Olá, meu nome é Adriana e, por anos, vivi uma mentira. Uma mentira que começou no dia em que disse sim a Samuel, há 10 anos, sem saber que estava me casando não apenas com ele, mas também com sua mãe, Mady. Uma mulher que se tornaria minha sombra, minha torturadora particular. Eu tinha 28 anos quando nos casamos; Samuel, 32. Éramos jovens, cheios de sonhos e expectativas. Eu, recém-formada em administração, começava a trilhar meu caminho em uma empresa promissora. Samuel, por outro lado, ainda tentava se firmar como advogado, aceitando casos aqui e ali, mais por indicação
de amigos do que por mérito próprio. Nossa vida de recém-casados em Goiânia parecia perfeita no começo. Alugamos um pequeno apartamento no Setor Bueno, um bairro de classe média alta; era modesto, mas aconchegante. Nos primeiros meses, dividíamos as contas e as tarefas domésticas. Samuel cozinhava enquanto eu limpava a casa; às vezes, invertíamos os papéis. Era uma parceria, ou assim eu pensava. Foi nessa época que conheci Mady mais a fundo. Ela morava a apenas alguns quarteirões de distância e fazia questão de nos visitar quase todos os dias. No início, achei que era apenas o zelo de uma
mãe que sentia falta do filho único, mas logo percebi que havia algo mais por trás daquelas visitas constantes. Mady era uma mulher de 62 anos, viúva há muito tempo. Tinha cabelos grisalhos, sempre impecavelmente tingidos de loiro, unhas longas e bem feitas, e um ar de superioridade que emanava de cada poro de sua pele. Ela me observava como um falcão, seus olhos azuis e frios sempre me avaliando, me julgando. "Adriana, querida," ela dizia, com um sorriso que nunca alcançava seus olhos, "você não acha que essas cortinas estão um pouco simples demais para o do meu Samuel?"
Eu engoli em seco, tentando não deixar transparecer minha irritação. "Bem, mil foram as cortinas que conseguimos comprar por enquanto. Quando tivermos mais dinheiro, poderemos pensar em algo mais elaborado." Ela dava um risinho desdenhoso. "Ah, sim, claro. Dinheiro... bem, talvez se você se esforçasse mais no trabalho, não é mesmo?" Essas pequenas alfinetadas eram constantes. No começo, eu as ignorava, achando que era apenas o jeito dela, mas, com o passar do tempo, elas se tornaram mais frequentes, mais afiadas. À medida que os meses se passavam, notei que Samuel não estava conseguindo contribuir tanto quanto antes para as
despesas da casa. Seus casos como advogado eram escassos e mal pagos; ele começou a chegar mais tarde em casa, alegando que estava fazendo contatos, buscando clientes. Eu acreditava nele. Claro, que motivo teria para duvidar? Foi nessa época que comecei a me destacar na empresa onde trabalhava. Minha dedicação e competência foram notadas, e logo fui promovida. Com o aumento de salário, pude assumir mais despesas da casa. Samuel parecia aliviado, e eu me sentia feliz em poder ajudar, mas Mady... ah, Mady via as coisas de outra forma. "Samuel, meu filho," ela dizia, durante um de seus jantares
de domingo, "não acha que está na hora de você assumir as rédeas da situação? Um homem não pode depender da mulher assim." Eu sentia meu rosto queimar de raiva e vergonha; Samuel apenas dava de ombros, murmurando algo sobre o mercado estar difícil. Com o tempo, a situação só piorou. Enquanto eu progredia na carreira, Samuel parecia estagnar. Suas tentativas de conseguir clientes se tornaram cada vez mais raras, até que ele simplesmente parou de tentar. Ele passava os dias em casa, alegando que estava estudando para concursos públicos, mas eu raramente o via com um livro nas mãos.
E, bem, Mady continuava com suas visitas frequentes, suas críticas veladas, seu desdém mal disfarçado, mas agora havia um novo elemento em suas falas: a insinuação de que eu não era uma boa esposa por não dar a Samuel a motivação necessária para que ele tivesse sucesso. "Sabe, Adriana," ela me disse certa vez, enquanto eu lavava a louça do jantar que eu mesma havia preparado após um longo dia de trabalho, "talvez se você não fosse tão ambiciosa, Samuel se sentisse mais à vontade para buscar seu próprio sucesso. Um homem precisa se sentir necessário, você entende?" Eu apertei
com força o prato que estava segurando, tentando conter a vontade de jogá-lo na cabeça dela. "Milady," respondi, tentando manter a calma, "acho que o sucesso de Samuel não depende de eu ser menos bem-sucedida." Ela deu uma risada seca. "Oh, você é tão ingênua. É claro que depende. Um homem precisa ser o provedor; é a ordem natural das coisas." Engoli em seco, sentindo a raiva borbulhar dentro de mim, mas, como sempre, não disse nada; apenas sorri educadamente e continuei lavando a louça. Os anos se passaram e a situação só piorou. Samuel abandonou completamente a ideia de
trabalhar, contentando-se em viver às minhas custas. Eu havia sido promovida novamente, ocupando um cargo de gerência na empresa. O salário era bom o suficiente para nos mudarmos para uma casa maior no mesmo bairro. Foi nessa época que Mady começou a passar mais tempo em nossa casa. Ela alegava que estava ficando velha demais para cuidar de sua própria casa e que precisava da ajuda do filho. Samuel, é claro, não hesitou em convidá-la para morar conosco. Eu protestei, é claro, tentei argumentar que não tínhamos espaço, que precisávamos de nossa privacidade, mas Samuel insistiu, dizendo que era nosso
dever cuidar de sua mãe. E assim, Mady se mudou para nossa casa. Foi o começo do meu inferno pessoal. Mady assumiu o controle da casa como se fosse dela; criticava tudo, desde a forma como eu arrumava os móveis até o que eu cozinhava. Nada estava bom o suficiente para ela, e Samuel... bem, ele apenas assistia a tudo em silêncio, ocasionalmente dando de ombros quando eu olhava para ele em busca de apoio. "Samuel," eu dizia, exausta após mais um dia de trabalho e discussões com Mady, "você não acha que sua mãe está passando dos limites?" Ele
apenas suspirava. Adriana, você sabe como ela é; é melhor não contrariar. E assim os dias se arrastavam. Eu saía cedo para trabalhar, passava o dia inteiro na empresa e voltava para casa apenas para enfrentar mais críticas e insinuações de Mady. Permanecia apático, gastando o dinheiro que eu ganhava em seus hobbies e saídas com os amigos. Foi nesse contexto que minha saúde começou a deteriorar. No início, eram apenas dores de cabeça frequentes e cansaço excessivo, que atribuí ao estresse do trabalho e da convivência difícil em casa. Mas logo os sintomas pioraram; comecei a sentir dores intensas
no abdômen, náuseas constantes e perdi peso rapidamente. Minha pele ficou pálida e sem vida. Mesmo assim, continuei trabalhando, temendo que qualquer sinal de fraqueza fosse usado contra mim. Foi numa manhã de sábado que tudo desmoronou. Acordei sentindo dor lancinante, como se alguém estivesse torcendo minhas entranhas. Mal consegui levantar da cama. Samuel, assustado com meu estado, finalmente tomou uma atitude e me levou ao hospital. Após uma série de exames, o diagnóstico veio: câncer de ovário em estágio avançado. O mundo pareceu desabar ao meu redor. Como eu não tinha percebido antes? Como tinha deixado chegar a esse
ponto? Os dias que se seguiram foram um borrão de consultas médicas, internações e o início do tratamento: quimioterapia, radioterapia, cirurgias. Meu corpo, antes forte e saudável, tornou-se frágil e debilitado. Foi nesse momento de extrema vulnerabilidade que vi o verdadeiro rosto de Mady e Samuel. Mady não fazia nenhum esforço para esconder seu desdém pela minha condição; suas visitas ao hospital eram raras e breves, sempre acompanhadas de comentários maldosos. "Ah, Adriana", ela dizia, olhando com nojo para meus cabelos que começavam a cair. "Que pena que você deixou chegar a esse ponto; se tivesse cuidado melhor de si
mesma, em vez de só pensar em trabalhar..." Eu fechava os olhos, tentando conter as lágrimas de raiva e frustração. Onde estava Samuel nesses momentos? Bem, ele raramente aparecia no hospital. Quando vinha, ficava poucos minutos, sempre com uma desculpa na ponta da língua para ir embora logo. Foi durante uma dessas visitas rápidas de Samuel que ouvi, sem querer, uma conversa entre ele e Mady no corredor do hospital. Eles não sabiam que eu estava acordada, ouvindo cada palavra através da porta entreaberta. "Samuel, meu filho", a voz dela era baixa, mas carregada de veneno. "Você precisa pensar no
seu futuro. Adriana, bem, você vê como ela está. Mesmo que sobreviva, nunca mais será a mesma. Nunca mais poderá sustentar vocês como antes." Houve uma pausa e eu pude imaginar Samuel passando a mão pelos cabelos, como sempre fazia quando estava nervoso. "Mãe, o que você está sugerindo?" "Ora, Samuel, não seja ingênuo. Estou dizendo que talvez seja a hora de você começar a pensar em outras opções. Há tantas mulheres por aí, mulheres saudáveis, capazes de cuidar de você como Adriana nunca pode." Meu coração parou por um momento. Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Certamente,
Samuel iria defender-me, não é? Certamente ele diria à mãe que estava sendo absurda, mas a resposta de Samuel me gelou até os ossos. "Eu... eu não sei, mãe. Preciso pensar sobre isso." Naquele momento, algo dentro de mim se quebrou. Toda a dor física que eu sentia pareceu insignificante comparada à dor da traição. As pessoas que deveriam estar ao meu lado no momento mais difícil da minha vida estavam conspirando contra mim, planejando me descartar como se eu fosse um objeto quebrado. Fechei os olhos, deixando as lágrimas finalmente correrem, mas não eram lágrimas de tristeza ou autocompaixão;
eram lágrimas de raiva, de determinação. Naquele momento, fiz uma promessa a mim mesma: eu sobreviveria, não apenas à doença, mas a eles. E quando estivesse forte novamente, eles pagariam por cada palavra, por cada ação. Mady e Samuel não faziam ideia, mas naquele quarto de hospital, eles não estavam diante de uma mulher derrotada; estavam diante de uma mulher renascida, uma mulher que não descansaria até ter sua vingança. Nos dias que se seguiram, mantive minha descoberta em segredo. Continuei agindo como se nada tivesse mudado, como se não soubesse da traição que estava sendo tramada às minhas costas.
Mas por dentro, eu fervia de raiva e determinação. O tratamento continuou, brutal e exaustivo. Cada sessão de quimioterapia parecia sugar um pouco mais da minha força, mas eu me agarrava à vida com unhas e dentes, não por Samuel, não pela vida que eu tinha antes, mas pela promessa de vingança que havia feito a mim mesma. Mady continuava com suas visitas esporádicas, sempre carregadas de comentários venenosos disfarçados de preocupação. "Ah, Adriana", ela dizia, olhando para mim com falsa piedade. "Você está tão magra, tão pálida. Deve ser tão difícil para Samuel ver você assim. Ele é um
santo por estar ao seu lado." Eu sorria fracamente, sabendo muito bem que Samuel mal aparecia no hospital. "Sim, sou muito grata a Samuel." Ela parecia satisfeita com minha submissão, sem fazer ideia da raiva que borbulhava sob a superfície. Os meses se arrastaram. O tratamento era um pesadelo sem fim de dor, náuseas e exaustão. Mas lentamente, muito lentamente, comecei a melhorar. Os médicos falavam em remissão, em possibilidade de cura. Eu me agarrava a cada palavra de esperança, não apenas pela minha saúde, mas pelo que isso significaria para meus planos. Foi durante esse período que comecei a
prestar mais atenção às finanças da casa. Com a desculpa de que precisava me manter ocupada durante a recuperação, pedia a Samuel que me mostrasse os extratos bancários, as contas a pagar. O que vi me deixou horrorizada. Samuel não apenas tinha parado de trabalhar completamente, como estava gastando nosso dinheiro, meu dinheiro, de forma irresponsável. Havia despesas com restaurantes caros, bares, até mesmo com joias que eu nunca tinha visto. E Mady, bem, ela parecia ter desenvolvido um gosto por spas e tratamentos de beleza, tudo pago com meu suado dinheiro. Engoli a raiva, fingindo que não tinha notado.
Nada de errado, mas internamente comecei a traçar meus planos. Entrei em contato com o banco, mudei senhas, cancelei cartões adicionais, tudo de forma discreta, sem levantar suspeitas. Finalmente, após quase um ano de tratamento, recebi a notícia que tanto esperava: estava em remissão! O C havia regredido significativamente e os médicos estavam otimistas quanto a uma recuperação completa. Quando dei a notícia a Samuel e Mide, suas reações foram reveladoras. Samuel pareceu genuinamente aliviado, mas havia algo em seus olhos: decepção, talvez. Mide, por outro lado, mal conseguiu esconder sua frustração. — Ah, que maravilhoso! — ela disse, com
um sorriso forçado. — Você é mesmo uma lutadora. Agora, imagino que vá precisar de muito tempo para se recuperar completamente, não é? Talvez seja melhor não voltar ao trabalho tão cedo. Eu sorri docemente, sabendo exatamente o que ela estava tentando fazer. — Na verdade, Milady, os médicos disseram que quanto mais cedo eu voltar à minha rotina normal, melhor será para minha recuperação. Inclusive, já conversei com meu chefe e devo retornar ao escritório na próxima semana. Vi o pânico nos olhos dela, rapidamente mascarado por uma expressão de falsa preocupação. — Mas, querida, você tem certeza? Não
seria melhor descansar mais um pouco? — Obrigada pela preocupação, Milady — respondi, mantendo meu tom calmo e educado —, mas já descansei o suficiente. Estou ansiosa para voltar à ativa. Nos dias que se seguiram, comecei a implementar meu plano. Voltei ao trabalho para o espanto de muitos, que não esperavam me ver tão cedo. Meus colegas e chefes me receberam de braços abertos, impressionados com minha determinação. Em casa, comecei a fazer mudanças sutis: cancelei assinaturas desnecessárias, cortei gastos supérfluos. Samuel e Mide notaram, é claro, mas eu sempre tinha uma explicação pronta. — Os gastos com o
tratamento foram altos. Precisamos economizar um pouco — eu dizia, com um sorriso que não vinha do coração. Ao mesmo tempo, comecei a guardar dinheiro secretamente. Abri uma conta em outro banco, onde depositava uma parte considerável do meu salário. Samuel e Mide não faziam ideia, é claro; eles estavam ocupados demais gastando o que achavam que ainda tinham. Foram meses de planejamento cuidadoso, de sorrisos falsos e paciência forçada. Eu aguentava as críticas constantes de Mide, a preguiça e o descaso de Samuel, sabendo que cada dia me aproximava mais do meu objetivo. E então, numa tarde de sábado,
tudo mudou. Eu havia saído mais cedo do trabalho, algo raro para mim. Cheguei em casa sem avisar, esperando surpreender Samuel e, talvez ingenuamente, passar um tempo de qualidade com ele. O que encontrei foi Samuel e sua secretária, Vanessa, em nossa cama. Por um momento, fiquei paralisada na porta do quarto, incapaz de processar a cena à minha frente. Samuel, ao me ver, pulou da cama, gaguejando explicações incoerentes. Vanessa, por outro lado, me encarava com um sorriso de escárnio, como se dissesse: "Peguei o que é seu." Não gritei, não chorei, não fiz uma cena. Simplesmente dei meia-volta
e saí do quarto, descendo as escadas em silêncio. Samuel veio atrás de mim, vestindo-se às pressas, implorando para que eu o escutasse. — Adriana, por favor, não é o que você está pensando. Foi só... foi só uma fraqueza, eu juro. Eu me virei para ele, meu rosto uma máscara de calma. — Quanto tempo, Samuel? Ele piscou, confuso. — O qu... há quanto tempo isso está acontecendo? Samuel baixou os olhos, incapaz de me encarar. — Alguns... alguns meses, sen... Como se eu tivesse levado um soco no estômago. — Meses? Enquanto eu lutava contra o câncer? Enquanto
eu trabalhava para sustentar a casa? Ele estava me traindo. Nesse momento, entrou pela porta da frente, voltando de uma de suas sessões de spa. Ela olhou de mim para Samuel, notando a tensão no ar. — O que está acontecendo aqui? — ela perguntou, seu tom exigindo uma explicação. Antes que Samuel pudesse responder, eu me virei para ela. — Seu filho estava na nossa cama com a secretária dele. Aparentemente, isso vem acontecendo há meses. Milady ficou pálida por um momento, mas logo se recompôs. — Bem, Adriana, essas coisas acontecem. Os homens têm suas necessidades, sabe, especialmente
quando a esposa está indisponível. Aquela foi a gota d'água. Toda a raiva, toda a frustração que eu vinha reprimindo nos últimos meses explodiu de uma vez. — Indisponível?! — eu gritei, minha voz ecoando pela casa. — Eu estava lutando contra o câncer! Eu estava me matando de trabalhar para sustentar esta casa, para sustentar vocês dois! Samuel tentou se aproximar, mas eu o afastei com um gesto brusco. — Chega! — eu disse, minha voz agora perigosamente calma. — Acabou! Quero vocês dois fora da minha casa agora! Mide soltou uma risada de escárnio. — Sua casa? Querida,
esta casa é tanto de Samuel quanto sua. Você não pode nos expulsar. Eu sorri, um sorriso frio que os fez recuar. — Ah, posso sim e vou! Esta casa está no meu nome, o carro está no meu nome, tudo aqui, cada móvel, cada objeto foi comprado com o meu dinheiro. Vocês têm uma hora para pegar suas coisas pessoais e sair. Se não saírem por vontade própria, chamarei a polícia. O choque nos rostos deles era quase cômico. Samuel começou a gaguejar, tentando argumentar, mas eu o interrompi. — Hora, Samuel! O relógio está correndo! Virei as costas
e saí da sala, deixando-os para lidar com a realidade da situação. Subi para o quarto de hóspedes e passei a hora seguinte ouvindo o som de portas batendo, gavetas sendo abertas e fechadas, e os ocasionais soluços de Milady. Exatamente uma hora depois, desci as escadas. Samuel e Mide estavam na sala, cada um com uma mala aos pés. Vanessa já tinha ido embora, provavelmente fugindo assim que teve chance. — As chaves! — eu disse, estendendo a mão. Samuel, parecendo derrotado, tirou o chaveiro do bolso e o colocou na minha palma. Mide me encarava com puro ódio.
— Você vai se arrepender disso! — ela sibilou. — Ninguém trata meu filho assim e sai impune. Eu ri, um som sem humor. — Não, Milady, vocês é que vão se arrepender. Por anos, eu suportei seu desprezo, suas críticas. Sua crueldade! Agora vocês vão aprender a viver sem o conforto que eu proporcionava. Abri a porta da frente, fazendo um gesto para que saíssem. Samuel pegou sua mala, lançando um último olhar suplicante antes de sair. Mide se demorou um pouco mais. "Isso não acabou!" ela ameaçou. "Oh, acabou sim," respondi. "E Mady, espero que a nova mulher
do seu filho possa dar a vocês um teto. Afinal, é isso que você sempre quis, não é?" Com essas palavras, fechei a porta, deixando-os do lado de fora da casa e da minha vida. Sozinha, pela primeira vez em anos, eu chorei, chorei de alívio, de raiva, de tristeza, mas principalmente chorei de liberdade. A vida que eu conhecia havia acabado, mas uma nova estava apenas começando, e desta vez seria nos meus termos. Os dias após a expulsão de Samuel e Mide foram intensos. Eu me dedicava ao trabalho com ainda mais afinco, chegando cedo e saindo tarde
do escritório. A casa, antes um campo de batalha constante, agora estava silenciosa, estranhamente silenciosa. Foi numa terça-feira, duas semanas após o incidente, que recebi a primeira ligação de Vanessa. Eu estava no escritório revisando alguns relatórios quando meu celular tocou; um número desconhecido piscava na tela. "Alô?" atendi, distraída. "Olá, Adriana!" A voz do outro lado era suave, quase melosa. "Aqui é Vanessa, lembra de mim?" Meu sangue gelou. "Como ela usava me ligar? O que você quer?" perguntei, minha voz cortante. Vanessa riu, um som desagradável. "Ora, Adriana, não seja tão hostil! Só queria conversar, sabe, sobre Samuel,
sobre você, sobre nós." "Não existe nós, Vanessa. Você pode ficar com Samuel, eu não o quero mais." "Ah, mas não é tão simples assim," ela respondeu, seu tom mudando para algo mais ameaçador. "Veja bem, Samuel me contou muitas coisas interessantes sobre você e sua empresa, coisas que tenho certeza que seus chefes adorariam saber." Senti meu estômago afundar. Do que ela estava falando? Eu nunca tinha feito nada ilegal ou antiético no trabalho. "Você está blefando," respondi, tentando manter a voz firme. "Sério? Que tal aquela vez em que você alterou os números do relatório trimestral para impressionar
o conselho? Ou quando você usou informações privilegiadas para fazer aquele investimento pessoal?" Minha mente girava. Eu nunca tinha feito nada disso, eram mentiras, puras invenções. "Mas como provar?" "O que você quer, Vanessa?" perguntei, cedendo. Ela riu novamente. "Agora estamos chegando a algum lugar. É simples: quero dinheiro. Muito dinheiro. E se você não me der... bem, digamos que sua carreira pode ter um fim prematuro." Respirei fundo, tentando controlar minha raiva. "Quanto para começar?" "50.000 transferidos para minha conta até amanhã ao meio-dia. E não tente nada engraçado, Adriana, eu tenho provas." Com isso, ela desligou, deixando-me atordoada.
Nos dias que se seguiram, Vanessa se tornou uma presença constante em minha vida: ligações, mensagens, e-mails, sempre com novas demandas, novas ameaças. O dinheiro que eu havia economizado secretamente durante meses estava se esvaindo rapidamente. Uma semana após a primeira ligação,recebi uma mensagem de texto: "Encontre-me no estacionamento do seu trabalho em meia hora." Relutante, desci até o estacionamento no horário marcado. Vanessa estava lá, encostada em um carro esporte vermelho que eu nunca tinha visto antes. "Gostou?" Ela perguntou, acariciando o capô do carro. "Presente do seu marido, ou o ex-marido, não é mesmo?" Cerrei os punhos, contendo
a vontade de avançar sobre ela. "O que você quer agora, Vanessa?" Ela sorriu, um sorriso predatório. "Só vim mostrar meu novo brinquedo e lembrar você de quem está no controle agora." Ela se aproximou, seu perfume doce e enjoativo invadindo meu espaço. "Sabe, Adriana, eu sempre soube que era melhor que você: mais bonita, mais jovem, mais esperta. Samuel viu isso. É uma pena que você demorou tanto para perceber." Engoli em seco, a raiva borbulhando dentro de mim. "Você não me conhece, Vanessa. Não tem ideia do que sou capaz." Ela ri, jogando a cabeça para trás. "Ó,
querida, eu sei exatamente do que você é capaz. E é por isso que estou aqui: para garantir que você não faça nada estúpido." Com um último sorriso desdenhoso, ela entrou no carro e partiu, deixando-me sozinha no estacionamento, tremendo de raiva e frustração. As semanas se arrastavam e a pressão de Vanessa só aumentava. Ela parecia ter um prazer sádico em me torturar, em me lembrar constantemente de sua suposta superioridade. Uma noite, recebi uma ligação inesperada. Era Samuel. "Adriana!" sua voz soava embriagada. "Eu... eu sinto muito! Vanessa me deixou. Ela pegou todo o dinheiro e foi embora.
Eu não tenho para onde ir!" Por um momento, senti uma pontada de pena, mas logo me lembrei de tudo que ele havia feito, de como tinha me traído quando eu mais precisava dele. "Isso não é problema meu, Samuel," respondi friamente. "Você fez sua escolha." "Mas, Adriana!" ele implorou. "Eu não tenho ninguém! Minha mãe, ela está morando com minha tia. Não posso ir para lá! Por favor, me deixe voltar só por alguns dias." Senti uma onda de nojo. "Voltar? Depois de tudo que você fez? Depois de me trair, de me abandonar quando eu lutava contra o
câncer? Não, Samuel. Você fez sua cama, agora deite nela. Adeus, Samuel," interrompi, desligando o telefone. Mal tive tempo de processar essa ligação quando meu celular tocou novamente. Era Vanessa. "Oi, querida!" Sua voz era puro veneno. "Adivinhe só! Acabei de ouvir uma conversa muito interessante entre você e nosso amado Samuel." Congelei. "Como ela..." "Ah, não se preocupe," ela continuou, como se lesse meus pensamentos. "Eu tenho meus métodos. Mas isso não é importante agora. O que importa é que você acaba de cometer um erro terrível." "Adriana, do que você está falando?" perguntei, meu coração acelerando. "Veja bem,
eu e Samuel tínhamos um acordo: ele fingiria que eu o havia abandonado, imploraria para voltar para você e você, sendo a tola sentimental que é, o aceitaria de volta. Mas você estragou tudo." Senti uma onda de alívio. Misturada com raiva, então tudo não passava de mais uma manipulação. Sinto muito por decepcionar você, Vanessa, respondi, minha voz carregada de sarcasmo. Mas eu não sou a tola que você pensa que eu sou. Ela riu, um som frio e calculista. — Ó, Adriana, você não faz ideia do que acabou de fazer. Agora as coisas vão ficar muito, muito
piores para você. Com isso, ela desligou, deixando-me com um sentimento de pavor. O que ela estaria planejando agora? Nos dias que se seguiram, a pressão de Vanessa intensificou-se. As ligações se tornaram mais frequentes; as ameaças, mais explícitas. Ela parecia determinada a me quebrar, a provar sua superioridade a qualquer custo. Uma manhã, cheguei ao escritório para encontrar meus colegas me olhando de forma estranha. Sussurros seguiam meus passos pelos corredores. Quando cheguei à minha sala, meu chefe estava lá, com uma expressão grave. — Adriana — ele disse, sua voz séria —, precisamos ter um diálogo. Meu coração
palpitou. O que essa tinha feito? — Recebemos algumas acusações sérias contra você — ele continuou — alegações de fraude, uso indevido de informações privilegiadas. Entenda, não estamos acusando você de nada ainda, mas precisamos investigar. Senti mais uma vez o sabor da decepção. As mentiras de Vanessa tinham finalmente chegado aos ouvidos da empresa. Eu sabia que eram falsas, mas como provar? — Eu não fiz nada disso! — gaguejei, tentando manter a compostura. — São acusações falsas! Eu juro! Meu chefe assentiu, mas sua expressão não mudou. — Entendo, Adriana. Mas até que possamos esclarecer tudo isso, teremos
que pedir que você tire uma licença não remunerada. Saí do escritório em choque, mal registrando os olhares de pena e curiosidade dos meus colegas. No estacionamento, encontrei Vanessa esperando por mim, encostada em seu carro vermelho, um sorriso triunfante no rosto. — Oh, pobrezinha! — ela zombou. — Parece que alguém está tendo um dia difícil. Avancei em sua direção, a raiva tomando conta de mim. — Você... você fez isso! Ela riu, esquivando-se facilmente do meu avanço. — Eu... eu não fiz nada além de contar a verdade, Adriana. Bem, talvez com alguns embelezamentos. — Por quê? —
gritei, lágrimas de frustração brotando nos meus olhos. — Por que você está fazendo isso comigo? Vanessa se aproximou, seu rosto a centímetros do meu. — Porque eu posso — ela sussurrou. — Porque é divertido ver você se contorcer, ver você perder tudo que tem. Porque eu sou melhor que você em todos os aspectos, e quero que você saiba disso. Ela se afastou, entrando em seu carro. — Oh, e Adriana, isso é apenas o começo. Prepare-se para perder muito mais! Com um último sorriso cruel, ela partiu, deixando-me sozinha no estacionamento, minha vida desmoronando ao meu redor.
Naquele momento, enquanto via Vanessa se afastar, algo dentro de mim mudou. A dor, a frustração, o medo... tudo isso se transformou em uma determinação fria e calculista. Eu não seria mais a vítima. Era hora de virar o jogo. A manhã seguinte me encontrou sentada à mesa da cozinha, uma xícara de café esfriando à minha frente. O silêncio da casa, antes reconfortante, agora parecia sufocante. As palavras de Vanessa ecoavam em minha mente, misturando-se com as acusações do meu chefe. Meu celular vibrou, trazendo-me de volta à realidade. Era uma mensagem de Vanessa. — Espero que esteja aproveitando
seu dia de folga, querida. Talvez seja hora de procurar um novo emprego. Senti a raiva ferver dentro de mim, mas dessa vez era diferente. Não era uma raiva cega e impotente, mas algo calculista. Vanessa queria guerra, ela teria guerra. Peguei meu laptop e comecei a trabalhar. Horas se passaram enquanto eu vasculhava cada detalhe da minha vida profissional, cada e-mail, cada relatório. Se Vanessa estava usando informações contra mim, eu precisava saber exatamente o que ela tinha. No meio da tarde, meu celular tocou novamente. Era Samuel. — Adriana! — sua voz soava desesperada. — Você precisa me
ajudar! Ela enlouqueceu! Ela está me ameaçando, dizendo que vai arruinar minha vida se eu não fizer o que ela quer. Senti uma pontada de satisfação ao ouvir o desespero em sua voz. — Oh, agora você quer minha ajuda, depois de tudo que fez? — Por favor! — ele implorou. — Eu sei que errei, mas você não entende! Vanessa... ela não é quem pensávamos que era! Ela tem conexões. Ela sabe coisas comprometedoras sobre mim e você, sobre todos! — Franz? — perguntei. — Que tipo de coisas? Samuel hesitou. — Eu... eu não posso dizer por telefone.
Podemos nos encontrar? Por favor, Adriana! Eu sei que não mereço, mas preciso da sua ajuda! Parte de mim queria mandá-lo para o inferno, mas outra parte, a que estava planejando minha vingança, viu uma oportunidade. — Tudo bem — respondi, finalmente. — Encontre-me no parque perto de casa em uma hora. Desliguei antes que ele pudesse responder. Uma hora depois, eu estava sentada em um banco do parque, observando Samuel se aproximar. Ele parecia um fantasma do homem que eu conhecia: magro, pálido, com olheiras profundas. — Adriana — ele disse, sentando-se ao meu lado. — Obrigado por vir.
— Fale! — ordenei. Sem rodeios, Samuel respirou fundo. — Vanessa... ela não é apenas uma secretária. Ela tem conexões com pessoas poderosas, pessoas perigosas. Ela usou essas conexões para conseguir informações sobre todos na empresa, não apenas sobre você, mas sobre os executivos, os acionistas. Ela tem algo sobre todo mundo. — Que tipo de informações? — perguntei. — De tudo: fraudes fiscais, casos extraconjugais, subornos. Ela tem provas de tudo e está usando isso para chantagear as pessoas. — E você? — perguntei. — O que ela tem sobre você? Samuel baixou os olhos. — Eu... eu fiz
algumas coisas das quais não me orgulho, coisas que poderiam me colocar na cadeia. Senti uma mistura de nojo e pena. — E agora você quer que eu te ajude a sair dessa bagunça? — Não só isso — ele respondeu, olhando ao redor nervosamente. — Eu quero ajudar você a derrubá-la. Ergui uma sobrancelha. — E por que eu deveria confiar em você? — Porque eu tenho algo que pode incriminá-la! — ele sussurrou. — Algo que pode acabar com todo o esquema dela. Antes que eu pudesse responder, meu celular vibrou, sinalizando uma nova mensagem. De Vanessa, que
cena tocante, o casal se reunindo no parque. Pena que não vai durar. Congelei. Como ela sabia onde estávamos? Samuel notou minha expressão. — O que foi? Mostrei a mensagem para ele; seu rosto empalideceu ainda mais. — Ela está nos observando, — ele sussurrou. — Temos que sair daqui agora. Levantamo-nos rapidamente, olhando ao redor em busca de algum sinal de Vanessa. Não vimos nada, mas a sensação de estarmos sendo observados era opressiva. — Me encontre amanhã, — Samuel disse apressadamente. — No antigo galpão perto do rio, às 10 da manhã. Trarei as provas. Com isso, ele
se afastou rapidamente, deixando-me sozinha no parque. De volta à casa, minha mente girava com as novas informações. Era mais perigosa do que eu imaginava, mas agora eu tinha uma chance de virar o jogo. Passei a noite planejando, preparando-me para o encontro do dia seguinte. Se Samuel realmente tivesse provas contra Vanessa, eu poderia finalmente me livrar dela, mas algo em mim não confiava nele; afinal, ele já havia me traído antes. Na manhã seguinte, cheguei ao galpão abandonado 10 minutos antes do horário marcado. O lugar era sombrio e silencioso, cheirando a mofo e abandono. Às 10 em
ponto, ouvi passos se aproximando, mas não era Samuel. Quem apareceu na porta do galpão era Vanessa. — Surpresa, querida! — ela disse, com um sorriso cruel nos lábios. — Esperava outra pessoa? Senti meu sangue gelar. — Onde está Samuel? Ela riu, um som frio e sem humor. — Oh, Samuel não virá; ele está indisposto no momento. — O que você fez com ele? — exigi, minha voz tremendo ligeiramente. Vanessa avançou em minha direção, seus saltos altos ecoando no galpão vazio. — Nada que ele não merecesse. Sabe, Adriana, você realmente deveria escolher melhor em quem confiar.
Samuel foi tão fácil de manipular: um pouco de pressão aqui, uma ameaça ali, e ele fez exatamente o que eu queria. — E o que você quer? — perguntei, recuando instintivamente. Seu sorriso se alargou, predatório. — Você, Adriana. Sempre foi você. Ver você cair, ver você perder tudo, e agora, finalmente, tenho você exatamente onde quero. Ela tirou algo do bolso: um pendrive. — Sabe o que tem aqui? Todas as provas das suas supostas fraudes. Claro, são todas falsas, mas são convincentes o suficiente para arruinar sua vida para sempre. Senti uma onda de desespero me atingir.
— Por quê? Por que você está fazendo isso? Vanessa parou a pouco de mim, seus olhos brilhando com uma mistura de triunfo e loucura. — Porque eu posso. Porque é divertido. Porque você representa tudo que eu sempre quis e nunca pude ter: uma carreira de sucesso, respeito, admiração. E agora vou tirar tudo isso de você. — Ela ergueu o pendrive, balançando-o na minha frente. — Com isso, posso destruir sua vida com um clique. — A menos! — repeti, meu coração acelerado. — A menos que você faça exatamente o que eu disser. A partir de agora,
você é minha marionete, Adriana; cada movimento, cada decisão, tudo será controlado por mim. Senti a raiva crescer dentro de mim, superando o medo. — E se eu me recusar? Vanessa riu novamente. — Então prepare-se para ver sua vida desmoronar: seu emprego, sua reputação, tudo irá pelos ares. E não pense que pode fugir; eu tenho olhos e ouvidos em todos os lugares. Naquele momento, algo dentro de mim estalou. Toda a frustração, toda a raiva que eu vinha reprimindo explodiu. Num movimento rápido, avancei contra Vanessa, agarrando o pendrive. Ela gritou, surpresa, tentando se agarrar ao dispositivo. Lutamos,
nos debatendo pelo galpão empoeirado. Ouvi o som de tecido rasgando, senti unhas arranhando minha pele e, então, de repente, o pendrive escapou de nossas mãos, voando pelo ar. Aterrou com um baque surdo no chão de concreto, a poucos metros de distância. Por um momento, ficamos paralisadas, olhando uma para a outra e depois para o pendrive. Então, como se um tiro de largada tivesse sido dado, corremos em direção a ele. Vanessa chegou primeiro, seus dedos se fechando ao redor do dispositivo, mas eu não ia desistir tão facilmente. Joguei-me sobre ela, derrubando-a no chão. Rolamos pelo concreto
sujo, cada uma lutando para obter vantagem. Eu podia sentir o gosto de sangue na minha boca; ouvia a respiração ofegante de Vanessa. Finalmente, consegui arrancar o pendrive de sua mão. Levantei-me rapidamente, afastando-me dela. Vanessa se ergueu lentamente, seu cabelo perfeito agora uma bagunça, sua roupa cara rasgada e suja, mas seus olhos, seus olhos brilhavam com uma fúria que me fez estremecer. — Você não faz ideia do que acabou de fazer, — ela sibilou. — Isso não acaba aqui, Adriana. Eu vou destruir você, nem que seja a última coisa que eu faça. Com isso, ela se
virou e saiu mancando do galpão, deixando-me sozinha com o pendrive na mão e o coração aos pulos. Olhei para o pequeno dispositivo em minha mão, mal acreditando no que acabara de acontecer. Era uma vitória, sim, mas eu sabia que a guerra estava longe de terminar. Vanessa não desistiria facilmente e, agora mais do que nunca, eu precisava estar preparada para o que viria a seguir. O sol já se punha quando finalmente cheguei em casa. Exausta e dolorida da luta com Vanessa, tranquei todas as portas e janelas, uma sensação de paranoia e insanidade se instalando em mim.
Vanessa estava lá fora, planejando seu próximo movimento, e eu precisava estar preparada. Sentei-me à mesa da cozinha, o pendrive à minha frente. Com as mãos fraquejadas, conectei-o ao meu laptop. A tela piscou, revelando uma série de pastas. Abri a primeira e senti meu estômago revirar: eram documentos meticulosamente forjados, e-mails falsos, relatórios alterados, até mesmo fotos manipuladas, tudo criado para me incriminar. Mas havia mais, muito mais. Pastas com nomes de executivos da empresa, políticos locais, empresários influentes, cada uma contendo segredos sujos, provas de corrupção, evidências de traições. Vanessa não estava blefando; ela realmente tinha informações comprometedoras
sobre todos. Meu celular tocou, fazendo-me pular. Número desconhecido. — Alô? — atendi, hesitante. — Gostando do que vê, Adriana? — a voz de Vanessa soava rouca, provavelmente devido à nossa luta. Luta anterior? Aquilo é apenas a ponta do iceberg! Você não faz ideia do poder que eu tenho nas mãos. Respirei fundo, tentando manter a calma. O que você quer, Vanessa? Ela riu, um som áspero e ameaçador. O que eu quero? Eu quero que você sofra, Adriana! Quero que sinta na pele o que é perder tudo. Acredite, você vai perder. Aquele pendrive é apenas uma cópia;
tenho backups de tudo. Senti meu coração afundar. Por quê? Por que essa obsessão comigo? Porque você tem tudo que eu sempre quis! Ela gritou, sua voz carregada de ódio: o emprego, o respeito, a vida perfeita! Você nem percebe o quão privilegiada é. Bem, hora de alguém colar no seu lugar. E você, da sua vida, vai fazer o quê? Perguntei, uma ponta de desafio na minha voz. Ela soltou seu tom volando a um tom habitual. Não é sobre me sentir melhor, é sobre justiça. Você não merece o que tem, e eu vou provar isso. A ligação
caiu, deixando-me com um zumbido nos ouvidos e um peso no peito. Passei a noite em claro, analisando cada arquivo no pendrive, tentando encontrar uma fraqueza, algo que pudesse usar contra Vanessa. Mas, quanto mais eu procurava, mais desesperada me sentia. Ela tinha pensado em tudo. Na manhã seguinte, exausta e com os olhos ardendo, fui surpreendida por uma batida na porta. Cautelosamente, abri uma fresta: era meu chefe, Adriana! Ele disse, seu rosto uma máscara de preocupação: Posso entrar? Precisamos conversar. Relutante, abri a porta. Ele entrou, olhando nervosamente ao redor. O que está acontecendo? Perguntei, fechando a porta
atrás dele. Ele se sentou pesadamente no sofá, passando a mão pelo rosto cansado. Adriana, a situação é grave, muito grave. As acusações contra você, bem, digamos que elas se expandiram. Senti meu estômago revirar. Como assim? Recebemos um dossiê anônimo esta manhã. Não são apenas alegações de fraude agora; há evidências de lavagem de dinheiro, uso de informações privilegiadas, até mesmo conexões com o crime organizado! Deixei-me cair na cadeira mais próxima, atordoada. Mas isso é absurdo! Você sabe que eu nunca... Ele ergueu a mão, interrompendo-se. Eu sei, Adriana, ou pelo menos quero acreditar, mas as evidências são
convincentes. O conselho está pressionando por uma investigação formal. A polícia pode ser envolvida. Meu Deus! Murmurei, a realidade da situação me atingindo como um soco. O que eu posso fazer? Meu chefe hesitou, olhando ao redor como se temesse ser ouvido. Olha, eu não deveria estar te dizendo isso, mas se você tiver algo, qualquer coisa que possa provar sua inocência, é melhor apresentar agora, caso... Ele deixou a frase no ar, seu significado claro. Naquele momento, pensei no pendrive escondido em meu quarto, nas informações que eu tinha. Por um instante, considerei entregá-lo, usar as informações para me
defender. Mas então me lembrei das palavras de Vanessa: aquilo era apenas uma cópia. Se eu usasse, estaria jogando minha única vantagem fora. E Vanessa, ela retaliaria não apenas contra mim, mas contra todos cujos segredos estavam naquele pendrive. Eu vou ver o que posso fazer, respondi. Finalmente, meu chefe assentiu, levantando-se. Faça isso, Adriana, e faça rápido! O tempo está se esgotando. Depois que ele saiu, desabei no sofá, minha mente um turbilhão. Vanessa estava cumprindo sua promessa; minha vida estava desmoronando ao meu redor, e eu parecia impotente para impedir. O telefone tocou novamente. Vanessa? Então ela disse,
sem preâmbulos: "Tive uma visita interessante hoje." Cerrei os punhos, a raiva substituindo o desespero. Você não vai se safar dessa, Vanessa! Ela riu, aquela risada fria e cruel que eu estava começando a odiar. Oh, mas eu já me safei, querida! A questão é: o que você vai fazer agora? Vai usar as informações do pendrive, arriscar expor todos aqueles segredos sujos, ou vai assistir sua vida ir pelo ralo? Respirei fundo, tentando manter a calma. O que você quer, Vanessa? Qual é o seu objetivo final aqui? Houve uma pausa do outro lado da linha. Quando ela falou
novamente, sua voz estava carregada de uma emoção que eu não conseguia identificar: raiva, inveja, tristeza. Eu quero que você sinta, Adriana! Sinta o que é lutar e perder, o que é ver tudo pelo que você trabalhou ser tirado de você. Quero que você entenda que nada nessa vida é garantido, que tudo pode ser tirado num piscar de olhos. E depois? Pressionei. Depois que você tiver me destruído, o que vem a seguir? Outra pausa. Depois? Bem, isso depende de você. Talvez, se você implorar o suficiente, eu considere te dar uma chance de recomeçar do zero, como
eu tive que fazer tantas vezes. Com isso, ela desligou, deixando-me com mais perguntas do que respostas. Nos dias que se seguiram, vi minha vida desmoronar peça por peça. Fui oficialmente suspensa do trabalho, pendente de investigação. Minha conta bancária foi congelada. Repórteres começaram a aparecer na minha porta, fazendo perguntas sobre as alegações contra mim. Vanessa continuava me atormentando com ligações e mensagens constantes, às vezes ameaçadoras, às vezes zombeteiras, se divertindo imensamente com meu sofrimento. Uma noite, exausta e desesperada, decidi que era hora de contra-atacar. Peguei o pendrive e comecei a analisar as informações mais uma vez.
Desta vez, não estava procurando por algo para me defender; estava procurando por algo que pudesse usar contra Vanessa. Passei horas vasculhando os arquivos, até que finalmente encontrei algo: um e-mail escondido em uma subpasta. Era de Vanessa para um nome que eu não reconhecia. O conteúdo do e-mail fez meu sangue gelar. Vanessa não estava agindo sozinha; ela tinha um parceiro, alguém que estava fornecendo as informações, ajudando-a a orquestrar toda essa trama. E esse alguém era ninguém menos que o CEO da minha empresa. De repente, tudo começou a fazer sentido: o porquê de Vanessa ter tanto poder,
como ela conseguia todas aquelas informações. Ela tinha alguém no topo ajudando-a. Peguei meu celular e disquei o número de Vanessa. Ora, ora! Ela atendeu, seu tom sarcástico. A que devo? "O prazer acabou," Vanessa disse, minha voz mais firme do que eu me sentia. "Eu sei sobre seu parceiro, sei sobre o CEO." O silêncio do outro lado da linha foi ensurdecedor. Quando Vanessa falou novamente, sua voz tinha perdido todo o sarcasmo. — Onde você conseguiu essa informação? — sorri, sentindo que finalmente tinha uma vantagem. — Isso não importa. O que importa é que agora eu tenho
algo contra você, algo grande. — O que você quer? — ela perguntou, sua voz agora cautelosa. — Um encontro — respondi — você, eu e o CEO amanhã no mesmo galpão, às 10 da manhã. Venham sozinhos. Houve uma longa pausa. — E se não formos? — Então tudo isso vai para a imprensa. Tenho certeza de que eles vão adorar saber como o CEO da empresa está envolvido em um esquema de chantagem. Vanessa suspirou, derrotada. — Tudo bem, estaremos lá. Desliguei, meu coração batendo forte. Pela primeira vez em semanas, senti uma centelha de esperança. Amanhã, finalmente,
eu teria a chance de virar o jogo. Mas enquanto me preparava para dormir, não pude deixar de pensar: será que eu estava realmente pronta para o que viria a seguir? O galpão estava exatamente como eu me lembrava: frio, úmido e impregnado com cheiro de abandono. Cheguei 10 minutos antes do horário marcado, meu coração martelando no peito. Em uma mão, segurava firme o pendrive; na outra, meu celular, pronto para gravar. Às 10 em ponto, ouvi o som de passos se aproximando. Vanessa entrou primeiro, seu rosto uma máscara de fúria. Atrás dela, para minha surpresa, não estava
apenas o CEO, mas também Samuel. — Que surpresa agradável — disse, minha voz carregada de sarcasmo. — Não esperava ver você aqui, Samuel. Ele desviou o olhar, parecendo desconfortável. O CEO, por outro lado, me encarava com uma mistura de raiva e medo. — Muito bem, Adriana — Vanessa falou, sua voz cortante — você nos trouxe aqui. O que você quer? Respirei fundo, reunindo toda minha coragem. — Quero a verdade, toda ela. Por que vocês fizeram isso comigo? Qual é o real motivo por trás de tudo isso? O CEO deu um passo à frente. — Adriana,
você não entende. Isso é maior do que você, maior do que todos nós. — Então me faça entender — rebati. Vanessa soltou uma risada amarga. — Você realmente acha que isso é sobre você? Que todo esse esquema foi montado apenas para arruinar sua vidinha perfeita? — Do que você está falando? — perguntei, confusa. — A empresa — o CEO interveio — está à beira da falência há meses. Estamos maquiando os números, escondendo as perdas. Precisávamos de um bode expiatório, alguém para assumir a culpa quando tudo viesse à tona. Senti como se tivesse levado um soco
no estômago. — E vocês me escolheram? — Você era perfeita — Vanessa continuou. — Bem-sucedida, respeitada, sem conexões políticas fortes. Ninguém questionaria se você fosse acusada de fraudar a empresa. — E Samuel? — perguntei, olhando para meu ex-marido. — Qual é o seu papel nisso tudo? Samuel finalmente ergueu os olhos, sua expressão uma mistura de vergonha e resignação. — Eu... eu devia te manter distraída, te fazer acreditar que o problema era pessoal, não profissional. — Seu próprio marido! — cuspi as palavras. — A pessoa que deveria me proteger! — Eu não tinha escolha! — Samuel
gritou. — Eles tinham informações sobre mim, coisas que podiam me destruir. Todos nós fizemos o que era necessário para sobreviver. O CEO interveio. — Incluindo você, Adriana. Ou você acha que chegou onde chegou apenas por mérito próprio? Senti meu rosto queimar de raiva. — Eu trabalhei duro para chegar onde estou! — Sim, trabalhou — Vanessa concordou, seu tom condescendente. — Mas também fechou os olhos para muita coisa. Assinou documentos sem questionar, ignorou irregularidades. Suas mãos não estão tão limpas quanto você gosta de pensar. As palavras dela me atingiram como um tapa. Memórias de situações questionáveis
no trabalho, momentos em que eu escolhi não fazer perguntas, passaram pela minha mente. — Isso não justifica o que vocês fizeram! — argumentei, mas minha voz já não tinha a mesma convicção. — Talvez não — o CEO concordou —, mas é a realidade em que vivemos: um mundo onde todos têm algo a esconder, algo a perder. — E agora? — perguntei. — O que acontece agora que eu sei de tudo? Vanessa deu um passo em minha direção, seus olhos brilhando perigosamente. — Agora, Adriana, você tem uma escolha a fazer. Pode continuar lutando, expor tudo isso
e assistir não apenas sua carreira, mas a de centenas de funcionários inocentes, irem pelo ralo. — Ou...? — pressionei. — Ou você pode se juntar a nós — o CEO completou. — Ajudar a salvar a empresa, manter seu emprego, sua reputação. Claro, haverá um preço a pagar, mas pelo menos você terá uma chance de recomeçar. Vanessa finalizou. Olhei para cada um deles, sentindo o peso da decisão sobre meus ombros: de um lado, a chance de expor toda a corrupção, de fazer justiça; do outro, a oportunidade de salvar não apenas minha carreira, mas potencialmente os empregos
de muitos outros. — E se eu me recusar a fazer parte disso? — perguntei, minha voz tremendo ligeiramente. Vanessa sorriu, aquele sorriso frio que eu havia aprendido a odiar. — Então prepare-se para perder tudo: sua carreira, sua reputação, sua liberdade. Temos mais do que suficiente para te colocar atrás das grades por um longo, longo tempo. Fechei os olhos, sentindo o peso do mundo sobre meus ombros. Quando os abri novamente, minha decisão estava tomada. — Eu aceito — disse, minha voz firme. O alívio no rosto do CEO foi palpável. Samuel parecia surpreso, mas Vanessa... Vanessa me
olhava com uma mistura de respeito e desapontamento. — Bem-vinda ao clube, Adriana — ela disse, estendendo a mão. Hesitei por um momento antes de apertá-la. O toque de sua pele contra a minha selou meu destino. Nos meses que se seguiram, trabalhei lado a lado com aqueles que haviam tentado me destruir. Ajudei a encobrir fraudes, a manipular números, a enganar investidores. Cada dia era uma luta contra a minha consciência, um lembrete constante do que eu havia me tornado. Vanessa e eu desenvolvemos uma relação estranha, uma mistura de respeito mútuo. E, desconfiança constante, ela me ensinou os
truques do ofício: como manipular, como chantagear, como sobreviver neste mundo cruel que eu agora habitava. Samuel tentou se reaproximar, alegando que agora poderíamos recomeçar, já que estávamos do mesmo lado. Eu o rejeitei friamente, deixando claro que qualquer sentimento que eu tinha por ele havia morrido no momento em que ele escolheu me trair. E quanto a mim, eu sobrevivi; mantive meu emprego, minha posição, minha reputação pública, mas perdi algo muito mais valioso no processo: minha integridade. Agora, em meu escritório luxuoso, olhando pela janela para a cidade que um dia eu pensei conhecer, percebo que Vanessa estava
certa sobre uma coisa: nada nesta vida é garantido. Tudo pode ser tirado num piscar de olhos, inclusive nossa própria alma. Pego meu celular, discando um número que jurei nunca mais usar. Depois de dois toques, uma voz familiar atende: "Adriana". "Vanessa", diz seu tom surpreendentemente suave. "Achei que não ouviria mais de você." "Precisamos conversar", respondo, "sobre o futuro da empresa, sobre o nosso futuro." Há uma pausa do outro lado da linha. Quando Vanessa fala novamente, posso ouvir o sorriso em sua voz: "Estou ouvindo." Desligo o telefone, olhando mais uma vez pela janela. O sol se põe
sobre a cidade, pintando o céu de vermelho-sangue. Um novo capítulo está prestes a começar, e desta vez eu estarei no controle. Afinal, aprendi com a melhor. Gostou do vídeo? Deixe seu like, se inscreva, ative o sininho e compartilhe. Obrigada por fazer parte da nossa comunidade! Até o próximo vídeo.