Documentário | A favela esquecida da União Europeia

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O território ultramarino francês de Mayotte está numa crise profunda. A ilha faz parte do arquipélag...
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Isto é na França. A ilha de Mayotte, localizada no Oceano Índico, é um território ultramarino da França, a 8 mil quilômetros de Paris. Mayotte faz parte da União Europeia e é uma porta de entrada para a Europa, o que a torna um atrativo para muitos migrantes.
Atualmente, a ilha está sobrecarregada e muitos migrantes estão desesperados. Há esperança para a população de Mayotte? Wadaanti nos mostra a casa de seus pais.
A jovem de 18 anos cresceu numa favela da ilha. Cerca de quatro em cada dez habitantes de Mayotte vivem em assentamentos informais. A fome e os altos índices de criminalidade fazem parte do cotidiano daqueles que precisam viver aqui.
O medo de ser pego pela polícia e ser deportado está sempre presente. Os pais de Wadaanti vieram das vizinhas ilhas Comores. Apesar de ter nascida em Mayotte, ter frequentado a escola e possuir a cidadania francesa, Wadaanti não consegue obter um cartão de identidade e, consequentemente, está impedida de estudar.
Ela foi detida duas vezes por policiais – e também foi intimidada por eles. Wadaanti já não se atreve mais a pedir ajuda às autoridades. O único consolo de Wadaanti são suas conversas diárias ao telefone com amigos.
Eles estão à sua espera na ilha de Reunião – outro território ultramarino francês, mas com melhores perspectivas de futuro. Mayotte fica a cerca de oito mil quilômetros de Paris. A ilha faz parte do arquipélago das Comores, que já foi território colonial francês.
Ao contrário das ilhas vizinhas, Mayotte optou – na década de 1970 – por permanecer com a França. A moeda é o euro, e o francês é a língua oficial. Os cerca de 300 mil habitantes da ilha também têm direito a benefícios sociais, cuidados de saúde e educação – tal como na França.
Uma ilha relativamente próspera numa das regiões mais pobres do mundo. E uma porta de entrada para a Europa. Até dez barcos com centenas de migrantes chegam todos os dias das Comores – a ilha mais próxima fica a apenas 70 quilômetros de distância.
A polícia de fronteira de Mayotte está completamente sobrecarregada. Dos 300 mil habitantes da ilha, metade são estrangeiros, e muitos deles não possuem documentos. Mohamed é primo de Wadaanti.
Ele veio das Comores ainda adolescente. Hoje, ele ajuda jovens das favelas a obterem permissões de residência em Mayotte. O governo francês busca coibir a imigração a todo custo, inclusive aprovando leis especiais para o território ultramarino.
Crianças nascidas na França recebem automaticamente direito à cidadania. Mas isso não se aplica à população de Mayotte. Qualquer pessoa apanhada na ilha sem documentação válida é deportada para as Comores num processo acelerado.
O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos já condenou a França por essa prática. E é assim que milhares caem na armadilha da pobreza. Hadidja é filha de migrantes comorianos e não é exceção.
Apesar de ter crescido em moradias precárias, ela se formou no ensino médio e sonhava em ser enfermeira. Mas isso não é possível sem documentos. Sua única esperança agora é não ser encontrada novamente pela polícia.
A França não quer essas crianças, e nas ilhas Comores também são indesejadas. Elas são chamadas de "nem-nem" – uma geração inteira presa num beco sem saída. Mas Hadidja continua acreditando.
Para muitos africanos, Mayotte representa uma porta de entrada para a Europa. Os requerentes vêm principalmente da África Central e da Somália. Um exemplo é Frédéric, um professor que está em Mayotte há dois meses.
Ele fugiu das milícias no leste da República Democrática do Congo. Para sua proteção, não revelaremos seu rosto. Frédéric compartilha uma barraca e colchões com outras nove pessoas.
Centenas de requerentes de asilo estão sem abrigo porque não existem alojamentos de emergência suficientes. Um grupo se instalou no terreno de um estádio e não recebe nenhuma ajuda. Sem eletricidade, sem banheiros, sem água potável.
Os habitantes se banham num riacho. E quando o dinheiro acaba, é desse mesmo riacho que eles obtêm água para beber. As doenças se espalham rapidamente aqui, e as muitas crianças que vivem na região são especialmente afetadas.
Algumas estão gravemente doentes. Como esse bebê de cinco meses. Pode levar meses, às vezes, até anos, para saber se lhes será concedido refúgio.
Apenas alguns deles chegarão à França. Safina Soula é a presidente da associação de cidadãos mais influente de Mayotte. Assim como muitos outros residentes, ela considera a migração o maior problema da ilha.
Há escassez de água em Mayotte, e a pobreza afeta mais de 75% da população. No entanto, a maior queixa dos concidadãos de Soula é a delinquência juvenil. Os casos estão se acumulando, e a violência está aumentando.
Um ataque a um ônibus escolar para roubar celulares resultou em cinco jovens gravemente feridos. Muitos acreditam que jovens migrantes se juntaram a gangues como esta. Os problemas parecem estar demasiado longe para as autoridades de Paris, fazendo com que os cidadãos de Mayotte se sintam esquecidos.
Soula e a sua associação estão tentando resolver o problema com as próprias mãos. Organizam manifestações em locais onde acreditam que o Estado está falhando. Wadaanti recebe boas notícias.
Ela tem finalmente um agendamento marcado para os próximos dias na repartição municipal da capital. As autoridades haviam colocado o seu pedido em espera. Mas agora, Wadaanti poderá obter seus documentos em breve.
O que acontecerá na ilha? O Estado falhou? A representação do governo francês em Mayotte se recusou a dar uma entrevista.
Nossas perguntas foram ignoradas. Wadaanti conseguiu. Ela está se preparando para suas primeiras provas.
Mas para muitos outros, o futuro em Mayotte é muito incerto.
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