Imagine comer a sua sobremesa favorita, com a pessoa que você mais gosta, no seu lugar preferido no mundo. Nada mal, né? Se só de pensar nisso você já ficou mais animado, pode ser que a ideia tenha causado uma descarga de dopamina – um mensageiro químico produzido pelo cérebro e que traz sensação de felicidade e prazer.
Mas as funções da dopamina no corpo são várias, e vão muito além de apenas nos alegrar. Eu sou Giulia Granchi, da BBC News Brasil, e neste vídeo vou explicar como funciona essa substância que, além de trazer felicidade, também tem o poder de levar essa sensação boa embora. Falar da dopamina é, em parte, falar das coisas de trazem prazer.
Viajar de férias, comer algo gostoso, se apaixonar. Em geral, essas sensações agradáveis passam pela dopamina. Não à toa, ela às vezes é chamada de molécula da felicidade ou do amor.
A dopamina é um neurotransmissor, ou seja, uma molécula que funciona como mensageira química. Ela permite a comunicação entre os neurônios, o resto do sistema nervoso e os órgãos do corpo. Uma das funções principais é ativar nosso sistema de recompensas no cérebro, pra indicar quando uma experiência está sendo ou não prazerosa.
Os neurotransmissores como a dopamina são tão vitais que qualquer desarranjo neles pode afetar seriamente as funções do organismo. Guarda essa informação, que já volto nisso. Mas além de causar sensação de felicidade, ela também tem influência sobre o aprendizado e a memória.
Um exemplo disso ocorre no processo do cérebro para formar memórias duradouras. Ele faz isso vinculando as memórias e informações a emoções. E experiências de aprendizagem que tenham alguma carga emocional, especialmente as mais positivas, podem ficar retidas por mais tempo na memória.
Um dado interessante desse neurotransmissor é que alguns estudos científicos sugerem que ele pode estar relacionado a traços de personalidade. A ideia é que a quantidade de dopamina presente em regiões específicas do cérebro pode indicar se uma determinada pessoa é tranquila, extrovertida ou se estressa com facilidade, por exemplo. Mas, como eu falei no começo do vídeo, a dopamina também tem seu lado ruim.
A busca pelo prazer associado à dopamina pode levar ao vício em drogas, e uma hipótese investigada por cientistas é se o neurotransmissor reforça o próprio efeito negativo das drogas no cérebro. A mesma lógica, de anseio por sensações prazerosas, favorece o consumo excessivo de fast food, comidas açucaradas, de pornografia e até de redes sociais, para citar alguns exemplos do dia a dia. Isso nos leva a outro aspecto: a dopamina é essencial para a nossa motivação.
Um estudo da Universidade College, de Londres, indica que, embora as pesquisas sobre depressão foquem em outros neurotransmissores, como serotonina e noradrenalina, os transtornos de dopamina estão ligados a sentimentos como baixa motivação, pessimismo, desesperança e anedonia – que é a incapacidade de sentir prazer. De um lado, baixa produção de dopamina está associada a depressão, transtorno de déficit de atenção e até o Parkinson. De outro, o excesso pode favorecer a esquizofrenia e o transtorno bipolar.
É possível que, a esta altura, você esteja se perguntando: então como eu faço para manter níveis seguros de dopamina? De fato, existe uma tendência que tem se popularizado na indústria tecnológica, chamada de “jejum de dopamina”. A ideia é que o excesso de telas, redes sociais e gadgets pode ter deixado nosso cérebro anestesiado por tantas descargas de dopamina.
Ao dar um tempo das telas, conseguiríamos, segundo essa teoria, promover um reequilíbrio químico no cérebro e seríamos capazes de aproveitar melhor essas atividades e de fato obter uma sensação prazerosa. Pra finalizar, no caso de qualquer alteração no seu estado de ânimo que pareça persistente ou fora de controle, é bom buscar ajuda profissional. E uma dica tirada de um artigo da Universidade de Harvard: há indícios de que praticar meditação pode ajudar o cérebro a liberar dopamina.
Por hoje é só, mas conta pra gente nos comentários se tem outro assunto de ciência que você gostaria de ver em um vídeo nosso. Obrigada e até a próxima!