Desiguais, podcast da piauí. Ep. 6: "Crescer no Brasil".

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revista piauí
É impossível falar em mérito na corrida pela ascensão social quando o nosso destino começa a ser tra...
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a desigualdade social vem de berço como dissemos na introdução desse podcast ela começa a ser traçada no dia em que a gente nasce Dependendo de quem são nossos pais e qual é o nosso país o que que eu costumo falar gente é do útero ao cárcere já nasce em condições desiguais falta de acesso saneamento básico já nasce pésimo não tem política pública há estudos que mostram que filhos de pais desempregados mais chances de ter subnutrição infantil e outros que reconhecem a escolaridade materna como um indicador das condições ambientais e sociais que afetam o peso do
bebê ao nascer Isso importa porque há uma ligação direta entre a alimentação e desempenho escolar sem educação as chances de emprego na vida adulta são muito piores tá tudo interligado e por isso o ciclo da desigualdade se perpetua com facilidade m já nas vai trabalhar com neném no colo Ou é outro irmão que vai cuidar não tem creche não tem nada disso não tem nada que Garanta é um irmão que cuida do outro vai mais cedo pra rua vai mais cedo pra droga a escola que não segura não tem uma política um menino que eles
vão dizer mas esse menino é o capeta esse menina não consegue não tem disciplina tem déficit de atenção né a gente já mostrou que não tem nada a ver com a ciência isso nós temos as mesmas capacidades mas o olhar racista da escola já congela esse menino para fora da escola esse menino vai mais cedo pra rua é claro que a droga é mais sedutora porque isso não é Escolha você também mora em ambiente né onde tem várias pessoas envolvidas no tráfico e d ali a fichinha você entrar no tráfico entrar na droga e parar
no cárcere isso quando não morre com 14 13 12 anos no genocídio porque a gente não pode esquecer que a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil eu separei alguns dados para ilustrar como a desigualdade impacta a nossa juventude Eles não têm a mesma fonte nem a mesma metodologia mas dão um Horizonte por exemplo em marcilac Distrito mais pobre de São Paulo a espera por uma vaga na creche é 53 vezes maior do que na República no centro também marcilac mais de 15% dos bebês nascidos são filhos de mães adolescentes que por
sua vez perdem perspectiva em relação à escolaridade e uma futura inserção no mercado de trabalho ou seja a desigualdade atravessa todo o nosso desenvolvimento da infância a vida adulta impacta também como e quando morremos Olha isso a idade média do Cidadão ao morrer em Cidade Tiradentes é de 58 anos enquanto no bairro de Pinheiros é de 80 anos a gente precisa muito disso porque senão é como a gente nasce Preto mulher é como se nosso destino já tivesse traçado pro resto da vida ali não vai dar nada e a gente acaba não dando nada mesmo
não tem uma aposta na gente então essa essa tá tudo atravessado pelo racismo eu não tenho dúvida disso Essa é benilda Brito consultora da un mulher ativista Pela Educação no Malala Brasil cofundadora do nzinga coletivo de mulheres negras de Belo Horizonte ela é escritora e ela é a nossa convidada de hoje aqui no desiguais um podcast da revista Piauí a produção é da Maranha filmes com apoio da fundação Tid Setubal Oak foundation e Ford foundation eu sou Carol Pires e esse é o nosso último episódio crescer no [Música] Brasil a benilda é consultora de diversidade
e fala muito sobre a importância da primeira infância e antes de saber como ela enxerga esse assunto eu queria entender como tinha sido a infância dela eu sou benilda Brito eu nasci em Belo Horizonte eu sou uma mulher negra lésbica sou do Aché minha vó materna vó benigna nasceu aqui em BH num Quilombo chamado aud que é na região da Serra do Cipó minha avó nasceu em 1914 e pariu a minha mãe em 1934 então a vovó tinha 20 anos e era solteira e morava no quilombo a vovó foge para Belo Horizonte porque o quilombo
fica numa região metropolitana de Belo Horizonte para ela não se casar com meu avô então a minha avó foi a primeira feminista Negra referência da minha vida ela falava que nasceu para ser mãe não para ser esposa depois eu entendi que isso era direito sexual e reprodutivo minha avó nem sabia falar isso mas ela praticava isso ela veio trabalhar em casa de família na cidade e cada vez que o meu avô descobria o pai da minha mãe descobria onde ela estava ele ia atras ela fugia para outra casa tanto é que ele só conheceu a
minha mãe em 19 80 e ele morreu em 1981 então parecia que era só para encontrar para se conhecerem oi tchau seu pai a Deus pronto então a mamãe foi uma menina preta criada sem pai e uma avó uma mãe solteira que era minha avó então por isso aí a gente já imagina naquela época que elas seguraram eh bem pesado e trabalhando em casa de família como muitas de nós mulheres negras mas teve uma história bem diferente da avó que escolheu ter apenas um uma filha e criá-la sozinha meu pai era um pai muito ausente
aprontou demais com a minha mãe minha avó Parecia que ela já previa isso ela não queria que mamãe se casasse mamãe se casa com meu pai e tem oito filhos nós somos oito irmãos consecutivos A nossa diferença é de um ano a minha mãe pariu 8 anos consecutivos eu sou a terceira então a minha avó é muita coisa minha avó chamava benigna a minha irmã mais velha chama benigna benilda benícia e Beatriz são as mulheres os homens que é o meu segundo irmão que é o nome do meu pai Reginaldo rosenvaldo e Geraldo então nós
somos oito crianças negras criadas na pobreza Vovó sempre Aché Ainda bem morou com a gente a vida inteira o que ajudou a minha mãe senão minha mãe também não teria dado conta porque a minha mãe teve que continuar no mercado de trabalho com todos os filhos pequenos aildo teve uma infância pobre mas não chegou a passar fome eu não posso dizer que a gente passou fome porque a mamãe fazia alguns arr anjos por exemplo o cara do sacolão né o supermercado que vende verdura que a gente tinha no bairro ele tinha muita pena da mamãe
então no final do dia da feira ele deixava que a mamãe fosse lá catar o que ele já ia jogar fora que era lavagem mas a mamãe pegava antes de ir pra lata da Lavagem ele separava em uma banco tudo misturado então eu tenho muita memória de um dos meus trabalhos assim na infância era separar o que era bom para comer o que não era então a maçã sempre partida tomate sempre lavado sem semente que a semente apodrecia primeiro pimentão nem pensar banana amassada então nós passamos por isso tudo e comid tal de um fubá
suado que é muito comum aqui em Minas que é um fubá com açúcar um pouquinho de Açúcar você vai botando água e vai cozinhando é diferente do Cuscuz do Nordeste que é maravilhoso aqui era uma alternativa para você tomar com chá de folha de abacate que dava a sensação do estômago cheio e desde então a benilda já percebia as desigualdades ao redor dela meus vizinhos brancos pobres também tinha comida tinha biscoito tinha biscoito á de sal e porte de manteiga toda vez que eu ia lá fazer alguma coisa eu comia um biscoito ag sal e
pote de manteiga era o sonho que eu tinha eu tinha um sonho de ter uma toalha de banho só para mim que a gente tinha um saco de arroz de Açúcar aquele saco branco que mamãe aljava mas era o mesmo para nós oito então quando chegava na gente já tava todo molhado acho que é por isso que eu tin até hoje esse negócio de ter um tanto de toalha de banho porque Putz era né mamãe conseguiu ganhar um velocipte e a gente tinha de ter sete ou oito para todo mundo poder andar porque a gente
dava sete voltas parava outro subia dava sete voltas parava subia outro subia até chegar você de novo para passar para oit era muito demorado então a gente tinha muita vontade de ter uma bicicleta um patin coisas assim a gente fazia aqu a rimã brincava de finca Então a mamãe tentava no máximo fazer uma infância bacana e eu queria entender uma coisa você falou que sua avó era uma feminista é uma referência feminista mesmo antes de você entender isso E a sua mãe você considera sua mãe uma feminista mas a mamãe era feminista porque assim a
mamãe tanto mamãe como vovó eu não me esqueço [Música] trançavídeo meus avós paternos maternos meus pais então lá em casa não tem ninguém misturado nós somos todos negros retintos do cabelo bem crespo Então a mamãe e a vovó tinha um ritual elas trançavídeo depois eu entendi que tá pronta vai tá pronta pro mundo tá pronta pra guerra e por isso que a trança para nós ela é tão expressiva porque quando a gente tá sem conexão ancestral ou tá sentindo desanimada ou dá uma baixa de energia toda mulher preta corre para trançar o cabelo porque além
da estética da beleza é um empoderamento e eu me lembro disso com muita emoção de vovó e mamãe falando isso elas sempre nos prepararam paraa guerra então quando eu Me apresento num lugar no meu lugar de consultora Eu sou benilda uma mulher Negra lésbica de Aché eu sou mãe avó neta da dona benigna filha da dona Zaíra esse empoderamento aprendi dentro de casa e foi as armas que elas tinham para dizer que a vida não seria fácil mas que a gente teria que dar conta a partir de um referencial que valorizo demais que é a
ancestralidade foi trabalhando como tecelan numa fábrica de tecidos em Cachoeirinha na região de Belo Horizonte que a dona Zaíra criou os oito filhos e garantiu que eles tivessem a melhor educação possível dentro do sistema público a mamãe trabalhava chão de fábrica várias horas mas ela conseguiu garantir que a gente tivesse uma Escola Bacana e era isso que ela sempre assistiu com a gente e foi exatamente numa cena de escola que marcou muito a nossa vida que eu percebi que eu ia ter que adentrar ao mercado de trabalho muito cedo até porque esse ano terceira tinha
mais cinco atrás de mim então o meu irmão mais novo Caçula teve uma festa na escola e ele chegou em casa e falou mãe vai ter um piquenique na escola e eu tenho que levar alguma uma coisa mas pelo amor de Deus eh eu queria levar maçã mas pega a maçã da banca não pega da Lavagem não e aí a mamãe fez um esforço grande naquele dia e comprou a maçã da banca seis maçãs da banca e quando ele chegou na escola toda animada ele moou a professora falou olha aqui professora é maçã da banca
não é da Lavagem não a professora despreparada entendeu lavagem e falou não Gente ninguém come a maçã do rosenvaldo a maçã dele é da Lavagem ninguém come e ele acabou não conseguindo comer nada do resto dos colegas também do piquenique ninguém tocou na maçã dele e ele chegou em casa muito arrasado e a minha mãe ficou muito arrasada a benilda também ficou arrasada e decidiu ir trabalhar e aí eu falei não Benildo ó eu já trabalhava numa casa de família Aos 8 anos eu comecei era uma senhora com deficiência Dona Lourdes uma mulher branca casada
com um homem negro sor Magno e ela fazia muito xixi na cama então eu era bem nova mas eu tinha que carregar ajudar trocar fralda arrumar a cama de xixi então eu comecei assim foi o meu primeiro emprego foi trabalhar Dona luz Eu tinha 8 anos e aí de lá eu fui ajudando a trazia as coisas para casa o pouco dinheiro que eu tinha o resto do almoço que tinha Dona ludes me dava mas hoje eu entendo tanto também que eu perdi de Infância né mas também não tinha tempo de pensar em infância e depois
a dona luges eu fui crescendo eu trabalhei de manicure tinha um centro social urbano por isso que eu falo tanto a importância das políticas públicas onde eu consegui fazer datilografia e fazer curso de manicure aí eu trabalhei de manicure um tempão era péssima mas eu acho que as vizinhas mais ajudavam a dar uma força do que né do que tinha meso o perfil da profissional e depois eu consegui entrar numa loja aí foi meu trabalho legal Eu lavava o banheiro fazia café e arrumava o estoque mas eu ganhava um salário mínimo e a carteira era
assinada tinha 13 anos aí a mamãe autorizou para eu assinar a carteira e aí eu fui trabalhar naal livraria e pelaria chalão que era no centro da cidade de Belo Horizonte mas aí Eu lavava banheiro e eu tinha lá o o o levava marmita mas a possibilidade de trabalhar numa livraria para mim foi muito importante para ela livraria e papelaria Então o meu chefe eu ganhava um salário mínimo mas ele ficou com muita pena de ver o esforço que eu fazia e ele conseguindo estudar que a mamãe nunca deixou que a gente saísse da escola
é bom grifar Essa parte a mãe nunca deixou que ela saísse da escola ele deixou que eu comprasse material escolar dos meus irmãos e dividi em 12 pagamentos então eu consegui comprar canetinha de seis cores coloridas M nós nunca tivemos lápis de cor de 12 mochila jeans umas coisas assim e pra gente era tão importante eu consegui fazer isso pros meus irmãos garanti o material deles eh para dar algum alguma gota de dignidade eu me lembro que uma vez por mês no dia do meu pagamento eu juntava todo mundo nós oito só os filhos e
a gente ia numa pizzaria comer uma pizza gigante e o refrigerante e a gente repartia mas sentava no restaurante meus meus irmãos contam isso com muita emoção a gente sentava na pizzaria era uma só ainda levava um pedacinho da pizza pra mamãe e pra vovó em casa porque tudo nosso sempre foi muito compartilhado o melhor período da vida da benilda nessa época foi quando ela foi realocada pra sessão de livros que casou com o período do despertar político dela foi um paraíso porque eu tinha um contato com editores eu comecei a ler muito a ler
muito enquanto isso eu era da pastoral de juventude era militante da Igreja Católica fui da passal Juventude do Meio Popular naquele tempo da teologia e da libertação e vou dizer que isso abriu muito os meus Olhas com a formação de mamãe e vovó da minha Negritude e o movimento político que a Igreja Católica tinha eu fui me tornando uma militante muito indignada e vendo as injustiças e sofrendo os racismos [Música] cotidiáfonos o institucional individual o algoritmo Recreativo escolar já o ambiental a gente passa por todos os racismos que tem uma intersecção muito grande em cima
das pessoas negras nós somos muito resistentes bom de lá da chalão naquele tempo das Comunidades eclesiais de base né com Jorge Banco a teologia da libertação provocando para discutir mártire América Latina né violência eu aprendi a falar sobre isso tudo dentro da igreja católica Então eu fui para um grupo de jovens que era o grupo de un com ciência negra todo domingo a gente fazia reunião de manhã lavava a igreja preparava a missa mas a gente ia se formando politicamente do grupo de jovens eu entrei na Pastoral Juventude no meio Popular que ela era assim
uma um progressiva depois do grupo de jovens era Pastoral tinha pastoral de juventude estudantil tinha Pastoral Universitária Pastoral Operária e eu entrei na pjmp que era do Meio popular e na pjmp a gente aprendeu que a gente tinha que ir pros nossos meios específicos Então quem Era branco foi fazer seu movimento em outro lugar quem era estudante foi para J estudantil e eu que era negra fui pro movimento negro então assim aí foi um caminho sem volta um caminho sem volta mas que quase teve um desvio porque a benilda pensou em ser freira mas chegando
lá se tocou rapidinho que não era bem aquilo que ela tava procurando e voltou pra militância foi trabalhar com a ex-vereadora Helena Greco fundadora do movimento feminino pela Anistia em Minas Gerais já tinha uma visibilidade política de atuação política mesmo no convento que era em Belo Horizonte Eu não perdi meus vínculos de militância então aí eu fui convidada para trabalhar e foi meu presente trabalhar com a Dona Helena Greco na coordenadoria de Direitos Humanos da prefeitura de Belo Horizonte entrei no carg comissionado Dona Elena Greco o ícono dos Direitos Humanos aí na história da Anistia
da violência golpe então eu aprendi muito com ela e aí foi um caminho sem volta eu fui para coordenar o bem-vinda o Centro de Apoio à mulher aí eu já tava mais velha já tava com 18 19 anos aí eu me casei eu arranjei no no movimento negro eu conhecia eu já saí do convento e fui pro movimento negro conheci o pai dos meus filhos e com ele me casei um ano de namoro aí eu tinha me casei com 20 anos ia fazer 20 e aí foi tudo muito rápido me casei com ele e trabalhando
e tive meu filho só depois com o meu filho Passei da licença maternidade que eu fui fazer o vestibular então eu passei na faculdade eu tava com 21 22 eu me lembro de cenas assim eu tive três filhos depois imagina gente GL a benilda passou a trabalhar estudar pedagogia e criar os três filhos e como se não fosse já muita coisa para uma pessoa só aos 27 anos de idade eu me separo do pai dos meus filhos aí eu tinha um filho de sete um filho de quatro e uma bebê aana minha filha de 10
meses eu com 27 aí minha mãe falou volta volta para casa eu falei mãe eu saio deixo sete em casa e eu volto com três Eu não posso eu tenho que dar conta eu acho que uma das maiores dificuldades nossas e todas nós mulheres negras podemos dizer isso é essa solidão que muita gente não entende a solidão da mulher negra para mim é essa que você ter que ter respostas quando você não tem saídas e alternativas quando o mundo tá te engolindo mas você não tá dando conta mas você tem que dar conta as pessoas
falam muito de solidão afetiva tá tem sim a solidão pcial do afeto mas não é só isso eu acho a solidão que mais pesa você olhar pros meninos não tem comida você tem que dizer e aí vamos inventar é ter medo de chuva como eu sempre tive e inventar que ah que legal trovão o r Que bacana vamos curtir tá morrendo de medo porque eu me vi aos 27 anos muito sozinha muito sozinha eu tive muitos medos ainda carrego vários mas alguns eu já dei conta de de sublimar mas não de vencer mas de Resistir
para dar conta de tudo ela conseguiu um segundo emprego no período noturno dando aulas na PUC e para dar conta das crianças ela se apoiava numa rede de apoio bem frágil e era muito difícil porque eu tinha uma menina que me ajudava em casa com as crianças buscava na escola eu levava pra escola de manhã e ela buscava e aí ela tinha que ir embora 6 horas e chegava uma outra que ficava de 6 até 11 quando eu chegava da p era na pu de Betim que é longe da cidade então a menina ficava até
on só que ela morava na favela perto da minha casa uma periferia bem perto da minha casa só que ela tinha medo de ir aana minha filha mais nova era muito pequena então a menina esperava chegar da PUK a gente enrolava aana na coberta eu ia carregando aana para levar a menina em casa a pé deixava a menina em casa e voltava carregando aana porque a gente tinha medo saana acordasse de noite os meninos estavam dormindo os dois mais velhos então eu tava com medo ficava tava com medo do tempo de eu levar a menina
acordar fazer alguma coisa então levava fiz isso muito tempo muito só e me dediquei muito à Vida com as crianças com a separação do marido pai dos filhos dela a benilda acabou descobrindo uma outra identidade aos 29 uma moça me deu um beijo na boca no banheiro de um curso que eu tava fazendo E aí eu descobri assim nó que beijo bom nó que legal acho que eu tava tão assim desacreditada e tão cansada que eu gostei do beijo me joguei no beijo e depois eu fiquei pensando gente eu não sou Léa por que que
eu beijei essa menina assim por que que fui tão bom assim por que que eu fiquei tão empolgada arrepiada Meu Deus Aí eu nunca mais nunca mais quis que nenhum homem me tocasse então aí eu descobri uma outra identidade o prazer que eu tenho de ter uma mulher e tive várias parceiras que foram muito cump comigo que ajudar nessa batalha dos filhos de serem solidárias de estar junto de me fortalecer de trocar afeto e aí para mim foi muito importante experimentar o amor nesse lugar e me senti bem mais fortalecida ao assumir essa identidade lésbica
quando eu me percebo lésbica assim então não foi ai foi um trauma com o pai dos meninos não foi nada disso foi natural eu falo que orixá É engraçado porque junto com a descoberta do amor eu teve um dia que eu cheguei tão cansado em casa que eu falei gente eu não vou dar conta acho que eu vou eu vou dar um ratum Minho aqui para todo mundo tomo também e acabo com tudo tudo e eu tava muito triste pensando nisso e muito cansada quando eu cheguei na janela da sala veio um vento tão forte
emim um vento tão forte do nada que eu falei que que é isso esse vento e pouco tempo depois eu já me vi no terreiro e pouco tempo depois eu vi que eu sou de ançã e ançã é vento é raio é tempestade É por isso esse meu sentimento e aquilo ali foi uma Hoje eu tenho certeza que foi uma resposta de Orixá para me empoderar para dizer benilda para com isso e a minha mãe ançã ela é vento mas ela também é borboleta o vento porque é o bambu aquela árvore que balança vai até
lá embaixo faz reverência ao ventro não quebra Mas ela é borboleta Então ela é metamorfose ela é transformação mas quando precisa ela é búfalo entre maternidade militância Estudo e trabalho a benilda criou os três filhos e muito bem criados aqui na minha casa eu faço encontros de amor domingo nós fizemos hoje tem con de amor vem todo mundo vem os três ada daer hoje tem 33 anos aá ada daer é um nome africano significa Sol Nascente a la é um nome africano também significa possuidor de vida tem 30 anos aana tem 24 flor de formosura
então também africano e eu tenho um neto de 11 anos o Enan então o que que eu gosto mais de fazer a união da gente a gente tá junto e eu sempre reforço tudo que a gente tem é nosso porque a mamãe ensinou isso muito pra gente então com todas as dificuldades eu sou de uma infância muito pobre e cheia de amor aprendi falar cheia de amor agora na terapia porque eu falava assim com a minha terapeuta eu sou de uma infância pobre mas tinha muito amor ela falava por que o mais benilda aí eu
comecei a pensar por que o mais não é uma infância pobre e cheia de amor o adae é da Educação Física o mais velho é um cara desembolando todo mundo mora só Cada um tem sua casa o alae morou no Alabama por causa do futebol fez relações internacionais cência política moro na Cidade Nova tem um trabalho legal que é o trabalho dele numa multinacional aana tem 24 tá terminando a administração público na UFMG mora só também é uma menina que trabalha aí no governo por causa da administração pública ela toda desembolar então assim eu sinto
que eu consegui fazer com que eles tivessem com toda a minha solidão medos dificuldades pobreza que eles pudessem ter essa relação e são irmãos amigos sempre que eu chego nesse ponto da narrativa das pessoas que a gente entrevistou aqui no iguais me dá um certo temor de que entendam que essas histórias de vida são exemplos de superação e que porque elas conseguiram qualquer um pode porque tá longe de ser isso uma coisa em comum entre os entrevistados é que todos tiveram oportunidade de estudar Isso não significa ter uma escola com vaga no bairro tem muito
mais por trás uma família estruturada apoiando comida na mesa afeto mas para reforçar eu repeti essa pergunta para benilda tem uma questão aqui no podcast que é uma grande preocupação e a a verdade é que eu não sei muito bem a solução é mas é porque todas as pessoas que a gente tá entrevistando como você como a Conceição como a SIDA eh São pessoas que passaram por dificuldades passaram por muitas situações de racismo de pobreza mas que hoje são referências nas suas Áreas E aí a gente fica com medo de cair nesse lugar de meritocracia
né que De forma alguma a gente quer falar sobre isso que a gente sequer acredita nisso assim mas assim Carol vou falar a verdade para você eu acho uma vergonha a gente ainda ter que dizer isso porque o Brasil é o segundo país de maior população negra do mundo nós somos 56% da população a gente só pede pra Nigéria que tá lá no continente africano então assim é muito ruim só ter eu só ter Sida Bento que é minha amiga irmã eu fico em São Paulo na casa dela a gente estava junto em Brasília semana
passada a gente tá sempre colado Conceição evar que é daqui uma pessoa que eu amo mineira a família dela toda morora aqui perto sou amiga de todo mundo a sobrinha dela tava aqui em casa semana passada com a minha filha então além da gente ser um gueto ser uma bolha nós somos muito poucas então não serve de parâmetro eu acho que é vergonhoso E assim se não fosse as que vieram também poucas antes da gente a gente também não tava hoje sendo espelho para outras então Eh eu tenho discutido muito essa coisa do privilégio nós
não temos nenhum privilégio sendo pretas não temos você pode não morar na periferia Você pode ter hoje comida dentro de casa eu posso comprar biscoito recheado pro meu neto ele sofre racismo na escola do mesmo jeito que minha avó era chamada de macaca minha mãe era eu sou meus filhos são e meu neto também A negação do acesso aos lugares de direito a gente tem também mesmo eu se da Conceição todas nós mulheres pretas como passamos por situações de violência seu repertório acaba sua narrativa encerra e a dor é cruel todas nós temos muito medo
muito medo e a gente para então nós três por exemplo tô pegando de casa somos mães a gente teme muito porque um privilégio branco que eu acho é o de não ter medo isso é um privilégio você sai de manhã seu filho sai você sabe que vai voltar você não tem medo eu tenho medo de passar na porta do banco quando o carro forte tá lá parado vai trocar dinheiro porque eu sou um corpo negro eu tenho medo quando eu encontro a polícia na periferia nas quebradas que eu vou fazer trabalho fazer formação política visitar
alguém porque eu sou um corpo negro que trança por aí então assim não é chega porque a benilda chegou não sequelados do racismo das violências evidentemente gente todas essas violências deixam sequelas na gente de uma forma ou de outra nós somos todos sequelados quando a gente para para ver aí né ah deu conta resiliência não é um estado assim ótimo alcancei o resto ficou para trás a gente carrega várias sequelas no comportamento nas nossas trocas a gente percebe muito issso eu acho que tem muita gente bacana Aí a macota Cácia lá do Quilombo do do
manzo aqui em Belo Horizonte ela me falou um tren outro dia que eu fiquei pensando a gente tá cansado de meter o pé na porta nós temos que pular muro porque todas as portas para negro saem no mesmo lugar a gente mete o pé na porta mas todas as portas vão sair no mesmo lugar então o que que a gente tem a gente tem obrigação moral política racial Histórica de trazer mais gente com a gente por isso é que eu trabalho na mua na mua que eu criei a consultoria Muca é a flor o fruto
do baubar eu digo sempre nas empresas eu trabalho com diversidade inclusão e Equidade quando você dá oportunidade para um jovem negro entrar no mercado de trabalho eu tenho uma ascensão ele não corre para comprar um carro ou para mudar para uma casa bacana ele vai pagar a prestação da tia o livro da sobrinha o fogão da madrinha que tá lá precisando porque é uma outra lógica que a gente tem de concepção por isso que pra gente demora eu não passo uma semana sem alguém me pedir um dinheiro emprestado e não é que eu tenho para
emprestar não é porque o pouco que a gente tem a gente divide entre nós mas aí a pessoa não tem dinheiro para aluguel não tem casa própria né Eu sou aala de não sei quantas pessoas de casa imóveis de casa o dia que para ter um oficial de justiça aqui em casa eu perco a minha porque você acaba sendo uma referência para outras pessoas no mínimo que a gente tem então mesmo as minhas relações entre pessoais pessoas que também passaram pelas coisas que eu passei que tiveram acesso às coisas que eu tive mesmo Entre nós
existe uma grande desigualdade racial eh social Existe uma grande desigualdade nessas relações E aí você acaba sendo referência e é tão impressionante que você começa a carregar uma certa culpa hoje toda essa experiência profissional pessoal e política da benilda ela coloca no trabalho que também é uma militância hoje eu sou ativista da rede Malala eu cuido do acesso a permanência e o sucesso de meninas na escola da região Nordeste e qual que a nossa preocupação manter as meninas na escola porque elas saem mais cedo da escola não saem não são expulsas né por isso que
eu não trabalho com evasão escolar Eu trabalho com expulsão escolar Mas elas vão pro mercado de trabalho mais cedo PR são infantil ou gravidez na adolescência ou DSD aides ou vai cuidar dos irmãos pra mãe trabalhar ou qualquer coisa mas é o que leva para fora da escola Nossa forma de ascensão social é a escola não tem outro caminho então a gente precisa otimizar as nossas escolas a gente precisa garantir que as crianças estejam na escola mas com merenda banheiro as minhas escolas lá do Nordeste que eu acompanho na Malala são escolas que não tem
banheiro não tem comida não tem transporte o povo vai a pé Então como é que você aprende desse jeito sem condições né de uma infraestrutura então a gente tá aí é muo nosso guarda-chuva [Música] enorme a nossa forma de ascensão social é a escola não tem outro caminho é bem por aí a gente buscou uns dados aqui principalmente para esse episódio de de infância e crescer no Brasil e aí você vai ficando meio desesperado porque fala assim né os bairros mais pobres são os que têm maior índice de mortalidade materna os negros são maioria entre
de desempregados e subemprego aí a próxima o próximo dado diz que crianças que nascem quando os pais estão desempregados T mais chance de subnutrição e a subnutrição por sua vez influencia no rendimento escolar então é um um ciclo né de que o racismo vai do dia que a criança nasce tudo um pouco tá estruturado para que ela se atrase no rendimento aí depois ela vai ser de novo a que tá mais desempregada e quando ela tiver um filho esse ciclo se renova né eu a minha impressão depois de todos esses essas conversas que eu tive
esse é o último episódio é que o grande problema da desigualdade todas as desigualdades no Brasil a social a Econômica a ambiental a de gênero ela tá cortada pelo racismo enquanto não se resolver racismo não se resolve desigualdade e a resposta por outro lado também não é outra que não investir em educação então a gente não não consegue inventar a roda mas queria saber se você discorda dessa dessa amarração Concordo concordo o Brasil foi o país que mais invadiu o continente Africano e trouxe negros para cá na condição de escravo esse dado a gente não
pode esquecer o Brasil foi o país que mais invadiu então por isso que nós somos tantos negros aqui quando a abolição acontece em 88 Isabel libera todo mundo né Tá todo mundo livre aí gente beleza e que ven Os imigrantes por isso que eles têm Terra vocês terão Terra trabalho comida casa e a gente foi livre para ir para onde ninguém pensou enfiar a gente no navio e levar de novo pra África né não t falando que ia ser melhor eu só tô dizendo que você não não pode não pensar numa política inclusiva depois de
anos anos e anos de exploração de uma mão deobra gratuita né AC curo muita violência de muita negação então assim esse é o racismo estrutural a gente precisa combater isso não é porque ele é estrutural que ele não pode ser mexido pelo contrário tem que mexer na estrutura tem que mexer para mudar a desigualdade porque o racismo estrutural legitima todos os outros então a gente precisa discutir isso o racismo atravessa porque quando as mesmas violências desemprego mortalidade perna fome eh não acesso ao serviço de saúde quando as mesmas violências e negações acontecem no mesmo grupo
que tem as mesmas características físicas isso não é coincidência isso é um projeto Então a gente tem que assumir que existe uma necropolítica para garantir essa desigualdade Eu acho que isso é um fato quando a gente fala criança negra só o fato de falar criança negra a gente já tá tirando da infância ela já tá carregando ali toda a responsabilidade da história do racismo nós não temos mais tempo de convencer as pessoas o racismo quem tá dentro desse governo tem que ter um compromisso sendo branco ou não de enfrentamento aos racismos porque eu costumo afirmar
que quem não luta contra o racismo luta a favor dele não tem neutralidade na disputa do racismo eu vejo Carol mas eu vejo também assim meu neto agora tá com 11 mas quando ele tinha sete o menino do prédio lá onde ele mora Fala chegou deu um soco na barriga dele aí ele falou por que que você tá socando na minha barriga cara você é doido ele falou assim sa porque você é preto aí ele deu um monte de mur no menino ele deu deu um monte ele faz capoeira é um menino grande ele é
muito inteligente ele deu um monte de bo Aí ele chegou para mim e falou vovó eu não queria te falar não mas eu vou te falar aconteceu isso e isso comigo aí eu falei mas por que que você fez isso não vó porque ele não pode falar isso da minha cor ele não pode falar isso do meu povo a minha mãe é preta Você é preta meus chilos são preto meu pai é preto então assim eh eu eu eu tenho perguntado muitas das minhas palestras das minhas aulas O que que você tá fazendo com o
seu neto branco para ele não agredir o meu neto preto e o meu neto preto também não achar que tem que resolver só na por erada se for preciso a gente vai se for preciso pegar arma a gente vai mas não é isso as nossas armas são outras até por ISO nós negros como a grande maioria fôssemos um povo raivoso e agressivo a gente virava esse jogo pela violência mas não é Isso incomoda muito ao Branco Verê o meu cabelo vê a minha roupa africana incomoda muito a uma pessoa branca ver a minha identidade Negra
porque a afirmação da identidade é uma afirmação política Então as nossas armas são do argumento do Nosso repertório se for preciso lutar de a gente sabe também a gente tem muita gente boa nisso mas a nossa forma é outra que que incomoda muito a Consciência Negra a identidade Negra a afirmação dessa identidade Então eu acho que isso aí ninguém vai tirar da gente isso tem crescido cada vez mais eu não sou uma pessoa pessimista eu acho que hoje nós somos num momento extremamente estratégico se não for agora nessa conjuntura que o país rompe de vez
com o racismo e consegue criar medidas efetivas aí eu acho a gente vai ter formas muito mais agress de fazer isso voltar a ser o que era antes não tem jeito então eu acredito nessa rapaziada sabe eu sou como [Música] Gonzaguinha essa rapaziada é a nova geração que vem aí juventude que tá antenada com os desafios do Brasil e desde muitos jovens estão fazendo o que encontram ao seu alcance para completar esse papo eu liguei para uma outra pessoa a mais jovem que eu entrevistei nessa jornada do desiguais a engenheira de pesca Ananda Marieta que
teve o seu trabalho com r da Bahia selecionado pelo projeto francês Frank ecb meu nome é Ananda Eu tenho 23 anos eu sou engenheira de pesca pela Federal de Sergipe e sou Mestrando agora aqui na Rural de Pernambuco eu sou mulher preta estudante universidade pública ativista ambiental a Ananda é uma jovem de classe média da Bahia que tá preocupada com as desigualdades sociais desde a adolescência a minha insatisfação sobre o lugar que as outras pessoas estavam veio diretamente na inserção da universidade pública porque eu sou de uma família de classe média da Bahia minha mãe
é preta de Salvador e tem todas essas questões estruturais e de desigualdade luta para conquistar seu espaço de fala e de pertencimento e o meu pai é de uma família de extrema direita branco do interior e aí eu sempre estudando em colégios particulares claro que eu tive exatamente pela educação um princípio de enxergar mas não h de vivenciar essas desigualdades E aí com 17 anos eu saio da Bahia e vou morar era sozinha Aracaju e entro na universidade pública e aí foi nesse momento que eu tive um choque de realidade falei nossa nem todo mundo
é como eu mas todo mundo tem que ter a oportunidade de ser como eu sou e foi aí que eu percebi que eu posso fazer algo para transformar e para que fazer as pessoas ocupem esse lugar de fala e de pertencimento em que eu construí então foi um alertar de olhos e de diversas vivências que vieram com a exceção da educação então por isso que eu luto tanto por ela porque ela me transformou eu fico pensando que se eu não tivesse entrado na universidade pública eu já estaria aquela Nanda de 7 anos atrás entendendo que
o mundo era muito mais sobre o que eu tenho do que o que eu posso doar a Ananda fez faculdade de engenharia da Pesca pela Universidade Federal do Sergipe e no meio do curso ela teve um estalo Como eu posso estar me formando enquanto cientista de uma vivência que eu não tenho E aí eu foi conheci a a ciência cidadã que é exatamente isso é fazer a ciência para os cidadãos é estar dentro dessa atmosfera e levar E aí eu tive uma oportunidade com das mehus professores que é uma das minhas inspirações que é a
professora Ana Rosa e ela me levou pra comunidade e quando eu entrei ali eu falei nossa esse é o meu lugar e desde esse momento não vou ter mais pros Laboratórios eu comecei a fazer ciência dentro das Comunidades e eu acabei percebendo que a ciência na comunidade ela é empírica a ciência na comunidade é empírica ou seja não é aprendida em livros e manuais mas através da experiência e da observação eu coletava os dados eu ia pro laboratório e eu chegava à conclusão do que ele já tinham me falado mas com outras vivências como meu
projeto da embaixada da França por exemplo eu cheguei a um momento em ver que na Quaresma o Aratu que é um crusta que eu tava estudando ele não reproduz quando eu chegava na comunidade eles falavam Ah porque é quaresma o Aratu ele fica em casa ele não sai então ele já tem esse conhecimento que o Aratu ele não vai estar no mang naquele momento então tipo precisei pegar esses aratus ir pro laboratório desenvolver dados enfim para chegar a uma conclusão que a própria comunidade já tem é que eles estão na na ikd é a troca
da carapaça então ele fica ali dentro porque ele vai estar trocando e depois ele reaparece pronto para viver para elas elas já sabiam elas nem vão pro mang nesse momento porque elas sabem que nem vão encontrar então é esse o papel do cientista é ir pra comunidade comprovar os conhecimentos empíricos e trazer essa ciência que já é vivenciada pelas comunidades para pra questão acadêmica não é ao contrário não é extrair o que eles sabem publicar de uma forma para que fique só entre a gente elas são a base da nossa cadeia seja de alimentação seja
das questões sociais elas mantém a história Viva os povos ribeirinhos eles são que nós somos assim nós estamos aqui nesse momento discutindo exatamente por uma pauta que já vem deles então isso é questão de respeito de colocar essas crianças adolescentes e mulheres na inserção da ciência brasileira é um papel que todo cientista tem que ter Eu adorei essa ideia de que o tu não reproduz na Quaresma e pedi para ela me dar outros exemplos de Sabedoria Popular que ela confirmou no laboratório sim eh por exemplo as marisqueiras né que é o grupo que eu trabalhei
com a Embaixada elas não têm dinheiro para ter barco então elas vão com os homens que normalmente são as pessoas que T barcos que vão pescar os peixes só que eles vão lá colocam a rede cerca de 12 à 6 horas e aí voltam pra terra enquanto isso eles as marisqueiras pegaram a carona com essas pessoas e ficam lá no Mangue trabalhando E aí os os peixes né Eh elas entendem que os peixes sabem a hora que elas vão voltar então o tempo que elas passam no mang é exatamente o tempo que leva pro peixe
entrar na rede e os pescadores voltarem para pegá-las só que exatamente a gente fez um estudo e conseguiu concluir que é o tempo que a isca viva leva para se deteriorar e para que o peixe possa lá e vgar para ficar pronto hoje a Ananda é mestranda em Recursos pesqueiros e aquicultura pela Universidade Federal Rural de Pernambuco Mas trabalhar com engenharia da Pesca não tinha sido sua primeira opção antes ela começou a estudar arquitetura eu fui me descobrindo Mas é isso que eu falo eu tive a oportunidade né eu tive a oportunidade de falar não
é isso é vou experimentar outra coisa e a maioria dos jovens brasileiros não tem essa oportunidade sequer tem oportunidade de entrar nas universidades públicas que são eles que pagam impostos Todos nós né então eram para eles estarem lá ocupando esse lugar e quando eu vou fazer engenheira de de pesca que vou lidar com os pescadores que eu chego nas comunidades eu vejo o quê que o pescador de 60 anos tem um filho de 30 que tá trabalhando com ele e tem um filho de um neto de 10 que também tá e o neto de 10
e o filho de 30 acham que a única oportunidade da vida deles é a pescaria que eles não podem sair dali que eles sequer podem sonhar é muito triste você olhar para essas pessoas e ver que elas realmente vivenciam eu não posso sair daqui e quando eu vou pras comunidades eu vou não você sabia que existe um curso que é exatamente sobre isso que você faz você vai estudar os estal pesqueiros vai ver como criar ciência para Men tigar os impactos e que você pode estudar com a universidade você não vai pagar que tem uma
residência que você pode morar que você vai ganhar um dinheiro e é os olhos daquelas pessoas brilham É tipo como isso existe é tão perto mas é tão longe para mim também E aí foi nesse momento que eu falei eu preciso fazer mais então além de ir pra comunidade fazer esses testes e fazer ciência eu vou pra comunidade para enraizar essas pessoas dessas oportunidades tentar trazer elas pras Universidade pra ciência Não não quero fazer is quer fazer o quê vamos ver aqui vamos fazer o Enem então acaba que você quando vai pra comunidade você vê
tantas carências que você vai acaba sendo médica arquiteta Professor psicólogo foi assim que o projeto da Ananda Aratu foi selecionado para receber um fundo semente do programa leb jovens Brasil 2021 desse projeto francês o Frank e colb então o meu projeto ele se chama Aratu é um assim bem grifado para evidenciar que Aratu ele vem com a que é um artigo feminino e exatamente para trazer a força das marisqueiras assim Sergipe é o estado do país que tem o maior número de mulheres trabalhando com marisco são 95% então eu vou pra comunidade tenham três eixos
né que é o diagnóstico participativo então eu vou para esses lugares entendo como essas mulheres trabalham entendo com elas criar uma forma de solução pros problemas que elas mesmos identificam então não vou lá catequizá-los eu vou exatamente fazer um diagnóstico participativo numa mesa todo mundo sentado e conversando depois que eu faça esse diagnóstico eu vou criar estratégias para solucionar esse problema após essa solução a gente vai pra comunidade para implementar em seguida é a vivência do mang Então a gente vai pro mang pega o Aratu quando chega de volta pra terra eu faço as questões
das práticas sanitárias corretas Então vamos colocar uma luva Vamos colocar uma touca vamos usar os apetrechos corretos para manusear esse Aratu Vamos aumentar a temperatura de cozimento Vamos colocar um sal para aumentar a vida desse produto Então vou ir ajudando elas após isso vem a parte da embalagem que foi onde a gente criou uma embalagem a vác levou todos os equipamentos de maquinário pra comunidade deixou lá criou um q code cadastrou ela na agricultura familiar fez a estrutura dela enquanto cooperativa empoderou essas mulheres criou grupo e gente estruturou toda a cadeia produtiva então desde o
momento de solucionar os problemas até como elas venderem melhor a gente colocou um QR Code explicou para elas Como pega o celular e lê e agora a gente tá na parte de qu deixar elas Livres então a gente já estruturou elas estão indo pras feiras vender aí daqui alguns meses eu volto pra comunidade para ver o que funcionou e o que não funcionou E como foi vender esse produto novo porque normalmente elas pegavam um saco davam nó e vendiam agora Não elas tem uma máquina vácuo toda selada com QR Code então o produto muda a
gente poder essa classe elas vão com mais vontade de vender e acaba agregando o valor que é esse o ponto principal é um trabalho árduo e que elas recebem muito pouco então a gente agrega valor visualmente pro cliente e para elas também muito legal Ananda E aí quando você vê os seus colegas assim queria você você é muito nova quando você olha os seus colegas tanto da época de escola e agora da faculdade Talvez os do seu próprio curso assim você sente que eles também têm esse mesmo ímpeto de liderança e de transformação social ao
seu sabe de transformar ao seu redor como você tem ou você se sente um pouco foi um Rai que caiu só num lugar essa é uma questão que assim mexe bem no meu lado afetivo porque chega emociona porque eu saí de um lugar né em que eu falei que os meus colegas e amigos de infância extrema direita etc e Eles continuam nesse lugar porque eles continuaram indo para eu fui a única que vim pra universidade pública todos os outros continuaram lá na Bahia com seus carros indo para suas universidades etc então acaba que eles não
ocupam lugar de vivência então eu sou o Extraterrestre do grupo se por um lado a Ananda se afastou de muitos amigos da infância ela conheceu muitos outros na militância eu vejo que esse movimento jovem ele vem crescendo exponencialmente no Brasil assim eu não tenho dúvida sobre isso as pessoas estão se empoderando e não é um empoderamento de gravar vida no Instagram é um empoderamento de ir pras comunidades de fazer e esse projeto da embaixada da França exatamente me trouxe para esse lugar né porque era era um projeto que Viz identificar jovens do Brasil inteiro então
foi tipo no momento Nossa eu não tô sozinha tinha gente de todo o país trabalhando então acaba que você vive mesclando essa questão de não estou numa lugar enraizado no histórico familiar e afetivo de amigos mas na construção você vai conhecendo outras pessoas que vão L empoderando for Nossa não sou só eu eu comentei com a Ananda que eu me sentia numa geração Limbo que tá entre a geração um dos meus pais em que grande parte sonhava em ter muitos bens de consumo e pouco estava prestando atenção nas questões como igualdade de gênero e ambientalismo
e a geração dela que parece que já nasceu com outro chip eu falei assim até Carol a gente não tem outra opção Eu já nasci vendo tudo acontecer assim eu vi a Extrema direita ocupar um espaço que não era dela e est subindo os direitos trabalhadores ambientais saúde pública eu tô vendo as mudanças climáticas acontecendo Eu tô vendo a gente sair de uma crise climática para uma emergência pela ONU eu tô vendo os dados que o oceano ele tá sendo e totalmente atingido pela poluição Tô vendo que a gente tá se alimentando de microplástico então
eu não tenho outra opção assim a minha geração a gente não tem outra opção porque como eu falei aqui no início nós somos a primeira gereção a vivenciar os impactos das mudanças climáticas S assim tá no meu olho isso é muito inquieto porque eu me sinto num lugar assim eu preciso fazer alguma coisa e isso é o tempo inteiro assim até cansativo às vezes eu falo Nossa eu quero um momento de descanso mente cérebro por favor me D esse momento eu preciso porque eu tô me questionando o tempo todo eu tô vendo as pessoas ali
se comportando de uma forma que eu eu tenho que tá ali eu tenho que falar e acaba que esse lugar de fala de pertencimento ele é cansativo ele é repetitivo eu fico falando as mesmas coisas todo dia todo dia todo dia e você conhece alguém mais jovem que você só para você ter uma noção assim você você já consegue ver a próxima geração como ela tá vindo sim assim na minha família as minhas primas da família paterna me tem como inspiração eu falo aí tá vendo eu não vou precisar falar mais nada porque essa geração
já vai vir no Natal eu não me Eu não falo mais porque as minhas primas mais novas já entram no embate já conversam eu meu meu recado Tá feito o meu lugar de fala é nada sobre nós sem nós a gente precisa ocupar esse lugar a gente precisa est aqui falando chega de homens héteros brancos Sis falando sobre o que eles não sabem e a gente só vai conseguir esse lugar ocupando e enraizando outras pessoas então eu quero fazer isso pela educação porque foi ela que me transformou como eu falei com a benilda e a
Ananda reforça não existe Fórmula Mágica para resolver o problema da desigualdade mas em todas as fases da vida o que transforma é a educação todas as formas de educação incluindo a educação racial Educação de gênero educação anticapacitista todos os entrevistados dessa série chegam a essa mesma conclusão da mãe Bet de Oxum porque se a educação der certo o país dá certo ao gerent Alexandre calash a a necessidade de ativismo e educação educação educação educação educação formação militância e dentro desse sistema de educação mas também no trabalho na cultura em todas as esferas da vida combater
as desigualdades de gênero e racial para citar o mínimo é como falou a SIDA Bento muitas vezes as pessoas brancas mesmo depois de ter compreendido sobre Relações raciais se mantém com grande desconforto de está em situação de Equidade com o negro ela precisa saber disso ela precisa debater isso debater isso com negros com outros segmentos tem uma uma questão moral e ética e é o que falou o psicanalista cuam Jonathan porque essa discussão que vai que a gente vai fazendo do racismo do patriarcado da heteronormatividade da transfobia são discussões éticas eminentemente mas para desatar esses
nós precisamos todos fazer o que está tá ao nosso alcance a Conceição Evaristo uma das nossas entrevistadas aqui costuma dizer que a questão do negro não é para o negro resolver é para a nação isso vale para todos o que são Deixados para Trás todos os que são tratados como desiguais desiguais é um podcast da revista Piauí produzido pela Maranha com apoio da fundação Tid Setubal o foundation e Ford foundation a edição desse Episódio é do Eduardo Gomes com mixagem e masterização de Diogo Saraiva A Arte da capia é do Gabriel Melo Franco eu e
Ana Luísa vastag escrevemos esse episódio que teve a Mari Faria na produção de reportagem pela Maranha edição do Bruno bertogna com assistência da Aline levinski também participou da sonorização o dck Cabreira com músicas da manrick Mambo produção executiva da Juliana Santos da Rubian Melo e Paula Garcia direção criativa do Lucas Doraci outo e direção executiva de Thiago Pereira pela Piauí a distribuição é da Maria Júlia Vieira e as redes sociais São coordenadas pelo Fábio Brizola Emily Almeida e Isa [Música] Barros l
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