Modelos de Ensino: das concepções docentes às práticas pedagógicas (videoaula)

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Silvia Gasparian Colello
E-aulas USP: Aula ministrada nos Cursos "Etica , valores e Saúde (UNIVESP, 2011) e "Ética, valores e...
Video Transcript:
[Música] Oi pessoal o tema da aula de hoje é modelos de ensino das concepções docentes às práticas pedagógicas o objetivo é compreender aí as grandes tendências do ensino eh na na na sua relação com a função docente vocês sabem que a preocupação de da maior parte dos professores é com a prática pedagógica isso é compreensível e até legítimo porque afinal de contas os professores têm que preparar a aula tem que propor exercícios tem que lidar aí com o dia a dia dos seus alunos mas o perigo disso é o professor deixar de pensar a sua
prática pedagógica num âmbito maior que dá sentido e d sustentação a ela eu vou explicar melhor usando uma metáfora visual né se a gente puder pensar aí no iceberg eu diria que a prática pedagógica é o cume aí dessa montanha o que aparece é o que é evidente e por baixo desse dia a dia desse fazer escolar pedagógico e tal necessariamente a gente tem uma um um algo muito maior que é toda a fundamentação do projet projeto educativo que obviamente pode ser alguma coisa mais consistente mais segura ou mais fluente né alguma coisa mais dúbia
e mais precária o que eu tô querendo chamar a atenção de vocês é pro perigo que existe destes professores que ficam aí no alto deste morrinho só pensando na na na prática e e e e cair e assim tomados pelo ativismo da prática pedag lógica sem eh compreender as razões eh ou sem ter critérios para tomar decisões o que eu digo é que a a a a prática pedagógica aí a preocupação só com a prática pedagógica pode ser um lobo vestido em pele de cordeiro né Eu tô querendo chamar atenção pra grande cilada de uma
prática que se esgota na prática quer dizer quando o professor perde deer a fundamentação do que ele faz muitos problemas podem acontecer como por exemplo a ideia de que os fins justificam os meios desde que o menino aprenda tabuada qualquer jeito é válido a gente sabe que não é bem assim porque a gente pode aprender a tabuada e aprender ao mesmo tempo a odiar matemática o que não deveria acontecer ou então em segundo lugar a insegurança do professor o professor que fica sem critérios para pautar aí a o seu dia a dia em terceiro lugar
o desequilíbrio do projeto educativo ora dando uma ênfase pro Espírito crítico pra criatividade ora eh propondo aos alunos práticas de submissão e silenciamento né outro problema que pode acontecer é a falta de diretrizes né e de critérios para organizar esse fazer pedagógico o professor acaba ficando meio perdido porque ele não sabe exatamente no que se pautar da mesma forma as dificuldades para planejar e avaliar o ensino e Finalmente né a trajetória incerta dos alunos e os resultados inexplicáveis que o que que seria isso resultados inexplicáveis aquela situação que você ensinou e o aluno não aprendeu
ou então a trajetória incerta aquela aquela criança que no quarto ano era um excelente aluno de matemática passou de ano mudou o professor e ele vira o pior aluno da Matemática tudo isso a gente sente quando não quando a prática pedagógica não é subsidiada aí por uma por por diretrizes que D coerência ao ao processo educativo eu tô querendo dizer que a prática pedagógica nunca jamais é neutra ela é sempre comprometida com alguns valores né nas palavras de Paulo Freire ah a a ideia ficaria da seguinte forma a educação Qualquer que seja ela é sempre
uma teoria do conhecimento posta em prática então na na na realidade de um professor que entra numa sala de aula para dar uma aula necessariamente conscientemente ou não sempre a sua prática pressupõe uma certa compreensão de mundo uma certa compreensão do ser humano e uma certa compreensão do processo educativo é isso que eu vou tentar mostrar para vocês na aula de hoje eh sem perder de vista aquela imagem do iceberg eu vou tentar tecer um pouco esse iceberg mostrando o quanto que a prática pedagógica é tributária é devedora de posturas eh eh que vão mais
a fundo e que ultrapassam os próprios limites da pedagogia vamos lá eu diria para vocês que existem duas grandes formas de compreender o mundo e isso aparece não só na educação mas também na psicologia na literatura na antropologia na filosofia enfim quer dizer nas mais diversos Campos do conhecimento existem basicamente duas formas de compreender o mundo o fixismo que é aquele modo de compreender o mundo daquelas pessoas que acham que o mundo gira gira mas tudo é sempre igual Então essas pessoas vêm por exemplo um pai brigando com um filho e eles dizem ah a
velha briga de conflito das Gerações como se as brigas fossem as mesmas como se os motivos e as relações fossem sempre iguais o fixismo acredita que o mundo é sempre igual e que as coisas verdadeiramente não mudam em Oposição a este modo de compreender o mundo a gente tem o transformismo né os adeptos do do do transformismo que mais uma vez aparecem na literatura na antropologia na filosofia na sociologia e até na educação os adeptos do do transformismo acreditam que o mundo tá sempre mudando né numa numa metáfora clássica eh As pessoas dizem que um
rio não passa duas vezes pelo mesmo lugar porque as águas desse Rio vão ser outras e o próprio leito do rio vai sendo constantemente modificado Então são pessoas são correntes são teorias que acreditam na eterna transformação das coisas correspondente a essa visão de mundo nós temos a visão a concepção do que seja o homem o ser humano né então correspondendo ao nós temos o essencialismo o essencialismo é aquela corrente de pessoas que acha que o ser humano tem uma essência que o homem é imutável que existe uma base comum em todas em todos nós em
todos os seres humanos e que isso é dado é posto e não há como mudar essa Essência em Oposição a essa visão E aí correspondendo ao transformismo nós temos o relacionismo o iso é uma corrente de pessoas que acham que o ser humano se constitui a partir das relações das relações com as pessoas das relações com os objetos de conhecimento das relações com a cultura Então pode até existir a algumas disposições básicas do ser humano mas que só se concretizam e se desenvolvem a partir das múltiplas experiências e das relações vejam que são posições formas
de entender o mundo e o ser humano completamente diferentes e é claro que elas têm as suas consequências no campo da educação eh correspondendo ao fixismo e essencialismo nós temos duas correntes O inatismo que acha que o ser humano ao nascer já é tudo ele já tem uma predisposição ele já tem os dons ele já tá quase que pré-formado ele já vem aí com manual de programação meio que resolvido né então ele é ele ele já tá já tá pronto o empirismo ao contrário diz que o ser humano não é nada o ser humano é
como uma um um um papel em branco que tem que receber tudo de fora para poder se constituir veja que interessante seja quando eu acho que o ser humano que que o ser humano eh já tem tudo como no Hina ismo ou quando ele não é nada eu acredito em uma essência imutável né Eh e o relacionismo em Oposição a tudo isso né Eh dá origem a teorias da educação como o construtivismo ou o sócio construtivismo são modelos modos de pensar a educação que acreditam eh neste ser humano que aprende a partir das experiências das
relações o que eu vou faz tentar fazer a partir de agora é aprofundar um pouco esses três grandes modelos de ensino o o inatismo o empirismo e o construtivismo fazendo uma síntese do resumo mais sintético do resumido do resumo né tentando botar em um slide só para que você vocês possam captar aí as diferenças fundamentais Lembrando que na prática os limites entre um e outro não são assim tão radicais mas eu vou tentar fazer aí uma caracterização de cada um destes modelos vamos começar pelo empirismo o empirismo é exatamente isso que tá sugerindo aí a
imagem é como se você abrisse a cabeça do indivíduo e jogasse todas as informações os representantes dessa corrente na educação ou na filosofia seria lo pavil né na psicologia Skinner e Major o homem é entendido como uma tábula rasa um ser passivo governado pelo ambiente modulado por estímulos externos a educação vem de fora para dentro a educação é uma conversão pelo arranjo de condições para con A escola é uma agência sistematizadora de uma cultura pré-estabelecida então aqui não há processo de criação é verdadeiramente colocar as coisas de de fora para dentro o conhecimento é um
pacote pronto definido a priori pelo professor ou pela Escola o aluno não entra em discussão o processo do aluno internamente não entra em discussão o professor é o representante do saber né e o do conhecimento O que justifica muitas vezes uma relação autoritária né e vertical do professor aluno todas essas concepções né Dão origem a uma prática pedagógica que no nosso sistema de ensino se aproxima daquilo que a gente conhece como escola tradicional um ensino fragmentado sobre a forma de dar e tomar o conteúdo é o famoso Toma Lá Da Cá né independentemente da realidade
do aluno existe aí a pretensão de controle do processo homogeneizar e a homogeneidade no desempenho o ensino é vai sendo dado em doses homeopáticas né e acredita-se que por essa única via de intervenção o aluno deva ter um desempenho aí igual a de todos os seus colegas vamos passar agora pro inatismo os representant do inatismo São Sócrates lá na Grécia antiga Rousseau Rogers Neil vocês devem conhecer já devem ter ouvido falar de Summer Hill né A escola que foi criada por Alexander Neil nessa neste modelo o homem é como uma semente que já traz em
si todo o potencial de ser é como se o homem Já fosse pré-programado então o pianista já nasce com o dom pra música né a a a a o o o advogado já nasce com o dom da palavra e essa e E assim a a a o homem já tá meio que eh pré-definido a educação é uma revelação paralela ao desenvolvimento na medida em que o sujeito vai se desenvolvendo ele vai se revelando ele vai se mostrando mostrando o seu o seu potencial né de acordo com a sua natureza o conhecimento tá sempre vinculado ao
Dom e o professor é um facilitador da aprendizagem esse modelo é mais difícil de ser encontrado puro o exemplo que eu dou é como eu disse a escola de samar ril mas este modelo Povoa habita o Imaginário dos professores quando por exemplo eles dizem Ah o fulaninho não dá para matemática ele tá no limite é melhor a gente aceitar assim porque ele já deu tudo que ele podia dar com a matemática né a prática do inatismo é caracterizada por uma ação não diretiva centrada na autodireção do aluno é o aluno que que que que que
decide o seu caminho e no contrato eventualmente feito entre professor e aluno finalmente o construtivismo E aí nós temos vários representantes o piag o valon o vigotsky a Emília Ferreiro né E que acredita num ser humano no homem como um ser inteligente ativo no processo de aprendizagem isso significa né que o homem é capaz de construir hipóteses de criar alternativas de buscar soluções para o problema e a posição deste homem é ativa o ser humano a criança busca desde sempre a a sua adaptação no mundo e a compreensão doss fatos que o cercam a educação
é um conjunto de intervenções significativas que possam incidir sobre o processo de desenvolvimento e aprendizagem pelo enfrentamento de situações problema e pela interação com o sujeito cognoscente então quando a criança entra em situações problema em situações de conflito e se relacionando com os outros e discutindo e buscando eh soluções é que realmente o processo educativo vai acontecer o conhecimento é uma construção progressiva e aí a ideia desse muro né que vai sendo construído e e e eh e que permite o homem e superando os seus limites é uma construção progressiva processada pela elaboração mental a
partir de experiências sociais com o objeto do conhecimento e mediadas pela interação entre as pessoas Então vamos traduzir isso um pouco quanto mais este aluno convive por exemplo com a situação da língua escrita né mais ele se envolve mais ele tem chance de pensar sobre esse objeto de conhecimento e aí ele começa tentar compreender o sistema de o funcionamento do sistema da escrita né e assim paraa matemática e assim para tantos outros Campos do conhecimento o professor tem que buscar a sintonia entre os processos de ensino e aprendizagem Esse é o grande desafio do professor
construtivista ele quer buscar essa coerência essa sintonia entre o que ele faz entre o que ele propõe e a o processo cognitivo do aluno organizar o ensino em função do sujeito aprendiz atuar como problematizador e desestabilizador em situações conflitivas que nada mais é do que ficar cutucando o indivíduo para que ele pense sobre aquele assunto para que ele problematize para que ele crie as suas hipóteses e valer-se dos erros como oportunidades pedagógicas então o erro que é um pecado em outros modelos de ensino vai ser aqui valorizado como um caminho pro acerto como uma possibilidade
de compreender a lógica do aluno tudo isso todas essas concepções Dão origem a uma prática pedagógica que não pode ser pensada a priori mas que tem que ser pensada em função do aluno em função de um grupo classe e que funciona mais ou menos pela ampliação das possibilidades e de mediação e de conhecimento o professor é aquele que vai dando chance vai criando oportunidades respeitando o tempo de aprend cada criança tem o seu tempo né Cada cada cada grupo pode ter a sua especificidade a diversidade dos conhecimentos e a heterogeneidade cultural aproximação entre a escola
e a vida por meio de projetos de resolução de problemas e de práticas de pesquisa então aqui a ordem não é eh eh eh trazer conhecimento ou passar conhecimento a ordem aqui é criar condições para que o aluno possa pensar e sobre esses temas possa pesquisar e possa se constituir como Senhor da sua própria aprendizagem né O importante da da aula de hoje mais do que situar os modelos né é pensar que a a a a o construtivismo por exemplo que muitas pessoas falam Ah isso é modismo ah isso agora é moda todo mundo é
é só construtivista ou construtivista eu acho que é claro pode ser um modismo quando os princípios são assimilados parcialmente ou superficialmente Mas pode também ser uma convicção uma convicção política uma convicção pedagógica de quem se pauta né em em numa determinada forma de compreender o mundo de compreender o homem e de compreender o papel do educador é importante que a gente tenha uma uma clareza né dessas várias possibilidades do ensino embora como eu disse eles não sejam tão aí eh estanques eles na prática é muito difícil a fronteira entre um e outro mas é importante
a gente ter clareza do que isso significa não só para organizar as práticas de ensino mas também para repensar a relação professor aluno que vai ser objeto da próxima aula com o professor Gabriel per é isso muito [Música] obrigado
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