Napoleão III, imperador ou fraude?

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Paulo Rezzutti
De todos os episódios aqui do canal, o mais assistido é de longe, o sobre Napoleão Bonaparte. O impe...
Video Transcript:
[Música] Oi, pessoal! Tudo bem? Bem-vindo a mais um vídeo aqui no meu canal.
De todos os vídeos que tem aqui no canal, um dos mais assistidos, de longe, é sobre Napoleão Bonaparte. O imperador da França é considerado um dos maiores generais da história e ele mudou a cara da Europa e até a cara do mundo com as suas conquistas e as ideias liberais da Revolução Francesa que vieram junto com elas. Mas você sabia que existiu um outro Napoleão que foi imperador da França, mas que ficou muito mais tempo do que o primeiro?
Pois é, ele entrou para a história como Napoleão III e era sobrinho de Napoleão I. Ele cresceu no exílio, virou presidente pelo voto popular e, assim como o tio, nomeou a si próprio como imperador. Ele foi criticado por seu autoritarismo por pensadores como Karl Marx e Victor Hugo, e passou a maior parte do seu governo tentando melhorar a condição de vida dos franceses, buscando construir uma França melhor do que a que ele tinha recebido.
Mas não é só na França que a história se repete. Aqui a gente está chegando em 2025 com essa mesma camiseta da Insider, lá de 2023. Oi, pessoal!
Tudo bem? Bem-vindo a mais um vídeo aqui no meu canal e ela continua como nova. Eu já gravei vários vídeos, já fiz muitas caminhadas, sujei, lavei e ela continua perfeita.
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Napoleão III estava no auge do poder quando o futuro Napoleão IV nasceu. Ele era filho de Luís Bonaparte, irmão de Napoleão I, que tinha sido colocado no trono da Holanda. Luís se casou com Hortênsia de Beauharnais, enteada do imperador, que também era filha adotiva dele.
Então, o bebê era sobrinho e, de certa forma, neto de Napoleão. O casamento de Luís e Hortênsia foi arranjado; na verdade, os dois se odiavam e passaram a maior parte do tempo possível afastados. Eles só se juntavam para cumprir os deveres da união, ou seja, gerar herdeiros para a coroa.
Isso porque Napoleão I não tinha filhos com a mãe de Hortênsia, Josefina, de quem tem um episódio aqui no canal feito pela Cláudia. Em 1807, Luís e Hortênsia tinham dois meninos: Napoleão Carlos e Napoleão Luís, como vocês podem perceber, super criativos com os nomes. Mas enfim, com dois herdeiros masculinos, eles consideravam o dever cumprido, mas o mais velho, Napoleão Carlos, morreu.
Então, eles decidiram fazer o supremo sacrifício de ter outra criança, que nasceu em Paris em 20 de abril de 1808 e recebeu o nome de Carlos Luís Napoleão - novamente, super criativos. A criança nasceu três semanas antes do tempo, o que gerou certos rumores a respeito da paternidade do bebê. Luís Bonaparte voltou para a Holanda, mas Hortênsia e os meninos ficaram morando em Paris, onde eles eram considerados príncipes imperiais.
Mas tudo mudou quando Napoleão I se separou da imperatriz Josefina e se casou com a arquiduquesa Maria Luísa da Áustria, irmã mais velha da imperatriz Leopoldina. Em 1811, o casal teve um filho chamado Napoleão Francisco. Mesmo assim, o imperador continuou dando atenção aos meninos, especialmente a Luís Napoleão, que era seu afiliado.
Com a derrota do imperador na Batalha de Waterloo, em 1815, ele renunciou em favor do filho, que se tornou Napoleão I, mas só por alguns dias. Os vencedores reinstalaram na França a antiga dinastia Bourbon e o rei Luís XVIII subiu ao trono. O filho de Napoleão foi enviado para ser criado pelo avô materno, o imperador da Áustria.
Os outros Bonaparte foram mandados para o exílio, incluindo Hortênsia e os filhos. Eles acabaram indo morar na Alemanha e depois na Suíça. Como Luís Napoleão recebeu a sua educação na maior parte do tempo nesses países, ele falava um francês com ligeiro sotaque alemão.
Hortênsia criou os filhos para que eles não se esquecessem de que eram franceses e, principalmente, que eram herdeiros do grande Napoleão Bonaparte. Para isso, ela contratou como tutor das crianças um intelectual francês que ensinou os meninos a história da França e as políticas liberais defendidas pela Revolução Francesa e preparou os dois para ocupar o lugar de imperador, se eles tivessem qualquer oportunidade. Em 1826, a família se mudou para Roma, nos Estados Papais.
Ali, Napoleão Luís e Luís Napoleão acabaram se envolvendo com os carbonários, uma sociedade secreta que lutava pela independência das regiões italianas ocupadas pela Áustria e também lutavam pela unificação italiana e pela criação de um estado liberal baseado nas ideias de liberdade nas quais os irmãos tinham sido criados. Em 1831, a Áustria e os Estados Papais lançaram uma ofensiva contra os carbonários e os irmãos foram obrigados a fugir. Na fuga, Napoleão Luís pegou sarampo e acabou morrendo em 7 de março de 1831.
Luís Napoleão e Hortênsia conseguiram escapar e entraram escondidos na França, que tinha uma situação política bem instável. Em 1830, uma revolução tinha derrubado Carlos X, o último rei da dinastia Bourbon, e levado ao poder o monarca constitucional Luís Felipe de Orleans, mas ainda havia muito apoio aos bonapartistas, partidários de Napoleão Bonaparte. E é claro que o novo rei não ficou nada feliz de ver um Bonaparte retornando.
Ele permitiu que Luís Napoleão e Hortênsia ficassem em Paris, mas só se permanecessem incógnitos. Além disso, para servir ao exército, o jovem teria. .
. Que mudar o seu sobrenome? Ele se recusou, e mãe e filho tiveram que voltar para a Suíça.
Em 1832, o filho de Napoleão morreu em Viena, e Luiz Napoleão virou o herdeiro dos Bonaparte. Como preparação para se tornar um candidato viável ao trono, ele entrou para o exército na Suíça, onde chegou a criar um manual de artilharia, a força na qual seu tio, o Imperador Napoleão, tinha se destacado. Ele também começou a escrever trabalhos de filosofia política, nas quais defendia que um Imperador deveria existir para executar a vontade do povo, expresso pelo sufrágio universal; ou seja, todo mundo deveria votar, ou ao menos, dentro desse todo mundo, os homens, né?
Mulheres não podiam votar nessa época. Luiz Napoleão acreditava que seu destino era governar a França e que bastava marchar para Paris para conseguir o apoio necessário para restaurar o império. Ele conseguiu convencer um coronel de Estrasburgo a apoiá-lo e entrou na cidade em 30 de outubro de 1836, vestindo o uniforme, para tentar convencer o resto do regimento a dar um golpe de estado contra o rei Luís Felipe.
Alguns até ficaram do lado dele; outros simplesmente deram risada, e os amotinados acabaram cercados e se renderam. Luiz Napoleão, obviamente, fugiu com o rabo entre as pernas, mas o rei Luís Felipe se recusou a deixar isso tão barato. Ele exigiu que o governo suíço entregasse o golpista; eles se recusaram.
Os suíços não quiseram entregar, mas Luiz Napoleão se entregou por vontade própria e acabou sendo banido para os Estados Unidos. Mas ele não ficou lá muito tempo, porque em 1837 chegou a notícia de que sua mãe, Hortência, estava muito doente. Luiz Napoleão estava ao lado dela quando ela morreu, na Suíça, em 5 de agosto.
Ele então arranjou para que ela fosse enterrada ao lado da mãe, Josefina, mas não pôde ir ao sepultamento porque estava proibido de pisar na França. Em vez de voltar para os Estados Unidos, Luiz Napoleão decidiu se fixar em Londres, na Inglaterra, onde passou a viver confortavelmente com a fortuna herdada da mãe. Mas o sonho de recuperar o império de seu tio não o abandonava.
Em 1840, ele formou um regimento de 56 soldados e atravessou o Canal da Mancha, desembarcando na Normandia. Ali, ele foi imediatamente cercado e preso. O fracasso virou motivo de piada, com os jornais franceses publicando que "louco não se mata, se prende".
A prisão, no caso, era a fortaleza de Ham, no Somme, que era, na verdade, um refúgio confortável, onde Luís Napoleão conseguiu até arranjar uma amante e teve dois filhos com ela. A prisão também tinha uma enorme biblioteca, e Luiz Napoleão aproveitou o que chamava de sua "universidade particular" para escrever muito. Ele produziu poemas, ensaios e artigos, colaborando com diversos jornais de várias regiões da França.
Também publicou panfletos a respeito de seus pensamentos políticos e sociais, dos quais o mais famoso é "A Extinção do Pálpisismo". Pálpisismo, no caso, é como era conhecida a situação de pobreza generalizada que existia na França nessa época. Nesse trabalho, ele propõe medidas práticas para que a classe trabalhadora pudesse ter condições de vida mínimas.
Entre elas estavam a abertura de linhas de crédito para os mais pobres e o estabelecimento de colônias agrícolas em terras não cultivadas. Ele entendia todas essas mudanças como uma forma para que os trabalhadores não se revoltassem e tentassem mudar o sistema. O livro foi publicado em 1844 e virou um best-seller na França, atraindo admiradores entre as classes mais pobres.
Só que Luiz Napoleão, em determinado momento, cansou dessa vida de presidiário. Em 25 de maio de 1846, depois de 6 anos em Ham, ele aproveitou uma reforma no presídio, vestiu as roupas de um trabalhador e simplesmente saiu pela porta da frente. Aí, ele voltou para Londres, onde continuou estudando, frequentando a alta sociedade, colecionando amantes e planejando como subir ao poder na França.
Ele não teve que esperar muito; o ano de 1848 ficou conhecido como o ano das revoluções, por causa dos levantes populares que aconteceram por toda a Europa. Na França, em fevereiro, estourou uma revolta em Paris, que levou à abdicação do rei Luís Felipe. Assim que soube da notícia, Luiz Napoleão pensou que tinha chegado a sua hora e embarcou para a França.
Só que, quando chegou em Paris, em 27 de fevereiro, ele descobriu que os revolucionários já tinham declarado a Segunda República Francesa e estabelecido um governo provisório, que, entre suas primeiras medidas, foi mandar aquele aspirante a Imperador de volta para o exílio da Inglaterra. Mas isso não desanimou Luiz Napoleão; ele se candidatou a deputado nas eleições francesas de 4 de julho, sendo eleito por quatro departamentos, né? Quatro, seriam quatro estados franceses.
Mas ele ganhou e não levou. Ele não assumiu o cargo, em primeiro lugar, porque o banimento da família Bonaparte ainda estava em vigor; em segundo lugar, porque a situação política era muito instável. Alguns dias depois, em 23 de julho, estourou uma revolta de trabalhadores em Paris, que ficou conhecida como "Jornadas de Junho".
A repressão foi violenta, deixando 10. 000 mortos e feridos. O governo acabou se tornando muito impopular, o que levou à convocação de novas eleições em setembro.
Luiz Napoleão foi candidato em 13 departamentos e se elegeu em cinco. Com isso, com essa popularidade toda, o governo não teve como impedir seu retorno para ele assumir em setembro o seu lugar no Parlamento. Luiz Napoleão não foi exatamente um bom político; ele quase não comparecia às votações e evitava fazer discursos, porque não era um bom orador.
Ele falava devagar, em tom monótono e com o sotaque alemão. Além disso, ele era visto como pomposo e arrogante, e os adversários diziam que ele era como um peru que se achava uma águia. Mas, em particular, Luiz Napoleão era encantador e tinha facilidade em.
. . Fazer amigos logo depois da posse do novo Parlamento, foram convocadas eleições para presidente em 10 de dezembro.
Ao contrário da Primeira República, o presidente não era escolhido pelo Parlamento e sim pelo voto universal masculino, como eu falei, porque as mulheres não participavam das eleições. Luís Napoleão, com o apoio de um grupo de monarquistas, anunciou que ia sair candidato à presidência. Esse grupo achava que podia controlar aquele homem que, no fundo, viam como Pateta, mas que era muito popular entre o povo.
Além disso, Luís Napoleão contava com uma amante muito rica para financiar a sua eleição: Harret Howard, que bancou a ascensão política do amante. Luís Napoleão se apresentou como um populista, apelando à direita e à esquerda. De um lado, ele afirmava apoiar a religião, a família e a propriedade como bases da ordem social; do outro, ele prometia acabar com a pobreza, gerando emprego, dando rendas aos idosos e estabelecendo uma legislação trabalhista.
Vários setores da sociedade foram dando apoio a ele, de empresários até o escritor Victor Hugo. O resultado foi uma vitória esmagadora, com 74% dos votos; para ter uma ideia, o segundo colocado só teve 1/4 da votação dele. A primeira medida do novo presidente foi pendurar o retrato da mãe, a Hortência, e do tio, o Imperador Napoleão, na residência oficial, o Palácio do Eliseu, enquanto nomeava a si mesmo como Príncipe Presidente.
A segunda foi mandar tropas para ajudar o Papa a expulsar os rebeldes nacionalistas que tinham tomado Roma. Entre esses invasores estavam Giuseppe Garibaldi e Anita. Como eu falei no episódio sobre ela, Luís Napoleão tinha lutado anos antes ao lado desses mesmos rebeldes pela independência italiana, então é fácil entender que a medida tinha objetivo político; ele buscava agradar os católicos conservadores franceses que tinham apoiado a sua eleição.
Mais tarde, ele reforçou essa aliança, aumentando o papel da Igreja Católica na educação. Quem não gostou nada disso foram os republicanos, que eram simpáticos aos nacionalistas italianos e defendiam o estado laico, sem a intervenção da religião. Logo, os republicanos franceses mais radicais tentaram um novo levante em junho de 1849.
A rebelião foi contida sem dificuldades, e ambos os grupos foram suprimidos, deixando os conservadores no controle da Assembleia Nacional. Eles começaram a passar leis contra os interesses das classes mais baixas. Isso causou um conflito com Luís Napoleão, que se declarou protetor dos desvalidos e passou a fazer valer a sua vontade, usando cada milímetro de poder que a constituição dava ao presidente e colocando pessoas de sua inteira confiança em posições importantes.
O consolo dos deputados era que o mandato presidencial durava apenas 4 anos, sem reeleição. Mas em 1851, Luís Napoleão propôs uma emenda à constituição para que pudesse concorrer a um novo mandato, alegando que o tempo de governo não era o suficiente para ele promover as reformas que tinha planejado. Ele até conseguiu uma maioria favorável à emenda, mas não foi o suficiente para atingir os 2/3 necessários para ela passar.
Então, o que ele fez? Luís Napoleão decidiu que, já que não ia por bem, ia por mal e conseguiu organizar um golpe de estado. Ele foi marcado para 2 de dezembro, a mesma data em que Napoleão I foi coroado imperador em 1804.
Na noite anterior, soldados leais a ele ocuparam postos estratégicos em Paris, abrindo caminho para que Luís Napoleão dissolvesse a Assembleia e instaurasse um estado de sítio. Alguns republicanos, como o escritor Victor Hugo, tentaram resistir, mas a oposição foi esmagada e milhares foram mandados para o exílio. Hugo nunca perdoou Luís Napoleão, a quem considerava um traidor dos ideais republicanos.
Ele não esperou para ser expulso e se exilou primeiro na Bélgica, depois nas Ilhas do Canal, onde editou o panfleto "Napoleão, o Pequeno", criticando o ex-aliado. Outro que escreveu sobre o autogolpe foi o pensador alemão Karl Marx, que analisou os acontecimentos em uma de suas obras mais importantes, "O 18 de Brumário de Luís Bonaparte". "18 de Brumário" é como ficou conhecido o golpe que levou o tio de Luís Napoleão ao poder.
Marx usou a política francesa para desenvolver os seus conceitos filosóficos. Além disso, ele definiu o golpe de Luís Napoleão com uma frase que ficaria muito famosa: "Os acontecimentos históricos se repetem uma vez como tragédia e outra como farsa. " Enquanto reprimia duramente os adversários, Luís Napoleão procurou demonstrar que tudo isso tinha um grande apoio popular.
Ele convocou um plebiscito logo depois, em 20 de dezembro, que aprovou o autogolpe por uma vasta maioria. Claro que ninguém com mais de dois neurônios acreditou nesse resultado, mas Luís Napoleão passou a usar isso como prova do suporte que tinha do povo. Com poderes absolutos, ele começou a trabalhar para fazer todas as reformas que não tinha conseguido.
A nova constituição restabeleceu o direito de voto que tinha sido restringido e estabeleceu que o presidente governava por 10 anos, com reeleição automática ao final; ou seja, era praticamente um mandato vitalício muito mal disfarçado. Ele também tratou de silenciar os opositores, estabelecendo censura à imprensa, dando poder ao governo para controlar o conteúdo dos cursos universitários e até mesmo proibindo os estudantes de usar barba, que era vista como um símbolo do republicanismo. Mas mesmo todo esse poder não era ainda o suficiente para Luís Napoleão; afinal, ele tinha sido criado para ser um imperador e não um presidente.
O outro plebiscito foi marcado para 1852, para se decidir se ele deveria ou não restaurar o império, e o resultado foi ainda mais suspeito do que o anterior, com 97% dos eleitores dizendo que sim. E, de novo, em 2 de dezembro, ele se fez coroar como Imperador Napoleão III, incluindo na conta o seu primo Napoleão I, que tinha falecido em 1832. Logo depois, ele começou a procurar uma noiva, já que uma das principais tarefas de um monarca é justamente a continuidade da sua dinastia.
De volta pra Inglaterra, a sua amante Harret Howard, ele tentou arranjar um casamento com alguma princesa europeia, mas nenhuma casa dinástica aceitou. Todo mundo via aquele projeto de imperador com muita suspeita. Então, Napoleão I decidiu seguir o coração.
Numa recepção em 1849, ele conheceu a condessa Eugênia de Montiro. Além de ser membro de uma das famílias mais nobres da Espanha, ela era linda, inteligente e culta, tendo estudado no Sacré-Cœur, em Paris, um colégio da elite, onde também estudava, na época, a duquesa de Goiás, filha do Dom Pedro I com a Marquesa de Santos. Napoleão fez de tudo para seduzi-la, mandando presentes e convidando-a para vários eventos onde pudesse ficar sozinho com ela.
Ela sempre escapava, mas também não dizia não. Certo dia, Napoleão tinha sido convidado para uma festa na casa da mãe da Eugênia e ele resolveu ir direto ao assunto, perguntando pra Eugênia qual era o caminho pro quarto dela. Ela respondeu: "Pela capela, senhor".
Ou seja, só casando. E os dois acabaram se casando na Catedral de Notredame em 30 de janeiro de 1853. Eles só tiveram um filho, chamado Napoleão Eugênio, que nasceu em 1856.
O casal foi muito criticado na Europa, não pelo fato do imperador ter se casado com uma mera condessa, mas sim porque uma moça de uma das famílias mais importantes da Europa tinha se unido a alguém de uma nobreza duvidosa. Além de cumprir o papel de anfitriã, que era esperado a uma imperatriz, Eugênia se tornou uma das mais importantes aliadas de Napoleão. Ele a consultava antes de qualquer decisão importante e ela o representava em eventos oficiais, como na abertura do Canal de Suez.
Ela também participava de reuniões de conselho de ministros e atuava como regente em todas as ausências do marido. Além disso, Eugênia foi uma grande apoiadora das artes e, sobretudo, da moda, já que tudo que ela vestia acabava sendo copiado por toda a Europa. Ela popularizou os vestidos com crinolina, uma espécie de armação colocada debaixo da saia que se tornou quase sinônimo da moda, isso em meados do século XIX.
Eugênia também nunca usava o mesmo vestido mais de duas vezes, e todos os anos ela vendia parte do seu guarda-roupa em bazares de caridade. O seu estilista favorito era Charles Frederick Worth, um inglês estabelecido em Paris e considerado um dos pioneiros da alta costura. Por influência dele, ela abandonou a crinolina e passou a usar vestidos de anquinha, que só tinham armação na parte de trás.
Com tudo isso, Eugênia ajudou a estabelecer Paris como o grande centro da manufatura de luxo do planeta. Mandar fazer roupas com costureiros da capital francesa se tornou uma obrigação para a alta sociedade nos países ocidentais, e foi justamente Paris que concentrou as atrações de Napoleão III no início do seu governo. Na época, a cidade ainda tinha ares medievais, com ruas tortas e estreitas, falta de saneamento básico e muitos cortiços.
Surtos de doenças, como cólera, eram comuns por causa do saneamento que era muito precário. Para mudar isso, Napoleão nomeou como prefeito de Paris o barão Hausmann, um administrador público que tinha uma reputação de ser firme e audacioso. Juntos, eles decidiram mudar completamente a cara da cidade.
O novo plano urbanístico abriu as grandes avenidas, que até hoje são uma das marcas de Paris. A ideia era ter passagens largas o bastante para passar canhões em caso de revoltas, mas isso acabou ajudando muito na mobilidade. A área urbana também foi ampliada, com casas populares sendo construídas para substituir os cortiços derrubados.
Houve grandes melhorias no abastecimento de água e no saneamento básico; parques foram abertos e novas estações ferroviárias foram construídas. Hausmann também mandou instalar uma quantidade tão grande de postes com iluminação a gás que Paris ganhou o apelido de "a cidade luz". Napoleão também pensou na educação, que passou a ser gratuita e obrigatória.
Além disso, seguindo uma ideia de Eugênia, ele derrubou o veto de que mulheres não podiam cursar universidade; elas passaram a poder. Mas o maior esforço foi para modernizar a economia, encorajando a criação de linhas de crédito para a construção de indústrias e fazendo grandes obras de infraestrutura. Por exemplo, durante o império, a malha ferroviária francesa aumentou em quase seis vezes, ultrapassando a rede do Reino Unido.
Já a produção industrial cresceu 75%, sem contar o investimento na agricultura, que praticamente eliminou a fome na França, e o uso de áreas improdutivas para reflorestamento. Na política externa, Napoleão afirmou logo no começo que o império queria paz, mas não foi bem isso que aconteceu. Já em 1853, ele se aliou aos britânicos e ao Império Otomano contra a Rússia na Guerra da Crimeia.
Mas quando os russos buscaram negociar a paz, Napoleão tomou a iniciativa para intermediá-las. Foi a primeira vez em séculos que o monarca britânico era recebido na França, e Vitória acabou ficando muito amiga de Napoleão. Tem um episódio aqui no canal sobre ela.
Em 14 de janeiro de 1858, Napoleão e Eugênia sofreram uma tentativa de assassinato quando um nacionalista italiano atirou bombas contra a sua comitiva. Os dois saíram ilesos, mas 14 pessoas morreram. Em vez de se zangar com os revolucionários italianos, o imperador se lembrou da sua antiga luta por uma Itália unida e ofereceu ajuda ao rei da Sardenha para expulsar os austríacos que ainda ocupavam boa parte dos territórios.
Essa guerra acabou resultando na unificação italiana em 1861 e, como agradecimento, a França anexou a Saboia e Nice, para desagrado de Garibaldi. Nesse mesmo ano, 1861, a França se meteu em outra guerra ao invadir o México, que devia uma fortuna ao governo francês. Os franceses se aliaram aos monarquistas mexicanos e convidaram para ser imperador o arquiduque Maximiliano, irmão do imperador da Áustria, Francisco José.
Mas nada deu certo. Napoleão retirou o seu apoio e Maximiliano acabou sendo executado em 1867. Sobre Maximiliano, tem um episódio aqui no canal.
Depois de muitos anos mantendo o poder com base em um estado policial, com muita censura e repressão a opiniões divergentes, em 1860, Napoleão começou a considerar que a estabilidade do regime permitia mais liberdade. A Assembleia Nacional passou a ter mais poderes e a censura foi aliviada, o que levou a um crescimento da oposição e a mais concessões. Mesmo assim, a popularidade do Imperador não parava de crescer nessa época, porque as reformas também aumentaram os direitos dos trabalhadores, que, entre outras coisas, receberam permissão para criar sindicatos e entrar em greve.
Apesar disso, Napoleão tinha problemas em outras áreas, como a própria saúde. De 1862 em diante, ele passou a sofrer de cálculos renais e problemas urinários, além de fortes dores nas pernas, que às vezes o obrigavam a usar uma bengala. Como o tratamento para esses problemas incluía ópio, o Imperador parecia sempre um tanto lento e apático, com uma voz bem fraca e tinha dificuldade para escrever.
Mas, por causa disso, Napoleão demorou para perceber que havia chegado um rival à sua altura: o novo chanceler da Prússia, Otto von Bismarck. Bismarck tinha um objetivo na vida, que era unificar os estados germânicos sob um governo prussiano. No começo, Napoleão não achou nada perigoso nisso e até tentou se beneficiar quando a Prússia e a Áustria entraram em guerra.
Ele prometeu neutralidade a ambas em troca de receber algum território do vencedor. A Prússia venceu e, mais uma vez, Napoleão se colocou como mediador do tratado de paz que abriu caminho para iniciar a unificação alemã. Então, ele foi cobrar o seu preço: a anexação do Grão-Ducado de Luxemburgo para a França.
O Grão-Duque, que também nessa época era rei dos Países Baixos, estava disposto a vender o território para a França, mas Bismarck interveio e impediu o acordo, o que gerou uma crise diplomática. Foi só então que Napoleão percebeu o perigo e começou a fazer um esforço para aumentar o exército francês, além de tentar uma aliança com a Áustria, que se recusou. Os italianos condicionaram o seu apoio à retirada das tropas francesas que protegiam os Estados Papais.
E aí foi o Imperador francês que não quis saber disso. Todos esses fiascos na política externa abalaram a popularidade de Napoleão, que já não estava muito bem dentro do próprio país. Ele tinha perdido quase a maioria do Parlamento em 1869 e percebeu que precisava de algumas mudanças.
Em janeiro de 1870, ele aceitou virar Imperador constitucional e nomeou um primeiro-ministro para montar o governo. Pouco depois, ele ficou sabendo que um príncipe alemão tinha sido convidado para assumir o trono da Espanha, que tinha ficado vago com a deposição da rainha Isabel I. Napoleão protestou porque, afinal de contas, iria ficar prensado entre os prussianos de um lado e os germânicos do outro, com a França no meio.
Com esse protesto, ele conseguiu o encontro do Rei da Prússia com o embaixador da França, que sepultou a candidatura do príncipe alemão e resolveu a questão. Só que Bismarck decidiu dar uma cutucada nos franceses, editando o telegrama que falava sobre o encontro para que parecesse que o embaixador francês tinha sido humilhado pelo Rei da Prússia. Isso, obviamente, causou irritação na França e, como consequência, Napoleão declarou guerra aos prussianos em 19 de julho de 1870.
Embora estivesse doente, o Imperador estava tão confiante que se colocou à frente do exército para liderar as tropas contra os prussianos. Mas a verdade é que o exército estava mal treinado, mal equipado, as comunicações eram péssimas e foi sendo derrotado, batalha após batalha. Em primeiro de setembro, Napoleão reuniu o resto das tropas que sobraram e enfrentou os alemães na Batalha de Sedan, que foi um desastre completo.
O exército francês foi obrigado a se render e o próprio Imperador foi capturado. Assim que as notícias chegaram a Paris, o governo decidiu acabar com o império e, em 4 de setembro, depôs Napoleão e declarou a Terceira República. A guerra continuou até janeiro de 1871, quando os prussianos conseguiram tomar Paris.
Napoleão foi mantido prisioneiro até a assinatura do Tratado de Versalhes, que não só acabou com a guerra, como consolidou a unificação da Alemanha. Em seguida, Napoleão e sua família foram mandados para o exílio. Portanto, ele não estava presente quando a rebelião conhecida como Comuna de Paris destruiu boa parte da cidade.
Napoleão, Eugênia e o filho se instalaram perto de Londres, onde ele continuou escrevendo sobre política e planejando a sua volta ao trono, que obviamente nunca mais ocorreu. A saúde dele continuou piorando e os médicos recomendaram uma cirurgia para retirar pedras da vesícula. Napoleão não se recuperou bem e acabou falecendo em 9 de janeiro de 1873, aos 54 anos.
Os saudosistas do império imediatamente nomearam seu filho como Napoleão V e houve rumores de um noivado entre ele e a princesa Beatriz, filha mais nova da Rainha Vitória, que gostava muito dele. Ele acabou servindo ao exército britânico, mas Napoleão Eugênio morreu em 1 de 1879, lutando ao lado dos britânicos contra os zulus na África. E assim acabou a linhagem.
Eugênia mandou construir uma badia em Farb, onde sepultou os corpos do marido e do filho. Ela se juntou a eles ao falecer em 1920, aos 94 anos. Agora, um plot twist: em 2013, o geneticista Gerhard Lucot fez uma publicação no Museu do Exército em Paris sobre a análise que ele fez do DNA de Napoleão I, Napoleão II e do herdeiro.
O DNA do tio e do sobrinho não batem. Isso porque ou a mãe de Napoleão I teve um caso e ele e o irmão Luís, na verdade, eram meio-irmãos só por parte de mãe, ou Napoleão I não seria filho de Luís Bonaparte. Não dá para saber ao certo qual dos dois casos realmente.
Aconteceu porque falta o material genético do Luís Bonaparte para bater com o filho. Também tem uma outra questão: esse estudo ainda não foi reproduzido, e na ciência só é aceito quando você consegue reproduzir mais de uma vez o mesmo estudo com os mesmos resultados. Então tá ok, mas é muito irônico pensar que quem lutou tanto, né, para levar a questão dos Bonaparte de volta ao império, né, ao trono francês, de repente não era, na verdade, Bonaparte coisa nenhuma.
Bom, pessoal, era essa a história que eu tinha para contar hoje para vocês. Espero que vocês tenham gostado! Deixa aí embaixo seu like, seu dislike, seus comentários.
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