De Onde Vêm as Ideias, com Felipe Machado - Ep. 2: Sidarta Ribeiro

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Felipe Machado
Mestre em biofísica pela UFRJ e pós-doutor em neurofisiologia pela Universidade Duke, nos EUA, Sidar...
Video Transcript:
[Música] de onde vem as ideias com Felipe Machado Olá eu sou o Felipe Machado Esse é o podcast de onde vem as ideias criatividade humana em tempos de Inteligência Artificial hoje meu convidado é muito especial o neurocientista sidarta Ribeiro que tá lançando o livro flores do bem e que vai falar eu acho que não tem ninguém no Brasil que possa falar tão bem de onde vem as ideias como você sidarta obrigado Mais uma vez pela sua participação obrigado pela oportunidade um prazer estar aqui contigo todas todos que estão nos escutando o o sidarta hoje hoje
vai ser um pouco diferente o nosso podcast porque o sidarta não está em São Paulo ele está no Rio de Janeiro na fio Cruz mas tá participando com a gente então sidarta esse podcast chama de onde vem as ideias ele quer ele fala sobre criatividade Então acho que é muito interessante a gente começar falando assim com neurocientista como você de onde vem as ideias legal isso né uma pergunta importantíssima pergunta fundamental se a gente parasse de brigar um pouquinho a gente poderia ter mais tempo pensando nessas coisas eh a menos que a gente acredite que
as ideias podem ser semeadas de fora para dentro eh no sentido extrafísico e aí quem acredita nisso quem tá nessa metafísica tem todo direito de estar mas se você não acredita nisso então as novas ideias necessariamente T que vir das ideias velhas E isso acontece através de um processo que do ponto de vista psicológico recebe o nome de reestruturação de memórias Ou seja você vai construindo um repertório de memórias ao longo da vida e quando você se encontra diante de uma situação que eh que pede uma solução nova porque as soluções antigas não resolvem eh
o seu cérebro entra num processo de recombinação de memórias de fragmentos de memórias eh até gerar uma solução eh bacana isso é muito notável nos mamíferos mais ainda nos primatas e mais ainda nos seres humanos sidarta eh tem um entendimento assim que o hemisfério esquerdo é aquele hemisfério mais racional o hemisfério direito é o mais da da criatividade essa essa combinação assim única em cada indivíduo ela ela vem de onde ela é genética ela vem do aprendizado olha Felipe tem muita controvérsia sobre esse tipo de afirmação ah sobre a especialização dos hemisférios um monte de
pesquisa feita nessa direção uma parte dizendo que tem alguma coisa desse tipo outra parte dizendo que não eh os hemisférios fazem coisas diferentes por exemplo Ah o mistério direito tá mais envolvido com a produção do sonho Isso parece ser uma uma um um um um achado consistente mas muito do que se fala sobre eh essa dicotomia entre razão e emoção é uma é uma imaginação Nossa eh a neurociência Não não ela aponta para um sistema muito mais integrado e essa foi a primeira parte da tua pergunta A segunda foi não que se ela se ela
é uma coisa herdada ela é genético essa essa essa essa combinação tão única de de de de Racional com criativo cada um cada uma de nós é muito particular né porque não só a gente tem uma uma uma uma coleção de variantes genéticas muito particular mas também a nossa vida é única a trajetória é única a gente Vai acumulando experiências que vão transformando eh quimicamente o o DNA eh daquilo que a gente chama de epigenética Então você vai construindo ao longo da sua vida uma série de memórias muito positivas ou muito negativas que influenciam bastante
como você reage diante do novo agora a a capacidade de de se colocar criativamente numa situação ela tem muito a ver com a cultura com como a gente é ensinado se a gente se a gente teve espaço para aprender para imaginar eh uma coisa que me preocupa na cultura atual é que o espaço paraa imaginação tá sendo reduzido Porque todo o estímulo é é superlativo o estímulo audiovisual ele tá pronto ele tá ele é frenético ele é incessante e isso significa menos tempo para imaginar para devanear eh e como todas as habilidades que o corpo
faz aquilo que não é treinado é perdido sidarta eh a gente sabe que tem pessoas que são enfim que vão para uma carreira artística eh que tem esse lado da criatividade um pouco mais mais eh eh mais mais claro assim e como é que uma pessoa que não que não tem essa atividade atividades artísticas como é que ela pode desenvolver a criatividade é o bacana eh desse assunto é que a gente tá falando de uma coisa que é muito intrinsecamente humana então a criatividade é uma coisa que nos diz respeito desde o início da vida
porque o aprender é criativo um bebê Quando um recém-nascido não sabe nem ver muito menos se mexer mas ele vai aprendendo isso é uma criação a criação do caminho do próprio caminho da percepção e depois dos atos motores a arte ela envolve essa capacidade de de fazer um ciclo sensor motor sensório motor em que você vai se alimentando da percepção e produzindo atos gestos que são em si mesmos artísticos qualquer pessoa tem essa capacidade isso pode ser feito sozinho em casa com os amigos com os filhos familiares eh se colocar diante da da da da
tela branca do Papel em Branco do espaço pra Dança pro Teatro do espaço paraa declamação de poesia eh isso acontece muito nas artes populares ISO Acontece muito na capoeira isso acontece muito no samba de roda no jongo do maculelê no coco é o que as pessoas precisam fazer para se que tá com a criatividade é buscá-la eh isso pode ser por exemplo feito através de uma psicoterapia Clínica junguiana é muito boa para isso a clínica de gestal é muito boa para isso não que outras não sejam eh porque na verdade isso tem a ver também
com a relação entre quem tá se trabalhando e quem tá ajudando a trabalhar o psicoterapeuta ou a psicóloga ou mesmo o chaman a Pajé ajé Escuta eu queria que você também falasse uma uma coisa que eu sou fascinante é por aquele momento eureca quando a gente tá tentando resolver um problema assim e a gente De repente dá de cara com a a gente para de pensar nele parece que é uma coisa assim até meio mágica né você deixa um pouquinho de lado o assunto depois quando você volta a ele você tem aquele momento eureca você
consegue resolver uma uma situação como é que funciona isso assim é isso é super interessante né acho fascinante mesmo eh esse momento eureca né o momento que o arquimed fala encontrei achei né uma solução pro problema lá da do volume da coroa do rei se era de ouro se não era isso passou para para para para muitas culturas diferentes como como uma palavra grega para dizer eh eh tem uma solução nova né descobri fiz uma ponte uma ponte que não existia eh em inglês e essa palavra corresponde a insights em português acho que um bom
nome seria o clarão a gente tem um clarão que de repente eh ilumina ilumina a cabeça ilumina e o que a dificuldade de estudar Isso é que via de regra isso é um evento raríssimo é um evento com um n de um né você você não tinha a ideia de repente você teve agora você já teve como é que você faz para estudar Isso em laboratório você teria que fazer isso várias vezes para poder capturar em laboratório eh e tem gente estudando isso no mundo eh E isso tem a ver com o não só um
repertório amplo então se você precisa de uma ideia nova ter muitas ideias velhas ajuda você tem uma uma uma bagagem cheia de ferramentas nenhuma delas encaixa perfeitamente no seu parafuso mas pedaços dela delas podem encaixar então ter um repertório grande ajuda é o outra coisa que ajuda é a flexibilidade cognitiva é a capacidade de de fazer associações distantes remotas que não são óbvias e isso em grande medida tem a ver com um certo relaxamento com o medo a perda do medo de errar então a pessoa que que que é que consegue fazer esses saltos frequentemente
ela já saltou muitas vezes No Vazio já se esborrachou muitas ideias ruins foram foram cultivadas e de repente ela teve uma ideia bacana ou seja o o preço do do acerto é o erro muito legal isso e sidarta você é neurocientista mas você também é doutor em comportamento animal pela Universidade de Rockfeller né qual que é o seu interesse em estudar os animais eu digo isso porque eu também tenho muito interesse em estudar o comportamento social dos primatas até estive recentemente com a primatologista Jane goodal que era uma ídola um ídolo meu aqui e maravilhosa
Qual que é o interesse assim qual que é a relação estudar os animais para entender melhor o cérebro humano Fiquei muito interessado nessa nesse seu lado a Felipe a gente é animal né então assim se a gente quiser entender o que que a gente é a gente precisa entender tudo que a gente é a gente é um ser humano complexo Com certas particularidades culturais cada um de nós é muito particular e individual mas a gente tem uma série de de representações simbólicas eh compartilhadas coletivas se a gente pensar do ponto de vista da psicologia analítica
do Jung né e imagens que que a vida vai trazendo que vão preenchendo Endo certas propensões inatas que a gente poderia chamar de arquétipos isso vai isso tem eh raízes tão ancestrais quanto você queira buscar ou seja tem algo no nosso comportamento que é tipicamente dos primatas do Velho Mundo Tem algo que é tipicamente de qualquer primata tem algo que é tipicamente de de qualquer mamífero eh e aí eu posso ir descendo eh nessa nessa árvore evolutiva indo pra raiz dela e e dizer que olha a gente compartilha muitas coisas com ah bactérias a gente
compartilha certos princípios fundamentais biológicos com bactérias então isso significa o quê que temos em nós todas as camadas da ancestralidade então o estudo do comportamento animal é a ponte natural entre biologia e Psicologia se a gente quiser entender eh a psiquê humana necessariamente a gente precisa entender o comportamento dos outros animais que não nós sidata você falou de memória eu sei que você também é um especialista justamente nesse assunto memória eh outro tema fascinante bom todos os temas que a gente tá falando aqui são incríveis mas eu queria saber explicar uma explicação como funciona a
memória né quer dizer como é que a gente escolhe determinados assuntos e esquece outros porque às vezes a gente escolhe a gente lembra de uma de um de um de uma coisa que aconteceu que é irrelevante totalmente relevante e esquece uma coisa que foi super importante né como é que o o cérebro e faz essa essa seleção de de fatos que vão ficar com a gente que a gente chama de memória essa sua pergunta é muito boa e tem um monte de gente fazendo doutorado e pós-doutorado sobre isso eh então eu diria que hoje a
gente não tem uma resposta pronta para isso aí a gente tem uma série de respostas circunstanciais Provisórias que avançam numa direção eh uma parte da do problema eh a gente já a gente uma a parte que tá mais resolvida é é o que que é uma memória então a gente sabe hoje em dia que uma memória ela ela envolve a a mudança de atividade elétrica de um monte de neurônios mas depois de um tempo envolve uma remodelagem das conexões entre os neurônios de forma que a memória passa de uma forma ativa eletricamente ativa para uma
forma latente que é eletricamente inativa mas que está disponível para ser utilizada chamada recuperada quando necessário eh então isso digamos a gente já entendeu nos últimos sei lá no último século a a a a neurobiologia chegou a essa formulação agora como é que você faz essa seleção E por que que muitas vezes você não encontra o que precisa e encontra o que não precisa eh é isso é isso é um objeto de de pesquisa e de disputa e de polêmicas e de teorias eh tanto na Biologia quanto na psicologia eh uma parte do problema é
que quando a gente não consegue lembrar alguma coisa desejada ou ou de interesse a gente não sabe se é porque a gente realmente se esqueceu daquilo ou se aquilo tá guardado num lugar inacessível neste momento e quando isso e frequentemente é o caso frequentemente você tem essa memória guardada só que você não tá encontrando agora por que que você não tá encontrando também é alvo de disputa Pode ser que você não esteja encontrando simplesmente porque você tem muitas memórias guardadas é que nem você procurar um certo objeto na sua casa se a sua casa tem
muitos objetos mas tem também a possibilidade isso é uma coisa que vem lá da psicanálise vem do Freud de que você esteja reprimindo Memórias de que você esteja eh eh eh guardando certas memórias embaixo do tapete não por por serem eh pouco memoráveis mas ao contrário por serem tão memoráveis e tão desagradáveis que você não quer se lembrar daquilo eh então o o uma parte do problema é que o nosso aparelho psíquico ele ele ele ele esconde as coisas ele ele não tá simplesmente guardando as memórias num cabid falando tá aqui ó seu terno para
você poder usar Não não não tem certas coisas que você procura eu tenho certeza que eu tenho isso mas onde é que tá e digamos a sua mente te prega peças porque ela é múltipla ela não possui só um habitante na nossa mente habitam muitas criaturas e tudo é tão assim é tão interessante né eu queria saber eh Normalmente quando a pessoa vai vai fazer medicina enfim ela quer curar o corpo ela quer curar alguma parte do corpo corpo específica e tal eu queria saber de você por que que você foi para esse lado do
cérebro o que que te levou a a se interessar pelo funcionamento do cérebro e do comportamento Lipe eh eu até conto isso no flores do bem eh então não vou dar um spoiler completo mas eh quando fi eu eu eu comecei a pesquisar em laboratório de biologia com 16 anos estava no ensino médio e fui pro laboratório de microbiologia da UnB inicialmente com a professora lourini Juliano depois com a professora Isaac ritman e fiquei lá muitos anos eu tava com 22 eh eu tava quase terminando a graduação e eu entrei em crise eh com vários
aspectos da minha vida em particular com esse eu não queria mais continuar a pesquisar bactérias protozoários eu tava querendo mudar de de objeto de pesquisa tava tava trabalhando em outros Laboratórios laboratório de fisiologia vegetal laboratório de fisiologia animal e não tinha me encontrado Aí eu resolvi fazer uma viagem fiquei seis meses viajando pela América do Sul eh praticamente sozinho o tempo todo de car Ona e E no meio do caminho eu tive uma série de experiências que eu relato em detalhes no livro eh que me me levaram a a a a a a um escritor
a um filósofo a um neurocientista chamado Humberto maturana eh que eh tava vivo na época até me encontrei com ele faleceu há poucos anos atrás eh e e isso me fascinou me fascinou a teoria proposta por ele e por um outro neurobiólogo chileno chamado Francisco varel de que a gente não Dev iia olhar para o sistema eh cérebro mundo como um sistema de estímulo e resposta mas sim como um sistema circular em que aquilo que é estímulo produzido pelo mundo no cérebro vai gerar uma resposta que também é estímulo pro mundo então uma uma circularidade
permanente uma causalidade circular isso me fascinou e nesse mesmo momento eu tive contato com a maconha eh já tinha tido contato antes mas não tinha tido o efeito a viagem eh característica do do thc da molécula thc contida na maconha quando eu tive essa experiência lá no Chile l ilha de choé lendo maturana então no encontro de maturana com Marijuana eu eu eu tive uma revelação do que que eu queria estudar eu falei caramba eu preciso estudar isso eu quero saber o que que é uma memória O que que é uma emoção o que que
é um pensamento o que que é um sonho é isso que eu quero entender o que que é um sonho lúcido eh que qual é o efeito dos psicodélicos Por que eles têm esse efeito então foi a partir daí em 92 que eu eu eu me tornei neurobiólogo digamos eh dentro a decisão de fazer neurobiologia aconteceu dentro de mim vários meses antes de eu realmente bater na porta do laboratório falou ó eu quero estudar aqui interessante eu queria já que você começou a falar do Flores do bem eu queria falar um pouquinho mais desse livro
flores do bem a ciência e a história da libertação da maconha eu queria que você falasse um pouquinho eh já que você estudou tanto as duas As duas como é que agem as duas os dois elementos vamos dizer assim os dois ingredientes da da maconha eh ou ou da cannabis no cérebro que uma parte a gente sabe que é o cbd que é uma coisa que tá sendo usado muito pra medicina tá sendo descoberto enfim infinitos usos na na parte médica E também o thc que é o que é o o aquele o componente vamos
dizer assim mais Psicodélico da maconha né que dá aquele O Barato como é que essas duas essas duas partes da maconha eh eh eh elas elas atuam no cérebro ou no resto do corpo também no caso do cbd né isso no corpo todo né e e e tanto o thc quanto o cbd tem efeitos eh para além do sistema nervoso eh eh a maconha a planta da maconha contém muitas substâncias de interesse terapêutico essas substâncias estão categorizadas como canabinoides por exemplo thc ou o cbd como terpenos que são óleos essenciais esses cheiros maravilhosos de laranja
de limão de Pinho e também flavonoides dessas tantas 500 moléculas de interesse a gente conhece em detalhes só duas que são essas duas aí que que você citou o thc o cbd em parte porque são as mais abundantes eh e e também em parte porque elas têm efeitos antagônicos o thc e o cbd Se você olhar a estrutura da molécula são praticamente idênticos A única diferença entre um e outro é que o cbd tem uma ligação a menos entre dois carbonos Então ela fica uma molécula mais flexível e isso confere a ela muitas propriedades diferentes
do thc eh na prática quando você administra thc a uma pessoa ou a um um um modelo experimental no laboratório rato por exemplo você vai o thc ele costuma ter um efeito euforizante que que estimula atividade não em doses muito altas mas em doses moderadas eh eh aumento do apetite eh pode facilitar o sono ou não depende da dose da genética do animal já o cbd tem efeitos bem diferentes ele é mais tranquilizante eh o ansiolítico ã tem um efeito não tem um efeito psicoativo evidente eu eu acho que tem um efeito psicoativo porque ele
muda o estado mental da pessoa ela fica fica mais tranquila mas ele não produz eh um pensamento acelerado uma associações de palavras ou de ideias muito rápidas nada disso Então na verdade até chamo eles no livro de Yang pro thc e yin pro cbd porque eles permitem uma terapêutica a busca de um certo equilíbrio para cada pessoa em cada circunstância com essa variando a dosagem de um e de outro é possível encontrar eh um equilíbrio bem personalizado eh para para cada indivíduo agora a gente não pode perder de vista que além dessas duas substâncias tem
outras 490 e tantas de interesse e existe até um problema aqui de explosão combinatorial que é se a gente quiser entender essa planta de baixo para cima ou seja das moléculas para pras flores pras inflorescências é eh é um programa de pesquisa meio que infinito né que estudar todas as combinações de 500 moléculas 2 a 2 3 A TR 4 a qu 5 a 5 existe um outro caminho que é de cima para baixo que você fala não nossa ancestralidade nos últimos 12.000 anos construiu né milhares de gerações de seres humanos com construíram eh centenas
de genéticas interessantes da maconha então tem existem flores muito diferentes com composições químicas muito diferentes eh que são todas cannabis eh eh Sativa ou cannabis índica e que são as espécies principais da maconha a subespécies principais da maconha então aí a pergunta é em vez de eu estudar de baixo para cima as composições de moléculas Talvez seja mais interessante pegar cada uma dessas flores que nos foi legada pelos ancestrais e pesquisar em detalhes para que cada pessoa estamos falando aqui de adultos e e pessoas mais velhas não de jovens para que cada pessoa busque encontre
a sua flor aquela flor que que faz bem inclusive que pode ser diferente de manhã e de noite né Por exemplo eu sou usuário de de de maconha terapêutica e normalmente utilizo mais thc de manhã e mais cbd à noite eh como a politização da da desse assunto e da ciência em geral como ela atrapalha E e essa discussão o Felipe infelizmente atrapalha enormemente porque ela torna a discussão praticamente interditada as pessoas que têm muito preconceito elas não começam nem a escutar agora existe um fenômeno bastante evidente que é o fato de que as pessoas
que são contra a maconha a priori sem sem qualquer discussão mais aprofundada elas normalmente mudam de ideia rapidamente quando ficam doentes e descobrem que precisam de maconha para se tratar eu eu tive eu tive eu deixa eu te dar um depoimento a minha minha ex-sogra ela era muito conservadora muito contra maconha e drogas enfim de uma maneira geral ela chama Vera ela até já faleceu e ela quando ficou ela teve um problema de saúde passou a usar o cbd comprou nos Estados comprou na Europa Aliás foi e e passou a usar e ficou fã e
ficou fã e nunca mais falou do assunto é exatamente isso que você tá falando né É porque na nossa sociedade tem muita distorção né as pessoas que dizem que são contra as drogas na verdade são contra certas drogas porque elas elas vão à Drogaria toda hora e elas acham que o que está na drogaria é muito seguro e que tem todo o aval da ciência e na verdade se você for perguntar pega uma pessoa assim digamos de acima de 50 hoje na classe média normalmente tá tomando quatro cinco remédios diferentes entre antidepressivos eh estabilizadores de
tumor lítio às vezes eh e aí você fala assim tá bom ela toma quatro remédios Qual foi o artigo científico que pesquisou esses quatro remédios por meses ou anos numa mesma pessoa e você não vai encontrar então existe uma ilusão de segur dança científica nessa terapêutica que na verdade é uma terapêutica que tá que tem muitos conflitos de interesse com a Indústria Farmacêutica e existe uma dificuldade de entender que a a maconha é uma planta medicinal há 12.000 anos ela não funciona à toa ela não é um presente de papai do céu ela foi o
produto do trabalho humano de seleção artificial cuidadosa e é por isso que ela funciona para tanta coisa muita gente fala Ah então ela é uma panaceia funciona para tudo não nada é panaceia toda substância tem grupo de risco a maconha tem também só que são grupos de risco estritos bem conhecidos e as indicações são muito amplas não porque ela seja né Eh um milagre mas porque ela interfere com um sistema endógeno que todos e todas nós temos chamado sistema endocanabinoide né que são moléculas semelhantes às moléculas da maconha só que produzidas pelo nosso próprio corpo
e ela interfere nesse sistema de um jeito que produz homeostase homeostase é um termo jargão biológico para falar de Equilíbrio então eh a através da cannabis é possível encontrar equilíbrio no sono na alimentação na Resposta imune na formação de memórias na resposta emocional por exemplo para pessoas idosas que não conseguem se alimentar ou que não tem vontade de dormir ou pessoas que estão passando por uma radioterapia uma onco terapia que também tem os mesmos sintomas a maconha é sensacional ela ela abre o apetite diminui a ansiedade diminui a dor e facilita o devaneio e o
prazer na vida porque a gente tem que lembrar quando a pessoa tá doente uma parte importante da cura é lembrar que a vida é boa e a maconha ajuda muito nisso cidara a gente tem visto muito esse tema você falou de saúde mental tal esse tema da Saúde Mental ele ele tá muito muito presente né na na discussão hoje você acha que isso é uma uma é uma coisa boa quer dizer parece que as pessoas estão prestando mais atenção a esse tema eu acho que sim Felipe acho que isso é uma consequência né do trauma
eh Planetário da pandemia também em alguns países como no Brasil do trauma político né da gente ter chegado a um ponto de ruptura na sociedade de quase ruptura eh e acho que isso tudo produziu muitas ansiedade muito medo muita depressão e as pessoas estão se tocando de que é preciso mudar Eh agora acho que é importante a gente entender que doença mental ela ela embora ela seja influenciada por fatores genéticos e tenha determinantes biológicos ela é mais do que tudo uma construção social é impossível a pessoa ficar bem se ela acorda cedo demais dorme tarde
demais ou seja seu sono tá tá tá totalmente zoado se a alimentação é muito ruim se ela come ultraprocessados ou ou comidas que não são saud saudáveis se ela não consegue fazer exercício físico diariamente se ela não consegue manter relações saudáveis se ela não Faz terapia se ela não faz capoeira não faz ticum não faz nenhum tipo de esporte não faz nada para se conectar não medita se você faz tudo errado aí você fala não então o problema é que eu tenho um problema da serotonina vou tomar um antidepressivo Claro que não Claro que não
agora isso implica que uma parte da do problema uma grande parte importante do problema não tá no indivíduo tá na sociedade então a gente tem que mudar a sociedade tem que tem que viver de outro jeito tem que trabalhar de outro jeito Tem que se relacionar de outro jeito eh recentemente tem sido tem sido apontado vários vários e e vou dizer assim não ingredientes mas substâncias substâncias psicodélicas como tratamentos né o MDMA A psilocibina tá Também tá um pouco na moda Principalmente nos Estados Unidos né os próprios cogumelos né recentemente até a Gisele binen falou
que tava tava tomando cogumelos enfim como é fala um pouquinho disso assim como é que isso atua no cérebro e quais são esses nov As novas as novas tendências aí de de de medicamentos a gente poderia dizer que o que tá acontecendo no século XX é a vingança dos rips porque nos anos 60 os hiips falaram Olha a maconha e os psicodélicos podem mudar o mundo foram severamente reprimidos e hoje o que a gente vê na na ciência biomédica e mais prestigiada nas melhores revistas científicas tanto da biologia quanto da medicina é que a maconha
e os psicodélicos são a maior esperança para muitas áreas da Medicina eh no caso dos psicodélicos claramente para Psiquiatria e começa a surgir também uma um impacto paraa Neurologia por quê Porque essas substâncias eh isso a gente só descobriu nos últimos poucos anos e o Brasil é parte importante disso O Brasil é o terceiro país do mundo que mais publica em psicodélicos nos últimos nessa nessa nova Renascença psicodélica é que essas substâncias promovem plasticidade neural elas promovem a mudança rápida do cérebro através da formação de novos neurônios e também da formação de novas conexões entre
os neurônios então você poderia pensar nessas substâncias como remodeladores do sistema nervoso e portanto eh eh auxiliadoras de processos terapêuticos eh mas eu acho importante a gente pensar que não se trata simplesmente de substituir antidepressivos convencionais por psicodélicos não é trocar uma substância por outra por uma melhor é entender que o processo terapêutico não é centrado na substância mas sim na relação entre paciente e terapeuta no trabalho psicoterapêutico que vai sendo feito ao longo de muitas sessões e em algum momento no meio do caminho o Psicodélico entra para catalizar o processo para acelerar o processo
de transformação mas e eh é é importante compreender isso porque o processo de cura ele exige muito trabalho de quem quer se curar ele não é uma uma um um processo que a pessoa compra um ticket tá beleza me dá uma pílula ponho na boca pronto vou ficar legal isso não existe isso não existe nem com antidepressivo nem com Psicodélico nem com maconha nem com nada a a a cura só pode ser alcançada quando a pessoa que quer se curar a pessoa que tá ajudando na cura terapeuta ou Pajé e a substância no caso de
haver uma substância agem em harmonia e e e e produzem um certo resultado que foi intencionado lá no início Esses são princípios que numa prática xamânica eh de de um ameríndia muitos lugares diferentes isso é o básico do básico isso é é dado enquanto que na nossa psiquiatria ocidental Urbana contemporânea isso foi esquecido porque tá sendo reaprendido agora eh sidarta queria pra gente encerrar nosso papo assim super obrigado queria que você falasse um pouquinho de Inteligência Artificial que acho que é um tema que tá super eh todo mundo falando sobre isso muita gente com medo
muita gente otimista achando que pode ser uma coisa positiva pra humanidade como é que você vê a inteligência artificial e o e o advento assim a popularização da Inteligência Artificial Felipe eu vejo com máxima preocupação e interesse claramente é uma uma a inteligência artificial generativa ou gerativa que é essa que que apareceu agora que nasceu Há sei lá se meses atrás pro público né porque já hav vinha sendo pesquisada antes ela muda completamente o jogo ela coloca em cheque os empregos de todo mundo qualquer emprego por mais sofisticado criativo por mais anos que a pessoa
temha estudado está em risco e se a gente não entender isso agora eh vai ser pior porque nós nunca teremos tanto poder enquanto seres humanos quanto agora daqui para frente Os Robôs vão ter cada vez mais poder eh e e isso foi muito bem isso foi bem mapeado pela ficção científica a gente já sabe eh qual é o horizonte de eventos que tipo de coisa pode acontecer eh eh e pode ser um momento muito auspicioso muito bacana que é um momento em que eh o trabalho humano não é mais necessário e nós podemos todos e
todas viver de uma de uma ótima renda básica Universal como sucita empregado e nos dedicarmos à filosofia à biologia A aos esportes à fruição da da vida enquanto as máquinas fazem o trabalho essa é a direção que a Revolução Industrial tomou foi isso que o k Marx previu que iria acontecer a tomada do espaço do trabalho pelas máquinas e bingo aconteceu agora se a gente ficar de bobeira se a gente né da camarão que dorme A ona leva os seres humanos estão em risco sim porque hoje não tem uma tarefa que um robô não possa
fazer melhor do que um ser humano e e isso pro bem e pro mal porque as condições de trabalho são degradantes os seres humanos na maioria ou estão sem trabalho nenhum ou tem trabalhos eh péssimos que pagam muito mal e isso vai piorar então a gente precisa agir eu entendo que esse momento é um momento importante pra gente tomar consciência e fazer uma pergunta profunda O que que a gente tá fazendo aqui nesse planeta a gente agora tem os meios de para todo mundo ter abundância para todo mundo poder comer vestir dormir ter um teto
e não precisar trabalhar se esfalfar E por que que a gente não faria isso em prol de 3.000 bilionários então também é importante um momento de tomada de consciência para essas pessoas que são bilionárias e que via de regr São aquelas que são donas das corporações que desenvolveram as inteligências artificiais muito M legal sidarta mais uma vez super obrigado é um papo incrível assim eu acho que não poderíamos ter uma uma conversa com uma pessoa mais adequada a ao conceito desse podcast do que com você obrigado mesmo muito obrigado Felipe abraço Eu sou Felipe Machado
Esse foi o podcast de onde vem as ideias com o nosso convidado sidarta Ribeiro tá lançando o livro flores do bem valeu até a próxima
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