[Música] [Música] [Música] você tá deixando passar um bom dinheiro falou comigo o que dá dinheiro hoje em dia é latinha meu negócio é papel ô menina atinha vale muito faa Bom proveito Calma eu tô só querendo te ajudar porque o meu negócio é o mar e o senhor vai pro mar no seu carrinho de mão se até merda boia olha mais respeito eu tenho idade para ser teu pai tá mais PR avô olha aqui menina você também não é nenhuma cabrocha o carrinho é para pegar o pescado que tá para chegar o senhor me dá
um cigarro não gosto moleque fuma Nossa olha só isso um caderno um caderno cheio de folha em branco mas o senhor gosta mesmo de uma lata até garrafa é de lata Você quer um gole não gosto de homem que bebe mas essa garrafa é dos tempos da Inglaterra vai me dizer que o senhor já esteve na Europa já estive na escola o caderno te lembra do tempo da escola é a lembrança da minha vida toda a minha vida é feita de papel a minha vida é feita de mar dá para ver o mar daqui um
dia ele batia até ali mas hoje Levaram ele para bem mais longe onde é que você vai menina vou ver o seu mar toma conta do meu papel [Música] nós marinheiros cidadãos brasileiros republicanos Não podemos mais suportar a escravidão na marinha brasileira De que adianta eu ter escrito uma das mais importantes páginas da história do país se não passa de um Almirante de um barco a seco eu fui banido de mim mesmo mas o homem tem que ser forte mas e suporta tudo nessa vida menos grilhões e chibatas então esse Esse é o mar do
peixeiro é bonito Se bem que qualquer coisa é mais bonito que a favela quando querem se livrar dos papéis e das Latas velhas mandam pro lixão quando querem se livrar das pessoas que incomodam mandam pra favela o quarto de despejo da humanidade isso não é vida Não fiquei com medo da menina se atirar que isso tem três filhos para criar não tá mais aqui quem falou olha aqui seu adorado caderno muito obrigada para que que você quer tanto esse caderno nem sei se eu quero mesmo tem tantos iguais a esse dentro do guarda comida todos
escritos para que serve um caderno escrito os que eu tenho foram escritos por mim são as minhas histórias meus pensamentos hisas da favela A menina iletrada é o meu diário eu comecei em 15 de julho de 1955 aniversário da minha filha vha eice mas nem cheguei ao fim do mês que dia hoje 2 de Maio de 1958 nossa tem quase 3 anos que eu parei de escrever não foi por falta de papel foi por foi por sei lá falta de tudo excesso de tudo nessa vida é muito Tudo Por Nada a menina é boa de
palavras olha lá tá vendo Aquele barco é ele que traz os peixes que eu vento agora faz o fogo eu vou trazer umas sardinhas pra gente comer coloca essas aí no fogo enquanto eu vou fazer as entregas mas não vai comer tudo sozinho e menina Posso fazer uma pergunta pro senhor diga se o senhor é do mar Por que não tava no barco pescando de quando a quando você escreveu seu diário do dia 15 ao dia 28 de julho de 1955 14 dias teu sonho durou um pouco mais que o meu eu fui Herói por
5 dias herói de qu eu lidu a revolta dos Marinheiros por 5 dias nós paramos esse país eu e meus companheiros estivemos cidade na mira dos mais poderosos canhões de guerra mas para que tanta maldade bombardear a cidade inteira você é coisa de gente sem coração você também que é preta como eu Você conhece a lei da espada escravidão não menina a chibata instalou nas costas dos Marinheiros até 1910 o nosso movimento que acabou com isso porque nós ameaçamos destruir toda a cidade pelo menos vocês conseguiram é mas a que preço agora me deixa trabalhar
ó mas não vai deixar a sardinha queimar alguém morreu como é que é na sua revolta alguém morreu alguns oficiais foi a marada mesma que se deu a mal muitos morreram Outros tantos foram presos e degredados Uns poucos como eu foram presos quase morreram e acabaram expulsos da Marinha Mas o pior castigo foi terem expulsado a gente da história é como se a vida da gente não tivesse servido de nada nunca tivesse existido é isso que vai acabar acontecendo com você menina comigo é com você você não vê que estão tentando tirar meu nome da
história e você tá tentando tirar a história de dentro de você por quê Por pura indolência indolente eu o senhor tá louco não conhece nada da minha vida para me chamar de indolente eu rir o lixo mais fedorento desse mundo para dar de comer as minhas crianças é tanto fedor é tanta podridão que eu não sinto nem o cheiro dessas sardinhas mas o senhor se diz um grande herói a heroína que sou eu só eu sei o que é Passar fome eu é que tenho coragem de viver esse dia a dia de restos que tenho
para viver Então me prova que você tem coragem cadê a coragem provar que tenho coragem pega esse lápis e reta seu diário começa hoje dia 2 de Maio de 1958 anda Cadê sua coragem depois o quer que eu te chamo de indolente 2 de Maio de 1958 eu não sou indolente H tempo que eu pretendia fazer meu diário eu pensava que não tinha nenhum valor achei que era perda de tempo se é perda de tempo olha não o senhor não tem o direito de fazer isso me D meu lápis D meu l mandando que isso
agora vai rabiscar meu caderno todo até agora eu lhe tinha respeito toma olha [Música] se entende uma coisa menina Não adianta rasgar as páginas da história não adianta passar uma borracha naquilo que já está escrito a palavra desenhada no papel tem vida você pode fazer o que quiser mas ela nunca vai deixar de existir qual é seu nome menina Carolina Maria de Jesus mas me conhecem por betita e o senhor João João Cândido mas um dia fui chamar de Almirante negro tem certeza é sua garrafa da Inglaterra seu João Ah é só uma garrafa vai
joga logo menina um dia um escafandrista resgata a [Música] gente a vai joga logo [Música] [Música] Carolina [Música] C [Música] k [Música] di