Há cento e trinta e três anos era abolida a escravidão no Brasil. As tão desejadas liberdade e igualdade até hoje parecem estar em falta com os brasileiros, em particular com os negros. Por isso, a gente lembra dos heróis que lutaram por igualdade, algo tão perigoso quanto necessário, no passado remoto, e hoje.
Personagem fundamental na campanha abolicionista, o advogado autodidata Luiz Gama teve uma vida daquelas. que dariam uma novela. Sou Malu Cursino, da BBC News Brasil, e neste vídeo nós vamos contar a história do baiano Luiz Gonzaga Pinto da Gama, chamado de precursor do Abolicionismo no Brasil.
Salvador, 1830 Nascia o menino Luiz, filho de uma negra escravizada que tinha sido liberta com um descendente de portugueses. Naquele mesmo ano de 1830, o imperador Dom Pedro Primeiro assumia com a Inglaterra o compromisso de acabar com o tráfico de escravizados. Mas Pedro Primeiro abdicava do trono sem cumprir a promessa.
A lentidão seria uma marca do processo de abolição do trabalho escravo no Brasil, o último país das Américas a acabar com a prática. Quando Luiz Gama tinha 10 anos, seu próprio pai o vendeu como escravo. Ele foi levado para São Paulo.
Aos 17 anos, Gama aprendeu a ler e escrever com um estudante de Direito. E reivindicou sua liberdade ao seu proprietário, afinal, nascera livre, livre era. Ao menos, esta é uma versão, como explica a autora do livro "Com A Palavra - Luiz Gama" Como escravizado, ele não tinha direito de ter uma educação formal.
Tinha uma proibição, uma lei de 1837 que proibia a educação forma entre os escravizados. Ele começa a aprender, segundo ele mesmo relata, com um estudante que vivia na casa de seu senhor, possivelmente um estudante que vinha de sua província ou do interior de São Paulo, que começou a ensiná-lo a ler e escrever. Muitas vezes, me refiro a Luiz Gama como uma pessoa que deve seguramente ter sido um superdotado.
Vamos lembrar que Luiz Gama vive na condição de escravizado por 8 anos. 8 anos de escravidão. Aos 18 anos, ele conta que conseguiu as provas de ter nascido livre.
Ele não foi alforriado, não conseguiu as provas da mão do seu senhor. Ele consegue as provas de ter nascido livre. Portanto, o primeiro escravo que ele libertou foi ele mesmo.
Sem nunca ter tido aulas formais mas, provavelmente, frequentando a biblioteca da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, Luiz Gama não só se alfabetizou como passou a escrever poesia. Em São Paulo, Gama se tornou rábula, um advogado autodidata, sem diploma. E criou uma nova forma de ativismo abolicionista.
Ele entrava com ações na Justiça para libertar escravizados. Calcula-se que tenha ajudado a conseguir a liberdade de cerca de 500 pessoas. O principal argumento de Gama para obter a alforria era de que os africanos trazidos ao Brasil, depois de 1831, tinham sido comercializados ilegalmente.
Afinal, você lembra que citei isso no começo deste vídeo, Pedro I baixou uma lei que tornava o comércio ilegal. Mais de 700 mil pessoas tinham entrado no país nessas condições. Apenas em 1850, o tráfico de escravos foi abolido definitivamente.
Mas não a escravidão. E, neste momento, a atuação de Luiz Gama como escritor foi essencial. O Luiz Gama foi um homem da imprensa.
Ocupou muitas funções, era comentarista político, comentarista jurídico. O sistema judiciário, jurídico que dava sustentação ao stablishment escravista. E o Luiz Gama vai ponto os dedos na ferida, vai apontando os erros judiciais.
Não só erros, mas a má vontade e intenção de fraudar o direito dos escravizados. Em determinado momento, ele diz: "Eu quero trazer ao conhecimento do Brasil, dos leitores, a maneira extravagante como se administra a Justiça no Brasil. " Isso aqui é quase uma frase lapidar.
O advogado ainda entrou com diversos pedidos de habeas corpus para soltar escravizados que estavam presos, acusados, sobretudo, de fuga. Ainda trabalhou em ações em que o escravizado fazia um pedido judicial para comprar própria alforria, o que passou a ser permitido em mil oitocentos e setenta e um, em um dos artigos da Lei do Ventre Livre. Luís Gama morreu em 882, aos 52 de idade.
Ele não viu abolição, que ocorreria seis anos mais tarde. Muitos dos heróis abolicionistas negros foram escondidos na Educação Brasileira. Há até pouco tempo, quando o nome de, por exemplo, José do Patrocínio, era mencionado, raramente se dizia que se tratava de um abolicionista negro.
Na literatura, o mesmo acontece. Veja o caso de Machado de Assis, que muita gente até hoje não sabe que era negro. E olha que ele é considerado o maior escritor brasileiro de todos os tempos.
Luis Gama, abolicionista, advogado e escritor, era negro e assim deve ser lembrado, como herói precursor do Abolicionismo. Se você gostou do vídeo, compartilhe. E se tiver sugestões, deixe seu comentário.
A gente vai continuar falando dos heróis negros brasileiros. Até a próxima.