Quando comparamos a terra, aquilo que vemos normalmente, com as profundezas marinhas, muitas vezes pensamos no mar como apenas aquilo que vemos na superfície: um monte de água. Mas se pudéssemos entrar para ver o que existe ali, veríamos que é tão diverso ou mais do que vemos na terra. A partir de vários pontos de vista.
A geografia marinha, as montanhas que encontramos, as profundezas marinhas, as fossas são maiores, mais altas e mais profundas do que qualquer coisa que podemos encontrar em terra. Por outro lado, a biodiversidade, os organismos vivos que estão no mar são muito mais diversos e abundantes do que vemos em terra. O que acontece é que como não os vemos, muitas vezes não estamos conscientes, mas no oceano existem muitas mais espécies que em terra.
A grande maioria delas não foram descobertas. Conhecemos apenas algumas centenas de milhares de espécies marinhas. Mas se calcula que existem milhões de espécies desconhecidas.
E não é apenas o número de espécies, mas os tipos de organismos que encontramos. Não muito tempo atrás, o voo 370 da Malaysia Airlines desapareceu em algum lugar da parte sul do Oceano Índico. Imediatamente após o acidente houve uma grande busca para tentar descobrir o que aconteceu.
Uma grande parte dessa busca envolveu escanear o fundo do mar dessa área. Quais são os motivos pelos quais o fundo do oceano precisa ser escaneado ali para tentar descobrir o que aconteceu? Porque realmente não temos nenhum tipo de ideia detalhada do que está acontecendo ali no fundo do mar.
Na verdade à medida que avançavam encontravam algumas coisas interessantes, mas infelizmente não conseguiram encontrar o avião. O ponto é que pensamos que a superfície da Terra já foi completamente explorada. E isso é verdade, provavelmente para a maioria das áreas terrestres.
Mas lá em baixo no fundo do mar, sabemos muito pouco sobre isso. Temos um tipo de noção geral das estruturas que existem ali, mas não temos um entendimento detalhado. Ali em baixo não conhecemos a geografia detalhadamente.
E não temos um conhecimento detalhado dos organismos que vivem lá. Isso é uma das coisas que torna o estudo dos oceanos tão interessante. Existe algo novo que pode ser encontrado por qualquer um que quiser ir lá para baixo e simplesmente olhar.
O problema é que ir até lá em baixo para olhar é uma tarefa muito difícil. É um lugar desafiador de se trabalhar. Acho que um dos pontos é o custo.
Muitas partes do oceano são muito profundas. E uma vez que saímos da costa, se torna muito caro. Então apenas a logística de fazer a pesquisa é muito cara.
A pesquisa na costa é mais fácil, então é mais fácil fazer pesquisas nas costas. E também é a área mais impactada pelo homem. Então eu diria que os custos e a logística são dois problemas para estudar os oceanos.
Eles são o que? 70% do globo ou mais estão cobertos pelos oceanos. Se viajarmos de avião da Austrália para a América do Norte, iremos voar por cima do Oceano Pacífico por cerca de 13 horas de voo.
Ele é enorme. Os oceanos são enormes. Então o desafio do tamanho também é enorme.
Estamos lidando com oceanos imensos e nos oceanos temos partes muito interessantes mas de difícil acesso. A Antártica por exemplo. Eu trabalhei na Austrália por muitos anos e lá tem um programa antártico muito grande.
E é preciso ir nesses grandes barcos, navegar por semanas até chegar às áreas de pesquisa para fazer o estudo. Tudo sob condições muito difíceis. Mas o interessante é que quando chegamos lá, encontramos comunidades prósperas de organismos.
Então a distancia, o custo e a logística de ir para algumas dessas áreas fazem com que estudar o oceano seja desafiador. Na terra firme dentre os animais, estamos acostumados a ver alguns, umas poucas dezenas de diferentes tipos. Vemos os vertebrados, que têm uma estrutura mais ou menos igual, os artrópodes, os insetos e as aranhas.
Depois vemos os vermes, temos alguns tipos determinados. No oceano, isso é muito mais diverso e muito mais interessante. Ao menos tão interessante quanto o que vemos na terra.
Por exemplo no oceano temos animais que parecem plantas. Temos os corais que quando os vemos, eles parecem plantas, ou inclusive rochas. Mas são animais.
Temos vermes que parecem flores. O corpo do verme está enterrado na terra e o que sai, são as brânquias coloridas. E quando o vemos, parece uma flor.
Temos muitos organismos microscópicos que fazem parte do fitoplâncton, que é o que faz a fotossíntese. Seria o equivalente das plantas. E o zooplâncton que seriam animais microscópicos que comem essas plantas, mas que na verdade não são plantas porque se movem.
Elas tem seus flagelos e se movem. É uma mistura estranha entre o que consideramos animal e planta. Tudo isso podemos encontrar no oceano.
Uma característica que os oceanos têm é que diferente daquilo que vemos na terra firme, toda essa biodiversidade está muito concentrada em lugares determinados. Grande parte do assoalho marinho não tem apenas vida. E isso é lógico porque não tem uma fonte de energia.
Nas profundezas marinhas não chega a luz do sol portanto não há produção, não há fotossíntese. E existem apenas os organismos que conseguem viver nessas condições. Os poucos que existem, são animais que chamaríamos de detritívoros.
São alguns poucos peixes, alguns invertebrados que vivem daquilo que cai de cima. Vivem dos restos de comida que possam conseguir da parte superior. Porém nas zonas onde temos produção, na superfície do mar, nas costas, ali se acumula.
Então em algumas zonas temos uma biodiversidade incrível. Como por exemplo seriam os recifes de coral. Outras zonas poderiam ser os manguezais.
Então temos determinados tipos de ecossistemas costeiros que são considerados os mais produtivos e diversos, em relação aos diferentes organismos que convivem ali. Entre os ecossistemas marinhos, existem alguns que são especiais porque são os únicos ecossistemas em todo o planeta que não dependem da luz do sol. Antes eu comentei que a maior parte do assoalho marinho está deserto porque não há uma fonte de energia.
Porém há uma exceção. Em determinados lugares do assoalho marinho, que são lugares onde coincide que há magma, lava perto da superfície, e então esse magma sai por fissuras ou por pequenos buracos esquentando a água ao seu redor e depositando minerais de vários tipos. Essas são o que os cientistas chamam de fumarolas.
Podem ser de vários tipos, as brancas ou as negras, dependendo dos tipos principais de minerais que saem. Recentemente em 1977 os cientistas descobriram que nessas zonas existem ecossistemas muito ricos, com muita vida. Muitíssimos organismos são concentrados em uma zona muito pequena, mas de muito poucas espécies diferentes e coisas completamente distintas daquilo que encontramos em outros lugares.
E descobriram que a primeira peça nesses ecossistemas são umas bactérias chamadas de arqueas que não dependem da luz do sol. Não usam a luz solar para crescer ou para se reproduzir, mas usam um processo similar chamado de quimiossíntese em vez da fotossíntese, porque eles retiram a energia das substâncias minerais. Dentre algumas substâncias químicas que existem na água nessas condições, elas extraem a energia que precisam para criar matéria orgânica, para crescer e se reproduzir.
Então esse é o primeiro degrau. Depois temos alguns animais que se alimentam dessas bactérias. E como estão em grandes quantidades, também podem crescer e se reproduzir em grandes quantidades.
Temos uns vermes gigantes que são famosos nessas fumarolas. Existe também um tipo de camarão especial que encontramos apenas nessas zonas, que podemos encontrar em uma abundância de milhares de animais por metro quadrado. São concentrações incríveis.
E esses ecossistemas são muito especiais porque não encontramos essas circunstâncias em nenhum outro lugar da Terra. Nos oceanos existem tantos ambientes diferentes. Então talvez tenhamos um mar raso de agua morna, ou aqui estamos na Islândia onde temos um mar raso de agua fria indo para o oceano profundo.
Por exemplo tem muita pesca por aqui. Muitas pessoas ganham a vida neste oceano tão produtivo. Mas então podemos ir para áreas onde não conhecemos muito.
Recentemente me deparei com informações sobre recifes profundos no Havaí. No Havaí tem águas muito profundas e novamente digo que sabemos muito pouco sobre isso. Eu acho que eu era ainda criança na época da escola, quando descobriram as fontes oceânicas profundas, as fontes hidrotermais.
E aquilo simplesmente reescreveu o que sabíamos. Pensávamos que se o sol se apagasse, a vida na Terra como a conhecemos iria deixar de existir. Mas aquelas coisas continuam bombeando lá em baixo e têm toda uma comunidade, como mencionado, de quimosíntese em vez de fotossíntese.
Então esse é um exemplo de algo em águas muito frias e muito profundas destas fontes oceânicas profundas vertendo água quente e criando todo um ecossistema baseado em química, em bactérias, em microorganismos e um conjunto único de organismos associados a isto. Já se perguntaram alguma vez como eles são colonizados? Existem muitas respostas que não conhecemos.
Pode ser que exista uma comunidade de fonte hidrotermal aqui, outra bem para lá e outra ali. Como os organismos vão pela água extremamente fria, se adaptam e vão de uma para a outra? Eu não sei, essa é uma pergunta que não podemos responder.
Então existem coisas fascinantes sobre o fundo do mar que são muito difíceis de serem estudadas porque é um ambiente desafiador. Nós aprendemos muito e sabemos muito, mas existe muito que ainda não conhecemos. Já ouvi falar que sabemos mais sobre o lado oculto da Lua do que sabemos sobre o oceano profundo.
Quando pegamos o oceano profundo, existe muito que ainda não foi explorado. Então há muito que ainda temos que aprender. E quanto mais estudamos o ecossistema do oceano, mais aprendemos como ele funciona e como responde a coisas como estresse.
Existe um problema crescente com coisas como a poluição e pesca mundial que estão estressando tremendamente os oceanos. O desafio nas aguas rasas é porque o impacto do homem é muito maior. Seja através da reivindicação, construção e talvez a remoção de coisas como manguezais, construindo resorts, clubes de golfe, campos de golfe ou outras coisas.
Tudo isso está estressando o meio ambiente. A pesca mundial tem sido um grande problema por vários anos. As pessoas estão se perguntando que por quanto tempo o oceano consegue suportar o que estamos fazendo?
Especialmente certas áreas têm mais dificuldades do que outras, por causa da sobrepesca. Este é um grande problema contínuo. Eu acho que a geração moderna é muito mais consciente do meio ambiente do que quando eu era jovem.
Então eu acho que é bom, porque as pessoas estão mais preocupadas com o meio ambiente. E como raça humana, precisamos cuidar do nosso meio ambiente. Isso é realmente algo que precisamos fazer.
Temos essa responsabilidade. E eu acho que a geração mais nova é melhor, está mais ciente dessas necessidades do oceano.