[Música] Christus, Christus, V chrus Christus, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém. Nossa Senhora, auxílio dos cristãos, rogai por nós. São Dente e São Mauro, rogai por nós. Do Pai, do Filho, do Espírito Santo. Amém. Bom, nós havíamos começado a estudar a Revolução Francesa, né? E estudamos as causas da Revolução, o
Iluminismo, etc. Depois, toda aquela preparação, aquelas causas mais próximas da Revolução. Ah, e agora a gente vai estudar o início da Revolução Francesa: convocação dos Estados Gerais e a Assembleia Constituinte até o final da Assembleia Constituinte, né? Eh, bom, uma das questões que sempre se fala das razões pelas quais a Revolução Francesa teve início é que a França estava numa situação de muita pobreza e de muita miséria. Isso não é verdade! A França tinha alguns problemas que precisavam, de fato, de alguma atuação e algumas adaptações, mas ela estava longe de ser um país que vivia
uma crise. Ela tinha um problema financeiro, não econômico, como a gente vai estudar aqui, mas vou dar alguns dados para que a gente possa um pouco desfazer esse mito de uma França miserável e de um povo miserável. Bom, a economia francesa no final do século XVI era a principal economia da Europa. Metade de todo o ouro que havia na Europa estava na França, então era um país muito rico. Ah, a França tinha, por exemplo, uma rede de estradas pavimentadas com pedra, né? Mais de 13.000 km. Havia canais que cortavam toda a França, ligando inclusive os
oceanos e os mares, e isso, claro, facilitava muito o comércio também. Ah, a França exportava muito. O total de exportação da França no ano de 1788, ou seja, um ano antes da Revolução Francesa, foi ser igualado só em 1848, 60 anos depois, que ela conseguiu atingir o mesmo volume de exportações. Então, a França tinha uma economia muito pujante, uma economia muito forte, né? Eu falei para você das estradas: as estradas francesas eram as melhores da Europa. Depois, mais da metade das terras da França pertenciam aos camponeses; em algumas regiões da França, 90% das terras pertenciam
aos camponeses. E os camponeses vinham ano a ano aumentando essa participação no total de terras da França. Ah, eles compravam muitas terras da nobreza. A produção francesa também estava em crescimento. A igreja também tinha muitas terras, mas tinha uma quantidade de terras muito menor do que os camponeses; a igreja, acho que tinha 14% das terras da França, se não me engano. Agora, não me lembro mais, né? E qual era o problema, então, da França? A França era um país sem liquidez. Era uma nação rica com um Estado muito pobre. Por que o Estado francês era
pobre? O Estado francês era pobre porque tinha uma série de problemas administrativos. As instituições não funcionavam bem; por isso que eu disse que precisava de algumas reformas, de algumas adaptações. Por exemplo, o modo como o imposto era recolhido, era cobrado, era muito ineficiente. Então, eu vou falar daqui a pouco sobre os impostos, quais eram os impostos que havia naquela época. Mas o imposto que seria o equivalente ao nosso Imposto de Renda, chamado "ta", era um imposto cobrado por aparência. Então, quanto melhor a aparência da pessoa, o modo como ela se vestia ou se ela comia
muito bem, tinha fama de comer bem, etc., maior era o imposto que ela pagava. Resultado: o camponês francês, que não era bobo, vivia num casebre, se vestia humildemente para que não chegasse os cobradores de impostos. Salve Maria! Carl, aproveitando, por favor, então o camponês francês, ele aproveitava que a cobrança era feita desse modo absurdo e vivia. Ele era muito rico, mas acabava morando num casebre pobre e se vestindo humildemente para pagar pouco imposto. Depois, os impostos eram cobrados por banqueiros; isso também era um outro erro. O rei, para não cobrar os impostos, não ter o
trabalho de cobrar os impostos por toda a França, ele terceirizava esse serviço, com banqueiros. Os banqueiros eram chamados de "tratantes". Então, o governo real definia qual era a quantidade de imposto em cada região da França que ele esperava receber. Esses banqueiros, os tratantes, pagavam adiantado ao rei e se incumbiam de cobrar os impostos por toda a França. Tudo aquilo que os tratantes conseguissem cobrar a mais do que eles haviam pago ao rei ficava para eles. Resultado: eles procuravam explorar o povo, e isso gerava, naturalmente, uma série de problemas e insatisfações, né? Então, havia, de fato,
aí uma insatisfação por causa desse modo como o imposto era cobrado. Então, havia um problema de que o imposto também era fixo, né? As taxas feudais, aquelas taxas que eram taxas feudais, eram taxas que vinham iguais desde a Idade Média. Então, quando chegaram na época da Revolução Francesa, não valiam quase nada. Os impostos que existiam naquela época eram, como falei para vocês, a "ta", que era o Imposto de Renda que eles eram cobrados. Ah, dos alguns nobres não pagavam esse imposto; outros nobres pagavam, o povo todo pagava. E claro que isso gerava uma certa insatisfação,
né? Porque era um imposto que alguns pagavam, outros não. Alguns nobres eram isentos, outros nobres pagavam, mas o povo todo pagava. Ah, havia um outro imposto chamado "captação", né? Como o nome diz, vem de capta, então era pago por pessoa. Esse aqui todo mundo pagava, e havia um outro imposto chamado vigésima, que também, como diz o nome, era um imposto de 5%. Além disso, havia o dízimo; o dízimo era pago à igreja. O dízimo era pago à igreja, mas o dízimo, como diz o catecismo, era pago segundo o costume. O dízimo não é uma obrigação
literal de se pagar 10% de tudo que se ganha. O catecismo diz, né, que uma das leis da igreja é pagar o dízimo segundo o costume. Pagar segundo o costume quer dizer, segundo o costume do lugar. Por exemplo, no Brasil, o costume é pagar o dízimo o quanto se pode, como se pode, da maneira que se pode. Então, não é 10% exato do que se ganha, né? E o dízimo também não é um oitavo sacramento, né? Porque a gente vai nas igrejas e parece que o dízimo é o oitavo e único sacramento. Muitas campanhas fazem
para colher o dízimo, mas pouca campanha para, por exemplo, as pessoas estudarem, se confessarem etc. Dá a impressão que o dízimo é a grande virtude, o que tá longe de ser, né? Depois, havia também alguns impostos sobre mercadorias, que eram uma coisa que gerava distorções e era um tanto absurda. Havia, por exemplo, um imposto sobre o sal. O sal, então, nas regiões litorâneas, não custava quase nada, claro, mas havia dentro da França uma série de barreiras alfandegárias que taxavam o sal à medida que ele ia entrando para o interior do país. Então, o sal custava
caro no interior da França e barato no litoral. Resultado: além de gerar uma insatisfação, acabava gerando uma série de contrabandos de sal também, para poder ter o sal mais barato no meio da nação. A moeda que corria era o ouro, o que também mostra que era um país muito rico, porque o papel moeda é um dinheiro, uma moeda, né, pobre, porque não tem valor em si. O valor que se dá ao papel moeda é um valor que se atribui, baseando-se na confiança na economia. Não tem um valor real. A nota de dólar não tem um
valor em si, assim como a nota de real ou de euro. Qualquer que seja a moeda, a moeda quando era de ouro tinha valor em si mesma, então, se a moeda corrente aqui era o ouro, ah, era ficar muito rico. Eu falei para vocês que a França era um país, era uma nação rica, num estado pobre. O estado era pobre porque era endividado. Como a coleta de impostos era ineficiente, o governo fechava muitos anos seguidamente no vermelho, e o ministro — o ministro das Finanças — chamado de filho de protestantes, favorável à Revolução Francesa, então
vai trabalhar para que haja um problema econômico, e que, gerando problema, sempre a esquerda faz isso: quanto mais a miséria, melhor, para que haja miséria na França e que possa haver uma revolução. O ministro das Finanças francês, chamado de Turgot, trabalhava para a revolução e não tinha interesse em resolver o problema financeiro francês para saldar, para quitar as dívidas da França. Ele contratava empréstimos, alguns empréstimos com juros a 30%, que era um absurdo. Então, sempre para pagar a dívida antiga, ele contratava uma dívida nova. Resultado: enquanto ele era ministro, sempre havia dinheiro, mas era um
dinheiro emprestado de banqueiros que estava levando a França à ruína. A situação foi ficando insustentável quando, em 1788, o ministro fez a convocação dos estados gerais. O que são os estados gerais? Os estados gerais são uma assembleia consultiva, que não tem poder de decisão algum, mas apenas de aconselhar o rei para resolver um problema específico da França. Os últimos estados gerais tinham sido convocados em 1614, então nem se sabia mais como é que isso funcionava, como é que se elegiam os deputados. Havia uma inexperiência política completa. Então, sugeriu-se que fossem convocados essa assembleia consultiva para
aconselhar o rei no modo de resolver o problema econômico. Chamava-se estados gerais porque era uma reunião dos três estados: havia o primeiro estado, o clero; o segundo estado, a nobreza; e o terceiro estado, o povo. Todas as votações eram por estado, então as reuniões eram separadas: o clero se reunia separadamente, né? Só o clero, só a nobreza, só o povo. Eles deliberavam e tinham um voto entre eles; eles decidiam qual seria o voto daquele estado. Portanto, toda a eleição, toda a votação que eles faziam ou dava 3 a 0 ou 2 a 1; era impossível
empate. E isso aqui haverá uma manobra que vai ser incentivada pelo ministro, desde o começo, a fim de acabar com esses votos por estado, mas fazer um voto por deputados. A gente vai tratar disso aí. O modo como a votação ia ocorrer foi definido pelo ministro, e ficou determinado, então, que o número de deputados em cada estado não seria igual, mas que o terceiro estado teria o dobro de deputados se as votações continuassem sendo por estado. Isso não faria diferença alguma, porque o terceiro estado continuaria tendo um voto, independente do número de deputados. Mas isso
não foi dito a princípio; simplesmente se discutiu e se definiu que o terceiro estado teria mais deputados. Isso já atiçou a cabeça das pessoas, dos revolucionários que queriam a democracia, de que deveria então ter um voto por deputado, um voto direto, não um voto indireto. Mas isso ainda aqui não foi definido, né? Como é que eram eleitos esses deputados para representar os seus estados nos estados gerais? Primeiro, como é que eram eleitos os deputados do... Povo, a eleição era duplamente indireta, né? Ah, primeiramente, só votavam os homens que tinham, no mínimo, 25 anos de idade
e que pagassem impostos. Esses aí iam eleger representantes, e esses representantes é que iriam, então, elaborar os tais cadernos de sugestões para serem mandados aos Estados Gerais. E eles, então, iam eleger os deputados. Então, os homens de 25 anos que pagavam impostos elegiam representantes que, por sua vez, elegiam os deputados. Esses deputados aqui iam participar dos Estados Gerais e que queriam, iriam aconselhar o rei, né? Esses, como é que eram elaborados esses cadernos de sugestões? Isso foram feitas consultas em toda a França pro povo dizer, então, o que eles queriam que fosse mudado na França.
Esses cadernos, então, iam para todas as aldeias por toda a França. O povo, muitas vezes, mal sabia ler e escrever e não estava acostumado com aquele tipo de coisa. Então, sempre havia uma ação daquela região que se oferecia para escrever: "Deixa que eu escreva." Era um advogado, um maçom, uma pessoa acostumada a esse tipo de coisas, a debater, etc., que isso havia nas lojas maçônicas. Então, ele escrevia os cadernos de sugestões só com ideias revolucionárias. Resultado: havia, era até engraçado, uma padronização das sugestões de toda a França. Sugestões muito parecidas, muitas delas, com citações em
latim e grego, que o povo era culto, né? Então, isso só mostra que era tudo fabricado, era tudo um mundo de faz de conta. Alguns cadernos eram autênticos, quase todos eles eram monarquistas e apoiavam o rei. A Revolução Francesa, quando começou, todos esses deputados, quase todos eram monarquistas, a maioria, pelo menos. Ah, mas muitos pediam a diminuição dos impostos e outros pediam o fim do absolutismo, o que era legítimo, né? O regime aqui francês era uma monarquia absolutista, que é a decadência da monarquia, então queriam a maior autonomia dos nobres de cada região, o que
é legítimo e bom, né? Mas muitas das demandas eram, inclusive, baseadas numa sugestão que, como ninguém sabia como fazer os tais cadernos, um padre revolucionário chamado Padre Síglio escreveu um modelo de caderno, e esse modelo circulou a França inteira. Então, todo mundo que ia fazer o seu caderno de sugestões se baseava no caderno do Padre Síglio, que era um padre maçom, né? Então, foi tudo, desde o começo, um jogo de cartas marcadas, né? Toda vez que se diz que vai ter uma consulta ao povo, é assim. Isso é só... só a gente vê a democracia
no Brasil, mas não só aqui, em todo lugar, né? Pode ser um lugar mais evidente do que outro, mas a democracia é um jogo. Essa democracia liberal é um jogo de cartas marcadas, né? Como era feita a eleição do segundo estado da nobreza? Era uma eleição direta, cada nobre, tendo ou não feudo, tinha direito a um voto. Então, eles podiam escolher diretamente os deputados que os representariam. No clero, houve também uma manobra, né? O voto no clero... como é que o clero ia escolher os seus representantes, os seus deputados? Cada convento, por maior que fosse,
tinha um voto apenas. Cada pároco tinha um voto. Então, havia uma desproporção, porque conventos que, muitas vezes, eram enormes, tinham um voto e cada pároco tinha um voto, depois cada bispo tinha um voto. Então, era democrático, igualitário, né? Por que essa ênfase? Porque a eleição foi feita... ah, depois os cônegos, né? Cada grupo de 20 cônegos tinha um voto, não era um voto por cônego. Por que foi feito dessa forma? Porque os padres, nessa época, os párocos eram os que estavam mais embebidos dos ideais iluministas. Eles, que eram assinantes da enciclopédia. Então, o jogo foi
feito para que esses padres, que tinham as ideias mais revolucionárias, fossem os membros do segundo estado para representar o clero nos Estados Gerais. Resultado: de 296 deputados do clero, só 47 eram bispos, 208 eram padres. Então, os bispos, quando iam nas reuniões do primeiro estado, quando os bispos passavam, os outros padres gritavam "abaixo o tirano", gritavam "bispo é o fim do mundo", né? E então era assim que eram eleitos os representantes. Esses representantes, esses deputados, eles eram eleitos com uma incumbência específica. Não é como hoje, que o deputado... a gente, as pessoas votam, o deputado
desaparece, ninguém sabe o que ele tá fazendo, se ele faltou, se ele não faltou, se ele compareceu, se deixou de comparecer. O que ele propôs... aqui não, aqui ele recebia um caderno com uma incumbência, porque o que ele tinha... ele tinha mandato, o que ele tinha que defender, o que ele tinha que combater. Era como hoje que o deputado recebe os votos, esquece dos eleitores, vai pra Brasília e faz o que bem entende, fora do que tava no caderno, né? Nessa discussão toda, o governo... então, ah, o rei se declarou neutro, né, que os Estados
Gerais pudessem discutir livremente para dar os conselhos ao rei. E o rei se declarou neutro. Se o rei se declarou neutro, os revolucionários não eram neutros e trabalharam bastante, ah, para poder fazer a revolução, né? O Padre Cis, já falei dele, os cadernos, ele era muito amigo do Duque de Orleans. O Duque de Orleans era primo do rei. Era revolucionário, traidor, votou pela morte do rei, como nós vamos ver isso numa outra aula. Tinha interesse em ficar rei da França, então... e tinha interesse em destronar um primo, Luís XV, para que ele, Duque de Orleans...
a família Orleans era a família real, na família Bourbon. Os Orleans eram aparentados do rei, mas não... eles não herdariam o trono, a coroa, a não ser que acabasse a... Dinastia dos Bourbons. Então, o Duque de Orleans, primo do Rei, eleito Deputado, trabalhou o tempo todo para a revolução, inclusive pagando bandidos, etc. Ele pagou e financiou o padre Cissé para que o padre Cissé escrevesse um panfleto que dizia o seguinte: o título do panfleto é "O que é o Terceiro Estado?". Terceiro Estado era o povo, né? Então, no panfleto ele perguntava: "O que é o
Terceiro Estado?" E aí ele mesmo respondia: [Música] "Tudo o que ele, o que ele foi até agora, nada; o que ele quer ser, alguma coisa." Então, quer dizer, extremamente ácido para insuflar a raiva das pessoas, né? Ah, já falei para você: esses deputados, a maioria deles elogiava o rei e eram, eh, monarquistas, né? No final das contas, dos deputados do povo, eh, havia 700 e tantos deputados do povo, né? A soma de todos os deputados foi 1.000 e tantos deputados; não me lembro mais o número, mas 700 e poucos deputados. De 40 a 45% eram
maçons da nobreza, 1/3 dos deputados eram maçons do clero. Eh, dos deputados do clero, mais ou menos metade tinham ideias maçônicas. Então, a Maçonaria estava dominando tudo, né? Ah, o fato foi que, depois, tendo o Terceiro Estado muito mais deputados, se a votação fosse por deputado e não por estado, os deputados do povo teriam maioria, porque a quantidade de deputados do Terceiro Estado era um pouco maior do que a soma do primeiro e do segundo estado, ou seja, do clero e da nobreza. Eu não estou com os números aqui nos detalhes, mas a diferença era
pouca. Mas eles tinham maioria, ainda que se somassem os dois, os deputados que tinham ideias mais revolucionárias — por incrível que pareça, os deputados da Bretanha e da Vendée, que depois vão ser — que era uma região camponesa que vão ser justamente essas duas regiões que vão depois tomar em armas para combater a Revolução. Por que, então, no começo, as regiões mais católicas da França — a Bretanha é famosa por ser sempre a região mais católica da França — as regiões mais católicas, no começo da revolução, foram as mais revolucionárias por causa dos padres. Os
padres apoiaram a Revolução, não? Bom, então, eleitos deputados, foram marcadas as datas para início dos Estados Gerais. Ah, começando dia 4 de maio de 1789. Começou com uma missa em Versalhes; as reuniões eram em Versalhes, na igreja de Nosso Senhor, se não me engano. Eu já estive nessa igreja. Aí e, eh, saíram todos os deputados em procissão, e no dia seguinte, dia 5 de maio, começariam as reuniões de fato, né? Eh, houve uma série de imperícias da parte dos organizadores dos Estados Gerais que só causavam problemas. Então, por exemplo, cada estado se reunia numa sala
distinta, a roupa que foi dada aos deputados era uma roupa que eles se queixavam de ser uma roupa ridícula, uma roupa preta que parecia roupa de alunos das escolas cristãs. Depois, onde se reuniu a nobreza e o clero, havia cadeiras onde se reuniu, tinha bancos sem encosto, então era muito mais incômodo, né? Uma coisa completamente errada. Depois, nesse primeiro dia, o povo chegou às 6 da manhã; o rei foi chegar só ao meio-dia, deixou todo mundo lá esperando. Depois, enquanto os deputados do povo chegavam à porta para eles entrarem no salão, era uma porta dupla,
só abriram uma folha, então eles tinham que se espremer para entrar. E o rei, enquanto eles chegavam, ficava conversando com outra pessoa, não dava muita atenção a eles. Uma série de coisas que, somadas ao clima que havia ali, só atrapalhou, né? Eh, depois o rei fez um discurso curto e aqui vocês têm uma ideia de como Luís XV era fraco, né? O costume era que, quando o rei chegava, todo mundo ficava em pé, o rei se estava chapel, se descobria; todos se descobriam, e, ah, as pessoas se mantinham cobertas. Quando o rei terminou de falar,
ele colocava o chapéu; quando o rei colocava o chapéu, era costume que todos do povo tinham que tirar o chapéu. Quem era do clero ou da nobreza podia continuar coberto, mas o rei, se cobrindo, todos do povo tinham que se descobrir. O rei se cobriu, terminou de falar, fez um discurso curto, e vários deputados lá do povo continuaram de chapéu, desafiando o rei. O rei, percebendo então que ah, eles estavam desobedecendo, ao invés de dar uma dura e se impor, ele tirou o chapéu e fingiu que estava se abanando com o calor, porque assim dava
o pretexto para eles continuarem com o chapéu. Quer dizer, uma fraqueza do rei. Luís XV, ele vai capitular durante todo o tempo. Eu já falei para vocês: ele teve uma educação pietista, tinha horror ao derramamento de sangue, tinha medo de usar o poder que ele tinha. Além disso, ele era uma pessoa, psicologicamente falando, de caráter amorfo, ou seja, ele era secundário, não emotivo e não ativo. Para ele, custava tomar uma decisão; custava o sofrimento da vida dele ter que decidir. Então, quando ele decidia, ele nunca voltava atrás; se ele voltasse atrás, ele teria que tomar
decisão de novo. E tomar decisão para ele era sempre um grande sofrimento. Portanto, ele, quando decidia, o irmão dele dizia que, quando ele decidia, ele era como uma bola de bilhar rolando numa plataforma de espelho; não tinha o que parasse, porque ele odiava tomar decisões. Depois, ele era uma pessoa que tinha medo de usar o próprio poder por causa do pietismo e procurava evitar todo e qualquer derramamento de sangue. Resultado: o medo que ele teve de tomar atitudes que derramassem. Sangue acabou sendo, ao menos em parte, responsável pela morte de milhares de pessoas, como ele
não tomou a decisão firme que devia ter tomado. Houve uma série de crises, então isso aqui é bom a gente saber, né? Às vezes, a autoridade tem medo de tomar decisão porque tem medo das consequências, e as consequências são piores quando ele não toma a decisão, quando ele não é firme, tá? Ah, depois, também nesse primeiro dia, os deputados do Povo chegaram mais cedo para fazer o credenciamento, e os deputados da nobreza e do clero não tinham chegado ainda. Eles começaram, então, a se queixar: "Escuta, cadê os outros deputados? Devem estar aqui." Isso começou então...
Ah, eles começaram também a dizer que tinham que fazer as reuniões juntos, não fazer reuniões separadamente, como era a regra, né? O logo se organizou o clube chamado Clube Bretão, que depois vai mudar de nome para Clube dos Jacobinos, né? Tinha esse nome porque eles se reuniam num convento dominicano em Paris de São Tiago, que é Saint-Jacques em francês. Aí, daí veio o nome de Jacobinos, né? Eles, nesse começo da Revolução Francesa, vão ser a esquerda. A Gironda era a direita, e eles vão ser a esquerda, mas logo vão ser suplantados porque esse é um
fenômeno do que acontece também nas repúblicas, nas democracias. Há sempre uma nova ala política que surge à esquerda daquelas que existem. Então, sempre o partido que hoje é esquerda, amanhã vai ser um partido de centro, e depois de amanhã vai ser à direita. Então, isso sempre foi assim. Os Jacobinos, que eram a esquerda no começo da Revolução Francesa, no final da Revolução Francesa vão ser tidos como um partido de centro, centro-direita. Isso acontece sempre, por exemplo, aqui no Brasil, né? Quando o PT surgiu na década de 80, o PT era um partido de esquerda. Hoje,
o PT não é mais um partido de esquerda; há outros partidos de esquerda muito mais radicais. O PSDB, que era à esquerda do PMDB, hoje é tido como partido de centro. Não porque o PT mudou, o PSDB mudou; eles continuam com a mesma ideologia. É que vão surgindo partidos à esquerda que vão dando, então, a impressão de que aqueles que ontem eram de esquerda hoje são de centro e amanhã serão de direita. Assim, eles vão enganando as pessoas. Todas essas manobras, ah, eles começaram a fazer na Revolução Francesa. Então, nessa confusão, eles logo propuseram a
votação de que, se os deputados deveriam reunir-se juntos ou não. Na nobreza, então, a maioria dos deputados votou que não, que eles deveriam votar em separado. Depois eles foram procurar o rei e disseram que estavam dispostos a abrir mão de todos os nobres, né? Todos os benefícios pecuniários que eles tinham; não queriam receber mais nada. Mas eles queriam manter os privilégios da nobreza, né? Mostrando que eles não queriam, então, estavam não estavam dispostos a lutar só pelo dinheiro. Depois, o clero, por uma maioria mais estreita, mas ainda assim deu maioria: foi 123 votos a 10,
votaram para que as reuniões continuassem ocorrendo separadamente. Ah, o povo, a grossa maioria, votou para que as reuniões fossem juntas, né? [Música] Ah, isso aqui vai ser o grande drama dos primeiros dias dos Estados Gerais. Eles vão botar em votação, vão perder. Aí, depois, alguns deputados da nobreza vão passar a se reunir com o povo. Depois, sobretudo alguns deputados do clero, padres, etc., vão deixar a reunião do primeiro estado, vão para o terceiro estado, vão ser aclamados como homens de muita virtude, etc., etc. Mas, ainda assim, eles não conseguem a maioria para fazer as reuniões
conjuntamente. Então, eles fazem uma manobra contrária à lei: passam uma lista, uma abaixo-assinada, e na lista do tal abaixo-assinada, eles conseguem maioria. Então, eles decidem que as reuniões vão ser feitas conjuntamente, vão se reunir todo mundo. O rei, então, tentou conter esse movimento, mandou fechar a sala onde eles se reuniam e, então, os deputados do clero e do povo foram se reunir na igreja de São Luís. E se reuniram lá, conjuntamente, em São Luís. O rei convocou, para o dia 23 de junho, uma reunião chamada Sessão Real, porque era uma reunião com o rei. No
dia 20, ou seja, três dias antes, os deputados do povo foram se dirigir à sala que era designada a eles, a sala do Menplési, e, chegando lá, a sala estava fechada porque estava em reformas. Estava fazendo reformas para adaptá-las para a reunião que ocorreria no dia 23. Eles, então, não tinham sido avisados da tal reforma, ficaram revoltados com o fato e, então, eles se reúnem com os deputados do clero, ah, numa sala onde se jogava o jogo de squash, o jogo da bola. E, então, eles fazem um juramento, os deputados, de que eles nunca vão
se separar sem antes fazer uma constituição para a França. Ora, isso era um abuso. Eles foram eleitos para aconselhar o rei num problema econômico, aconselhar, nem tomar decisões, e agora eles tinham feito um juramento de que iam fazer uma constituição para a França e que eles não iam se separar enquanto aquela constituição não fosse feita, tá? Ah, isso então, no dia 20 de junho, foi a reunião, tá? Agora, que é um fato curioso: os Estados Gerais começaram dia 4 de maio. Como é que, no dia 20 de junho, eles já têm uma decisão tão profunda
quanto essa? Quer dizer, em pouco mais de um mês, eles conseguiram deliberar. Em um mês e meio... Olha, de Estados Gerais para consultar numa questão econômica, a gente agora vai fazer um... Juramento de nunca mais se separar para fazer uma constituição. É claro que já tinham combinado antes; isso era um plano anterior, um plano anterior. Ah, então os Estados Gerais foram convocados com o pretexto das dificuldades financeiras. Financeira deram, ah, deram aso para que houvesse uma constituição na França. O rei, como eu falei para vocês, era uma pessoa medrosa, uma pessoa medrosa, e eles, como
os revolucionários, então resolveram, tomaram uma atitude que fosse uma espécie de grande susto a dar no rei, para que o rei de fato não quisesse, não tivesse coragem de se mover. E esse grande susto foi a tal da tomada da Bastilha. A Bastilha era uma prisão, ah, uma prisão de estado que só ficava presa na Bastilha os criminosos, pessoas que tinham problemas com a família, de quem, digamos assim, condenava a pessoa a ficar presa na Bastilha. Normalmente, o pai de família, quando havia problemas de família, para evitar que houvesse uma condenação a uma prisão comum,
condenava o próprio parente, o filho, etc., a ficar na Bastilha. A Bastilha era uma espécie de hospedaria real onde as pessoas, as listas, por exemplo, do que as pessoas comiam lá, né, nos arquivos da Bastilha, ah, ali as pessoas, tudo era pago pelo rei; tudo o que a pessoa vestia, o que a pessoa comia, os livros, tudo era financiado pelo rei. E as listas de jantares que foram dados na Bastilha, com vinho burgun e sobremesa, essas lá. Então, ficar na Bastilha dava prestígio. De cada mil presos que passaram por lá, três ou quatro foram por
motivos políticos. Então a Bastilha era muito mais um símbolo do que um lugar de terror, como querem fazer acreditar alguns professores aí que a gente tem na universidade, né? Ah, a Bastilha, então, eh, ela era guardada por um oficial lá do exército. Havia uma guarda, acho que suíça, e alguns inválidos que também cuidavam da Bastilha. Eles marcaram essa tomada da Bastilha no dia 14 de julho, né, que ficou sendo famoso. Aí, de fato, ali, quando alguns revolucionários conseguiram entrar no primeiro pátio da Bastilha, cortando a corda da ponte do primeiro fosso, eles conseguiram entrar. Os
soldados atiraram, houve mortes, e o comandante da Bastilha, então, querendo evitar que houvesse ali mortes, ele convidou aqueles revolucionários, ofereceu a eles um almoço, disse que não era para ter derramamento de sangue, que tentou negociar com eles. Não houve acordo. Quando ele viu que a situação, ah, que eles iam de fato invadir a Bastilha, ele tentou colocar fogo no paiol de pólvora para fazer explodir tudo, mas um coronel que estava com ele não permitiu que ele fizesse isso. Logo depois, os revolucionários chegaram. Ah, o primeiro que eles mataram foi o tal coronel. Depois, mataram também
esse comandante que estava na Bastilha. Mataram uma série de soldados; também libertaram os três ou quatro presos na Bastilha. Um deles era batedor de carteira, não sei se era um louco, pessoas que não tinham grande importância. E, ah, dessas pessoas que eles mataram, eles pegavam o coração, os intestinos, etc., e faziam um desfile pela cidade; uma coisa tremenda. E, de noite, eles se reuniam no Palácio Real, que era o lugar onde se reuniam os revolucionários. Penduravam os intestinos das pessoas nas árvores; os corações, ah, os corações, eles cercavam de flores e ficavam cantando, homens e
mulheres de má vida, cantando uma canção que dizia: “Não há verdadeira alegria senão quando o coração está presente", que ainda ironizavam o que eles tinham feito. Depois da Bastilha, eles foram até a prefeitura de Paris e mataram o prefeito de Paris. Quer dizer, começou uma onda de assassinatos, né? Depois disso, deixou o rei assustado, a tomada da Bastilha. O rei, então, com medo, não ia reagir mais; o plano tinha dado certo. Começa, então, na França, uma onda de saques, roubos, etc., por todo lado. É nessa época que os deputados vão fazer a Declaração dos Direitos
do Homem, sobre a qual falarei daqui a pouco. Entre 20 de julho, portanto, logo depois da Bastilha, que foi 14, entre 20 de julho e 6 de agosto, houve na França um fenômeno que ficou sendo conhecido como o grande medo. Isso aqui é um outro plano da maçonaria, maçonaria que os revolucionários, quando eu falo maçonaria, são os revolucionários. Estou dizendo que são pessoas inscritas na maçonaria, mas pessoas que defendem os ideais maçônicos. Ah, um dos objetivos era inibir o rei; ah, outro objetivo era fazer com que as pessoas se desarmassem, a nobreza, para que a
nobreza não reagisse à revolução. E se armasse o povo, para que a qualquer momento o povo pudesse, tomando em armas, cooperar com a revolução. Então, isso foi feito da seguinte maneira: começou a se espalhar boatos por toda a França de que uma grande desgraça estava para acontecer. Então se dizia que os ingleses estavam invadindo; depois, os alemães estavam invadindo; depois, havia hordas de bandidos na região que iam invadir aquelas aldeias. Então, depois que houve incêndios, noites e noites, as pessoas morrendo de medo, tendo alarme de incêndio, alarme de assalto, alarme de invasão, e as pessoas
então, assustadas, querendo armas, passaram a invadir os castelos, porque nos castelos havia armas, né? Os nobres fugiram; muitos deles foram para fora, para outro país, e agora, por causa desse medo de um inimigo que nunca existiu e que nunca chegou, né? Eh, toda a população agora estava armada; agora o exército, a revolução agora tinha um exército. Isso aqui é uma coisa. Curiosa, né? Esse grande medo vai durar pouco mais de três semanas e vai afetar as pessoas. É curioso como essas experiências de medo, que às vezes fazemos, têm efeito, né? Uma hora é uma gripe
suína, outra hora é o aquecimento global, outra hora é o gelo que tá derretendo. Tem sempre uma grande desgraça para acontecer que faz as pessoas ficarem com medo de alguma coisa, né? Muitas dessas coisas que são feitas — os testes eram feitos na Revolução Francesa — como, por exemplo, esse grande medo sobre o qual acabei de comentar, né? Ah, quando foi em outubro, faltou pão em Paris. Por que faltou pão? Ahã, o ministro Necker, como eu falei para vocês, ele era favorável à revolução, então fazia com que os carregamentos de trigo que vinham para Paris
ficassem indo de um lugar para outro. Chegava num lugar, mandava ir para outro lugar, que por sua vez mandava ir para outro, até o trigo apodrecer. Depois, o Duque d'Orleans, primo do rei, contratava bandidos para assaltar os carregamentos de trigo que vinham para Paris, para que o trigo não chegasse a Paris. Resultado: não havendo trigo em Paris, não havia pão, e isso vai deixar o povo furioso, né? É dessa época que vão dizer a frase que Maria Antonieta nunca disse, né? "Que vocês não têm pão? Que comam brioche." E aí, então, começa a surgir a
ideia de que o rei deve ir para Paris. O rei ficava em Versalhes, que não é longe de Paris, mas é uma outra cidade, sobretudo naquela época. Hoje se vai a Paris de metrô, naquela época não era assim, né? Ah, então começam a exigir os revolucionários: "O rei tem que ir para Paris, o rei tem que ficar em Paris." Eu comentei com vocês que foi nessa época que foi proposta, então, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que eu faço aqui uma leitura rápida para vocês verem o absurdo que é isso aqui, né?
Essa declaração dos direitos do homem e do cidadão vai ser o que depois vai inspirar a constituição francesa, a mesma constituição que a França fará no século XIX, que vai inspirar todas as constituições que nós temos, inclusive a nossa aqui, que vai inspirar a ONU, etc., né? Então, ele começa dizendo que todos os homens nascem iguais em direitos, nascem livres e iguais em direitos. Isso aqui é uma redonda mentira. Nós não nascemos iguais, né? A ideia de que todo homem nasce igual é um absurdo. Nós nascemos iguais, isso aqui já expliquei para vocês. Nós somos
iguais em natureza, porque somos todos participantes da mesma natureza humana, portanto, todos os direitos que decorrem da natureza são iguais. Os direitos acidentais não, né? Quem nasce numa família de gente de valor, que tem prestígio, ele nasce participando desse prestígio e nasce com a obrigação de mantê-lo. Não nasce igual. Depois, Nossa Senhora não nasceu igual; ela nasceu Imaculada, foi concebida sem pecado original, portanto, ela nunca teve nenhum pecado. É mentira que os homens nascem todos iguais. Depois, a finalidade de toda a associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Mentira! Toda
a sociedade política tem que ter como fim aquilo que é o fim supremo do homem. A sociedade política visa o bem material, é verdade, mas esse bem material tem que estar sujeito a uma hierarquia, onde o primeiro é o bem espiritual. Também o Estado tem obrigação de cooperar com a salvação das almas, porque também o Estado é criatura de Deus. O Estado não é uma invenção humana. Quem fez o homem social foi Deus. Portanto, o Estado também tem a obrigação de cultuar a Deus. Assim como o Estado é formado por pessoas, cada pessoa tem a
obrigação de cultuar a Deus, porque cada pessoa é uma criatura de Deus. O Estado, que é um conjunto de pessoas, também tem essa obrigação. O Estado não tem direito de ser laico. O Estado não se criou; assim como cada indivíduo tem a obrigação de reconhecer Deus, também o Estado. Por isso, nós temos que cultuar a Deus enquanto indivíduos e enquanto membros da sociedade. Daí a importância de ter demonstrações públicas e conjuntas de fé, por exemplo, numa procissão. Pois o artigo terceiro, o princípio de toda soberania reside essencialmente na nação. Mentira! O poder não vem do
povo, não, o poder vem de Deus, né? Porque toda a autoridade vem de Deus. Isso Cristo disse a Pilatos, tá no Evangelho. Quando Cristo não respondeu a Pilatos, porque Pilatos não tinha querido ouvir a resposta sobre o que era a verdade, então, quando ele volta, ele conversa com Cristo, Cristo não responde mais, e ele diz: "Se não me responde, não sabe que eu tenho poder para te condenar ou te mandar soltar." E Cristo não nega que ele tem poder e diz que não teria poder se não lhe tivesse sido dado do alto, confirmando que o
poder vem de Deus. Pilatos ali usava mal o poder, mas que o poder tinha vindo de Deus, tinha. E como é que isso se prova? Quem explica é o Papa Leão XI. O argumento que ele dá é muito claro: ele começa explicando que todo homem é social. Prova disso temos a língua, né? Temos a fala. Isso é uma das provas de que o homem é social. Se tem alguém, se eu falo, tenho alguém para me ouvir, né? Se a esposa fala, tem o marido para ouvir. Depois, nós nascemos de uma sociedade, que é a sociedade
conjugal. Depois, nenhum homem é capaz de... Se manter fora da nossa sociedade é impossível. Como uma pessoa pode produzir tudo que é necessário para se manter: todo o alimento, toda a roupa, todo remédio, toda a área, todas as ferramentas? Só estando com dor de dente, ela mesma que trata o próprio dente. É impossível não estarmos uns dos outros. Por isso, que os monges que vivem solitários, eles vivem solitários por penitência. Nós somos seres sociais. Ora, não há, é impossível haver sociedade sem autoridade. A autoridade é a forma da sociedade. Não existe autoridade na sociedade sem
autoridade, portanto Deus, que fez o homem social, poderia tê-lo feito diferente, mas não fez. Portanto, Deus quis o homem social, e se não há sociedade sem autoridade, a autoridade foi feita por Deus, foi querida, foi desejada por Deus e instituída por Deus. Logo, toda a autoridade vem de Deus. Toda a autoridade vem de Deus. Não quer dizer que toda autoridade é divina. Aqui está o erro do absolutismo. O absolutismo dizia que o poder do rei era divino. O poder do rei não é divino; o poder do rei vem de Deus, mas não quer dizer que
é divino. Ele não tem um poder como um poder de Deus, onde o capricho dele é lei. É aí que está o erro do absolutismo. Mas o poder que tem o rei, assim como todo o poder—o poder que tem o presidente, o governador, o pai, o professor, o irmão mais velho—toda a autoridade, toda ela vem de Deus. Então, quer dizer que o poder emana do povo é uma grande farsa. E nós sabemos muito bem que o poder não é mandado do povo. Coisa nenhuma! Aqui nas eleições, quem ganha é quem paga mais, né? Quem tem
mais dinheiro para propaganda leva. Daí, a grande ganância por dinheiro para fazer propaganda eleitoral que é o grande problema do Brasil atual. [Música] Continuemos aqui. Ah, bom! Então o rei estava ficando acuado na França, né? Depois vai começar propriamente o ataque à Igreja. O ataque à Igreja vai começar de uma forma bastante malandra, sugerida por um bispo chamado Talleyrand, um dos maiores bandidos da história, não só da Revolução Francesa, mas da história. É um homem que passou por toda a Revolução Francesa em col, tantas pessoas morreram. Ele foi ministro de Luís XV, foi deputado na
Revolução, foi ministro de Napoleão e depois, na Restauração, foi o ministro de 1818 e ainda foi quem representou a França no Acordo de Viena, quando Napoleão perdeu a guerra. Quer dizer, um homem de uma importância na história única, né? A família dele era uma família nobre. Ele, quando criança, caiu e tinha um problema no pé; ele quebrou o pé, ficou com o pé torto e no pé dele nasceu um casco no lugar da unha. Então, ele andava mancando e, por conta disso, não podia ser militar. Não podendo ser militar, a família então colocou ele para
estudar e ficar padre. Ele ficou bispo, era bispo de Autun e um homem corrupto. Corrupto! Nunca rezava a missa, claro, só que não era conveniente, né? Não usava batina. Só que não era conveniente. Aí, em prol da Revolução, ele sagrou-se bispo; ele usava a batina, etc. Então era um homem corrupto. Ah, Talleyrand então foi eleito deputado. Ele, então, foi à tribuna. Nesse dia, ele estava de batina, claro. Ele subiu à tribuna às 8 da manhã e começou a falar da situação financeira na qual se encontrava a França e que então ele começa a elencar todos
os bens da nação, todas as riquezas que havia na França, procurando algo que pudesse servir de lastro para a emissão de um papel moeda. O papel moeda aqui era uma novidade. Falei para vocês que o papel moeda é uma coisa sem valor real e aqui, então, a Revolução Francesa emitiu um papel moeda chamado assignat. Ele vinha assinado. O Talleyrand, que foi um dos idealizadores do assignat, que é o dinheiro, o papel moeda, ele tinha que encontrar um lastro para aquele dinheiro; o que é que ia dar valor àquilo tudo. Ele então sugere que o lastro
do assignat sejam as propriedades da Igreja. A Igreja tinha muito território, muita propriedade. Então, que esses territórios, essas propriedades da Igreja sejam o lastro desse papel. Logo de cara, muitos bispos aceitaram; muitos bispos aceitaram para poder se fazer de homens magnânimos que abriram mão dos bens da Igreja em prol da nação. Eles tinham direito a fazer isso, não se quisessem fazer com os bens próprios, que fizessem; mas os bens da Igreja não eram deles. Um abad não pode dispor dos bens da ordem da abadia como ele bem quer; um bispo não pode dispor dos bens
da diocese como ele bem quer. Ele não é dono, então é fácil fazer isso com chapel alio, né? Então, aqui o clero, para se fazer de patriota, aceitou a sugestão de Talleyrand de colocar à disposição da nação, não do Estado, mas da nação, as terras da Igreja e todos os bens da Igreja. Foram então emitidos 400 mil assignats, que valiam... cada assignat valia, então, uma fração das terras da Igreja. Emitiram então, quando acabaram esses 400 mil, emitiram mais, porque agora ficou fácil, né? Pagar as contas? Manda imprimir! Então, começou-se a imprimir dinheiro. Tudo ficou fácil,
a solução estava resolvida. E aí, então, eles experimentaram um problema que conheciam mal na época, que era o problema da inflação: quanto mais dinheiro circulando, menos vale o dinheiro, claro. Então, o Estado começou a emitir dinheiro aos montes e aquilo não valia mais nada. Chegou uma hora em que o assignat... Não tinha mais valor algum. E aí, alguns sabidos, porque não assinava, falavam: "Vá, escrito? Vale tanto em terras da igreja." Vinha lá marcado, mas aquele papel passou a não ter valor nenhum na economia. Mas ele tinha um lastro. E aí, alguns sabidos, dentre eles alguns
padres, foram lá e trocaram. Falaram: "Eu quero agora o meu lastro, eu quero, eu estou aqui com alguns asinhas. Eu quero o equivalente em terras da igreja." E a igreja então foi espoliada, perdeu todos os bens. Só que o Papa, na época, o Papa Pio VI, comungava quem comprasse terra da igreja. Então, isso gerou um problema de consciência. E aí usou-se uma malandragem: "Vamos fazer o seguinte, em cada região a prefeitura daquela região compra as terras da igreja e revende, porque as pessoas vão estar comprando da prefeitura e não da igreja." E aí, extinguiu-se a
Deus. E fizeram dessa maneira. Com isso, então, se vendeu não só as terras da igreja, mas obras de arte, edifícios, livros, uma série de materiais importantíssimos e valiosos da igreja foram todos vendidos. Quando foi em fevereiro de 1790, foi feita uma lei proibindo fazer votos religiosos. Agora, era proibido fazer votos. Agora, eu me pergunto: qual é a relação disso com o problema econômico da França? Então, notem como faz o inimigo. Ele nunca declara o que ele quer. O que eles queriam era destruir a igreja, mas não disseram isso. O pretexto qual foi? O problema financeiro
do país. E aí, daqui eles puxaram o novelo inteiro. Em fevereiro de 1790, fizeram uma lei proibindo os votos religiosos, e depois havia muita propaganda contra os votos, assim como exatamente como faz hoje. Só que naquela época era com os teatros, as peças teatrais que passavam. Sempre tinha uma moça que os pais obrigaram a ficar freira, ela não queria, mas mandaram ela para o convento. Ela fez votos e era feliz no convento. Depois, a história de sempre: pessoas tinham sido forçadas a entrar da região. Isso cria nas pessoas uma mentalidade: "Puxa, coitado desses monges, dessas
freiras, eles são obrigados a serem religiosos." Logo depois, fizeram uma outra lei cancelando os votos de quem já havia feito. Então, primeiro teve uma lei proibindo novos votos, depois uma lei cancelando os votos anteriores. Cada um agora tinha uma segunda chance. Os votos estavam suprimidos e agora eles podiam decidir se queriam ou não fazer votos. Resultado: uma debandada dos mosteiros enorme. Onde houve mais traição foram nos mosteiros masculinos e nos mosteiros ricos. Os mosteiros femininos e os mosteiros pobres foram mais fiéis e não traíram a Deus. Mas houve mosteiros em que os monges rasparam a
barba, não usavam barba e foram para o fúting, quer dizer, foram paquerar as moças. Uma vergonha. Ah, quando foi em 1790, depois, com essa questão do grande medo que eu contei para vocês, as cidades procuravam se unir umas às outras para defesa, para proteção mútua. Elas se uniam em federações. Então, eram chamadas as federações. Essas federações cresceram muito na França. Então, chegou uma hora em que todas as cidades estavam federadas. Acabaram-se os laços feudais e foram sendo substituídos pelos laços federativos. Ah, então a França, no final das contas, virou uma grande federação. Quando foi em
julho de 1790, em 14 de julho, um ano depois da tomada da Bastilha, se organizou uma grande festa na França chamada Festa da Federação para comemorar a união de todas as federações da França. Nessa festa, houve uma grande missa, como era costume. Um importante deputado chamado Mirabeau foi o... Mirabeau falava muito bem. Ele foi o maior, o principal deputado que mais discursou, que melhor discursou em toda a revolução. Ele falava muito bem. Depois, vai mudar de lado. Mirabeau vai se opor, vai concorrer com um outro deputado que era um general chamado Lafayette, que havia lutado
na França, nos Estados Unidos, pela independência americana dos ingleses. Quando ele voltou para a França, voltou com muito prestígio, foi eleito deputado. E quando Mirabeau vê que ele está perdendo a influência para Lafayette, Mirabeau, que era um vendido, então vai oferecer os serviços dele ao rei, para o rei pagar ele agora, fazer discursos pró-rei. Ele vai fazer isso, depois vai ser morto, provavelmente envenenado, porque agora defendia o rei. Lafayette também vai perder prestígio logo depois porque ele vai usar as tropas para conter as revoltas populares e vai também perder muito do seu prestígio. Bom, os
deputados haviam jurado que não iam se separar enquanto não fizessem para a França uma constituição. Isso aqui é bastante importante. Essa constituição começou a ser elaborada pelos deputados, que antes eram apenas um estado geral, agora é uma assembleia nacional constituinte, mudou a coisa. Essa assembleia, então, vai começar a fazer uma constituição para a França. Uma parte dessa constituição, se eu não me engano, era o segundo capítulo, não me lembro mais, mas era uma parte da constituição francesa que ia tratar da igreja. Então, até que ela chamava-se Constituição Civil do Clero. Então, você imagina, na constituição
da nação havia um capítulo que cuidava só da igreja. E aqui, então, esse vai ser o grande motivo pelo qual futuramente o rei vai ser deposto e morto. O rei, no começo, vai apoiar a constituição, claro, mas depois ele vai ficar contra, e vai ser por isso que ele vai ser morto. Então, essa Constituição Civil... Do clero, ela vai pregar, vai estabelecer, melhor dizendo, a todos os princípios galicanos e jansenistas. Então, vai dizer que, por exemplo, todos os bispos da França tinham cento e tantos bispos. Todos estavam destituídos. Ora, quem nomeou o bispo foi um
papa; todo bispo é nomeado por um papa. Como pode uma assembleia de deputados destituir um bispo? Muitos bispos simplesmente desprezaram a destituição. Isso, depois, vai dar problema para eles, né? Ah, e aí a constituição do clero também redefiniu as dioceses francesas, como a França tinha 83 departamentos; cada departamento virou uma diocese. E aí deu um problema matemático: havia 120, 123 bispos e agora 83. Então, muitos deles tinham que renunciar, foram destituídos, e só 83 ficaram como bispos. Essa era uma divisão artificial, que não levava em conta a geografia nem a história do lugar; era meramente
uma divisão política. Depois, dizia que os bispos não mandavam. Todo bispo tinha que ter um conselho, um conselho... esqueci o nome do conselho... Eclesiástico? Não me lembro mais o nome, que, dependendo do lugar, tinha de 8 a 12 padres. O conselho não era só um conselho; ele tinha poder de decidir. Então, o bispo não mandava mais na diocese. Depois, o bispo era eleito; o bispo não era mais nomeado pelo papa, era eleito pelo povo, não pelos católicos. O papa fez uma lei; o papa fez um documento excomungando, proibindo pelo menos todos de votarem para escolher
quem ia ser o bispo. Resultado: quando houve a primeira eleição, porque no começo as coisas estavam mais ou menos como estavam, até que morreu o primeiro bispo. O assembleia convocou eleições para eleger bispo daquela região. Os católicos não foram votar, porque dava excomunhão. Então, quem foi votar? O judeu, o maçom, o ateu, o protestante; os inimigos da igreja foram votar para escolher quem ia ser o bispo. Depois, os párocos também eram eleitos; o pároco tinha que ter um, um pároco para cada 6.000 pessoas. Era super cartesiana a divisão, ultra racionalista: um pároco para cada 6.000
almas. Depois, se a paróquia tivesse numa região de até três quartos de léguas de tamanho, ela era abolida; assim, a paróquia não tinha mais paróquia se a paróquia ficasse a até três quartos de légua de distância de uma cidade; a paróquia devia ser atendida pela cidade. Depois, havia e os párocos eram eleitos também, assim como os bispos; os párocos eram eleitos pelo povo. Depois, você tinha os vigários; todos eles recebiam salário. O vigário recebia salário, o pároco recebia salário, o bispo recebia salário; todo mundo era funcionário público. Todo mundo ficou na mão do estado. Depois,
foi decretada a gratuidade de todo o serviço religioso, porque sempre foi gratuito. O que a gente paga quando um padre faz um casamento, faz um batizado, ou a gente pede uma missa, ali é uma ajuda que se dá ao padre para o sustento dele. O padre não tem salário, né? O padre vive no altar. Então, não é que a gente compra os sacramentos. Isso não existe. A gente dá uma ajuda, uma esmola para o padre; essa esmola ficou sendo proibida na França. Tudo quem pagava era o estado. Resultado: todo padre, todo bispo que desobedecesse perdia
o emprego. E com a miséria, ficou todo mundo sujeito ao estado. Ah, depois, no começo, o papa levou um certo tempo para condenar tudo isso aqui, né? Ah, e depois os próprios vigários também eram eleitos; os vigários eram eleitos e deveriam ter um conselho paroquial. Tudo tinha que ter um conselho. Quer dizer, acho que hoje as paróquias se inspiram nessa época, no conselho paroquial, que manda mais que a Dona Maria que manda. Então, mais que a Dona Maria... lá tá louco, até escobar... e então, quando teve o primeiro bispo que morreu, aí foi o grande
problema, porque o próximo bispo... Alguns padres se candidataram, né, para ficar bispo; o povo católico não votou. Então, quem votou foram os inimigos da igreja e aí elegeram lá um determinado padre tirano. Foi lá e agora, para ser bispo, né? Foi lá e sagrou, sagrou dois bispos para poder ter sempre dois para sagrar novos bispos e ordenar os padres. Depois disso, ele foi para Nova York. Depois dessa sagração, onde se amou com uma mulher, um fando esse aqui, ele recebeu os sete sacramentos; é um homem mal e ruim, muito fino e podre, né? Podre, a
mais, no podre. Ah, o papa excomungou todos os novos bispos que foram ordenados. Depois, a Constituição Civil do clero também acabou aprovando o casamento de padres. Claro, óbvio, né? O padre agora tinha direito a ter sogra. O primeiro casamento de padre que teve... então, assim que foi aprovado, o primeiro casamento que teve, teve um padre que não quis se casar, claro, né? E aí, claro que está na igreja e compareceu ao casamento dele. Ele levou lá a noiva, compareceram os filhos, etc.; ele já era amasiado, pois terminou; então ele se casou. Um padre fez o
casamento dele. Quando terminou o casamento, os dois trocaram. Esse padre que casou deu a volta e fez o casamento do outro padre que havia casado. Padres maus, né? Padres maus. E, ah, e detalhe: e... não é em qualquer lugar, não, tá? Só que o que aconteceu: boa parte do clero não dava pela Constituição do clero, continuava seguindo... A lei, a Constituição do clero foi aprovada pela assembleia, foi sancionada pelo rei, mas não pegou, porque muitos lugares o povo não estava nem aí para a Constituição, claro, muito menos, tá? Então, foi quando um deputado... agora esqueci
o nome dele... sugeriu uma... Nova lei que obrigasse todos os bispos, todos os padres e todo o clero francês a jurar fidelidade à Constituição Civil do Clero. Então, determinou-se uma data, porque se fez a lei e ninguém deu pelota. Aí colocaram uma data: até tal data, todo clero tinha que jurar. Ninguém deu pelota. E aí resolveram começar o juramento pelo clero que era deputado, porque pelo menos esse aqui tinha que votar. Então, foi determinada a data. E aí fizeram uma chamada oral por ordem alfabética. O primeiro bispo de uma cidade lá começava com a letra
A. O bispo subiu lá no plenário, falou todo polidamente, todo educadamente, etc., cheio de protocolos, mas disse que não juraria. Aí foi depois um padre e falou que seguiria o bispo dele e que não juraria também. Esse, aí, não deixou nem terminar, porque não perceberam que ele não ia jurar; já arrancaram ele lá de cima, aos tapas. E aí os revolucionários viram que essa estratégia não daria certo, porque, se fizessem uma chamada e todos que fossem lá não jurassem, isso iria dar incentivo para os que estavam indecisos não jurarem também. Então, mudaram a estratégia: falaram
que agora tinham 10 minutos de prazo para quem quisesse subir na tribuna e falar. Passaram-se 10 minutos, ninguém foi. Mais 10 minutos, e nada. E aí subiu um tal de Grégoire, que era jansenista, depois ficou cardeal, e propôs o seguinte: "Olha, o que propôs esse Grégoire, que era jansenista: jurem da boca para fora, não precisa ter um juramento interior. Venham aqui e digam simplesmente: 'Eu juro fidelidade à Constituição Civil do clero', mas só de boca para fora". E isso encorajou lá uns dois ou três, que foram lá e juraram, mas que vergonha! Aí, então, depois
ninguém mais jurou. Um cardeal, que já era bem velho, pediu a palavra. Todo mundo achou que ele ia jurar. Puxa, se é um homem santo, um homem de Deus, logo se vê que é uma pessoa de virtude, etc. Ele subiu lá, disse que era padre há tantos anos, bispo há tantos anos, e que não ia manchar no final da vida dele a honra de padre, que ele não jurava. Tiraram ele lá de cima, aos tapas também, etc. Acabou o juramento, e viram que aquilo não ia dar certo. E aí, então, obrigaram todos ali a jurar,
e isso por toda a França. O resultado foi que 48% do clero jurou, uma capitulação; quase metade. Isso, dependendo da proporção de padres que juraram, foi maior ou menor na região da Vendée e da Bretanha. A quantidade de padres que jurou foi bem pequena, houve regiões na Vendée em que nenhum padre jurou. Isso a gente vai estudar e contar para vocês: a perseguição dos católicos na Vendée. E aí, então, houve uma divisão do clero francês. Havia o clero oficial, que era o clero juramentado; era funcionário público legal, de acordo com a lei, bonitinho, recebendo dinheiro
do Estado. Todos os cargos eram para eles, todas as funções eram para eles. E o clero fora da lei, o clero fora da lei era o clero que havia se negado a jurar, a prestar o juramento à Constituição Civil do clero. Esses aí perderam tudo, viviam escondidos, tinham que rezar missa escondidos no meio do mato, em fazendas, em granjas. Se chegassem os soldados, matavam todo mundo. Isso aqui eu vou contar com mais detalhe quando a gente estudar a guerra da Vendée. Todo o povo queria assistir missas só dos padres que eram chamados "padres refratários", que
eram os padres que ficaram fiéis a Roma, porque a Constituição Civil também, esqueci de dizer, dizia que o clero francês era proibido de obedecer a qualquer autoridade que estivesse fora da França, que tivesse numa potência estrangeira. Portanto, proibido de obedecer ao Papa. E também dizia que a ligação com o Papa era só uma ligação por causa da unidade de fé, mais nada. O Papa não andava na França, os documentos do Papa não podiam circular na França se não houvesse uma autorização do rei. Então, a França e o clero francês ficaram separados, e as missas dos
padres juramentados, ou jure, eram missas vazias, ninguém ia. Eles começaram a se queixar para os deputados: "Ah, ninguém vai na minha missa". Então, os deputados mandavam lá os guardas revolucionários para assistir à missa. Chegava lá, os guardas nem ligavam para a missa, ficavam cantando os hinos revolucionários, berrando, etc.: "Viva a República! Vive la France!" Durante toda a missa, uma bagunça enorme. Enquanto isso, os católicos assistiam missas escondidas. E aí, nas missas dos padres refratários, quando descobriam que tinha um lugar que tinha missa, ainda um pouco antes deles terem que se esconder efetivamente, as primeiras missas
da manhã ia só o povo; não tinha confusão, porque o revolucionário era preguiçoso e acordava à tarde. Nas missas mais tarde, quando chegavam, diziam: "Dom os robisco!" Em vez de responder: "Com o Espírito teu", diziam: "Viu a revolução!" Quando o padre ia fazer o sermão, eles interrompiam com berros e canções. O resultado é que tinha gente do povo lá que era católica e não gostava daquilo, ia se queixar. Saía um bate-boca, saía uma briga, chamavam a polícia. A polícia vinha e prendia o padre, porque estava perturbando a ordem pública. Então, uma confusão enorme na questão
religiosa, que é o que nos interessa mais aqui no nosso curso, que é de História da Igreja. E a Constituição Civil também mexeu na liturgia, porque os jansenistas e galicanos tinham uma liturgia... Que L era própria. As missas dos jansenistas tinham que ser feitas na língua do povo, porque eles diziam, os jansenistas também, que queriam restabelecer a pureza primitiva da Igreja Católica. Todo o herge diz isso. Depois, as missas tinham que seguir lugares sem imagens e na língua do povo, né? Eh, na corte do X, o padre era um padre juramentado, né? Eh, isso vai
gerar um problema. Quando foi em 191, estava chegando na Páscoa e o rei ia comungar na Páscoa para cumprir o preceito pascal, né? Nessa época, se comungava mais raramente por uma influência jansenista, né? E o rei, então, ficou com escrúpulos de receber a comunhão das mãos de um padre traidor, de um padre juramentado. E aí, então, ele ficou sem saber o que fazer. Ele era medroso; em vez de dar um basta e mandar chamar um padre fiel, ele ficou na dúvida. E aí, então, esboçou um plano de passar a Semana Santa escondido no Mosteiro de
San Clu, porque lá os montes eram fiéis. E aí ele assim fazia o Tríduo Pascal, com padres fiéis que receberiam a comunhão na Páscoa de um padre fiel. O plano dele foi descoberto, não deixaram ele passar Clu, e houve pressão em cima dele para que recebesse a comunhão de um bispo ou, melhor dizendo, de um padre juramentado. No fim, ele conseguiu. No fim, ele acabou comungando de um padre juramentado, se eu não me engano. Quer dizer, uma pena, né? Depois, então, eles vão... de deixar. Só me achar aqui. A tática do Rei L era sempre
ceder. Sempre ceder. Ele fazia, acho que, o seguinte cálculo: "Eu vou ceder porque, cedendo, eles vão se acalmar e vão me deixar em paz." Toda vez que ele cedia, exigiam mais, exigiam mais. Isso nunca teve fim, né? [Música] Eh, o rei, então, vai sendo cada vez mais controlado. Ele vai passar a ser chamado de Rei dos Franceses e não mais Rei da França. Depois, o rei não vai mais poder demitir a Assembleia nem contratar ninguém, tá? Só que a Assembleia era votada por um grupo pequeno de franceses. Havia, nessa época, cerca de 30 milhões de
franceses, e só 4 milhões podiam votar. É uma parcela bem pequena da população, era só uma panelinha, né? Foram abolidas também as corporações de ofício. Os juízes eram eleitos e juiz ser eleito é um problema, porque o juiz tem que ser juiz por competência, talento e honestidade, né? Se o juiz vai ser nomeado ou eleito, vai dar um problema parecido, só parecido, com esse que a gente tem aqui no Supremo no Brasil, né? Que são juízes nomeados, e aí fica difícil julgar quem me nomeou. [Música] Né? Depois, aqui já estamos terminando. Depois, todo o ouro
da Igreja foi ditado para ajudar a França. O Bispo de Paris aceitou. Eh, os beneditinos foram espontaneamente doar os bens do convento, coisa que eles não tinham o direito de fazer, né? Porque os bens não eram deles. O Bispo de Bordeaux cometeu um erro grave. Ele ofereceu 400.000 libras para ajudar a Igreja, para ajudar a França, e isso então só atiçou os revolucionários. Poxa, então, tem mais, eles têm dinheiro, né? Um erro enorme, né? Eh, um deputado chegou a dizer que, se os bens da Igreja fossem distribuídos, não haveria mais miséria na França, né? Só
ficaria miserável quem quisesse. Ah, deixa eu ver aqui, só que se tem AL uma coisa interessante... Eu já falei da compra dos bens da Igreja, então foram... deixa eu só ver aqui. Bom, depois disso trouxeram o rei para Paris, né? O rei vai ficar em Paris e a situação fica insustentável, e o rei então decide fugir. Ele vai... o plano tinha alguns aspectos inteligentes, mas tinha alguns erros também, né? Ele aí vai fugir para a fronteira. O rei tinha combinado com o imperador de colocar tropas do império próximo à fronteira da França para chamar a
atenção dos revolucionários, e o rei poderia, então, colocar tropas que fossem leais ao rei na fronteira do lado francês. E era por ali que o rei ia fugir. Então foi marcado o dia da fuga. Ah, o rei e a rainha saíram vestidos como camponeses, etc. E o rei, durante a fuga, cometeu uma série de imprudências. Então, em determinado momento, ele estava andando num cabriolé, numa carruagem fechada. Em dado momento, ele queria andar com a cortina aberta porque queria ver o sol. Depois, queria acenar para os franceses que ele gostava dos camponeses. Depois, mandou parar porque
queria comer queijo. Para... para ir comer queijo, né? Resultado: foi que ele foi depois descoberto perto da fronteira. Ele foi descoberto e foi capturado e trazido de volta para Paris. Isso foi a desmoralização do Luiz XVI. Porque, voltando para Paris e tentando fugir, ainda o partido, por exemplo, girondino, que era de alguma forma favorável à monarquia, ficou desmoralizado. Maria Antonieta, numa noite só, ficou com todos os cabelos brancos. Tanto eles chegaram em Paris, o povo todo em silêncio. Foi proibido qualquer aclamação ao rei, qualquer demonstração de estima ao rei. E aqui, então, logo depois, eles
vão... a Assembleia Constituinte vai terminar a Constituição Francesa e vão, então, agora, fazer uma Assembleia Legislativa. Que agora, eles vão aplicar as leis aplicando a Constituição. Eles criaram os deputados e determinaram que todos os deputados que tinham participado da Constituinte não podiam participar da Assembleia Legislativa. E aqui, então, a Revolução Francesa vai entrar numa outra fase, que é a fase da Assembleia. Eu vou contar isso para vocês de uma outra vez. Para que depois a gente entre no assunto que nos interessa mais, que foi a perseguição que a Revolução fez aos católicos quando eles se
negaram a aceitar a Constituição Civil do Clero, e a perseguição que foi feita ao Rei quando o rei, ao se negar a aprovar a lei que exila aqueles que não juravam a Constituição Civil do Clero. Até aqui, o rei havia aprovado a Constituição Civil do Clero e sancionado a Constituição Civil do Clero. O rei tinha capitulado, mas ele vai começar a mudar nessa fase, quando vai mudar de confessor. O novo confessor dele disse que ele ia para o inferno, pois, aprovando aquelas leis contra a Igreja, ele cometera um pecado grave que não podia acumular. Isso
vai dar um susto no Rei, que vai passar a mudar a partir do momento em que muda de confessor. Depois, quando é feita uma lei que determina que todos aqueles que não juram a Constituição Civil devem ser expulsos da França, o rei, já tendo mudado de confessor, se nega a aprovar essa lei, e é por causa disso que ele vai ser preso. É por causa disso que ele vai ser destituído e por causa disso que ele vai ser morto. Então, por uma questão religiosa, é por conta da queda do Rei e da instituição da Constituição
Civil do Clero que o povo na Vandia vai tomar em armas contra a Revolução Francesa. E é isso que eu quero depois contar para vocês. Tá bom? Alguma dúvida, alguma questão? Alguma questão na internet, Rodrigo? Senão, encerramos aqui a nossa aula. Alguma dúvida aí, Jordan? Nenhuma dúvida. Digitando? Estão [Música] digitando. Sem dúvida, sem dúvidas. Vamos rezar então para encerrar: Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe
de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém. Nossa Senhora, ail dos cristãos, rogai por nós. São Pedro e São Paulo, rogai por nós. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. [Música] Kristus, Kristus, Krus, Krus.