Nesta segunda temporada do Gênesis, nós começamos a estudar o sexto dia. Fizemos um panorama do que já havíamos estudado, comentamos um pouco sobre Adão, sobre a criação deste ser humano da terra, do Adam, que vem de adamar. Hoje, nós vamos dedicar a uma palavra que ocorre no Capítulo 2 de Gênesis, mas que se refere a Adão.
Nós já adiantamos, mas pensando no sexto dia, que é de Adão. Para entendermos esta figura e entender um pouco também da simbologia do Velho Testamento, como que o Velho Testamento lida com algumas palavras. A palavra de hoje que vamos estudar é nefesh, em hebraico, que siguinifica alma que mais comumente é traduzido por alma.
A primeira coisa que nós queremos comentar é a dificuldade da tradução porque, nem sempre, é possível traduzir com precisão nefesh por alma. E, aqui, nós queríamos fazer uma observação muito importante. Nós temos um estudioso alemão, o início do século, chamado Hans Walter Woff, escritor do livro Antropologia do Antigo Testamento.
O livro é um tobogã: tem altos e baixos, tem coisas brilhantes e tem determinados momentos que nós percebemos as algemas teológicas que acabam cerceando o pensamento do pesquisador. Mas, o Hans fez um trabalho primoroso. Eu só estou trazendo este livro aqui e comentando porque o estudo dele de nefesh é muito importante.
Ele estuda o Velho Testamento do ponto de vista da antropologia (está preocupado com o homem, com partes do corpo, com a vida em sociedade) e ele pega as palavras que expressam essas características do ser humano e da vida em sociedade. O que é interessante do Hans é que faz algo que é imprescindível ser feito. Primeiramente, ele cataloga as ocorrências da palavra no texto.
Nós lemos muitos comentários sobre Novo Testamento, muitos comentários sobre Velho Testamento no movimento Espírita e nem sempre há este cuidado ou, quase nunca, para dizer a verdade. Por exemplo, muito já se escreveu sobre Espírito Santo. Mas, quem escreve não se dá ao trabalho nem de checar quantas vezes esta expressão ocorre e quando a pessoa checa, ela olha só a tradução.
Então, ela não sabe se no original é isto mesmo. Então, são coisas tão simples. .
. uma armadilha pueril, porque a pessoa tira conclusões e monta todo um sistema (Espírito Santo é isso, critica, ataca, fala) mas, o estudo não tem fundamento nenhum. É importante ficar atento a isto.
O Hans Woff, como um bom alemão, não comete um erro tão pueril como este. Ele pega todas as ocorrências da palavra nefesh no Velho Testamento e faz um estudo cuidadoso. Agente só sente falta É preciso entender que a Bíblia é uma coletânea de livros.
Existem livros que estão no Velho Testamento onde um foi escrito mil anos antes do outro. Você passa rápido as páginas, mas você não passa mil anos rápido. Então, este equívoco nós não podemos cometer.
O Hans Woff vai centralizar a pesquisa dele de nefesh no Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), embora ele pegue os profetas. Mas, nós precisamos entender a distância que existe entre um profeta Zacarias (que está próximo do Novo Testamento) e o livro de Gênesis: é mais de mil anos de distância. Então, mesmo quando você vai estudar uma palavra, é importante olhar em um livro específico.
A palavra nefesh ocorre quantas vezes no livro Gênesis? Quantas vezes no livros de Jeremias? Quais os sentidos que esta palavra assume naquele livro?
Quais os sentidos gerais daquela palavra na Bíblia como um todo? Daí, você está estudando a língua como um todo. É um cuidado enorme.
Da mesma maneira o Novo Testamento. Quando vamos estudar o Novo Testamento temos que separar: esta palavra ocorre em Mateus quantas vezes? E, no Novo Testamento como um todo?
Quais os significados que ela assume? Então olha que coisa interessante nefesh por que que nos estamos Por que vamos ficar hoje, praticamente, nesta palavra? Porque Paulo vai fazer uma afirmação na Carta aos Coríntios, Capítulo 15, onde fala do primeiro Adão e do segundo Adão e vai dizer que Jesus é o segundo Adão.
Esta é uma reflexão muito profunda em Paulo. O que ele, metaforicamente, está querendo dizer (porque isto tudo é uma simbologia, não pode ser lido ao pé da letra) é que, em Jesus, tem início uma nova Gênesis, uma nova criação e um novo homem, um novo ser humano e, portanto, uma nova humanidade a partir dele. Este raciocínio que está em Coríntios 15 é muito interessante porque, primeiro, já dá uma dica de como Paulo lia Gênesis.
Quer dizer, Paulo não encara Adão como um ser humano de carne e osso, que tinha esposa e daí a Eva começou a dar à luz e deu três milhões de partos. Não foi assim e Paulo não lia assim. Paulo está pensando Adão como uma identidade uma identidade espiritual, uma identidade humana.
Ele vê Adão como um padrão de ser humano e um novo Adão, que é Jesus, como um outro padrão de ser humano. E, todos aqueles que se identificam e que começam a refletir a imagem e se tornam a semelhança deste novo Adão, que é Jesus, compõe uma nova humanidade, eles são uma nova criatura. Daí dizer: nasceu de novo, nova criatura é, homem velho-homem novo (que nem sempre e bem compreendido isto).
Nem todo homem novo é o homem novo que Paulo está chamando, porque o homem novo para ele é aquele caráter que nasce, moldado no caráter do Cristo. Não basta mudar, tem que mudar e refletir os padrões do Cristo. Aí é uma nova criatura na terminologia de Paulo.
Uma reflexão muito interessante esta. E, aí, ele vai dizer que o primeiro Adão era uma nefesh (uma alma) vivente, uma alma viva. .
. que já é estranho. Alma viva?
Tem alma morta? É a primeira pergunta: uma alma vivente tem uma alma morta? E, o segundo Adão, que é o Cristo, é um Espírito que dá a vida, vivificante, as vexes e traduzido, mas vivificante eu acho que fica esquisito A tradução não fica tão feliz ó que ele esta dizendo que um espirito que dá a vida um espirito que faz viver, que insufla a vida.
Olha que interessante: um é um ser vivo, o outro não, ele gera vida. Um é alma, o outro é Espírito. É bem desafiador!
E, de fato quando lemos em Gênesis, no Capítulo 2, diz assim quer o Senhor Deus formou o Adam [o ser humano] da poeira da adamar. O Adam da adamar: tem uma rima interessante. Deus formou o terreno da poeira da terra.
Mas, Ele soprou (no sentido de encher, como se fosse um balão encheu insuflou) insuflou e uma tradução melhor insuflou nas narinas dele um neshamah (que é da mesma raiz de nefesh), um ar, uma respiração de vidas (e vidas, aqui, está no plural) Interessante. E, se tornou o Adam um nefesh, uma alma. Este é o texto desafiador!
Uma alma vivente, uma alma que tem vida. O que o Hans vai trabalhar aqui? olha que interessante.
A primeira coisa que ele vai chamar a atenção é que, das ocorrências de nefesh no Velho Testamento, nefesh pode ser traduzido por pessoa Ser humano é um ser humano uma pessoa Viva Então ele da um exemplo Em Salmo 107, por exemplo, o texto diz: “(. . .
) famintos e sedentos, cuja nefesh desfalecia”. E, daí, no versículo 9 do Salmo 107 vai dizer assim: “porque ele saciou a nefesh ressequida e fartou de bens a nefesh faminta”. Agora, quando nós vamos na raiz da palavra nefesh, tem a ver com garganta.
Então, a origem de nefesh é garganta (garganta, boca, língua todo o aparelho respiratório e parte do aparelho digestivo). Essa parte toda boca linguá A garganta é usada para comer e para respirar. E, aqui, eu faço uma pausa.
Está complicado? Vai ficar simples. O hebraico é uma língua concreta.
A abstração vem da interpretação e, não, da língua. O texto é sempre concreto. A hermenêutica é abstrata.
Então, o povo hebreu tinha uma sofisticação imensa na interpretação. A interpretação era tão sutil que você tinha os doutores da lei, os sábios, e, por vezes, a pessoa passava trinta, quarenta, cinquenta, setenta anos estudando, como passa até hoje um mestre da Torá a vida inteira estudando, porque a abstração está na interpretação e, não, no texto. O texto é concreto.
Se quisermos ir na raiz de uma palavra hebraica, no seu sentido primordial, nós temos que voltar ao aspecto concreto. E, é isto que é brilhante no Woff, porque ele vai ligar as palavras que ele está pesquisando a aspectos concretos do ser humano. E, qual é o aspecto concreto de nefesh?
O aparelho respiratório e parte do aparelho digestivo. Então, você falava nefesh para um hebreu a época de Moisés, ele entendia “a respiração”, “a boca”, “o ato de respirar” e o “ato de comer”, porque se você está respirando e você está comendo, você está vivo, você é um ser vivo. você é um ser Nós vamos avançar mais um pouco aqui e vamos ver a nefesh morta, mas, são cenas do próximo capítulo.
Então, o sentido básico é este: come, respira. E, nós vemos que o texto de Gênesis é concreto. Deus soprou no nariz de Adam, que estava formado, e aí ele se tornou alma vivente, aí ele se tornou uma nefesh, porque ele passou a respirar.
ele passou a respirar. O texto parece ingênuo, O texto parece ingênuo, mas não é. Quando o obstetra tira a criança, seja no parto natural ou na cesárea, como ele sabe que a criança está viva?
Vê se ela está respirando. A primeira respiração é o sinal de você _“estou vivo! ”, “nasci com vida”.
Isto é concreto! É só respirar, tem nefesh. Fez o parto, tirou a criança e não está _não tem alma_ Mas esta formado tem o corpo cade a nefesh Alma É um sentido muito interessante!
E, ele ressalta este sentido concreto em um texto de Isaías 5:14 o texto diz assim: “a mansão dos mortos abre a sua nefesh, escancara a sua boca desmensuradamente”. Aqui, nós temos a chamada poesia em x, que é a rima de ideia: há uma frase que é a ideia e a outra frase que é sinônimo. Aqui fica claro que nefesh é sinônimo de boca.
A mansão dos mortos abriu a sua boca, pra quê? Para engolir. Então, o sentido é de boca (não cita aparelho respiratório, porque não tinha nenhum manual de anatomia na época de Moisés), no sentido de comer, de respirar, goela, boca, garganta, narina, o órgão de ingestão de alimentos, o órgão da respiração.
Tem um texto muito interessante que está em Eclesiastes 6:7 que diz assim: “toda a canseira do ser humano é para a sua boca, mas a nefesh não se enche”. Todo o esforço do ser humano para sobreviver, para comer, para se alimentar, no sentido, aqui, de sobrevivência (comer, no sentido de viver como um todo), é a síntese de estar vivo. Então, todo o esforço dele é para comer, mas ele nunca está saciado.
A boca nunca se sacia. Por quê? Você almoçou hoje e amanhã você tem que almoçar de novo.
Por que você não almoça e fica saciado para todos os almoços da sua vida? Ainda bem que não, não é? Seria entediante.
Você almoça todos os dias, porque não se sacia. A partir do elemento concreto, vai tirando um aspecto abstrato. O texto que é muito interessante [Em Ezequiel em 13: 19 que e quando aparece á expressão Ezequiel esses textos que eu citei 3 e 9 faz umadistinção entre as nefesh que iam morrer, das nefesh que iam ficar vivas.
Mas, aí, nefesh pode ser no sentido de pessoa. ] Agora o texto de Números 6:6 é interessante. Aqui vai falar de um nefesh morta.
Então, tem a nefesh viva, quando Deus insuflou nas narinas de Adão, ele se tornou uma nefesh viva e Números, aqui (6:6) está falando de uma nefesh morta. E, aí, o Hans não consegue alcançar – na minha compreensão – o aspecto mais transcendental da expressão nefesh, que foi captado por Allan Kardec no livro dos espíritos na introdução de O Livro dos Espíritos. Kardec começa a introdução de O Livro dos Espíritos dizendo do problema da anfibiologia, das palavras que têm mais de um sentido.
E, aí, ele vai dizer assim que a palavra alma é uma destas. Alma pode ser usada no sentido de espírito, a alma pode ser utilizada no sentido do fluido vital, a alma pode ser utilizada no sentido do perispírito, a alma pode ser utilizada no sentido do ser humano como um todo. E, aqui, o Hans vai dizer que este o é o sentido do Velho Testamento: alma é o ser humano como um todo (a sua parte física, a sua parte emocional, sua parte mental, o ser humano como um todo).
Mas, o que é o ser humano como um todo para nós? É o encarnado e é exatamente este o sentido que o Kardec vai dar à palavra alma. Ele vai dizer que em O Livro dos Espíritos utilizará a palavra alma com o sentido do espírito encarnado.
O que é o espírito encarnado? É o espírito ‘adamizado’. Quando você encarna, você vira Adão, porque você é terreno você, agora, é um ser humano terreno, corporificado, materializado, condensado com a substancia com á matéria da Terra.
Já comentamos, aqui, que O Livro dos Espíritos vai trabalhar um aspecto muito interessante: se o Espírito muda de um orbe para outro, tem que trocar a matéria do perispírito, porque o perispírito é formado com os fluidos do orbe. Ou seja, qual é a matéria que é o nosso verdadeiro corpo físico, que e o perispírito (por que o nosso corpo físico mesmo é só uma veste, é só o pó da terra; olha sutileza E só o pó e só a superfície O corpo mesmo físico o corpo terreno e ó perispírito É formado dos fluidos da Terra e tem um tempo de duração, segundo André Luiz, em Evolução em Dois Mundos. Então, este é o Adão, é o terreno, é a alma encarnada.
Daí Números 6:6 dizer ‘alma morta’, alma que desencarnou, que está no processo de desencarnação, vai se tornar Espírito. Interessante, não é? Mas, - e, aqui, que está a grande contribuição de Hans nesse livro aqui que nós gostaríamos de explorar – o Hans, ao estudar a palavra nefesh, ele vai fazer uma avaliação antropológica, o sentido humano e, como é uma antropologia no Antigo Testamento, a relação deste ser humano com Deus.
Várias palavras são usadas no Velho Testamento para descrever o ser humano. Vamos dar alguns exemplos. Coração, e uma delas alma (nefesh), carne carne e uma palavra e espírito: Coração Alma Carne é espirito são quatro palavras para designar ser humano.
Evidentemente que, quando o texto bíblico usa uma destas palavras, está querendo focar um dos aspectos do ser humano algum Aspecto que se sobrepõe. ó que ele que focar Quando se utiliza a palavra nefesh, ele quer dar um relevo à ideia da necessidade, da fragilidade, do ser humano enquanto um ser necessitado. Então vamos lá: nefesh é a garganta, é a boca por onde você respira e por onde você come.
O que isto significa? Que a nefesh tem que se alimentar constantemente. Ela necessita do alimento ela precisa de alimento e, no alimento, nós estamos dizendo sustentação da vida, então, aqui, você pode incluir tudo: necessita de abrigo, necessita se vestir.
É frágil, tem necessidades físicas, emocionais, psicológicas, intelectuais. É o ser humano necessitado. O Bonito é quando ó texto do velho testamento Faz uma oposição de Deus e da Nefesh Por que Qual necessidade que Deus tem Deus é pleno Ha um trecho bonito no livro de Jô que Jô um hora ele fica bravo Ele fica bem bravo Ai pede uma audiência com deus eu quero conversar agora conversar com Deus quero saber o que esta acontecendo E ai o texto diz assim Deus conversa com Jô dizendo Tudo bem só que tem um detalhe Você vem como homem Eu vou como Deus Aquela passagem que fala, o Espirito esta pronto mais a carne é fraca Lá e um sentido de carne Nefesh a palavra usada ?
Não é Não é Ai e uma outra palavra, Que é porque é muito interessante também Quando se usa a palavra carne o sentido ai é do efêmero. efêmero. Quando você usa a palavra carne para expressar ser humano, está dando enfoque ao aspecto efêmero do ser humano.
Ele não dura, ele morre. É interessante, não é? Um nefesh da necessidade, o outro da fragilidade.
Fragilidade, no sentido de efemeridade, de que ele não dura para sempre, ele é como a flor do campo: nasce, cresce, dá o perfume e depois murcha. Este é o aspecto do efêmero. ganham outra dimensão Se você pensa em Jesus falando o aramaico, que é a língua irmã do hebraico, nessa frase ele usou nefesh.
Não é o que entra pela nefesh que o torna impuro. Ele está usando a boca Ele está dizendo o quê? Está dizendo: ‘eu não sou o primeiro Adão, eu sou o segundo Adão.
’ Veja a inteligência de Paulo, porque ele teve acesso a estas falas, evidentemente, teve contado com João, ele teve acesso a estas tradições orais antes delas se tornarem texto ele teve acesso á issoo e olha aonde ele foi com a sua interpretação, porque Jesus diz assim: ‘minha comida é outra, eu não como a comida de Adão. olha que Eu não estou debaixo destas necessidades humanas. ’ Isto é que é bonito!
E, tem um trecho muito interessante que e um trecho emblemático está no livro Renúncia, quando Alcione pede para reencarnar. O orientador dela pergunta: ‘Você tem certeza? Porque assim que você se corporificar na Terra, você vai experimentar anseios, carências, fragilidades, que são típicas do ser humano, são típicas da nefesh, do encarnado, da situação de encarnado, do status de encarnado, que alguém que não é encarnado como você - que é um espírito que não está encarnando mais – não tem.
não tem Ou seja, esta fome da nefesh vai muito além do alimento que nós comemos que vai para o estômago. Tem a ver com carências afetivas, psicológicas, físicas, todas elas. E, vamos imaginar o status deste ser humano necessitado, vamos pensar nos grandes desafios do ser humano que são os grandes vícios: vícios de ordem sexual, vícios de ordem alimentar, ganância (o sujeito que é muito pão duro).
Tudo isto tem a ver com recursos de sobrevivência, que estão sendo tratados da perspectiva de alguém que está desesperado por acumular. Por que este desespero por acumular? Lá no cerne disso, tem o medo da carência, tem uma condição de fragilidade – que nós temos consciência dela – que não é agradável, nos deixa inseguros.
Eu me lembro, uma vez, que assisti a um programa de entrevista, e um psicólogo famoso e uma pessoa fez a pergunta: Era Ao vivo foi la no auditório do tribunal Ai a pessoa fez uma pergunta assim olha mas ‘Mas, como eu faço para ter segurança? ’ Ele pegou o microfone e disse: ‘Não há jeito, porque não tem segurança. ’ A partir do momento que nós temos consciência de que nascemos e, a qualquer momento, iremos morrer, e de que é certo que vamos morrer, qual a segurança que existe?
Não existe segurança. Existem meias seguranças, existem seguranças pela metade. Mas, a condição humana é de insegurança.
Este é o ponto que consideramos vital: qual é a marca do Adão? Insegurança, carência. E é a insegurança e a carência que vão mover Adão a fazer tudo de errado e tudo de bom.
Se nós lermos o livro de Gênesis, que é o livro das genealogias - começando pelo patriarca Adão – todas as histórias que estão em genesis São historias que vão ressaltar que vão tirar uma lição da fragilidade, da carência, da necessidade, a insegurança humana, o que o ser humano faz por conta da sua carência, por conta da sua insegurança, por conta da sua fragilidade. Este é o estatuto do Adam. Ele trai, ele abandona, ele desiste, ele fere, ele mata, ele ataca, ele mente, ele ilude, ele rouba, ele espolia, tudo para satisfazer esta garganta insaciável.
Ele esta recuperando E isso que Paulo vai dizer Ele esta recuperando o projeto original do que Adão deveria ser: Eu te entrego a minha nefesh em tuas mãos eu entrego a minha nefesh”. Este texto é muito profundo porque o que Jesus queria dizer é: ‘A minha fé suplanta meu status de carência, de necessidade, a minha garganta’, ou seja, a condição humana, A condição humana. porque ali ele estava morrendo porque o corpo físico dele estava morrendo, mas, interiormente, ele estava em absoluta tranquilidade, alinhamento.
É muito profundo e muito bonito. e Interessante que você citou o texto aí ‘a minha comida fazia a vontade de meu pai ’ está no Capítulo 4 de João no encontro com a mulher samaritana. A primeira coisa que Jesus fala com ela é o seguinte: ‘esta água que você está buscando aqui, Você vai voltar sempre vai dar sede.
mas a água que eu tenho para lhe oferecer, se você beber dela, nunca mais você terá sede. ’ É o que Paulo captou: são duas realidades. Ele está falando do universo do Adão, da nefesh, que é: almoçou hoje, amanhã tem que almoçar, depois de amanhã tem que almoçar depois tem que almoçar Comeu agora?
Vai ter que voltar a comer. Bebeu água? Esta com sede?
Esta com sede? Vai voltar a ter sede. Então, nós podemos falar: a sede de hoje, a sede de amanhã, a sede de depois de amanhã, A fome de hoje minha fome de hoje, minha fome de amanhã.
Mas, acontece que nós podemos vestir, ao mesmo tempo, mais de uma peça de roupa? Você pode comer no mesmo instante mais do que o seu estômago dá conta? Não.
É uma refeição por vez. é uma tragada por vez Isto é fantástico! Garantiu agora e voltou para o status da insegurança: e amanhã?
Basta a cada dia o seu mal, Basta a cada dia o seu mal, basta a cada dia a sua necessidade, basta a cada dia a sua fome. Quando nos imaginamos O Deus de Gênesis é providência. Todos os elementos do Jardim do Éden são metáforas para expressar a providência divina que supre.
Mas, eu preciso estar em relação com ela porque se eu corta relação com ela eu tenho que esta em relação com ela e eu tenho que me colocar aberto para a providência. Isto significa domínio do desejo, domínio da garganta, da nefesh. Então, você pensa nos desvios de ordem sexual, nos desvios de ordem alimentar, nos desvios de poder, eles estão sempre significando uma garganta que quer engolir porque está necessitada.
A nefesh viva é o primeiro Adão, o Adão alma vivente. O segundo Adão, o Cristo, é o Espírito. Nós vamos olhar este aspecto do Espírito depois, em um outro momento, vamos ficar um pouco mais com a nefesh.
O interessante deste raciocínio é que, isto é tão simples, não é? Uma criança entende isto. Nós vemos que os símbolos do Velho Testamento são simples, porque são símbolos da vida cotidiana.
Não são símbolos herméticos. Nas ilações você pode voar longe, mas os símbolos são simples. A ideia que está por trás, aqui, é que, ao encarnar, você perde memória.
Pensa na insegurança que isto gera! Nós já encarnamos com um choque de insegurança: você perde memória! A memória mais direta perde.
Você fica com uma memória intuitiva – esta permanece -, mas, a memória explícita perde. Você estava em uma condição de domínio e você encarna como um bebê, porque não tem jeito, todo mundo que encarna começa como bebê. E, qual é situação do bebê?
Absoluta dependência. O filhote mais dependente da natureza é o do ser humano. Não tem outro mais frágil, porque ele depende 100% de outro para sobreviver.
Ao longo da vida, grande parte da vida, grande parte das suas ações, do seu projeto de vida, estão destinados a suprir necessidades físicas que todos temos que suprir. Não é opcional! Tem que respirar, tem que comer, tem que dormir, tem que se abrigar etc.
Isto para citar as mais básicas. Se for entrar nas emocionais e nas psicológicas vira um rol gigantesco. O Adam é poeira da terra.
Veio do pó – da adamar – e volta para o pó. Mas, o Adão, enquanto esta expressão de fragilidade, esta alma que está viva, mas que vai morrer, esta pessoa que está sujeita ao fim, à morte. Qual é a marca do status adâmico?
Morte. Tudo termina. Tudo termina.
A cidade da tua infância não é mais a cidade da tua infância, diz até um poema do Drmmond. Se você voltar lá hoje, é outra cidade que está lá. Aquela da sua infância Aquela da sua infância só está agora na sua memória.
Aquela criancinha que brincava com você na rua já não existe mais, porque hoje é um adulto e você uma outra pessoa, se você encontrar talvez nem reconheça quem é. São ciclos que vão se fechando, coisas que vão acabando. Por isso Emmanuel quando comenta o texto ‘porque o Reino dos Céus não vem com aparência exterior’, que tudo o que os olhos da carne pode ver está morto ou vai morrer.
Por esta razão o Reino dos Céus, imperecível, não pode ser percebido pelos olhos da carne, não tem aparência exterior, porque ele é puramente espiritual. E, aqui, para finalizarmos a reflexão do Adam, neste sentido desta fragilidade, desta nefesh – porque agora dá outro sentido, não é? - O Evangelho é fruto do Espírito.
Então, as realidades do Evangelho são realidades que extrapolam a condição de encarnado Por isso Emmanuel, de uma maneira brilhante, diz assim: Moiseis ensina o homem A justiça ética do mundo á viver no mundo de forma justa ética conectado com deus as tábuas da lei e ensina ao homem a viver de modo justo. Com o Cristo, no monte Tabor, o homem aprende a desferir os voos sublimes rumo à espiritualidade superior. O que significa isto?
Evangelho é transcendência humana, que se aplica à vida aqui, mas é transcendente, é uma realidade transcendente, é outra lógica. Não é a lógica da nefesh. Se alguém for pegar sua túnica, você dá a capa?
Não é a lógica da nefesh. É outra lógica: a lógica do Espírito. Daí, nós vamos estudar o ruah, o Espírito, os sentidos que esta expressão tem que são maravilhosos.
Mas, por hoje, nós ficamos na nefesh e já começamos a perceber aí o Adam, o encarnado, a característica principal do encarnado, a condição humana. E, como Jesus disse para Mateus: ‘Levi, mais tarde perceberá que o homem é mais frágil do que perverso. ’ Há mais fragilidade no encarnado do que perversidade.
Às vezes, tem perversidade, até muita. Mas, tem mais fragilidade. É o Adam.