Tabacaria | Poema de Fernando Pessoa com narração de Mundo Dos Poemas

161.07k views1473 WordsCopy TextShare
Mundo Dos Poemas
"Tabacaria" - Análise Talvez seja o poema mais conhecido de Álvaro de Campos. Oscilando entre o mu...
Video Transcript:
eu não sou nada nunca serei nada não posso querer ser nada à parte isso tenho em mim todos os sonhos do mundo janelas do meu quarto do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é e se soubessem quem é o que saberiam Daís para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente e para uma rua inacessível a todos os pensamentos real impossivelmente real cerca desconhecidamente certa com o mistério das coisas por baixo das Pedras e dos seres e com a morte a por humidade nas paredes e cabelos brancos nos
homens com o destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada eu estou hoje vencido como se soubesse abordado eu estou hoje lúcido como se estivesse para morrer e não tivesse mais Irmandade com as coisas senão uma despedida tornando-se esta casa e este lado da rua a fileira de carruagens de um comboio e uma partida apitada de dentro da minha cabeça e uma sacudidela dos meus nervos e um Ranger de ossos na Ida [Música] eu estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu estou hoje dividido entre a lealdade que devo a
tabacaria do outro lado da rua como coisa real por fora e a sensação de que tudo é sonho como coisa real por dentro eu falei em tudo como não fiz propósito nenhum talvez tudo fosse nada aprendizagem que me deram se dela pela janela das traseiras da casa fui até ao campo com grandes propósitos mas lá Encontrei só ervas e árvores e quando havia gente era igual à outra eu saio da janela sento-me numa cadeira em que hei de pensar que saiu do que serei eu que não sei o que sou ser o que penso Mas
penso ser tanta coisa e há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos gênio neste momento cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu e a história não marcar a quem sabe nenhum nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras não não creio em mim em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas eu que não tenho nenhuma certeza sou mais certo ou menos certo eu não nem em mim E em quantas mansardas e não mansardas do mundo não estão nesta hora Genius para si mesmo sonhando e quantas
aspirações altas e nobres e lúcidas sim verdadeiramente altas e nobres e lúcidas e quem sabe se realizáveis nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de Gente O mundo é para quem nasce para o conquistar e não para quem sonha que pode conquistá-lo ainda que tenha razão eu tenho sonhado mais tio que Napoleão fez tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu mas sou e talvez Serei sempre o da mansarda ainda que não more nela Serei sempre o que não nasceu para isso
Serei sempre só o que tinha qualidades Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta e cantou a cantiga do infinito numa capoeira o e ouviu a voz de Deus não posso tapado crer em mim não nem nada derrame uma natureza sobre a cabeça ardente o seu sol a sua chuva o vento que me acha o cabelo e o resto que venha se vier ou tiver que vir ou não venha os escravos cardíacos das Estrelas conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama mas Acordamos e
ele é opaco levantamo-nos e ele é alheio Saímos de casa e ele é a terra inteira mais o sistema solar e a Via Láctea eo indefinido e come chocolates pequena come chocolates Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria e come pequena suja come pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com Que comes mas eu penso e ao tirar o papel de prata que é de folha de estanho deito tudo para o chão como tenho deitado a vida mas ao menos fica
da Amargura do que nunca serei a caligrafia rápida destes versos Pórtico partido para o impossível mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas Nobre ao menos no gesto largo com que atiro a roupa suja que sol sem Hall mal do curso das coisas e fico em casa sem camisa é tu que console que não existes e por isso consolas ou deusa grega Concebida como estátua que fosse viva ou Patrícia Romana impossivelmente Nobre e nefasta ou princesa de trovadores gentilíssima e colorida ou Marquesa do século dezoito decotada e longínqua ou cocote célebre do
tempo dos nossos pais ou não sei que moderno não concebo bem o quê Olá tudo isso seja o que for que sejas se pode inspirar que inspire meu coração é um balde despejado como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco a mim mesmo e não encontro nada eu chego a janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta vejo as lojas vejo os passeios vejo os carros que passam fez os entes vivos vestidos que se cruzam vejo os cães que também existem tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo e tudo isto é estrangeiro
como tudo Oi Vivi estudei amei e até cri e hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu e olha cada um os andrajos e as Chagas EA mentira e penso talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso e talvez Tenhas existido apenas como um lagarto a quem cortam o rabo e que é rabo para aquém do Lagarto remexida mente [Música] eu fiz de mim o que não soube e o que podia fazer de mim não fiz o
dominó que vesti era errado conheceram-me logo por quem não era e não desmenti e perdi-me quando quis tirar a máscara estava pegada a cara quando a tirei e me vi ao espelho já tinha envelhecido estava bêbado já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado deitei fora a máscara e dormir no vestiário como um cão tolerado pela gerência por ser inofensivo e vou escrever esta história para provar que sou Sublime Essência musical dos meus versos inúteis Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse e não ficasse sempre defronte da tabacaria de defronte ao
campo dos pés Akon eu estar existindo como um tapete em que um bêbado tropeça ou um capacho que chegarmos roubaram e não valia nada É mas o dono da tabacaria chegou a porta e ficou à porta olhou com o desconforto da cabeça mal voltada e com o desconforto da Alma mal entendendo e ele morrerá e eu morrerei ele deixará a tabuleta e eu deixarei versus a certa altura morrerá a tabuleta também e os versos Também depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta Ea língua em que foram escritos os versos morrerá depois
o planeta girante em que tudo isto se deu e em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas sempre uma coisa defronte da outra sempre uma coisa tão inutil com uma outra sempre o impossível tão estúpido como real sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície sempre Isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra mas um homem entrou na tabacaria para comprar tabaco EA realidade plausível cai de repente em cima de mim se
me ergume nergico convencido humano ó e vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário [Música] e acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los e saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos [Música] eu sigo o fumo como uma rota própria E gozo num momento sensitivo e competente a libertação de todas as especulações e a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto e depois deito-me para trás na cadeira e continuo fumando enquanto o destino me conceder continuarei fumando E se eu casasse com a filha da minha lavandeira talvez
fosse feliz o visto isto levanto-me da carreira vou a janela o homem saiu da tabacaria metendo o troco na Ribeira das calças a conheço é o Esteves sem metafísica o dono da tabacaria chegou a porta como por um instinto Divino o Esteves voltou-se e viu-me a senão meu Deus gritei ele Adeus ó Esteves eo universo vai construiu-se me sem ideal nem Esperança eo dono da tabacaria sorriu [Música] E aí
Copyright © 2024. Made with ♥ in London by YTScribe.com