RITA VON HUNTY fala sobre ansiedade do fim do mundo e desamparo no Pauta Pública #133

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Agência Pública
Ecoansiedade é o termo definido pela Associação Americana de Psicologia para descrever o ‘medo crôni...
Video Transcript:
[Música] [Aplausos] [Música] Olá ouvintes do paa pública eu sou Andre DIP tô aqui dividindo os microfones com a Clarissa Levi Oi Clari tudo bem Oi DIP e Oi para todo mundo que tá nos ouvindo Bora para mais um pauta termo definido pela associação americana de psicologia apa sigla em inglês Eco ansiedade descreve medo crônico da catástrofe ambiental ou seja sensação de ansiedade frustração e pessimismo com o futuro em relação às consequências das mudanças climáticas o termo inglês e anxiety foi adicionado ao dicionário referência for em 2001 mas a palavra é com ansiedade em si foi
criada por um grupo da Universidade de berkley nos Estados Unidos em 1989 ela também é comummente chamada de ansiedade climática Uma pesquisa realizada pela BBC em novembro de 2023 revelou que nos últimos 5 anos as buscas em português no Google pelo termo ansiedade climática aumentaram 73 vezes na última década esses eventos climáticos extremos como esse ano que devastou o Estado do Rio Grande do Sul se tornaram cada vez mais comuns E pior do que isso a tendência é que continue se repetindo isso tem gerado com frequência um sentimento de pessimismo quanto ao futuro e no
caso dos mais jovens também um ressentimento da geração z com as gerações anteriores pela sua falta de ação mas a ansiedade climática é apenas um dos inúmeros eventos preocupantes da nossa época né a pandemia do covid-19 trouxe consequên para saúde mental das pessoas que ainda nem estão totalmente mapeadas Além disso guerras com cenas brutais transmitidas em redes sociais Incluindo aí até mesmo a retomada ameaça nuclear atentados eleições estressantes o avanço de grupos neofascista sem falar da instabilidade social e econômica aliada com a incerteza sobre o futuro em que as Iá podem extinguir inúmeros postos de
trabalho a partir de experimentos conhecidos do campo da Psicologia realizados em 1967 pelo pesquisador Martin seligman surgiu a teoria do desamparo apreendido em linhas bem Gerais essa teoria explica que a exposição contínua a situações aparentemente incontroláveis pode levar a um estado de passividade e desesperança pessoas que experimentam o desamparo apreendido podem mostrar sintomas semelhantes aos da depressão como falta de motivação pessimismo e baixa energia Dá até para imaginar que só de ouvir um pouco disso essa sucessão De traumas e ansiedades já pode dar algum arrepio então a gente queria abrir aqui no pauta de hoje
um espaço para conversar sobre saúde mental em tempos de traumas coletivos O que é possível fazer para lidar com o fato de existirmos nesses tempos tão conturbados ao mesmo tempo sem cair numa sensação de desamparo essa é uma conversa que aqui na nossa opinião não dá para adiar e que daria para ter de diversas formas hoje aqui a gente escolheu para mergulhar nesse assunto uma pessoa que vem falando sobre mobilização e afetos para muita gente a gente conversa aqui no paa com Rita V hun do canal tempero drag que acumula milhões de seguidores no YouTube
Rita atrai um grande público para conversar de maneira acessível sobre política Filosofia Sociologia e tem falado muito no seu canal justamente sobre a apatia gerada A partir dessa perspectiva de fim de mundo a gente já vai pra conversa mas antes por falar em fim de mundo o produtor do pauta o Ricardo terto tem uma baita novidade para contar para vocês toca aí terto tá com o microfone aberto é isso aí Clara e essa Novidade tem tudo a ver com o tema desse Episódio Porque a partir de quinta-feira que vem toda semana nós temos um encontro
no primeiro videocast da agência pública o bom dia fim do mundo realizado em parceria com a TV puuk o programa Vai reunir discussões sobre diversas crises climática política econômica e assuntos que afetam o mundo e o seu dia a dia na bancada jornalistas Giovana girard chefe da cober ura socioambiental da agência pública que você já ouviu algumas vezes aqui no pauta e Marina Amaral diretora executiva da agência pública e uma de suas fundadoras então se você se interessa por análises com os acontecimentos mais importantes da política as movimentações do congresso os interesses da economia e
o tabuleiro da geopolítica Internacional e como tudo isso se relaciona com os desafios da emergência climática é só você conferir o bom dia fim do mundo no seu tocador de podcasts favorito e também no YouTube da agência pública Beleza então quinta-feira que vem vamos começar a tocar essas Trombetas do Apocalipse até lá e como você ouviu o terto falando bom dia fim do mundo terá os primeiros episódios aqui nesse feed então é mais um motivo para você seguir curtir ou assinar o pauta onde você tiver nos escutando fala sobre a gente por aí onde você
puder Com certeza muitas pessoas precisam e vão querer ouvir esse episódio deixa também seu comentário na caixa do Spotify a se puder nos dê aquelas cinco estrelas para mostrar o quanto você gosta dessas conversas Vale lembrar que o pauta tá em todos os tocadores e também no YouTube da Pública recados dados bora pra sessão quer dizer bora pra pauta Rita Muito Obrigada por aceitar falar com a gente é um prazer te ter aqui Andreia é um prazer est aqui tô muito contente quero mandar um beijo também pra Clarissa e e dizer que acompanha o trabalho
de vocês que o podcast é muito bom que a gente é fundamental então Rita o termo ansiedade climática né ele vem sendo bastante discutido nos últimos tempos né seria o medo crônico de sofrer um cataclismo ambiental que ocorre ao observar o impacto das mudanças climáticas gerando uma preocupação associada ao futuro de si mesmo e das Gerações futuras Essa é a definição da associação americana de psicologia né Eu acho que dá para somar aí também outras ansiedades e medos de fim de mundo né se a gente pensar crises Econômica política crise sanitária crise da democraia pandemia
do covid que também com certeza deixou sequelas na nossa subjetividade né Eh e você fez um programa Super Interessante inclusive né usando o episódio Ivete versus Baby do Brasil excelente que fala também na nossa incapacidade de interpretar e propor né nesse fim de mundo então queria começar te ouvindo um pouco sobre isso assim sobre esse momento que a gente tá de fim de mundo Maravilha Andreia eh olha o o caminho sempre pr pra gente pensar essa questão ele é múltiplo e multifacetado né no sentido que como alguém trabalhando na área de de comunicação de educação
popular e como alguém que vem dos estudos culturais como alguém que tem proximidade com correntes ecossocialistas Existem muitos caminhos possíveis para iniciar ess esse nosso debate Talvez o que seja mais importante de ser dito é que quando a gente entra nestes assuntos que dizem respeito ao clima nós estamos numa área interdisciplinar e multidisciplinar né como você bem diz na introdução essas ansiedades elas englobam a política né a sociedade a filosofia a religião a cultura a geopolítica né os conflitos e confrontos econômicos as guerras então talvez seja importante que a gente pense o seguinte existe um
momento de Virada cultural No que diz respeito às nossas imaginações do fim do mundo esse episódio que você cita eh que é um episódio do tempero drag chamado narrativas de fim de mundo eh eu tento abordar rápidamente né eu não me dediquei exclusivo a isso mas eu tento abordar rapidamente como a ideia de de fim de mundo ela nos acompanha mais ou menos desde que nós produzimos na narrativas do mundo né Gênesis na Bíblia narra alguns fins do mundo né seja a expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden como um fim do mundo
seja o dilúvio ao qual apenas sobrevive Noé e sua família e alguns animais a gente não tá exatamente eh defrontado deparado com algo novo Quando pensamos narrativas que contemplam o encerramento eh das Jornadas humanas no planeta Terra agora existe no entanto algo novo que é que a gente pense que a proliferação dessas narrativas no Imaginário Popular ela pode ser apontada ali da Guerra Fria Então a partir da segunda guerra mundial Claro pela exposição das consciências humanas a realidade da bomba atômica da proliferação de armas nucleares ao redor do mundo nossos autores pintores produtores de imagem
começam a dar vazão para essa angústia né Talvez para essa já ansiedade na forma de narrativas que tentem dizer disso que precisa ser dito que é um medo humano para além da sua possibilidade de ação muitas vezes para além da sua possibilidade de compreensão né eh como é tentar conversar com uma pessoa nos anos 50 eh de Que cidades foram varridas do mapa a partir de uma explosão é de que iroshima não existe mais né de que Nagasaki não existe mais então acho que dá para dizer que a partir da guerra fria Você tem a
proliferação desses imaginários eh aqui no Brasil a gente já tem acho que uma compreensão mais aprofundada mais popularizada sobre isso porque existe um crítico cultural britânico um marxista que foi traduzido seu trabalho teve bastante Impacto aqui no Brasil ele já é falecido tô me referindo ao Mark fiser e a um trabalho específico dele chamado Realismo capitalista né e tem um próximo livro dele que ele escreve um pouco antes do suicídio é chamado desejo pós-capitalista que tá sendo preparado uma edição aqui pro Brasil Mas neste nesta obra a primeira que eu cito né o Mark fiser
retoma uma ideia proposta por outro crítico cultural outra pessoa né dos estudos culturais dessa vez nos Estados Unidos anterior ao fiser que chegou na ideia de que seria mais fácil para para este povo neste tempo dar vazão à Nar de fim de mundo do que fim de sistema né então o Frederick Jameson é esse crítico né nos Estados Unidos esse marxista estadunidense que diz isso que vai ganhar uma dimensão de análise né vai vai ser o projeto de análise do fiser em Realismo capitalista quando ele tenta fazer um mapeamento da cultura popular no Reino Unido
mas não só né ele também olha para pra indústria de Cultura estadunidense e o fato de que a gente vinha produzindo uma miríade de histórias nas quais uma um vírus mata a humanidade zumbis matam a humanidade uma crise climática mata a humanidade mas sempre o Horizonte né da nossa imaginação encontra a barreira no fim estamos fadados ao fim né esse nosso modelo civilizatório eh chegou ao fim claro né que a gente pode pensar que toda narrativa né toda forma que se cristaliza na superestrutura eh na superestrutura de uma sociedade portanto no seu sistema de significados
e valores de compreensões de expressões ela é resultante de alterações na infraestrutura né ou seja como este povo neste tempo produz sua vida material e a a proliferação dessas narrativas tá intimamente ligada com a aproximação né dos intervalos entre episódios de catástrofes climáticas entre aspas naturais a conscientização da ação humana para essas catástrofes né como a ação humana é derradeira para que isso aconteça não estaríamos portanto falando exatamente de catástrofes naturais mas de como a ação humana tem alterado os fluxos de funcionamento do sistema terra a a gente poderia dar muitos exemplos a gente poderia
pensar no no no colapso né amoc da dos circuitos de correntes do Atlântico e e em como caso este colapso que começa a dar sinais já agora no nosso tempo se ele se concretiza a gente tá falando eh de um resfriamento brutal no norte global e de um aquecimento brutal no sul Global Então essas narrativas elas vão se se cristalizando porque tem coisas acontecendo na infraestrutura né Eh e uma dessas coisas é o o modelo energético que se consolida como hegemônico a partir de combustíveis fósseis e de como esse modelo energético é insustentável Então já
temos essa compreensão eh cristalizada no campo da cultura ainda pensando nessas crises E aí Especialmente na climática muitas vezes elas nos levam para uma angústia da sensação de impotência que pode levar a uma passividade um pessimismo completo que a gente inclusive comentou aqui eu queria te ouvir como é que você vê isso olha os os nossos cientistas climáticos eles eles têm nos relatado isso do interior dos seus espaços de trabalho então acredito que no ano passado e nesse ano a gente é impactado fortemente por isso teve uma matéria que primeiro publicada na na folha e
depois circulada em muitos outros espaços que coletava Os relatos de cientistas climáticos ao longo do Globo né e e as palavras que ilustram a matéria falam de desespero raiva impotência né sensação de impotência e sensação de fracasso e e tem dois brasileiros para para ficar aqui com a prata da casa tem dois brasileiros que são a éca éc beringer que é uma pesquisadora em Oxford ela ela é uma especialista em em incêndios florestais né em destruição Florestal ela vai relatando como que desde 2015 a relação dela de testemunha da destruição dos incêndios na Amazônia vai
produzindo no corpo dela uma somatização então doenças intestinais doenças ias desregulações de saúde né E aí a gente tá falando desde sono até absorção de nutrientes e tal e ela tenta explicar isso né nas palavras dela dizendo essa árvore gigantesca sob a sombra da qual nossa equipe almoçava deixa desistir do dia para noite né essa árvore gigantesca que fazia sombra em uma região gigantesca e e talvez as populações de cidade não consigam imaginar do que ao que ela se refere ela fala seria como as populações de cidade tentarem imaginar que tudo que lhes era familiar
não está mais ali a sua padaria seu prédio sua rua o seu café seu espaço de trabalho a escola onde você foi educado elas não existem mais só há registro virtual delas né na memória tem um outro ainda nessa mesma matéria um outro pesquisador que é o Paulo Artacho Ele é professor na USP pesquisador né integrante do ipcc e E ele fala que lá dentro né do do ipcc que é esse órgão né intimamente político que pretende desenhar aconselhamento de política pública que faz os relatórios encomendados para mostrar pros países do Globo os riscos e
perigos e e trajetos né que estamos em curso Ele diz que hoje esse corpo de de cientistas climáticos ali dentro ele tá mais ao menos dividido pela metade e e metade deste grupo está resignado Então já existe metade desse cientistas do ipcc que acredita que estamos fadados a sexta extinção em massa então estamos falando de alguma coisa em torno de 3 bilhões da população humana e fora um impacto da biodiversidade na ordem do incalculável né e ele diz no entanto que existe uma outra metade de cientistas ali que acredita em transformar o desespero em Ação
né Eh eh no caso pessoal do Paulo Artacho ele diz que ele tem feito quatro cinco palestras por semana de Universidade a escola passando por setores do agronegócio né Eh para tentar que essa consciência científica eh possa se traduzir em Ação concreta da sociedade o cenário ele é Avassalador nós estamos desde 2023 batendo recordes de o dia mais quente registrado na história do planeta o mês mais quente registrado na história o mês mais seco registrado na o Rio Negro secando o o Pantanal agora né a gente grava essa entrevista em setembro o o o Pantanal
tá passando por uma uma crise que é difícil precisar né são dois meses fase crítica mais de 6.600 focos de incêndio mais de 1 milhão de hectares consumidos pelo fogo e a gente volta tem em mente aquela foto do Lalo de Almeida que era eh desse território no Pantanal varrido por um incêndio e o e o corpo carbonizado de um macaco de um pequeno macaco que tenta fugir desse incêndio o Lalo produziu outras fotos agora né nesse ano eh com esses novos incêndios essa nova crise crítica então é é desesperador assim é desesperador e Rita
eu sei que você é uma psicanalista em formação aliás eu tava ouvindo Podcast do do dunker com você Eu recomendo muito para os nossos ouvintes identifico com muito do que você falou ali e te ouvindo falar né sobre esse cenário terrível apocalíptico de Fato né também me traz um pouco o conceito de desamparo né Se a gente for pensar eh o Freud fala sobre o conceito do desamparo pensando a partir da primeira infância na Constituição do aparelho psíquico e depois ele vai falar do narcisismo como uma forma de defesa né de fazer frente a esse
desamparo dizendo assim de um jeito bem grosseiro porque eu não sou psicanalista eh você achou que é possível a a gente trazer esses conceitos então pensando nesse sentimento de desamparo nesse mundo que tá acabando né de várias maneiras de várias crises como a gente estava dizendo desse fim de mundo que é dado e a gente pode pensar talvez nesse narcisismo que a gente observa principalmente promovido pelas redes sociais mas também pelo neoliberalismo né então o sujeito que é em si mesm começa ou segue sua vida política não pensando mais no coletivo isso também é um
fenômeno bastante assustador né o quanto a política tá virando uma coisa individual de gostos individuais e não não mais pensando no coletivo de uma certa maneira enfim um sujeito que interage a partir do seu próprio reflexo né você acha que esse narcisismo ele também atua como uma forma de defesa diante desse desamparo talvez eu eu propusesse que a gente tentasse organizar alguma coisa para refletir essa questão essa alguma coisa a serg ada seria o seguinte ali quando o Freud começa a organizar a a teoria da psicanálise né como seu primeiro proponente dessa nova forma de
intervenção na saúde humana o Freud vai cedo ainda perceber que ele tá defrontado com alguma coisa que também Versa sobre a sociedade né em psicanálise a gente tem até o costume de de citar os textos sociais do Freud então quando a gente pensa mal-estar na civilização e Psicologia das massas e análise do eu e mesmo totem e Tabu por exemplo a gente tá falando de do dos textos sociais do Freud do Freud para cá a gente tem uma vasta tradição de intelectuais que instrumentalizados pela teoria psicanalítica pensaram sociedade né E eles vão né desde a
lélia Gonzales ao Vladimir safatle passando por Maria Rita Kel eslavo gige que o próprio dunker que você cita e e o que a gente tem diante de si é é essa tentativa de como além de uma clínica existe uma crítica possível dentro da psicanálise pensar as as ferramentas do do narcisismo para olhar para funcionamento de sociedade também não é uma novidade aqui no Brasil a gente tem a grande Sida Bento né a Maria Aparecida Bento que em 2002 tem tua tem a sua tese de doutoramento falando eh do pacto narcísico da branquitude e e e
a SIDA vai pensar a partir né de de um instrumental da da psicologia social e da psicanálise como esses grupos de iguais vão produzindo ferramentas para se manterem em posições estratégicas de poder impedirem outros sujeitos de acessarem e terem sucesso nessas esferas específicas né sejam elas do poder público sejam elas do Poder privado etc bom quando a gente tenta migrar um pouco pro assunto da nossa conversa de hoje eh a saber o desespero humano né a ansiedade humana frente a à notícia do desastre climático isso é possível também é possível também tanto é que a
gente tá chamando esse conceito de uma ansiedade climática agora pensar será que o que o narcisismo tem sido um mecanismo de defesa a esse desamparo eu acho que um deles mas não apenas né a gente pode pensar eh na profusão de depressões como uma uma defesa a a isso e quem quem vem teorizando construindo um um Corpus de trabalho extenso sobre o assunto é a Maria Rita Kel aqui no Brasil né que tem pensado a clínica como um indício social e tem pensado o aumento vertiginoso de deprimidos e depressivos como esses corpos que recusam essa
aceleração descabida de um modo de vida de um modo de sociedade frente ao Desastre o em si mesmo mamento é uma uma resposta possível do sujeito né É quase como se para não olhar para fora a gente decidisse se voltar para dentro né É quase como se a gente pensasse bom se os cientistas no ipcc estão dando por certa a nossa extinção eu vou cuidar da minha lasanha né eu vou visitar minha avó eu vou passar tempo com minha prima que faz tempo que não vejo e aí eu acho que talvez essa possa ser uma
possível resposta do sujeito no entanto eu não não sei não não saberia não não arriscaria não colocaria minhas fichas na ideia de que esse em si mesm momento Ele termina por aí porque talvez essa esse foco nos pequenos e possíveis Prazeres esse foco eh no que dá para fazer a par partir do desamparo da da concretude do desamparo ele seja uma estratégia social no sentido bom se tudo tá acabando eu vou passar tempo com as pessoas que eu amo e passando tempo com as pessoas que amo eu me reabasteça de Desejo de mudar as coisas
de lutar por coisas né Eh é como se nesse ensimesmamento o o sujeito pudesse voltar a produzir laço comunitário né E é claro que eu tô saindo do otimista assim né tô olhando para isso com certo otimismo Um Outro fator importante acho que Sem Dúvida quando a gente pensa em ansiedade nesses tempos é o uso das redes e plataformas sociais diversos estudos sugerem que a arquitetura dessas redes se beneficia do engajamento causado pelo choque pela irritação o famoso pessoas irritadas incomodadas clicam mais além disso essas plataformas existe também o mecanismo de recompensa instantânea né que
as redes proporcionam através das curtidas E aí eu queria ouvir na sua avaliação Qual que é o papel dessa dinâmica digital no adoecimento psíquico dos indivíduos e como é que é possível mediar melhor esse contato uma vez que paraa grande parte dos profissionais ter uma presença digital virou uma questão inclusive fundamental para conseguir trabalho como é que essa dinâmica entra nesse Caldeirão de fim de mundo Olha tem um um texto recém publicado um livro recém publicado pelo Paolo demuru ou demuru né não sei amente a pronúncia do sobrenome do professor ele ele acaba de publicar
políticas do Encanto Então o que ele vai pensar nesse texto é que bom já sabemos né do interesse das elites eh nas redes sociais eh já sabemos que o funcionamento algorítmico das redes sociais propicia essa realidade de bolha então a você é entregue mais daquilo que você curte compartilha passa tempo vendo e clica eh e também sabemos que o o absurdo engaja e e todos os afetos de de indignação de de ódio eles alimentam mais a rede né do que ai que vídeo fofo de gatinho e e meu Deus que absurdo que tá sendo dito
aqui sobre direito reprodutivo deixa eu compartilhar deixa eu postar nos meus Stories deixa eu escrever um texto Então é esse segundo cenário né ele ele produz mais coisa né ele ele gera mais engajamento ele alimenta mais a rede o que o Paulo demuro fala nesse nesse texto nos convoca isso é pensar ao passo que que de um lado a gente tem essa narrativas de conspiração que são muito sedutoras né Eh eh que geram um sentimento de comunidade que que são disparadas pelo o governo não quer que você saiba eh as elites globais t tramado e
e que vai criando grupos Absurdos como o que o enon que são esses esses mares de de fake News de Teoria da Conspiração etc etc etc existe um convite que que nos é feito aqui né que é o que do nosso lado pessoas que estão compromissadas com vida com acesso com distribuição com partilha com diversidade o que do nosso lado pode ser feito no sentido de produzir políticas do Encantamento né então de que forma essas redes poderiam ser usadas para outras co coisas né eh não sei se para partilha de bons exemplos eh não sei
se para contágio né de um entusiasmo num sentido de mostrar que tem trabalho sendo feito de mostrar que tem vitória sendo feita ao passo que o que a gente costuma mostrar são as invasões aos assentamentos do MST que a gente tem engajamento em mostrar também políticas de vida e sementes de vida que o o MST tem sido capaz de de gestar e de propor a indignação ela funciona só até um certo ponto é isso que o que o professor demuro vai nos mostrar ele ele diz a a indignação ela é um afeto pouco potente né
Depois que você você identifica algo como indigno você não tende a a agir sobre isso o que a gente precisa é apostar num tipo de esperança é que possa mobilizar pessoas para para agir né e de novo as redes sociais talvez elas tenham essa dinâmica de produção de não ação né de indignação e E se a gente pode ser capaz de produzir uma gramática de desejo radical de transformação e mudança é isso vai super de encontro com o que eu ia te fazer como nossa última pergunta infelizmente queria continuar aqui mas ente queria te perguntar
sobre isso né a gente sabe que esse recente avanço né dessa nova extrema direita no mundo Ela também tem a ver com isso né com medos com Pânico Pânico moral eh enfim né o que eles trazem com a ideia de que eh a comunidade LGBT feministas professores doutrinadores marxistas querem destruir a família o medo do comunismo medo diante Das incertezas das mudanças sociais eles sabem trabalhar esses medos e essa ansiedade muito bem né o que eles fazem de melhor instrumentalizar justamente esses e e propor que se volte ao que já era conhecido né assim então
Eh vamos voltar para um tempo que a gente já conhecia mas não o tempo real o ideal desse tempo né como que a gente faz frente a isso assim não vou dizer como a gente reage porque eu acho que é mais do que reagir como você tava dizendo né então é com essas políticas de encantamento a gente tá com imaginação para propor coisas Dip eh essa é a nossa questão do tempo presente né todo mundo que tá pensando o presente almejando futuro e não almejando regressos a idealizações que nunca existiram tá tá embrenhado nessa questão
né então o o que o krenak vem nos dizendo há muito Quais são as nossas estratégias desejos e e implementações para adiar esse fim de mundo que que vai se desenhando né Qual o fim de mundo a gente pode construir né se se o fim é inevitável O que vem depois do fim né os povos indígenas brasileiros conhecem o fim do mundo há 500 anos e eles têm sido capazes de gestar de gerir outras possibilidades outras formas de Resistir e de avançar as nossas políticas do Encantamento E aí de novo né Eh são são rios
de tinta e e e oceanos de intelectuais T se dedicado a isso né a pensar tecnologias ancestrais a pensar corpos não sedentarizados a pensar que existem coisas pequenas né que que podem ser feitas frente ao terror íntimo que são técnicas de meditação que são danças eh circulares que são eh a força dos coletivos que são a vida em comunidades que são o o retorno pra terra proximidade com a natureza Então se de um lado eh a Extrema direita tem capitaneado né esses afetos tristes em nome de pânico moral e para produzir o o a destruição
dos seus inimigos imaginários que que que se concretizam no corpo social que como você disse viram a feminista viram o movimento LGBT viram intelectuais a gente tem que de alguma forma fazer uma Aposta Radical naquilo que é capaz de mostrar paraas pessoas que não há nem alegria nem prazer nisso então Eh se por um lado as comunidades religiosas oferecem algum tipo de aplaco da Solidão algum tipo eh de freio né dos do circuito de afetos neoliberal as comunidades religiosas neopentecostais no Brasil eh tem produzido horror e violência né os casos de de Pastores de estupradores
não param de de proliferar talvez algo da nossa aposta eh resida nisso né em em mostrar o que há de desencanto na nas políticas de encantamento deles e o que há de Encanto nas nossas políticas de encantamento eh eu acho muito difícil que alguém saia de uma meditação que alguém saia de uma prática de yoga que alguém saia de uma roda de capoeira desencantado né que alguém saia de um terreiro desencantado Então a gente tem que apostar nessas nossas técnicas de encantamento e que tem outro Horizonte de futuro né e que não visam deixar para
trás nenhum corpo porque as pessoas que vão sendo capitaneadas pro outro lado elas estão tão desesperadas quanto nós e e nessa hora do desespero é muito sedutora a narrativa da a narrativa da estabilidade Deus Pátria família essas coisas que nunca mudam que estarão sempre aqui que são inalteráveis e a questão é que a gente possa dizer a família é feita pelo laço do afeto né muitas vezes a família do sangue é o sofrimento é o feminicídio é o abuso pessal infantil e a família pelo laço do afeto é o grupo que não te deixa parar
nem desistir né é o grupo que te visita que te faz companhia que passa pelos momentos difíceis com você e nem sempre isso tá no sangue então há uma outra família em em frente ao Deus punitivo ao Deus do dilúvio ao Deus da expulsão do Paraíso existe a ideia de um Deus da comunhão né de um de um Deus que não está eh acima de tudo um Deus que está no meio de nós entre nós que se faz menino como o Fernando Pessoa dizia e que dorme nos colos do no nos braços do poeta E
e essa ideia de nação é uma outra ideia perigosa né e e quais são as as as nações que a gente pode produzir né as plur nacionalidades que a gente pode produzir inclusive aqui talvez a ideia Central seja de direito da natureza que a gente seja capaz de entender e fazer entender que os rios têm direito que as florestas T direito que o solo tem direito que a gente não pode dar sequência a esse modelo que os envenena os destrói os mata então frente a essas narrativas do desencantamento a gente tem que saber a gente
lida muitas vezes movimentos infantilizados assustados e agressivos né que a maioria dessas pessoas el elas estão desesperadas eh por alguma coisa que a gente não pode desistir de tentar oferecer né que é um senso de comunhão um senso de comunidade e uma alternativa a desgraça maravilha Muito bom te ouvir muito obrigada por ter passado esse tempo com a gente aqui Eu que agradeço e onde a gente puder somar os nossos esforços os nossos trabalhos é um bom destino para as nossas energias este podcast é uma parceria da agência pública com a rádio guarda-chuva jornalismo para
quem gosta de [Música] ouvir e chegou a hora da gente recomendar um programa Da rádio guarda-chuva para você emendar na sua playlist depois do pauta a dica de hoje é conhecer o podcast dissidentes conduzido por Renan suk vícios que traz histórias de quem às vezes não encontra lugar no o Renan que você deve conhecer do premiado podcast finitude no dissidentes conta em episódios sensíveis e surpreendentes histórias sobre diversidade sexual afetiva E de gênero em episódios no formato narrativo já tem muita coisa boa no ar hein seist tema te interessou procura por dissidentes Na Busca do
seu tocador de podcasts e já bota lá para tocar depois do paa boa escuta [Música] termina aqui mais um episódio do pauta pública Muito obrigada para você que teve com a gente aqui em mais uma semana na sexta-feira que vem logo de manhã tem mais um episódio nos tocadores o pauta é apresentado por mim Andrea DIP pela Clarissa Levi eu e a Clarissa também somos responsáveis pela pauta e pela entrevista a edição e o roteiro são do Ricardo terto e o terto e a Estela Diogo cuidam da produção do programa as artes são da Tainá
Gonçalves e as trilhas que você escuta e a identidade sonora do programa foram compostas pelo Pedro vituri paa pública é uma produção original da agência Pública até semana que vem gente um abraço até semana que vem gente um abraço [Música]
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