Esta é Melgaço, no Pará. É o município brasileiro com o pior índice de desenvolvimento humano - o IDH. Nenhum outro município no Brasil tem um indicador tão ruim que mede a longevidade, a escolarização e renda média dos moradores.
Já esta aqui é São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. É o município com o maior IDH do Brasil - resultado que reflete as condições das escolas, dos hospitais e a situação financeira da população. Como é viver nos municípios com o maior e o menor IDH do Brasil?
- e como duas cidades de um mesmo país podem apresentar realidades tão diferentes? Visitamos São Caetano do Sul e Melgaço atrás das causas pra essa desigualdade - e de possíveis maneiras de reduzir o fosso. Mas também descobrimos coisas que o IDH não mostra… Em São Caetano, os altos custos expulsam os mais pobres pra cidades vizinhas… e em Melgaço, ribeirinhos ajudam a manter a Amazônia em pé Dos cerca de 28 mil habitantes daqui de Melgaço, no arquipélago do Marajó, quase 80% moram na zona rural -muitas vezes em áreas bem afastadas da sede do município.
Um grande desafio aqui é levar os serviços públicos até comunidades ribeirinhas bastantes dispersas - e só acessadas de barco. Viajamos por uma hora e meia até uma comunidade no rio Caquajó - um dos vários que atravessam o município. Eu gosto sempre de estar aí pelo mato.
De vez em quando, pego o casco, saio remando, vou lá na roça… Maria Benedita tem 46 anos de idade e 14 filhos. Aqui é goiaba araçá, como nós chamamos a árvore, bananeira… Aí pra essa área, tudo aí é só açaizal, até na beira da terra, onde é a roça. Benedita recebe 2.
100 reais por mês do programa Bolsa Família. Da vida na floresta ela não tem queixas… exceto pelas condições da educação e do atendimento médico ali. Diz que os filhos passam vários dias da semana em casa, pois há meses em que as escolas têm só cerca de dez dias letivos E como as escolas da região não oferecem o Ensino Médio, os filhos mais velhos tiveram de abandonar os estudos Uns tantos deles já concluíram pra estudar o primeiro ano (do Ensino Médio) e não conseguiram, porque não vem o professor.
isso a gente esperava que acontecesse, né, que viesse o professor para (poderem) estudar. A comunidade de Benedita expõe duas facetas do baixo IDH de Melgaço: a alta evasão escolar e a perda precoce de vidas Meu marido morreu (choro)… Moram 9 filhos comigo. A gente pediu uma ambulância e quando a ambulância chegou a gente já estava velando ele Foi infarto, eu acho, que deu nele.
Ele morreu com 53 anos, mas tem muito jovem que morre novo, morre criança… Na zona rural de Melgaço, barcos escolares levam as crianças às aulas Acompanhamos um desses barcos até uma escola da região Mas, na entrada, somos impedidos de prosseguir… A gente não pode filmar a escola? Diretor: Não, só com autorização do prefeito e do secretário. João: Eles disseram por que não podia fazer…?
Diretor: Não… A BBC obteve um vídeo da escola que os próprios alunos gravaram com celular… … vários azulejos quebrados… rachaduras nas paredes e no chão; torneiras sem água nos banheiros… Perto dali, encontramos um barqueiro que trabalhou por sete anos com o transporte de estudantes na região. o que eu conseguia observar era a grande dificuldade sobre a merenda da escola e também não é uma merenda de qualidade, normalmente é suco, bolacha, dificilmente vinha um charque… A merenda vinha para sete dias, para oito, sendo que se nós tivéssemos quinze dias letivos, a criança estudava sete dias sem merenda e oito com merenda. crianças que muitas vezes não tomavam nem café antes de embarcar no barco.
Quando chegava na escola, não tinha merenda. Mesmo que embarcasse dez horas de volta, essa criança já vinha com muita fome, muito fraca. A criança, às vezes, deitava no convés com fome, chorando… Com fome.
Moradores dizem que a má qualidade da merenda é outro estímulo à evasão escolar. Em Melgaço, 14,6% das crianças entre 6 e 14 anos estão fora das escolas, segundo o IBGE No Ensino Médio, a evasão chega a 21,2% dos alunos E 20% das pessoas com mais de 15 anos são analfabetas. Os indicadores de educação são a principal razão para Melgaço ficar em último lugar no ranking nacional de IDH O índice de desenvolvimento humano leva em conta três quesitos: a escolarização, a longevidade e a renda média.
Quanto mais perto de 1, melhor o IDH de um lugar. O IDH de Melgaço, no Estado do Pará, é 0,418. Ali, um morador passa em média apenas 5,51 anos na escola; a expectativa de vida não chega a 72 anos; e a renda per capita é de 135 reais.
Já o IDH de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, é 0,862. O tempo médio de estudo é o dobro do de Melgaço, a expectativa de vida tem quase 7 anos a mais; e a renda per capita é 15 vezes maior que a da cidade paraense. Se Melgaço sofre com a evasão escolar, em São Caetano a prefeitura diz que hoje todas as crianças de 6 e 14 anos estão nas escolas.
Esta escola municipal atende alunos dos primeiros anos de vida até o fim do Ensino Fundamental Hoje em dia a gente tem várias coisas que concorrem com a escola: tem a tecnologia, tem o celulares. . .
A escola precisa ser um espaço bonito e aconchegante que oferte coisas que os meninos se interessem A secretária diz que várias famílias de classe média e alta optam por colocar seus filhos na rede pública do município Aqui a gente tem oficina de música. Esta escola foi uma escola que pediu a oficina de conversação em inglês… Tem teatro… Algumas crianças gostam muito do laboratório, essas coisas mais das ciências, da biologia. Em São Caetano o analfabetismo entre pessoas acima dos 15 anos é de 1,2% - o menor do país entre municípios de 100 mil a 500 mil habitantes.
Na merenda, não há alimentos ultraprocessados, o açúcar é vetado para crianças até 3 anos, e todas as escolas têm hortas. Quem supervisiona as plantações são mães de baixa renda cadastradas em um programa da prefeitura A gente recebe um salário mínimo, eu trabalho 5 horas por dia, são 5 dias na semana, e sempre dá vontade de vir até mais cedo, porque você acaba se apegando às crianças. É como se fosse continuidade da sua casa.
Os serviços de saúde são outra vitrine de São Caetano do Sul. Nesta unidade inaugurada em 2023, um paciente pode fazer consultas com especialistas, exames e sessões de fisioterapia - tudo no mesmo espaço. Os remédios são retirados nesta farmácia 24 horas.
Ou, no caso de medicamentos de uso contínuo, entregues na própria casa do paciente. Ele vem pela nossa central de regulação, ele é agendado aqui, ele é atendido pelo médico, se há a necessidade de exame ele vai fazer na unidade, se há necessidade de seguimento do tratamento ele vai ter o tratamento dele concluído por aqui. A prefeitura equipou a unidade com aparelhos para exames complexos - como esta máquina de ressonância magnética de 3 milhões de dólares.
Nós não temos filas de espera maiores do que 30 dias para o exame de ressonância magnética, por exemplo. Nós não temos filas para especialistas maiores do que 30 dias, então hoje a gente regula o sistema de uma forma tão eficaz ou melhor do que a saúde suplementar. Os gastos de São Caetano do Sul com saúde aumentam conforme a população envelhece Entre as cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes, ela tem o segundo maior percentual de idosos: 17,9% - mais de três vezes mais do que Melgaço.
Não tomo nem um remédio ainda. Nem de pressão, nem nada. Nem para dor eu tomo remédio.
Pedro Pioli tem 84 anos e participa de um programa da prefeitura para atletas idosos A corrida é como se fosse uma descarga da mente. Seu companheiro de corrida, José Batista Leal Filho, tem 82 anos Uma amizade nascida dos treinos em parques de São Caetano Meu pai veio da Itália… Depois ele mudou pra cá e eu passei a ser feirante. Nasci em Caruaru, Pernambuco.
Eu tinha 19 anos, vim para São Caetano. Comecei com um ajudante de caminhão, depósito de ferro velho, com muita honra. E assim fui trabalhando, fui melhorando e acompanhando o desenvolvimento de São Caetano.
Com a saúde em dia, os dois vislumbram o futuro eu já estou com uma idade assim que tenho que levar o que eu estou levando, né? Correndo, aproveitando esses lugares bonitos que temos… - e eu estou querendo mais. Não tem esse negócio de dizer "tô com medo da vida" não.
Eu tenho felicidade para muito tempo Já em Melgaço, os serviços de saúde deixam muito a desejar João: Bom dia, nós estamos fazendo uma reportagem, podemos filmar o hospital? Conseguimos uma autorização pra filmar dentro do único hospital da cidade O centro cirúrgico está desativado - hoje mesmo pequenas cirurgias têm que ser feitas em municípios vizinhos Em várias salas há camas quebradas e sem lençóis… Os batentes foram devorados por cupins… Fiação exposta, luzes queimadas, equipamentos quebrados… O índice de mortalidade infantil em Melgaço é de 22,68 mortes por mil nascidos vivos… número 64% maior que a média do Brasil e 110% maior que o de São Caetano Um vídeo obtido pela BBC mostra uma sala do ambulatório num dia recente de chuva…. Seu eu falar que aqui tá 100% eu vou estár contando mentira.
Eu acho que deveria ser feito mais. Recursos… Trabalhar mais sobre medicamentos… A gente precisa de uma manutenção de muitas coisas aqui, e eu gostaria, sinceramente, que olhássemos com mais atenção para o nosso hospital Eu acredito que esse recurso viria do Estado, que é a nossa base maior que nós temos aqui acesso, por enquanto. Então, depende muito de projeto e força de vontade de quem está na frente, porque dependendo da gente aqui, com certeza a gente está prestes a lutar pelo bem e a melhoria do nosso hospital.
Os problemas da saúde em Melgaço são visíveis também fora do hospital Se em São Caetano 100% da população é atendida por rede de esgoto, em Melgaço o índice é de 0% - até na zona urbana os dejetos são descartados a céu aberto Este barco-hospital que deveria atender a população ribeirinha está parado no cais da cidade - moradores dizem que ele raramente faz atendimentos Questionado pela BBC sobre a situação da saúde em Melgaço, o governo do Pará disse realizar treinamentos para prevenir doenças e capacitar profissionais de saúde na região. Mas afirmou que a gestão do hospital de Melgaço cabe somente à prefeitura. O Ministério da Saúde também foi procurado e disse que, em 2024, já destinou a Melgaço 9,6 milhões de reais.
Mas afirmou que a qualidade dos serviços de saúde é responsabilidade do município. Então fomos até o prefeito questioná-lo sobre a situação de Melgaço. O senhor vai passar oito anos no cargo até o fim deste ano.
Seu pai foi prefeito por oito anos. A família do senhor está há muito tempo envolvida na política do município, mas as pessoas dizem que o município não avança. A gente sabe que tem alguns erros, que algumas coisas precisam ser ajeitadas, mas ela melhorou bastante do que era antes.
Melgaço não tinha asfalto, era só na lama. Tinha a rua que era só ponte, que a gente aterrou… A gente não arrecada nada, a gente tem que fazer milagre com o dinheiro que recebe Na questão da gestão, tudo avaliando, a gestão geral, a gente pecou foi na saúde Hoje a saúde ainda se mantém em pé porque a gente consegue, às vezes, emenda parlamentar que joga dentro de Melgaço, porque o dinheiro que cai mesmo não mantém mais nem a folha mais da prefeitura. João: Nos disseram que muitas vezes as crianças só têm biscoito nas escolas Pref: A gente está andando no interior, há uma reclamação que o que está saindo de Melgaço não está chegando às escolas Vamos dizer que se vai um charque pra lá… Eu acredito que o que tá acontecendo é que estão pegando o charque e compram suco com bolacha que é mais barato, né?
Já estamos verificando já, já estamos vendo a denúncia que está chegando para a gente pegar e ver se agiliza isso. 10:51 - João: O que que o senhor fez enquanto prefeito para mudar esse cenário da evasão escolar? - Hoje no Marajó eles casam muito cedo, né, menina com 12, 14 anos, às vezes com 15 anos pega e casa, ou seja, para de estudar para cuidar, para sobreviver, vão trabalhar no mato, vão trabalhar em algum lugar.
Então hoje há evasão, mas a evasão é pouca. A prefeitura de Melgaço diz que o orçamento é tão apertado que faltam recursos pra consertar ambulâncias e ônibus escolares… Quando quebram, eles vão para este “cemitério” de veículos Na zona rural, mais cenas de abandono Este posto de saúde servia ribeirinhos da comunidade Vila Nova Jerusalém… Hoje eles precisam viajar até outras comunidades pra serem atendidos Na véspera da eleição em Melgaço, a cidade estava rachada. Quase todas as casas e comércios hastearam uma bandeira demonstrando apoio a um dos dois candidatos a prefeito.
O clima de fla-flu expõe a importância do pleito num município que tem a prefeitura como principal empregadora. Em São Caetano do Sul também se notam sinais da eleição… Mas numa cidade onde a prefeitura exerce influência menor, o próprio prefeito reconhece que grandes mudanças são improváveis… O quão sólidas são as políticas públicas em São Caetano do Sul? Pref - Olha, a gente tem, até pelo tempo que elas estão implantadas, elas têm uma solidez bastante significativa.
Então, dentro desse aspecto, eu acho que a gente tem uma perenidade quase que garantida dos programas sociais da nossa cidade. João - Tem gente que diz que é fácil administrar uma cidade como São Caetano do Sul porque é um município muito pequeno, com renda alta… Como o senhor responde a isso? Pref: Olha, eu costumo dizer o seguinte: o orçamento é a peça chave numa administração.
Agora, a qualidade da gestão é de quem toca… Agora, é obviamente que a gente tem aqui um padrão socioeconômico diferenciado, o que também nos leva a uma sociedade absolutamente cobradora, com um nível de exigência muito diferenciado de outras localidades até aqui no nosso entorno mesmo. Se o orçamento inteiro de São Caetano em 2023 fosse dividido pelo número de habitantes, daria R$ 15 mil por morador É um número 3 vezes maior que o de Melgaço - onde a prefeitura gastou cerca de R$ 5 mil por habitante em 2023 Com certa folga nos cofres, São Caetano deixou de cobrar passagens de ônibus desde o ano passado A diferença nos orçamentos se explica pelo dinheiro que os dois municípios conseguem arrecadar São Caetano do Sul tem uma forte economia ligada a serviços e boa arrecadação de impostos que ficam com a prefeitura, como o Imposto Predial e Territorial Urbano, o IPTU, e o Imposto sobre Serviços, o ISS. Esses impostos representam 60% do orçamento de São Caetano, enquanto o resto vem do Estado de São Paulo e da União Já Melgaço tem uma economia muito mais modesta, ligada ao extrativismo, e com alta informalidade.
Melgaço não cobra IPTU dos moradores e só arrecada 6% do que gasta. O município depende quase integralmente de repasses externos - como o Fundo de Participação de Municípios, uma verba que todas as prefeituras recebem da União mas que só garante serviços mínimos Mas será que haveria outra forma de distribuir o dinheiro que sustenta as prefeituras e reduzir diferenças tão gritantes? chefia uma equipe de economistas que produz um relatório anual sobre a saúde financeira das cidades do Brasil Está claro que o nosso Pacto Federativo, que tinha com o objetivo de distribuir renda no país, reduzir desigualdades regionais, não conseguiu.
Isso está claro. E a gente precisa rediscutir esse Pacto Federativo. Isso não é simples de ser resolvido, porque você certamente vai tirar dinheiro de uns municípios e passar para outros.
Imagina qual o conflito político distributivo que isso possa gerar. Além de redefinir os critérios de divisão dos impostos, o economista defende que as prefeituras tenham mais flexibilidade pra gastar, já que hoje muito de seu orçamento é atrelado a despesas obrigatórias. às vezes o município precisa investir mais em educação ou mais em saúde, só que o dinheiro vem carimbado, ele não consegue resolver.
a própria rigidez também do funcionalismo público evita que os municípios seja mais eficiente na gestão do seu orçamento. Pro economista, outra maneira de destinar mais dinheiro para serviços básicos seria reduzir o número de municípios, aglutinando prefeituras e cortando gastos administrativos Muitas vezes é interesse de algum grupo político dentro do município criar mais uma estrutura legislativa, criar mais um Executivo, você cria mais cargo e acaba dividindo mais orçamento público então a gente precisa discutir se o recurso que vai para aquele município, para financiar estrutura administrativa, se ele fosse para educação e saúde, seria mais eficiente para aquele município? Mas se é verdade que Melgaço depende do dinheiro que vem de outras partes do Brasil, o município também retribui ao país com ações que não são captadas pelas estatísticas… Durante boa parte do ano, o ribeirinho Carlos de Almeida faz visitas frequentes a um açaizal perto de sua casa Eu gosto de estar na floresta, limpando açaizal.
Minha esposa às vezes pega no meu pé, porque eu só quero estar no mato, mas é porque eu gosto. João passagem com Go Pro: Enquanto nosso cinegrafista Felix prepara a câmera, eu vou dar um volta aqui. Enquanto gravamos esta reportagem, boa parte do Brasil arde em chamas, em muitas cidades está difícil de respirar.
Aqui está um solão lá fora, mas dentro do açaizal a temperatura é fresca, está agradável. O ar está limpo… É um alívio estar aqui agora. O consumo crescente de açaí no exterior fez com que a fruta se tornasse aqui uma importante fonte de renda… e um caminho para uma vida mais confortável Olha, um cesto desses, ele está em torno de 50 reais, um cesto desses aqui.
E você consegue encher quantos aí num dia de trabalho? Quando meu filho vem, que eu tenho um filho de 19 anos, a gente enche 20, até meio-dia. Então dá mil reais num dia de trabalho?
É. A maior parte do açaí colhido ali é exportada, mas uma parte fica na própria comunidade… Depois de processada, serve de base para a alimentação das famílias o ano todo A coleta de produtos da floresta sustenta os ribeirinhos e ajuda Melgaço a preservar a Amazônia João passagem: Viemos para Melgaço falar de problemas, mas também encontramos soluções. Num mundo cada vez mais quente e que destrói a natureza, os ribeirinhos daqui dão lições sobre como resfriar o planeta ao viver com a natureza.
Melgaço é 442 vezes maior que São Caetano e um dos municípios mais preservados do Pará. Mais de 90% de seu território é ocupado por vegetação nativa, segundo o MapBiomas. O município abriga uma área de floresta maior que o Distrito Federal - ajudando a regular o clima e as chuvas em outras partes do Brasil João: Não trocaria a vida aqui por outro lugar?
- Não, é um paraíso aqui. Desde que a gente não vá mexendo nada na floresta, pra destruir a floresta, a gente vai conseguindo levar a vida assim Não tem dívida… A vida ribeirinha é muito boa, boa mesmo Assim como em Melgaço, os indicadores de São Caetano não contam a história completa A arquiteta Ana Paula Borges pesquisa a transformação do município desde sua fundação em 1877 Este forno industrial é uma das últimas marcas do passado operário deste bairro : No final do século 20, ocorre um processo de desconcentração industrial, essas indústrias começam a deixar a região e a cidade se torna cada vez mais residencial… - e um aspecto também residencial cada vez mais de alto padrão e menos ligado à população operária. Antes dependende de indústrias, São Caetano diversificou a economia e hoje é sede de várias empresas do setor de serviços.
Conforme a cidade enriqueceu e os preços dos imóveis subiram, ela diz que muitos pobres se viram forçados a sair. essas pessoas não conseguiram arcar com os custos crescentes da moradia na cidade e muitas delas foram obrigadas a se deslocar, mesmo continuando trabalhando na cidade, para áreas do entorno ou, enfim, para outras áreas da região metropolitana de São Paulo. No lugar desta antiga gleba industrial, hoje há um shopping e condomínios para famílias de alta renda - muitas delas vindas de cidades vizinhas.
Eu acho que essa é a cara da nova São Caetano. Projetos como esses, eles estão sendo replicados em outros lugares da cidade… Isso deixa de atender uma população que, de certa forma, fez parte da construção de um ciclo de pujança econômica que financiou a melhoria dos serviços públicos, da infraestrutura da cidade, e que hoje em dia não consegue ter acesso a esses empreendimentos e está sendo progressivamente deslocada para fora da cidade. São Caetano do Sul é o terceiro menor município do Brasil em área: é como se fosse um bairro de São Paulo, um bairro de classe média-alta Mas basta atravessar este riacho pra sair de São Caetano e entrar num bairro pobre ou favela de um município vizinho.
Vários moradores dessas favelas trabalham em São Caetano do Sul, mas não entram nas estatísticas do município porque vivem do lado de lá Uma das favelas que fazem divisa com São Caetano é esta comunidade da Vila Arapuá, em São Paulo. Aqui não existe rede de esgoto nem asfaltamento, e as enchentes são frequentes… A linha que separa São Caetano do Sul da pobreza ajuda a explicar seus bons indicadores.