A maior floresta tropical do planeta começou a morrer: e agora?

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DW Brasil
As cenas de uma Amazônia em agonia reascenderam um debate histórico: a floresta pode mesmo se tornar...
Video Transcript:
A Amazônia vai ficar assim no futuro? Você viu o que aconteceu por  lá recentemente, não viu? Pode ser o retrato grotesco de  uma mudança lenta mais ampla: a savanização da nossa maior floresta tropical.
Calor, estiagem, incêndios. . . 
são sinais, para cientistas, de que o bioma está sendo empurrado  para uma transformação drástica. No ritmo atual do aumento da temperatura média do planeta viraria uma savana em poucas  décadas Algo semelhante ao Cerrado. A DW ouviu especialistas, que  avaliaram o destino da Amazônia diante de um clima volátil  – e desmatamento contínuo.
Um cenário bastante provável é: a floresta como conhecemos um dia morre  - e isso vai ter consequência para nós. Não sei você, mas muita gente ficou assustada com as imagens da região amazônica  no Brasil nas últimas semanas. Não é para menos.
Rios reduzidos a pequenos  cursos d’água, incêndios enfumaçando os céus, migração de famílias em busca de  refúgio por causa da seca histórica. O avesso da abundância com  a qual estamos acostumados. Aquelas imagens de um verde  forte, a perder de vista.
Cenas para guardamos bem na memória,  o lugar onde elas vão existir. É triste falar assim, de um caminho  sem volta. Parece até exagero, eu sei.
Mas é a realidade que deve nos alcançar ainda  neste século, segundo projeções de vários estudos. Este aqui é um deles sobe print.  Coloca a culpa no desmatamento.
Você vai ver ao longo do vídeo  que esse é sim um desafio urgente. Só não é o único. Antes de detalharmos  esse processo de savanização, ver em que medida ele está mesmo acontecendo.
. .  vamos entender melhor um possível sintoma, que seria a atual crise na Amazônia?
Aliás, na chamada Amazônia Ocidental, composta  por Amazonas, Rondônia, Acre e Roraima. Bom. .
. O básico desse caos todo que  castiga com mais força o estado do Amazonas você pode até deduzir: falta de chuva. A região teve os menores índices pluviais  entre julho e setembro dos últimos 40 anos.
A informação é do Cemaden, o Centro de  Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais. Tudo bem que esse já seria  mesmo um período de estiagem, só que ela veio mais severa  e mais longa que o normal. Era para terminar, por  exemplo, em meados de outubro.
E isso não aconteceu. A demora  da chuva fez com que os rios, já baixos, não conseguissem se recuperar. Continuaram em agonia no momento  em que já deveriam estar enchendo.
E isso gerou todas aquelas imagens  chocantes de natureza frágil. Você pode se perguntar: não dava para ter  preparado as pessoas para tempos tão difíceis? A Luz Adriana Cuartas, pesquisadora  de hidrologia do Cemaden, diz que é o tipo de situação que pega todo mundo desprevenido.
Se a gente olhar o mundo todo,  é muito difícil prever uma seca. Normalmente ela pega a gente desurpresa. Às vezes vem só com um pouco de falta  de chuva, mas ainda chove um pouquinho.
Não dá para perceber que aquela falta  de chuva junto com outros fatores, começou a se estabelecer e de repente já está, né? A causa, segundo pesquisadores, é multifatorial. Tem o El Niño, que esquenta as águas do  Pacífico perto da linha do Equador e muda a distribuição de umidade no planeta; o  aquecimento das águas do Atlântico Norte, que afasta a precipitação da Amazônia; e,  claro, as mudanças climáticas, associadas, entre outras coisas, a recordes  de temperatura globais este ano.
É uma soma complexa, um caldeirão que  descaracterizou partes da floresta amazônica. Adoeceu a exuberância do bioma. Que, aliás, já estava abalado por causa da degradação  ambiental de anos, do desmatamento entram.
A Luciana Gatti, cientista no INPE, o Instituto  de Nacional de Pesquisas Espaciais, explica como a redução da cobertura vegetal fragiliza o bioma,  que passa por um estresse maior nas fases de seca. Nas áreas mais desmatadas,  você tem cada vez mais uma seca muito estressante, muito intensa,  numa floresta tropical úmida. A estação seca A estação seca está  cada vez mais longa, mais seca, quer dizer, está cada vez chovendo  menos e mais quente.
E mais quente. O que está sendo observado é o  aumento da mortalidade na floresta. Na avaliação da Luciana, esse aumento  ocorreu nas áreas onde o clima mudou mais.
As áreas onde tem a maior mortalidade  são as áreas onde o clima mudou mais, ficou mais estressante para a floresta. Então é aí que você vê a conexão entre  desmatamento e emissões de carbono. Então a gente percebe que tem a emissão direta,  porque o desmatamento ele é uma emissão direta de carbono, mas ele também representa  uma emissão que eu chamo de indireta, porque ele vai mudar o clima naquela região.
E sob aquele stress climáticos, você  vai ter mais emissões de carbono. Foi a própria Luciana que, em 2021, liderou este  estudo publicado na revista científica Nature. Os autores constataram que  a Amazônia havia passado a emitir mais carbono do que era capaz de absorver.
E a razão por trás era, nas palavras dela, o  desmatamento, já que as árvores, em toda a sua estrutura, também armazenam CO2. Isso tem a ver,  segundo a Luciana, com que está acontecendo agora. Porque quando vem uma seca dessas  que a gente viu, partes da floresta já estão simplesmente arrasadas pelo passado  predatório.
. . com as defesas comprometidas.
Mais vulneráveis, por exemplo, às  queimadas. Lembra recentemente do céu nos arredores de Manaus, capital do Amazonas? Ficou assim por dias.
Consequência,  de acordo com as autoridades locais, de milhares de focos de incêndio em zonas rurais. Essa é a crise atual. Em resumo: uma seca devastadora que atingiu uma  Amazônia relativamente debilitada.
Mas dá para associar o cenário  extremo ao início de uma savanização? Caso as coisas não mudem drasticamente, ela é dada como certa por causa do  desmatamento e das mudanças climáticas. O que está acontecendo agora pode ser mais um  capítulo extremo dessa história, como eu disse no começo do vídeo.
Porque, na verdade, há estudos  que dizem que o processo está acontecendo não é de hoje – como este aqui, que identificou  o impacto do fogo em florestas alagáveis. Nós chamamos para essa discussão o cientista  que foi um dos primeiros a perceber o risco de a vegetação amazônica ser substituída por uma  vegetação parecida à do Cerrado brasileiro, Eu estou falando do climatologista Carlos Nobre. Ele apresentou essa constatação lá na  década de 1990.
O alerta era o seguinte: a floresta, se continuar sendo agredida,  vai perder a sua capacidade de regeneração. Depois disso, reiteradas vezes o  cientista associou o desmatamento e o aquecimento global à savanização  da Amazônia. Nesta publicação aqui, projetou diferentes futuros para o bioma  ao lado do americano Thomas Lovejoy Com 20 a 25% de destruição e um  aumento de temperatura média no planeta em 2,5 graus, a Amazônia vira Savana.
Desconsiderando o aumento de temperatura, o mesmo  ocorreria se o desmatamento superasse os 40%. O Carlos Nobre contou à DW que esse número está,  hoje, em 17%, e chegaria a 20% em duas décadas. E que 2,5 graus de aquecimento é  a estimativa para 2050.
Ou seja, a savanização é uma sentença,  se tudo seguir como está. Então, tudo isso, esse ponto de não retorno  aconteceria até no máximo 2050, podia ser antes, o que preocupa muito que esses são  estudos que fazem projeções futuras. Mas nós estamos vendo a floresta ter o  aumento da mortalidade e da duração da estação seca.
Então é essa a grande preocupação. Nós estamos muito na véspera do ponto de  não retorno. Alguns cientistas dizem que até o sudeste da Amazônia já atingiu  o não retorno, que é essa região que a mortalidade de árvores aumentou e que  a floresta virou uma fonte de carbono.
Ele está fazendo referência à Luciana, que  já apareceu neste vídeo, e ao próprio irmão, que deu esta entrevista à DW em  2021. Na época, Antonio Donato Nobre, cientista do INPE, disse justamente que áreas  imensas já estavam savanizando na Amazônia. O local mais problemático: a porção  leste, no chamado arco do fogo, uma região extensa onde a fronteira agrícola  avança sobre as florestas remanescentes.
E savanizar significa dizer que, com a mudança de  clima, haveria uma seleção natural de espécies. Ficariam somente as que toleram  uma área mais aberta e seca, justamente no que o bioma pode se transfromar. Seria mesmo e esse o futuro da Amazônia?
No sul da Amazônia, toda a estação seca  durava 3 a 4 meses, agora já são 4 a 5 meses. Quando atingir 5 a 6 meses, bom, esse é o envelope climático da savana  tropical. A Amazônia está muito próxima.
Não é o envelope climático de uma floresta  que tem que ter estação seca curta. Se ela continuar. .
. em 2 décadas já boa  parte da Amazônia começa a ser degradada. Nós falamos até agora desse assunto  tendo como base três frentes principais: a seca deste ano.
. . o desmatamento desenfreado, que apaga pouco a pouco grandes faixas verdes  na Amazônia.
. . e as mudanças climáticas.
Na visão dos cientistas que vocês ouviram  até aqui, não são aspectos independentes. Estão interligados. Um exemplo claro  é que a força da seca é atribuída a um El Niño potencializado pelo aquecimento global.
E, aliás, ele estaria apenas começando.  O ano que vem vai estar pior ainda, e o ano que vem, o el Niño  estará mais forte ainda. Esse el Niño o está começando. 
Então, assim, dá desespero de pensar. E uma coisa que a gente precisar pensar  também é nas consequências disso. No que vamos perder.
A floresta Amazônia tem  uma importância global na regulação do clima. É uma fonte gigantesca de vapor d’água,  resultado do trabalho das plantas de lá. Elas desempenham o que cientistas  chamam serviços ecossistêmicos.
São essenciais para o equilíbrio de  diferentes formas de vida na Terra. Ela é a nossa grande caixa de água, né? Ela ajuda a refrear a mudança climática.
Por que eu digo que ela ajuda? Porque ela ajuda  a fazer chuva, ela resfria a temperatura quando ela está a evapotranspirando, e  ela ainda é capaz de absorver carbono. Um outro papel fundamental:  abrigar uma biodiversidade única.
A Amazônia tem a maior biodiversidade do planeta. E essa conversão para esse ecossistema degradado  do céu aberto e degradado vai afetar imensamente centenas de milhares de espécies que são  endêmicas, só existem na Amazónia. Elas vão desaparecer e, lógico, isso tem um grande risco  ecossistêmico, risco de epidemias, pandemias.
Um terceiro aspecto: o controle  do regime de chuvas no Brasil. Se está muito seco, o que  que acontece. .
. A floresta chega uma hora que começa a evaporar menos água. Então, é nesse momento que pode  acontecer é que ela também pode afetar essa seca ali também pode afetar  as chuvas na região sudeste, por exemplo.
A savanização pode ter começado,  sim. Não com a seca de agora, mas com décadas de degradação ambiental. Ainda assim, os pesquisadores ouvidos pela nossa reportagem acreditam que podemos evitar  a travessia do ponto de não retorno.
E a solução não é só chover. O sudeste da  Amazônia está numa condição de emergência, precisava ser decretado estado de emergência lá, proibir completamente desmatamento  e queimada e obrigar os criminosos a restaurar a floresta que eles desmataram. E criar, talvez o maior projeto de  restauração florestal do planeta em toda a Amazônia e principalmente no sul.
. . no sudeste  e sul da Amazônia.
Esses são os grandes desafios. E também, logicamente, não passar de  2 graus e meio no aquecimento global.
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