EXPECTADORES LÚCIDOS - Homilia - VI Domingo Comum (2025)

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Padre José Eduardo
Se alguém quiser fazer uma oferta espontânea para a Paróquia, pode realizar um depósito/transferênci...
Video Transcript:
Hoje, nós entramos no capítulo 6 de São Lucas, na altura em que começa o chamado Sermão da Planície. O capítulo 6 nos dá conta de que Jesus sobe à montanha para orar; ali, escolhe quem serão os seus 12 apóstolos, seus 12 enviados. Depois, ele desce da montanha.
Enquanto ele está descendo, vai para um lugar plano. A impressão que dá é como se fosse a última parte da base da montanha, para falar com as pessoas que ali se juntavam para estar com ele: muitos dos seus discípulos, uma grande multidão de gente de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sídon. É muito interessante que aqui aparecem como dois grupos: os discípulos e a multidão.
E, ao mesmo tempo, a multidão aparece como que dividida em dois grupos: de um lado, o pessoal que é da Judeia e de Jerusalém; ou seja, pode ser, para São Lucas, uma imagem da Igreja dos judeus, a igreja vinda do Judaísmo, e do outro lado, do litoral de Tiro e Sídon, cidades muito importantes daquela região, cana pagã. Ou seja, São Lucas pode estar aqui fazendo uma menção à igreja que vem dos pagãos; portanto, é como se, diante do Senhor, estivesse a sua igreja inteira. Então, o lecionário pula os versículos 18 e 19, que são versículos também muito simples.
Fala das pessoas que vieram para ser curadas, outros para serem libertadas de espíritos malignos; e que uma força, um poder, uma "dunamis", é um tema recorrente em São Lucas, saía do Senhor e curava todos. E aí diz o versículo 20: "Levantando os olhos para os seus discípulos, disse. .
. " É interessante essa construção, né? "Levantando os olhos para os seus discípulos.
" Por quê? A impressão que o texto dá é que Jesus desce a montanha para perto da base, aí vê as pessoas para serem curadas e libertas. Então, ele desce, cura, etc.
As pessoas vão se dispersando, vão sendo tocadas por ele. Então, ele se volta para os discípulos que continuam na base da montanha. Por isso o texto diz: "Levantando os olhos", não teria muito sentido levantar os olhos para baixo, né?
Levanta os olhos e diz aos discípulos. Esse detalhe é muito importante porque, no Evangelho de São Mateus, o texto mais ou menos paralelo, que é o do Sermão da Montanha, é dirigido a todos; mas, no Evangelho de São Lucas, é dirigido aos discípulos. Isso faz diferença porque, embora as bem-aventuranças em São Lucas sejam mais resumidas, elas são mais fortes.
Elas são menos, digamos assim, românticas; elas são mais duras, como nós veremos. Esse gênero de bem-aventurança é um gênero conhecido fora e dentro da Bíblia. Existem estudos, por exemplo, sobre esse gênero literário no Egito, na Grécia, e, obviamente, dentro da própria Escritura.
A leitura de hoje, a primeira, é um gênero de bem-aventurança porque ele diz: "Maldito o homem que confia no homem". Então, ou seja, ele proscreve o homem que crê, que coloca sua confiança no homem, mas ele diz: "Bendito o homem que confia no Senhor". Bem-aventurado, feliz, é a mesma coisa.
O Salmo primeiro é um Salmo de bem-aventurança: "Feliz é todo aquele que não anda conforme o conselho dos perversos", etc. E, no versículo 4: "Mas bem outra é a sorte dos perversos. " É um gênero que existe na Bíblia.
Por exemplo, no livro do Apocalipse, nós temos sete bem-aventuranças ao longo do texto, né? "Bem-aventurado aquele que vê e ouve as palavras dessa profecia. " "Bem-aventurados os que não passaram pela segunda morte.
" "Bem-aventurados", etc. Ou seja, é um gênero comum. E o que quer dizer esse gênero?
Ele não quer lançar uma palavra de mal-agouro, uma maldição, e nem quer lançar uma palavra de bom-agouro ou uma palavra de sorte, uma torcida, uma espécie de intervenção para mudar a dinâmica da situação. Não é uma espécie de constatação. E a coisa interessante é que, diferentemente de São Mateus, São Lucas vai contrastar cada bem-aventurança.
Em São Lucas, são quatro, com quatro ais, ou quatro, como dizem alguns, malaventuranças. E todas essas quatro relações são muito interessantes quando vistas na perspectiva dos discípulos de Jesus. Ou seja, ele está falando para os seus alunos, para aqueles que vão dar continuidade à sua obra.
Ele está falando com aqueles com quem ele forma como mestre das suas almas. Então, ele começa e diz assim: "Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. " Isso contrasta com o que ele diz depois: "Ai de vós, ricos, porque já tendes a vossa consolação.
" O que o Senhor está querendo dizer aqui? Por que ele está dizendo para os seus discípulos que os pobres é que são felizes, os pobres é que vão num bom caminho, porque eles vão ter o Reino de Deus, enquanto que os ricos estão num mau caminho, porque a consolação deles já lhes foi dada? O que isso quer dizer, do ponto de vista, digamos, programático da missão?
Ele está falando para aqueles que serão os seus missionários. Há muitos modos de ler isso; eu escolho um dentre os muitos possíveis. O que Jesus possivelmente está falando em cada uma dessas bem-aventuranças é sobre o lugar privilegiado que aquele que é excluído tem como um observador objetivo da história.
O que eu quero dizer com isso? Um pobre, ele não está implicado nas dinâmicas de poder; ele não está, por assim dizer, influenciado ou influenciando nas relações de importância e, por isso, ele é capaz de enxergar a vida desde a sua perspectiva real, ou seja, a luta real pela sobrevivência. O que realmente importa?
Todos nós sabemos o quanto a riqueza é capaz de idiotizar uma pessoa. Aliás, não precisa nem ser rica; a pessoa pode até receber um prêmio, dizendo: "Nossa, que coisa maravilhosa! Que coisa fantástica!
" Até que, depois, ela cai das nuvens. A famosa pegadinha que fizeram uma vez, né? É de anos atrás.
De um brinde pelo milésimo comprador de um supermercado: um recebeu a passagem para Disney, outro para não sei aonde, para Paris, e a terceira recebeu para Osasco e ficou chocada, né? O primeiro prêmio, uma visita a Osasco. Ou seja, vejam, a riqueza é capaz de idiotizar uma pessoa!
Ela se sente poderosa, ela se sente importante, ela acha que tem significado na medida em que as pessoas a vão aplaudindo. Ela vai se considerando alguém que realmente tem algo a dizer. Aí você tem a classe artística que todo mundo quer falar; todo mundo é filósofo, todo mundo é teólogo, todo mundo tem uma opinião relevante.
Aí se liga a televisão e fica escutando aquele "monte" de bobagens, aquela besteira assim. Ninguém sabe de nada, não leu meia dúzia de livros na vida. Eu não tenho o que dizer, mas tá todo mundo fingindo uma importância que não tem.
Agora, quando a vida já te tirou tudo, você é pobre, você já sabe que não tem importância mesmo. Você olha para esse espetáculo e isso não te impressiona. Você sabe que não é isso, não é sobre isso.
Você sabe o que uma pessoa é capaz de fazer, por exemplo, para manter a sua vida subsistente. Você sabe o que uma pessoa é capaz de fazer nas situações extremas, e exatamente por isso você entende o que é o Reino de Deus. Porque o Reino de Deus não acontece na mentira, no fingimento.
O Reino de Deus mesmo acontece na realidade. É quando você vê a bondade genuína, a bondade genuína de alguém que diz assim: “Olha, eu só tenho isso aqui para comer, mas assim, vamos dividir. ” Aí você vê o Reino de Deus.
Eu tô doente, mas você também tá precisando, então aqui eu vou cuidar de você. Aí é Reino de Deus. “Eh, você tá desorientado, oprimido, etc.
, estamos juntos. Vamos aqui, eu tô deprimido, mas eu vou te ajudar. ” Isso aqui é Reino de Deus.
É nessa hora que você vê a verdade da condição humana, sem máscaras, sem disfarces, sem maquiagens, sem palhaçada. Bem-aventurados vós que agora chorais, porque havereis de rir. Ao contrário, ai de vós que agora rides, porque tereis luto e lágrimas.
É, eu pulei um. . .
Depois eu volto. O que é chorar? Chorar é tomar posse da minha própria dor.
Isso exige coragem e exige humildade. Uma pessoa que precisa encenar pro mundo que tá tudo bem, que tá tudo ótimo, então ela vai pro Instagram, posta sempre coisas lindas sobre a vida dela, alegres, felizes, e ela gosta. E hoje em dia todo mundo tá meio assim.
Antigamente isso era uma doença só, e da mídia e etc. , mas hoje não. Hoje é uma doença que se popularizou.
Uma pessoa que vive assim, rasgando seda ou querendo transparecer uma felicidade, uma alegria totalmente artificial, é doida. Ela não tá bem. Há uma dissonância na cabeça dela.
Isso traz consequências; o boleto uma hora chega. Ao contrário, o homem livre é o homem que é capaz de chorar, chorar pelas suas dores, porque ele reconhece as suas dores. E quando eu me aproprio das minhas dores eu consigo entender melhor as dores do outro.
Por exemplo, quem nunca passou por um luto familiar tem dificuldade de entender o luto familiar dos outros, especialmente se essa pessoa que não passou por um luto familiar passou por um luto que ela fingiu não passar. Então ela vai impor a tarefa de um fingimento pro outro. Não, feliz é quem chora mesmo, tá doendo, grita e tá mal, fala, pecou, vai lá e diz logo tudo.
Não gasta energia escondendo, não se camufla. Porque é aí que o Reino de Deus acontece. Eu consigo enxergar a dor real.
Eu consigo ver que a existência nossa é efêmera; a existência nossa não é nada. Nós somos frágeis. Bem-aventurados vós que agora tendes fome, porque sereis saciados.
Embaixo, ai de vós que agora tendes fartura, porque passareis fome. Por que quem tem fome é feliz? Porque quem tem fome mesmo é muito grato por aquilo que ele tem.
O pessoal diz, né, que o melhor tempero é a fome. Dizem por aí, ou ao menos antigamente se dizia. Então, o que acontece?
Uma pessoa que tem fartura não valoriza o que ela tem. Agora, uma pessoa que realmente não tem e que recebe, essa pessoa é grata pelo pão. Essa pessoa é grata; ela recebe com ação de graças, ela consome com ação de graças.
Mas não só isso, ela enxerga aonde existe fome real. Ela enxerga aonde existe necessidade real e ela faz sua a fome real que ela encontra em qualquer área da vida. Eh, vocês vejam como é estreito o horizonte de consciência de alguém que resolveu se descuidar na vida e que, por exemplo, não vai ao supermercado e não sabe o preço das coisas, ou não precisa pagar uma conta.
Por que que adolescente é tudo meio bobão? Não paga conta, não valoriza, ele não sabe o que é passar fome, né? No sentido de que, como ele não dispende esforço naquilo, ele esbanja.
Pra ele tá tudo bem. Ao contrário, quando eu vou pra realidade, eu vejo como a vida é dura. É duro viver em 2025; não é para amadores.
Você tem que dar seus pulos, tem que dar o seu salto, você tem que fazer acontecer; você tem que tirar de onde não tem, você tem que inventar mil modos. Pois é, esse aqui tá enxergando a vida, ele sabe como as coisas são. Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, pulsarem, vos insultarem, amaldiçoarem o vosso nome por causa do Filho do Homem.
Alegrai-vos! Nestes dias, utai, porque será grande a vossa recompensa no céu; porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas. Embaixo, ai de vós quando todos vos elogiam; era assim que os antepassados deles tratavam os falsos profetas.
Ou seja, Jesus conclui que os verdadeiramente felizes são os perseguidos e os deixados de lado, aqueles que estão no ostracismo, os excluídos. Por quê? Estes aqui, se forem sábios, perceberão que essa é a maior liberdade que existe: a liberdade de não precisarem representar um papel neste circo em que os homens gostam de se apreciarem mutuamente.
Ele pode ser livre; ele pode deixar fluir nos seus exotismos; ele pode ser autêntico naquilo que fala, não está preocupado em se encaixar em nenhuma bolha, em nenhuma caixinha. Ele fala com o coração na mão, como quem diz a verdade mais profunda do seu ser, e é sincero. Não é alguém que tem um discurso estandarizado, um discurso que já vem pronto, porque ele representa não a si, não as suas impressões reais, mas as opiniões que interessam a esse ou aquele grupo, etc.
Ser perseguido, ser deixado de lado, também é muito bom, porque eu me torno um observador lúcido da comédia social. Eu estou do lado de fora, não estou implicado em nada; eu posso ver, eu posso observar. Essa é a posição do discípulo.
Essa é a posição que o discípulo tem que ter: ele não pode ser alguém que está tão fascinado com as dinâmicas humanas que perde a lucidez. Ele se implicou, por exemplo, em um tipo de viés e, pronto, ele já navega naquilo completamente vedado a qualquer outra percepção. Não tem mais senso autocrítico.
O discípulo tem que ser alguém que se alegra por ver a vida como ela realmente é, ao invés de estúpidas distrações. Seus queridos irmãos, São Paulo nos diz na segunda leitura que, se Cristo não ressuscitou, a nossa fé não tem nenhum valor. E se é para esta vida que nós pusemos a nossa esperança em Cristo, de todos os homens, nós somos mais dignos de pena.
De fato, se a ressurreição não existe, se Deus não venceu e se Ele não vencerá realmente essa vida, essa vida é muito pior do que parece. Mas hoje é domingo, nós estamos aqui para celebrar a vitória de Deus, a vitória da verdade sobre a mentira, a vitória da realidade sobre a ficção, a vitória da vida sobre a morte, a vitória de Cristo sobre o pecado. Portanto, a nossa esperança não está depositada nesta vida, e aquele que entendeu isso não espera ser excluído; ele mesmo, psicologicamente, se autoexclui.
Não os peço que os tires do mundo, disse Jesus, mas que os livres do maligno. Que o Senhor nos conceda essa grande liberdade interior que nos faça estar na posição real de quem observa tudo e sabe que unicamente aquilo que importa é o que está para além daquilo.
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