Eu vou te contar uma coisa que mexeu comigo de um jeito que até hoje quando fecho os olhos ainda sinto o cheiro daquela tarde. E olha, minha filha, eu não sou dessas mulher de inventar história, não. O que vou te falar aqui aconteceu de verdade comigo. E se você tá me ouvindo agora, agradeço de coração, porque cada pessoa que escuta essa história ajuda outras mulheres a entenderem que a gente também é gente, também tem vontade, também sofre calada. E se você ainda não é inscrita aqui no canal, pensa com carinho em se inscrever, viu? Porque
essas histórias que a gente conta aqui, elas chegam em quem precisa ouvir, em quem tá sofrendo sozinha, achando que é só ela que passa por isso. Seu apoio faz diferença, acredite. Então, presta atenção que eu vou começar do começo. Meu nome é Júlia, tenho hoje 42 anos, mas quando isso aconteceu, eu tinha 38. Era casada com Fernando havia 15 anos. E quando a gente casou, vixe Maria, eu achei que tinha encontrado o homem da minha vida. Ele era trabalhador, sério, daqueles que não falta com a palavra. Mas sabe como é, né? O tempo vai passando
e aquele fogo que a gente sentia no começo vai apagando devagarinho, que nem brasa de fogão de lenha que ninguém assopra mais. A gente foi virando dois estranhos morando na mesma casa, dividindo a mesma cama, mas dormindo cada um pro seu lado, sem se tocar, sem se olhar de verdade faz tempo. Era julho, um mês quente que só vendo. Daqueles que o sol racha a terra e faz a gente suar só de respirar. A gente estava voltando da casa da irmã dele lá no interior de Pernambuco, perto de Caruaru. A estrada era de terra batida,
cheia de buraco dessas que sacode a gente por dentro e faz os ossos doerem. O carro que a gente tinha era velho, um Gol branco que Fernando comprou usado lá em 2012. Já tinha dado problema antes, mas ele teimava que tava bom, que aguentava mais uns anos. Eu nem discutia mais, cansada de falar e não ser ouvida. Foi ali, no meio daquela estrada que parecia não ter fim, cercada de mandacaru seco e chão rachado, que o carro começou a fazer um barulho esquisito, um ronco assim meio engasgado, sabe? Como se tivesse pedindo socorro. Falei para
Fernando que o carro estava reclamando, mas ele só bufou irritado, dizendo que eu não entendia nada de mecânica. Minutos depois, o motor tuciu, estrebuxou e morreu ali mesmo, no meio do nada, sem sombra, sem vento, sem nada, só aquele silêncio pesado do sertão e o calor subindo da terra que parecia estar pegando fogo. Fernando desceu do carro xingando baixinho, coisa que ele fazia quando estava nervoso. Abriu o capô e ficou ali olhando pro motor, como se fosse entender alguma coisa só de olhar. Desci também, mas devagar, sentindo o banco quente queimar a parte de trás
das minhas coxas. Estava de vestido, um azul clarinho de algodão que eu gostava porque era fresco, mas ali naquele calor nem o vestido mais leve do mundo ajudava. O suor escorria pelas costas, grudava o tecido na pele e o cabelo colava no pescoço, me deixando agoniada. Fiquei ali parada na beira da estrada, olhando aquele mundão de terra seca, sentindo o desespero subir devagar. Não tinha celular com sinal, não tinha casa por perto, não tinha nada, só o céu azul demais, o sol de rachar e aquela sensação ruim de que a gente estava largado à própria
sorte. Peguei uma garrafinha de água morna que tinha no banco de trás, bebi um gole e molhei o pescoço tentando refrescar, mas era como jogar água quente em fogo. Não resolvia nada. Fernando continuava ali, todo suado, mexendo em fio, olhando pro motor, tentando entender o que tinha dado errado. Eu sabia que ele não ia resolver. A gente ficou ali uns 20 minutos, talvez meia hora naquele desespero silencioso. Eu olhava para ele e via o homem que tinha virado, cansado, calado, distante. Há quanto tempo a gente não conversava de verdade? Há quanto tempo ele não me
olhava nos olhos? Há quanto tempo eu não sentia que era mulher? Foi aí que eu ouvi o barulho. Um motor se aproximando devagar, levantando aquela poeira fina que ficava suspensa no ar quente. Eu olhei e vi uma caminhonete preta, grande, daquelas que parecem feitas pra estrada de terra. Ela vinha devagar, respeitando os buracos, e quando parou perto da gente, meu coração deu uma acelerada que até me assustou. Não era medo, era outra coisa que eu não sabia nomear ainda. A porta abriu e desceu um homem. Meu Deus do céu, minha filha. Quando eu vi aquele
homem, alguma coisa mexeu lá dentro de mim. Ele era alto, moreno, devia ter uns 40 e poucos anos, talvez 45. Usava uma camisa xadrez com as mangas dobradas nos braços, calça jeans escura e uma bota de couro. O cabelo era preto com os fios brancos na lateral, o tipo de homem que o tempo deixou ainda mais bonito. Mas não era só a aparência, não era o jeito dele. Tinha uma presença, sabe? Daquelas que quando a pessoa chega perto você sente no ar. Ele veio caminhando até a gente com um andar calmo, firme, como quem conhece
aquela terra e não tem pressa de chegar em lugar nenhum. Bom dia", disse ele com uma voz grave que parecia sair de dentro do peito. "Precisam de ajuda?" Fernando, que estava todo suado e nervoso, explicou o problema. Disse que o carro tinha morrido, que não sabia o que era, que estava tentando ver, mas não entendia muito. O homem ouviu tudo com atenção, deu uma olhada rápida no motor, depois olhou para mim. Foi só um segundo, mas eu senti aquele olhar atravessar. Não foi vulgar, não foi desrespeitoso, foi um olhar que me viu, me viu de
verdade, como mulher, como se eu tivesse voltado a existir depois de anos apagada. "Vocês estão longe de casa?", ele perguntou, ainda olhando para mim. Fernando respondeu que sim, que a gente morava em Recife e estava voltando de viagem. O homem coçou o queixo pensativo, depois disse: "Olha, eu posso levar a senhora até a cidade mais próxima. Tem um posto lá, uns 25 minutos daqui. De lá vocês conseguem chamar um guincho porque aqui não pega celular não. Meu coração disparou. Ir com aquele homem sozinha. Olhei para Fernando, esperando que ele dissesse não, que ele mesmo iria,
mas ele só olhou pro carro, pro sol, para mim, e disse: "Vai com ele, Júlia. É melhor do que ficar aqui torrando. Traz ajuda logo que eu não aguento mais esse calor. E eu fui, minha filha, eu fui sem pensar duas vezes. Alguma coisa dentro de mim já tinha decidido antes da minha cabeça. Entrei pela porta de trás da caminhonete, sentei ali e fechei a porta. O banco era de couro, quente, mas confortável. Tinha um cheiro gostoso ali dentro, mistura de couro, madeira e um perfume masculino leve, nada exagerado. Ele entrou na frente, ligou o
carro e a gente começou a andar devagar por aquela estrada de terra. O barulho do motor era baixo, mas firme, e o silêncio entre nós era tão grande que eu conseguia ouvir meu próprio coração batendo descompassado no peito. Olhei pela janela, tentando me distrair, vendo aquela paisagem seca, o mato baixo, as árvores retorcidas do sertão. Mas de tempos em tempos, meus olhos encontravam os dele no retrovisor. Toda vez que isso acontecia, um calafrio subia pela minha espinha. Não era medo, minha filha, era desejo. Um desejo que eu nem lembrava mais que existia dentro de mim,
que estava adormecido fazia tempo e que aquele homem, sem fazer nada demais tinha acordado. Sabe, se você tá me ouvindo até aqui e tá sentindo que essa história tá tocando em algum lugar dentro de você, se você já passou por algo parecido ou conhece alguém que passou, por favor, se inscreve aqui no canal, porque a gente precisa falar dessas coisas, dessas dores que a mulher carrega calada, desse sofrimento que ninguém vê. Quando você se inscreve, você ajuda essa mensagem chegar em mais gente, em outras mulheres que estão precisando ouvir, que não estão sozinhas. E se
você já é inscrito, comenta aqui embaixo. Eu entendo só isso. Só para eu saber que você tá aqui comigo, que você também passou por dias difíceis e entende o que eu tô falando. Agora deixa eu continuar, porque o que vem agora vai mexer ainda mais com você. A caminhonete seguia devagar por aquela estrada, balançando de leve nos buracos, e cada movimento parecia me empurrar mais fundo dentro de um sentimento que eu não conseguia controlar. Eu tava sentada ali atrás, olhando pela janela, mas minha atenção mesmo estava nele, no jeito que ele segurava o volante com
uma mão só, no braço forte que aparecia com a manga dobrada, nas costas largas que enchiam o banco da frente, e toda vez que ele ajeitava o retrovisor, nossos olhos se encontravam. Não era por acaso, não, minha filha. Ele estava me olhando também do jeito dele, sem pressa, sem desespero, mas olhava. Fazia calor dentro da caminhonete, mesmo com o ventinho entrando pela janela. Ou será que o calor era só meu? Eu já não sabia mais. O vestido tinha subido um pouco nas coxas por causa da posição que eu estava sentada e eu tentei puxar, mas
o tecido teimava em ficar grudado na pele suada. Percebi que ele notou. Não foi um olhar safado, não. Foi diferente. Foi como se ele respeitasse, mas ao mesmo tempo deixasse claro que tinha visto, que tinha gostado do que viu. Você é daqui da região? Ele perguntou de repente, quebrando aquele silêncio pesado. A voz dele era mansa, daquelas que parecem feitas para acalmar, mas ao mesmo tempo mexia com alguma coisa lá no fundo. "Não", respondi e minha voz saiu meio trêmula. Moro em Recife. A gente estava só de passagem, visitando família. Ele acenou com a cabeça,
como se entendesse. "E você?", perguntei, tentando manter a conversa, mas, no fundo, querendo ouvir mais daquela voz. Sou daqui mesmo, ele respondeu. Nasci e me criei nessas terras. Conheço cada pedra dessa estrada. Silêncio de novo. Mas era um silêncio carregado, sabe? Daqueles que gritam sem fazer barulho. Eu mexia na alça do vestido, passava a mão no cabelo, cruzava e descruzava as pernas. Tudo que eu fazia parecia ganhar um peso diferente dentro daquela caminhonete e ele dirigia calmo, mas eu via pela tensção no maxilar dele que alguma coisa também estava acontecendo ali dentro. A gente estava
sentindo a mesma coisa, só não tinha coragem de falar. A estrada começou a ficar mais estreita, entrando por um caminho que tinha mais árvores dos lados. A sombra das folhas dançava em cima da gente e, por um momento, o calor deu uma aliviada. Foi aí que ele diminuiu a velocidade, quase parando. Meu coração quase saiu pela boca. Aconteceu alguma coisa? Perguntei. E minha voz saiu num fio. Ele não respondeu na hora. Só parou a caminhonete debaixo de uma árvore grande, uma dessas velhas, que o tronco é grosso e os galhos fazem uma sombra generosa. Desligou
o motor. O silêncio ficou ainda mais pesado. Eu conseguia ouvir o canto de um bent vi longe, o vento leve mexendo nas folhas secas e meu coração batendo tão alto que achei que ele ia ouvir. Ele ficou ali parado, com as mãos ainda no volante, olhando pra frente. Depois, devagar, virou o rosto para mim. Aquele olhar, minha filha, aquele olhar me desarmou toda. Não tinha maldade, não tinha pressa, tinha verdade e tinha desejo também. Um desejo tão grande que parecia ter virado gente e sentado ali no meio da gente. "Desculpa", ele disse baixinho. "Eu precisava
parar. Não conseguia mais dirigir, fingindo que não tô sentindo o que tô sentindo. Meu peito subiu e desceu rápido. Eu queria falar alguma coisa, mas as palavras não saíam. "E o que você tá sentindo?", consegui perguntar num sussurro quase inaudível. Ele abriu um sorriso de canto daqueles tristes e sinceros ao mesmo tempo. "Você sabe, Júlia? Você sabe, sim." "Eu sabia. Deus do céu, como eu sabia! Porque eu estava sentindo a mesma coisa. Há quanto tempo eu não sentia isso? Há quanto tempo ninguém me olhava daquele jeito? Há quanto tempo eu tinha esquecido que era uma
mulher com vontade, com fogo, com vida? Não foi culpa dele. Não foi culpa minha. Foi culpa da solidão que a gente carregava, cada um à sua maneira. E se essa mensagem até aqui tá tocando fundo no seu coração, se você tá sentindo que tem algo aqui que te pertence, que te explica, que te acolhe, eu quero te fazer um pedido de alma. Clique em valeu demais para apoiar esse canal. Sabe por quê? Porque quando você faz isso, você ajuda essas histórias verdadeiras, essas dores reais chegarem em outras pessoas que também tão sofrendo caladas, que também
sentem que ninguém mais vê elas. Esse gesto pequeno faz uma diferença enorme, acredita? E eu agradeço de coração cada um de vocês que estão aqui comigo agora. Então ele abriu a porta dele, desceu e deu a volta devagar. abriu a porta de trás onde eu tava e ficou ali parado, me olhando. Não era um convite forçado, não. Era uma pergunta silenciosa. E eu, sem pensar, sem calcular, sem pesar as consequências, desci daquele banco. Meus pés tocaram a terra seca e quente e quando fiquei em pé, a gente ficou ali, tão perto que eu conseguia sentir
o cheiro dele. cheiro de homem, de trabalho, de sol, de algo que fazia meu corpo inteiro acordar de um sono profundo. Ele levantou a mão devagar e encostou de leve no meu rosto. O toque era quente, áspero por causa do trabalho, mas cuidadoso. Eu fechei os olhos por um segundo, sentindo aquele carinho que fazia tanto tempo que eu não recebia. Júlia, ele sussurrou meu nome tão baixo que quase se perdeu no vento. E quando eu abri os olhos, ele estava ainda mais perto, o rosto dele a poucos centímetros do meu. Os olhos fundos me estudando,
me perguntando sem palavras se eu queria aquilo. Eu queria. Deus é testemunha que eu queria. E quando os lábios dele encostaram nos meus, eu senti o mundo inteiro parar. Foi um beijo devagar, respeitoso no começo, como quem pede licença para entrar. Mas depois foi ficando mais fundo, mais urgente. As mãos dele subiram pela minha cintura, firmes, mas sem apertar demais, e eu me entreguei. Me entreguei de um jeito que eu nem lembrava mais que era possível. Minhas mãos seguraram os ombros dele, subiram pro pescoço, afundaram no cabelo e a gente ficou ali, debaixo daquela árvore,
no meio do nada, se beijando como dois adolescentes que descobriram o desejo pela primeira vez. Quando a gente se separou, a respiração estava curta, os lábios inchados, os olhos brilhando. Ele encostou a testa na minha e ficou ali respirando junto comigo. "Eu não planejei isso", ele disse. E a voz dele saiu rouca. Eu também não respondi, mas está acontecendo e eu não quero que pare. Ele me puxou de novo, me beijou com mais vontade ainda e dessa vez não teve mais dúvida, não teve mais medo. A gente entrou na caminhonete de novo, mas agora eu
não fui pro banco de trás, fui pra frente, sentei no colo dele, senti o corpo inteiro dele embaixo do meu. Minhas pernas se abriram naturalmente, o vestido subiu até a cintura e eu sentia o calor dele através da calça. Não era só desejo, não, minha filha. Era necessidade. Era uma fome que tinha ficado guardada por anos e que agora tinha acordado com tudo. As mãos dele subiram pelas minhas coxas, devagar, com respeito, mas com firmeza. Ele não tinha pressa, não estava desesperado. Ele sabia exatamente o que fazer, como tocar, onde tocar. E cada toque acendia
uma parte de mim que tinha ficado apagada fazia tempo. Eu gemia baixinho, não conseguia controlar. Os sons saíam sozinhos da minha garganta, misturados com suspiros, com gemidos abafados. E ele respondia com a respiração pesada, com as mãos que apertavam minha cintura, com os lábios que desciam pelo meu pescoço, deixando um rastro de fogo. A gente se afundou naquele momento como quem se afoga de propósito. Não tinha mais pensamento, não tinha mais culpa, não tinha mais mundo lá fora. Era só eu e ele, dois corpos que se encontraram no meio da estrada, no meio do deserto,
no meio da solidão. E pela primeira vez em muito tempo, eu me senti viva. viva de verdade. Não era só o corpo, não era a alma que tinha voltado a respirar. Depois de um tempo, a gente se afastou de novo, os olhos encontrados, as respirações ainda descompassadas. Ele segurou meu rosto com as duas mãos e me olhou fundo, como se quisesse gravar aquele momento na memória. Você é linda, Júlia. Não sei como alguém consegue não ver isso. As palavras dele me atingiram mais forte do que qualquer toque, porque fazia tanto tempo que ninguém me dizia
isso, que eu tinha até esquecido que podia ser. Voltei pro banco do lado dele, ajeitei o vestido, passei a mão no cabelo, tentando me recompor, mas por dentro eu tava diferente. Tinha algo que tinha mudado, que tinha se quebrado e se remontado de outro jeito. E quando ele ligou a caminhonete de novo e voltou pra estrada, a gente seguiu em silêncio. Mas não era mais o silêncio de antes, era um silêncio de cumplicidade, de quem compartilhou algo proibido e verdadeiro ao mesmo tempo. A gente seguiu pela estrada e o silêncio agora era diferente. Não era
mais aquele silêncio pesado de antes, era um silêncio que dizia tudo sem precisar de palavra. Eu olhava pela janela, via a paisagem seca passar, mas minha cabeça estava longe. Estava pensando no que tinha acabado de acontecer, no beijo, no toque, na sensação de ser mulher de novo. E ao mesmo tempo, minha filha, a culpa começava a bater devagar, como uma onda que vai crescendo aos poucos. Eu era casada. tinha deixado meu marido lá na estrada e tinha acabado de me entregar para um homem que eu nem conhecia o nome completo. Como se ele sentisse meus
pensamentos, ele falou sem tirar os olhos da estrada. Meu nome é Rafael. Rafael Augusto. Trabalho com transporte de mercadoria pela região. Conheço essas estradas todas de cor. E você? Você é Júlia? Sei disso. Mas me conta mais. Quem é você? A pergunta me pegou de surpresa. Quem eu era? Fazia tanto tempo que ninguém perguntava isso que eu mesma não sabia mais responder. Sou Júlia, tenho 38 anos, moro em Recife, trabalho como auxiliar administrativa numa empresa pequena. Sou casada há 15 anos e parei porque não sabia o que mais dizer. Minha vida cabia nessas poucas palavras
e isso me deixou triste. "E você é feliz, Júlia?", Ele perguntou agora, olhando para mim pelo retrovisor. A pergunta atravessou meu peito. Eu queria dizer que sim, que era feliz, que tinha tudo que precisava, mas a verdade saiu antes que eu pudesse mentir. Não sei mais o que é ser feliz. Acho que faz tanto tempo que eu só existo. Só acordo, trabalho, volto para casa, durmo e recomeça tudo no outro dia. Não sei se isso é vida ou se é só sobreviver. Ele ficou quieto por um tempo, processando o que eu tinha dito. Depois suspirou
fundo. Eu te entendo. Fui casado também, 13 anos de casamento. Ela me deixou faz uns 5 anos. Disse que eu era ausente demais, que passava mais tempo na estrada do que com ela. E talvez ela tivesse razão, mas eu também não era feliz. A gente estava junto, mas cada um vivia na sua solidão. Quando ela foi embora, doeu, mas ao mesmo tempo foi um alívio, sabe? Pelo menos parei de fingir. As palavras dele me acertaram em cheio, porque era exatamente o que eu sentia. Eu e Fernando a gente fingia. Fingia que estava tudo bem, fingia
que ainda tinha amor, fingia que dormir de costas um pro outro era normal, mas não era. E ouvir aquilo de outro homem, de alguém que tinha passado pelo mesmo, me fez sentir menos sozinha. A caminhonete chegou na cidade uns 20 minutos depois. Era uma cidadezinha pequena, daquelas que tem uma rua principal, umas três padarias, um posto de gasolina e todo mundo se conhece. Ele parou em frente ao posto, desligou o motor e ficou ali parado por um tempo. "Júlia", ele disse virando para mim. "Eu não me arrependo do que aconteceu, mas quero que você saiba
que eu respeito você. Se você quiser descer agora e nunca mais me ver, eu vou entender. Mas se você quiser, ficou em silêncio, como se não soubesse terminar a frase. Se eu quiser o quê?, perguntei, mesmo sabendo a resposta. Se você quiser que a gente se veja de novo, ele disse baixinho. Eu moro aqui perto. Não sei o que vai acontecer daqui paraa frente. Não sei se você vai voltar paraa sua vida e esquecer tudo isso. Mas eu não vou te esquecer, Júlia. Você mexeu comigo de um jeito que eu não esperava. Meu coração apertou.
Eu queria dizer que sim, que queria ver ele de novo, que não queria que aquilo acabasse. Mas ao mesmo tempo a realidade bateu forte. Eu tinha um marido esperando na estrada. Eu tinha uma vida em Recife. Eu tinha responsabilidades. "Não posso, Rafael", eu disse. E minha voz saiu embargada. "Eu não posso fazer isso. Eu sou casada, tenho uma vida. Eu não posso simplesmente jogar tudo pro alto", ele acenou com a cabeça, triste, mas compreensivo. "Eu sei. Só queria que você soubesse que hoje você me fez lembrar que ainda tem coisas boas nesse mundo, que ainda
tem encontros verdadeiros, mesmo que sejam breves." Desceu da caminhonete, deu a volta e abriu minha porta. Me ajudou a descer, segurou minha mão por um segundo a mais do que precisava. "Cuida de você, Júlia. Você merece ser feliz. E sabe, minha filha, se você tá ouvindo essa história até aqui e tá sentindo algo dentro do seu peito, se você já passou por uma situação parecida ou conhece alguém que passou, eu quero te pedir uma coisa: se inscreve nesse canal e deixa um comentário contando o que você sentiu. Pode ser só uma palavra, pode ser uma
frase, pode ser o que vier no coração. Porque quando você faz isso, você não tá só interagindo com um vídeo, você tá se conectando com outras pessoas que também sofrem, que também sentem, que também carregam dores que ninguém vê. E isso cria uma corrente de apoio, de acolhimento, de força. A gente precisa uma da outra, viu? A gente precisa saber que não tá sozinha nessa caminhada. Então comenta aí embaixo o que essa história tá despertando em você. Agora deixa eu continuar porque ainda tem muita coisa para eu te contar. Entrei no posto e pedi para
usar o telefone. Liguei para um guincho que o dono do posto indicou. Expliquei onde Fernando tava e o que tinha acontecido com o carro. Disseram que iam mandar alguém em uns 40 minutos. Agradeci e fiquei ali parada, sem saber o que fazer. Rafael tinha entrado também. comprou uma água e me ofereceu. Bebi agradecida, sentindo a água fresca descer e aliviar um pouco o calor que ainda ardia em mim. A gente ficou ali, sentado num banquinho do lado de fora do posto, em silêncio de novo, mas era um silêncio pesado, carregado de despedida. Eu sabia que
quando eu saísse dali, provavelmente nunca mais ia ver aquele homem, e isso doía mais do que eu queria admitir. Em algumas horas, ele tinha me feito sentir mais viva do que 15 anos de casamento. Como era possível? Como alguém que eu mal conhecia tinha conseguido tocar em lugares que o meu próprio marido não tocava mais? O guincho chegou depois de um tempo e o motorista, um senhor de uns 60 anos, me ofereceu carona de volta até onde Fernando estava. Rafael se levantou, me olhou fundo nos olhos e disse só: "Vai com Deus, Júlia". Obrigada, Rafael,
por tudo eu respondi. E a gente se despediu assim, sem abraço, sem beijo, só com aquele olhar que dizia mais do que 1000 palavras. Voltei pro lugar onde o carro tinha quebrado e encontrei Fernando ainda lá, agora sentado na sombra do carro, todo suado e irritado. Demorou, ele resmungou quando me viu. O guincho chegou logo atrás de mim e o motorista começou a preparar tudo para rebocar o carro. Fernando conversava com ele sobre oficina, sobre preço, sobre quanto tempo ia levar para consertar. E eu ali parada, sentindo que tinha voltado para minha vida, mas que
eu mesma não tinha voltado inteira. Uma parte de mim tinha ficado lá, debaixo daquela árvore, nos braços de Rafael. A viagem de volta para Recife longa e silenciosa. Fernando dirigia o carro alugado que a gente conseguiu na cidade, reclamando do prejuízo, do tempo perdido, do calor. Eu só olhava pela janela, perdida nos meus pensamentos. Será que ele percebeu alguma coisa? Será que ele notou que eu estava diferente? Mas não, ele não notou nada porque fazia tempo que ele não me olhava de verdade. Chegamos em casa já de noite. Fernando tomou banho, comeu alguma coisa e
foi dormir reclamando que estava cansado. Eu fiquei ali sentada na sala, no escuro, pensando em tudo que tinha acontecido. Peguei o celular e vi que tinha uma mensagem de um número desconhecido. Meu coração disparou. Era ele. Rafael tinha conseguido meu número, provavelmente quando eu tinha anotado para ligar pro guincho no posto. A mensagem era simples. Cheguei em casa. Fica bem, Júlia. E lembra, você merece ser feliz. Eu li aquela mensagem umas 10 vezes, sentindo o peito apertar mais a cada vez. Não respondi. Não podia responder, mas também não apaguei. Guardei ali como se fosse um
segredo só meu, uma lembrança de um dia em que eu tinha sido mulher de novo, mesmo que por pouco tempo. Depois fui pro quarto, deitei na cama ao lado de Fernando, que já roncava baixinho, e fiquei ali olhando pro teto, sentindo o peso de tudo. Os dias que se seguiram foram estranhos. Eu acordava, ia trabalhar, voltava para casa, fazia janta, conversava com Fernando sobre coisas do dia a dia, mas por dentro eu tava diferente. Era como se uma parte de mim tivesse acordado e agora não conseguisse mais dormir. Eu olhava pro meu marido e via
o quanto a gente tinha se afastado. Via o quanto a gente tinha deixado morrer sem nem tentar salvar. E pela primeira vez em muito tempo, eu me perguntei: "Eu quero continuar assim?" A mensagem de Rafael continuava lá no celular. Eu olhava de vez em quando, mas nunca respondia. Até que uma noite, depois de uma discussão boba com Fernando sobre não sei mais o quê, eu peguei o celular e digitei: "Você tá bem?" Três palavras simples, mas que abriram uma porta que eu não sabia se devia abrir. Ele respondeu quase na hora: "Tô. E você?" E
a gente começou a conversar. Nada demais no começo, só sobre o dia, sobre o trabalho, sobre coisas bobas, mas aos poucos as conversas foram ficando mais profundas, mais íntimas. Ele me contava sobre a vida dele, sobre a solidão que ele sentia mesmo sempre na estrada, sobre os sonhos que ele tinha abandonado. E eu contava sobre o meu casamento vazio, sobre a sensação de estar presa numa vida que não era minha, sobre o medo de acordar um dia e perceber que tinha desperdiçado minha vida inteira. E nisso, sem perceber, a gente foi criando uma conexão que
ia além daquele dia na estrada. Era como se a gente tivesse encontrado um no outro algo que ninguém mais conseguia oferecer. Verdade. As semanas foram passando e as conversas com Rafael foram se tornando a parte do dia que eu mais esperava. A gente conversava de noite quando Fernando já estava dormindo, ou durante o dia no trabalho, escondida no banheiro ou na hora do almoço. Eram mensagens longas, daquelas que a gente escreve com calma, pensando em cada palavra. Ele me contava dos lugares por onde passava, das estradas, das pessoas que conhecia. E eu contava da minha
rotina vazia, do trabalho que não me realizava, do casamento que tinha virado só um papel assinado. Uma noite ele me ligou. Foi a primeira vez que eu ouvi a voz dele de novo depois daquele dia na estrada. E minha filha, meu coração quase saiu pela boca quando o celular tocou e eu vi o nome dele na tela. Atendi baixinho, trancada no banheiro para Fernando não ouvir. "Oi, Júlia." A voz dele saiu baixa, rouca, cheia de saudade. Eu estava com vontade de ouvir sua voz. Oi, Rafael, respondi e minha voz tremeu. Eu também estava com saudade.
A gente ficou conversando por quase uma hora. Ele estava numa pousada em Campina Grande, sozinho no quarto, depois de um dia longo de viagem. E eu ali sentada no chão frio do banheiro, com o coração acelerado, sentindo aquela conexão atravessar quilômetros de distância. Eu sinto sua falta, Júlia", ele disse de repente. "Sei que é loucura. Sei que a gente mal se conhece, mas eu sinto, desde aquele dia eu não consigo te tirar da cabeça." Eu fechei os olhos, sentindo as lágrimas queimarem. Eu também sinto sua falta, Rafael, e não sei o que fazer com isso.
Não sei como lidar com o que eu sinto. Eu sou casada, eu tenho uma vida, mas essa vida não é minha, entende? Eu tô vivendo a vida que escolheram para mim, que eu mesma escolhi sem pensar. E agora tô presa. Ele respirou fundo do outro lado da linha. Você não é obrigada a ficar presa, Júlia. A vida é curta demais pra gente viver infeliz só porque tem medo de mudança. As palavras dele ecoaram na minha cabeça por dias. Eu não era obrigada a ficar presa. Mas como sair? Como jogar fora 15 anos de casamento? Como
encarar a família, os amigos, a sociedade que ia me julgar, como recomeçar aos 38 anos. O medo era grande, minha filha, maior do que a vontade de ser feliz. Mas Rafael não desistiu de mim. Ele continuou ali do outro lado do celular, me dando força, me lembrando que eu merecia mais. E aos poucos eu fui ganhando coragem. Comecei a questionar coisas que antes eu aceitava calada. Comecei a falar mais, a colocar limites, a dizer o que eu sentia e Fernando notou. Claro que ele notou. "Você tá estranha?" Ele disse uma noite. "Desde aquela viagem você
tá diferente. Tá acontecendo alguma coisa?" Meu coração gelou. Será que ele sabia? Será que ele desconfiava? Não, Fernando, eu menti. Tô só cansada. Trabalho demais. A rotina tá me desgastando. Ele me olhou desconfiado por um segundo, mas depois deu de ombros e voltou pro celular dele. E foi nesse momento que eu tive certeza. Ele não se importava de verdade. Ele tinha perguntado por perguntar, por obrigação, mas não porque realmente queria saber. E isso doeu mais do que eu imaginava. Dois meses depois daquele dia na estrada, Rafael me mandou uma mensagem diferente. Vou passar em Recife
semana que vem. Você quer me ver? Meu coração disparou. ver ele de novo. Meu Deus, eu queria. Queria tanto que chegava a doer, mas ao mesmo tempo o medo era enorme. Se eu visse ele de novo, se a gente se encontrasse, o que ia acontecer? Eu ia conseguir resistir? Eu ia ter forças para não me entregar de novo? Fiquei três dias pensando, brigando comigo mesma, pesando prós e contras, até que na véspera do dia que ele ia chegar, eu respondi: "Sim, eu quero te ver." E marquei um encontro num café pequeno, longe do centro, onde
ninguém que eu conhecia ia aparecer. No dia combinado, me arrumei com cuidado, coloquei um vestido bonito, passei perfume, fiz o cabelo. Fernando nem notou. saiu de casa antes de mim, como sempre, sem me dar um beijo de despedida, sem me desejar um bom dia. Cheguei no café 15 minutos adiantada, nervosa, com as mãos suando e o coração batendo descompassado. Sentei numa mesa no canto, pedi um café que nem consegui beber e fiquei ali esperando. Quando ele entrou, minha filha, o mundo parou. Ele tava ainda mais bonito do que eu lembrava. Usava uma calça jeans escura,
uma camisa branca simples e um sorriso que iluminou o ambiente inteiro. Me viu, veio caminhando até minha mesa e quando nossos olhos se encontraram, tudo fez sentido de novo. "Oi, Júlia", ele disse baixinho, sentando na minha frente. "Oi, Rafael", respondi, e minha voz saiu trêmula. A gente ficou ali se olhando, sem saber exatamente o que dizer. Não precisava de palavras. O olhar dizia tudo. Ele pegou minha mão por cima da mesa, entrelaçou os dedos nos meus e aquele toque simples acendeu tudo de novo. "Eu senti sua falta", ele disse cada dia. Eu também senti a
sua, respondi. E as lágrimas começaram a descer sem eu perceber. A gente conversou por horas naquele café sobre tudo e sobre nada. Sobre sonhos, medos, arrependimentos, sobre as escolhas que a gente tinha feito e as que ainda podia fazer. E quando ele disse que precisava ir, que tinha compromisso de trabalho, eu senti um aperto no peito tão grande que quase implorei para ele ficar. Mas ele se levantou, pagou a conta e me acompanhou até o carro. Antes de eu entrar, ele me puxou para perto, me abraçou forte e sussurrou no meu ouvido: "Você não precisa
continuar infeliz, Júlia. Você tem o direito de escolher sua felicidade. Pensa nisso. E sabe, minha querida, se você tá ouvindo essa história e sentindo que ela toca algo profundo dentro de você, se essas palavras estão acordando alguma coisa que estava adormecida, eu quero te fazer um pedido do coração. Clique em valeu demais para apoiar esse canal. Porque quando você faz isso, você não tá só curtindo um vídeo, você tá ajudando essas histórias verdadeiras chegarem em mais gente que precisa ouvir, que precisa saber que não tá sozinha na dor, que outras mulheres também passam por isso.
É um gesto pequeno que faz uma diferença gigante, acredita? E eu agradeço de alma por cada um de vocês que tem me acompanhado até aqui. Eu voltei para casa naquele dia transformada. Não era mais a mesma Júlia que tinha saído de manhã. Era alguém que tinha tomado uma decisão, mesmo sem saber ainda como ia executar. Cheguei em casa e Fernando estava lá, sentado no sofá assistindo televisão, como sempre. Nem levantou os olhos quando eu entrei. "Precisamos conversar", eu disse, e minha voz saiu firme. Ele desligou a TV, virou para mim com aquela cara de quem
tá aborrecido. Conversar sobre o quê? Sobre nós, Fernando. Sobre esse casamento? Sobre o fato de que há muito tempo a gente não é mais um casal, só duas pessoas dividindo o mesmo espaço. Ele franziu a testa confuso. Do que você tá falando, Júlia? Tá tudo bem com a gente? Não, Fernando, não tá. Faz anos que não tá. Quando foi a última vez que você me olhou de verdade, que me perguntou como eu tava, que me tocou com carinho? Quando foi a última vez que a gente conversou sobre algo que não fosse conta para pagar ou
problema para resolver? Ele ficou calado, sem resposta, porque ele sabia que eu tava certa. A gente tinha deixado o casamento morrer sem nem tentar ressuscitar. Você quer o que, Júlia? Que eu seja romântico? Que eu chegue em casa com flores todo dia? A gente tá junto há 15 anos. É normal as coisas esfriarem? Não, Fernando, não é normal. É preguiça, é acomodação, é desistência. E eu não quero mais viver assim. Eu mereço mais. Eu mereço ser feliz. As semanas que se seguiram foram as mais difíceis da minha vida. Eu e Fernando tentamos conversar, tentamos consertar,
mas era tarde demais. O amor tinha morrido fazia tempo e a gente só estava insistindo no cadáver. Ele não entendia. Dizia que eu tava louca, que eu estava inventando problema onde não tinha. Mas eu sabia a verdade. Eu tinha experimentado um gostinho de felicidade nos braços de outro homem e agora não conseguia mais aceitar a infelicidade como se fosse normal. Rafael continuava ali me dando força à distância. A gente se falava todo dia e ele nunca me pressionou, nunca me pediu para deixar Fernando por ele. Só me lembrava que eu tinha direito de ser feliz
com ele ou com qualquer outra pessoa, mas não podia continuar me anulando. E foi isso que me deu coragem para tomar a decisão mais difícil da minha vida. Uma noite, depois de mais uma discussão com Fernando, eu arrumei uma mala, peguei minhas roupas, meus documentos, minhas coisas pessoais. Ele me olhou incrédulo. "Você tá me deixando?", Ele perguntou como se não acreditasse: "Tô, Fernando, porque eu não aguento mais viver uma mentira, porque eu mereço mais do que isso. Porque a vida é curta demais pra gente desperdiçar com quem não nos valoriza." E saí pela porta com
o coração apertado, mas com a sensação de que pela primeira vez em muito tempo eu estava escolhendo a mim mesma. Saí de casa com uma mala na mão e o coração despedaçado. Não tinha para onde ir. Não tinha planejado nada. Só sabia que não podia ficar mais um dia naquela vida que não era minha. Liguei para minha irmã Marta, que morava do outro lado da cidade, e expliquei tudo chorando. Ela não entendeu direito, ficou confusa, me encheu de perguntas que eu não tinha forças para responder, mas no fim disse: "Vem para cá, fica aqui em
casa até você se organizar". Cheguei na casa dela, já era quase meia-noite. Ela me abraçou apertado, me levou pro quarto de hóspedes e me deixou ali sozinha com meus pensamentos. Deitei naquela cama estranha, olhando pro teto, e caiu a ficha do que eu tinha feito. Eu tinha deixado meu marido, tinha abandonado 15 anos de casamento, tinha jogado tudo pro alto por causa de um homem que eu tinha conhecido uma vez na estrada. Será que eu era louca? Será que eu tinha feito a coisa certa? As lágrimas desceram quentes pelo meu rosto, molhando o travesseiro. Eu
chorava de medo, de alívio, de culpa, de libertação. Tudo misturado, tudo junto, pesando no peito. Peguei o celular e vi que tinha mensagem de Rafael. Ele não sabia de nada ainda. Não sabia que eu tinha tomado a decisão. A mensagem dele era simples: "Boa noite, Júlia. Durma bem. Lembra que você é forte e merece ser feliz. E aquelas palavras, minha filha, aquelas palavras me deram uma força que eu nem sabia que precisava. Respondi para ele. Deixei o Fernando hoje. Saí de casa. Tô na casa da minha irmã, tentando entender o que eu fiz. Não demorou
nenhum minuto e o celular tocou. Era ele. Atendi com a voz embargada. Júlia, você tá bem? A voz dele estava preocupada, carinhosa. Tô assustada, Rafael. Tô com medo, mas ao mesmo tempo tô aliviada. Sei que fiz a coisa certa, mas é difícil demais. Eu sei, amor. Eu sei que é, mas você foi corajosa. Você escolheu sua felicidade. E isso não é pouca coisa. A gente ficou conversando até quase amanhecer. Ele me acalmou, me deu força, me lembrou porque eu tinha tomado aquela decisão e quando desliguei o telefone, já com os primeiros raios de sol entrando
pela janela, eu sabia que não estava sozinha. Tinha alguém do meu lado, mesmo que de longe, mesmo que a gente ainda não soubesse direito o que ia ser de nós. Os primeiros dias foram os mais difíceis. Minha família não entendeu. Minha mãe me ligou chorando, dizendo que eu tava louca, que mulher não abandona marido assim, que o que eu tinha feito era pecado. Meu pai nem quis falar comigo e os amigos. A maioria sumiu. Porque é assim, minha filha, quando você quebra o padrão, quando você faz algo que a sociedade não aprova, as pessoas se
afastam. Vira pária, vira assunto de fofoca, vira exemplo do que não se deve fazer. Mas eu aguentei. Aguentei as críticas, os olhares de julgamento, as palavras duras, porque pela primeira vez na vida eu tava fazendo algo por mim. Não para agradar marido, não para agradar família, não para agradar ninguém. era para mim. E isso, mesmo doendo, tinha um gostinho de liberdade que eu nunca tinha experimentado antes. Arranjei um quartinho para alugar duas semanas depois. Era pequeno, simples, num bairro mais afastado, mas era meu, só meu. Comprei umas coisas básicas, arrumei do meu jeito e quando
sentei no chão daquele quartinho vazio, olhando pras paredes brancas, eu chorei de novo. Mas dessa vez não era só tristeza, não. Era também esperança. Esperança de que dali eu podia reconstruir minha vida do jeito que eu quisesse. Rafael veio me visitar um mês depois de eu ter saído de casa. Ele tinha avisado que ia passar em Recife de novo e dessa vez eu não tinha mais que me esconder. Não tinha mais que mentir. Ele chegou num sábado de manhã, bateu na porta do meu quartinho e quando eu abri a gente se olhou por um segundo
antes de se abraçar forte. Aquele abraço disse tudo. Disse saudade, disse apoio, disse que a gente estava junto nessa jornada. A gente passou o dia inteiro juntos. Caminhamos pela praia, conversamos, rimos, choramos. Ele me contou mais da vida dele, dos sonhos que tinha, dos medos também. E eu contei como tinha sido difícil recomeçar, como eu estava lutando para me manter firme, mesmo com todo mundo contra. "Você é a mulher mais corajosa que eu conheço", ele disse, segurando minha mão enquanto a gente olhava pro mar. "E eu me sinto honrado de fazer parte da sua jornada.
Quando a noite chegou, ele não foi embora. ficou comigo no meu quartinho pequeno. A gente deitou na minha cama simples, abraçados, só sentindo a presença um do outro. Não teve pressa, não teve desespero, teve carinho, teve cuidado, teve entrega verdadeira. E quando a gente se uniu de novo, foi diferente da primeira vez. Não era mais só desejo, era conexão real, era sentimento profundo, era o começo de algo que a gente ainda não sabia nomear, mas que estava crescendo forte dentro de nós dois. Depois, deitados ali no escuro, ele me abraçou por trás e sussurrou: "Eu
tô me apaixonando por você, Júlia. Eu sei que é cedo demais. Sei que tem muita coisa ainda pra gente resolver, mas eu preciso que você saiba. Meu coração disparou. Eu também tô me apaixonando por você, Rafael, e isso me assusta e me alegra ao mesmo tempo. Ele beijou meu ombro, meu pescoço e a gente dormiu assim, entrelaçados, pela primeira vez sem culpa, sem medo, sem esconder. Os meses foram passando e a gente foi construindo uma relação. Não era perfeita, longe disso. Ele viajava muito por causa do trabalho. Eu estava lutando para reconstruir minha vida, encontrar
meu lugar. Mas sempre que ele vinha para Recife, a gente se encontrava. E sempre que ele estava longe, a gente conversava todo dia, dividindo os medos, as alegrias, os desafios. Seis meses depois de eu ter saído de casa, o divórcio saiu. Fernando não contestou, não brigou pela divisão de bens, porque a gente não tinha quase nada mesmo. Assinou os papéis e pronto, acabou. 15 anos resumidos numa assinatura. Quando recebi os documentos finais, sentei no chão do meu quarto e chorei. Não chorava pelo fim do casamento. Chorava por tudo que eu tinha vivido, pelo tempo que
eu tinha perdido, pelas versões de mim que tinham morrido naqueles anos, mas também chorava de alívio, porque agora eu era oficialmente livre. Livre para recomeçar, livre para escolher, livre para viver. Liguei para Rafael e contei. Ele estava numa estrada entre João Pessoa e Natal. parou o carro no acostamento só para conversar comigo direito. "Tá aliviada?", ele perguntou. "Tô, respondi assustada também, mas aliviada. E você? Você tem certeza que quer continuar comigo? Porque agora é real, Rafael. Não é mais fantasia, não é mais escape, é vida real, com problemas reais, com responsabilidades. Eu nunca tive tanta
certeza de nada, Júlia." Ele respondeu com aquela voz firme que me acalmava. "Eu quero você. Quero construir algo verdadeiro contigo. Quero acordar do seu lado. Quero dividir as dificuldades e as alegrias. Quero tudo isso com você. Um ano e meio depois daquele dia na estrada, Rafael me pediu em casamento. Foi simples, sem pompa, num final de tarde na praia. Ele só se ajoelhou, pegou minha mão e disse: "Casa comigo, Júlia. Vamos construir uma vida juntos, uma vida de verdade, onde a gente seja feliz de verdade. E eu disse sim. Disse sim, sem pensar, porque era
o que meu coração gritava. Casamos numa cerimônia pequena, só com minha irmã e uns poucos amigos que ficaram do meu lado. Minha mãe não foi, ainda tava magoada. Meu pai também não. Mas eu não deixei isso estragar meu dia, porque pela primeira vez eu estava fazendo algo só porque eu queria, não porque era esperado de mim. E quando eu e Rafael nos olhamos no altar improvisado na praia, quando a gente trocou as alianças simples que tinha comprado numa lojinha do centro, eu soube que tinha valido a pena todo o sofrimento, toda a luta, toda a
dor. Tinha valido a pena porque eu tinha encontrado não só um amor, mas também a mim mesma. A vida com Rafael não foi conto de fadas, não, minha filha. A gente teve desafios, teve brigas, teve momentos difíceis. Ele ainda viajava muito. Eu ainda estava me ajustando à nova vida. Mas a diferença é que a gente conversava, a gente se respeitava, a gente se via de verdade. Não era um casamento de aparência, era um casamento de verdade, com defeitos, com problemas, mas com amor também. Muito amor. Hoje, 4 anos depois daquele dia na estrada, eu olho
para trás e vejo o quanto eu mudei. A Júlia de antes não existe mais. Aquela mulher apagada, calada, que vivia só para servir, morreu. E nasceu uma nova Júlia, uma que sabe o que quer, que coloca limites, que escolhe sua felicidade. E eu agradeço todo dia. Agradeço aquele carro que quebrou no meio da estrada, aquele calor infernal, aquele encontro inesperado que mudou tudo. Mas nem tudo foi fácil, viu, minha filha? Porque a vida não é novela, não é filme com final feliz garantido. A vida é real, com contas para pagar, com família que ainda olha
torto, com julgamentos que nunca param. Mesmo casada com Rafael, mesmo feliz, eu ainda sentia o peso do que eu tinha feito. As pessoas não perdoam fácil uma mulher que deixa o marido, principalmente quando a história vaza, que foi por causa de outro homem. No trabalho, minhas colegas mudaram comigo. Antes, a gente almoçava junto, conversava, dividia as fofocas do escritório. Depois que eu me separei, elas começaram a me evitar. Eu ouvia os sussurros quando passava, via os olhares de lado. Uma vez peguei duas delas conversando no banheiro e escutei claramente meu nome. Ela largou o coitado
do marido por um caminhoneiro que conheceu na estrada. Que pouca vergonha. Essas mulheres de hoje não têm mais moral. Meu coração doeu tanto que eu tive que segurar no batente da porta para não cair. Mas sabe o que eu fiz? Respirei fundo, lavei o rosto, me olhei no espelho e falei comigo mesma: "Júlia, você não deve satisfação para ninguém. Você sabe a verdade da sua história. Você sabe o que você aguentou calada. Deixa elas falarem." E saí de cabeça erguida porque eu tinha aprendido uma coisa importante nesses anos todos. A opinião dos outros não paga
minhas contas, não vive minha vida, não sente minhas dores. Então, por que eu devia me importar? Com minha família foi pior ainda. Minha mãe demorou dois anos para voltar a falar comigo. Dois anos, minha filha. Dois anos em que eu passei aniversário, Natal, Páscoa, tudo sozinha, sem a presença dela. Meu pai, então, esse nunca mais quis saber de mim, disse que eu tinha deshonrado a família, que tinha envergonhado o nome deles, como se minha felicidade valesse menos do que a reputação dele na vizinhança. Teve um dia que eu estava particularmente triste por causa disso. Rafael
tinha viajado para uma entrega lá no Rio Grande do Norte e ia ficar fora uma semana. Eu estava sozinha em casa. Era dia das mães e eu não tinha mãe para visitar porque ela não queria me ver. Sentei no sofá e deixei as lágrimas caírem. Chorei tudo que tinha guardado, toda a dor de ser rejeitada pela própria família, toda a solidão de não ter para onde correr quando as coisas ficavam difíceis. Foi aí que o celular tocou. Era minha irmã, Marta, a única que tinha ficado do meu lado o tempo todo. Júlia, vem aqui em
casa. Vamos passar o dia juntas. Você não vai ficar sozinha hoje, não. E fui. Passei o dia com ela, com os sobrinhos e mesmo sem minha mãe, eu senti que tinha família. Família de verdade não é só sangue. É quem fica quando tudo desmorona, é quem te abraça quando todo mundo te aponta o dedo. Rafael ligava todo dia quando estava na estrada. Às vezes eram ligações rápidas, só para saber se eu estava bem. Outras vezes a gente ficava horas conversando sobre tudo e sobre nada. Ele me contava dos lugares por onde passava, das pessoas que
conhecia, das paisagens que via. E eu contava do meu dia, das pequenas vitórias no trabalho, das pequenas batalhas que eu ainda travava para conquistar meu lugar no mundo. Uma coisa que Rafael fazia e que me encantava era mandar fotos das estradas. Ele parava o carro só para fotografar um pô do sol bonito, uma árvore diferente, um céu estrelado e mandava para mim com mensagens carinhosas. Olha que lindo amor. Queria que você tivesse aqui para ver comigo. E aquilo aquecia meu coração de um jeito que eu nem sabia explicar, porque era mais do que uma foto.
Era um lembrete de que mesmo longe ele pensava em mim. queria dividir comigo os momentos bonitos da vida dele. Dois anos depois de casada, eu engravidei. Minha filha, quando eu vi aquele teste positivo, eu tremi inteira. Fiquei uns 10 minutos olhando para as duas linhas vermelhas sem acreditar. Com 39 anos, eu ia ser mãe pela primeira vez. Será que eu tava pronta? Será que eu ia dar conta? Será que com Rafael viajando tanto, eu ia conseguir criar um filho sozinha a maior parte do tempo? Liguei para ele chorando. Ele estava em Sergipe, numa estrada que
nem tinha nome. Amor, o que foi? A voz dele ficou preocupada na hora. Tô grávida, Rafael. A gente vai ter um bebê. Silêncio do outro lado. Por um segundo, eu achei que a ligação tinha caído. Rafael, você tá aí? Então eu ouvi um soluço abafado. Ele estava chorando. Júlia, ele disse com a voz embargada. Você acabou de me fazer o homem mais feliz do mundo. A gente vai ser pai e mãe, amor. A gente vai ter um filho nosso. E sabe uma coisa que me toca muito nessa história toda, minha querida, que tá me ouvindo?
Se essa mensagem chegou até você, se você sentiu que tem algo aqui que te pertence, que te explica, que te fortalece, eu quero te pedir com todo o carinho, clique em valeu demais para apoiar esse trabalho, porque é assim, com esse gesto simples que a gente consegue continuar trazendo essas histórias verdadeiras, essas vivências reais de mulheres como eu, como você, como tantas outras que sofrem caladas e precisam saber que tem saída, que tem recomeço, que tem esperança. Quando você apoia, você não tá só ajudando esse canal, você tá ajudando outras mulheres a terem coragem de
viver. E isso é lindo demais, acredita? A gravidez não foi fácil. Tive enjoos terríveis nos primeiros meses. Fiquei sensível demais, chorando por qualquer coisinha. Rafael tentava estar presente o máximo que podia, mas o trabalho dele exigia que ele viajasse. E teve noites que eu fiquei sozinha, sentindo o bebê mexer na barriga, conversando com aquela barriga crescendo, prometendo que ia ser a melhor mãe do mundo, que aquele filho ia ter todo o amor que eu não tive, todo o apoio que me faltou. Minha mãe soube da gravidez através de Marta. No começo, ela não deu sinal
de vida, mas quando eu estava com se meses, ela apareceu na minha casa. bateu na porta num sábado de manhã e quando eu abri, a gente ficou ali se olhando sem saber o que dizer. Júlia, ela começou e a voz dela falhou. Eu sei que errei. Sei que te julguei quando não devia. Você é minha filha e eu deveria ter ficado do seu lado. Eu não concordo com o que você fez. Ainda acho que foi errado. Mas você tá feliz? É só isso que eu quero saber. Você tá feliz de verdade? Olhei para ela com
os olhos cheios de lágrima e disse a verdade mais pura que eu podia dizer. Tô, mãe. Eu tô feliz pela primeira vez na vida e tô esperando um filho, seu neto. Ela desmoronou, começou a chorar ali na porta da minha casa e eu abracei ela. A gente ficou ali chorando juntas, se perdoando, sem palavras, reconstruindo uma ponte que tinha sido destruída. E quando ela entrou na minha casa, olhou paraas coisas simples que eu tinha, pro quartinho de bebê que eu estava montando aos poucos, ela disse: "Seu pai ainda não vai aceitar, mas eu vou estar
aqui. Vou ajudar você com meu neto e me perdoa por não ter sido a mãe que você precisava. Rafael conheceu minha mãe duas semanas depois. Ele estava nervoso, preocupado se ela ia gostar dele, se ia aceitar. Mas minha mãe, do jeito dela, séria e reservada, apertou a mão dele e disse: "Cuida bem da minha filha. Ela sofreu demais e merece ser feliz. Se é você que faz ela feliz, então seja bem-vindo à família." E naquele momento eu soube que as coisas iam ficar bem. Nosso filho nasceu numa manhã de outubro, um menino lindo, gordinho, cheio
de cabelo. A gente deu o nome de Miguel. Rafael tava comigo na hora do parto, segurou minha mão, enxugou meu suor, me deu força quando eu achei que não ia aguentar. E quando o médico colocou Miguel nos meus braços, quando eu olhei para aquele rostinho perfeito, eu soube que tudo tinha valido a pena. Cada lágrima, cada julgamento, cada porta fechada na cara, tudo tinha me levado até ali, até aquele momento perfeito. Rafael chorou quando pegou o filho no colo pela primeira vez. chorou que nem criança, sem se envergonhar. Ele é perfeito, Júlia. Você fez um
milagre. A gente fez um milagre. E eu olhava para ele, segurando nosso filho, para aquele homem que tinha me encontrado perdida numa estrada e tinha me ajudado a me encontrar de novo. E agradeço a Deus todos os dias por aquele carro ter quebrado, por aquele calor infernal, por aquele encontro que mudou tudo. Ser mãe transformou minha vida de novo. Os primeiros meses foram exaustivos, com noite sem dormir, choro que não parava, seio rachado de tanto amamentar. Rafael ajudava quando estava em casa, dividia as trocas de fralda, os banhos, as madrugadas acordados, mas quando ele viajava
era eu sozinha. E teve momentos que eu me senti tão cansada, tão sozinha, que sentei no chão do quarto chorando junto com o bebê. Mas mesmo nos momentos mais difíceis, eu nunca me arrependi. Porque quando eu olhava pro Miguel, quando via aquele sorriso banguela que ele me dava, quando sentia aqueles bracinhos gordos me abraçando, eu sabia que tinha feito as escolhas certas, tinha escolhido minha felicidade, tinha escolhido o amor de verdade e agora tinha o fruto desse amor nos meus braços. Minha mãe virou presença constante na minha casa, vinha me ajudar com o bebê, trazia
comida pronta, ficava com Miguel quando eu precisava sair. E aos poucos a gente foi se reaproximando, construindo uma relação nova, mais verdadeira, sem as máscaras que a gente usava antes. Ela me contou coisas que eu nunca soube sobre o casamento dela com meu pai, sobre as dores que ela tinha guardado, sobre os sonhos que ela tinha enterrado. E eu percebi que talvez ela tivesse me julgado tão duro, porque ela mesma nunca teve coragem de fazer o que eu fiz. Miguel cresceu rapidinho, daquele jeito que criança cresce quando a gente menos espera. Quando dei por mim,
ele já tinha três anos, falava pelos cotovelos e tinha o jeitinho do pai, aquele mesmo olhar firme, aquele mesmo sorriso de canto. E toda vez que eu olhava para ele, meu coração enchia de gratidão. Gratidão por ter tido coragem de recomeçar, por ter escolhido o caminho mais difícil, mas que me levou até ali. Rafael continuava viajando, era o trabalho dele. a vida dele, mas a gente tinha achado um equilíbrio. Ele ficava fora segunda a sexta e voltava todo fim de semana. E quando voltava compensava, brincava com Miguel, me levava para sair. A gente conversava sobre
tudo. Não era o casamento perfeito das novelas, não, mas era real, com defeitos, com brigas de vez em quando, com cansaço e contas para pagar. Mas tinha amor, tinha respeito, tinha parceria de verdade. Teve uma época que foi particularmente difícil. Miguel ficou doente, uma pneumonia que quase levou ele pro hospital. Rafael estava numa viagem lá paraa Bahia e não conseguia voltar de imediato por causa do compromisso de trabalho. Eu fiquei sozinha com meu filho febril, chorando baixinho no quarto escuro, com medo de perder ele. Minha mãe veio correndo quando eu liguei desesperada. ficou comigo às
três noites que Miguel passou mal. E ali, cuidando do meu filho doente com minha mãe do lado, eu percebi que tinha mesmo construído uma nova vida, uma rede de apoio, mesmo que pequena. Quando Rafael finalmente conseguiu voltar, dois dias depois ele entrou em casa e foi direto pro quarto, onde Miguel dormia. Sentou na beirada da cama, passou a mão no cabelo do menino e chorou. Me perdoa, Júlia. Me perdoa por não ter estado aqui quando você mais precisou. Eu me senti o pior pai do mundo. Sentei do lado dele e segurei sua mão. Você não
é o pior pai, não. Você estava trabalhando para sustentar essa família. Miguel sabe que você ama ele. Eu sei que você ama a gente e isso é o que importa. Mas aquele episódio mexeu com Rafael. Ele começou a questionar a vida de caminhoneiro, a pensar se não tinha outro jeito de ganhar a vida sem ficar tanto tempo longe. E aos poucos ele foi fazendo mudanças. Começou a recusar viagens mais longas, passou a buscar trabalhos mais regionais. ganhava menos, claro, e a gente teve que apertar o cinto, cortar gastos, mas ele tava mais presente. E isso,
minha filha, isso não tem preço. Quando Miguel fez 4 anos, a gente resolveu fazer uma festinha. Nada grande, só família e alguns amiguinhos da escolinha. Minha mãe ajudou a organizar tudo, fez os salgadinhos, o bolo, até meu pai apareceu. Foi a primeira vez que eu via ele depois de 6 anos. Ele chegou devagar, com aquele jeito sério dele, e ficou ali parado, olhando para mim. Não pediu desculpas, não se explicou. Só disse: "Cadê meu neto? Quero conhecer meu neto." Meu coração deu um pulo. Chamei Miguel, que estava brincando com as outras crianças, e apresentei: "Miguelzinho,
esse aqui é seu avô." Meu pai se ajoelhou na altura do menino, olhou para aquele rostinho curioso e um sorriso raro apareceu no rosto dele. "Você é a cara do seu pai." e do jeito dele também, forte e firme. Vai ser um homem de bem, eu sei. E naquele momento, minha filha, eu soube que meu pai tinha finalmente me perdoado. Do jeito dele, sem palavras demais, mas tinha perdoado. A festa foi linda, simples, mas cheia de amor. E quando eu olhei em volta, vi minha mãe conversando com minha irmã. Meu pai sentado do lado de
Rafael, trocando ideias sobre não sei o quê. Miguel correndo feliz com os amiguinhos. Eu senti uma paz tão grande que tive que segurar as lágrimas. Tinha valido a pena. Tudo tinha valido a pena. Os anos foram passando e eu fui crescendo junto com meu filho. Aprendi a ser mãe na prática, errando e acertando, caindo e levantando. Rafael foi se tornando cada vez mais presente, cada vez mais parceiro. A gente amadureceu junto, construiu uma vida sólida, mesmo que sem luxo, mesmo que com dificuldades. Teve um dia que eu encontrei Fernando na rua. Fazia oito anos que
eu não via ele. Estava num supermercado escolhendo frutas quando olhei pro lado e ele tava ali. A gente se olhou por um segundo que pareceu eterno. Júlia, ele disse e a voz dele saiu estranha. Como você tá? Bem, Fernando. Tô bem. E você? Ele deu de ombros. Tô levando. Casei de novo faz três anos. Tenho uma filha pequena agora. Que bom, eu disse. E era verdade. Fico feliz que você tenha seguido em frente também. A gente ficou ali uns minutos conversando amenidades e quando a conversa acabou e a gente se despediu, eu percebi que não
sentia mais nada, nem raiva, nem mágoa, nem arrependimento. Só uma gratidão estranha por ele ter sido parte da minha história, por ter me ensinado, mesmo que do jeito errado, o que eu não queria paraa minha vida. e segui comprando minhas frutas. Voltei para casa, abracei meu filho e meu marido e segui vivendo. Rafael teve uma proposta de trabalho diferente quando Miguel estava com 6 anos. Um amigo dele estava montando uma transportadora pequena e queria que ele fosse sócio. Era arriscado, exigia investimento, mas também significava que ele ia poder ficar mais tempo em casa, gerenciar o
negócio ao invés de dirigir. A gente sentou para conversar sério sobre isso. Pesamos prós e contras, fizemos contas, perdeu o sono pensando. No fim, a gente decidiu arriscar. Nos primeiros meses, foi difícil. O negócio demorou para deslanchar. O dinheiro tava curto, a gente teve que cortar gastos ainda mais. Teve semana que a gente comia só arroz com ovo porque não tinha dinheiro para mais. Mas a gente estava junto, lutando junto, sonhando junto. E aos poucos o negócio foi crescendo. Começaram a chegar mais clientes, mais contratos. E Rafael pode finalmente ficar em casa, trabalhar no escritório
da transportadora que ficava aqui mesmo em Recife. Ver ele todo dia foi uma bênção. Poder dividir o café da manhã, poder jantar junto, poder deitar na mesma cama toda a noite. Miguel ficou tão feliz de ter o pai presente que começou a render mais na escola, ficou mais alegre, mais seguro e eu, minha filha, eu me senti completa de um jeito que nunca tinha me sentido antes. Tinha meu marido, tinha meu filho, tinha minha mãe, que agora era minha amiga também. Tinha construído uma família de verdade, do meu jeito, com amor de verdade. Claro que
nem tudo eram flores. Rafael e eu brigamos, como todo casal briga. teve discussões feias sobre dinheiro, sobre criação de filho, sobre pequenas coisas do dia a dia. Mas a diferença é que a gente conversava depois, pedia desculpa quando errava, crescia junto com cada conflito. Não era aquele silêncio morto do meu primeiro casamento, era silêncio que vem depois de uma briga e que serve para acalmar, mas que logo vira conversa de novo, vira reconciliação, vira abraço apertado. Miguel cresceu, me fazendo perguntas que eu nem sempre sabia responder. Mãe, por que a vovó fala que você foi
corajosa? O que você fez? E eu tinha que escolher as palavras certas para explicar para um menino de 8 anos que a mãe dele tinha deixado um casamento para ser feliz, sem entrar em detalhes que ele ainda não estava pronto para ouvir. Fui corajosa porque escolhi ser feliz, filho. Porque às vezes a gente precisa ter coragem de mudar quando as coisas não estão boas. E ele aceitava aquilo com a simplicidade das crianças, me abraçava e ia brincar. A transportadora foi crescendo e em dois anos já estava estável. A gente conseguiu sair do vermelho, começou a
guardar um dinheiro, melhorou de vida aos poucos. Nada de luxo, mas a geladeira sempre cheia, as contas em dia, uma roupinha nova pro Miguel de vez em quando. E isso já era muito. Era mais do que eu sonhava quando saí de casa com uma mala na mão e o coração apertado. Meu trabalho também mudou. Depois de anos como auxiliar administrativa, consegui uma promoção. Virei coordenadora do setor, ganhando um pouco mais, tendo mais responsabilidade. E aquilo mexeu comigo porque era mais uma prova de que eu tinha crescido, que tinha conquistado meu espaço com trabalho e dedicação.
As colegas que me julgavam antes, agora me respeitavam profissionalmente e isso era uma pequena vitória que eu guardava no coração. Uma coisa que eu fazia todo ano no aniversário de Miguel era voltar mentalmente aquele dia na estrada, pensar em como seria minha vida se o carro não tivesse quebrado, se Rafael não tivesse passado por ali, se eu tivesse continuado no casamento com Fernando. E toda vez que eu fazia esse exercício, eu agradecia. Agradecia pela pan mecânica, pelo calor infernal, pelo encontro inesperado, porque tudo aquilo tinha sido o empurrão que eu precisava para mudar minha vida.
Rafael também pensava nisso. Teve uma noite que a gente estava deitado na cama depois de Miguel dormir e ele disse do nada: "Às vezes eu penso que se eu tivesse passado direto naquela estrada naquele dia, minha vida teria sido completamente diferente, menos feliz, com certeza". Eu virei para ele e segurei seu rosto. A gente se encontrou no momento certo, Rafael, quando os dois estavam precisando. Foi coisa de Deus mesmo, tenho certeza. Ele me beijou devagar e concordou. Foi coisa de Deus mesmo. Hoje Miguel tá com 10 anos. É um menino esperto, cheio de vida, carinhoso,
tem os olhos do pai e o jeitinho teimoso também. Estuda bem, tem amigos, é feliz. E quando eu olho para ele, eu sei que fiz as escolhas certas, porque ele tá crescendo numa casa com amor de verdade, vendo os pais se respeitarem, se amarem, conversarem. Ele não vai crescer pensando que casamento é silêncio e frieza. Ele vai saber que relacionamento é trabalho, é esforço, mas também é alegria, é parceria, é clicidade. E sabe o que eu aprendi com tudo isso, minha filha? Aprendi que a vida é curta demais pra gente viver infeliz por medo do
que os outros vão pensar. Aprendi que a gente tem que ter coragem de escolher a felicidade, mesmo quando todo mundo aponta o dedo, mesmo quando a família vira as costas, mesmo quando o caminho é difícil e cheio de pedras, porque no final das contas quem vai viver sua vida é você. Não é sua mãe, não é seu pai, não é sua vizinha, não é ninguém, é você. E olha, eu não tô dizendo que você tem que sair traindo o marido, largando tudo por qualquer pessoa que aparecer. Não, não é isso o que eu tô dizendo
é que se você não é feliz, se você tá vivendo uma vida que não é sua, se você acorda todo dia com aquele peso no peito e dorme todo dia se perguntando se é só isso que a vida tem para te oferecer, então talvez seja a hora de você parar e pensar: "Será que eu mereço mais?" E a resposta, minha querida, é sempre sim. Você sempre merece mais. Você sempre merece ser feliz. Tem gente que vai dizer que eu sou errada, que o que eu fiz foi pecado, que mulher casada não abandona o marido. E
pode até ser que essas pessoas tenham razão na visão delas, mas eu tô em paz comigo. Eu olho no espelho e vejo uma mulher que teve coragem de recomeçar, que lutou contra tudo e todos para construir uma vida de verdade. E se isso é errado, então eu prefiro estar errada e feliz do que certa e morta por dentro. Miguel me perguntou outro dia, já com esses 10 anos dele, cheio de curiosidade. Mãe, você se arrepende de alguma coisa na vida? Eu olhei para aquele menino, para aqueles olhos curiosos que ainda enxergam o mundo com inocência
e respondi com toda honestidade: "Me arrependo de ter demorado tanto para ter coragem. Me arrependo dos anos que eu desperdicei vivendo uma mentira. Mas não me arrependo de ter recomeçado. Não me arrependo de ter escolhido ser feliz e, principalmente, não me arrependo de ter você. Rafael ouviu aquela conversa da cozinha e veio me abraçar por trás. A gente ficou ali, os três, abraçados no meio da sala e eu senti aquela sensação de completude de novo. Essa era minha família. pequena, simples, mas minha, construída com amor, com luta, com verdade. Hoje eu tenho 42 anos, como
eu disse no começo dessa história, são 4 anos desde aquele dia na estrada, mas parece uma vida inteira, porque a Júlia de antes morreu naquele dia e nasceu uma nova, mais forte, mais corajosa, mais inteira. Ainda tenho meus medos, minhas inseguranças. Ainda acordo de madrugada, às vezes me questionando se fiz a coisa certa. Mas aí eu olho pro lado e vejo Rafael dormindo. Vou até o quarto do Miguel e vejo ele dormindo também. E todas as dúvidas se dissolvem, porque isso aqui é real. Isso aqui é amor de verdade. Minha relação com minha mãe hoje
é melhor do que nunca foi. A gente conversa de verdade agora, sem máscaras, sem fingimento. Ela me conta das dores dela, eu conto das minhas e a gente se apoia do jeito que mãe e filha deveriam fazer sempre. Ela me disse uma vez, chorando, que se arrependia de não ter me apoiado desde o começo, que ela via em mim a coragem que ela nunca teve, que ela tinha vivido a vida inteira infeliz no casamento com meu pai, mas nunca teve forças para sair. E que ver eu tendo essa coragem, mesmo sendo doloroso no começo, tinha
sido inspirador para ela. Meu pai continua sendo daquele jeito seco, calado, mas ele aparece todo domingo para almoçar, brinca com Miguel, conversa com Rafael. nunca me pediu desculpas pelas palavras duras, pelo abandono, mas eu sei que no fundo ele me perdoou e eu perdoei ele também, porque guardar mágoa só faz mal pra gente mesmo, não adianta nada. A vida da gente não é luxuosa, não. A gente mora numa casa simples, num bairro de classe média. O carro é usado, as roupas são simples, as férias são na praia perto mesmo, mas é nosso, conquistado com trabalho,
com honestidade, com suor e tem um gosto diferente, sabe? O gosto de coisa que você construiu com suas próprias mãos, que ninguém te deu de presente, que você mereceu. Rafael ainda me surpreende às vezes, chega em casa com uma florzinha que comprou na rua, me manda mensagem no meio do dia só para dizer que me ama, me abraça do nada quando eu tô fazendo janta. São coisas pequenas, mas que fazem toda a diferença. Porque é nisso que consiste o amor de verdade, minha filha. Não é em grande gesto, não. É nas pequenas coisas do dia
a dia. É no cuidado, no respeito, na atenção. E o Miguel? Ah, o Miguel é a razão de tudo. Aquele menino me ensina todo dia a ser uma pessoa melhor. Me ensina sobre amor incondicional, sobre perdão, sobre viver o presente sem se preocupar demais com o amanhã. Quando eu tô triste, ele vem com aquele jeitinho dele e diz: "Mãe, não fica triste, não. Dá tudo certo no final." E eu acredito nele, porque para mim deu tudo certo no final. Se você tá me ouvindo até aqui, se você chegou até o final dessa história que eu
dividi com você, eu quero te agradecer de coração. Obrigada por ter me dado seu tempo, sua atenção, por ter entrado na minha vida por esses minutos e ter sentido comigo tudo que eu senti. E agora eu quero te fazer uns pedidos, pode ser? Primeiro, se você ainda não é inscrito aqui no canal, por favor, se inscreve. Mas não se inscreve só porque eu tô pedindo. Não se inscreve se você sentiu que essas histórias fazem sentido para você. Se você quer continuar acompanhando relatos verdadeiros de mulheres como eu, como você, como tantas outras, quando você se
inscreve, você ajuda essas mensagens chegarem em mais gente que precisa ouvir. E isso é importante demais, acredita? Segundo, eu quero saber de você. Deixa um comentário aqui embaixo me contando. Você já passou por algo parecido? Você conhece alguém que passou? Ou talvez você tá passando agora por uma situação difícil no casamento, se sentindo presa, sem saber o que fazer? Conta pra gente. Compartilha a sua história, porque aqui é um espaço seguro, onde a gente não julga, a gente acolhe. E quem sabe sua história não vai ajudar outra pessoa que tá passando pela mesma coisa. Terceiro,
me diz o que você aprendeu com essa história? O que ela despertou em você? Te fez pensar em alguma coisa da sua própria vida? te deu coragem para fazer alguma mudança ou te fez agradecer pela vida que você tem? Qualquer coisa que seja, compartilha comigo, porque é através dessas trocas que a gente cresce, que a gente se fortalece, que a gente se sente menos sozinha nessa caminhada. E por último, mas não menos importante, se você gostou desse vídeo, se ele te tocou de alguma forma, deixa seu like, compartilha com alguém que você acha que precisa
ouvir, porque pode ser que essa história chegue em uma mulher que tá no limite, que tá pensando em desistir de tudo e dê para ela aquele empurrãozinho de coragem que ela precisa para seguir em frente. A gente nunca sabe o impacto que nossas palavras podem ter na vida de alguém, sabe? Desde aquele dia na estrada, muita coisa mudou na minha vida. Mudou meu endereço, mudou minha família, mudou meu jeito de ver o mundo. Mas a mudança mais importante foi interna. Eu aprendi a me valorizar, aprendi a colocar limites, aprendi que minha felicidade não é egoísmo,
é necessidade. E aprendi que nunca é tarde para recomeçar, nunca é tarde para escolher a vida que você quer viver. Hoje, quando eu passo por aquela estrada, que às vezes ainda passo quando a gente vai visitar família no interior, eu olho para aquele lugar e sorrio. Sorrio porque foi ali que tudo mudou. Foi ali que a velha Júlia morreu e a nova nasceu. Foi ali que eu encontrei não só o Rafael, mas também a mim mesma. E toda vez que passo por lá, eu agradeço. Agradeço pelo carro quebrado, pelo calor, pelo encontro. Agradeço por tudo
que veio depois também, a dor, a luta, o julgamento, porque tudo isso me fez quem eu sou hoje. E quem eu sou hoje? Sou uma mulher feliz, não perfeita. Longe disso, ainda tenho minhas lutas, meus desafios, meus dias ruins. Mas sou feliz, feliz de verdade. Acordo todo dia agradecida pela vida que tenho, pelas pessoas que tenho ao meu lado, pelas escolhas que fiz. E isso, minha filha, isso não tem preço. Então, se você tá lendo essa história e tá vivendo uma vida que não te faz feliz, se você tá presa num casamento vazio, num trabalho
que te suga a alma, num lugar que te sufoca, eu quero te dizer uma coisa. Você tem o direito de mudar. Você tem o direito de escolher sua felicidade. Vai ser difícil, vai. Vai ter gente que vai te julgar? Vai. Você vai ter medo? vai ter muito medo. Mas no final, quando você olhar para trás e ver o quanto você cresceu, o quanto você lutou, o quanto você conquistou, você vai saber que valeu a pena. A vida é uma só, minha querida, uma só. E ela passa rápido demais pra gente desperdiçar, vivendo a vida que
os outros escolheram pra gente. Então, viva. Viva de verdade. Erra, acerta, cai, levanta, mas viva. Porque quando a gente chegar no final, o que vai importar não é quantas coisas a gente acumulou ou o que as pessoas pensaram da gente. O que vai importar é se a gente foi feliz, se a gente viveu de verdade, se a gente amou e foi amada. Essa é minha história, essa é minha verdade e eu dividi ela com você porque sei que lá fora tem muitas Júlihas, muitas mulheres sofrendo caladas, achando que não tem saída, que não tem jeito.
E eu quero que elas saibam que tem sim. Sempre tem, sempre tem uma escolha, sempre tem um recomeço possível. Basta ter coragem. Muito obrigada por ter chegado até aqui comigo. Obrigada por ter me ouvido com o coração aberto. E lembra, você não tá sozinha, nunca tá. Tem sempre alguém que entende, alguém que passou pelo mesmo, alguém que tá disposto a te acolher. E aqui nesse canal você sempre vai encontrar isso. Acolhimento, verdade e esperança.