k [Música] como a nossa cultura do Cuidado lida com a saúde e o modo como adoecemos essa forma de cuidar ela não produz autonomia ela não produz emancipação ela não constrói a visão dos eventos da vida como sendo constitutivos da própria vida o foco em exames doenças e sintomas é o único modo de pensar nossa saúde as medicinas tradicionais elas não pensam assim né Elas vão estar sempre fazendo um esforço maior de integração medicina tradicional chinesa autocuidado e preservação da Vida tema desta série do Café [Música] Filosófico o cuidado foi e ainda é parte fundamental
da nossa existência ao longo do tempo fomos incorporando práticas e hábitos sobre o cuidar de si e do outro vivemos uma série de transformações no campo da técnica e do saber na agricultura ciência medicina que impactaram nossa estrutura social e modo de viver como se deu então a história desse cuidar e de que maneira o modo de viver é capaz de influenciar ou modificar o modo como cuidamos se nós não tivéssemos aprendido a cuidar nós estávamos estaríamos extintos do planeta as nossas essas crias nascem absolutamente dependentes a gente precisa aquecer alimentar proteger até que se
torne minimamente independente não é então todos nós estamos aqui por conta de termos sido cuidados e permanecemos cuidando Então esse é um atributo da espécie bastante importante porque ele tem a ver também com outro atributo anterior que é a capacidade de aprendizagem nós chegamos até aqui porque Nós aprendemos a fazer determinadas ações protetivas de manutenção eh que nos tornaram a vida possível mais ou menos 70.000 anos atrás Acontece uma revolução assim chamada cognitiva que é um impulso da comunicação e representação a gente fala porque a gente percebe sente pensa diferente na medida em que eu
preciso me explicar ou eu tento fazer claro o que eu tô percebendo sentindo portanto eh eu tento buscar formas de me expressar de representar e que eh também cria dois elementos fundamentais um é contato com o sagrado e a Outra experiência é a construção de tecnologias abstratas de controle coletivo durante 2 milhões e meio de anos os humanos se alimentaram coletando plantas e caçando animais que viviam e procriam sem sua intervenção tudo isso mudou há cerca de 10.000 anos foi uma revolução na maneira como os humanos viviam a revolução agrícola em vez de prenunciar uma
nova era de vida tranquila a revolução agrícola proporcionou aos agricultores uma vida em geral mais difícil e menos gratificante que a dos Caçadores coletores aevolução agrícola certamente aumentou o toal de alimentos à disposição da humanidade mas os alimentos extras não se traduziram em uma dieta melhor ou em mais lazer a revolução agrícola foi a maior frae da história a gente chega na Revolução agrícola 2000 anos passados já com esses atributos de aprender de cuidar de comunicar eh de experienciar o contato com o sagrado e nesse momento os grupos se fixam ao se fixar a fraude
a maior fraude da história como eh descreveu o harari ela é é uma fraude no sentido de que vivíamos no paradigma da abundância o deslocamento propiciava o contato com diferentes alimentos com diferentes espécies e a possibilidade de explorar diferentes fronteiras a fixação Funda em nós o paradigma da escassez e junto do paradigma da escassez a gente aprende nesses 12000 anos a que quer dizer fundamentalmente o fato da gente ter que pensar adiante porque nós estamos fixados o alimento tem uma condição de produção restrita e num determinado momento quando houver a falta eu tenho que ter
estoque e junto dessa experiência de pensar adiante esse paradigma da escassez ele Funda em nós com mais potência o medo do humano Porque a partir desse momento se aquele estoque que foi reservado for roubado não tem mais o deslocamento para outros territórios em que a nossa vida vai est garantida Então nesse momento o humano começa a trabalhar com a noção muito mais do medo do que da Solidariedade é o momento da construção de muito mais muros do que de Pontes e junto da escassez a gente desenvolveu prospecção mas mais do que prospecção a gente desenvolveu
a habilidade da guerra da proteção do Medo do humano bom isso parte parte da nossa herança E aí há mais ou menos 5000 anos ATRS registra-se a crição do Primeiro Império grupos que se deslocavam que se fixaram e começaram a formar clãs clãs que se uniram e formaram tribos tribos que se uniram e formaram Império nesse momento do império começa coincidentemente há mais ou menos 5000 anos o registro das primeiras assim chamadas racionalidades médicas Esse é um conceito desenvolvido em 1990 por uma socióloga brasileira Madel luz explica como se criou como se registrou cada diferente
sistema médico ou complexo de práticas que formou uma medicina a medicina resulta de um conjunto de práticas culturais portanto nós vivemos de maneira diferente no planeta e temos formas de cuidado diferentes no planeta e essa racionalidade médica que começa a ser desenhada há 5000 anos elas estão fundamentadas em determinadas formas de explicar o Cosmos De onde viemos como fomos criados dentro dessa perspectiva começa a construir uma doutrina médica essa doutrina médica conversa com uma forma de compreender o corpo ou os corpos no seu modo de funcionar que é a fisiologia e na sua forma na
sua morfologia e o que isso desenvolve eh um conjunto de práticas de diagnóstico e um conjunto de práticas eh terapêuticas Tá certo então a nossa Herança da assim chamada medicina tradicional ou os registros das medicinas tradicionais que a gente poderia colocar a medicina clássica chinesa como uma medicina tradicional assim como a medicina aiurvédica assim como muitas práticas dos povos ameríndios esse conjunto dessas práticas assim hoje chamadas medicinas tradicionais eles começam a ser registrados e construídos há 5000 anos atrás a gente acumula enquanto espécie capacidade de aprender capacidade de cuidar capacidade de comunicar capacidade de representar
e capacidade de criar arcabo de conhecimento que pode ser reproduzido E aí isso faz com que a gente enquanto espécie tenha acertado mais do que errado e chega a 500 anos numa outra revolução que é a revolução científica é muito importante compreender que a ciência ela é parte de um projeto maior e o projeto maior com o qual a ciência se associa é um projeto colonizador é um projeto do desenvolvimento das relações capitalistas e do desenvolvimento da escravização de pessoas um dos fundamentos da ciência é o paradigma da escassez a ciência nos últimos 500 anos
não tem sido feita com o paradigma da abundância temos a experiência de construir mais conhecimento para guerra do que para qualquer outro lugar da Sobrevivência humana a ciência fortaleceu aquilo que a 70.000 anos atrás tivemos como o início que são as tecnologias abstratas de controle coletivo aquele impulso de aprendizagem que é atributo da espécie uma vez eh fundada a ciência passa a ser esse impulso passa a ser e condicionado à existência de uma instituição Então passa a ser associado a capacidade de aprendizagem com a instituição escolar e dentro da escola tem o seu agente que
é o mestre escola que é o professor o impulso de entrar em contato com o sagrado impulso numinoso também é institucionalizado E aí fortalecem-se as instituições religiosas e dentro das instituições religiosas o agente religioso da mesma maneira a gente tem a a organização coletiva passa a ser uma instituição jurídica e tem os seus agentes e da mesma maneira a instituição de cuidado passa a produzir os seus agentes de cuidado Qual é a implicação desse movimento que a ciência faz de fortalecer as instituições e pôr os impulsos ou os nossos atributos de espécie dentro das instituições
fundamentalmente a consequência é que se eu quiser falar com Deus eu preciso de alguém para mediar se eu quiser falar com conhecimento eu preciso de alguém para mediar E se eu quiser falar com o meu corpo Eu também preciso de um agente a ciência não só fortalece As instituições Como cria intermediários que são verdadeiros despachantes daquilo que a espécie construiu enquanto atributo E aí fica parecendo que só se aprende na escola não fica parecendo que só se cuida dentro de uma instituição de saúde não e fica parecendo que só se encontra o sagrado dentro de
uma instituição religiosa também não Então essa é uma consequência importante de do modo de funcionamento do projeto científico resgata os atributos da espécie e passa por uma certa filtragem institucional e põe agentes para fazer esse controle então é o exercício de biopolítica fundamentalmente né da política de contro cont dos corpos no próximo bloco eu posso usar o saber para silenciar e submeter e eu posso usar o saber para emancipar e criar novas fronteiras de [Música] conhecimento se antes o cuidado era a atribuição do indivíduo e da família a partir da revolução científica tornou institucionalizado Profissionais
de Saúde passaram a ser os responsáveis intermediários entre o conhecimento do cuidar e aquele que precisa ser cuidado nesse processo muito conhecimento ancestral técnicas e práticas se perderam foram excluídas e ocultadas de nossa cultura medicinal sabedorias essas que merecem ser resgatadas e incorporadas ao nosso modelo de saúde institucional a gente vê o estoque de conhecimento ancestral que é uma herança da espécie né submetido a um sistema classificatório da ciência então o método científico ele é um sistema classificatório que valida determinado conhecimento ou Ah extingue aquele conhecimento Ou invalida aquele conhecimento não é então toma-se a
alquimia passa pelo filtro do método e vira química mas as bases da química são da alquimia do ponto de vista do do campo da Saúde propriamente o que acontece é que essa capacidade de cuidado da espécie ao passar por essa filtragem o cuidado feito no espaço privado associado a todos aqueles que estão dentro desse espaço privado e tem a a manutenção da espécie como fim quando e o método científico se apropria do Cuidado transforma o cuidado em clínica e a clínica sai do espaço privado e vai pro espaço público sai da relação do Cuidado feminino
e fica associada à ação masculina Deixa de ser eh um atributo da espécie e passa a ser um serviço para a espécie Então essa passagem do Cuidado produz invisibilidade eh do Cuidado feito pelas mulheres porque agora são os homens H é um trabalho que continua sendo feito por mulheres mas que não é remunerado ele só é remunerado na ordem do público e não do privado Tá certo então a ciência teve esse esse exercício de filtrar conhecimentos que nós enquanto espécie temos edado a milhares de anos o Anderson Souza diz assim e a sua crítica é
ao método científico ou a maneira como seres humanos utilizam esse método através das instituições submetidas a sociedade capitalista que vivemos pois esse método pode ser usado com ponderação e cautela mas não imagino uma sociedade tão complexa sem o uso das práticas científicas eu acho que é possível fazer posicionamentos ético-políticos também pro uso do método científico não é eu posso usar o saber para silenciar e submeter e eu posso usar o saber para emancipar e criar novas fronteiras de conhecimento trata--se de um posicionamento pessoal do exercício de um método mas não existe o método fora das
pessoas o método eh ele é ele é produto das relações eu não vejo a possibilidade de pensar um método científico fora do humano método científico é ação do humano e é o e é o Humano que vai fazer essa essa se posicionamento ético-político para ação com o método um dos fundamentos do projeto eh do capitalismo é ter mercadorias novas para serem lançadas regularmente e o processo da produção ah da nossa alienação é parte da construção ou do desenvolvimento da própria ciência quem aqui sabe contar a história de três da sua família Nós perdemos a referência
De onde viemos Nós perdemos a nossa referência enquanto espécie no planeta no âmbito da ciência tudo parece novo tudo parece criado a pouco e a gente pede por exemplo essa capacidade de compreender que aprender cuidar comunicar representar ter relação consagrado nada disso é assim tão novo nem o controle abstrato dos corpos E aí a ciência fortalece esse exercício de controle na medida em que o fundamento do controle É abstração por isso é uma tecnologia abstrata de controle coletivo O que é a doença a doença não existe o que eu quero como não existe eh Alguém
já foi biblioteca pegar emprestado uma doença ou pegar um crime ou pegar um pecado não essas Abstrações elas existem incorporadas elas existem como forma de controle dos corpos um outro corte grande de tempo Chegamos em 1960 [Música] os filhos dos Sobreviventes da segunda guerra mundial a guerra termina em 1945 os filhos pós Segunda Guerra estão adolesc nos anos 60 e a experiência de determinados grupos sociais principalmente Associados à classes médias brancas europeias mas também grupos organiz nos Estados Unidos lutando pelos direitos civis esses grupos e Eles olham para essa estrutura organizada da vida coletiva e
começam a se questionar Será que só existe mesmo a aprendizagem dentro da instituição escolar Será que só existe mesmo o contato com o sagrado dentro de uma instituição religiosa Será que não existem outras formas de de cuidar Então esse movimento assim chamado de contracultura dos anos 60 começa a fazer esse exercício de procurar alternativas a conferência internacional sobre cuidados primários de saúde declara entre outras ações é direito e dever dos povos participar individual e coletivamente no planejamento e na execução de seus cuidados de saúde os cuidados primários de saúde baseiam-se aos níveis local e de
encaminhamento nos que trabalham no campo da Saúde inclusive médicos enfermeiras parteiras auxiliares e agentes comunitários conforme seja aplicável assim como em praticantes tradicionais conforme seja necessário convenientemente treinados para trabalhar social e Tecnicamente ao lado da equipe de saúde e para responder às necessidades expressas de saúde da comunidade essa é a primeira vez que a Organização Mundial da Saúde fala em medicina tradicional portanto em 1978 é a primeira vez que se fala daquilo que Manteve a espécie viva há milhares de anos que foram formas de cuidar que não são esse modelo da assim chamada medicina biomédica
ou ocidental contemporânea como é que se dá esse movimento de falar sobre isso se dá naquele percurso alternativo as pessoas começam a buscar formas a resgatar formas que eram milenares ele faz com que no movimento alternativo dois grupos comecem a operar um grupo olha paraa Herança da espécie fundamentalmente olha paraa medicina chinesa clássica chinesa e pensa olha aqui tem 5000 anos de história aqui tem 5000 anos de reflexão de como diagnosticar e como cuidar olham paraa medicina ayurvédica da mesma maneira e o seu conjunto de práticas esse grupo olha para esse conjunto de saberes como
herança da espécie e como elemento fundamental de política pública para que seja garantido o acesso a todos um outro grupo também se cria naquele momento olhando para essas práticas milenares e identificando ali verdadeiras commodities pro Grande mercado da Saúde então quando em 1978 a Organização Mundial da Saúde fala pela primeira vez se nós queremos saúde para todos no ano 2000 nós vamos ter que trazer cuidadores curadores cuidadoras curadoras da das medicinas tradicionais ela fala isso porque em 1976 foi criado dentro da Organização Mundial da Saúde o programa de medicinas tradicionais que foi um programa que
esteve Alice sado principalmente na medicina tradicional chinesa agora não mais a clássica mas a tradicional o alternativo produz esse esse olhar pro nosso estoque de conhecimento e o desejo de tornar comum essa experiência acontece que esse outro grupo que olha como commodity no começo dos anos 90 cria o conceito de complementar eu entendo hoje que o complementar é um arranjo neoliberal do tempo de eh de estratégias para fazer essas práticas caberem dentro do mercado da Saúde Tá certo acontece que 1992 se fundamenta dá nome e projeto a assim chamada medicina baseada em evidência e os
aspas donos do grande mercado da Saúde então fazem uma uma condicionalidade muito bem se vocês querem incorporar introduzir essas práticas não biomédicas dentro do mercado médico vocês vão ter que produzir convencimento com as assim chamadas evidências científicas então o uso das evidências paraa pesquisa das práticas não biomédicas é um cabresto é uma forma de controle no próximo bloco saúde não é não adoecer ou interromper sintomas saúde é a capacidade de sobreviver bem aos sintomas Aos adoecimentos aos acidentes como estamos tratando dos nossos doentes de que maneira Piedade encara o adoecimento na busca pela saúde plena
o tempo todo deixamos de lado as experiências e aprendizados que cada momento pode nos trazer e adoecer pode ser um desses momentos de que maneira o resgate de práticas ancestrais e das chamadas medicinas tradicionais é capaz de nos auxiliar nesse caminho a medicina complementar ou práticas complementares elas se tornam eh sempre secundarizados desse modelo ou dessa cultura de cuidado em resistência a isso logo no fim dos anos 2000 constrói-se o conceito de integrativo que é numa num certo sentido uma reforma do do modelo científico porque o modelo científico ele se constrói Principalmente nos pares de
opostos nas polaridades como é que a gente faz Para incorporar para trazer paraa Nossa cultura de cuidado a possibilidade das pessoas experimentarem os seus processos de adoecimento como experiência biográfica formativo da sua biografia o que somos somos também porque sobrevivemos aos eventos de adoecimento ou acidentes né também isso nos constitui portanto saúde não é não adoecer ou interromper sintomas saúde é a capacidade de sobreviver bem aos sintomas Aos adoecimentos aos acidentes né então saúde é mais amplo do que um completo bem-estar saúde é a possibilidade de alargar As Margens da experiência humana Tá certo então
quando a gente tá falando do integrativo a gente tá colocando um desafio paradigmático que foge do lugar do complementar o complementar hoje nos aprisionou ele é importante ele é importante porque a cultura de cuidado biomédica precisa ser ampliada do ponto de vista por exemplo das suas relações não é se eh Se o fundamento desse modelo ou dessa cultura de cuidado tá na mediação de um profissional Portanto tem uma relação que é uma relação eh de assimetria de poder né O o aquele que chega com a experiência do adoecimento ele não chega como um portador de
um saber ele não encontra um profissional da Saúde como sendo uma pessoa que está esperimentando que portanto é um experiente naquele evento ele chega como um defasado e o profissional de saúde é aquele que vai operar para tentar tirar a pessoa daquela defasagem ora essa forma de cuidar ela não produz autonomia ela não produz emancipação ela não constrói a visão eh dos eventos da vida como sendo constitutivos da própria vida tem todo um conjunto de de discussões contemporâneas e assentadas nessa coisa chamada evidências científicas que diz que boa parte das práticas integrativas não t evidências
suficientes para estarem eh colocadas como formas de cuidado como é que a gente explica então que o número de pessoas usando práticas não biomédicas e o número de profissionais formadas no modelo biomédico só tem crescido nas últimas décadas como é que a gente explica essa contradição como é que a gente vai fazer para integrar outros conhecimentos como é que a gente passa a ter mais experiências baseadas na abundância do que na escassez a nossa experiência humana tem sido de manejar a escassez poucos muito poucos de nós t a experiência de manejar a abundância e a
abundância não tem a ver com consumo porque o conjunto das práticas do modelo científico é insustentável o colonialismo as relações capitalistas esse modelo de cuidado biomédico essas práticas no seu conjunto tornaram a vida no planeta ameaçada portanto são insustentáveis e tudo isso baseado na escassez como é que a gente vai para um outro patamar existencial pensando integrativ recuperando a nossa experiência humana de milhares de anos de Sobreviventes com essa tecnologia e com que a ciência tem desenvolvido porque não se trata de substituir não se trata de escolher um ou outro não se trata sequer de
criar Paralelos o desafio é exatamente deixar de produzir injustiça epistêmica porque se nós temos uma abundância de possibilidades se a gente toma a diferença como riqueza nós temos a possibilidade de começar a operar e entender que a diferença constitui o que nós podemos ter de melhor entre nós e não a identidade não uma única forma de existir e produzir Cuidado então essa esse é outro elemento que nos desafia a a a a pensar a integrativ né Queria te perguntar sobre a nossa medicina tradicional dos nossos povos originários aqui da das Américas do Brasil né esse
resgate de uma medicina tradicional dos povos originários as medicinas indígenas são uma fronteira para nós que a maior parte de nós tem absoluto desconhecimento dos seus modos de funcionamento pra gente fazer esse encontro de saberes a gente vai ter que refundar as nossas relações eh de pesquisa fundamentalmente eu tô falando de se colocar a pergunta quem te dá o direito de falar pelo outro sobretudo um outro que fala por si Então eu acho que essa é uma fronteira para nós Bruno do conhecimento uma fronteira eh epistêmica de produção de conhecimento em que a gente vai
ter que desenvolver eh pesquisas em colabor não é assumir de fato alguns princípios que o movimento feminista tem construído que o pessoal é político que os os estudos de pessoas com deficiências constrói com muita potência que é nada sobre nós sem nós né Nós não precisamos falar por eles nós precisamos falar com eles e não para eles né então é é um grande desafio E para piorar a situação a gente sabe mais de medicina tradicional chinesa medicina ayurvédica medicina homeopática medicina antroposófica do que a gente sabe da fitoterapia ah de povos indígenas no Brasil que
são verdadeiros Sobreviventes são pessoas grupos que sobrevivem a 523 anos de ataque permanente como que a gente traz para dentro sem produzir mais violência né como que a gente de fato escuta a diferença porque são formas diferentes de pensar de organizar-se no espaço de organizar-se no tempo e de se organizar nas experiências e a gente vai ter que dar Passos atrás para ter capacidade de escutar isso e de aprender e de fazer não se trata de dizer que nós não sabemos a gente sabe um monte de coisa só que o nosso saber não é saber
suficiente para incorporar o que ele sabe o que nós sabemos é colonizar o que eles fazem a nossa experiência foi colonizadora então o nosso conhecimento ou a gente dá esse passo atrás e se D conta de que quem não consegue se comunicar somos nós e portanto o desafio é nosso de fazer junto ou então a gente produz de novo Dominação e colonização como é que a gente vai trazer para dentro o que a gente desconhece sem colonizar como que a gente faz Para incorporar no Sistema Único de saú que opera tanto saúde pública quanto a
saúde privada no Brasil incorporar uma racionalidade médica e não só técnicas teraputicas porque essa é uma importante diferenciação que o conceito de racionalidades médicas construiu para nós porque o conjunto das técnicas terapêuticas elas são só um pedaço de uma racionalidade o que eu quero dizer acupuntura é uma técnica terapêutica a medicina clássica chinesa ou tradicional chinesa ela é constituída de uma visão de homem homem espécie de um modo de funcionamento dos corpos de um modo de fun de de a formação dos corpos a relação interna externa desses corpos como é que a gente traz isso
para dentro do Sistema Único de Saúde e mais como é que a gente traz isso sabendo que a medicina clássica chinesa tem os seus registros H cerca de 5000 anos atrás que passou pela influência do taímo pela influência do confusionismo pela influência de uma revolução comunista forma o nome medicina clássica e medicina tradicional que recupera práticas da Medicina clássica para garantir saúde pro seu povo que era muita gente precisava de assistência e cria-se portanto a possibilidade ao mesmo tempo que tá abrindo eh também espaço para medicina ocidental contemporânea com a criação de escolas eh que
foram financi pela Funda kog pela Fundação HF para serem implantadas no mundo inteiro inclusive na China como é que a gente traz todo esse arcabo de uma economia de mercado socialista para dentro do SUS o que que nós temos conseguido incorporar acupuntura incorporar a aurículo terapia Mas a gente não tem conseguido incorporar alguns elementos muito simples por exemplo são fundamentos pra medicina clássica tradicional chinesa por exemplo comer bem movimentar-se bem dormir bem respirar bem serenar bem se a gente fizer essa prescrição a gente vai cuidar melhor com certeza mas o nosso conjunto de prescrições não
passa por isso ou passa principalmente pela medicação e medicalização então o desafio de trazer essas práticas para dentro dos nossos modelos de cuidado é Um Desafio que eh tá paralisado no complementar o complementar tá condicionado pelas evidências e complementar é importante porque essa essa ação já melhora a forma de cuidar mas é preciso avançar ainda mais pra gente de fato refundar o conhecimento com bases interp istmico de saberes não é como que a gente vai fazer encontro de saberes sem hierarquizar saberes quando a gente fixa numa forma de construir conhecimento cuidado a gente de fato
reconhece que existem outras mas esse modelo de produção de ciência que nós ainda estamos da escassez da guerra do colonialismo do capitalismo é um modelo que classifica o que vai ser considerado de dentro positivo e o que vai ser considerado de fora de menor importância então a gente precisa quebrar essa estrutura para integrar e é Um Desafio grande porque se trata de sair do paradigma da escassez pro paradigma eh da abundância [Música] aquele que quiser possuir o certo sem o errado a ordem sem a desordem não percebe os princípios do céu e da terra não
percebe como as coisas se unem pode o homem apegar-se apenas ao céu e nada saber da terra são correlatos conhecer um é conhecer o outro recusar um é recusar ambos pode um homem apegar-se ao Positivo sem nenhuma negativa em contraste com que é positivo no próximo bloco como é que eu posso ensinar uma pessoa a viver ao mesmo tempo diferentes relações de conhecimento diferentes formas de explicar o adoecimento diferentes formas de acessar o cuidado [Música] nosso mundo científico quando se trata do campo da saúde tem como base diagnosticar e classificar sintomas para então tratar a
doença mas e quando essas classificações começam a definir o que somos quando as pessoas pass a se identificar em diagnósticos como um rótulo a construir uma bioid aidentidade é um fenômeno de dentro da medicalização que é um conceito desenvolvido nos anos 80 que tenta explicar principalmente eh Ivan L fez essa reflexão de maneira muito bonita num livro de 1974 discutindo aí aog Gênese eh as ações desse modelo de cuidado quase sempre produzem efeitos secundários que são tão ou piores do que aquilo que trata que tenta tratar né e um dos eventos que tá associado a
isso é a criação das bioidentico ele entra na vida da pessoa como um rótulo e a pessoa passa a ser condicionada a construir todo um estilo e toda uma vida identificada com aquele rótulo e reduzida portanto a construir uma a partir daquele rótulo Tá certo então H uma forma muito contemporânea de uma forma abstrata de controle dos corpos por exemplo é a noção de risco risco é um vira é probabilidade não tem garantia que aquela probabilidade vá ah eu não tô negando a ciência Eu não estou negando a estatística o que eu tô querendo dizer
é que a probabilidade não é garantia de que vai acontecer essa relação ela é fundamental quando a gente tá discutindo né o sentido da experiência o sentido da experiência não passa Simplesmente por ter um diagnóstico ter um nome daquele conjunto de eventos o sentido da experiência passa por compreender no próprio corpo a experiência aquilo que sendo incorporado e mais do que isso o que eu tenho como recurso para manejar isso que tá acontecendo esse conjunto dessa experiência é que constrói o sentido pro evento do adoecimento se a gente deixar de olhar o adoecimento como um
evento isolado da vida e passar a entender como uma construção biográfica muda a nossa relação com o adoecimento o Lucas Meira faz a seguinte pergunta Professor Como sair do paradigma da escassez e fazer essa quebra epistêmica é eu acho que eh do meu ponto de vista é a gente aceitar de fato a diferença Como ativo a diferença não é passivo que a gente tem que administrar né quer dizer a gente não vai a diferença a gente não vai eliminar a experiência da diferença entre nós portanto se a experiência é inextinguível o conflito é inevitável e
se o conflito é inevitável ele Portanto o passo Talvez seja transformar o conflito em constitutivo né quer dizer é a partir da diferença como riqueza que a gente vai poder construir outras fronteiras do conhecimento o desafio é grande e para isso eu acho eu tenho trabalhado com a ideia de cuidado Emancipador como é que a gente cuida de uma pessoa sem Tutelar mas fazendo o cuidado e ao mesmo tempo criando espaço para que aquela pessoa vá produzindo mais autonomia do que é onomia a nossa experiência dentro do do modelo eh de organização da vida coletiva
que temos é uma experiência de heteronomia a gente não escolhe sequer nossos nomes eh depois todos os lugares que nós vamos os agentes das instituições nomeiam por nós então se eu quero o conhecimento vai ter um professor que nomeia para mim se eu quero falar com Deus vai ter um religioso que fala por mim se eu quero falar com o meu corpo vai ter um profissional de saúde sempre alguém nomeando por mim quando é que a gente vai poder nomear autonomia é processual e não é à toa que Paulo Freire escreveu a Pedagogia da Autonomia
É possível ensinar autonomia é possível fazer o exercício de autonomia como quem tem poder pode usar o seu poder para criar contexto processo para que o outro vá experimentando tomadas de decisão processuais e ampliação da sua autonomia isso significa substituir heteronomia por autonomia e no ensino em saúde tem se falado muito de empatia eu posso ser muito empático eu posso conseguir me colocar no lugar do outro mas na hora de tomar a decisão fazer o diagnóstico e prescrever eu faço sozinho Que bom que você é sensível ao outro mas quando é que o outro vai
participar da tomada de decisão sobre a sua própria vida eu posso usar o que eu sei como possibilidade de não produzir silenciamento e essa é uma postura ético-política que aí Paulo Freire convida a gente a assumir né como profissional de saúde esse exercício ético-político é um de criar processos em que eu simplesmente não nomeio pelo outro mas eu vou abrindo espaço para a discussão dessa nomeação da produção da Autonomia Talvez isso nos leve a um cuidado que emancipa e não só que produz tutelagem Talvez isso nos leve a possibilidade de fato de criar integrativ práticas
integrativas agora para isso a gente também precisa aprender a viver na fronteira dos conhecimentos Porque todo o nosso treinamento acadêmico é para sair das Fronteiras é para assumir um polo né O que é uma identidade profissional por suposto é assumir uma posição de quem sabe um determinado conjunto de se a gente aprender a viver na fronteira talvez a gente aprenda o exercício da pedagogia da Fronteira né como é que eu posso ensinar uma pessoa a viver ao mesmo tempo diferentes relações de conhecimento diferentes formas de explicar o adoecimento diferentes formas de acessar o cuidado com
elementos eh Concretos e abstratos Mágicos religiosos científicos não é mas esse é um Desafio essa é uma fronteira do conhecimento em que estamos colocados e que eu entendo que as assim chamadas práticas integrativas em saúde complementares e integrativas em saúde elas nos convidam exatamente para dar Passos nessa direção de expansão das Fronteiras de cuidado de expansão das Fronteiras de produção de conhecimento O Resgate de práticas ancestrais inclusive de outras culturas pode ser o caminho possível capaz de nos auxiliar não apenas em alternativas a remédios e procedimentos mas no modo como entendemos o adoecimento e a
saúde este programa termina aqui mas no canal do Café Filosófico no YouTube o sociólogo Nelson de Barros continua essa reflexão sobre como a medicina tradicional chinesa busca conhecer e entender o indivíduo para além da doença Acesse o site do [Música] café se eu puder cuidar sem medicar se eu tiver uma forma de cuidar que não seja com medicamento eu reduzo intoxicação eu reduzo o efeito secundário certo então as ações de cuidado de muitas práticas Não biomédicas elas são ações não medicamentosas e isso é importante de ser incorporado no modelo biomédico [Música]