O milionário abandonou sua esposa por ela ser infértil e incapaz de lhe dar herdeiros. Tempos depois, ele ficou chocado ao ver sua ex-esposa com gêmeos idênticos a ele. Silvia estava sentada no sofá da sala, abraçada a uma almofada, com os olhos fixos na televisão, embora não estivesse assistindo a nada. Era mais um daqueles programas de reforma de casas, mas tudo parecia distante. Na cabeça dela, só havia uma coisa: a consulta que acabara de acontecer. Mais uma tentativa, mais uma rodada de exames, mais um médico explicando que ainda havia esperança. Ela queria acreditar nisso, mas
já era difícil. Eram anos tentando. Ela e Eduardo tinham começado com toda a empolgação do mundo. No começo, era divertido pensar nos nomes dos filhos, imaginar se seriam parecidos com ela ou com ele, planejar o quarto do bebê. Eduardo até chegou a montar um berço em um dos quartos de hóspedes, mesmo sem ela estar grávida ainda. "Vai ser um aquecimento", ele disse, rindo. Naquele dia, Silvia tinha certeza de que tudo ia dar certo, mas os meses passaram. Depois vieram os anos. No início, eles tentaram do jeito normal, como o médico chamava. "Sem pressão, só relaxem",
ele dizia. Mas como é que relaxa quando cada ciclo menstrual é como um soco no estômago? Silvia fazia de tudo para não se desesperar, mas cada vez que sentia cólicas ou via aquela maldita cor no papel higiênico, era como se o sonho dela se afastasse mais um pouco. Quando o jeito normal não deu certo, vieram os tratamentos. Primeiro, medicamentos para estimular a ovulação. O médico disse que era simples, mas não contou que os remédios viriam com efeitos colaterais que pareciam um combo de inferno: enjoos, dor de cabeça, cansaço extremo e, claro, o impacto emocional. Ela
se sentia inútil, como se o problema todo fosse dela. Eduardo tentava ajudar, mas mesmo ele, aos poucos, começou a parecer cansado de tudo aquilo. Os dias de consulta eram os piores; cada vez que sentavam no consultório, Silvia segurava a mão de Eduardo com tanta força que os dedos dela ficavam brancos. Ele fingia que estava tudo bem, mas ela sabia que ele também estava cansado. Principalmente quando os exames começaram a apontar que o problema não era só dela. Foi um baque descobrir que Eduardo tinha uma contagem de esperma abaixo do normal. Ele ficou irritado, passou semanas
evitando o assunto, depois decidiu mergulhar no trabalho: "Quanto mais eu me ocupar, menos eu penso nisso", ele dizia. Só que Silvia sabia que era uma fuga. Ela estava ali, se sentindo sozinha, e ele ficava cada vez mais ausente. Apesar de tudo, ela não desistiu. Eles decidiram partir para fertilização in vitro. Silvia se enchia de esperanças toda vez que começavam um novo ciclo. Ela aguentava as injeções diárias de hormônios que deixavam sua barriga cheia de marcas roxas, suportava as consultas constantes, os ultrassons, os exames de sangue. Tudo valia a pena porque, no fundo, ela acreditava que
ia funcionar. Na primeira tentativa, ela se sentiu como se estivesse flutuando. Quando o médico disse que o embrião tinha sido implantado, Silvia começou a planejar tudo na cabeça. Não queria contar para ninguém ainda, mas já tinha olhado roupinhas pela internet. Eduardo parecia mais animado dessa vez, embora ela notasse que ele evitava falar muito sobre o assunto. Quando o teste deu negativo, foi como se o chão desaparecesse. Eduardo ficou arrasado, mas não demonstrou muito: "Vamos tentar de novo", ele disse, como se fosse algo simples para ele. Talvez fosse, mas para Silvia era mais do que isso;
era o corpo dela, a esperança dela, o fracasso que ela sentia tão forte dentro de si. Eles tentaram mais duas vezes. Na segunda, ela achou que tinha dado certo; sentiu sintomas que pareciam gravidez: enjoos, tontura, os seios mais sensíveis. Mas o médico explicou que era só efeito dos hormônios. O terceiro ciclo foi ainda mais cruel. O embrião chegou a implantar, mas depois o médico disse que houve uma perda precoce. "É normal, acontece muito", ele explicou, mas Silvia não queria ouvir. Para ela, parecia o fim. Silvia acordou naquela manhã com a sensação de que algo estava
fora do lugar. Não era nada específico, pelo menos não que ela pudesse apontar com clareza, mas a distância que sentia de Eduardo parecia mais forte do que nunca. Ele já não dormia do lado dela como antes, sempre dando desculpas: "Trabalhei demais hoje", "O projeto está atrasado" ou "Só vou terminar umas coisas no escritório". No fundo, ela sabia que tinha algo errado, só não conseguia dizer o que era. Ao longo dos anos, as conversas entre os dois tinham mudado. No começo do casamento, eles falavam de tudo. Eduardo chegava em casa animado, contando sobre os desafios no
trabalho, e Silvia respondia com histórias sobre as aulas de inglês que dava para crianças. Eles eram parceiros, amigos. Agora parecia que só falavam do essencial: contas, compromissos e, claro, a tentativa de ter filhos. Essa palavra pesava no ar toda vez que um deles a mencionava. Eduardo estava mudando. Silvia via isso, mesmo que ele tentasse esconder. Quando se conheceram, ele era o cara que fazia tudo parecer simples. Ele ria fácil, gostava de fazer surpresas. Até na época em que o dinheiro era curto, ele encontrava um jeito de transformar qualquer dia comum em algo especial. Uma vez,
eles comeram sanduíche no capô do carro, olhando as estrelas. Era a coisa mais boba do mundo, mas ela se sentiu como se estivesse em um filme. Agora, Eduardo estava sempre cansado, sério, distante. Ele se jogava no trabalho com um fervor que antes era reservado para ela. Tudo era sobre o futuro: expandir a empresa, fechar novos negócios, construir uma vida melhor. Silvia não sabia se isso era mesmo para os dois ou se ele só estava tentando escapar do presente. "Você acha que estou me escondendo no trabalho?", ele perguntou uma noite, quando ela decidiu abrir o coração.
Ela hesitou. Mas respondeu: "Acho que você está se escondendo de mim." Eduardo riu, mas não foi um riso leve; foi aquele tipo de riso que parece mais uma forma de evitar o assunto. "Você está exagerando, Silvia. É só uma fase difícil, estamos passando por muita coisa." Ela quis acreditar nele, quis pensar que era só isso, mas nos meses seguintes as coisas só pioraram. As tentativas de engravidar viraram o único foco; quando estavam juntos, era só disso que falavam. Eduardo começou a evitar até mesmo os momentos de intimidade. "Agora não", ele dizia, enquanto mexia no celular
ou terminava algum e-mail. Silvia sentia que o desejo entre eles estava crescendo. Não era mais sobre eles dois como casal; era só sobre a obrigação de criar uma família. Um dia, enquanto arrumava o quarto, Silvia encontrou uma foto antiga deles em uma viagem. Os dois estavam rindo, os cabelos bagunçados pelo vento, e Eduardo a assegurava pela cintura. Eles pareciam tão felizes. Silvia se sentou na cama e ficou encarando a foto por vários minutos, tentando entender onde aquilo tinha ido parar. Ela decidiu tentar reaproximar os dois. Planejou um jantar especial com a comida preferida de Eduardo.
Ele chegou tarde, como sempre, e parecia exausto. "Surpresa!", ela disse, tentando soar animada. Eduardo olhou para a mesa posta com velas e a garrafa de vinho e soltou um suspiro. "Silvia, você sabe que eu não tenho cabeça para isso agora." Ela sentiu o coração apertar. "Eu só queria lembrar a gente de como era antes, só isso." Ele sentou à mesa, mas a conversa foi superficial. Eduardo parecia mais interessado no celular do que na comida ou nela. Quando terminou, agradeceu e disse que precisava trabalhar mais um pouco. "Trabalhar mais?" ela perguntou, com um tom de incredulidade.
"Sim, Silvia, é o que eu faço. Alguém precisa manter tudo isso funcionando." Foi ali que ela percebeu o quanto ele a culpava, mesmo sem dizer. Ele nunca falou diretamente que era culpa dela que eles não tinham filhos, mas suas atitudes deixavam isso claro. Ele se via como o cara que estava segurando as pontas, enquanto ela, na cabeça dele, não conseguia cumprir a parte dela. Os dias seguintes foram uma sequência de momentos iguais. Eduardo saía cedo, voltava tarde, e a única coisa que parecia unir os dois era o silêncio. Quando ele estava em casa, a televisão
preenchia o vazio. Às vezes, ele colocava um filme, mas Silvia mal conseguia prestar atenção. Ela se pegava olhando para Eduardo, tentando enxergar o homem que ela tinha amado. Uma noite, eles tiveram uma discussão. Não foi daquelas brigas intensas com gritos e portas batendo; foi uma discussão fria, quase calculada, que de alguma forma machucou ainda mais. "Você acha que eu não me importo?" ele perguntou, sem olhar para ela. "Eu acho que você não está aqui", ela respondeu. Ele não tinha resposta; em vez disso, pegou as chaves e saiu. Silvia ficou sozinha na sala, tentando processar tudo.
Ela queria entender o que tinha dado errado, mas não conseguia encontrar uma única resposta. Parecia que, aos poucos, o amor que os unia tinha sido engolido pela rotina, pela pressão e pela frustração de algo que estava fora do controle deles. Eduardo voltou tarde naquela noite. Ele não disse onde esteve, e Silvia nem perguntou; era como se ele tivesse desistido de tentar. Nos dias seguintes, a distância entre os dois só aumentou. Eduardo começou a evitar Silvia ainda mais. Ele dizia que precisava de espaço, mas ela sabia que o problema não era o espaço físico; era o
espaço emocional que crescia entre eles dia após dia. No fundo, temia que ele procurasse algo além do que ela poderia oferecer. Então entrou Camila na vida de Eduardo, como brisa em um dia quente. Não que Eduardo estivesse exatamente procurando alguém; pelo menos, era isso que ele dizia para si mesmo. Mas o cansaço do casamento com Silvia, a distância crescente e as cobranças constantes o tornaram vulnerável. Camila, com sua inteligência afiada e um charme quase ensaiado, sabia exatamente como explorar isso. Eles se encontraram pela primeira vez em um coquetel organizado por um grande parceiro da construtora
de Eduardo. Camila era assistente do anfitrião, uma posição que ela usava para se infiltrar em círculos sociais. Mas não que ela precisasse disso para chamar atenção; seu sorriso fácil e a maneira como olhava diretamente nos olhos de quem estava falando com ela tinham um efeito hipnotizador. Eduardo notou Camila quando ela se aproximou para oferecer uma taça de champanhe. "Champanhe, senhor Martins." Ele nem se lembrava de ter mencionado seu nome, mas ela já sabia quem ele era; isso não era um acaso. Camila fazia sua lição de casa; ela tinha investigado tudo sobre Eduardo: sua empresa, seu
casamento, até mesmo o drama envolvendo as dificuldades para ter filhos. Ela sabia onde estava pisando e, mais importante, sabia onde ele estava mais vulnerável. "Obrigado", respondeu Eduardo, pegando a taça. Ele não era o tipo de homem que ficava impressionado facilmente, mas a confiança de Camila chamou sua atenção. Ela não era só mais uma mulher bonita no evento; tinha algo diferente, algo que o intrigava. À medida que a noite avançou, Camila encontrou maneiras sutis de aparecer ao redor de Eduardo: um comentário casual aqui, uma risada ali. Quando ele foi para a varanda para escapar da multidão,
ela apareceu ao lado dele com outro copo de champanhe. "Essas festas são sempre tão iguais, não acha?" ela disse, inclinando-se no parapeito. Eduardo olhou para ela, surpreso; ela parecia muito jovem para estar entediada com eventos como aquele. "Você acha? Parecia estar se divertindo." "É o que eu faço melhor: parecer que estou me divertindo." Ela riu suavemente, e Eduardo riu junto, sem entender completamente por que estava tão relaxado perto dela. Eles conversaram por alguns minutos; Camila tinha um jeito de fazer Eduardo se sentir especial, como se ele fosse a única pessoa no mundo. importava naquele momento,
quando ela mencionou que sonhava em um dia trabalhar em algo grandioso, algo que realmente fizesse diferença. Eduardo ficou impressionado; ele sempre admirou a ambição, e ela sabia disso. — Você já está no caminho certo — ele disse. — Talvez, mas alguns caminhos são mais difíceis que outros — respondeu Camila, olhando diretamente para ele. Era uma frase simples, mas Eduardo sentiu como se ela entendesse algo que nem ele mesmo sabia explicar. Ele não percebeu na hora, mas aquilo foi o começo de algo que mudaria tudo. Nos dias seguintes, Camila encontrou outras oportunidades de cruzar o caminho
de Eduardo. Primeiro, foi em uma reunião casual no escritório do parceiro comercial; depois, em um almoço onde ela estava por acaso. Cada vez, ela encontrava uma forma de conversar com ele, de mostrar que entendia seus desafios, seus desejos, suas frustrações. O problema era que Eduardo estava começando a gostar da atenção. Ele nunca diria isso em voz alta, nem para si mesmo, mas as conversas com Camila eram diferentes. Com Silvia, tudo parecia uma cobrança, um lembrete constante de que ele não estava sendo o marido que ela precisava ou o homem que deveria ser. Com Camila, era
leve; ele podia relaxar. Claro, ele sabia que aquilo era perigoso. Toda vez que Camila ria de alguma piada boba que ele fazia, ou colocava a mão de leve no braço dele enquanto falava, ele dizia a si mesmo que era apenas educação, que não havia nada demais, mas no fundo ele sabia que estava se aproximando de um limite. Camila, por outro lado, sabia exatamente o que estava fazendo. Ela não era o tipo de pessoa que deixava as coisas ao acaso; seu interesse em Eduardo não era apenas pessoal, era estratégico. Ela via nele uma oportunidade de mudar
de vida, de sair da posição de assistente e entrar para um mundo que parecia reservado para outros. Um dia, Eduardo mencionou casualmente os problemas que ele e Silvia estavam enfrentando. Foi a primeira vez que ele falou sobre isso com alguém que não fosse seu advogado ou sua terapeuta. Camila ouviu atentamente, sem interromper, e depois disse algo que ficou na cabeça dele: — Você merece ser feliz, Eduardo. Às vezes, as pessoas esquecem que merecem isso. Aquela frase foi como um botão que ela apertou. Eduardo começou a procurar por ela mais vezes, enviando mensagens, arrumando desculpas para
vê-la. Ele ainda não admitia para si mesmo, mas estava cada vez mais envolvido. Enquanto isso, Camila fazia seu papel: ela não pressionava, não pedia nada, apenas se mantinha disponível, oferecendo exatamente o que Eduardo achava que precisava naquele momento: compreensão, leveza e a ilusão de um futuro sem as complicações que ele enfrentava em casa. Silvia começou a notar as mudanças. Eduardo chegava mais tarde, estava mais ausente. Quando ela perguntava onde ele estava, ele dava respostas vagas, mas ela sentia que algo estava errado. Ainda assim, ela não tinha ideia de quem era Camila ou o que estava
acontecendo nos bastidores, e Camila, com um sorriso discreto, continuava se aproximando, esperando o momento certo para dar o próximo passo. Silvia estava na cozinha, tentando cortar alguns legumes para o jantar, mas sua cabeça estava longe. A faca tremia em sua mão, e o simples ato de cortar uma cenoura parecia impossível. Ela tinha percebido mudanças em Eduardo há meses, mas sempre empurrava o pensamento para longe. "Ele está só do trabalho", dizia a si mesma. Só que ultimamente o cansaço dele vinha acompanhado de mensagens que ele respondia longe dela, viagens de negócios que pareciam mais frequentes e,
principalmente, uma distância emocional que ela não conseguia ignorar. Naquela noite, ela se forçou a perguntar diretamente: — Eduardo, o que está acontecendo com você? Ele olhou para ela do outro lado da sala, onde estava mexendo no celular, como se ela tivesse feito a pergunta mais inconveniente do mundo. — Como assim, o que está acontecendo comigo? Nada, não é nada. Você mal fala comigo, mal me olha. Eu sei que tem alguma coisa errada. Ele soltou um suspiro pesado e jogou o celular na mesa de centro, o som ecoando pela sala. — Silvia, eu estou exausto. Não
posso nem chegar em casa e relaxar sem você ficar me acusando. Ela queria gritar, mas respirou fundo. — Eu não estou te acusando, só quero entender o que está acontecendo. Por que você está assim comigo? Assim como eu trabalho, eu pago as contas, e você ainda reclama que eu não sou suficiente. O que mais você quer de mim? — Silvia, eu quero você de volta — ela disse, com a voz quebrada. — Eu quero o Eduardo que me amava, que fazia planos comigo, que acreditava em nós dois. Onde ele está? Ele ficou em silêncio por
alguns segundos, mas aqueles segundos pareceram uma eternidade. O olhar dele era vazio, como se ela fosse uma lembrança distante e não a pessoa que dividia a vida com ele. — Talvez ele não exista mais — Eduardo disse, baixinho, mas o suficiente para esmagar o coração de Silvia. Ela não conseguiu responder; as lágrimas vieram antes das palavras. Ela virou as costas e foi para o quarto, mas por dentro sabia que algo maior estava por trás daquela frieza. As semanas seguintes foram um tormento. Eduardo estava cada vez mais ausente, e Silvia sentia que ele simplesmente não se
importava mais. Até que, em um sábado à tarde, enquanto organizava os papéis da casa, Silvia encontrou algo que não deveria estar lá: um recibo de hotel. A data batia com uma das viagens de negócios de Eduardo, e seu coração disparou. Ela tentou respirar, mas parecia que o ar tinha desaparecido da sala. Por mais que tentasse se convencer de que aquilo não significava nada, a verdade estava bem ali na frente dela: Eduardo estava traindo-a. Quando ele chegou em casa naquela noite, Silvia estava esperando por ele na sala, com o recibo na mão. — Você quer me
explicar o que é isso? Eduardo parou na entrada, o rosto congelando. Um momento antes de ele retomar sua postura confiante, onde você achou isso? Isso não importa; o que importa é que você me explique por que tem um recibo de hotel em seu nome. Ele não tentou negar, não tentou se justificar; apenas cruzou os braços e encarou Silvia com uma expressão que ela não reconhecia. — Eu não queria que você descobrisse assim — ele disse, sem emoção. — Então é verdade? — A voz dela saiu baixa, quase um sussurro. Ele deu um passo para a
frente, mas não tentou tocá-la. — Silvia, eu não queria te machucar, mas nós dois sabemos que nosso casamento acabou há muito tempo. Ela ficou em silêncio, tentando absorver aquelas palavras. — Acabou? Como assim, acabou? — Ela ainda estava ali, lutando todos os dias para que eles dessem certo. Como ele podia simplesmente desistir? — Quem é ela? Eduardo hesitou, mas depois respondeu: — Camila. A revelação foi um soco no estômago. Silvia sabia quem era Camila, a jovem assistente que parecia estar sempre por perto nos eventos sociais de Eduardo. Ela nunca imaginou que algo pudesse acontecer entre
eles, mas agora tudo fazia sentido. — Você está com ela? — Sim. Foi como se o mundo desabasse sobre Silvia. Naquele momento, ela sentiu as pernas falharem e precisou se sentar. Eduardo observava, mas não havia arrependimento no rosto dele; ele parecia aliviado. — Eu vou sair de casa — ele disse, depois de um longo silêncio. — Acho que é o melhor para nós dois. — Você acha? — Silvia respondeu com raiva, pela primeira vez naquela conversa. — Você destrói nosso casamento e agora decide que sair de casa é o melhor para nós dois? Você é
inacreditável, Eduardo. Ele não respondeu, pegou uma mala, colocou algumas roupas e saiu, deixando Silvia sozinha na sala, com o recibo de hotel ainda em sua mão trêmula. Os dias seguintes foram um borrão de advogados, papéis e lágrimas. Eduardo foi direto ao ponto; ele queria o divórcio e não estava disposto a discutir muito sobre isso. Ele já tinha decidido que Camila era o futuro. Silvia, por outro lado, estava em pedaços. Não era apenas a dor de perder o marido; era o peso de tudo que eles haviam construído juntos, de todos os sonhos que agora estavam desmoronando.
A dor era esmagadora, mas, ao mesmo tempo, algo dentro dela começou a mudar. Ela percebeu que Eduardo não era mais o homem que ela amava. Talvez ele nunca fosse voltar a ser, mas isso não significava que ela iria desistir de si mesma. Enquanto Eduardo se afastava cada vez mais, mergulhando em sua nova vida com Camila, Silvia começou, aos poucos, a encontrar forças dentro dela que nem sabia que tinha. Mesmo que naquele momento tudo parecesse perdido, uma parte dela sabia que aquela história ainda não tinha acabado; não do jeito que Eduardo e Camila estavam imaginando. Camila
sabia o que queria e, mais importante, como conseguir. Ela não chegou até Eduardo por acaso; não foi sorte ou coincidência. Camila era calculista, e cada passo que ela deu foi planejado. Agora, ela tinha Eduardo na palma da mão, mas o problema era mantê-lo lá. E, para isso, ela precisava dar o golpe mais ambicioso da sua vida. Na cabeça de Eduardo, Camila era a solução de todos os problemas. Ela era jovem, cheia de vida e, mais importante, parecia pronta para dar a ele o que Silvia não conseguiu: um filho. Camila sabia que esse era o ponto
fraco dele, a peça que faltava no quebra-cabeça que Eduardo tanto queria montar. Então, ela fez o que qualquer pessoa em busca de uma vantagem faria: criou uma mentira tão grande que parecia impossível de questionar. Ela começou a plantar a ideia devagar, de maneira sutil. Durante um jantar, ela deixou escapar: — Eu sempre quis ter filhos, mas claro, quero fazer isso com a pessoa certa. Eduardo ouviu aquilo e viu uma oportunidade. Em sua mente, ele e Camila eram um novo começo, uma chance de finalmente ter o herdeiro que tanto desejava. Depois de algumas semanas de namoro,
Camila deu o próximo passo. — Eduardo, você já pensou em como seria nossa vida se, você sabe, tivéssemos um filho? Eduardo sorriu; não era apenas um, era o que ele mais queria. Ele se aproximou, segurou as mãos dela e respondeu: — Seria tudo o que eu sempre sonhei. E era isso que Camila precisava ouvir. A partir daquele momento, o plano estava em movimento. Camila sabia que não podia simplesmente engravidar; não porque não quisesse, mas porque isso exigia tempo, e ela não tinha tempo. Eduardo era impaciente, e Camila precisava garantir que ele estivesse totalmente comprometido com
ela antes que algo desse errado. Foi aí que surgiu a ideia da falsa gravidez. Ela começou pesquisando na internet; era impressionante o que podia ser encontrado com alguns cliques: barrigas de silicone que imitavam a aparência de uma gestação, exames falsificados e até receitas para sintomas de gravidez que podiam enganar qualquer um. Camila se preparou como uma atriz se preparando para o papel da vida dela. Uma manhã, depois de alguns dias em que ela fingiu estar enjoada e mais cansada que o normal, Camila apareceu na casa de Eduardo com um teste de gravidez na mão. —
Edu, eu… eu acho que estou grávida. Ele ficou parado por alguns segundos, como se estivesse tentando processar a informação. — O quê? Sério? — Camila, isso é incrível! Ele a abraçou tão forte que ela quase perdeu o equilíbrio. — Claro! — Eduardo pediu para que ela confirmasse com o médico. Ele era prático, e Camila sabia que precisava estar preparada. Então, antes mesmo de mostrar o teste, ela já tinha um plano: pagou um laboratório clandestino para criar um exame falso mostrando claramente que ela estava grávida de algumas semanas. Quando entregou o resultado a Eduardo, ele ficou
emocionado. Pela primeira vez em meses, ele parecia genuinamente feliz, e Camila soube naquele momento que o golpe estava funcionando. Mas fingir uma gravidez não era tão simples quanto Camila tinha imaginado. Eduardo queria estar presente. Em cada momento, ele começou a insistir para acompanhá-la nas consultas médicas. Para evitar isso, ela criou desculpas: “Ah, o médico é meio tradicional, prefere atender só a paciente” ou “É só um exame de rotina, nada importante.” Mas Eduardo era persistente, e Camila sabia que ele acabaria desconfiando se ela continuasse afastando-o. Foi aí que entrou Irene, uma enfermeira que trabalhava em um
hospital onde Camila tinha alguns contatos. Irene estava passando por dificuldades financeiras, e Camila convenceu-a a ajudá-la em troca de uma boa quantia em dinheiro. “É simples,” explicou Camila. “Você só precisa me ajudar a montar a sala, parecer que está fazendo exames e, no final, confirmar que está tudo bem. Eduardo não vai questionar nada.” Irene hesitou, mas o dinheiro era mais convincente do que a moralidade. Assim, Camila criou uma fachada perfeita: cada vez que Eduardo insistia em ir ao médico, ele era recebido por Irene, que fazia tudo parecer legítimo. Camila também sabia que Eduardo ia começar
a notar mudanças em seu corpo, então começou a usar a barriga de silicone. No começo, era difícil; ela não estava acostumada com o peso extra, mas rapidamente aprendeu a usá-la como se fosse real. Eduardo, ingênuo e empolgado, não fazia ideia de que estava sendo enganado. Com o passar dos meses, Eduardo começou a planejar o futuro com entusiasmo. Ele comprou móveis para o quarto, contratou um arquiteto para reformar a casa e até começou a pensar em nomes. Camila, por outro lado, sabia que estava andando em uma corda bamba; qualquer erro podia expor tudo, mas ela era
cuidadosa. Quando Eduardo sugeriu fazer um ultrassom para descobrir o sexo do bebê, ela se antecipou: “Prefiro esperar até mais tarde,” disse ela com um sorriso doce. “Quero que seja uma surpresa.” Eduardo aceitou, achando que era uma daquelas coisas emocionais que as mulheres grávidas fazem. A cada dia, Camila ficava mais confiante de que estava no controle. Eduardo estava completamente envolvido, convencido de que ela era a mulher que mudaria sua vida. O que ela não sabia era que, em breve, seus próprios passos em falso começariam a abrir rachaduras no plano perfeito que ela tinha criado. Silvia sentia
que estava presa em um pesadelo, mas não o tipo de pesadelo em que você acorda suada e aliviada porque era só um sonho; esse era real e parecia que não ia acabar. Os primeiros dias após Eduardo sair de casa foram um borrão; ela não conseguia comer, não conseguia dormir, e cada vez que fechava os olhos, era invadida pelas imagens dele e Camila juntos. Sua mente, sem piedade, criava cenários: Eduardo segurando a mão de Camila, rindo com ela, prometendo coisas que antes pertenciam ao casamento deles. Era como se sua vida tivesse sido arrancada dela, e o
que sobrou fosse apenas um vazio esmagador. A casa parecia enorme e assustadoramente silenciosa; os corredores ecoavam lembranças: risos, discussões bobas, planos para um futuro que agora não existia mais. O quarto que deveria ter sido do bebê continuava vazio, como um lembrete cruel do que ela nunca conseguiu alcançar. Um dia, enquanto limpava a casa para tentar distrair a mente, Silvia encontrou uma camisa de Eduardo jogada no fundo do armário. O cheiro dele ainda estava lá, misturado com o perfume que ela conhecia tão bem. Ela abraçou-a como se fosse a última conexão com a vida que tinha
antes. Ali, sentada no chão do quarto, ela chorou como nunca havia chorado antes: chorou por Eduardo, chorou por si mesma, chorou por todas as vezes que tentou ser forte, mas sentia que tinha falhado. Silvia tentou continuar com a rotina, porque parecia que era isso que as pessoas esperavam que ela fizesse. Ela ia ao mercado, dava suas aulas de inglês e até forçava um sorriso quando encontrava conhecidos na rua, mas por dentro, ela estava despedaçada. Na verdade, ela estava exausta, não só fisicamente, mas emocionalmente. Cada dia era uma luta para levantar da cama. As noites eram
as piores, quando o silêncio tomava conta da casa. Silvia se sentia engolida pelos próprios pensamentos; ela revivia cada momento com Eduardo, tentando entender onde as coisas deram errado. Perguntas rodavam na sua cabeça como um disco arranhado: “Eu poderia ter feito algo diferente? Será que foi minha culpa? E se eu tivesse tentado mais?” Ela evitava o espelho, não queria encarar a mulher que via ali, porque não reconhecia mais aquela pessoa. Ela parecia frágil, cansada, como se tivesse envelhecido anos em poucos meses. Um dia, enquanto estava no sofá assistindo a um programa qualquer só para preencher o
vazio, seu celular vibrou: era uma mensagem de uma amiga de longa data, Ana. “Oi, Silvia! Estava pensando em você. Quer conversar?” Silvia olhou para a mensagem por vários minutos antes de responder. Parte dela queria ignorar, mas outra parte, a parte que estava desesperada por qualquer forma de conexão humana, respondeu com um simples “sim”. Ana apareceu na casa dela no dia seguinte com café e um bolo que tinha feito. Era uma tentativa de trazer conforto, mas Silvia mal conseguiu comer. Sentaram-se na sala, e Ana tentou puxar conversa: “Eu sei que você está passando por muita coisa,
mas quero que você saiba que não está sozinha, tá?” Silvia assentiu, mas não conseguiu responder. A verdade era que ela se sentia sozinha. Eduardo tinha ido embora; o casamento, que era a base da sua vida, tinha desmoronado, e agora parecia que ela não tinha mais nada. Uma tarde, Silvia decidiu sair de casa para tomar um ar. Pegou o carro e foi até um parque que costumava frequentar com Eduardo. Enquanto andava pelos caminhos cobertos de árvores, viu uma família brincando no gramado. O pai jogava uma bola para a filha pequena, que corria e ria alto. Silvia
parou, prestes a desviar o olhar. Ela queria aquilo, sempre quis, mas agora parecia tão distante, tão impossível. Era como se a vida estivesse rindo dela, mostrando exatamente o que ela nunca teria. Se sentou em um banco, olhando para o céu, e deixou as lágrimas escorrerem. As pessoas passavam, mas ninguém notava; era como se ela fosse invisível. Naquele momento, Silvia percebeu que estava no fundo do poço. Ela tinha perdido o marido, o sonho de construir uma família e, acima de tudo, a confiança em si mesma. Era como se cada peça da sua vida tivesse sido tirada,
deixando apenas um buraco que ela não sabia como preencher. Mas, no fundo daquele vazio, uma pequena voz começou a sussurrar; era quase imperceptível, mas estava lá. Uma parte dela, por menor que fosse, queria lutar; não por Eduardo, não pelo casamento, mas por ela mesma. Ainda assim, naquele momento, tudo parecia pesado demais para suportar. A chuva caía pesada naquela noite, cobrindo São Paulo com um manto de água e barulho. Silvia, sentada no táxi, olhava pela janela sem realmente ver nada; as luzes dos postes e dos carros passavam como borrões no vidro embaçado. Seu coração estava pesado,
mas ela sabia que não podia evitar; precisava estar naquele jantar. Eduardo insistira que fosse, e, apesar de tudo, ela achava que talvez fosse sua última chance de ter algum tipo de conversa honesta com ele. Quando o táxi parou na frente do restaurante, Silvia respirou fundo. Ela sabia que Camila estaria lá, e isso fazia sua garganta apertar. Não sabia como enfrentaria os dois juntos, mas tinha decidido que não ia se esconder. Pegou sua bolsa, pagou o motorista e entrou no restaurante, ajustando o casaco. O lugar era luxuoso, um dos preferidos de Eduardo; estava lotado naquela noite.
As risadas, o som de talheres e os passos dos garçons ecoavam em um ritmo que só deixava Silvia mais ansiosa. No canto do salão, ela avistou Eduardo e Camila, sentados em uma mesa perto da janela. Eduardo acenou quando a viu, mas sua expressão não mostrava nenhuma emoção. Camila, por outro lado, exibiu um sorriso que Silvia reconheceu imediatamente: superioridade. "Que bom que você veio," Silvia. Eduardo disse enquanto ela se aproximava; ele nem sequer se levantou. "Eu vim porque você insistiu," respondeu Silvia, tentando manter a voz firme, mas era difícil; ela sentia os olhos de Camila sobre
ela, avaliando cada movimento. Camila estava impecável, vestia um vestido justo e elegante que parecia completamente à vontade. Ela não disse nada, apenas ergueu a taça de vinho como se fosse parte de um espetáculo em que Silvia era apenas a figurante. Silvia sentou-se na cadeira ao lado de Eduardo e, por alguns minutos, ninguém disse nada. O garçom trouxe o cardápio, mas ela nem abriu; não estava ali para comer. "Então, por que você me chamou aqui?" Silvia perguntou, finalmente. Eduardo hesitou por um momento, como se procurasse as palavras certas. "Eu achei que era hora de ser claro
sobre tudo. Nós estamos seguindo em frente, Silvia. Eu e Camila; nós vamos construir uma vida juntos." As palavras saíram de sua boca como punhais. Silvia sentiu o chão desabar, mas manteve a expressão firme. "Seguir em frente? É assim que você chama isso? Você destruiu o nosso casamento!" Eduardo suspirou como se estivesse cansado, mas Camila foi mais rápida em responder. "Silvia, acho que todos nós sabemos que esse casamento já tinha acabado há muito tempo." Silvia virou-se para Camila, o sangue fervendo. "Você não tem o direito de falar sobre o meu casamento. Não estava lá quando eu
e Eduardo construímos tudo isso!" Camila apenas deu um sorriso de canto, como quem sabia que já tinha vencido. Eduardo levantou as mãos como se quisesse encerrar a discussão. "Chega! Eu não te chamei aqui para brigar. Eu só queria que você soubesse que tomei minha decisão." Silvia não sabia o que dizer; ela queria gritar, mas sua garganta parecia travada. Eduardo tinha acabado de destruir qualquer esperança que ela ainda tinha de salvar o que restava entre eles. Depois de alguns minutos em silêncio constrangedor, Silvia não aguentou mais e se levantou. "Isso foi um erro, eu não devia
ter vindo." Enquanto ela se afastava da mesa, Eduardo chamou por ela, mas ela não parou; estava tão consumida pela raiva e pela dor que mal percebeu o som dos passos apressados atrás de si. "Silvia, espera!" chamou Camila, com um tom falso de preocupação. Silvia parou no meio da escada que levava à saída; ela se virou para encarar Camila. "O que você quer agora? Não basta ter roubado meu marido?" Camila subiu os degraus, aproximando-se lentamente. "Eu só queria dizer que você precisa aceitar a realidade. Eduardo não te ama mais, Silvia, ele me escolheu." Silvia sentiu um
nó na garganta, mas não deixou que Camila visse. "Você acha que isso é amor? Ele vai perceber quem você realmente é, e quando isso acontecer, eu quero estar longe para não precisar assistir." Camila deu um passo ainda mais próximo; agora, elas estavam cara a cara, e o sorriso dela desapareceu. "Você acha que vai sair dessa como vítima, Silvia? Ninguém vai sentir pena de você." Antes que Silvia pudesse responder, sentiu um empurrão. Foi rápido, mas pareceu acontecer em câmera lenta; seu corpo desequilibrou e ela caiu para trás, rando pelos degraus. Tudo aconteceu em segundos; as pessoas
ao redor gritaram, garçons correram, e Eduardo surgiu na entrada do salão, visivelmente chocado. Silvia estava no chão, imóvel, enquanto o som das sirenes de uma ambulância começava a ecoar ao longe. Camila, no topo da escada, fingia estar em choque, levando a mão à boca. "Foi um acidente," ela gritou. "Ela caiu sozinha!" Mas Eduardo não respondeu; ele apenas olhava para Silvia e, pela primeira vez em muito tempo, havia algo em seu rosto além de indiferença: medo. O som da sirene da ambulância ainda ecoava nos ouvidos de Silvia enquanto ela era levada às pressas para o hospital.
Tudo parecia borrado; as luzes passando rápido pela janela, as vozes apressadas dos paramédicos e a dor que pulsava em cada parte do seu corpo. Ela tentou abrir os... Olhos, mas tudo que conseguia era fragmentos. A mão de alguém tocou seu ombro. Talvez para tranquilizá-la, mas ela mal registrou. No fundo, ela achava que aquele era o fim, depois de tudo que já havia perdido. Talvez fosse mais fácil simplesmente deixar tudo ir embora. Quando chegaram ao hospital, a equipe médica não perdeu tempo; um médico alto e sério começou a dar ordens enquanto enfermeiras a preparavam para uma
bateria de exames. Era como se o mundo estivesse acontecendo rápido demais, mas ao mesmo tempo cada segundo fosse uma eternidade. — Silvia, você me ouve? — perguntou o médico, aproximando-se dela. Ela tentou responder, mas sua voz saiu fraca, quase inaudível. — Não se preocupe. Vamos cuidar de você — ele disse, enquanto ajustava a máscara de oxigênio em seu rosto. Horas se passaram, mas para Silvia parecia que o tempo tinha congelado. Quando finalmente acordou, estava em um quarto de hospital, com a luz branca do teto quase cegando seus olhos. Sentiu uma dor aguda no corpo, como
se cada músculo estivesse reclamando. Sua mente estava confusa, tentando juntar os pedaços do que tinha acontecido. Foi então que viu um rosto familiar ao lado de sua cama; era Gabriel Nogueira, o pediatra que ela conhecia de vista, mas com quem nunca tinha tido muito contato. Ele trabalhava no hospital e parecia ter sido designado para cuidar do seu caso. — Oi, Silvia — ele disse, com um tom calmo e tranquilizador. — Como você está se sentindo? Ela tentou falar, mas a garganta estava seca. Ele pegou um copo com água e ajudou-a a beber um gole. —
Você sofreu uma queda feia — ele continuou. — Teve algumas lesões internas, mas, por sorte, nada muito grave. Vamos precisar monitorar por alguns dias. Ela sentiu, ainda sem entender completamente o que ele dizia; havia algo nos olhos de Gabriel que parecia preocupado. — Tem mais uma coisa que precisamos conversar — ele disse, depois de uma pausa. — Mas quero que você respire fundo, ok? Silvia sentiu o coração acelerar; algo em sua expressão dizia que ele estava prestes a dizer algo que mudaria tudo. — Durante os exames, descobrimos que você está grávida. Por um momento, o
mundo parou. As palavras dele ecoaram na mente dela como se alguém tivesse gritado em um espaço vazio. — Grávida? Não pode ser! — ela conseguiu dizer, com a voz rouca. Gabriel balançou a cabeça com um sorriso gentil. — Eu sei que parece inesperado, mas os exames confirmaram. E tem mais uma coisa... Ela mal conseguia respirar. — Mais uma coisa... são gêmeos! Silvia piscou várias vezes, tentando absorver o que ele dizia. Tudo o que vinha em sua mente era que isso não fazia sentido; ela tinha passado anos tentando engravidar, anos enfrentando tratamentos frustrados e resultados... como
isso podia estar acontecendo agora, depois de tudo? Gabriel percebeu sua confusão. — Eu sei que isso é muito para processar, mas o mais importante é que você está grávida — ele levou a mão instintivamente ao abdômen, mesmo que ainda não sentisse nada. Bebês... ela estava carregando vidas dentro de si. Um misto de emoções tomou conta dela: felicidade, medo, incredulidade. — Isso é real? — ela perguntou, quase como se estivesse pedindo para alguém confirmar que não era um sonho. — É real — Gabriel respondeu. — E com os cuidados certos, você e os bebês têm boas
chances. Nos dias seguintes, Silvia ficou em repouso absoluto. Os médicos faziam exames constantes para garantir que os gêmeos estavam bem, mas o risco ainda era grande. Cada vez que o enfermeiro entrava no quarto, ela prendia a respiração, com medo de ouvir uma má notícia. Camila e Eduardo não apareceram, e de certa forma, Silvia estava aliviada por isso. Ela não sabia como reagiria se visse os dois naquele momento. Por enquanto, tudo o que importava era proteger os filhos que, contra todas as probabilidades, estavam ali. Uma tarde, enquanto Gabriel ajustava os exames ao lado da cama, Silvia
perguntou: — Você já viu algo assim antes? Quero dizer, uma gravidez acontecer depois de tantos anos de tentativas frustradas? Ele sorriu, como se já esperasse a pergunta. — A medicina ainda tem seus mistérios. Às vezes, a natureza encontra um jeito, mesmo quando pensamos que é impossível. Silvia ficou em silêncio, refletindo sobre aquilo; era quase impossível acreditar, mas ao mesmo tempo parecia que havia uma nova chama acesa dentro dela, uma razão para lutar, para se levantar do fundo do poço onde estava. A notícia da gravidez de Silvia trouxe uma mistura de sentimentos que ela nem sabia
como processar. De um lado, havia um tipo de alegria que ela nunca tinha sentido antes, um milagre que ela nem sabia que ainda podia esperar. Mas do outro, havia medo, muito medo. Desde o momento em que Gabriel contou sobre os gêmeos, ficou claro que essa não seria uma gravidez comum. Sua queda causou alguns traumas, ele explicou numa tarde tranquila enquanto ajustava os exames no quarto dela. — Há um descolamento parcial da placenta e isso coloca os bebês em risco. Mas eles estão bem agora, não estão? — Silvia perguntou, com os olhos fixos nele, quase implorando
por uma resposta positiva. — Eles estão estáveis, mas precisamos ser muito cuidadosos — Gabriel respondeu, mantendo aquele tom calmo e profissional. — Você vai precisar de repouso absoluto e acompanhamento constante. Vamos monitorar de perto, mas as próximas semanas são cruciais. Silvia sentiu, mas as palavras "repouso absoluto" atingiram-na como uma sentença. Ela não era o tipo de pessoa que sabia ficar parada, mas agora não tinha escolha; a vida dos bebês dependia disso. Os dias no hospital eram longos e solitários. Silvia se pegava olhando pela janela do quarto, observando o movimento lá fora. Era estranho pensar que
o mundo continuava girando enquanto ela estava ali, parada, lutando para manter aqueles pequenos corações batendo dentro dela. Os médicos vinham com frequência, fazendo exames e trazendo atualizações. Gabriel era quem sempre parecia mais... Próximo, explicando as coisas com paciência, como se entendesse que Silvia precisava de mais do que palavras técnicas, ele fazia questão de mostrar os batimentos dos gêmeos no monitor. O som rítmico, que agora era a música favorita dela. "Está vendo isso aqui?" ele disse, apontando para a tela. "Em um dos ultrassons, eles são fortes. Você também é. Vamos conseguir passar por isso juntos." As
palavras de Gabriel eram reconfortantes, mas Silvia não conseguia afastar o medo que crescia dentro dela. Cada pequena dor ou desconforto a fazia imaginar o pior, e as noites, ah, as noites eram as piores. Às vezes, no silêncio do quarto, ela colocava a mão na barriga e falava baixinho com os bebês; era quase como uma oração, algo para aliviar o peso que carregava. "Eu sei que vocês são fortes," ela dizia, tentando esconder o tremor na voz. "Mas eu preciso que aguentem firme, tá? A mamãe tá aqui, a gente vai sair dessas juntos." Ela mal conseguia acreditar
que estava grávida, mas o medo de perder aqueles pequenos milagres era ainda mais difícil de aceitar. Os riscos eram altos, e os médicos deixaram isso bem claro. Um dia, Gabriel sentou-se ao lado dela, como fazia quando precisava discutir algo sério. "Silvia, eu preciso que você entenda que essa gravidez é de risco. Estamos fazendo tudo o que podemos para garantir que os bebês fiquem bem, mas também precisamos pensar em você. Se houver alguma complicação mais grave..." Ele hesitou, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado. "Você está dizendo que eu posso não sobreviver?" Silvia perguntou, diretamente,
com os olhos cheios de lágrimas. "Não quero que você pense no pior, mas sim, há riscos para sua saúde. Nosso foco é proteger você e os bebês, mas precisamos estar preparados para qualquer coisa." Ela engoliu em seco; era como se todo o peso do mundo tivesse caído sobre seus ombros. Ainda assim, olhou diretamente para ele e respondeu com firmeza: "Eu não vou desistir deles, Gabriel! Eles são tudo o que eu tenho." Ele assentiu, respeitando a determinação dela, mas o olhar em seu rosto mostrava que estava preocupado. Os dias seguintes foram uma montanha-russa emocional. Houve momentos
de esperança, como quando os exames mostraram que os bebês estavam crescendo bem, mesmo com todas as dificuldades, mas também houve sustos. Uma noite, Silvia sentiu uma dor forte na barriga; era como se algo estivesse errado, e ela imediatamente apertou o botão para chamar a enfermeira. Gabriel apareceu minutos depois, acompanhado por outra médica. Eles fizeram exames rápidos e descobriram que havia um aumento no descolamento da placenta. "Precisamos agir rápido," disse Gabriel, enquanto instruía a equipe a preparar a sala de ultrassom. Silvia ficou apavorada; ela segurava as mãos do médico como se sua vida dependesse disso. "Por
favor, Gabriel, me diga que eles estão bem!" Ele olhou para ela com sinceridade: "Vamos cuidar de você, Silvia. Não desista." Felizmente, a intervenção foi rápida e os bebês se estabilizaram, mas aquele susto ficou gravado na mente dela. Cada dia que passava, ela sabia que estava caminhando em uma linha fina entre o milagre e a tragédia. Silvia passou a viver cada momento como se fosse o último. Cada vez que ouvia o som dos batimentos dos gêmeos, sentia uma onda de alívio, mas nunca totalmente. O medo continuava lá, como uma sombra que a seguia o tempo todo.
Camila Almeida era uma mulher que não deixava pontas soltas. Para ela, Silvia era uma dessas pontas e, enquanto estivesse ali no hospital, ainda era um problema. Apesar de tudo que tinha conquistado—Eduardo, a atenção da mídia como sua nova companheira e o estilo de vida que sempre sonhou—Camila sabia que sua posição não era completamente segura. Eduardo ainda falava de Silvia com frequência; não era por amor ou preocupação, mas pelo peso que o passado tinha deixado nele. "Ela está grávida dos meus filhos," ele dissera uma noite, mexendo no copo de whisky, com a expressão distante. Essa frase
foi suficiente para acender a raiva em Camila. Grávida? A palavra parecia uma maldição para Camila, especialmente porque sua falsa gravidez era uma bomba-relógio. Eduardo ainda não tinha percebido a farsa, mas a cada semana que passava, ficava mais difícil manter a mentira. Se Silvia tivesse os gêmeos, tudo o que Camila construiu poderia desmoronar, e ela não ia deixar isso acontecer. No começo, Camila tentava se convencer de que Silvia não era uma ameaça tão grande, mas quanto mais pensava nos gêmeos, mais a paranoia crescia. Se Eduardo soubesse que os filhos que tanto desejava eram de Silvia, talvez
ela perdesse tudo, e Camila não estava disposta a correr esse risco. Foi assim que ela tomou uma decisão perigosa. "Eu preciso acabar com isso," murmurou para si mesma, olhando para o reflexo no espelho. Ela sabia que não podia agir sozinha. Camila era esperta o suficiente para perceber que precisava de alguém que pudesse fazer o trabalho sujo sem levantar suspeitas. Foi então que ela pensou em Irene, a enfermeira que tinha ajudado a criar a falsa aparência de consultas médicas no início de sua relação com Eduardo. Irene não era exatamente leal a Camila, mas estava endividada e
precisava de dinheiro. Naquela tarde, Camila foi até o hospital e encontrou Irene no corredor, cuidando de outro paciente. "Preciso falar com você," disse Camila, com um sorriso falso no rosto. Irene olhou em volta, hesitante. "Camila, eu já disse que não quero mais me meter nas suas confusões." "Isso não é sobre o passado," Camila insistiu, levando-a para um canto mais reservado. "É uma última coisa. Depois disso, você nunca mais vai ouvir falar de mim." Irene cruzou os braços. "O que você quer agora?" Camila aproximou-se, falando baixo, mas com um tom de urgência: "Silvia precisa ser tirada
do caminho. Ela está grávida e isso pode destruir tudo o que eu construí. Você só precisa me ajudar a dar um jeito." O rosto de Irene ficou... Pálido, você está falando sério? Camila, isso é perigoso. Não é só sua rivalidade idiota, estamos falando de vidas aqui. Eu pago bem. Camila cortou, ignorando a resistência de... Pensa no que você vai fazer, o dinheiro, suas dívidas, sua casa, tudo resolvido. Irene ficou em silêncio, mas Camila sabia que tinha plantado a semente. Naquela mesma noite, Irene apareceu no quarto de Silvia com uma bandeja de medicamentos. Silvia, deitada e
exausta, olhou para a enfermeira com um leve sorriso. — H dos remédios? — perguntou Silvia, tentando manter a voz amigável. — Sim — respondeu Irene, com um sorriso falso, enquanto colocava os comprimidos e um copo d'água na mesinha ao lado da cama. Silvia não percebeu nada estranho, mas Irene estava suando. Dentro de um dos comprimidos, havia uma substância que poderia causar uma complicação grave na gravidez, algo que pareceria um acidente. — Se precisar de algo, estarei no corredor — disse Irene, antes de sair, evitando contato visual. Silvia pegou os comprimidos e o copo d'água, mas
antes de tomar, Gabriel entrou no quarto com alguns papéis. — Ei, Silvia, desculpe interromper, mas queria revisar seus exames de hoje — disse ele, puxando uma cadeira. Silvia colocou os comprimidos de volta na mesa para ouvir o que ele tinha a dizer. Gabriel, concentrado nos papéis, notou algo estranho. Ele pegou os comprimidos e franziu a testa. — Você já tomou isso? — perguntou Gabriel, levantando os olhos para ela. — Não, ainda não. Por quê? Ele analisou mais de perto, e sua expressão ficou tensa. — Silvia, acho melhor não tomar isso agora. Vou verificar com a
farmácia. Ela ficou confusa, mas confiava nele. — Ok, faça o que achar melhor. Gabriel saiu com os comprimidos e, minutos depois, o hospital entrou em alvoroço. A substância foi identificada, e Gabriel voltou ao quarto de Silvia com uma expressão séria. — Alguém tentou te machucar — disse ele, diretamente. Silvia arregalou os olhos, o choque tomando conta. — Como assim? Os comprimidos estavam adulterados. Se você tivesse tomado, poderia ter perdido os bebês ou até... algo pior. Silvia sentiu o coração disparar. — Quem faria isso comigo? Gabriel hesitou. — A polícia vai investigar, mas... Silvia, você tem
algum inimigo? Alguém que possa querer te machucar? Só um nome veio à mente dela: Camila. Naquele momento, algo mudou dentro de Silvia; o medo deu lugar à determinação. Camila tinha ido longe demais, e agora Silvia sabia que não podia ficar parada esperando que ela tentasse de novo. Ela protegeria seus filhos a qualquer custo. Irene não conseguia dormir desde a noite em que tentou seguir o plano de Camila e colocar aquela substância nos medicamentos de Silvia. Sua mente não a deixava em paz. Ela ficava acordada na cama, encarando o teto, revivendo o momento em que quase
destruiu uma vida, ou melhor, três. A voz de Silvia, tão gentil, quando pediu os remédios, ecoava na cabeça dela; era uma voz que não tinha nada de ameaça, nada de ódio, apenas uma gratidão simples e honesta. E por mais que Camila tivesse tentado convencê-la de que Silvia era uma inimiga, Irene sabia que não era verdade. Do outro lado havia o peso do dinheiro — o dinheiro que Camila prometeu, que poderia resolver muitos dos problemas de Irene: as contas que se acumulavam na mesa da cozinha, a mensalidade atrasada da escola do filho e a pressão constante
de ver sua vida desmoronar aos poucos. Camila sabia exatamente onde apertar para manipulá-la, mas agora o dinheiro parecia inútil. Irene só conseguia pensar em como ela quase arruinou a vida de uma mulher que não tinha feito nada para merecer isso. Na manhã seguinte ao incidente, Irene chegou ao hospital com um nó no estômago. Cada vez que via um médico ou uma enfermeira, sentia como se todos soubessem o que ela tinha feito ou tentado fazer. Mesmo que ninguém dissesse nada, a culpa pesava tanto que parecia visível. Ela passou pelo quarto de Silvia e viu Gabriel lá
dentro, conversando com ela. Irene parou no corredor, escondendo-se atrás da porta parcialmente aberta. Não queria entrar, mas também não queria ir embora. — Alguém tentou me machucar — Gabriel ouviu Silvia dizer, com a voz baixa e trêmula. — Eu sei quem foi, só não sei o que fazer — Gabriel respondeu, com calma, tentando tranquilizá-la. Mas Irene não ouviu o resto; ela se afastou rapidamente, sentindo-se pior a cada segundo. Naquele dia, cada hora no hospital parecia uma eternidade. Cada vez que uma enfermeira falava com ela, Irene sentia um frio na espinha, achando que alguém havia denunciado.
Mas ninguém sabia, ninguém além dela e Camila. À noite, quando finalmente voltou para casa, Irene encontrou seu filho brincando com seus carrinhos no chão da sala. Ele olhou para ela e sorriu, feliz em vê-la. — Oi, mamãe. Você está cansada? Ela sentiu, mas o sorriso dele foi como uma faca no coração. Percebeu que estava tentando justificar suas ações por causa dele, pelo dinheiro, pela segurança financeira. Mas que tipo de exemplo estava dando? Ela se sentou ao lado dele e o abraçou apertado. — Você é tudo para mim, sabia disso? — Eu sei — ele respondeu,
com a inocência típica de uma criança. Mas naquele momento, Irene percebeu que não podia continuar carregando aquele peso. Ela precisava fazer a coisa certa, mesmo que isso significasse enfrentar as consequências. No dia seguinte, Irene tomou coragem e procurou Gabriel no hospital. Ele estava revisando alguns papéis na sala de descanso quando ela entrou, com as mãos tremendo e o rosto pálido. — Dr. Gabriel, eu preciso falar com você. Ele olhou para ela, percebendo imediatamente que algo estava errado. — Claro, o que aconteceu? Ela respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas. — Eu... eu preciso confessar algo
sobre o que aconteceu com a Silvia. Gabriel ficou em silêncio, mas seu olhar era firme, esperando que ela continuasse. — Eu sabia que os comprimidos estavam adulterados — Irene disse, com a voz falhando. — Camila me pagou para colocar aquela substância. Eu... eu quase machuquei Silvia e os bebês. Eu estava desesperada por dinheiro, mas isso não... É desculpa, Gabriel. Respirou fundo, processando o que acabara de ouvir. Você tem noção da gravidade do que está dizendo, Irene? Ela sentiu lágrimas escorrendo pelo rosto. Eu sei, eu sei que fiz algo terrível e estou disposta a aceitar as
consequências, mas eu não posso continuar com isso. Eu preciso ajudar a impedir Camila. Ela não vai parar enquanto não conseguir o que quer. Gabriel a estudou por um momento, como se estivesse tentando decidir se podia confiar nela. Você está disposta a dar seu depoimento, a contar tudo o que sabe? Sim, respondeu Irene com firmeza. É a única maneira de corrigir isso. Mais tarde, naquele dia, Irene foi ao quarto de Silvia. Quando entrou, Silvia estava deitada, mas se sentou assim que a viu. Irene disse: Silvia, confusa. Irene engoliu em seco e se aproximou. Silvia, eu preciso
pedir desculpas e preciso que você saiba toda a verdade. Ela contou tudo, desde o primeiro contato com Camila, o plano para sabotar os medicamentos e como ela quase seguiu adiante com aquilo. Silvia ouviu em silêncio, mas suas mãos estavam apertadas sobre o lençol. Você tentou me machucar, disse Silvia, a voz carregada de emoção. Meus bebês… Eu sei, Irene respondeu, as lágrimas escorrendo pelo rosto, e eu nunca vou me perdoar por isso. Mas estou aqui para tentar corrigir. Vou dar meu depoimento. Vou contar tudo. Camila não pode continuar fazendo isso. Silvia ficou em silêncio por alguns
segundos antes de responder: Se você está disposta a ajudar, então talvez ainda exista algo bom em você. Foi a primeira vez que Irene sentiu um pouco de alívio. Ela sabia que ainda tinha um longo caminho pela frente, mas pelo menos estava tentando fazer a coisa certa. Silvia estava sentada na cama do hospital, ainda processando tudo o que Irene havia confessado. As palavras da enfermeira ecoavam em sua mente: Camila não vai parar enquanto não conseguir o que quer. Era como um alarme que tocava sem parar. Silvia sabia que precisava agir. Ela tinha passado tempo demais sendo
vítima, assistindo Camila destruir sua vida. Agora era hora de mudar isso. Gabriel entrou no quarto naquele momento, trazendo os resultados mais recentes dos exames. Seus bebês estão estáveis, Silvia, disse ele com um sorriso tranquilizador. Obrigada, Gabriel, ela respondeu, mas sua expressão ainda estava tensa. Ele notou: Está tudo bem? Silvia olhou para ele por um momento antes de responder: Não está tudo bem, mas vai ficar. Eu não posso mais deixar Camila controlar minha vida. Você está certa, disse Gabriel, sentando-se ao lado dela, mas você tem que ser cuidadosa. Camila é perigosa. Eu sei, respondeu Silvia, com
determinação nos olhos, mas agora eu também tenho algo que ela não espera: informações. Irene está disposta a testemunhar, e eu sei que há mais coisas que podemos usar contra Camila. Ela vai pagar por tudo o que fez. Nos dias seguintes, Silvia começou a traçar seu plano. Irene foi essencial nesse processo. Apesar do medo, a enfermeira estava comprometida em ajudar a expor Camila. Ela revelou detalhes sobre a falsa gravidez, os exames falsificados e o suborno que Camila usou para manipular as pessoas ao seu redor. Você acha que Eduardo sabe de alguma coisa? perguntou Silvia em uma
conversa com Irene. Irene balançou a cabeça. Eu não sei. Ele parece estar completamente convencido de que ela está grávida, mas é só uma questão de tempo até ele perceber que algo está errado. Então precisamos agir antes que ela encontre uma nova maneira de manipular a situação, disse Silvia com firmeza. A primeira etapa do plano era reunir provas. Irene começou a fornecer documentos sobre os subornos e as falsificações. Ela também revelou o nome do laboratório clandestino que Camila usou para criar os exames falsos. Gabriel, por sua vez, usou seus contatos no hospital para confirmar que os
registros de Camila eram fraudulentos. Isso é suficiente para abrir uma investigação, disse Gabriel, analisando os papéis. Não é só isso que eu quero, respondeu Silvia. Eu quero que ela seja exposta publicamente. Ela destruiu minha vida e eu quero que o mundo saiba quem ela realmente é. Enquanto isso, Eduardo estava começando a perceber que algo não estava certo. Camila evitava discussões sobre a gravidez e sempre arrumava desculpas para não fazer novos exames. O médico disse que está tudo bem, ela dizia, tentando parecer casual, mas Eduardo, embora ainda iludido, começou a sentir que havia algo errado. Uma
noite, enquanto Camila tomava banho, Eduardo encontrou uma barriga de silicone escondida no fundo do armário. Ele a pegou, confuso e incrédulo. Naquele momento, tudo começou a fazer sentido: as desculpas, os comportamentos estranhos e até a forma como ela sempre evitava consultas com outros médicos. Quando Camila saiu do banheiro, Eduardo estava esperando por ela, segurando a barriga falsa. Quer me explicar isso? ele perguntou, com a voz carregada de raiva. Camila congelou, mas rapidamente tentou se recompor. Eduardo, eu eu posso explicar. Você estava me enganando esse tempo todo! ele gritou, jogando a barriga no chão. Camila tentou
inventar uma desculpa, mas Eduardo não estava mais ouvindo. Ele pegou as chaves e saiu, deixando-a sozinha e em pânico. No hospital, Silvia recebeu a notícia de que Eduardo tinha deixado Camila. Era apenas o começo da queda, mas já era uma pequena vitória. Ele finalmente abriu os olhos. Silvia, ao contar o que havia acontecido, disse: Não é suficiente. Eu não quero só que Eduardo saiba a verdade; quero que todos saibam. Provem em mãos, Silvia. Como planeador, Silvia sabia que a oportunidade de Camila seria o momento em que todas as mentiras de Camila fossem reveladas para o
maior número de pessoas possível. E o momento chegou mais rápido do que ela esperava. Camila, desesperada para salvar sua imagem, decidiu organizar um evento de gala para anunciar oficialmente sua gravidez. Era sua última tentativa de controlar a narrativa. Quando Irene contou sobre o evento, Silvia respondeu: Exatamente disso que precisamos. Se ela quer fazer um show, vamos! Garantir que seja inesquecível, nos dias que antecederam o evento, Silvia e Gabriel trabalharam incansavelmente. Eles contrataram técnicos para montar um vídeo com todas as provas contra Camila: os depoimentos de Irene, os documentos falsificados e até imagens do laboratório clandestino.
"Isso vai ser um golpe e tanto", disse Gabriel, enquanto revisava o material. "Ela merece cada segundo", respondeu Silvia, com um misto de nervosismo e empolgação. Finalmente, a noite chegou, e Camila, sem saber o que estava por vir, subiu ao palco com um sorriso confiante. Silvia, assistindo de longe, esperava o momento certo para dar o próximo passo. A reviravolta estava apenas começando. A ideia era audaciosa, arriscada e cheia de detalhes que poderiam dar errado, mas para Silvia, essa era sua chance de virar o jogo. Depois de tudo o que havia passado, ela sabia que a única
maneira de derrotar Camila era expô-la publicamente de uma vez por todas, e o evento de gala seria o palco perfeito para isso. Enquanto Camila corria para organizar sua grande noite, convencida de que sairia dali ainda mais poderosa e adorada, Silvia e Gabriel estavam nos bastidores montando algo que ela jamais esqueceria. "Se vamos fazer isso, temos que fazer direito", disse Gabriel, sentado ao lado de Silvia em sua casa. "Não pode haver brechas; cada detalhe precisa estar pronto." Silvia concordou, firme: "Ela destruiu tudo o que eu tinha; agora é a vez dela perder." O primeiro passo foi
reunir todas as provas de forma organizada. Irene, agora completamente do lado de Silvia, foi essencial nesse processo. Ela forneceu tudo o que sabia: mensagens de texto com Camila, gravações de conversas, documentos do laboratório que fabricou os exames falsos e até uma foto da barriga de silicone escondida no armário de Camila, tirada por Eduardo no momento em que ele descobriu a farsa. "Isso é suficiente para acabar com ela", disse Irene, enquanto espalhava os documentos pela mesa. Silvia olhou para tudo, sentindo um misto de alívio e ansiedade. "Eu só quero que todos vejam quem ela realmente é.
Por anos, ela me fez parecer a vilã, a fracassada. Chegou a hora de mostrar a verdade." O segundo passo foi montar o vídeo. Gabriel, com seus contatos no hospital e a ajuda de uma equipe de técnicos que ele conhecia, organizou tudo para que as provas fossem exibidas de forma clara e impactante. "Queremos que seja impossível negar", explicou Gabriel, enquanto trabalhava ao lado dos técnicos para montar a sequência. O vídeo começava com um depoimento de Irene, contando como Camila manipulou e a envolveu em seus esquemas. Em seguida, mostrava os documentos falsificados e as mensagens de texto
que provavam o envolvimento de Camila com o laboratório clandestino. Por fim, o clímax: imagens da barriga de silicone e os detalhes da tentativa de envenenamento de Silvia. Enquanto revisava o material, Silvia sentiu um nó no estômago. Não era apenas ansiedade pelo que estava por vir, mas também a dor de reviver tudo o que tinha acontecido. "Você tem certeza de que quer fazer isso?", perguntou Gabriel, percebendo a tensão dela. "Tenho", respondeu Silvia, sem hesitar. "Eu preciso fazer isso, não só por mim, mas pelos meus filhos. Eles precisam crescer sabendo que a mãe deles não desistiu." O
terceiro passo foi infiltrar o material no evento de gala. Para isso, Silvia contou com a ajuda de Dona Margarida, sua governanta leal, que trabalhava para ela há anos e a considerava como uma filha. "Você sabe que pode contar comigo, não é?", disse Dona Margarida, segurando a mão de Silvia com carinho. "Eu sei, mas isso é arriscado", respondeu Silvia, preocupada. "Arriscado é deixar essa mulher continuar com suas mentiras", rebateu Dona Margarida, com a determinação que sempre teve. O plano era simples, mas exigia precisão. Dona Margarida, disfarçada como uma das funcionárias do buffet contratado para o evento,
teria acesso ao equipamento de som e imagem do salão. Durante o discurso de Camila, o vídeo seria exibido para todos os convidados. "Assim que o vídeo começar, não haverá como parar", explicou Gabriel, enquanto ajustava o pendrive com o arquivo finalizado. Na noite anterior ao evento, Silvia não conseguiu dormir. Passou horas olhando para o teto, pensando em tudo o que estava prestes a acontecer. Ela sabia que Camila merecia cada segundo do que estava por vir, mas isso não tornava as coisas menos assustadoras. E se algo desse errado? E se Camila descobrisse o plano antes? Gabriel apareceu
pela manhã, trazendo café e palavras de incentivo. "Vai dar certo, Silvia. Você se preparou para isso; agora é só confiar no plano." Ela tentou sorrir, mas a ansiedade era evidente. No dia do evento, Silvia decidiu não ir ao local. Era arriscado demais ser vista, e ela sabia que sua presença poderia levantar suspeitas. Em vez disso, ficou em casa com Gabriel, acompanhando tudo por mensagens de Dona Margarida. Camila chegou ao salão vestida para impressionar; ela estava radiante, como se o mundo inteiro girasse ao seu redor. Cada sorriso que dava para os fotógrafos, cada palavra que dizia
aos convidados, parecia calculada para reforçar sua imagem de mulher perfeita. Enquanto isso, Dona Margarida estava nos bastidores, pronta para ativar o plano. "Estamos na posição", escreveu ela para Gabriel, que mostrou a mensagem a Silvia. Silvia respirou fundo, segurando a mão de Gabriel. "É agora." Camila subiu ao palco, segurando um microfone, pronta para fazer seu grande discurso. O salão estava cheio, com a elite de São Paulo assistindo a cada movimento dela. "Boa noite, queridos amigos", começou ela, com aquele sorriso ensaiado. "Estou tão feliz por compartilhar essa noite especial com todos vocês. Como muitos já sabem, eu
e Eduardo estamos esperando o nosso primeiro filho, e este evento é para celebrar esse momento tão importante em nossas vidas." Enquanto ela falava, Dona Margarida inseriu o pendrive no sistema e ativou o vídeo. De repente, o som mudou, e a voz de Irene preencheu o salão: "Eu trabalhei como cúmplice de Camila Almeida, ajudando-a a falsificar exames..." De gravidez, Camila congelou no palco enquanto os convidados começaram a olhar para as telas. A sequência de provas passou diante de todos: mensagens de texto, documentos falsificados, imagens da barriga de silicone; cada detalhe estava ali, impossível de negar. Silvia
e Gabriel, assistindo de casa, trocaram olhares. "Conseguimos", disse ela, com um sorriso nervoso. Mas, no salão, o caos estava apenas começando. Camila estava no palco, paralisada, o microfone ainda em sua mão. O sorriso radiante que exibira minutos atrás desapareceu completamente; seus olhos estavam arregalados e suas mãos tremiam. Ela olhou para Eduardo, que estava sentado na primeira fila, esperando que ele fizesse algo, mas ele apenas encarava com a mesma expressão de choque que o resto do público. "Isso não pode estar acontecendo", ela murmurou para si mesma, apertando o microfone com força. As imagens continuaram; o vídeo
mostrava mensagens de texto entre Camila e Irene, comprovando os subornos, seguidas pelas imagens da barriga de silicone que Eduardo havia encontrado. Cada evidência parecia um golpe direto contra Camila. Murmúrios começaram a se espalhar pelo salão. Pessoas se entreolhavam, chocadas, sussurrando umas para as outras. "Isso é sério", uma mulher disse, tapando a boca. "Meu Deus, ela mentiu sobre a gravidez", sussurrou outro convidado. Eduardo, que até então permanecia imóvel, levantou-se lentamente da cadeira; seu rosto era uma mistura de raiva, humilhação e incredulidade. Ele olhou para Camila, que ainda estava parada no palco, sem saber o que fazer.
"É verdade", ele gritou, sua voz cortando o burburinho no salão. "Você mentiu para mim." Camila balançou a cabeça rapidamente, tentando recuperar o controle da situação. "Eduardo, isso é um mal-entendido, alguém está tentando nos sabotar." Mas ninguém acreditava nela; as provas estavam todas ali e o público já havia formado sua opinião. Enquanto isso, nos bastidores, Dona Margarida assistia à cena com uma mistura de satisfação e alívio. Ela mandou uma mensagem para Silvia: "Está feito. Ela está acabada." Silvia, em casa, segurava o celular nas mãos, tremendo. Gabriel estava ao seu lado, segurando seu ombro. "Você conseguiu", ele
disse calmamente. "Ela ainda não sentiu tudo", respondeu Silvia, determinada. No palco, Camila tentava desesperadamente recuperar o controle. "Isso é uma armação", ela disse, erguendo a voz. "Silvia está por trás disso! Ela sempre quis me destruir!" Mas ninguém parecia convencido. Eduardo subiu ao palco, seu rosto vermelho de raiva. Ele segurou o microfone das mãos de Camila. "Para!", ele disse, com a voz grave. "Já chega! Camila, não adianta mentir mais." "Eduardo, por favor, você tem que acreditar em mim!", ela implorou, tentando agarrar o braço dele, mas ele recuou, como se o toque dela fosse venenoso. "Eu acreditei
em você", ele gritou, apontando o dedo para ela. "Eu abandonei a minha esposa por causa de você! Eu acreditei em cada palavra, e tudo isso... tudo isso era mentira!" Camila tentou falar, mas Eduardo não deu chance. Ele virou-se para o público, ainda segurando o microfone. "Eu quero que todos saibam que eu fui enganado", ele disse, sua voz tremendo de frustração. "Essa mulher usou cada oportunidade para manipular minha vida, e agora tudo faz sentido: ela nunca esteve grávida!" Camila tentou protestar, mas os convidados começaram a vaiar. Era como se o glamour que ela carregava tivesse se
transformado em poeira diante dos olhos de todos. "Fora daqui!", alguém gritou, e logo outros começaram a murmurar a mesma coisa. Camila olhou para os rostos ao seu redor, todos julgando, todos. Ela tentou descer do palco, mas ninguém ajudou. Cada passo que dava parecia mais pesado. Quando finalmente chegou à porta de saída, uma pequena multidão de fotógrafos e jornalistas estava esperando. Eles tinham ouvido os rumores e estavam prontos para documentar o escândalo. "Camila, é verdade que você falsificou sua gravidez? Você tem algo a dizer sobre as acusações?" Camila tentou o rosto, mas não havia como escapar.
Flashs disparavam de todos os lados, iluminando cada expressão de desespero que ela fazia. De volta ao salão, Eduardo pegou o microfone novamente. Ele olhou para os convidados, seu rosto carregado de vergonha. "Peço desculpas a todos por isso. Não tenho desculpas para o que aconteceu, mas vou corrigir meus erros." Então, ele saiu, deixando o salão em silêncio. Naquela noite, enquanto Camila enfrentava os jornalistas sozinha, Silvia finalmente sentiu que o peso de meses de sofrimento começava a se aliviar. "Ela finalmente caiu", disse ela, olhando para Gabriel. "E você se levantou", ele respondeu com um sorriso. Mas Silvia
sabia que ainda havia mais por vir. Camila tinha sido desmascarada; a luta ainda não estava completamente terminada. Eduardo estava sentado em seu escritório, a cabeça apoiada nas mãos. A sala, normalmente impecável, estava uma bagunça: pilhas de papéis espalhadas pela mesa, um copo de whisky meio cheio ao lado do computador, e o telefone que ele não parava de olhar. Ele sabia o que precisava fazer, mas a ideia de enfrentar Silvia o deixava inquieto. Desde o escândalo envolvendo Camila, Eduardo não conseguia parar de pensar em tudo que tinha perdido. Não era só a humilhação pública ou a
sensação de ter sido enganado; era a imagem de Silvia, a mulher que ele havia abandonado, se tornando cada vez mais clara na sua mente. Ele começou a perceber que a verdadeira vítima de toda aquela situação não era ele, mas ela. Depois de horas ensaiando o que dizer, Eduardo pegou o telefone e discou o número de Silvia. Sua mão tremia enquanto esperava o som da chamada. "Alô?" A voz de Silvia era cautelosa, mas firme. "Oi, Silvia, sou eu", disse Eduardo, tentando soar calmo, mas sua voz falhou levemente. "Eduardo, o que você quer?" Ele respirou fundo. "Eu
preciso falar com você, não por telefone. Eu quero te ver, se você estiver disposta." Houve um silêncio longo do outro lado da linha; ele quase achou que ela tinha desligado. Mas então veio a resposta: "Tudo bem, mas não aqui. No hospital, me encontre no café em frente." Quando Eduardo chegou ao café... Silvia já estava lá, sentada em uma mesa perto da janela. Ela olhava para fora, aparentemente calma, mas ele sabia que não era tão simples assim. Quando se aproximou, ela finalmente olhou. Seus olhos não tinham a doçura que ele lembrava; eles eram firmes, distantes. —
Você está bem? — ele perguntou, sentando à frente dela. — Estou — ela respondeu de forma curta. — E você? — Eduardo tentou sorrir, mas não conseguiu. — Não, eu não estou bem, Silvia, e para ser honesto, não acho que mereça estar. Ela cruzou os braços, inclinando-se para trás. — Então por que está aqui, Eduardo? Por que quer falar comigo agora, depois de tudo o que aconteceu? Ele respirou, tentando organizar seus pensamentos. — Eu sei que errei. Sei que não existe desculpa para o que eu fiz, mas desde que tudo isso aconteceu, eu percebi que
perdi algo que nunca deveria ter deixado ir embora: você. Silvia arqueou as sobrancelhas. — Agora você percebe isso, depois de me humilhar, me abandonar e escolher outra mulher em vez de mim? E o que é pior: quando eu mais precisava de você. — Eu sei — ele disse rapidamente, com a voz carregada de culpa. — Eu sei que te decepcionei, que te machuquei de maneiras que talvez eu nunca consiga consertar, mas eu estou aqui, Silvia. Estou aqui para tentar, mesmo que seja impossível. Ela riu, mas não havia humor em seu riso. — Você acha que
pode aparecer aqui e dizer meia dúzia de palavras bonitas e tudo vai ficar bem, Eduardo? Você destruiu o que nós tínhamos; não sobrou nada. — Eu sei que parece assim — ele disse, inclinando-se para a frente, desesperado para que ela entendesse —, mas eu quero mudar isso. Eu quero estar presente para você e para os nossos filhos. — Ao ouvir nossos filhos? — Silvia estreitou os olhos. — Agora você quer ser pai, agora que sabe que eles são reais? Por meses, Eduardo, eu estive sozinha, lutando para protegê-los enquanto você vivia uma mentira com Camila. E
agora você acha que pode simplesmente entrar na vida deles como se nada tivesse acontecido? Eduardo abaixou a cabeça, incapaz de encará-la. — Eu não espero que você me perdoe, mas eu quero fazer parte da vida deles. Quero ser um pai melhor do que fui um marido. Silvia ficou em silêncio por um momento, analisando cada palavra dele. Parte dela queria acreditar que ele estava sendo sincero, mas a outra parte, a parte que tinha passado meses sozinha, sofrendo enquanto ele estava com outra mulher, não conseguia simplesmente aceitar isso. — Eduardo, eu não vou te impedir de conhecer
os gêmeos — ela disse finalmente —, mas eu preciso deixar uma coisa clara: eu não faço mais parte da sua vida. Você escolheu esse caminho e agora tem que viver com isso. Ele a sentiu lentamente, como se esperasse essa resposta. — Eu entendo, e mesmo que você nunca consiga me perdoar, eu vou passar o resto da minha vida tentando ser digno dos nossos filhos. Silvia não respondeu; apenas olhou para ele, avaliando o homem que um dia amou e que agora parecia um estranho. Quando Eduardo saiu do café, sentiu o peso da rejeição, mas também sabia
que ela tinha razão: ele não podia esperar que Silvia o perdoasse tão facilmente. Ainda assim, algo dentro dele mudou. Pela primeira vez em anos, ele estava determinado a fazer algo pelo motivo certo. No entanto, enquanto caminhava de volta para o carro, Silvia permaneceu sentada no café, olhando pela janela. Lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto, mas não eram de tristeza; eram de alívio. Pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu que estava no controle da sua própria vida. O cheiro de café fresco invadia a casa enquanto o sol da manhã atravessava as janelas da sala.
Silvia estava na cozinha, segurando uma xícara entre as mãos, sentindo o calor e o conforto que aquele momento simples trazia. Depois de tudo que tinha passado, era a primeira vez em meses que ela sentia paz. A vida estava longe de ser perfeita, mas ela havia encontrado algo mais importante: estabilidade. Agora, com os gêmeos crescendo fortes e saudáveis em seu ventre, ela sabia que tinha uma nova razão para seguir em frente, para construir algo diferente, principalmente algo que fosse só dela. Os dias no hospital já eram parte do passado. Após semanas de repouso, os médicos finalmente
deram alta para Silvia, com a condição de que ela continuasse se cuidando e evitando estresse. Gabriel, como sempre, estava ao lado dela nesse processo, oferecendo suporte de todas as formas possíveis. — Você tem certeza de que está pronta para voltar para cá? — ele perguntou na última consulta enquanto ela se preparava para sair. — Pronta não é bem a palavra — respondeu Silvia com um sorriso pequeno —, mas é o que eu preciso fazer. Eu preciso voltar a viver. Gabriel assentiu, admirando a força que ela exibia, mesmo depois de tudo. — Se precisar de qualquer
coisa, você sabe onde me encontrar. Ela sabia; ele tinha se tornado mais do que um médico, era um amigo, alguém que havia estado presente em seus piores momentos e que, de alguma forma, sempre sabia o que dizer para tranquilizá-la. Quando chegou em casa, Silvia encontrou tudo como tinha deixado, mas a sensação era diferente. A casa, antes cheia de memórias dolorosas, agora parecia um lugar onde ela podia recomeçar. Dona Margarida, sua governanta leal, estava esperando por ela na porta com um sorriso caloroso. — Bem-vinda de volta, querida! Já estava com saudade. Silvia riu, abraçando-a. — Obrigada,
Margarida. Acho que nunca estive tão feliz por estar de volta. A rotina foi se ajustando aos poucos. Silvia começou a reorganizar a casa, abrindo espaço para os gêmeos que estavam a caminho. Pintou o quarto que antes era apenas um espaço vazio e escolheu móveis simples, mas cheios de significado. Cada detalhe era pensado com carinho, como se estivesse reconstruindo sua vida a partir do zero. Ela também voltou a dar aulas de inglês, embora de forma mais leve. Era sua. forma de se conectar com o mundo, de sentir que ainda tinha algo a oferecer. Seus alunos perceberam
a diferença na professora, que voltou mais determinada, mais confiante, mais viva. "Você está diferente, professora," comentou uma de suas alunas. "Diferente como?" perguntou Silvia, curiosa. "Mais forte," respondeu a Luna, com um sorriso. Gabriel continuava aparecendo, sempre trazendo uma palavra de apoio ou algo prático: frutas frescas, receitas saudáveis, até mesmo uma poltrona confortável para o quarto dos bebês. "Você está exagerando," Silvia brincou, um dia, enquanto ele ajudava a montar a poltrona. "Só quero garantir que você esteja bem cuidada," ele respondeu, ajustando o encosto. Apesar do tom leve, havia algo mais ali, algo que Silvia estava começando
a perceber. Gabriel não era apenas um amigo ou um médico dedicado; ele se importava com ela de uma forma que era difícil ignorar. E, aos poucos, Silvia começou a abrir espaço para isso. Uma tarde, enquanto organizava algumas roupas de bebê que havia comprado, Silvia olhou para a pilha e sentiu algo que não sentia há muito tempo: esperança. Ela pensou nos gêmeos, em como seria a vida com eles, e, pela primeira vez, não sentiu medo. "Vocês são minha nova chance," disse ela em voz alta, como se os pequenos pudessem ouvi-la. Os meses seguintes foram preenchidos com
momentos de preparação, mas também de aprendizado. Silvia começou a perceber que não precisava ser perfeita, que não precisava carregar o peso de tudo sozinha. Gabriel esteve presente em cada etapa, mas nunca forçou nada; ele a respeitava, deixava que ela definisse os limites, e isso só fazia Silvia confiar ainda mais nele. Um dia, enquanto estavam no parque, Gabriel finalmente abriu o coração. "Silvia, eu sei que você está focada nos bebês agora, e eu respeito isso, mas preciso que saiba que, para mim, você é muito mais do que uma paciente ou uma amiga." Silvia ficou em silêncio
por um momento, olhando para ele. Ela sabia o que ele estava dizendo, mas ainda estava se acostumando com a ideia de deixar alguém entrar em sua vida novamente. "Gabriel, eu não sei se estou pronta," ela admitiu honestamente. "Está tudo bem," ele respondeu, com um sorriso. "Tranquilo, eu espero. O importante é que você saiba que eu estou aqui e não vou a lugar nenhum." Ei, pela primeira vez, Silvia acreditou nisso. Os gêmeos nasceram algumas semanas depois, saudáveis e cheios de vida. Segurar os dois nos braços foi como a confirmação de que tudo que ela tinha enfrentado
valeu a pena. Quando chegou em casa com os bebês, Gabriel estava lá, ajudando com tudo, como sempre fazia. Mas, dessa vez, Silvia olhou para ele de forma diferente. "Eu acho que estou pronta agora," ela disse, com um sorriso tímido. Ele não disse nada, apenas sorriu de volta, como se estivesse esperando por aquele momento. Silvia sabia que ainda havia desafios pela frente, mas, pela primeira vez em muito tempo, ela não estava sozinha. E, mais importante, ela tinha algo que nem mesmo as mentiras e traições de Camila ou Eduardo puderam tirar: uma nova vida, cheia de amor,
esperança e a promessa de um futuro melhor. Os primeiros meses com os gêmeos foram uma loucura para Silvia: as noites sem dormir, as fraldas que pareciam se multiplicar magicamente, e os choros que surgiam do nada faziam parte da nova rotina. Mas, apesar de tudo, havia algo diferente no coração dela: um amor tão grande que parecia impossível de explicar. Gabriel estava sempre por perto. Ele se ofereceu para ajudar desde o início, mas nunca de forma invasiva; ele sabia que Silvia tinha aprendido a ser forte sozinha e respeitava isso. Mesmo assim, era difícil ignorar o jeito como
ele se encaixava perfeitamente na dinâmica da casa. Uma noite, enquanto ela tentava acalmar um dos gêmeos que chorava sem parar, Gabriel apareceu na porta do quarto. Ele estava com a expressão tranquila, carregando uma mamadeira na mão. "Precisa de ajuda?" ele perguntou, já sabendo a resposta. Silvia suspirou e sorriu. " Sempre." Ele pegou o bebê dos braços dela com uma habilidade que vinha de anos trabalhando com crianças. "Pronto, campeão," disse ele, balançando o pequeno de leve e oferecendo a mamadeira. Em poucos minutos, o choro parou e o bebê estava dormindo profundamente. Silvia observou, sentindo uma onda
de gratidão. "Eu não sei o que faria sem você," ela disse. Gabriel sorriu, sem desviar os olhos do bebê. "Você se sairia bem. Você é incrível, Silvia. Eu só estou aqui para facilitar um pouco." Com o tempo, Gabriel passou a fazer parte da rotina da casa. Ele ajudava nas madrugadas complicadas, levava Silvia e os bebês para consultas e, nas horas vagas, arrumava tempo para cozinhar algo nutritivo e delicioso. Mas não era só sobre cuidar; Gabriel também trouxe leveza para a vida de Silvia. Ele fazia piadas sobre as coisas mais simples, como o jeito que um
dos bebês franzia a testa quando mamava, ou como a casa parecia uma fábrica de fraldas. "Se continuar assim, vamos precisar de um depósito só para fraldas," brincou ele, uma tarde, enquanto jogava uma pilha de embalagens no lixo. Silvia riu, algo que há muito tempo ela não fazia com tanta sinceridade. Os gêmeos, que começaram como dois pequenos seres que só choravam e dormiam, começaram a crescer e a desenvolver personalidades. Lucas era mais tranquilo, enquanto Helena era cheia de energia, sempre agitada. Gabriel parecia ter um sexto sentido para lidar com os dois. "Você nasceu para isso," disse
Silvia, enquanto ele brincava com Helena, que ria alto enquanto ele fazia caretas. "Talvez," ele respondeu, com um sorriso, "ou talvez eu só tenha sorte de ter vocês por perto." Essas palavras atingiram Silvia de um jeito especial. Não era só sobre os bebês; era sobre como Gabriel estava ajudando a reconstruir algo que ela achava que tinha perdido para sempre: uma família. Eduardo tentou se aproximar algumas vezes, mas Silvia sempre manteve os limites claros. Ele podia visitar os filhos, mas... Não fazia parte da casa ou da rotina; mesmo que ele parecesse estar tentando mudar, Silvia sabia que
a relação deles estava quebrada de um jeito que não podia ser consertado. "Eu só quero o melhor para eles", Eduardo disse durante uma das visitas. "Eu também", respondeu Silvia, "e é por isso que preciso fazer as coisas do meu jeito agora." Eduardo aceitou, mesmo que isso doesse nele; ele sabia que tinha perdido a chance de ser uma família com Silvia, mas pelo menos queria fazer parte da vida dos gêmeos. Com o passar do tempo, a dinâmica entre Silvia, Gabriel e os bebês começou a parecer natural. Eles riam juntos, enfrentavam os desafios como um time e
celebravam cada pequena conquista, desde o primeiro sorriso dos gêmeos até as primeiras palavras balbuciadas. Uma noite, depois de colocar os bebês para dormir, Silvia e Gabriel estavam sentados no sofá, exaustos, mas felizes. Ele olhou para ela e disse: "Você sabe que essa é a melhor parte do meu dia, não sabe?" "Correr atrás de dois bebês cheios de energia não parece muito relaxante", respondeu Silvia, rindo. "Não", ele disse, sorrindo de leve. "A melhor parte é estar aqui com você." Silvia sentiu o coração acelerar. Ela sabia que esse momento chegaria, mas, ainda assim, foi surpreendente. Gabriel era
tudo que Eduardo não tinha sido: presente, atencioso e genuíno. "Eu acho que nós somos uma boa equipe", ela disse. "Finalmente, eu também acho", ele respondeu, sem tirar os olhos dela. A casa, que um dia parecia tão vazia e cheia de lembranças dolorosas, agora estava viva; era cheia de risos, conversas e sons de bebês descobrindo o mundo. Cada dia, uma pequena vitória, e, aos poucos, Silvia começou a perceber que tinha, sim, reconstruído sua família, só que de uma forma que ela nunca havia imaginado. Agora, essa família era baseada em amor verdadeiro, parceria e respeito, e, acima
de tudo, era um lugar onde ela finalmente se sentia em casa outra vez. O tempo passou, mas as marcas do que aconteceu continuavam vivas em cada um deles. Silvia, Eduardo e Camila seguiram caminhos diferentes, mas, de alguma forma, ainda estavam ligados por aquele turbilhão de acontecimentos que havia virado suas vidas de cabeça para baixo. Silvia agora vivia uma rotina tranquila, mas cheia de vida. Depois de tantas tempestades, ela havia encontrado uma paz que nem sabia que merecia. Gabriel, o pediatra que ajudou quando ela mais precisava, estava sempre ao seu lado. Ele não era apenas o
homem que segurou sua mão nos momentos mais difíceis; ele era o tipo de pessoa que fazia tudo parecer mais leve. No pequeno jardim da casa onde Silvia morava com Gabriel e os gêmeos, o som de risadas infantis era constante. Os meninos corriam de um lado para o outro enquanto Gabriel tentava acompanhar o ritmo. "Vem cá, vou pegar vocês!", ele dizia, fingindo ser um monstro. Silvia, observando a cena da varanda, sentiu um nó de emoção na garganta. Não era só felicidade; era gratidão. Depois de tudo, ela conseguiu algo que parecia impossível: reconstruir sua vida. Mas as
coisas não foram fáceis. Durante os primeiros meses após o escândalo, Silvia ainda recebia mensagens de Eduardo, tentativas insistentes de reconciliação. No começo, ela até considerou responder; afinal, ele era o pai dos gêmeos. Mas cada vez que pegava o telefone para ligar de volta, lembrava das palavras dele, das acusações, da traição. Eduardo, por outro lado, não conseguia seguir em frente. Ele ainda morava na mesma casa; mas, agora, ela parecia grande demais, fria demais. Quando ele olhava para o espelho, via um homem que tinha perdido tudo: a esposa, a chance de uma família e até mesmo o
respeito por si mesmo. Ele passou a visitar os gêmeos regularmente; sempre trazia brinquedos, roupas caras, coisas que achava que fariam os filhos gostarem mais dele. Mas os meninos ainda eram pequenos e não entendiam muito bem quem ele era para eles. O papai era Gabriel. Certa vez, Eduardo tentou ter uma conversa séria com Silvia. Foi em um domingo à tarde, quando ele foi buscar os meninos para levá-los a um passeio. "Silvia, a gente pode conversar?", perguntou, com a voz baixa, quase implorando. Ela cruzou os braços, encarando-o de forma direta. "Se for sobre os meninos, tudo bem.
Se for sobre nós dois, Eduardo, não tem mais nada para falar." Ele respirou fundo, desviando o olhar. "Eu só queria dizer que sinto muito. Eu errei, e agora eu sei disso. Sei que nunca vou merecer seu perdão, mas eu queria tentar, pelo menos pelos meninos." Silvia deu um pequeno sorriso, mas era um sorriso de alguém que já superou aquilo. "Eduardo, o que passou, passou. O importante agora são os nossos filhos. Se você realmente quer fazer parte da vida deles, então seja um bom pai. Mas para mim é tarde demais." Ele assentiu, aceitando aquelas palavras como
um golpe final. Eduardo sabia que nunca recuperaria o que perdeu, mas se agarrava à ideia de ser um pai presente como sua última chance de fazer algo certo. Enquanto isso, Camila vivia uma realidade completamente diferente. Ela agora trabalhava em um centro de cuidados infantis, mas não era por escolha. Depois de perder tudo, as portas se fecharam para ela. A sociedade que um dia a recebeu de braços abertos agora a rejeitava, como se ela fosse uma mancha em qualquer ambiente. Seus dias eram uma luta constante; o trabalho era exaustivo e os olhares de julgamento das pessoas
que reconheciam seu rosto eram como facadas diárias. Mesmo assim, havia algo diferente em Camila; ela não era mais a mulher cheia de planos ardilosos e palavras envenenadas. O tempo e as dificuldades tinham quebrado aquele orgulho imenso que ela carregava. Uma noite, depois de um dia especialmente difícil, Camila sentou-se em seu pequeno apartamento. Era um espaço simples, com móveis baratos e paredes sem decoração. Ela pegou uma foto antiga de um tempo em que ainda acreditava que estava no controle de tudo. Como eu deixei chegar a isso? Sussurrou para si mesma, sentindo o peso de cada escolha
errada, mas a resposta não veio; talvez nunca viesse. De volta à casa de Silvia, a vida continuava a florescer. Durante uma noite de jantar em família, Gabriel surpreendeu a todos com o anúncio: "Eu estive pensando, e acho que já passou da hora de tornar isso oficial." Ele se levantou, tirou algo do bolso e, na frente dos gêmeos, se ajoelhou. "Silvia Martins, você quer se casar comigo?" Os olhos dela se encheram de lágrimas, mas era um tipo de emoção diferente; não era tristeza, não era medo, era amor puro e simples. "É claro que sim," respondeu, enquanto
os gêmeos pulavam ao redor, sem entender muito bem o que estava acontecendo, mas felizes de qualquer jeito. A cerimônia foi pequena, mas cheia de significado, apenas amigos próximos e algumas pessoas da família. E ali, naquele dia, Silvia sentiu que tinha finalmente fechado o ciclo. Enquanto isso, Eduardo assistiu à notícia do casamento pelas redes sociais. Ele estava sentado em sua sala, sozinho, com um copo de uísque na mão, quando viu a foto de Silvia e Gabriel sorrindo, segurando os gêmeos no colo. Ele percebeu que aquele era o final da história para ele. Camila também soube do
casamento, mas reagiu de forma diferente. Ao invés de inveja ou raiva, ela apenas suspirou. Pela primeira vez, talvez ela sentiu algo parecido com arrependimento. E assim, os caminhos de todos se separaram. Silvia encontrou a felicidade que sempre mereceu, Eduardo ficou com suas lembranças e arrependimentos, enquanto tentava construir uma relação com os filhos. E Camila seguia dia após dia, enfrentando as consequências das escolhas que fez, mas talvez, só talvez, começando a aprender algo sobre si mesma.