o som do chuveiro cessou o vapor preencheu o banheiro embaçando o espelho à minha frente Passei a mão pelo vidro e encarei meu próprio reflexo um rosto que eu conhecia mas que já não parecia meu 30 anos de casamento deixam cicatrizes invisíveis não eram as rugas ou os fios brancos que me preocupavam era ausência de fogo no meu olhar me virei e olhei para mas ele ainda era um homem atraente alto com os cabelos grisalhos que lhe davam um ar distinto sua pele dourada pelo sol de Cascais o corpo forte de quem passou a vida
praticando vela Mas ele já não me via enrolou-se na toalha e passou por mim sem sequer me olhar secou os cabelos vestiu seu pijama e saiu do banheiro tudo sem dizer uma única palavra eu por outro lado permanecia ali me observando me perguntando quando comecei a me sentir invisível para o homem que um dia me devorava com os olhos Jantamos em silêncio a televisão tocava ao fundo um jogo de futebol que Tomás nem parecia realmente interessado em assistir seus olhos iam e vinham entre a tela e o celular eu girava minha taça de entre os
dedos tentando encontrar as palavras certas Você se lembra de quando costumávamos sair às cestas à noite perguntei tentando soar casual ele levantou os olhos e Sorriu de leve Claro quando éramos mais jovens e não dormíamos antes das 10 sua risada foi breve sem maldade mas me machucou não acho que seja só a idade murmurei ele franziu a testa como se só agora percebesse que havia algo mais por trás das minhas palavras o que você quer dizer mordi os lábios como dizer sem parecer desesperada não sei tomei um gole de vinho e abaixei o olhar às
vezes sinto que não estamos mais juntos só compartilhamos o mesmo espaço houve um silêncio desconfortável Tomás se recostou na cadeira e passou a mão pela barba isso é normal não é disse Por fim depois de tantos anos as coisas mudam as coisas mudam claro que mudam mas não deveriam se apagar dois dias depois encontrei Catarina em uma Esplanada no bairro Alto como sempre estava impecável vestido justo lábios pintados de vermelho uma taça de vinho na mão eu por outro lado senti a minha pele opaca você está pensativa disse ela me observando com aqueles olhos afiados
suspirei e brinquei com o guardanapo sobre a mesa é o Tomás o que tem ele bebi um gole da minha taça antes de soltar a verdade não ficamos H meses Catarina piscou surpresa meses nemum beijo de verdade nenhum carinho nada ela pousou a taça na mesa e cruzou as pernas e o que você fez para mudar isso senti um aperto no peito não sei tentei algumas coisas perfume novo roupas diferentes mas é como se ele nem percebesse Catarina me estudou por um momento antes de se inclinar para mim você se acomodou abri a boca mas
não encontrei resposta olha querida eu passei por isso com Ricardo me sentia como um móvel da casa como se minha presença não tivesse importância até que entendi uma coisa muito simples ninguém reacende o fogo se você mesma não atiçar As Chamas primeiro meu peito apertou o que você fez Catarina sorriu um sorriso lento perigoso surpreendi ele fiz algo que ele nunca esperaria de mim minhas mãos se apertaram sobre a mesa e funcionou Ricardo agora não consegue tirar as mãos de mim suas palavras pairaram no ar Senti meu mundo girar Será que era mesmo tão simples
assim aquela noite de pé diante do espelho me observei com novos olhos o conselho de Catarina ecoava na minha cabeça surpreenda-o eu não podia ficar esperando precisava fazer com que ele me visse de novo tomei uma decisão na manhã seguinte enquanto Tomás estava fora saí de casa e fui até o centro de Lisboa caminhei pelas calçadas de pedra da Avenida da Liberdade sentindo o sol da tarde aquecer minha pele meus olhos pousaram numa botique elegante entrei estou procurando algo especial disse com firmeza A vendedora me analisou de cima abaixo e Sorriu com complicidade venha comigo
ela me levou Até o fundo da loja onde tecidos de seda e renda dominavam o ambiente deslizei os dedos pelas peças sentindo a delicadeza dos materiais qual deles faria com que Tomás me olhasse como antes e então encontrei um corpete de renda preta com transparências cinta de seda e um perfume de baunilha e âmbar ao sair da loja Meu Coração batia acelerado mas ainda faltava o mais importante naquela noite depois do jantar subi para o quarto e me sentei na cama peguei um pedaço de papel e segurando a caneta entre os dedos escrevi hoje à
noite você não dorme em casa te espero no Hotel Palácio Imperial quarto 208 não faça perguntas Apenas venha dobrei o bilhete com cuidado e o deixei sobre o travesseiro dele antes de apagar a luz olhei para o espelho uma última vez seria suficiente para que ele me enxergasse de novo me sentei na beira da cama segurando o bilhete entre os dedos Será que estou indo longe demais as dúvidas começaram a corroer minha segurança olhei o relógio 20:45 Tomás já deveria ter chegado do Clube Náutico a meia hora será que ele já tinha encontrado a nota
Meu Coração batia forte era a primeira vez em anos que eu o esperava com aquela mesma antecipação de quando éramos jovens Quando corria até o espelho antes dele tocar a campainha para me certificar de que meu cabelo estava Impecável de que meus lábios estavam perfeitamente pintados Mas desta vez era diferente eu não era mais uma garota ansiosa para impressionar um homem eu era uma mulher decidida a recuperar o que era meu me levantei e caminhei até o armário abri a sacola da Boutique e tirei o corpete preto o tecido deslizou entre meus dedos como um
segredo perigoso coloquei a peça sobre a cama ao lado das meias de seda e da cinta Lia meu reflexo no espelho me encarava com uma mistura de medo e excitação não há mais volta respirei fundo e comecei a me vestir a primeira peça foi a cinta liga ajustou-se a minha cintura como uma segunda pele moldando minhas curvas de um jeito que eu não via há muito tempo depois às meias o toque da seda contra a minha pele arrepiou Cada centímetro do meu corpo em seguida o corpete levei alguns minutos para ajustá-lo mas quando terminei e
Me virei para o espelho encontrei alguém que não via há anos meu peito subia e descia a cada respiração minha postura estava ereta minhas pernas longas e elegantes sob as meias negras passei as mãos pelo cabelo deixando-os solto e levemente bagunçado dei um passo para trás era essa a mulher que Tomás tinha esquecido ou pior era essa mulher que eu mesma tinha esquecido o telefone tocou meu coração disparou me aproximei da mesa de cabeceira e vi o nome dele na tela Tomás ele tinha encontrado a nota respirei fundo e atendi Alô houve um silêncio na
linha eu podia sentir a confusão dele do outro lado você está no Hotel Palácio Imperial a voz dele soava mais rouca que o normal um tom que eu não ouvia há anos sim respondi suavemente outro silêncio por quê fechei os olhos eu sabia que esse era o momento de decidir eu poderia hesitar rir e dizer que era uma brincadeira que podíamos esquecer ou eu poderia continuar o jogo venha e descubra sussurrei minha própria voz me surpreendeu firme sedutora segura ouvi a respiração dele do outro lado da linha longa e pesada Chego em 20 minutos ele
desligou fiquei ali com o telefone na mão e o peito subindo e descendo rapidamente ele estava vindo o tempo passou de um jeito estranho lento e rápido ao mesmo tempo acendi algumas velas apaguei a luz principal deixando apenas o abajur da mesa de cabeceira aceso projetando sombras suaves nas paredes do quarto servi uma taça de vinho e me sentei na beira da cama cada ruído no corredor me fazia prender a respiração até que ouvi o som inconfundível de Passos parando do outro lado da porta um segundo de pausa então Três Batidas leves contra a madeira
me levantei devagar tomei um último gole de vinho e caminhei até a porta abri e lá estava ele Tomás ficou parado no umbral congelado no tempo seus olhos deslizaram lentamente pelo meu corpo absorvendo cada detalhe A mane como o corpete moldava minha cintura as meias presas pela cint lia meus lábios entreabertos pela primeira vez em anos vi desejo no olhar dele o silêncio entre nós era denso carregado de eletricidade vai entrar perguntei suavemente Ele engoliu seco e cruzou a porta sem dizer nada fechei atrás dele com um clique suave Tomás se virou para mim o
que é isso eu podia sentir atenção na voz dele desejo mas também confusão dei um passo à frente saboreando a forma como sua respiração ficou mais pesada um lembrete murmurei os olhos dele escureceram do quê sorri devagar de quem eu sou o silêncio voltou um segundo dois três e então ele deu o primeiro passo na minha direção o silêncio no quarto era ensurdecedor Tomás estava diante de mim a porta fechada à suas costas eu sentia seu olhar deslizando sobre mim absorvendo cada detalhe como se tentasse decifrar algo seus lábios se entre abriram levemente Como se
quisesse dizer algo mas ele hesitou eu também permaneci calada não queria apressar o momento porque pela primeira vez em muito tempo ele não estava me ignorando Ele estava me vendo e estava sentindo a tensão entre nós crescia a cada segundo uma batalha silenciosa eu queria que ele desse o próximo passo mas não facilita ia para ele não vai dizer nada provoquei minha voz baixa suave os olhos dele se estreitaram levemente não sei o que dizer respondeu a voz rouca carregada de algo contido sorri de leve e dei mais um passo diminuindo ainda mais a distância
entre nós então não diga nada estendi a mão e deslizei os dedos sobre a lapela do palit dele o corpo de Tomás ficou tenso Sutilmente mas o suficiente para que eu percebesse ele não recuou meus dedos seguiram lentamente até os botões da camisa sem pressa sentiu minha falta perguntei em um sussurro vi sua mandíbula se contrair não sei se essa é a palavra Então me diga qual é esperei os olhos fixos nos dele Mas em vez de responder ele fez algo que me Pegou de surpresa tomou meu pulso com delicadeza e me virou lentamente me
fazendo dar as costas para ele senti sua respiração perto do meu ouvido o que você está tentando com tudo isso sua voz era profunda carregada com um tom perigoso que fez um arrepio percorrer minha pele mas não era eu era expectativa rosto levemente para el não quero queos viend como estanhos sen o dação Del conteso eois sri di se funcionando o aperto de Tomás no meu pulso se intensificou levemente apenas o suficiente para me fazer perceber que ele estava no controle Você sempre foi esperta demais para o seu próprio bem sussurrou contra minha pele a
voz dele me envolveu era o Tom que eu lembrava dos primeiros anos quando a simples presença um do outro era suficiente para incendiar tudo eu não me movi não falei apenas esperei e ele tomou a decisão os lábios dele roçaram meu pescoço um toque leve quase inexistente um arrepio percorreu minha pele anos de silêncio de noites frias de ausência e tudo desapareceu em um único segundo ele me virou para encará-lo os movimentos lentos Seguros seus olhos me prenderam e então me beijou não foi um beijo apressado nem visitante foi profundo reivindicador como se ele estivesse
experimentando algo que achava ter perdido senti sua mão em minha cintura firme mas sem me apressar me dando espaço para decidir mas eu já tinha decidido agarrei sua camisa e o puxei para mais perto e ele entendeu Não sei quanto tempo passou só sei que quando nos afastamos nossas respirações estavam ofegantes e meu coração martelava no peito Tomás me olhou como se estivesse me vendo pela primeira vez Isso não é um jogo certo disse baixo neguei lentamente não silêncio os dedos dele deslizaram pelo meu braço descendo até meu pulso um toque leve mas mais carregado
de intenção Então me diga como quer continuar era a pergunta que eu não esperava porque até aquele momento eu tinha o controle Mas agora ele estava pronto para jogar a pergunta dele ainda pairava no ar Me diga como quer continuar até aquele instante eu estava no comando eu o provoquei eu o trouxe até aqui eu iniciei o jogo mas agora no jeito que Tomás me olhava percebi que algo havia mudado não era apenas deseo era deis e p primeir vezo tempo senti um Arreio de antecipação quero que es quem F nosúltimos anos respondi voz firme
quero que lembremos como era antes Tomás me estud em silêncio antes repetiu com um aceno leve quando costumávamos desafiar um ao outro não foi uma pergunta foi uma constatação Eu soube naquele instante que ele havia compreendido e isso me excitou ainda mais Tomás se aproximou lentamente sua mão Subiu até minha mandíbula e segurou meu rosto com firmeza calculada mantendo-me exatamente onde ele queria tem certeza de que quer isso murmurou meus lábios se entre abriram sim os olhos dele se fixaram nos meus buscando qualquer vestígio de hesitação mas ele não encontrou um sorriso surgiu em seus
lábios aquele sorriso confiante másculo que costumava me incendiar anos atrás então não tive tempo de reagir a outra mão dele deslizou pelas minhas costas traçando um caminho lento com a ponta dos dedos deu um passo para trás ordenou suavemente não era um pedido era uma instrução meu coração martelou contra o peito obedeci mais um dei outro passo até sentir minhas pernas tocarem a na beira da cama meus lábios estavam secos eu sabia o que ele estava fazendo tomando o controle e eu estava disposta a deixar Thomás deslizou os dedos pela amarração do corpete e começou
a afrouxá-la seus movimentos lentos calculados ele não tinha pressa gosta de sentir que sou eu quem decide sussurrou os lábios a milímetro do meu ouvido o calor da respiração dele percorreu minha pele Minha respiração ficou descompassada não respondi mas meu corpo fez isso por mim seus lábios desenharam um sorriso contra meu pescoço foi o que imaginei não soube quanto tempo ficamos assim o tempo deixou de existir só lembro da sensação de ser Gui conduzida tomada com aquela segurança que eu tinha esquecido que Tomás possuía e eu me entreguei à sensação porque depois de tantos anos
de ausência tudo o que eu queria era me sentir desejada e Tomás Tomás estava se certificando de que eu nunca mais duvidaria disso o ar estava denso o quarto cheirava a vinho a pele quente e a desejo saciado Tomás estava deitado na cama me observando com aquele mesmo fogo no olhar que tinha quando éramos jovens eu me sentia diferente como se algo tivesse despertado dentro de mim ele estendeu a mão e passou um dedo pela curva do meu ombro eu não sabia que ainda tínhamos isso dentro de nós sorri de leve você só precisava se
lembrar a expressão dele mudou tornou-se mais intensa talvez ou talvez a mão dele desceu até meu pulso envolvendo-o com a mesma firmeza de antes só precisávamos de algo mais eu o encarei sem entender completamente algo mais Tomás ficou em silêncio por um instante então sorriu daquele jeito dele me deixa te surpreender na próxima vez as palavras de Tomás continuavam ecoando na minha mente me deixa te surpreender na próxima vez eu tinha sido a responsável por reacender a chama eu Tomei a iniciativa Mas agora ele estava levando o jogo para um nível completamente novo e o
pior ou melhor era que eu gostava de não saber o que viria a seguir dias depois Recebi uma mensagem dele nos encontramos esta noite Hotel Imperial quarto 316 não chegue antes das 22 horas mordi o Lábio sentindo uma onda de expectativa percorrer meu corpo não perguntei nada não tentei adivinhar apenas aceitei o jogo quando Cheguei ao hotel Meu Coração batia forte o corredor estava silencioso o tapete macio abafava o som dos meus passos enquanto eu me aproximava da porta toquei suavemente a maçaneta girou e então eu o vi Tomás estava de pé vestido com uma
camisa desabotoada e um copo de Whisky na mão mas ele não estava sozinho ao seu lado segurando uma taça de vinho estava Ricardo seu melhor amigo meu estômago se contraiu Tomás me olhou com calma um leve sorriso no canto dos lábios entra não foi uma ordem foi um convite meu corpo se enrijeceu eu sabia o que ele estava insinuando e a pergunta era eu me atreveria entrei com passos lentos sentindo os olhares dos dois sobre mim Ricardo mais alto que Tomás com os cabelos grisalhos e um sorriso tranquilo me observava Sem pressa sem desconforto você
sabe que sempre te achei fascinante disse ele num tom baixo quase sedutor meu rosto esquentou Tomás pousou o copo sobre a mesa e se aproximou de mim sua mão pousou firme na minha cintura Achei que você gostaria de experimentar a algo novo meus lábios se entre abriram meu primeiro instinto foi dizer não mas meu corpo dizia outra coisa por que o perigo sempre parece tão bom não sei quanto tempo passou só sei que em algum momento parei de pensar e comecei a sentir não era só o desejo era a adrenalina do desconhecido Tomás sussurrava no
meu ouvido guiando-se Ricardo se mantinha próximo atento era uma dança perigosa e eu pela primeira vez na minha vida me permiti ser levada completamente a madrugada já começava a clarear quando finalmente o silêncio tomou conta do quarto meu corpo ainda tremia minha pele quente minha mente tentando processar tudo o que tinha acontecido Tomás estava deitado ao meu lado os olhos semicerrados você faria de novo não respondi imediatamente olhei para Ricardo que Sorria com aquela expressão satisfeita de quem compartilha um segredo inconfessável fechei os olhos sorri talvez E então soube que nada Voltaria a ser como
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