui desde alguns profissionais liberais como advogados e engenheiros e a elite do funcionalismo público — promotores, procuradores, auditores da Receita —, a empresários, artistas e, finalmente, os milionários e bilionários que aparecem nas listas dos mais ricos do país. Tá todo mundo ali dentro.
Como o Brasil é um país em que muita gente vive com muito pouco, para se estar entre os “mais ricos”, do ponto de vista da distribuição de renda, não é preciso tanto. Mas o aparente descolamento entre percepção e realidade não é exclusividade do Brasil. Eu conversei com a economista turca Asli Cansunar, estudiosa do tema e professora de Ciência Política na Universidade de Washington, e ela comentou que em diversos países, quando questionadas sobre onde se encaixam na distribuição de renda, as pessoas geralmente dizem que estão no meio.
A ideia aqui, de forma bem grosseira, é: bom, se eu não dirijo um carro importado e não tenho uma mansão, definitivamente não estou no topo da pirâmide. Mas não é isso que os números mostram. E pra além das percepções individuais, a própria noção de riqueza é subjetiva.
Não existe um consenso acadêmico sobre o que seria uma “linha de riqueza”, por exemplo. Ser rico é ter dinheiro suficiente para poder parar de trabalhar? É morar em um determinado bairro da cidade?
É conseguir viajar nas férias todo ano? Ganhar um determinado salário em uma região do país te dá um poder de compra que pode ser bem menor em outra, e por aí vai. A pirâmide de rendimentos, por exemplo, não contabiliza a riqueza estocada em patrimônio, recebida em herança, apesar de os especialistas reforçarem que, ainda assim, ela é um bom termômetro pra medir a desigualdade de renda.
A do IBGE usa as pesquisas domiciliares do instituto, mas outras metodologias também incluem, por exemplo, dados do imposto de renda pra tentar medir melhor os rendimentos de quem está no topo. Isso porque a pesquisa do IBGE é aquela em que o recenseador conversa com o entrevistado, e tradicionalmente os mais ricos tendem a informar valores menores de renda, seja por uma questão ligada à segurança, por constrangimento ou porque realmente não sabem quanto ganham na ponta do lápis. No caso do IR, os contribuintes são obrigados a informar à Receita quanto ganham de salário e quanto têm em aplicações financeiras.
É por isso que as faixas de renda média no topo da pirâmide tendem a ser maiores nessa segunda metodologia. Um dos especialistas que faz esse cálculo usando também a base de dados do IR é o pesquisador do Ipea Pedro Ferreira de Souza, autor do livro Uma História da Desigualdade, vencedor do prêmio Jabuti em 2019. Usando dados de 2015, atualizados pela inflação até 2020, e considerando a renda monetária mensal por adulto acima de 20 anos, os dados apontam que a renda dos 10% mais ricos vai de R$ 4,5 mil pra cima e do 1% mais rico, de R$ 22.
650 pra cima. Perguntei o que ele entende por ser rico, já que esse é um conceito que pode ser subjetivo: E por que essa discussão é importante? O Pedro comentou que entender quem tem mais nos ajuda a pensar em políticas voltadas para melhorar o bem-estar de quem tem menos, como o financiamento de serviços públicos de transporte e para reduzir a pobreza Bom, é isso.
Espero que essa discussão tenha sido útil. Eu fico por aqui. Obrigada e até a próxima!