Nós ainda estamos aqui em Barcelona, por isso o cenário está diferente. Na semana passada, nós conversamos sobre a experiência de invalidação que muitos autistas vivem, e é muito difícil isso, né? Então, hoje eu gostaria de conversar com vocês a respeito das consequências de não ter as suas características espectrais reconhecidas.
Bom, se nós quisermos ter uma resposta simples e direta, ser constantemente invalidado — ouvir que você não pode ser autista porque você é bonita, porque é inteligente, porque você tem filhos, tem diplomas — isso, no mínimo, pode deixar a pessoa muito confusa. E às vezes nem é pelo fato de querer ser autista ou de querer impor o seu diagnóstico, como muitas pessoas me dizem, né? Que ouvem os outros falando com elas, ou se queixando, reclamando, ou às vezes até acusando de que ela quer nessa imposição, "ah, está querendo direitos que você não precisa utilizar, recursos que estão reservados às pessoas que têm o diagnóstico de nível três de suporte".
Enfim, mas não é isso. É porque, mesmo sendo academicamente bem-sucedida, profissionalmente bem-sucedida ou tendo família, as pessoas autistas nível um de suporte — o próprio nome já diz, né, que é o nível um, não é nível zero de suporte — elas podem, sim, precisar de mais cuidados durante as suas consultas médicas, por exemplo. Elas podem precisar usar filas prioritárias para escapar de ambientes estimulantes, podem precisar de algumas adaptações na escola.
Então, se o autista, adolescente, adulto ou idoso, é constrangido ao solicitar qualquer tipo de acomodação, além da confusão, há um volume muito maior e desnecessário, no caso, de informações para que ele administre, então gera um cansaço, às vezes um esgotamento, culpa, uma série de sentimentos que não fazem bem e que assim não são necessárias realmente. Pois bem, eventualmente alguém escreve aqui nos comentários que se sente um ET, ou que não se sente pertencente a lugar nenhum, ou que não vê mais sentido na vida. Às vezes, as mensagens são até mais tristes e preocupantes, porque a pessoa já não enxerga as possibilidades no futuro, enfim, já está muito desanimada com a vida.
E essas sensações de deslocamento podem ser realmente extremamente preocupantes, realmente graves, se forem vividas por um longo espaço de tempo. Então, no final das contas, o bullying, o cancelamento, a invalidação, às vezes no ambiente familiar, de profissionais, e a invisibilidade, acabam contribuindo para essa sensação de vazio existencial e para os sintomas de ansiedade e depressão. Não é à toa que há um risco aumentado real de ideação suicida em pessoas autistas.
Inclusive, em 2022, a equipe do Dr Simon Baron-Cohen publicou um artigo a respeito do papel da ansiedade e da depressão nos pensamentos suicidas, tanto em pessoas autistas quanto em pessoas não autistas. Foi interessante esse trabalho, porque fez a comparação. Eles fizeram uma análise de rede baseada na teoria sobre cada uma dessas condições: os sintomas da ansiedade, da depressão e o que estava relacionado aos pensamentos suicidas.
Eles cruzaram esses dados para conferir onde estavam os nós, ou seja, eles estudaram a relação entre os sintomas de sofrimento psíquico e os pensamentos de autoextermínio. E aí, a conclusão foi de que as pessoas autistas experimentam mais fatores estressantes ao longo da vida do que as pessoas não autistas, e isso leva a uma redução na capacidade e também dos recursos para o enfrentamento do estresse. Isso é óbvio, porque a pessoa já é, às vezes, mais frágil e ainda tem que manejar, né, fazer um malabarismo com mais fatores de estresse.
Então, quer dizer, ela tende a ficar mais fragilizada, né, pode ficar mais predisposta ao sofrimento psíquico, ao mau humor também e aos pensamentos suicidas. O artigo mostra que o autismo não é um fator de risco direto para esses pensamentos, quer dizer, a pessoa não deseja abandonar o mundo só porque ela é autista, mas o autismo aparece como um fator de risco distal. E isso significa que o transtorno do espectro autista deixa o indivíduo mais vulnerável à ansiedade, às dores físicas, à solidão, à insônia, à hiperatividade, à depressão.
Também à hiperatividade, às vezes, porque a pessoa não consegue escoar aquela tensão, né, de uma forma saudável, então sente um agito e tal, às vezes um agito físico também. E esses problemas é que estão ligados mais diretamente à vontade de sumir do planeta. E no estudo, por essa análise de rede, é possível perceber também que em pessoas autistas há mais fatores que levam ao desânimo de viver.
Basicamente, tanto as pessoas neurotípicas quanto as pessoas autistas ficam mais vulneráveis em quatro situações, que são: quando elas sentem que são um peso para a sociedade, para a família; quando elas também imaginam que o mundo seria melhor se elas não estivessem aqui, que as pessoas ficariam aliviadas se elas deixassem de existir; quando há uma sensação de fracasso, seja um fracasso pessoal, profissional, acadêmico, isso também deixa a pessoa mais vulnerável; e quando a esperança já se esgotou. Ou seja, a desesperança também pode levar a esses pensamentos de morte. E aí, no caso das pessoas autistas, os pesquisadores verificaram mais um ponto relacionado ao agito motor.
Então, como nós dissemos, às vezes tem essa tensão física mesmo que a pessoa não consegue resolver. Então, mesmo parada, ela sente que tem taquicardia, que a musculatura está tensa, isso tudo também pode deixá-la muito desconfortável. E eles especularam que isso possa ter relação com a sobrecarga sensorial e também com os MDS, né, com as crises autísticas.
E, claro, esse tópico é muito, muito mais complexo do que o nosso vídeo consegue abranger aqui hoje. Mas por que eu senti que é importante conversar sobre esse tema logo no início do ano, né, e trazer esse tema que é um pouquinho espinhoso, delicado, aqui? Bem, porque para promover o pertencimento, para reduzir a ansiedade e para compreender esse papel do movimento da.
. . Relaxamento físico é importante para pessoas autistas.
Nós precisamos saber que esses são aspectos super relevantes para o suporte, para apoiar e para oferecer ajuda às pessoas autistas, e que isso pode literalmente salvar vidas. Se você é a pessoa que está sofrendo nesse momento, é fundamental saber que essa pode ser apenas uma fase. Eu sei que é uma fase muito difícil, mas você não precisa passar por isso sozinha.
Nós temos o Centro de Valorização à Vida, que pode nos ajudar muito, e é só ligar 188 para conversar com alguém especializado que vai te oferecer alternativas, uma palavra de conforto, e que você vai poder elaborar melhor os seus pensamentos naquela situação imediata. Aqui na comunidade, você também pode se sentir livre e pertencente. Todos aqui são super bem acolhidos, um cuida do outro, responde as mensagens com muito carinho e, inclusive, esse é um espaço totalmente livre de bullying.
Então, todos aqui são muito bem-vindos. Inclusive, nós chamamos de espectro feminino essa comunidade, mas tem vários homens e rapazes que enviam mensagens e se sentem bem aqui também e se identificam com os traços mais sutis. É muito importante ter um profissional que lhe ofereça suporte personalizado.
Algumas pessoas vão precisar de um suporte farmacológico também; não há problema. Um fármaco bem prescrito é excelente e também facilita a transição por essas fases difíceis. Psicoterapia, rotina de exercícios e, às vezes, alimentação também.
O suporte de um nutricionista pode ser bastante útil. Às vezes, as mulheres autistas entram em menopausa precoce, o que também as predispõe a pensamentos ruins, hipoglicemia, hipotiroidismo e, às vezes, esses pensamentos distorcidos vêm pelo desequilíbrio emocional; querem dizer que nem são seus, nem fazem parte do seu repertório. Então, é importante observar a anosmia.
Depois do COVID, muitas pessoas tiveram e é um grande problema que também predispõe a pessoa à solidão, a pensamentos ruins e a uma série de problemas. O que eu quero dizer é que, às vezes, esses pensamentos realmente não são seus. Essa é uma fase que você não precisa viver, e se você tiver um suporte, às vezes, para algumas pessoas, realmente só uma caminhadinha, um lanchinho para evitar a hipoglicemia já vai surtir efeito.
Agora, eu gostaria de saber o que você tem feito para tornar sua vida mais saudável, para cultivar pensamentos melhores, para cuidar do seu corpo e da sua mente. E, claro, curta o vídeo, conte pra gente aqui um pouco da sua experiência. Compartilhe essa mensagem com os amigos para que a gente cuide da nossa rede espectral e eleve o nível de consciência das pessoas.
Um grande abraço e até a próxima quinta! Tchau, tchau!