Memória e História Oral.Completo

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Anderson Possamai
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[Música] [Música] su [Música] Para que serve a história oral podemos dizer que de um modo geral a história oral é uma metodologia que nós utilizamos para escrever a história nos dias ela se aplica muito ao que se convencionou chamar a história do tempo presente mas é óbvio que nós discutimos também conteúdos do passado de um passado distante e nesse sentido nós discutimos muito mais as representações que as pessoas fazem do fato passado do que propriamente uma discussão a priori do seu conteúdo no sentido estrito então aqui nesta oportunidade nós nos envolverem nas discussões tanto de
caráter teórico quanto metodológicos Em que consiste a importância de estudar história oral basicamente consiste numa ideia de que com a história oral nós democrati o Ofício do Historiador nós democratizam a possibilidade de outras pessoas que não são os historiadores propriamente ditos que podem escrever a história a história do seu bairro a história da a sua Associação de Moradores a história do seu sindicato e até a história de um movimento social que você integrou porém é bom que se diga também que dentro das Universidades nós nos preocupamos de elaborarmos as Tais teorias que sustentam a escrita
da história através desta metodologia que é isso que nós veremos mais tarde quais são os grupos no Brasil e no mundo que escrevem que trabalham com história oral nós temos grupos de pesquisadores organizados em centro de memórias de Sindicatos de trabalhadores centros de memórias das casas legislativas espalhadas pelo país aa nós temos dentro das cidades inclusive aqui na Universidade Federal de Santa Catarina que eu integro um laboratório de história oral nós temos alunos de mestrado e doutorado aqui no nosso programa de pós-graduação que trabalham exclusivamente com a metodologia da história oral e temos uma linha
de pesquisa que tem como referência metodológica a pesquisa com história oral a nossa referência maior no país é a Fundação Getúlio Vargas a Fundação Getúlio Vargas tem um centro de documentação oral um centro de memória que trabalha exclusivamente com a história oral é uma referência eu posso falar assim internacional de um trabalho teórico e metodológico no campo da história oral e que tem um grande acervo e que para lá se dirigem muitos pesquisadores que querem conhecer eh os conteúdos ali presentes quanto aprender a metodologia através daquele formato como eles executam lá na Fundação Getúlio Vargas
caro pós-graduando quero que fique atento Porque neste conteúdo que nós estudaremos daqui para frente que consta neste DVD você terá acesso às seguintes temáticas história oral história oral e memória história oral e subjetividade e metodologia da história oral temos então nas associações de moradores e nos sindicatos uma oportunidade de assistir uma reelaboração da história oral e portanto a sua democratização a história passa por um processo de democratização quando esses organismos autônomos começam a fazer as suas histórias a construir as suas histórias sem depender do mundo acadêmico isso provocará então muitos ciúmes dentro das Universidades porque
os historiadores assistiram pessoas simples do Povo escrevendo a sua própria história através da metodologia da história oral neste momento nós não temos ainda propriamente uma metodologia elaborada conceitualizada como assistiremos mais tarde é então dentro da Universidade portanto dentro do chamado mundo acadêmico que ela ocorrerá na visão de um grupo de historiadores os setores envolvidos com a escrita da história através da metodologia da história oral não estaria escrevendo uma história que merecesse crédito vem daí então a preocupação dos historiadores que trabalham com relatos orais de procurar desenvolver uma elaboração teórica para melhor fundamentar metodologicamente a escrita
da história através desta metodologia bom nesse sentido Qual foi o recurso teórico ao qual recorreram em linhas Gerais podemos dizer que os nossos colegas se envolveram numa discussão com os filósofos que discutem memória por que memória se nós uma análise mais detalhada nós encontraremos a razão disto consiste na ideia de que já nos gregos antigos nós nos deparamos mais uma vez com uma discussão em torno da memória como uma referência para sociedade se pensar que memória aquele que consegue acumular guardar e preservar as informações que a sociedade sabe do seu passado e se pensa no
futuro no presente se pensa no futuro bom mas isso tá escrito concretamente de modo mensurável onde Em quais circunstâncias temos obviamente alguns grcia antiga e ali encontramos algumas referências mas mais contemporaneamente particularmente em Bergson nós encontramos um destes fundamentos ao qual nós recorremos em Bergson nós procuramos ver a dimensão daquilo que ele entende como memória a discussão que ele realiza em torno da memória ou de memória busca a compreensão entre aquilo que o ser ser humano entende da coisa e a reportarse a ela como el a representa depois um discípulo seu que é morx vai
desenvolver uma discussão de memória em que ele está considerando a interação do sujeito no coletivo E aí então um na filosofia o outro na sociologia dão para nós referências de pensarmos a memória para utilizarmos dentro da história oral bom mas você pode se perguntar ou ficar com questionamento para que memória para que recorrer a essas pessoas que viveram há mais de 100 anos atrás que nasceram há mais de 100 anos atrás e que pensaram memória nas dimensões Conforme você tem assistido aí tem lido no seu texto qual a importância disso pra história pra história oral
aí então convém lembrar do seguinte em história a nossa discussão só acontece referendada por um conceito ou por uma teoria ou por um ingrediente se você quiser pensar assim que é memória uma categoria se você quiser também pensar assim que é memória por se você pega vamos imaginar aqui eh uma espada de um guerreiro medieval essa espada é uma memória daquele momento lá que você tá estudando se você pega um pão fossilizado de 2000 anos atrás Esse pão fossilizado é uma memória de 2000 anos atrás que seja de qualquer povo de qualquer civilização você tá
vendo como memória é muito mais alguma coisa concreta e mensurável do que simplesmente somente pensar em termos teóricos e metodológicos filosóficos ou sociológicos como tá presente o tempo inteiro no escrever história pois bem mas a memória da qual nós falamos aqui no campo da história oral na metodologia da história oral tem uma referência no que as pessoas pensam guardam lembram e representam de um passado seja pela convivência direta seja pela convivência através das pessoas que vivenciaram o fato é nisso então que eu quero que vocês compreendam onde é que está se situando a nossa discussão
de memória e qual a sua utilidade dentro da pesquisa dentro da teoria dentro do que nós fazemos de história oral nós discutiremos história oral e subjetividade para começo de conversa subjetividade é um termo que está na moda no mundo acadêmico se você quiser fazer um trabalho de ponta coloque ali subjetividade que todo mundo vai crescer o olho para cima dele Mas por que que subjetividade é importante no nosso contexto em discussão de teoria e metodologia de história oral é porque a história oral ela lida essencialmente com os sujeitos com as pessoas você imagina pra gente
escrever a história recorrendo a outras fontes a gente pode pegar um jornal uma carta um relatório qualquer documento manuscrito de uma dada época e escrevemos a história por mais que aquele documento esteja cheio de fungos e você sofre de renite alérgica você escreve a sua história escreve o seu texto sem saber quem são as pessoas que estão envolvidas naquele fato naquele evento naquele fenômeno com a história oral é diferente você não lida somente com a pessoa no aspecto físico palpável você lida com as suas emoções é muito comum na hora em que as pessoas prestam
relatos nós assistirmos sessões de choro de desabafo de Sorriso pleno de interromper as gravações bom mas o que então nesse momento a gente assiste o correr a manifestação da subjetividade a percepção de que o sujeito que narra é também aquele que se coloca na história aquele que narra e se coloca na história estabelece juízo de valores faz conexões representações discute o imponderável o chamado c na história se tivesse acontecido assim hoje nós estaríamos assim ou estaríamos assado não é assim que a gente diz quando a gente atribui uma outra possibilidade de um ocorrido diferente daquele
que a história registrou Pense nisso pense nessas possibilidades então o sujeito atuante na história que elabora representações e julgamentos só o faz desta forma por causa da sua subjetividade o que que é subjetividade é o processo de Constituição do sujeito na interação histórica na sua história de vida nas amarguras da vida nos prazeres da vida em tudo tem uma discussão um pouco mais elaborada um pouco mais teórica que suon e o filósofo francês guat trazem para nós que falam que temos então um capitalismo o modo de produção dominante ele não chama Modo de produção dominante
eu tô dizendo aqui né mas é o capitalismo é uma organização econômica mundial internacional para além da vontade das pessoas que na leitura desses autores trabalham trabalha perdão conspirando se é que eu posso dizer assim para impingir na pessoa uma vontade que não é a sua porque os interesses do mundo capitalista ou do capitalismo como vontade econômica de consumo Deão de mundo atuam constituindo o sujeito Então essa subjetividade é ela é comandada por uma força externa a ela esses autores que eu falei ainda há pouco também defendem a ideia de que em qualquer situação a
que o perdão em qualquer sociedade a que o sujeito pertença que seja um povo que está situado no interior da Amazônia portanto aquilo que nós os povos que nós chamamos de índios um povo que está situado remanescente de uma sociedade afrodescendente que nós chamamos quilombolas e tudo mais Esses povos todos também teriam as suas subjetividades construídas no interior dos seus grupos aos quais pertencem Veja a subjetividade ela incorpora no meu entendimento no nosso entendimento história de vida com as relações sociais a as relações no interior do grupo ao qual a pessoa pertence na hora que
nós estamos fazendo a nossa pesquisa com história oral que eu pego o gravador e dirijo a pessoa e peço a ela para responder uma questão Ela está me respondendo deste seu lugar na história que é é subjetividade que o modo como ela vai ler o mundo reflete aquilo tudo que é a constituição deste sujeito quando nós fazemos o nosso trabalho de pesquisadores com história oral nós temos que considerar essa condição para entendermos de onde a pessoa fala para entre aspas decodificar o que elas discutem para nós não atribuirmos juízos de valores para para o discurso
das pessoas que podem muito bem representar preconceito de nossa parte se nós não considerarmos a subjetividade a sensibilidade é peculiar a cada pessoa cada pessoa desenvolve a sua a seu modo Não pense que a gente pode fazer as coisas de qualquer jeito que de qualquer jeito tá bom não não é assim para você fazer uma pesquisa e ela possa ser tomada como atendendo aos seus objetivos aos objetivos do seu projeto é fundamental que você tenha flexibilidade e essa flexibilidade Ela será do tamanho que for a sua sensibilidade para perceber que você pode abandonar as perguntas
abandonar os roteiros e se envolver nos caminhos que a pessoa que relata está te levando é fundamental você perceber isso Tem situações que se você não perguntar a pessoa não responde e Tem situações que a pessoa literalmente embolsa todas as tuas perguntas porque ela tem um discurso próprio para relatar aquele assunto para discutir aquela temática ela é uma pessoa habilidosa com as palavras ela tem um discurso bom e não necessita necessariamente que você fique seguindo um roteiro umas perguntas elaboradas previamente para que a sua pesquisa seja boa para que a sua entrevista seja boa O
bom neste caso consiste essencialmente em escutar o outro deixar o outro falar quando você liga o gravador este aqui é um dos modelos de gravador quando você liga seu gravador e dirige uma pergunta à pessoa e disponibiliza esse gravador para ela falar e ela abre o verbo a falar e fala por 15 20 minutos meia hora pronto cumpriu o seu papel eu pergunto tem necessidade de cumprir aquele roteiro que você elaborou se a pessoa falou de muitas outras possibilidades dentro daquela temática que você inicialmente não havia previsto Pense nisso é dessas situações que convém a
gente pensar na hora que a gente tá discutindo o nosso trabalho na hora que a gente está realizando o nosso trabalho na hora que fazemos o nosso projeto de pesquisa para nós não transformarmos o projeto que até tem uma razão de ser mas as entrevistas em algo burocrático e um dado momento a sua entrevista pode virar apenas sim como resposta não não sei quem sabe ora entrevista dessa obviamente não CPRE o seu papel porque você não teve habilidade de condla então sensibilidade e atenção com o outro são ingredientes essenciais dentro do nosso Ofício outra questão
essencial que convém nós observarmos ficarmos atentos na hora que foros gravar as entrevistas é o seguinte quando a gente encontra a pessoa que nós não conhecemos e ela se disponibiliza a participar do nosso projeto é muito importante que a gente saiba é uma consciência que você deve ter na sua cabeça deve incorporar isso quando você chega a primeira coisa que a acontece é a tal da medição vou chamar aqui de medição é um ficar medindo o outro Quem é esse sujeito quem é essa pessoa que será que quer comigo o que quer saber de mim
o que vai me perguntar como é você quem tá chegando na casa dos outros imagine lembre sempre a pessoa parou o seu trabalho parou os seus afazeres parou as suas tarefas para te receber você chega na casa dela ela te olha desse jeito e você fica Será que essa pessoa vai me dar uma boa entrevista será que eu vou conseguir conversar com ela ela vai falar comigo das situações que eu tô querendo saber um não fica medindo o outro vai dizer que não é isso que acontece de um modo geral é isto é essencial que
você tenha clareza que até o lugar onde você vai sentar na casa da pessoa é objeto de observação se ela te dá uma cadeira torta tremendo que as pernas estão moles senta naquela cadeira se você cair é consequência mas não vai dizer olha a cadeira tá com as pernas tortas Então ela tá balançando você estará pagando um mico Eu Estou trazendo essas questões até em tom coloquial para que você perceba clar a natureza dessas coisas banais que podem não significar nada para você a pessoa te traz um copo d'água e você vai olhar na borda
do copo se tem marca de batom se tem marca de lábios se tem impressões digitais Olha que mico você tá pagando temos pessoas que quando vão pra pesquisa são até doentes diabéticas não podem comer açúcar mas toma até o cafezinho doce dado pelas pessoas sabendo que estão correndo risco de vida porque elas compreendem que se elas se negarem a beber o cafezinho estarão colocando um distanciamento entre si e o interlocutor o que que é isso é a tal da sensibilidades que eu falei ali atrás que envolve também a postura diante do outro Tem situações também
concretas Como por exemplo o seu corpo tem aquela teoria que não é da minha área que diz que o corpo fala e quando fala compreenda precisamente que nós mandamos mensagens para as pessoas através do modo como nós nos comportamos como o nosso corpo se manifesta se eu faço uma pergunta pra pessoa sem lhe olhar nos olhos olhando pro além pro vazio Qual é a consideração que eu estou tendo por esta pessoa a pessoa tá falando comigo de modo como eu pedi está respondendo as minhas questões e eu tô Olá pro outro lado para um galo
que cantou no terreiro para uma criança que passou [Música] brincando essa é uma situação que não deve ocorrer porque a pessoa também vai se desinteressar de você porque você está dando demonstrações que o que ela tá falando não é importante eu gosto sempre de usar um exemplo do filme Kinsei vamos falar de sexo onde o pesquisador para organizar a sua equipe se preocupou inclusive com essas com esses posicionamentos do corpo se os seus membros da equipe estavam olhando nos olhos das pessoas se não estavam virando da cabeça pro outro lado na hora que as pessoas
lhes respondiam questões delicadas quando falavam de suas intimidades nesta hora nós estamos não só invadindo a privacidade das pessoas mas somos também objeto de observação do mesmo jeito que nós as observamos nós somos por elas observados eu acho muito importante que a gente preste atenção Nisso porque pois a gente não vai entender Por que o discurso da pessoa se tornou desinteressante para nós entre aspas Porque que o discurso da pessoa não traz uma verdade entre aspas Aliás a última coisa em que nós não gostaríamos de tocar ou de falar aqui é sobre verdade as pessoas
que trabalham conosco que nos aceitam em suas casas para nos prestar um relato nunca nos falam coisas que não sejam verdade por quê Porque por mais que aquilo que eu recebo como conteúdo eu posso questionar quanto a sua autenticidade o modo como aquela pessoa se relaciona com aquele conteúdo é daquela forma e não tem verdade maior do que isso do que o modo como a pessoa se vê e se representa naquela discussão em História nós já superamos a ideia de verdade de que isso é verdade de que aquilo não é verdade já superamos isso isso
não é mais nossa preocupação mas no campo da história oral volta e meia assistimos uma pessoa apresentando um trabalho onde diz assim eu tenho quase certeza que essa pessoa não me falou a verdade quem somos nós para atribuirmos juízo de valor para aquilo que as pessoas falam se o que ela diz está gravado e essa é uma verdade e essa é inquestionável fiquemos atentos a isso que nas discussões do texto você Manteve contato com esse conteúdo e deve compreender as questões que eu estou trazendo aqui encerramos Aqui as nossas atividades e Desejamos a vocês Bom
aproveitamento de todo conteúdo que nós esforçamos em lhes transmitir espero que possamos nos encontrar em próximas oportunidades dentro de outras atividades relativas ao conhecimento histórico façam bom uso façam bom proveito e sejam felizes no que fazem [Música] ah
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