Conhecer-se a si mesmo é a mais árdua tarefa em que podemos nos empenhar. Podemos fazer tudo o que for possível fazer na vida, porém, se não nos conhecermos seremos pessoas vazias, embotadas e destituídas de inteligência, e ainda que exerçamos funções de primeiro ministro ou de engenheiro altamente qualificado, ou de habilíssimo técnico, funcionaremos apenas de modo mecânico. Assim, precisamos sentir a importância de nos conhecermos e a serenidade que isso implica.
Conhecer a si mesmo é absolutamente necessário. Então: Como se Conhecer? Jiddu Krishnamurti.
Trata-se de uma boa questão. Preste atenção. Você se vê no espelho, e depois alguns dias ou semanas, você se vê novamente e diz: “Cá estamos”.
De modo idêntico, você pode obter o conhecimento sobre o que você é, observando a si mesmo? Não podemos olhar nossos gestos, o nosso modo de andar, de falar, o comportamento pessoal – quer sejamos cruéis, rudes ou pacientes? Porque, nesse caso, começaremos a nos conhecer.
Podemos nos conhecer, olhando-nos no espelho do que fazemos, do que pensamos e sentimos. O espelho é isso: o sentir, o fazer e o pensar. E nesse espelho começamos a perceber o que somos.
O espelho aponta os fatos, mas nós não gostamos deles e aí procuramos alterá-los e distorcê-los, e então, não percebemos como eles são. Quando você se vê, não apenas no espelho ao pentear o cabelo, mas também quando vê internamente, você se observa através do conhecimento que você tem sobre si mesmo. A imagem que você construiu sobre si, algo como: “eu sou assim”, “eu não sou assim”, “eu serei algo diferente no futuro”, todo esse movimento é a imagem que você tem sobre si.
Então, quando você se vê, você está olhando através dos olhos dessa imagem, que é o passado e, portanto, você não está realmente vendo. Para ver, realmente, é necessário observar sem o observador, que é o passado, o criador da imagem. Entende?
Você pode observar a si mesmo, sem o passado? O tempo está essencialmente ligado ao ego. Mas a observação em si não depende do tempo.
Por exemplo, se você observar um pássaro, não há tempo nisso. Há apenas a observação, certo? Agora, você pode observar a si mesmo, de modo que o “eu” não esteja presente?
A resposta definitiva ao problema humano está em ver as coisas como elas são, de fato, livres do engano do interesse pessoal. Vamos lá, primeiramente, você pode observar algo sem fazer uso das palavras? Você pode observar algo, sem um conhecimento previamente formulado?
Quando a mente está constantemente falando, não podemos observar o que é, mas apenas as projeções que nós mesmos criamos. Cada um de nós possui uma imagem daquilo que pensamos que somos, ou do que devíamos ser, mas essa imagem impede-nos completamente de vermos como realmente somos. Não poderemos nos conhecer se não nos conseguirmos nos observar exatamente como somos, sem distorções, nem qualquer desejo de mudança.
Então, precisamos examinar profundamente essa questão: é possível observar algo, sem que uma rede de palavras interfira nessa observação? Ao observar uma nuvem, por exemplo, você pode observá-la sem as palavras? Olhe para ela sem dividir-se como um observador, e portanto, sem o uso do pensamento.
Então, há uma consciência e uma atenção no próprio ato de olhar. Isso significa “estar completamente presente”. Mesmo que esse olhar possa durar apenas um segundo, ou um minuto – isso é suficiente.
Isso requer uma cuidadosa atenção. Podemos fazer isso? Através desse olhar, permanecendo nesse frescor – com uma mente que não está presa a palavras ou reações, mas que olha para tudo como se fosse a primeira vez – podemos observar a nós mesmos, e então, conheceremos a nós mesmos.
Essa observação é uma atenta vigilância, sem permitir que um único pensamento escape sem vigiá-lo, é estar ciente dele, dando toda a sua atenção para esse único pensamento. E então, para o próximo pensamento, e para o próximo. .
. continuando assim, tremendamente atento. Compreende?
Permanecer atento é a base de tudo o mais. Quando você observa a si mesmo com muita atenção, não há distorção. Faça isso, agora, enquanto falo, e você descobrirá por si mesmo.
É um fenômeno muito simples, não o complique. Apenas conheça a si mesmo. Saiba quem você é, não de acordo com alguém, mas apenas por si mesmo, observando a si mesmo.
Comece a investigar, comece a olhar para o espelho, que é você mesmo. Conheça-se, de fato, não teoricamente, não de uma forma verbal, mas através de um olhar real, inteligente e profundo, a cada momento da vida.