Olá, sejam todos mais uma vez bem-vindos! Nós vamos tratar hoje sobre os níveis de leitura dentro de uma tradição que remonta, inclusive, à escola das interpretações rabínicas do Antigo Testamento, né? No caso, do Torá e tudo isso, mas que passam na Idade Média como o método essencial de leitura dos livros, tanto aqueles livros de estrito senso, como nós os conhecemos, né, com páginas e tal e coisa, quanto daquilo que é uma analogia, que é o livro da natureza.
Então, é um método de interpretação de toda a realidade que começa com a interpretação dos livros e passa pra natureza, e não o contrário, como poderia parecer natural, não é? A partir do momento em que nós temos um objeto, e abarcamos como é um livro, né, um livro nós podemos lê-lo, relê-lo, na velocidade que nós quisermos, não é? Pular páginas, repetir, voltar e tal, e todas essas coisas.
Nós acabamos encontrando um método para interpretar a própria realidade. Quando se fala de livro da natureza, não é somente da natureza física, mas também da natureza espiritual e de tudo aquilo que for externo ao homem, e tudo aquilo que pertencer à sua própria natureza também. Logo, nós estamos falando de leitura de tudo, não é, de conhecimento de tudo.
E nós vimos que isso não é somente o método para que nós compreendamos um livro e possamos, daí, fazer uma ficha de leitura, um resumo ou escrevermos uma monografia, um trabalho acadêmico, nem nada disso. Nós falamos de um método de estudos completo, um método do que fazer com o conhecimento. Ah, nós vemos que isso funciona e que normalmente é o que é feito por toda aquela pessoa que estuda, por mais que ela não tenha consciência e nunca tenha ouvido falar sobre a tradição dos níveis de leitura, e nem nada disso.
Bom, quais são esses níveis, né? Nós temos quatro níveis de leitura, três que podem ser ensinados muito facilmente e um último que ele só pode ser indicado, o que é, mas não há técnicas específicas para isso, né? Os três primeiros, nós podemos dar exemplos de como fazer, e é por isso que nós encontramos, por exemplo, num Alcino de York e num Raban Mauro, mesmo até no Goodson Vittor, algumas indicações de como fazer a leitura neste nível, nestes três níveis; e depois, o quarto.
Bom, ele não pode ser feito, não pode ser indicado verbalmente, digamos assim, né? Os resultados daquilo, e nós veremos o porquê até o final desta aula. O primeiro nível de leitura é aquele que nós chamamos de literal, ou nível específico, nível da letra.
Não é por isso literal, poderíamos chamar também de leitura elementar, mas essa aí nós confundiríamos com aquele como Mortimer Adler divide os passos da leitura, não é? E aquilo já é uma outra escola, é um outro método. Não é que esse método tradicional é muito bom, funciona, mas não é o que nós trataremos aqui.
Então, vamos chamar de nível literal. É um nível onde eu reconheço o que está escrito. Então, se disser ali: "a raposa viu uma parreira de uvas", eu preciso saber o que é a raposa e saber a que animal aquilo se refere, qual é a realidade daquilo.
Preciso saber que há ali um artigo, saber que "viu" é um verbo que está no pretérito perfeito; saber que "uma" é um artigo indefinido; "parreira" é um substantivo; "é" é uma preposição; "uvas" é outro substantivo e que "de uvas" é justamente um adjunto adnominal. Todas essas coisas pertencem, não é, à disciplina da gramática, hã, mas não só isso. Não é?
Eu preciso conhecer a própria realidade. Se eu nunca vi uma raposa, se eu nunca vi, nem mesmo uma figura, se nunca ninguém me explicou o que é uma raposa, eu não vou entender aquilo. Então, existe a parte que pertence mesmo à gramática e existe toda uma outra que pertence ao repertório, às minhas próprias experiências, não é?
Então, é bastante visível isso quando nós estamos falando de alfabetização com crianças, que obviamente têm pouca experiência de vida. Uma criança ali, sendo alfabetizada com 7 anos, normalmente o problema não é que ela não sabe ler; o problema é que ela não sabe a que aquelas palavras se referem. E não adianta ter o vocabulário se eu não tiver o contato com a realidade.
Porque, neste nível, o que nós vamos fazer é compreender aquele triângulo, aquele tripé do que é uma palavra, não é? Nós temos ali um símbolo linguístico que é a palavra, e ela possui um significante, um significado e possui um referente. O significante é a própria palavra; o significado é a definição que nós podemos dar a aquela palavra, e o referente é a coisa em si.
Então, vamos ver: quando eu leio a palavra, por exemplo, num texto, eu leio a palavra "table". E aí nós temos a palavra da língua inglesa "table", que significa uma coisa, e nas diferentes línguas, em português eu vou dizer "mesa", em alemão vou dizer "Tisch", em espanhol vou dizer "mesa", e em italiano, enfim, né, em francês, enfim, em cada língua eu tenho uma palavra diferente. O que essa palavra significa vai ser o mesmo em todas essas línguas; a definição que eu vou dar vai ser a mesma, mas a palavra vai mudar de língua para língua, e o referente também é sempre o mesmo.
Então, nós vemos que estudar línguas é estudar diferentes significantes para coisas com o mesmo significado e com o mesmo referente. Isso é sempre. .
. Assim, nem sempre, quando se trata de objetos, é abstrato ou mesmo imateriais, que têm muito de concreto, mas não fisicamente concretos, como, por exemplo, sensações ou relações. E uma brincadeira, mas com um fundo de verdade bastante grande que eu sempre fiz, é que a palavra "amizade" em português não significa a mesma coisa que a palavra "FR shaft" em alemão.
É porque o significante é diferente; beleza, porque são línguas diferentes. Porém, o significado será outro, não é? Mas como isso é possível se eu, no dicionário, vou procurar "amizade", aí vai estar lá "FR shaft".
E aí, quando eu vou dar a definição, ele vai ser outra. Por quê? Porque a definição precisa estar de acordo com o referente, que é a realidade em si, independente de como eu a nomeio.
E se isso é diferente, nós teremos aí um problema para a própria compreensão mútua entre pessoas que usam aquelas palavras, não é? Ah, porque, enfim, são fatores culturais e tudo isso que fazem com que o referente e o significado sejam diferentes. Bom, isso é o que nós vamos fazer no primeiro nível.
Nós vamos entender as palavras e o que elas significam, de modo geral. Então, eu preciso saber o que é raposa, o que é porco, o que é mesmice; eu saber o que é amizade, discórdia, ódio, seja lá o que for. Eu vou precisar saber a que os verbos se referem, não é?
E mesmo os verbos, nós vemos que a realidade pode ser a mesma, mas nem sempre funciona. Se eu disser em inglês "I'm tired", é "eu estou cansado". Ah, então se eu disser assim: "I am happy", "I am a happy person".
"I am happy" é "eu estou feliz" e "I am a happy person" é "eu sou uma pessoa feliz". Ué, mas e por quê? Ai, que no inglês não existe o verbo "estar", não é?
Eh, sim, é verdade, existe um verbo, enquanto em português e espanhol nós temos dois. Essa é uma realidade, não é? Mas a forma como nós nos referimos às coisas vai ser diferente.
Por mais que a realidade possa, na maioria das vezes, ser a mesma, as palavras vão mudar. E a carência de certas palavras em uma língua e noutra é o que faz com que uma mesma realidade muitas vezes possa ser expressada numa língua e não em outra. Bom, nós vamos fazer qualquer outro tipo de interpretação nesse nível.
Não, nós simplesmente precisamos entender o que está sendo dito. Isso é básico e o tempo todo isso precisa ser feito. Qual é o segundo nível?
O segundo nível é aquele que nós vamos chamar de literário ou de figurado. Nós temos o primeiro, que é o literal; o segundo, que é esse figurado. Porque, quando nós vamos dizer que a raposa viu uma parreira de uvas e ficou com fome, foi lá comer as uvas e, né, não sei o quê, a gente vai ver assim: bom, ele não está falando de um texto de biologia sobre os hábitos alimentares da raposa, nem nada disso, né?
Ele é um texto falando sobre pessoas. Mas por que ele fala com raposa? Bom, é justamente porque ele está usando uma figura de linguagem.
O sentido figurado pertence, justamente, a esse estudo das figuras de linguagem, o estudo da analogia e de tudo isso, não é? Então, quando nosso Senhor, por exemplo, fala por meio de parábolas, ele realmente não está falando sobre uma videira em si; ele precisa que todas as pessoas sejam capazes de saber o que é uma videira, sejam capazes de ler isso tanto no papel, mas de escutar sabendo o que é uma videira, o que é um ramo, o que é o agricultor que corta o ramo, não é? O que é o ramo seco que será jogado ao fogo.
Ele precisa saber o que é fogo e todas essas coisas, sim, num primeiro nível. Mas agora ele precisa dar o segundo passo, e esse passo é saber que ele não está falando de videira nenhuma. Quando ele diz "um semeador saiu para semear", ele não está falando de um semeador, né?
Ele está falando daquele que espalha a palavra de Deus, assim como o semeador espalha sementes. Isso tudo pertence ao nível figurado de linguagem. Se eu não sou capaz de fazer essa exposição, eu não sei ler; essa é que é a verdade.
Eu posso estar ali muito bem, ter um aparato muito grande, um vocabulário muito grande e não conseguir desligar uma coisa da outra. Eu me lembro, é um exemplo que eu sempre dou, de que saiu um comercial uma vez, que eu não me lembro do que era, mas eu acho que era alguma coisa de supermercado, alguma coisa assim, e isso lá na Alemanha. E o comercial era o Welton J tocando piano em diferentes fases da vida.
Não é montar assim: o Welton J criança ganhando o primeiro piano, aí ele tocando como criança, daí adolescente na escola, não sei o quê, os primeiros shows, e depois, não é, num estádio olímpico com uma multidão assistindo o show dele, não é? Ele já mais velho e tudo isso. E o comentário de um sujeito, ao ver aquilo, foi justamente assim: "mas o que eles vão vender, piano agora, no supermercado e coisa assim?
", né? Não, não tá. Por que que isso aí.
. . ?
Tem a ver com o supermercado, né? Eu não entendi. Eles têm esse DVD do Elton John, o que que é isso?
Cara, é só para emocionar as pessoas e elas associarem aquilo com o supermercado, né? Eles querem dizer assim, né? Nós estamos aqui para fazer com que tu tenha sucesso na vida, né?
Com que as coisas sejam plenas de sentido. Venha fazer compras aqui que tu serás feliz. E, e, e assim como Elton John, aqui ele é feliz, cara.
Tem uma mensagem, essa é a mensagem. Assim, ele não tem nada a ver com essa propaganda, o cara realmente só leu no primeiro nível, né? E, como ele está lendo no primeiro nível, ele não conseguiu dar o passe pro segundo nível, ele achou que o comercial era ruim, né?
Isso é falta de capacidade de leitura. Não é aqui no Rio Grande do Sul, a gente está falando isso. Supermercado, né?
Todo o Natal tem a propaganda de uma grande rede de supermercados aqui, que é o Zafari, e não aparece supermercado, não aparece maçã, pão, carne e essas coisas assim que vêm do supermercado, dizendo qual é o preço. Venha comprar os seus produtos de Natal aqui no nosso supermercado. Aparece um filmezinho das pessoas em família, felizes comemorando o Natal, tendo acontecido alguma coisa mágica ali.
Não é uma pessoa que está brigada da família e aí eles se reconciliam, um filho que estava longe que volta, alguma coisa a, né? Acontece e toca as pessoas. E, no final, tem ali a marca do supermercado, né?
Então, assim, na publicidade, muitas vezes, é isso que acontece. Existe o nível direto que tu só precisas do primeiro nível de leitura. Quando ele diz assim: "Ó, venha comprar carne aqui, ela custa tanto", pronto.
Esse é um tipo de publicidade. E, pô, tá barato, eu vou comprar. Certo?
Mas isso é só um primeiro nível. É o feirante gritando ali, não é? Agora, o sujeito que faz um comercial desses, por exemplo, ele está agregando outros significados àquilo ali que não são esses que dependem para a compreensão daquilo tudo, desses outros níveis, não é?
E ele está apelando para várias outras coisas. Para além da descrição da própria realidade, assim como, ah, assim como nosso Senhor estava fazendo isso. Ele precisa tratar de algo que não é acessível através dos nossos sentidos, através da nossa própria razão, que transcende qualquer possibilidade de compreensão da razão humana, que é o reino dos céus, que é Deus.
E para isso ele usa desta linguagem figurada. Então, depois disso, né? Aí, então, o sujeito tem capacidade de entender: bom, está falando ali da raposa das uvas, né?
Está falando da cigarra e da formiga, está falando do lobo e do cordeiro, não sei o quê, ou está falando da videira, do semeador, ou mesmo de questões bastante diretas, não é? Como o pai que tinha dois filhos, um dos filhos pede a sua parte da herança e sai, e gasta tudo com prostitutas e não sei o quê. E não está falando, não tem pai nenhum, certo?
Na realidade não tem pai com dois filhos que foi lá comer bolotas dos porcos, e não tem porco nenhum na história, certo? Não é isso. Isso é no nível literal.
Só que nós precisamos saber o que é pai, o que é filho, o que é prostituta, o que é bolota, o que é isso, o que é aquilo e tal, para conseguir entender a história, né? Então, no primeiro nível. E aí, sim, depois nós vamos entender no figurado, né?
Não, ele está falando de qualquer pessoa, o pai é Deus, qualquer pessoa que, e o filho que pega sua herança e sai fora, é aquele que pega todas as suas dádivas da sua própria existência e desperdiça com aquilo que é a afastar-se de Deus. E tal, depois tem o outro filho que não se afastou de Deus, mas que fica com ciume quando aquele filho volta e não sei o quê. Essas são as pessoas que não cometem todos esses pecados, mas acabam se revoltando com Deus porque o outro, que era um pecador, não é?
E que fez tudo de errado, ele é recebido, né? Ele fica com esse ciúme do outro que é perdoado por Deus e tudo isso. Então, vem a explicação, a explicação toda do que é a realidade que está sendo tratada ali.
Esse é o segundo nível, o nível figurado. O terceiro nível é o nível moral, e nesse sentido nós vamos tirar conclusões bastante específicas, não é? Então, se nós estamos ali vendo a cigarra e a formiga, não é?
Nas edições modernas e assim, a partir da modernidade mesmo e depois, como o próprio La Fontaine, né? Ele mesmo botava a moral da história no final. Então, tem lá a cigarra e a formiga, e aí diz assim: "Olha, né?
Poupe, trabalhe nos tempos propícios para que, quando faltar, tu não passes fome de necessidades e não sei o quê. " São conclusões de tipo moral que nós temos que tomar a partir de tudo aquilo, não é? Então, o sujeito vai lá e ele entende a fábula da cigarra e da formiga, entende que ele não está falando de insetos, e não é um tratado de zoologia sobre insetos, nem nada disso.
Que ele está falando de pessoas, na verdade. De atitudes das pessoas em determinadas situações. E agora ele tira uma conclusão: "Olha, melhor ser formiga do que ser cigarra", por exemplo, né?
Mas é só isso? Não, ele pode ter. .
. Não, o problema da cigarra não é que ela. .
. "Não trabalhou é que ela não soube monetizar a música dela. Ali, o canto e essas coisas todas assim, né?
Ela podia já ter feito um acordo com a formiga: 'Olha, enquanto tu trabalha, eu fico aqui te divertindo, cantando, e tu me dá depois 10% do que tu produzir, né? Quando, enfim, né? ' E essa também é uma conclusão moral.
Ah, mas isso não é o que o autor quis dizer! Não importa o que o autor quis dizer, o que importa é o que ele disse e as inúmeras conclusões que eu posso tirar depois. Pode ser que nunca tenham passado pela cabeça do autor, e eu tenho absoluta certeza de que o autor vai ficar muito feliz se tu tirares conclusões que ele nunca pensou.
O texto, principalmente a literatura de ficção à qual pertence, e a poesia à qual pertence, esse tipo de. . .
pertence às fábulas e também às parábolas, e também às grandes epopeias, os romances e tudo isso. . .
e todas elas têm inúmeras possibilidades de leitura moral. Então, assim, escrever ali no finalzinho 'moral da história: faça isso, não faça aquilo' é prejudicar justamente o aproveitamento daquilo, né? Ahã, bom, mas isso será que funciona só com literatura?
Toda essa leitura que se faz das coisas, né, não funciona com tudo, inclusive com texto de zoologia, falando sobre a vida dos insetos? Ah, porque muito. .
. como é que eu vou tirar uma lição moral sobre aquilo? Não é?
Primeiro que eu vou. . .
eu tenho a consciência de que aquilo foi escrito por um ser humano e eu tenho a consciência de que alguém se interessou por aquilo, por aquele assunto. E eu tenho a consciência de que, se alguém se interessou por aquilo, é sinal que existe um espaço dentro do conhecimento humano para aquele tipo de estudo, de classificação, de descrição desses hábitos dos insetos e todas essas coisas. E sim, eu vou conseguir tirar lições morais.
Não é? Eu vou conseguir ler este texto no terceiro nível, no nível moral, independentemente do que for. Pode ser um texto de física newtoniana, pode ser astronomia, pode ser qualquer coisa.
Eu normalmente tiro conclusões morais a partir daquilo. Ah, isso eu faço somente com textos? Não, eu faço com tudo.
Eu, com tudo o que eu vejo na realidade, eu sempre vou conseguir, ao olhar para cada coisa. . .
não vou usar a palavra 'contemplar' ainda, mas olhar e conhecer cada coisa, tirar uma conclusão moral, algo que, a partir daquele conhecimento, pode mudar a forma como eu vivo a minha própria vida. Não que mude, mas eu posso, eu posso saber que aquilo vai mudar. O nível moral não é pôr em prática aquilo que eu aprendi, é constatar, certo?
Então, quando eu vejo uma analogia, né? Qualquer. Por exemplo, quando a gente vai ensinar catequese, né?
E a parte moral ali, e o decálogo e essas coisas todas. . .
se usa uma analogia, um texto literário, né? E que a gente tem que compreender, usado pelo Léo XI naquele livro 'Fé Explicada'. Ele vai dizer assim: 'Olha, os 10 mandamentos são como um liquidificador, como um eletrodoméstico, né?
E o eletrodoméstico vem com manual de instruções. Se tu seguires o manual de instruções, aquilo vai funcionar por muito tempo e vai cumprir a sua função. E ótimo!
Se tu não seguires, ele vai quebrar. Então, assim, se tu puseres pedra, né? Cascalho dentro do liquidificador, ele não vai durar nada, ele vai estragar ali naquele mesmo momento.
Está escrito ali: não botar gelo, porque aquele liquidificador não é capaz de triturar gelo. E se tu puseres gelo, bom, aí é tua culpa mesmo que estragou, né? Tu não leste o manual, agora tu não sabes como utilizar.
Bom, os 10 mandamentos são um manual de instrução para viver a própria vida. E aí ele já dá essa própria explicação. Saber disso é o primeiro passo.
Agora, viver de acordo com isso, bom, isso já vai ser algo diferente. E esse algo diferente é o que nos conduz ao quarto nível de leitura, que é o nível anagógico ou nível contemplativo. É quando, depois de eu ter passado pelo nível literário, nível figurado, nível moral, eu chego a um ponto em que aquilo já faz parte da minha própria personalidade e eu já até esqueci aquilo que eu li, aquilo que eu estudei, as conclusões que eu cheguei depois de ter lido e todas essas coisas.
E já não sou eu mais que vivo, mas é aquilo que vive em mim. Não é? Então, eu leio o Machado de Assis e já não sou eu que vivo, são os personagens do Machado de Assis que vivem em mim.
Eu vivo de acordo com aquilo, com o fruto desses meus estudos. Eu posso até esquecer quem foi o Quinas Borba, eu posso até esquecer quem foi o Conselheiro Aires, não interessa. Mas eu vivo de acordo com aquelas reflexões todas.
Isso não só com a literatura, repito, mas com tudo. Não é? Eu vou lá, preparar uma comida, e aí eu tenho alguns temperos que eu posso botar e outros não.
Não sei o que. . .
eu até esqueci aquilo que eu estudei de química, por exemplo, mas eu decido que não vou usar tais substâncias ali na comida, não vou misturar tais ingredientes e essa coisa toda porque eu tenho noção de que, por exemplo, o ácido do limão pode talhar o leite e pode estragar o leite, né? E isso vem de um conhecimento que eu tinha da química, não é? E eu posso até já ter esquecido aquilo que eu estudei na química.
Ah, mas eu vivo de acordo já com aquilo, aquilo já faz parte da minha própria existência, da minha própria personalidade. Esse quarto nível é o que nós podemos chamar de. .
. " Anagógico ou não, é aquele que conduz para cima ou mesmo contemplativo. Contemplar é, tem a palavra "templo" aí no meio.
É no momento em que eu estou com o templo, aí nós nos imaginamos: eu estou no centro de um templo, onde, com uma visão periférica, com uma. . .
não é com uma visão esférica; não é como se o meu olho fosse o centro e eu conseguisse enxergar tudo, né, em todas as direções possíveis daquele templo. E consigo considerar que é uma outra palavra, que é "sidera", são os astros. Não é quando eu consigo ver, olhar um astro e olhar aqui para a Terra, e fazer a comparação entre os dois, entender aquela coisa, né?
Ah, logo, este último nível é o nível máximo, onde tudo aquilo que eu estudar, todas as minhas experiências refletidas a partir de todos esses níveis, passam a fazer parte da minha própria vida. Estes são os quatro níveis de leitura, os níveis pelos quais nós somos convidados a estudar e a conhecer toda e qualquer coisa no nosso itinerário de estudos. Muito obrigado a todos.
Até a próxima!