Dentro de um ônibus, jovens ricos zombaram da motorista somente por ser mulher. Mas, quando ela tirou o lenço, tiveram uma surpresa que os deixou de queixo caído. Peço que, no fim da narração, deixe um comentário sincero dizendo o que achou da história e da minha narração.
Verônica é uma mulher de 35 anos que já fez um pouco de tudo na vida, sem medo do trabalho pesado. Ela já atuou na linha de montagem de uma indústria de carros, foi assistente de pedreiro, trabalhou numa loja de pneus, foi caminhoneira e, atualmente, está começando como motorista de ônibus biarticulado em Curitiba. Esse ônibus é maior do que os convencionais e exige mais força para ser conduzido.
Após provar que conseguiria guiar esse gigante pelas ruas da cidade, Verônica conquistou esse posto. Para ela, ter um trabalho fixo e estável é fundamental para que possa retomar a sua relação com seu filho, Diogo, um garoto de 13 anos que não vê há 9 anos. Quando tinha 20 anos, Verônica conheceu Rafael, um jovem rico e herdeiro de uma franquia de cafeterias.
Os dois se apaixonaram e, sem pensar muito, ela aceitou o pedido de casamento. Aos 22 anos, ela já estava casada e esperava um filho. Porém, ela nunca foi bem recebida pela família do marido, pois é de origem humilde.
A falta de refinamento, que no começo do namoro divertia Rafael, logo se tornou motivo de brigas constantes. O marido desejava a todo custo mudar a forma como Verônica se vestia, falava e até pensava. Dona de uma personalidade forte, ela logo percebeu que teria que dar um fim ao matrimônio.
Quando Diogo nasceu, Verônica já estava decidida a deixar Rafael; porém, não tinha um emprego e nem mesmo uma formação acadêmica. Em segredo, Verônica começou a fazer um curso de secretariado, porém não demorou para que Rafael descobrisse e impedisse a esposa de continuar a qualificação. Após mais alguns anos vivendo reprimida, Verônica decidiu dar um basta e se divorciar de Rafael.
Porém, o que ela não podia imaginar era o duro golpe que a vida lhe daria. Samira, a mãe de Rafael, ao ser informada do divórcio, decidiu agir para impedir que a nora levasse Diogo consigo. No dia da audiência pela guarda da criança, Samira colocou no café da ex-nora, sem que ela percebesse, um medicamento em pó.
Em apenas alguns minutos, Verônica teve um surto, e Rafael aproveitou para dizer ao juiz que a esposa usava drogas. Sem dinheiro e sem uma boa assistência jurídica, a mulher não conseguiu provar sua inocência. Embora Verônica soubesse que foi uma armação da família de Rafael, não tinha provas e nem mesmo sabia como tudo foi feito.
O resultado foi ela ter que se afastar do próprio filho. Com o passar dos anos, Rafael blindou a criança de tal forma que se tornou impossível para a mãe chegar perto de Diogo. Com uma grande dor no coração, Verônica percebeu que a única forma de poder se reaproximar do filho era trabalhar duro para ter boas condições financeiras.
Foi assim que Verônica iniciou a sua jornada no mercado de trabalho. Sendo uma mulher forte, emocional e fisicamente, ela percebeu que teria boas oportunidades em vagas menos convencionais. Ela então conseguiu um trabalho na linha de montagem de uma indústria de carros em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.
Nesse trabalho, ela ficou apenas um ano e meio, pois era muito longe de onde ela morava e, para ter uma chance de retomar sua relação com Diogo, precisaria de um trabalho melhor. Em seguida, ela passou alguns meses se dividindo entre as funções de assistente de pedreiro e vendedora em uma loja de pneus. Uma amiga contou para Verônica que trabalhar como caminhoneira poderia ajudá-la a guardar um bom dinheiro; então, ela iniciou nessa função e passou anos dirigindo por todo o Brasil.
Ela conseguiu juntar dinheiro suficiente para dar entrada em uma casa própria. A partir de então, Verônica passou a focar em ter um trabalho estável e com carteira assinada. Há alguns meses, ela passou no teste para conduzir o ônibus biarticulado e vem se acostumando a fazer sempre o mesmo trajeto, tendo um bom desempenho.
No horário da noite, Verônica foi recompensada, podendo trocar para o horário da manhã e início da tarde. Para ela, essa troca de horário pareceu bastante positiva, pois agora boa parte dos passageiros são estudantes indo ou voltando da escola. O barulho e a falação alta desses passageiros, na faixa de 10 a 15 anos, não incomodam Verônica como incomodam alguns dos seus colegas.
Quando vê grupos de adolescentes entrando no ônibus, ela pensa que essas crianças podem conhecer o seu filho. Ela nunca pensa que um dos garotos que embarca no ônibus pode ser o seu filho, porque sabe que Rafael jamais deixaria Diogo entrar em um ônibus. Inclusive, essa é uma das coisas que ela pretende mudar na educação do filho: todo adolescente deveria saber andar de ônibus e se virar sozinho.
Diogo tem 13 anos e cresceu acreditando que sua mãe nunca quis saber dele. O pai e a avó nunca contaram ao garoto das inúmeras vezes que Verônica os acionou na justiça e que eles conseguiram impedi-la de ver o próprio filho por meio de subornos. Apesar da revolta que Diogo sente pela mãe, sempre quis saber como ela era.
Todas as fotos de Verônica haviam sido destruídas quando ela resolveu deixar Rafael, segundo a versão da família paterna. Porém, certo dia, Diogo encontrou uma foto de Verônica e Rafael dentro de um livro antigo na estante da biblioteca. A foto, que mostrava o casal feliz, estava dentro de uma edição de "Orgulho e Preconceito", de Jane Austen.
Diogo, que, embora jovem, sempre gostou de ler, achou graça que essa foto estivesse justamente dentro desse livro. Afinal, ainda que se sentisse desprezado pela mãe, ele imaginava que não foi nada fácil para uma moça humilde se relacionar com um herdeiro rico. Será?
"Que foi, a mãe? Quem colocou a foto dentro daquele livro que conta um romance entre um homem muito rico e orgulhoso e uma jovem modesta? Além dessas reflexões literárias, Diogo se pegou pensando em como sua mãe era bonita, especialmente pelo seu lindo cabelo castanho.
Comprido, o cabelo dela tinha ondas naturais de um jeito muito específico. O garoto reparou nisso, pois o seu próprio cabelo, quando cresce demais, fica com essas ondas. Ele acha bonito o caimento dos fios nessa textura, mas a avó corre ao salão para cortar.
Pode ser um reflexo para evitar que ele se pareça com a mãe; porém, se for isso, é um trabalho inútil. Além das ondas involuntárias no cabelo, o garoto tem o mesmo olhar e o nariz de Verônica. Essas percepções só foram possíveis porque Diogo encontrou aquela foto dentro do livro.
Sabendo que ninguém entenderia porque ele quer guardar uma foto da mulher que o abandonou, Diogo decidiu que aquele seria o seu segredo. Ninguém jamais saberia que ele tinha aquela foto. O garoto estuda em uma das escolas particulares mais conceituadas e caras da capital paranaense.
Todos os dias, Tobias, o motorista da família, leva e busca o garoto na escola. Muitos dos colegas de Diogo também vão para a escola com um motorista particular ou com os pais. No entanto, há uma pequena parcela de estudantes que vão de ônibus para sua escola.
Alguns desses estudantes entendem que seus pais querem torná-los mais independentes; porém, outros, como Gabriel, não gostam nada disso. O garoto de 13 anos, que é amigo de Diogo, detesta a ideia de ter que ir e voltar para casa pegando um ônibus biarticulado. Por ser de uma família rica, Gabriel acredita que a obrigação de seus pais era levá-lo confortavelmente até o portão da escola.
Irritado com o fato de ter que andar de transporte público, não é incomum que Gabriel seja grosseiro com os outros passageiros. Desde que contou para Diogo que vai de ônibus para a escola, Gabriel ouve do colega que o seu sonho é poder fazer o trajeto dessa forma, independente. Cansado de ouvir do colega que deve ser incrível pegar ônibus, Gabriel teve uma ideia para driblar Rafael, o pai do amigo.
Basicamente, Gabriel instruiu Diogo a dizer para o pai que precisaria ir para a casa de Gabriel após o horário da escola para fazer um trabalho. Ao ser questionado por Rafael sobre como eles iriam até a casa de Gabriel, Diogo deve responder que o motorista da família do colega vai buscá-lo todos os dias. Assim, Diogo poderá pegar o primeiro ônibus da sua vida junto com Gabriel.
Ele garantiu para Diogo que basta andar uma vez de biarticulado para agradecer de joelhos por seu pai ser tão generoso em lhe ceder um motorista. Outros colegas da escola ficaram sabendo sobre o plano de Diogo e Gabriel e decidiram aderir. Para esses garotos ricos, andar de ônibus é quase uma aventura; algo que farão como uma brincadeira para sair do tédio.
O que começou como uma brincadeira entre dois amigos se tornou praticamente uma excursão. Walter e João Henrique, também de 13 anos, decidiram que vão mentir da mesma forma para seus pais e pegar o biarticulado com Gabriel. Todos os meninos mentiram da mesma forma para seus pais, que acreditaram que o motorista da família de Gabriel os levaria para casa.
Assim, os meninos só precisavam ser buscados por seus motoristas na casa dos colegas. No dia combinado, os garotos saíram animados da escola rumo à estação tubo, em que embarcaram pela primeira vez em um ônibus biarticulado. Gabriel continuava sem acreditar em como os colegas podiam ser bobos em ficar encantados com algo tão absurdo e desconfortável, mas se era isso que eles queriam, então seria isso o que teriam.
Apenas Gabriel tinha um cartão de transporte; os outros três meninos pagaram a passagem em dinheiro para o cobrador, que precisou dar conta de troco para notas de R$ 20. Para os três meninos, Gabriel não conseguiu segurar o riso de deboche ao ver que o funcionário ficou sem troco para os próximos passageiros. Quando o ônibus parou na estação tubo, Gabriel fez uma reverência como que abrindo o caminho para os colegas.
Eles embarcaram na porta três; ao todo, o ônibus tem cinco. O garoto então explicou para os amigos que o ideal é não ficar na porta três, porque ela é usada para todos os embarques, enquanto as outras servem para o desembarque. Como eles seguiriam por algum tempo no ônibus, era interessante irem até a porta um, mais próxima do motorista.
Essa porta não abre em todas as estações tubo para desembarque e, assim, é mais tranquila. Os quatro meninos caminharam de forma desajeitada dentro do ônibus. A cada esbarrão que davam nos outros passageiros com suas grandes mochilas nas costas, viam caras feias e resmungos.
Como esses meninos ricos não estavam acostumados a ter que respeitar o espaço das outras pessoas, era inevitável que rissem do incômodo de quem reclamava deles. Finalmente, chegaram perto da porta um. Gabriel correu ao ver que uma senhora levantou-se do banco preferencial para descer.
Sem pensar duas vezes, ele se sentou naquele lugar. Diogo olhou para o adesivo colado no vidro ao lado do banco, que dizia que aquele era um assento preferencial, ou seja, para gestantes, pessoas com bebê no colo ou com necessidades especiais. Ele então perguntou para o amigo se não tinha problema ele sentar ali.
Gabriel riu alto e disse que, se alguém que tivesse direito ao banco entrasse no ônibus, bastava fingir que estava dormindo para não ter que ceder o lugar. Secretamente, Diogo pensou que seria ótimo se ninguém com direito ao banco entrasse. Ele conhecia bem Gabriel e sabia que ele se negaria a levantar sem nenhuma cerimônia.
Embora Diogo gostasse de fazer piadas com alguns colegas de vez em quando, não era exatamente um garoto de mau comportamento e costumava se sentir mal quando seu. . .
" Melhor amigo Gabriel agia assim: Verônica, a motorista do biarticulado em que os garotos entraram, estava focada na direção do ônibus, mas um pouco distraída em seus pensamentos. No dia anterior, ela foi ao escritório de um advogado que analisou o seu caso e lhe deu esperança de poder voltar a ver o filho. O advogado lhe disse que era muito estranho que, sem nenhuma prova de que ela fazia uso recorrente de drogas, tenha sido impedida de ver a criança por tantos anos.
Não fazia o menor sentido, mas, conhecendo o sobrenome da família de Rafael, ele tinha uma vaga ideia do motivo. Verônica sempre imaginou que a família do marido não tornaria aquele processo fácil, mas ela ainda tinha resistência em acreditar que eles podiam agir tão à margem da lei. Após a reunião com o advogado, ela se sentia mais confiante sobre ter uma nova oportunidade.
Ele lhe garantiu que não havia motivo que a impedisse de, pelo menos, visitar o filho; além de ter uma casa própria, que estava sendo paga em dia, Verônica ainda tinha um emprego de carteira assinada e estabilidade. Nunca havia sido presa e, se fosse necessário, passaria por um teste toxicológico sem problemas. Ao longo do trajeto, Verônica repassou mentalmente tudo o que o advogado lhe disse na tarde anterior e demorou para perceber que havia quatro garotos rindo e apontando para ela.
Assim que prestou atenção ao menino que estava sentado no banco preferencial, ela entendeu que eles riam muito do seu lenço na cabeça. Verônica, apesar de ter trabalhado em diversas funções pesadas, sempre gostou de manter o cabelo longo; contudo, em algumas atividades, as madeixas onduladas podiam ser um grande problema. Para evitar que o cabelo a atrapalhasse, ela passou a usar um lenço.
Já havia acontecido duas ou três vezes de as pessoas rirem porque ela usava lenços estampados para prender o cabelo. Ela nunca ligou para esse tipo de provocação; porém, percebeu que o menino desagradável do banco preferencial agora dizia para os colegas que eles não terminariam a viagem de ônibus, afinal, com uma mulher dirigindo, certamente estavam correndo risco. Outro menino que estava em pé e parecia estranhamente familiar para Verônica riu dizendo que provavelmente a motorista era uma mulher sem marido, pois que marido deixaria a sua esposa dirigindo um ônibus daquele tamanho com aquele lenço ridículo na cabeça.
Sem entender o porquê, Verônica sentiu quase como um tapa as palavras daquele garoto que lhe pareceu familiar e estava em pé. Os outros três riam e apontavam para ela, que via tudo pelo espelho retrovisor. Mas ela não se importava.
Quando aquele menino especificamente falava algo desagradável, ela ficava mal. Verônica tinha vontade de parar o ônibus, se levantar e gritar com aqueles meninos; porém, lembrou-se do motivo pelo qual precisava daquele emprego: ter uma chance de poder voltar a conviver com seu filho. Dessa forma, decidiu que iria ignorar aquelas provocações; sair do sério e chamar a atenção de crianças mimadas poderia lhe custar o emprego e um futuro com seu menino.
Os garotos continuaram fazendo piadas, e as provocações foram se tornando mais agressivas. Gabriel continuava sentado no banco preferencial e parecia falar cada vez mais alto para que Verônica ouvisse o que ele dizia. Ela respirava fundo e estava decidida a deixar passar para evitar problemas.
Contudo, as coisas mudaram quando uma moça de uns 25 anos, grávida, entrou no ônibus. O ônibus estava relativamente cheio, e a mulher, que já estava de quase 9 meses, procurava desesperadamente um lugar para se sentar. Mesmo com uma barriga enorme, ela parecia não ser vista por ninguém dentro do biarticulado.
Ao avistar a mulher grávida caminhando pelo ônibus no retrovisor, Verônica tentou dirigir o mais devagar possível. Ela imaginou que logo alguém teria o bom senso de ceder o lugar para a gestante; porém, isso não aconteceu, e a mulher continuou caminhando até se aproximar dos garotos perto da porta. Um, provavelmente, a moça pensou que o garoto sentado no banco preferencial se levantaria para que ela pudesse ocupar o lugar que, no fim das contas, era dela por direito.
Naquele ônibus, porém, mesmo a moça se segurando com grande dificuldade, o menino que, até aquele momento, debochava da motorista parecia não ter a mínima intenção de levantar. Observando aquela cena, outra gestante que estava sentada em outro banco preferencial se levantou e chamou a moça para se sentar. Quando viu pelo retrovisor aquela cena, Verônica soube que havia chegado o momento de intervir.
Que os garotos rissem dela era uma coisa, mas que não tivessem o menor bom senso de ceder o lugar preferencial para uma gestante já era demais. No turno dela, uma gestante não ficaria em pé. Gabriel olhava de canto de olho para a moça que se levantou para que a grávida que tinha acabado de entrar se sentasse e, ao perceber que ela também tinha uma barriga de grávida, apesar de menor, começou a fingir que estava dormindo.
Ele olhava para os amigos, ria, e aí abaixava a cabeça, fingindo que dormia. Verônica perdeu a paciência e parou o ônibus. Não havia problema; ela faria, porque os biarticulados circulam em uma pista própria, logo, ela não estava atrapalhando o trânsito.
O ônibus do horário seguinte tinha uma diferença de 15 minutos para o dela, e Verônica acreditava que resolveria aquela bagunça em menos de cinco. Ela se levantou do banco de motorista e, decidida, se virou para os passageiros, mas olhando especificamente para o grupo de garotos. Então, Verônica anunciou que aquele ônibus só se seguiria quando todas as gestantes estivessem devidamente sentadas.
A moça, que devia estar grávida de uns 5 meses e que havia cedido seu lugar para outra gestante, tentou dizer que não tinha problema em ficar em pé, mas Verônica lhe disse que já havia estado grávida e sabia perfeitamente que uma mulher nessas condições não pode ficar em pé em um ônibus. Gabriel começou a rir de forma ainda mais deboche. E então, Verônica o olhou ainda mais nervosa e perguntou o que era tão engraçado.
O menino disse que era difícil imaginar uma mulher tão masculina quanto ela grávida; como teria nascido esse filho? Os quatro garotos riram, inclusive Diogo, que não podia imaginar o quanto aquele encontro podia mudar a sua vida. Aquele era o ponto fraco de Verônica: falar sobre o seu filho, há tanto tempo perdido.
Ela então começou a perder a calma e, de forma dura, disse a Gabriel que ele estava sentado em um banco preferencial e deveria se levantar para que a gestante se sentasse. Diante dessa confusão, um homem que estava sentado em um banco comum se levantou e disse que a moça grávida poderia se sentar ali, mas Verônica estava decidida a tirar aquele menino arrogante do banco preferencial e disse que a gestante deveria se sentar no seu lugar de direito. Diogo então respondeu para a motorista que Gabriel não era obrigado a se levantar e que, se outra pessoa ofereceu o lugar, ela deveria ficar quieta e voltar para sua função.
Mesmo ela recebendo pouco pelo trabalho, tinha a obrigação de cumprir seus horários e de não incomodar os passageiros. Além disso, talvez ela não tivesse notado, mas eles estudavam numa escola de elite; ou seja, todos ali eram ricos e poderiam fazer com que ela fosse demitida. Em um piscar de olhos, Verônica então respondeu àquele menino insolente que a escola podia até ser de elite, mas que estava fazendo um péssimo trabalho, pois ele era muito mal-educado.
Ela continuou dizendo que aquele comportamento completamente sem educação não era responsabilidade apenas da escola, mas também da família deles. Certamente, eles todos tinham pais e mães snobs que não tinham a menor noção da realidade e assim criaram crianças desagradáveis e insolentes. Diogo quis retrucar, mas o som estridente de sua voz irritada foi abafado pelas palmas que os outros passageiros passaram a bater para Verônica.
Aos poucos, os outros passageiros passaram a gritar que Gabriel devia se levantar e deixar a moça grávida se sentar no banco que era dela por direito. Os meninos perceberam que estavam em minoria e que os outros passageiros concordavam com a abordagem de Verônica, quando um dos passageiros começou a filmar e disse que entraria em contato com a escola para reclamar deles. Diogo disse para Gabriel se levantar; era melhor parar de causar polêmica no transporte coletivo.
João Henrique e Walter, que até aquele momento estavam apoiando que Gabriel não cedesse o lugar, passaram a dizer que ele deveria deixar a grávida se sentar. Os três garotos, que estavam viajando de ônibus escondido dos pais, tinham medo que realmente a escola fosse contatada e isso chegasse aos ouvidos dos seus responsáveis. A contragosto, Gabriel decidiu levantar.
Assim que a gestante estava instalada no banco preferencial, Verônica deu as costas para os passageiros e começou a caminhar para o seu banco de motorista. Porém, num impulso, Gabriel avançou sobre a mulher, que foi surpreendida pelo ataque, pois não viu a movimentação. Verônica é uma mulher alta, tem 1,80 m; o menino, que tem 1,74 m, tentou derrubá-la, mas não conseguiu.
Ele puxou o lenço que segurava os cabelos de Verônica; ao fazer isso, as longas madeixas onduladas dela caíram sobre as suas costas. Gabriel ficou em choque, pois imaginou que aquela mulher deveria ter um cabelo mal cuidado ou ter a cabeça raspada para usar lenço. Verônica ainda estava sem acreditar quando percebeu que aquele adolescente havia tentado agredi-la.
Enfurecida, ela olhou para o garoto e perguntou se ele tinha ideia de que poderia ser punido severamente por aquela atitude. Gabriel riu e disse que não conseguiu derrubá-la porque ela parecia um homem. Diogo, que também ficou surpreso pela atitude do amigo, ficou completamente imóvel ao ver o cabelo daquela mulher.
Ele então reparou melhor no rosto dela: não era possível que o que ele estava pensando fosse realmente verdade, mas aquela motorista brava se parecia muito com a sua mãe. A única diferença é que, na foto, ela era mais jovem. Não fazia o menor sentido que a mãe dele fosse motorista de ônibus.
Verônica decidiu que chamaria a guarda municipal para prestar queixa. Se aquele menino não fosse responsabilizado, poderia acabar fazendo coisas muito piores no futuro. Walter e João Henrique começaram a pedir para que a mulher não ligasse para a polícia; eles acabariam envolvidos e os seus pais descobririam aquela aventura de ônibus.
Desesperados, eles olharam para Diogo, que estava imóvel, e acreditaram que aquilo se devia ao medo de ser descoberto pelo pai. No ônibus, eles não podiam nem imaginar que, na verdade, o menino estava tentando assimilar que talvez aquela mulher que conduzia o ônibus fosse a sua mãe, que o abandonou. Os amigos acreditavam que a mãe de Diogo havia falecido; essa foi a orientação que sua avó lhe deu, assim ninguém teria pena dele na escola por ter sido abandonado.
Diogo estava tentando pensar em como perguntar para a mulher se era sua mãe, embora já soubesse a resposta. A semelhança dela com a foto não podia significar outra coisa. Verônica ligou para a Guarda Municipal e disse que gostaria de fazer uma denúncia de agressão.
Ela então passou o nome completo dela por telefone para a pessoa que estava do outro lado da linha. Essa era a informação que faltava para que Diogo tivesse certeza de que aquela era realmente sua mãe. O garoto precisava de respostas e não se importava mais se os amigos da escola saberiam que ele foi abandonado e que sua mãe era motorista de ônibus.
Com lágrimas nos olhos e olhando fixamente para Verônica, Diogo caminhou na direção dela. Inicialmente, ela pensou que seria agredida por mais um adolescente. Porém, logo Verônica percebeu que tinha algo diferente no olhar daquele menino.
A motorista do ônibus começou a perceber que ele parecia familiar porque se parecia com ela, mas isso não podia significar o quê? Ela estava imaginando. Era impossível que aquele garoto que a enfrentou para defender o amigo mimado fosse seu filho tão doce e amado.
Diogo tinha a impressão de que todas as pessoas em volta haviam sumido e que só havia ele e Verônica. Naquele ônibus, decidido, ele chegou bem perto daquela mulher e lhe perguntou, sem fazer rodeios: “Por que você me abandonou? ” Verônica não tinha mais dúvidas; realmente, aquele menino era o seu filho.
O destino gostava de brincar com as pessoas. Ninguém mais entendia o que estava acontecendo. Verônica não pôde conter o choro; finalmente, depois de tantos anos, ela estava diante do seu filho.
Não importava o que havia acontecido durante a viagem de ônibus. Mais uma vez, ele olhou fundo nos olhos de Verônica e lhe perguntou, afinal de contas: “Por que você me abandonou? Eu não era um bom filho?
Você nunca me amou? ” Foi somente então que Verônica se deu conta de que Rafael e Samira devem ter contado mentiras para o menino para explicar a sua ausência. Chorando ainda mais por esse golpe, Verônica respondeu para o filho: “Eu nunca te abandonei, meu menino.
Desde que tiraram você de mim, não houve um só dia em que eu não pensasse em uma forma de ter você de novo na minha vida. ” Verônica abriu os braços para receber o seu tão amado menino. Diogo estava em uma difícil batalha interna; tudo o que ele quis a vida toda foi ter uma chance de conhecer sua mãe.
Porém, agora ele não sabia se acreditava que ela realmente não o tinha abandonado. Foram anos ouvindo de sua avó, a figura mais próxima de uma mãe que ele tinha, e de seu pai, que Verônica o havia abandonado porque nunca quis ser mãe. Como acreditar que aquilo não era verdade?
Diogo estava confuso, e as outras pessoas do ônibus também. Gabriel perguntou para o amigo: “Que história era aquela que a motorista, que parecia um homem, era mãe dele? ” Diogo, que estava quase em transe, olhou para o amigo e, muito nervoso, disse que se ele se referisse daquela forma desrespeitosa à sua mãe novamente, ele partiria para cima dele.
Verônica, apesar de ser contra a violência, ficou orgulhosa de ver seu filho pronto para defendê-la daquele outro menino, que era uma péssima influência. Nesse momento, uma viatura da guarda municipal parou próxima ao ônibus. Os policiais então entraram e foram diretamente até Verônica para saber o que estava acontecendo.
Foi agredida por Gabriel, e o menino então perguntou por que ela não contava que havia discutido também com Diogo. Verônica respondeu que, apesar de realmente ter discutido com Diogo e ter se sentido incomodada com o comportamento dos outros dois meninos, nenhum deles tentou agredi-la. Então, o único que deveria ser responsabilizado era Gabriel.
Walter e João Henrique respiraram aliviados. Diogo ainda estava focado em entender a situação curiosa que estava acontecendo. Gabriel foi levado pelos guardas municipais, que lhe disseram que ligariam para seus pais irem buscá-lo.
O garoto deveria se preparar, pois haveria algum tipo de medida; mesmo sendo menor de idade, ele responderia de alguma maneira pela agressão ao motorista. Verônica olhou para Diogo e lhe disse que precisava levar o ônibus até o terminal, mas que quando chegasse lá o seu turno acabaria. O garoto respondeu que ficaria no ônibus até ela estar liberada; eles precisavam conversar.
Os outros dois garotos estavam nervosos, pensando em como fariam para voltar para casa sem que os pais descobrissem aquela aventura no Bia. Articulado, Diogo não estava preocupado com mais nada; só conseguia pensar em tudo o que queria perguntar para Verônica. Ele tinha muitas coisas para esclarecer com aquela mulher.
Quando o turno dela acabou, ele se despediu dos amigos, que desceram do terminal e foram em direção aos táxis para voltar para casa e enfrentar a ira dos pais. Diogo e Verônica caminharam pelo terminal de ônibus inicialmente em silêncio. Foi ela quem começou a dizer que gostou de ver que ele se parecia com ela quando era bebê; não dava para dizer com quem ele parecia.
Diogo então perguntou a ela o que aconteceu: “Por que você sumiu da minha vida esse tempo todo? ” Os dois sentaram-se em uma praça, e ela lhe contou a sua versão da história. Diogo teve alguma dificuldade para assimilar que a avó e o pai poderiam ser tão cruéis; porém, se ele pensasse bem, aquela história não parecia tão deslocada da realidade.
O pai sempre teve problemas em ser rejeitado por mulheres, e a avó sempre foi uma pessoa snob. Finalmente, Diogo aceitou o abraço que a mãe havia oferecido a ele minutos atrás dentro do ônibus. Os dois passaram a tarde juntos, conversando.
Verônica queria saber tudo a respeito da vida do filho, tudo o que havia perdido naquele tempo todo. No final da tarde, Diogo se deu conta de que o motorista do pai iria buscá-lo na casa de Gabriel e não o encontraria. Verônica disse que o levaria em casa de táxi.
O garoto aceitou, mas ficou ansioso pela reação do pai. Ao chegar na frente de sua casa, Diogo viu uma viatura da polícia, imaginou o que estava acontecendo e pediu que a mãe fosse embora. Verônica, porém, disse que já havia fugido demais; ela enfrentaria o ex-marido e lutaria ativamente por seus direitos.
Antes de entrar na casa, Verônica ligou para o seu advogado e pediu que ele fosse até lá. O homem disse para ela entrar e demonstrar que o filho esteve em segurança e que ela nunca teve a intenção de sequestrá-lo ou algo assim. Foi o que Verônica fez.
Quando entrou na nova casa de Rafael e o viu, foi difícil conter toda a raiva que sentia pelo mal que ele lhe causou. Muito controlada, ela se apresentou para os policiais como a mãe de Diogo. Rafael gritou que já sabia de tudo; os pais de Gabriel haviam ligado após tirá-lo da delegacia.
E o menino estava sem. . .
Entender como a motorista do ônibus podia se dizer mãe do seu amigo da escola, Diogo, então olhou para o pai e a avó e questionou por que eles nunca disseram nada sobre a sua mãe nunca o ter abandonado. Rafael respondeu, dizendo que não importava as mentiras que aquela mulher contou para ele; isso não mudava que ela era uma estranha para ele. Infelizmente, Verônica se deu conta de que o ex-marido tinha razão; de certa forma, ele havia vencido até então os anos que ela perdeu pelas manobras feitas pela família dele.
Nunca voltariam, e ela jamais saberia como seu filho foi quando criança. Porém, ela podia impedir que eles continuassem vencendo; era o momento dela reagir. Os policiais perguntaram para Diogo o que havia acontecido, e o garoto contou com detalhes, inclusive a parte da história em que ele agiu mal no ônibus e como Gabriel tentou agredir sua mãe sem saber quem ela era.
Em seguida, o menino relatou que ele pediu para que Verônica passasse a tarde com ele para que pudesse fazer as perguntas que o inquietavam sobre o seu passado. Muito preocupado, o menino perguntou se a mãe dele seria presa por ter passado a tarde com ele. Os dois policiais disseram que não; afinal, a mulher era mãe dele, mesmo tendo estado ausente, tinha um vínculo, e teria sido pior deixá-lo sozinho.
Os policiais aproveitaram para reforçar que não fazia sentido um garoto daquela idade não saber andar de ônibus e nem se locomover sozinho. Verônica disse que iria embora, mas que Rafael haveria em breve em um tribunal, e que dessa vez ninguém armaria contra ela. Samira sorriu maliciosamente, lembrando-se de como arruinou a fala de Verônica naquele fatídico dia na audiência.
Se Verônica ainda tinha alguma dúvida da culpa da ex-sogra, agora só restavam certezas. Algum tempo depois, aconteceu uma audiência pela guarda de Diogo. Verônica conseguiu o direito a visitá-lo; não era o ideal, mas pelo menos ela poderia ficar mais perto do seu filho.
Ao ouvir a decisão do juiz, Samira e Rafael pareciam inconformados; era absurdo que o juiz permitisse que um menino tão rico convivesse com uma mãe motorista de ônibus. Passado mais algum tempo, em uma nova audiência, Verônica conseguiu o direito de passar alguns finais de semana com o filho em sua casa. Desde que passou a conviver com Diogo, ela procurou reformar a casa e prepará-la para receber o filho.
Além disso, ela se dedicou a estudar para um concurso público e havia passado. Enquanto aguardava ser chamada, continuaria trabalhando como motorista de ônibus. Verônica gostava e sentia muito orgulho desse trabalho, mas queria ter mais tempo para conviver com o filho.
Além disso, ganhar um salário três vezes mais alto ajudaria a oferecer um bom padrão de vida para Diogo. Talvez, em uma nova audiência no futuro, ela tivesse a chance de tentar conseguir a guarda total do menino. Para Diogo, estava sendo muito positivo conviver com a mãe; ela o ajudava a ter uma nova perspectiva da vida.
Inclusive, ele passou a andar mais de ônibus e, sempre que necessário, cedia seu lugar, mesmo nunca sentando no banco preferencial. Diogo continuou sendo amigo de Gabriel e tentava fazer com que ele também tivesse essa nova visão de mundo. A verdade é que o susto que Gabriel levou naquele dia fez com que ele pensasse um pouco melhor em como vinha agindo.
O garoto entendeu por que seus pais o faziam andar de ônibus; ele tinha que ter mais noção da realidade. Mesmo que ainda fosse um pouco problemático, Gabriel estava melhorando aos poucos. Num final de semana em que Diogo ficou na casa de Verônica, ela disse que ele poderia convidar seus amigos.
Gabriel foi um dos convidados e, assim que chegou, pediu desculpas para Verônica. Ela ficou feliz em saber que o melhor amigo do seu filho estava tomando juízo e que, de alguma maneira, ela contribuiu para essa mudança de comportamento. Os pais de Gabriel foram buscá-lo e conversaram com Verônica.
Ela se deu conta de que nem todos os pais das crianças daquela escola eram pessoas fúteis e snobs; embora ricos, aquele casal era muito tranquilo e sabia da importância de situar seu filho na vida. Verônica soube que fazia a diferença na vida do filho e que estava reduzindo o impacto da influência de Samira e Rafael. Espero que você tenha gostado desta história cheia de reviravoltas e emoções.
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