[Música] O ano era 1054. O ocidente enfrentava tempos turbulentos com muitas guerras. No território que um dia seria Portugal, vigorava a chamada era de César, um período marcado por transformações que ajudariam a moldar uma nova era.
Ao mesmo tempo, no Império Romano, algo histórico acontecia. A igreja estava se dividindo. O evento ficou conhecido como o grande cisma do Oriente e marcou a separação entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa.
Esse cisma, essa divisão foi o resultado de uma série de desentendimentos acumulados entre as igrejas de Roma e Constantinopla. Essas divergências chegaram a tal ponto que ambas as partes acabaram se escomungando mutuamente. Na tentativa de resolver as tensões, o Papa Leão I enviou o cardeal francês Humberto de Silva Candidá até Constantinopla para dialogar com Miguel Cerulário, o patriarca da Igreja Oriental.
A ideia era buscar um entendimento entre as lideranças das duas grandes sedes do cristianismo, mas a tentativa de reconciliação fracassou. Ao voltar para Roma, Humberto decidiu escomungar Miguel celulário, acusando de defender ideias incompatíveis com os princípios da igreja de Roma. Em resposta, Miguel Cerulário reafirmou a autoridade da igreja em Constantinopla e formalizou a fundação da Igreja ortodoxa.
Já que Roma não aceitava a nova igreja como parte da comunhão católica, o patriarca também escomungou o Papa Leão apesar do simbolismo desse rompimento, os historiadores afirmam que a separação foi, na verdade, o ponto culminante de séculos de divergências. As diferenças entre as culturas, tradições e interpretações religiosas de Roma e Constantinopla já vinham se acentuando ao longo do tempo. Nesse vídeo, vamos entender melhor o que foi o cisma do Oriente, seus bastidores, os principais conflitos e como tudo isso influenciou o cristianismo até hoje.
Por cerca de 1000 anos, a Igreja Católica permaneceu unificada, mas diferenças teológicas, litúrgicas, políticas e até de idioma começaram a separar os cristãos do Ocidente e do Oriente. A essência ainda era a mesma, assim como as orações e a fé em Deus. Então, por que se dividir?
Para esclarecer, até os nomes das duas igrejas são parecidos. Igreja Católica Apostólica Romana e Igreja Católica Apostólica Ortodoxa. Ambas têm raízes nos ensinamentos de Jesus Cristo e nos apóstolos.
A Igreja Católica Romana é a mais antiga e numerosa entre todas as igrejas cristãs com mais de 1. 4 bilhão de fiéis. Ela é composta por 24 igrejas, uma latina e 23 orientais.
Todas unidas sob a liderança do Papa, o bispo de Roma. Sua sede fica no Vaticano e o Papa é reconhecido como a maior autoridade espiritual por todos os bispos católicos. Atualmente, esse papel é exercido pelo Papa Francisco, considerado o sucessor do apóstolo Pedro e o pastor universal da igreja.
Antes de mergulharmos na estrutura da Igreja Ortodoxa, vamos esclarecer o que significam as palavras católica e apostólica presentes nos nomes de ambas as igrejas. A palavra católico vem do grego e significa universal, ou seja, que abrange o mundo inteiro. Em Mateus, capítulo 28, versículos 19 e 20, antes da ascensão do Senhor, Jesus instrui seus discípulos: "I depois e fazei todos os povos meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
" Já o termo apostólico, obviamente vem de apóstolo, que significa enviado. Ambas as igrejas seguem a tradição dos apóstolos, aqueles que foram enviados por Jesus para espalhar a sua mensagem. Hoje a igreja ortodoxa é predominante em países como Grécia, Rússia, Ucrânia, Romênia, Bulgária, Sérvia e Chipre.
Com a diáspora, ou seja, o movimento de dispersão dos cristãos pelo mundo, ela também se faz presente em várias partes do mundo. Estima-se que entre 200 e 300 milhões de pessoas sigam a fé ortodoxa. Para eles, Jesus Cristo é o único chefe da igreja.
Os demais patriarcas têm autoridade igual, mesmo que o patriarca de Constantinopla, atualmente Bartolomeu I, seja chamado de o primeiro entre iguais. com um papel mais representativo do que hierárquico. Para entender como o cisma de 1054 aconteceu, precisamos voltar no tempo e revisar como o cristianismo se desenvolveu até aquele momento.
Segundo a tradição, a Igreja Católica surgiu da comunidade cristã fundada pelos apóstolos. Eles ordenaram os bispos que continuassem a missão de espalhar os ensinamentos de Jesus. Essa sucessão continua até hoje.
Assim como os bispos são sucessores dos apóstolos, o Papa é o bispo de Roma e considerado o sucessor direto de Pedro, o apóstolo que, segundo a Bíblia, foi escolhido por Jesus para liderar a igreja, como ele mesmo havia dito no Evangelho de Mateus, capítulo 16, versículos 18 e 19: "Tu és Pedro e sobre essa pedra edificarei a minha igreja e o poder do inferno não prevalecerá sobre ela. " Para ampliarmos o nosso conhecimento sobre esse contexto, é interessante ressaltar que os cristãos protestantes não concordam com essa interpretação dessa passagem de Mateus, alegando que a palavra pedra que o Senhor Jesus utilizou nesse contexto bíblico refere-se à revelação dada por Deus a Pedro nesse contexto de que Jesus é o Cristo, o Messias e sobre essa revelação, a igreja seria edificada. Mas voltando à igreja ortodoxa, ela também reconhece a importância de Pedro, mas entende a sua autoridade como simbólica, não como um poder de liderança sobre todos os cristãos.
Segundo a tradição, Pedro foi martirizado em Roma, crucificado de cabeça para baixo por não se achar digno de morrer como Cristo. Ele foi sepultado próximo ao local da crucificação, onde séculos depois o imperador Constantino I mandou construir a primeira basílica de São Pedro. Lá no ano 800, Carlos Magnus seria coroado imperador.
O primeiro sucessor de Pedro foi Lino de Volterra. Embora pouco se saiba sobre ele, seu papado marcou o início de uma linha de liderança que ganharia força com o tempo. No início, os papas não tinham o poder que hoje conhecemos.
Com o tempo, especialmente no fim do primeiro século, os bispos passaram a se reunir em sínodos, assembleias de bispos de todo mundo, para discutir doutrinas e tomar decisões importantes. No século II, o bispo de Roma começou a ter mais influência, atuando como mediador em disputas, entre outros bispos. O cristianismo, mesmo com perseguições, se espalhava rapidamente pelo Império Romano.
Em 313, o imperador Constantino legalizou o cristianismo e transferiu a capital de Roma para a então cidade grega Bizâncio, que hoje é Istambul, na Turquia, e que viria a se chamar Constantinopla. Décadas depois, em 380, o imperador Teodósio I e seus colegas do Ocidente, Graciano e Valentiano II, tornaram o cristianismo a religião oficial do império. Alguns anos depois, os imperadores do ocidente foram assassinados e Teodósio I, do lado oriental, decidiu que era hora de conquistar o o seu objetivo, varrer qualquer um que ousasse disputar a coroa.
Ele conseguiu. Teodósio saiu vitorioso e, por um breve momento, foi o imperador de todo o Império Romano. Um feito, sem dúvida, impressionante, mas de curta duração.
Poucos meses depois, ele morreu, tornando-se o último governante a unificar o império inteiro. Com a morte de Teodósio I, o império foi novamente dividido, dessa vez entre seus dois filhos. Arcádio ficou com o lado oriental e Honório com o ocidental.
Essa separação acabou sendo definitiva até o fim do Império Romano. O Império Romano do Ocidente, ou simplesmente Império Romano, como ficou conhecido, teve um final melancólico. Em 476 depois decoist, o jovem imperador Rômulo Augústulo foi deposto por Odoacro, um líder germânico.
Foi o fim da linha. Entre as causas, invasões bárbaras, crise econômica desde o século II, dependência excessiva de grãos egípcios, um exército cada vez mais fraco e desorganizado, e corrupção e instabilidade política davam o tom do período. Já o lado oriental, que mais tarde ficou conhecido como Império Bizantino, resistiu até 1453, quando os turcos otomanos de predominância muçulmana conquistaram Constantinopla.
A queda foi resultado de guerras constantes, tentativas frustradas de expansão para o oeste, pressão nas fronteiras orientais e, acima de tudo, o traumático saque da cidade durante a quarta cruzada, entre 120 e 1204. Se há algo que se repete na história, é a divisão. O Império Romano viveu em constante tensão entre Oriente e Ocidente, fazendo com que suas diferenças culturais, sociais e políticas só aumentassem com o tempo.
No século VI, surge uma figura ambiciosa. O imperador Justiniano I, ele sonhava em reviver a antiga glória de Roma. Para isso, reconquistou parte dos territórios perdidos no Ocidente e reformulou o sistema legal.
Também propôs um novo modelo de organização da igreja, a Pentarquia, onde o poder era compartilhado entre os bispos das cinco grandes sedes do cristianismo: Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém. A ideia parecia boa no papel, mas na prática, divisão de poder a gente sabe como sempre é. Esses líderes começaram a discordar entre si, desde a forma de celebrar os ritos locais até debates teológicos complexos que surgiriam entre os séculos VI e X.
O patriarca de Constantinopla, representante da Igreja ortodoxa grega, já começava a resistir à influência do bispo de Roma. e os outros patriarcados, Alexandria, Antioquia e Jerusalém, perdiam força à medida que os muçulmanos conquistavam as suas regiões. Em Constantinopla, o patriarca tentava equilibrar a fé com os desejos do imperador.
Já em Roma, a igreja se via cada vez mais distante do império do Oriente. Mesmo assim, até 752, os papas ainda formalmente pediam imperador bizantino a autorização para nomear bispos. Mas tudo isso mudaria.
No século VI, a Igreja de Roma se tornou um estado com nome próprio, o Estado da Igreja, ou estados papais, ocupando boa parte da península italiana. Em 774, quando os lombardos, povos germânicos que habitavam a região italiana da Lombardia, invadiram os territórios papais. O Papa Adriano I não correu para Constantinopla, pedindo socorro.
Ele, na verdade, chamou Carlos Magno, o rei dos francos. Carlos veio, derrotou os lombardos e ainda se proclamou o rei deles. Após a morte de Adriano, foi escolhido como seu sucessor, o Papa Leão I.
Ele enviou uma carta para Carlos Magno, reconhecendo-o como protetor oficial da Santa Sé, ignorando completamente Constantinopla. Mas nem todo mundo gostava de Leão I. De origem humilde, ele foi atacado por nobres romanos que queriam tirá-lo do poder.
Tentaram arrancar os seus olhos e a sua língua, mas ele sobreviveu graças à ajuda de aliados de Carlos Magno. Em resposta ao auxílio prestado, o Papa Leão I coroou Carlos Magno como imperador romano no Natal do ano 800. Uma provocação direta aos bizantinos.
Com essa coroação, as pontes entre Roma e Constantinopla começaram a ruir de vez. A política e a fé seguiram caminhos cada vez mais [Música] diferentes. Por volta de 726, o imperador bizantino Leão I, não confundir com o Papa, ordenou que fosse retirada uma imagem de Jesus da entrada do palácio imperial.
No lugar, ele só queria uma cruz. Para ele, venerar imagens era idolatria. Essa decisão tomada sem consultar a igreja causou revolta.
Em Roma, o Papa Gregório I condenou duramente a atitude. Como resposta, o imperador confiscou propriedades do Papa e do Estado da Igreja. Essa fase iconoclasta de aversão a imagens durou décadas, sendo mantida pelos seus sucessores.
Só acabou quando Irene de Atenas, viúva do imperador, e com a fama de adorar imagens sagras em segredo, assumiu a regência do império e restaurou o culto às imagens. [Música] A essa altura, as diferenças eram muitas, geográficas, culturais, linguísticas, o latim do ocidente contra o grego do Oriente. Mas o ponto mais sensível era a autoridade do Papa.
poder, sempre poder. Os patriarcas do Oriente não aceitavam sua supremacia, preferindo o modelo mais descentralizado. Eles também não concordavam que o Papa tivesse a palavra final sobre a doutrina e nem aceitavam a ideia de que ele fosse infalível em temas de fé e moral.
Ainda no campo da autoridade do Papa, os ortodoxos defendem a ideia da Igreja se sujeitar ao Estado. Sendo assim, o imperador bizantino, como autoridade máxima do império, tinha o comando da igreja. Isso, é claro, desagradava a igreja romana, que não desejava estar sujeita ao estado.
Mas, curiosamente, mesmo com essas divergências, a teologia entre católicos e ortodoxos era e ainda é bastante parecida. Quer ver um exemplo? O dogma católico da Imaculada Conceição, que indica que a Virgem Maria já estava livre do pecado original desde a sua concepção, mesmo sem méritos próprios para isso, é proclamado pela teologia ortodoxa de que Maria foi escolhida por Deus para dar a luz a Jesus pela sua pureza e sua obediência demonstrada em vida.
Doutrina com a qual cristãos protestantes não concordam. Mas havia uma polêmica teológica que ficou conhecida em latim como filok. A igreja do ocidente adicionou ao credo a expressão e do filho para dizer que o espírito santo procede do pai e do filho.
Para os orientais, essa alteração no texto original era inaceitável. No campo doutrinário, havia outras diferenças entre as duas igrejas. Para os ortodoxos, Jesus tinha uma natureza única, a divina.
Enquanto para os católicos, Jesus é ao mesmo tempo perfeitamente homem e perfeitamente Deus. Depois de séculos de tensão, em 1054 ocorreu o chamado grande cisma, a ruptura oficial entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa. Tudo começou em 1053, quando o Papa Leão Io mandou as igrejas gregas no sul da Itália adotarem os costumes latinos, ou então elas seriam fechadas?
Em resposta, o patriarca Miguel Cerulário mandou fechar as igrejas latinas em Constantin mesmo ano, Leão de Acrida, arcebispo de uma das cidades da Macedônia, hoje conhecida como Orhet, escreveu uma carta criticando as diferenças nos ritos e na liturgia romana, chamando esses costumes de judaizantes, criticando jejuns aos sábados e o uso de pães sem fermento na Eucaristia. O fato é que através de um general bizantino chamado Argiro, chegou aos ouvidos do cardeal católico francês Humberto de Silva candidar o boato de que por trás daquela carta estava a mão do patriarca Miguel Cerulário, que havia ordenado o fechamento das igrejas latinas com o intuito de pressionar as igrejas da região a voltarem aos ritos orientais. No início do ano seguinte, 1054, o Papa Leão Io enviou a Constantinopla o cardeal Humberto de Silva Candidar, acompanhado do secretário Papau e do arcebispo de Amalf para entregar duas cartas.
A primeira ao imperador bizantino Constantino I, com a intenção de formar uma aliança militar para enfrentar os Normandos que estavam invadindo o sul da Itália. A outra era endereçada ao patriarca ortodoxo, com o intuito de repreendê-lo por tentar submeter os patriarcas de Alexandria e Antioquia ao seu controle, assim como por adotar o título de patriarca ecumênico, ou seja, universal. Mas o principal ponto dessa carta foi obrigar o patriarca de Constantinopla a reconhecer o Papa de Roma como chefe de todas as igrejas.
Miguel Culário rejeitou o mandato para Paulo e em 16 de julho de 1054, 3 meses após a morte do Papa Leão Io e 9 meses antes do próximo Papa assumir, Humberto de Silva candidar e seus companheiros depositaram no altar da igreja de Santa Sofia, que estava preparada para a celebração de oficialização da Divina Liturgia, uma bula de excomunhão, de celulário e todos os seus aporadores. Ao saber disso, Miguel Cerulário respondeu escomugando Humberto e seus companheiros num sínodo realizado quatro dias depois, ou seja, no ano de 1054, houve uma verdadeira cruzada de comunhões mútuas e a historiografia decidiu escolher essa data como a marca da ruptura formal entre católicos e ortodoxos. Porém, autores da época não escreveram sobre nenhum acontecimento significativo, pois as relações entre as duas igrejas praticamente não mudaram.
Talvez a data ideal para realmente dividir as duas igrejas seja o ano de 1182, quando o imperador bizantino Andrônico I, Coneno, permitiu o assassinato de dezenas de milhares de católicos e comerciantes latinos que viviam em Constantinopla, incluindo mulheres e crianças pelas mãos de uma multidão furiosa. Isso destruiu de vez a imagem dos bizantinos no ocidente. Mas o pior momento da relação entre latinos e bizantinos foi quando houve um saque brutal em Constantinopla pela quarta cruzada proclamada pelo Papa Inocêncio I, que ocorreu em 1204, considerada a ruptura total entre católicos e ortodoxos.
Bem, em resumo, percebemos que ao longo dos séculos, diferenças políticas, culturais e religiosas transformaram a unidade cristã num cisma irreversível, o que começou com disputas de poder e interpretações teológicas, culminou em comunhões mútuas, massacres e um rompimento que até hoje divide o cristianismo oriental do ocidental, o grande sisma do Oriente de 1054. Qu não foi um ponto final, mas o marco simbólico de uma separação que ainda ressoa a história da fé. Que achou desse tema?
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Grato pela sua companhia sempre tão especial. A gente se vê no próximo vídeo.