Olá pessoal sejam muito bem-vindos ao nosso canal onde as sombras da noite tomam forma através das histórias que vocês me enviam hoje trago mais um vídeo com relatos enviados diretamente para o nosso e-mail cada história que recebo é cuidadosamente editada por mim para garantir que a essência do terror seja preservada enquanto protegemos a privacidade daqueles que decidiram compartilhar seus momentos mais assustadores con embora eu acredite na realidade vivida por quem me manda esses e-mails devo lembrar que não tenho como comprovar a veracidade dos acontecimentos então resta a você acreditar ou não ou meu nome é
Antonio há mais de 30 anos eu cuido do Cemitério Municipal de Santa Maria no coração do Rio Grande do Sul meu trabalho sempre foi algo que poucos entendem mas que considero uma missão aqui entre lápides antigas e novas acompanhei histórias que chegam ao fim e outras que começam de maneira Inesperada neste chão escavei buracos para desconhecidos enterrei amigos e até minha própria mãe mas nada absolutamente nada poderia me preparar para o que Vivi naquele janeiro de 2013 o cemitério sempre foi um lugar silencioso um silêncio que me trazia paz mas naquela semana o silêncio ganhou
outro Tom um silêncio pesado sufocante carregado de luto e desespero era madrugada do dia 27 de janeiro quando ouvi as primeiras notícias sobre o incêndio na boat Kis eu estava na minha Cabana no cemitério quando o rádio começou a narrar a tragédia mais de 230 jovens mortos em um incêndio em Santa Maria disseram eu gelei meu coração acostumado com a rotina do luto parou na manhã seguinte o telefone do cemitério tocava sem parar eram famílias desesperadas tentando entender onde seus filhos irmãos e amigos seriam sepultados a prefeitura mandou reforços mas naquele momento o peso maior
caía sobre mim e meus ajudantes o pequeno cemitério que até então recebia dois ou três sepultamentos por semana agora se preparava para acolher dezenas de jovens de uma só vez lembro-me da chegada dos corpos eles vinham em caixões lacrados marcados com etiquetas cada nome carregava um mundo de memórias e histórias interrompidas não eram apenas corpos eram estudantes filhos irmãos amigos namorados todos com algo em comum sonhos interrompidos e a marca de uma tragédia que não fazia sentido enquanto cavava as Covas sentia o peso do que estava fazendo não era só um trabalho naquele dia era
um testemunho da maior tragédia que esta cidade já viveu lembro de olhar para o céu rezando para que o pesadelo acabasse mas a realidade me devolvia ao barulho das paz Ao Cheiro da Terra e aos gritos de dor ao meu redor o cemitério ficou lotado em questão de dias jovens sepultados lado a lado cercados por flores e homenagens cada lápide que eu ajudava a colocar no lugar parecia cravar em mim uma nova ferida até hoje quando caminho entre essas sepulturas vejo os rostos daqueles jovens em minha memória aquele Janeiro mudou minha vida para sempre as
noites no cemitério sempre foram tranquilas quase monótonas apesar do peso das memórias que cada lápide carrega mas desde a tragédia da Boate algo parecia diferente no ar havia uma sensação de inquietação como se o lugar mesmo em silêncio guardasse um lamento constante o número de visitas aumentou muito nos meses seguintes principalmente em datas especiais eu me acostumei a ver rostos tristes e lágrimas escondidas mas naquela noite algo me tirou da rotina por conta do grande fluxo de visitantes estendemos o horário de fechamento era uma noite fria típica do inverno gaúcho e o nevoeiro começava a
subir entre as lápides criando sombras inquietantes eu fazia minha última Ronda verificando se havia alguém no cemitério antes de fechar os portões tudo Parecia em ordem até que ao caminhar pelas Alamedas mais antigas percebi uma figura parada ao longe ela estava de pé imóvel próximo a um dos túmulos recém ocupados por uma das vítimas da tragédia no início pensei ser apenas mais um visitante atrasado era comum que alguém se perdesse no horário preso na dor de uma despedida e eu já tinha aprendido a lidar com isso com paciência mas havia algo estranho naquela figura estava
parada quase rígida e não reagia ao barulho dos meus passos o nevoeiro dificultava a visão mas mesmo assim dava para perceber que a silhueta parecia olhar diretamente para mim Olá chamei com a voz firme tentando não demonstrar o desconforto que começava a crescer dentro de mim o cemitério está fechando por favor é hora de sair não houve resposta apenas silêncio continuei andando em sua direção tentando afastar o desconforto como quem tenta afastar um mosquito insistente mas antes que eu pudesse chegar perto o suficiente a figura se moveu não de maneira brusca como alguém que corre
ou se esconde ela simplesmente desapareceu sumiu como se fosse uma sombra engolida pelo nevoeiro parei onde estava meus pés fincados no chão olhei ao redor vasculhando cada Alameda cada canto o cemitério não é grande mas naquela noite Parecia um labirinto sem fim caminhei rápido até o local onde a figura estava acreditando que ela pudesse ter entrado em uma das fileiras de túmulos revirei cada canto olhei atrás de árvores e maus oléos mas não havia ninguém apenas o vento frio que cortava o silêncio o túmulo onde a figura estava parada era de uma jovem chamada Mariana
uma das vítimas mais lembradas da tragédia ela tinha apenas 21 anos e sua lápide vivia adornada com flores deixadas pelos pais e amigos era um dos túmulos mais visitados sempre Limpo com uma foto sorridente que parecia contrastar com a tristeza do lugar olhei em volta novamente mas não encontrei sinais de ninguém voltei para a entrada do com o coração pesado tentando racionalizar o que tinha acontecido talvez fosse apenas minha mente Me pregando peças pensei na manhã seguinte o cemitério estava coberto por uma fina camada de geada o sol mal começava a iluminar os túmulos e
o silêncio era quase absoluto decidi caminhar entre as lápides para verificar se tudo estava em ordem como sempre fazia antes de abrir os portões foi quando ao passar pelo túmulo de Maria algo imediatamente chamou minha atenção havia uma marca escura sobre a pedra branca da Campa algo que não estava ali no dia anterior me aproximei com cuidado apertando os olhos para enxergar melhor era como se alguém tivesse rabiscado a lápide com um pedaço de carvão o traço era áspero e irregular mas perfeitamente legível um único nome escrito Mateus parei por um instante sem saber o
que pensar o nome Parecia ter sido escrito às pressas com letras que tremiam quase como se quem tivesse feito isso estivesse tomado por nervosismo ou urgência a questão era quem e por qu naquela manhã ainda não havia visitantes no cemitério e a ideia de alguém entrando ali durante a noite para escrever isso me deixou inquieto Mateus murmurei para mim mesmo tentando lembrar se aquele nome tinha alguma relação com a tragédia da Apesar de conhecer muitas histórias sobre as vítimas nem todos os detalhes haviam chegado até mim Passei a mão sobre a palavra tentando apagar o
Rabisco mas o carvão Parecia ter impregnado a superfície do mármore olhei ao redor mas não vi mais nada fora do lugar o nome no entanto Parecia um grito silencioso algo que não pertencia ali o dia seguiu mas aquele nome não me saía da cabeça quando o o cemitério abriu fiquei atento a quem visitava a campa de Mariana esperando que alguém pudesse explicar o que tinha acontecido vi os pais dela passarem por lá no meio da tarde como sempre faziam mas nada disseram sobre o Rabisco eles provavelmente nem perceberam distraídos pela dor que carregavam durante a
noite o nevoeiro novamente começava a cobrir o cemitério envolvendo tudo em um manto pesado e opressivo eu tinha tinha acabado de fechar os portões e me preparava para voltar à minha pequena casinha nos fundos do cemitério quando Senti aquele arrepio familiar na espinha ao me virar vi novamente a figura estava parada ao longe quase na mesma posição da outra noite meu coração disparou mas algo dentro de mim me impediu de ignorar o que estava acontecendo peguei a lanterna no bolso e apontei na direção da figura mas a luz parecia ser absorvida pelo nev criando mais
sombras do que clareza ainda assim pude perceber que ela não se moveu apenas ficou lá imóvel como se estivesse esperando por mim com a lanterna trêmula nas mãos comecei a caminhar em direção à figura a cada passo sentia o peso do ar aumentar como se o próprio cemitério estivesse segurando minha respiração quando cheguei a poucos metros de distância a forma feminina ficou mais nítida suas roupas estavam cobertas por algo escuro parecia fuligem ou cinzas como se tivesse saído de um incêndio o cabelo desgrenhado escondia parcialmente o rosto que permanecia cabisbaixo e as mãos estavam soltas
ao lado do corpo numa postura que era ao mesmo tempo melancólica e perturbadora parei hesitante mas reuni toda a coragem que tinha quem é você minha voz saiu firme embora meu interior estivesse tomado pelo medo ela não respondeu de imediato o silêncio parecia ganhar forma preenchendo o espaço entre nós como um peso invisível por um momento pensei que ela não falaria Mas então com um movimento lento ela ergueu a cabeça seu rosto ainda estava parcialmente obscurecido pelo cabelo e pela sombra da noite mas algo brilhou em seus olhos algo que parecia mais vivo do que
deveria ser você não lembra de mim a voz era baixa mas carregava uma tristeza profunda que parecia ecoar por todo o lugar minha mente ficou confusa tentei buscar algum rosto conhecido em minha memória mas nada se encaixava ela deu um passo à frente e eu percebi que havia algo profundamente errado o cheiro de queimado parecia envolver o ar ao nosso redor E seu rosto agora mais visível tinha marcas como as de uma queimadura cicatrizes que contrastavam com a expressão vazia de seus olhos eu sou Mariana ela finalmente disse meu corpo congelou no lugar aquelas palavras
aquele nome bateram em mim como um golpe eu a conhecia ou melhor conhecia a história dela sabia quem ela era mas isso não fazia sentido Mariana estava morta eu mesmo tinha ajudado a cavar o lugar onde agora ela repousava isso isso não pode ser gagueje dando um passo para trás ela apenas me olhou os olhos carregados de algo que parecia dor e ao mesmo tempo uma Súplica silenciosa não houve mais palavras mas sua presença parecia gritar algo que eu não conseguia entender Fiquei parado sem reação até que de repente ela começou a recuar passo a
passo até que sua silhueta desapareceu no nevoeiro quando Finalmente consegui me mexer minha mente estava um turbilhão voltei correndo com o coração disparado e as mãos tremendo aquela noite Mal dormi tentando entender o que havia acontecido eu não sabia se era um aviso um pedido de ajuda ou algo mais profundo Mas uma coisa era certa Mariana ou algo que parecia ser ela estava tentando me dizer algo e de alguma forma isso estava ligado ao nome que encontrei rabiscado em sua Campa Mateus passados alguns dias eu já tentava esquecer do que tinha acontecido mas enquanto eu
trancava os portões do cemitério e estava fazendo a ronda final senti aquela mesma presença de antes um arrepio percorreu minha espinha e meu corpo ficou tenso como se algo invisível estivesse me observando meu olhar foi atraído para uma das Alamedas mais ao fundo onde a escuridão parecia mais densa e lá estava ela a figura de Mariana parada no mesmo lugar em que a tinha visto pela primeira vez por um instante eu hesitei meu coração disparou e minhas mãos ficaram geladas mas dessa vez algo dentro de mim me impulsionava a seguir em frente o medo dominava
meus passos mas a necessidade de entender porque ela estava ali me fez seguir adiante Mariana chamei minha voz ecoando baixa pelo espaço vazio ela levantou a cabeça devagar deixando que seus olhos vazios encontrassem os meus era como se ela quisesse me dizer algo mas estivesse presa em um silêncio que não conseguia romper o silêncio era pesado e o tempo Parecia ter parado fiquei ali De frente para ela esperando por um sinal por qualquer coisa que me ajudasse a entender o que estava acontecendo Foi então que ela disse preciso que você leve uma mensagem até Mateus
disse ela a voz tão suave que parecia um lamento carregado pelo vento senti um arrepio percorrer todo o meu corpo aquele nome novamente Mateus eu queria perguntar quem era ele porque ela precisava que eu fizesse isso ou mesmo como eu deveria encontrar essa pessoa mas antes que qualquer palavra saísse da minha boca ela começou a desaparecer diante dos meus olhos foi como se o nevoeiro a consumisse lentamente primeiro os contornos de sua figura ficaram menos nítidos depois o cheiro de queimado que a acompanhava desapareceu com o vento até que ela se foi completamente deixando apenas
o silêncio frio do cemitério fiquei paralisado sem saber o que fazer o que era aquilo um espírito buscando descanso um aviso a conexão entre Mariana e esse tal Mateus agora parecia mais importante do que nunca eu sabia que não conseguiria ignorar o que tinha acontecido algo estava errado algo que precisava ser desvendado e de alguma forma eu havia sido escolhido para carregar essa mensagem na manhã seguinte o sol mal havia nascido quando encerrei meu turno em vez de ir para casa e tentar descansar a aflição que me consumia me fez agir Quem era Mateus Por
Ela queria que eu o encontrasse precisava de respostas antes de sair do cemitério fui até o pequeno escritório onde guardávamos os registros dos obituários entre papéis antigos e fichas recentes procurei o nome de Mariana lá estava ela com todos os detalhes que acompanham aqueles que passam por nós tão cedo data de nascimento data da morte e para minha surpresa um endereço peguei um pedaço de papel e anotei não sabia exatamente o que esperava encontrar mas tinha que tentar pouco tempo depois Cheguei ao endereço anotado era uma casa simples com a fachada desgastada pelo tempo as
janelas estavam fechadas e não havia sinal de habitação o portão da frente estava entreaberto mas o mato crescia ao redor como se ninguém tivesse passado por ali em muito tempo aquilo já me dizia muito os pais de Mariana não moravam mais ali mas antes que eu pudesse decidir o que fazer uma senhora se aproximou lentamente pela calçada o senhor está procurando alguém Ela perguntou com curiosidade ajeitando os óculos e me encarando com olhos atentos parei hesitante por um momento mas Decidi ser direto sim aqui morava Mariana estou certo a expressão da senhora se fechou por
um instante como se o nome trouxesse lembranças dolorosas Sim essa era a casa dela mas os pais se mudaram logo depois da tragédia não conseguiram suportar ficar aqui tão perto de tudo que lembrava a menina Eles eram muito apegados a ela sabe nunca superaram o que aconteceu senti um aperto no peito não tinha mais esperanças de conseguir informações mas antes de ir embora resolvi perguntar a senhora conhecia bem A Mariana como ela era a mulher suspirou como se se preparasse para trazer de volta memórias difíceis conhecia Sim era uma menina doce cheia de sonhos estava
na melhor fase da vida estudando fazendo faculdade tinha tantos planos e estava muito feliz com o namorado essas últimas palavras fizeram meu coração disparar namorado eu me inclinei um pouco como se aquilo pudesse ser a peça que faltava no quebra-cabeça namorado A senhora sabe o nome dele ela me olhou com surpresa mas respondeu sem hesitar Mateus era esse o nome dele eles estavam juntos há um bom tempo um bom rapaz Mas coitado depois da tragédia ele nunca mais foi o mesmo minhas mãos tremeram ao ouvir o nome era o mesmo que estava rabiscado na lápide
de Mariana o mesmo que ela havia mencionado naquela noite um misto de choque e ansiedade tomou conta de mim mas disfarcei para não alarmar a senhora a senhora sabe o que aconteceu com ele ela Balançou a cabeça com tristeza depois que Mariana morreu ele entrou em depressão Profunda o pobrezinho estava lá na boate naquela noite mas conseguiu se salvar só que ele se culpa até hoje por não ter conseguido tirar ela de lá foi horrível sabe a cidade inteira sabe disso ele se afastou de todo mundo largou a faculdade hoje trabalha num posto de gasolina
mas vive como um fantasma meu coração parecia pesar toneladas cada palavra da senhora desenhava a dor de Mateus uma dor que agora parecia Viva como se estivesse sendo Projetada diretamente para mim a culpa o luto e agora a mensagem que Mariana queria que eu levasse a ele tudo começava a fazer sentido mas ao mesmo tempo eu sentia como se estivesse pisando em terreno cada vez mais sombrio naquela noite quando voltei ao cemitério eu não estava buscando respostas imediatas mas uma confirmação algo dentro de mim dizia que não poderia simplesmente ir atrás de Mateus sem saber
ao certo o que Mariana queria que eu dissesse a ele então terminei meu turno como de costume trancando os portões atrás de mim e preparei o que precisava peguei uma vela como se isso pudesse me conectar com algo mais profundo algo além da minha compreensão o medo que antes me dominava Parecia ter desaparecido agora o que eu sentia era uma espécie de determinação como se uma força invisível estivesse me conduzindo fui até o túmulo de Mariana O Silêncio do cemitério era quase absoluto interrompido apenas pelo som suave do vento que começava a soprar cheguei a
lápide e acendi a vela com mãos firmes a chama tremulava mas não se apagava abaixei a cabeça e comecei a orar ainda que não soubesse exatamente a quem ou o que estava me dirigindo Tudo o que eu queria era entender o que ela precisava de repente o ar ao meu redor Começou a Mudar o vento ficou mais forte gelado cortante como se o próprio cemitério estivesse reagindo à minha presença senti um ar percorrer minha espinha mas mantive os olhos fechados respirando fundo quando finalmente os abri e levantei a cabeça lá estava ela Mariana ela estava
parada a poucos metros de mim seu rosto ainda carregava aquela expressão de dor e angústia mas dessa vez algo era diferente não havia susto ou hesitação em mim eu sabia que ela estava ali porque precisava de ajuda ela permaneceu em silêncio Apenas me observando A chama da vela tremulava entre nós lançando sombras na pedra fria de seu túmulo eu senti que precisava falar precisava tentar entender você não está conseguindo descansar em paz não é isso perguntei minha voz firme mas com um tom de compaixão ela não respondeu mas o modo como abaixou levemente a cabeça
me fez entender que eu estava no caminho certo continuei Deixando as palavras Saírem de mim como se fossem guiadas por algo além Mateus seu namorado está atormentado ele não aceitou sua partida a culpa que Ele carrega está prendendo você nesse mundo é isso não é dessa vez ela abaixou a cabeça por completo como se concordasse com cada palavra Meu Coração batia acelerado mas eu sentia que finalmente estava começando a entender o silêncio entre nós era quase ensurdecedor então lentamente ela se abaixou sem me olhar e colocou Algo no chão eu permaneci imóvel observando enquanto ela
se erguia novamente sua figura envolta pelo vento gélido ela se virou de costas para mim e sem emitir som algum começou a se afastar desaparecendo aos poucos na escuridão fiquei ali parado meu corpo trêmulo ainda assim a curiosidade me venceu eu precisava ver o que ela tinha deixado caminhei devagar até o local iluminando o chão com minha lanterna quando a luz finalmente alcançou o objeto meu coração congelou era um urso de pelúcia no peito dele havia algo gravado me abaixei para enxergar melhor direcionando a lanterna para o local e li as palavras que estavam bordadas
ali com amor Mateus aquelas palavras bateram em mim como um trovão meu coração parecia parar a compreensão me atingindo enchei Esse era o elo entre eles Esse era o símbolo do amor que os unia e agora era a mensagem que ela precisava Que eu levasse a ele levantei-me ainda segurando o Pequeno Urso em minhas mãos tudo fazia sentido agora ela queria que ele soubesse que não precisava mais carregar esse fardo que ele precisava se libertar para que ela também pudesse partir em paz eu precisava encontrar Mateus na manhã seguinte estava terminado a cumprir a missão
que parecia ter sido colocada em minhas mãos o pequeno urso de pelúcia estava guardado com cuidado dentro de uma sacola simples mas o peso simbólico daquele objeto parecia muito maior do que qualquer coisa física que eu Já carreguei não sabia ao certo como Mateus reagiria ou sequer como eu explicaria o que havia acontecido mas uma coisa era certa eu precisava tentar fui até o posto de gasolina onde ela disse que Mateus trabalhava quando cheguei vi que havia alguns rapazes espalhados pelo local limpando carros e organizando o estoque por um momento hesitei o que eu estava
prestes a fazer parecia tão absurdo que me perguntei se deveria estar ali mas ao olhar para a sacola em minhas mãos respirei fundo E segui em frente aproximei-me de um dos rapazes e perguntei Mateus está por aqui o me indicou com um gesto de cabeça Mateus estava sentado em um banco de concreto com uma prancheta e algumas notas nas mãos aparentemente organizando algo seu semblante era pesado como se a própria vida tivesse lhe roubado mais do que deveria os olhos fundos o rosto cansado e uma expressão vazia quando cheguei perto ele ergueu a cabeça me
encarando com curiosidade como quem tenta decifrar a presença de um estranho pois não ele perguntou a voz rouca marcada por fadiga você é o Mateus perguntei apenas para ter certeza sou quem é o senhor meu nome é Antônio respondi omitindo o que realmente me trazia ali preciso conversar com você é sobre Mariana ao ouvir aquele nome ele ficou tenso Como se eu tivesse acabado de abrir uma ferida que ele tentava manter fechada Ele não disse nada mas concordou com um gesto de cabeça me indicando que o seguisse nos afastamos para um canto mais tranquilo longe
do movimento do posto ele cruzou os braços e me olhou fixamente esperando que eu explicasse o motivo de estar ali então quem é o senhor eu senti o peso da situação naquele momento não sabia como começar nem como traduzir tudo o que tinha acontecido em palavras que ele pudesse compreender por um instante Fiquei em silêncio a Apenas tentando organizar meus pensamentos mas ao invés de falar agi por impulso com as mãos trêmulas coloquei a mão dentro da sacola e Retirei o pequeno urso de pelúcia quando ergui o objeto para que Ele pudesse vê-lo o tempo
pareceu parar os olhos de Mateus Se arregalaram imediatamente sua respiração ficou pesada e ele deu um passo para trás como se tivesse visto um fantasma O que é isso ele perguntou com a voz falhando Como como o senhor conseguiu isso ele parecia paralisado os olhos fixos no Urso como se fossem incapazes de desviar vi sua expressão mudar de curiosidade para choque e depois para algo que só poderia ser descrito como dor era como se todas as memórias que ele tentava enterrar viessem à tona de uma só vez Meu Coração batia acelerado Mas eu sabia que
aquele era o momento mesmo sem saber como ele reagiria Sabia que não podia voltar atrás respirei fundo sabendo que o que estava prestes a dizer poderia mudar tudo Mateus eu sou coveiro no cemitério onde Mariana está enterrada revelei sentindo o peso de cada palavra e você pode não acreditar mas desde aquela tragédia ela apareceu para mim ele continuou paralisado mas agora suas mãos tremiam levemente não disse nada então continuei com a voz embargada pela intensidade do momento ela me procurou porque não consegue descansar ela está presa nesse mundo e a razão disso é você os
olhos de Mateus Se encheram de Lágrimas antes que eu sequer terminasse ele apertou os punhos respirando fundo mas os soluços começaram a escapar de sua garganta não murmurou ele eu sabia sabia que era culpa minha eu eu deveria ter feito algo eu deveria ter tirado ela de lá sua voz quebrou e as lágrimas escorreram livremente pelo rosto eu me aproximei um pouco mais tentando manter a calma para que Ele pudesse ouvir o que eu precisava dizer não Mateus ela não te culpa ela nunca te culpou mas a culpa que você carrega é isso que a
manté aqui ela quer que você siga em frente que você se perdoe esse urso ela o deixou para você é como se fosse uma mensagem ela quer que você saiba que o amor dela por você continua mas que você precisa deixar essa dor para trás ela não quer que você sofra mais Mateus Só assim ela poderá descansar em paz ele ficou em silêncio por alguns segundos Mas então abaixou a cabeça e estendeu a mão pegando o urso com cuidado como se fosse feito de vidro quando seus dedos tocaram o objeto ele o segurou com força
apertando contra o peito enquanto chorava era como se todo o peso que ele carregava finalmente estivesse vindo à tona mas ao mesmo tempo algo dentro dele começasse a se aliviar eu não sabia mais o que dizer a mensagem estava entregue finalmente dei um passo para trás sabendo que meu trabalho ali estava feito Espero que agora você encontre paz assim como ela sem esperar por uma resposta virei-me e comecei a me afastar o som dos soluços dele ainda ecoava em meus ouvidos enquanto caminhava para longe mas ao mesmo tempo havia uma estranha sensação de alívio dentro
de mim eu havia cumprido a missão que me foi dada Mesmo Sem Entender completamente o porquê enquanto saía daquele posto olhei para o céu pela primeira vez em dias o peso que carregava parecia mais leve e de alguma forma eu sabia que Mariana também sentia o mesmo