“Colônia” é como ficou conhecido o maior hospício do Brasil. Criado em 1903 em Barbacena, município ...
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[Música] [Música] [Música] [Música] a sociedade sempre teve dificuldade de lidar com as pessoas que têm transtornos mentais por muitos anos a única solução era o isolamento em manicômios lugares que se transformaram em verdadeiros campos de concentração Este é um dos pavilhões do antigo colônia que foi o maior hospício do Brasil aqui cerca de 60. 000 pessoas perderam a vida em quase um século de desrespeitos aos direitos humanos mas há 30 anos a discussão sobre a necessidade da reforma psiquiátrica ganhou força e mostrou que loucura mesmo é excluir aqueles que a sociedade taxou como Loucos no caminhos da reportagem você vai ver as histórias do Colônia Como está o atendimento à saúde mental hoje e os rumos da reforma psiqui era uma instituição que não o objetivo dela não era Curar as pessoas Porque de fato ninguém saia curado dali de dentro é um depósito de indesejáveis de pessoas que não tem vez e não tem voz ninguém nunca viu um ser humano degradado A Tal condição a quem interessava ter a colônia a sociedade foi a sociedade brasileira mineira que fez pagou e deixou isso aqui acontecer e é uma história de muita vergonha né assim é uma herança muito pesada mas é a nossa história e ela precisa ser contada jus Cristo jus Cristo eu est essa história começa em 1903 no município de Barbacena em Minas Gerais com a internação do primeiro paciente no antigo Hospital colônia o número um é o Francisco Gonçalves Lamas que é internado em Barbacena no dia 27 de Dezembro de 1903 com 27 anos de idade o diagnóstico dele é excitação maníaca aqui tem toda a historinha que acontece com ele na internação e ele morre no dia 1eo de abril de 1905 de gripe intestinal colônia é Como ficou conhecido o primeiro Hospital Público de psiquiatria de Minas Gerais a criação do hospício foi um prêmio de consolação para a cidade de Barbacena após perder para Belo Horizonte a disputa pela capital do Estado colônia é fruto do contexto histórico e social que do qual ela resultou ela é uma é uma entidade pública é um um uma estrutura que foi criada por um governo que tinha uma lógica de de cuidados de pessoas com doenças mentais que era própria daquela época a jornalista Daniela arbex fez uma vasta pesquisa sobre o colônia escreveu uma série de reportagens e um livro sobre o assunto ela descobriu que logo no primeiros anos o hospício já havia começado a virar um depósito de seres humanos eu fui buscar no Arquivo Público Mineiro e a documentação de superlotação Desde o Primeiro Registro de superlotação desde 1911 já havia registro de superlotação no hospital com o passar dos anos a situação Só piorou em 1960 num lugar projetado inicialmente para 200 pacientes existiam 5. 000 a superlotação do colônia foi um dos problemas denunciados pelo jornalista Iran Firmino no final da década de 1970 em reportagens publicadas no Jornal O Estado de Minas eu encontrei milhares de mulheres nuas lá abandonados fazendo necessidade ao ar livre com todo mundo igual igual bicho mesu entrou lá só sai quando morre né aqueles muros enorme não tem como você fugir lá né então lá era um celeiro então de todo mundo que era doente mental ou entre aspas excluído a sociedade nos porões da loucura o livro de Giran Firmino inspirou o cineasta elvécio ratom um dos poucos que conseguiu entrar no colônia para fazer imagens do que acontecia por lá o registro foi eternizado no filme Em Nome da razão eu não sei se descrever assem alguma coisa mais chocante daquilo toda a condição dali humana era chocante era era algo muito forte Eu Me Lembro até hoje assim claramente dos cheiros que a gente sentia lá assim sabe sabe o cheiro de de de Sofrimento de suor de de sabe de de fezes de sujeira né é algo que ficou impregnado para mim tá assim sempre eles dormiam em pátios Eh Ou dentro dos pavilhões com às vezes mais da capacidade normal que se teria para tantas pessoas em alguns momentos esse próprio Pavilhão Onde nós estamos aqui ele não tinha camas suficientes e as pessoas eram obrigadas a dormir em Capim esse capim era recolhido durante o dia para secar o sol e à noite ele era colocado nos cantos da sala para que os pacientes pudessem dormir a lembrança sempre que vinha pra gente assim era dos campos de concentração Eu acho que eu nunca tinha visto imagens tão duras tão chocantes como as que eu ouv lá quer dizer quando a gente vê documentário sobre Alemanha nazista que você vê a imagem dos Campos as pessoas muito magras sem roupas eh amontoadas nos pátios era o que havia em Barbacena Por que que o que o hospício é pior do que do que campo de concentração porque ali não é a desumanidade que é importante é a desumanização chega alguém é despido dos seus bens das suas roupa é colocado nele uma roupa do hospício eh raspada a sua cabeça todo material que ele tiver um relógio seja o que for desaparece Rosana trabalhou no hospital como enfermeira por 26 anos tomava-se banho às 7 horas da manhã no inverno de barbac em pleno julho em torno de 5 gra água gelada e após o banho do paciente que que acontecia não tinha toalha eles colocavam a roupa que eles iam ficar o resto do dia novamente então a roupa molhava e eles iam para uma parte coberta todo mundo agachado um do lado do outro para ver se esquentava Toninho é um dos Sobreviventes do Colônia ele foi para lá criança quase 30 anos internado que ele me punha na cela cela P na cela de de castigo lá na cela sabe depois mandar jogar 10 l 10 l deágua fria na cela e a gente ficava lá dentro daquela cela d'água a fic passando mal apo naquela água lá por que que eles te colocavam lá na sela ah fazia bagunça eram inúmeras as formas de punição para os internos obedientes no museu da loucura que fica em um dos prédios onde funcionava o colônia era possível conhecer objetos usados para os castigos o museu está fechado em reforma sem data para voltar a funcionar o diretor de cultura e turismo de Barbacena mostra algumas peças que Estão guardadas aqui é uma uma porta típica das chamadas dos quartos fortes né ondeos os pacientes ficavam trancados e aqui tinha uma pequena abertura para se visualizar o que se fazia ou o que ocorria lá dentro mas basicamente você tinha isso aqui que é uma grade essa aqui é a última grade retirada da instituição ainda nos anos 80 e ela mostra bem essa realidade dura do paciente que era submetido Às vezes a situações de extremas né de ficar dias e dias presos numa solitária o aparelho de eletroconvulsoterapia conhecido como eletrochoque deveria ser usado para tratar os pacientes mas na realidade o choque era utilizado como uma poderosa arma de punição aplicado sem anestesia por qualquer pessoa com características semelhantes à tortura e um vestígio que nós temos aqui nessa peça específica de que isso era usado de forma eh eh indiscriminada era o fato de ter aqui no colado num aparelho nós nem tiramos isso quando ele foi destinado pro Museu né colado no aparelho Um 11 passos para se aplicar um um choque ou seja nós imaginamos e temos relatos de Pessoas que diziam que não havia assim um acompanhamento médico propriamente isso era feito talvez por um auxiliar de enfermagem ou qualquer pessoa que pudesse ajudar a aplicar o choes a pessoa era simplesmente eletrocutada sem maiores cuidados né então provavelmente a gente vai ter caso de óbito sim seguido após uma aplicação dessa Rosalina que já nem sabe quanto tempo ficou no colônia só saiu da internação em 2004 o eletrochoque é a lembrança mais triste que ela tem da rotina no hospício Jó que assim na cabeça aqui na cabeça assim põe um negócio na boca para não morder a língua aí se aí depois tomei choque ou fuii para outro Pavilhão aí no outro Pavilhão deram outro choque também eles falam que é de tratamento Sueli Rezende morreu no regime de internação a filha Débora foi adotada ao buscar informações sobre a mãe biológica ficou horrorizada com o que viu nos prontuários no período de 78 Ach quando ar com os choques ela recebeu chegou a receber assim 15 sessões de choque em um mês então era coisa de assim dia não era algo intolerável e eu via que as crises dela que ela se rebelavam ela não aceitava ela fazia de tudo para não levar o choque corria ia pro banheiro tentava derrubar a máquina o aparelho lutava com os funcionários às vezes quando ia pro banheiro passava fés no corpo que diziam que era para escorregar porque eles não conseguiam ser pegos muitas vezes um paciente que tinha acabado de tomar eletrochoque naquela enfermaria gigantesca ele já tinha acordado ele ia ajudar a dar eletrochoque no outro lá na frente mas muitas vezes a energia elétrica era insuficiente para aguentar esses instrumentos cirúrgicos também fazem parte da história do Colônia logot tomia uma cirurgia feita no lobo Central né do do paciente com a função de de de certa forma tirar alguns estímulos da da pessoa normalmente era uma cirurgia feita em pacientes muito violentos havia casos de pacientes que conseguiam inclusive arrancar células a as grades das células onde eles ficavam dado o acesso de fúria que eles tinham incontrolável Então esse expediente da da lobotomia foi algumas vezes realizado no hospital colônia de Barbacena o procedimento para conter a agressividade e os surtos em vez de ajudar fez muitos pacientes ficar em estado vegetativo a lobotomia tirava completamente as reações do paciente a ponto dele Pratic virar um zumbi mano uma pessoa incapaz de qualquer ter de qualquer reação após a cirurgia no colônia a falta de qualificação profissional também era um problema Maria da Consolação foi trabalhar como auxiliar sem nunca ter feito qualquer curso na área de saúde no primeiro contato com os pacientes tomou um susto minha chegada aqui foi assim encontramos com a enfermeira Rosana nós estávamos num grupo onde ela levou a gente pro Pavilhão Afonso Pena simplesmente abriu o portão e deixou a gente dentro do Páscoa mais ou menos com os 300 pacientes que nós nos agarramos uma na outra todo com medo os pacientes todo em cima eu nunca tinha entrado no hospital psiquiatra então assim fiquei apavorada Jurema virou enfermeira na prática sem uma única aula de enfermagem quando eu cheguei aqui e eu era Lea eu não sabia nada veio uma funcionária com três uma cubinha com três seringas ela pegou uma paciente falou fez a injeção e falou toma essas duas é sua se vira o esgoto corria céu aberto no colônia e muitas vezes servia de alimento você vê as pessoas definhando literalmente definhando Isso já é um indício muito forte que não havia alimentação fora que as pessoas que trabalharam na época cont os proses contaram sobre isso de que não havia aliment de que eles passavam fome de que era uma sopa rala eu cheguei a ver as pessoas comendo o que era jado igual com boi com vac jar aquelas comidas espécie de coxa vi comer igual bicho no entanto tinha verba carne tinha ver comida de qualidade quece pessoas com transtornos mentais que passavam por tudo isso a quantidade de gente nos dando um recado Ah fala com Fulano procura Fulano não sei que fala por favor eu tô aqui eu não tinha que est aqui eh esses assim essas falas eram assim er eram repetiam sabe e então você percebia assim que muita gente ali não era para est naquela não era para est na Instituição né quando você ia ver as histórias particulares você ia percebendo isso a gente eh encontrou histórias de pessoas que foram mandadas para Hospital sem ter doença mental que foram para lá porque para esconder uma gravidez porque tinham perdido seus documentos porque a família porque o marido resolveu ficar com a amante foi um sujeito pobre que foi pego fumando maconha outro que tava sem documento no abrites outro que tava alcoolizado quer dizer na verdade era um né como se fosse um despejo social essas pessoas todas excluídas juntando realmente quem tinha algum quadro de esquizofrenia eles juntadas aqui e como essas pessoas de várias regiões do país chegavam ao maior hospício do Brasil por esses trilhos passavam os chamados trens de doido termo criado pelo escritor Guimarães Rosa para as locomotivas que atravessavam o interior do país e chegavam aqui em Barbacena lotadas de passageiros agitados a maioria não sabia em que cidade tinha desembarcado nem porque havia enfrentado uma longa viagem Sem passagem de volta ação ficava logo aqui embaixo né aqui à frente era fácil o o a entrada pro hospital né então desembarcavam ali e seguiam por esse Portal que já estava dentro do espaço aqui do hospital Barbacena desti no final do trem de doidos ficou conhecida como cidade dos loucos mas também ganhou a fama de Cidade das Rosas o município é cercado por grandes plantações de roseiras a região se tornou uma das maiores produtoras de flores do país tanta beleza e perfume não alcançavam os portões do Colônia nem na hora da morte em vez de coroas de flores e caixões muitos falecidos tinham os restos mortais vendidos como indigentes para estudos nas faculdades de medicina entre elas a Universidade Federal de Minas Gerais a história da venda de cadáveres está documentada aqui nos livros de registro neste aqui por exemplo estão os nomes dos falecidos que tiveram os corpos vendidos para a faculdade de medicina de Valença no Rio de Janeiro em setembro de 1969 foram vendidos 22 corpos cada um por 50 cruzeiros novos Total 10000 cruzeiros novos isso em valores atualizados seria em média R 200 por cadáver aproximadamente R 4.
400 no total a gente chegou a r$ 53 corpos vendidos para 17 faculdades de medicina do Brasil entre 1960 1981 A gente encontrou já registros de vendas em 82 e a gente não tá considerando aqui as vendas que foram feitas de 61 a 69 porque esses já havia registros já haviam denúncias de venda pior do que você não ter identidade não ter fala não ter o que comer foi quando começou a venda de cadáveres Isso aí foi tão chocante tão absurdo tão horror que foi talvez o momento mais pungente mais desagradável mais triste que podia acontecer eu tive ocasião de ler uma carta de um diretor de uma escola pedindo para dar um jeito de aumentar o fornecimento porque estavam precisando de cadáveres e não tinha os corpos não comercializados tinham um destino certo Este era o cemitério dos pacientes do Colônia aqui muitos foram enterrados juntos em uma única cova sem direito a caixão e longe do Cemitério das pessoas ditas como normais o local foi desativado há mais de 20 anos hoje está abandonado com túmulos violados em 2007 a Prefeitura de Barbacena lançou um concurso para criar no local abandonado um memorial das Rosas unindo assim os dois símbolos da cidade loucura e Flores o projeto vencedor propõe a revitalização do espaço e a criação de uma passarela suspensa no terreno para preservar o passado a ideia ainda não saiu do Papel veja no próximo bloco Como foi o processo de humanização da psiquiatria no antigo Colônia em [Música] Barbacena fim dos anos 1970 o regime militar começa a perder força com o fim do A5 e à volta dos exilados políticos as bandeiras em prol dos Direitos Humanos flam com mais intensidade E um grupo de jovens psiquiatras resolve se mobilizar para questionar o modelo de tratamento na saúde mental Jairo e alguns colegas encabeçaram o projeto para a realização do Terceiro Congresso Mineiro de psiquiatria começamos já nesse momento desenvolver a ideia de fazer o congresso no ano seguinte já com a data pré-definida que seria novembro de 79 mas o que que ocorre em pleno preparação do da organização desse congresso eh vem ao Brasil basala passar três semanas do Brasil e aqui é feito um convite para que ele voltasse em novembro naquele congresso Que Nós já estávamos organizando Franco basal foi o médico responsável pela reforma psiquiátrica italiana inspirou o movimento no Brasil o psiquiatra Antônio suares Simone foi quem levou o bazal ao Colônia em Barbacena quando ele chegou lá no colônia Quais foram as impressões o que que ele falou o que que chamou atenção naquele dia la cremou chorou estancou em silêncio absoluto basal convocou a imprensa para descrever o que viu no colônia o holocausto é a representação máxima da barbárie humana mas aqui é pior do que o holocausto aqui é o papel da Imprensa né E quando se fala imprensa naquele momento é Irã Firmino Irã e com certeza durante uns 80 dias ou seja talvez de de Julho até o congresso né mais dias até ele divulga todo dia matérias sobre ele não deixa a coisa es friar nós mantivemos a chama acesa mostrando os vários movimentos da sociedade no meio político reclamando da situação e tal e quando teve o congresso aí tava foi stopin né O bazaga veio e detonou mesmo foi um congresso histórico lotado de gente de de paciente nunca o paciente dado uma entrevista o psiquiatra Ronaldo Simões Coelho apresentou no Congresso um documento de denúncia contra o colônia seria de desejar que a 16 de agosto morresse de velice a o hospital colônia de Barbacena octogenário nascido por lei de 16 de agosto de 1900 morreria sem glórias e sobre seu túmulo se poderia escrever para diendo Dante quem aqui entrou perdeu toda a esperança a sociedade também se mobilizou nós começamos a a levar esta questão desses dos hospitais desse modelo manicomial para levar para essa discussão pra cidade né para mostrar que esse modelo era o modelo que a gente tinha de romper porque o slogam da luta antimanicomial é por uma sociedade sem manicômios né O Grande Desafio que nós tínhamos em VV cena era mudar a cultura era a cultura do normal porque quando você entrava numa instituição dessa você impactava mas logo logo você ia acostumando você ia achando que aquilo era normal era uma cultura interna e uma cultura externa o externo era aquela cultura que tudo que incomodava a sociedade vinha para Hospital a gente começou a dizer Opa tem um diferencial aí doente é doente problema social é problema social em 1900 Jairo assumiu a direção do hospital e começou a colocar em prática o plano de humanização proibiu a transferência indiscriminada de pacientes para a instituição e encontrou uma forma de acabar com o comércio de cadáveres para as Universidades nós começamos a criar vínculos dos pacientes com os nossos funcionários os nossos pacientes não tinha velório passar a ter velório né e Nós criamos todo o mecanismo de que um processo de um se exigia numa sociedade no Alto da Serra na fria e bucólica Barbacena aqui estão eles a passear no quintal dos prédios onde funcionava o hospício alguns pavilhões do antigo colônia se transformaram no Centro Hospitalar psiquiátrico de Barbacena outros no hospital regional que oferece atendimento ambulatorial e de emergência pelo SUS os pátios onde os pacientes passavam de vagar hoje estão vazios as marcas do tempo também estão no rosto dos pacientes que ficaram idosos e nunca saíram daqui Dona Aurora é uma das mais antigas não se lembra Quantos anos tem foi internada no Colônia em 1957 é bom aqui que que você faz aqui Eu costumei acho bom aqui como Dona Aurora outros 171 pacientes estão no regime de internação de longa permanência hoje cada um desenvolve uma atividade todos os dias Dona eice vem ao Centro de Atendimento ao paciente ailar para fazer peças de Tapeçaria aos 56 anos ela se orgulha em dizer que acorda antes das 6 da manhã para trabalhara casha lá aques do alora isso mas vive bordando a minha idei o resultado dos trabalhos mostra que pessoas com transtornos mentais não são incapazes mesmo quando existem ainda mais obstáculos a ser enfrentados a parecida é cega surda e muda internada desde 1967 provavelmente sem distúrbios mentais ela faz o maior sucesso com sua habilidade em costurar colchas de retalhos Ken como é que vocês escolhem quais atividades cada um vai desenvolver vai partir do interesse do paciente então ele vai falar o que ele gosta de fazer nós mostramos algumas possibilidades que ele pode fazer pode estar desempenhando e a partir disso a gente indica a atividade logo que entrou no hospital na década de 1980 a enfermeira Rosana começou a incentivar que os pacientes não ficassem parados nós fizemos uma horta muito grande e a gente plantava plantava alface e de tarde a gente a gente fazia chá e tinha uma sanfona onde a gente cantava junto com os pacientes e o os pacientes adoravam porque diminuiu a medicação da noite né o paciente voltava pro Pavilhão tomava banho quentinho jantava e dormia a noite inteira satisfeito porque ele tinha atividade Roselie que trabalha como enfermeira no hospital há 23 anos acompanhou o processo de humanização do tratamento dentro do hospital a gente nós começamos realmente com eh a pensar construir uma nova prática tirar desse modelo que era um modelo coletivizado né as ações dos profissionais coletivizadas né o banho coletivo não tinha uma individualização uma preocupação com o gosto de cada um né com o que que o potencial de cada um hoje quem vive nos pavilhões tem cama e armário a maioria divide espaço com outros pacientes mas ao fim de um longo corredor encontramos o quar da tudo aqui é do jeito que ela sonhou Lourença apresenta um quadro estável de esquizofrenia e hoje vive melhor eu gosto muito de ros quem também tem o próprio quarto é o Paulo uma vez Flamengo sempre Flamengo o flamenguista roxo se orgulha da decoração do quarto além de reunir objetos do time do coração Ele também gosta de assistir a programas de esporte na TV na parede a foto dos primeiros anos no Colô chegou aqui em 1956 com 27 anos ele se faz muito entender pelo olhar n ele tem um olhar muito expressivo muito alegre ele é muito emotivo sabe assim quando você fala que vai sair El ele fica emocionado o mês passado a gente fez o aniversário dele ele fica emocionado também é morrer em 1989 o hospital começou o projeto dos módulos residenciais com formato de uma casa o lugar recebe os pacientes que vão se preparar para finalmente sair do hospital nos cinco módulos vivem hoje pouco mais de 100 pessoas os que estão aqui nos módulos são os pacientes que T mais assim eh facilidade da gente trabalhar com eles para uma possível eh ir para possibilidade de ir para uma residência terapêutica essa preparação e é saídas na rua para acostumar com a população porque eles perderam esse vínculo né com a comunidade então a gente procura resgastar essa parte dele social Donizete sai do hospital com acompanhamento para comprar os CDs e DVDs preferidos também gosta de dar umas voltinhas pela rua e ajudar o padre ele veio de Botelhos Minas Gerais em 1981 foi trazido pela polícia após tirar a roupa em cima de um muro e começar a mexer com uma moça o maior sonho é que alguém de Botelhos venha buscá-lo as assistentes sociais do hospital não conseguiram localizar a família dele é Botelho Botelho Botelho Botelho muitas dessas pessoas já TM condições de morar em residências terapêuticas Mas afinal o que falta para que possam sair da internação no hospital o município de Barbacena e os outros municípios são responsáveis pelas residências terapêuticas então para as pessoas saírem daqui a gente precisa que o município tenha condições de recebê-las ou as famílias recentemente um dos módulos residenciais foi cercado por muros Colocaram um murinho de tipo 1,5 M 2 m de cimento e acima grade e tela tela de arame o que que é o início disso é o início do Muro né tá voltando o muro de novo ão ele sendo sendo sendo cercado de cimento e coisa de tá reproduzindo o hospício de novo apesar da gente ter um muro ele tá dentro de uma área verde que tem mais possibilidades e o muro não impede que que os pacientes os moradores do módulo Residencial 4 transitem pela pela pelas áreas ao redor do módulo Residencial um lar em Belo Horizonte abriga pessoas e histórias da época dos manicômios aqui moram os meninos de Oliveira Eles foram internados quando eram crianças em um Hospital Psiquiátrico infantil no município de Oliveira Minas Gerais a pouca idade não os livrou dos maus tratos eu cheguei tinha uma criança deitada no chão como se tivesse crucificada com as braços abertos as as mãos amarradas e fincadas no chão e as pernas também eu e perguntei porque que ele tava assim uma criança que o solão enorme e a resposta que me deram foi que ele era muito perigoso porque ele arrancava os olhos das outras crianças aí perguntei quantos olhos ele já arrancou nenhum porque ele tá sempre amarrado em 1976 o Hospital Infantil foi fechado pelas péssimas condições do prédio 33 crianças foram encaminhadas para o colônia onde se juntaram ao martírio dos adultos em 1998 quatro Sobreviventes de Oliveira e outros três ex de Barbacena vieram morar no lar abrigado a eles chegaram né não tinha nem roupa as roupa nem dava para usar nem nada todos Magrinho todos sujo não sabe uns bichinho mesmo né sabe não sabia comer nada trazer os meninos de Barbacena para cá foi a realização do sonho da irmã mercez oferecer dignidade carinho e o lar que eles nunca tiveram aí eu falei que a postura era diferente né que eu não queria mais nada que fosse tinha sido feito lá dentro sem censurar ninguém né mas que aqueles iam ser chamados pelo nome e eu ser Muito bem tratados Silvio foi criado na ala feminina do Colônia ao ser fotografado de vestido e coberto de moscas quando tinha 11 anos chegaram a pensar que ele estivesse morto hoje aos 47 anos prefere ficar deitado posição em que passou a maior parte da vida Silvio Não fala assim como todos os outros moradores do Lar abrigado Mas eles se fazem entender pelo olhar pelos gestos e pelos sons o Tonho se desenvolveu muito depois que veio morar no lar abrigado aprendeu a tomar banho a se arrumar sozinho e também fazer trabalhos manuais Olha aí um quadro dele e eu fiquei sabendo também que você gosta de passear É verdade sabend você vai ao cinema ao shopping a lanchonete lancha adora dar uma voltinha pela cidade e o Tonho ficou bonito porque o Tonho tem uma vida social melhor do que a gente né ele vai para tudo quanto é lugar coisa que a gente não faz ele faz né Cada um aqui alcançou pequenas conquistas que se tornaram Passos grandiosos graças ao esforço da irmã merc cada um tem o projeto né Escrito Tá escrito mesmo então é só ver o que que precisa estimular essa estimulação ela é constante porque se eu não estimular eles vão voltar atrás recentemente eles conseguiram o direito a ter uma carteira de identidade agora são cidadãos não mais ignorados pelo Estado e pela sociedade e a irmã mercz passou a ser também no papel a responsável por zelar pela vida de cada um e achei bonito porque são pessoas que que praticamente não tem ninguém né Então para mim foi uma alegria mesmo eu até falei nossa gente eu não imaginava que meu nome também ia sair na certidão deles né então tem um peso Grande para mim e eu vou ficar seguindo esses meninos para sempre né eu fiquei TR anos uma das meninas de Oliveira Fez história no colônia Sueli Rezende era famosa por responder com violência a toda a crueldade que sofria no hospício ela não respeitava gente ela chegava mandando com palavras já com palavrões mesmo mandando mesmo para m atendê-lo entre em depressão mas depois eu aprendi a amar Sueli aprendi ter o respeito da Sueli além da agressividade Sueli também usava os versos para mostrar toda sua indignação ATRS macarrão parece cola de cola balão e mais atrás vem a sobremesa banana podre em cima da mesa a letra gravada na mente e no coração da Débora é a maior herança que ela conseguiu resgatar da mãe que não conheceu as mulheres que engravidavam no colônia não podiam ficar com os filhos as crianças eram adotadas ou iam para orfanatos Débora foi adotada por uma funcionária do hospital a Jurema eu com pena dela para ela não ir para Febem eu falei vou levar eu vou criar essa menina e criei já adulta Débora Descobriu que era adotada e foi atrás da própria história por meio de documentos e relatos de funcionários do antigo colônia ficou sabendo que sua mãe Sueli havia falecido um ano antes e desvendou histórias no hospital que a emocionaram sempre tinha festinha lá aí os funcionários levavam os filhos familiares Então ela via criança ela corria para abraçar e num desses abraços ela me abraçou sem saber eu tinha 7 anos aí uma funcionária que me contou e ela ainda falou que que eu devia ter idade da menina dela agora Débora quer descobrir o paradeiro da irmã a segunda filha que Sueli teve no hospital ela foi entregue para adoção eu só sei que ela nasceu no dia 15 de junho de 86 é do anos mais nova e o nome que a minha mãe escolheu para ela foi Luzia Rezende mas devem ter trocado o nome Débora guarda com muito carinho um terço que foi da mãe e a certeza de que foi amada por ela as únicas lembranças que ela tinha era a cor de pele que ela tinha uma filha morena e uma filha branquinha e as datas de nascimento sempre que estava próximo ela fala falava e em tal dia minha filha mais velha vai fazer tantos anos Isso eu li nos prontuários ela contando quando eu fiz 8 anos que ela teve uma crise que ela queria saber como era o rostinho da filha dela gostei muito de saber que ela que ela foi uma personalidade forte lá dentro que ela se defendeu e que ela tinha orgulho também né de ter tido as duas filhas sair de Belo Horizonte para visitar a mãe em Barbacena pelo menos uma vez por mês é uma felicidade que João Bosco conquistou há pouco tempo os dois também foram vítimas da política de afastamento entre mães e filhos dentro do Colônia Geralda era empregada doméstica e foi estuprada pelo patrão ficou grávida e mesmo sem ter nenhum transtorno mental foi enviada para o hospício eu levei o maior choque porque eu não tá acostumada com aquilo né não tinha visto aquilo né saí da onde eu saí para vim para uma prisão daquela né ficando no meio do aquela bagunça aquela aquela bagunça né aqueles Pavilhão Aquelas coisa que a pão tinha doente né Depois que João Bosco nasceu ela conseguiu alta do hospital foi atrás de emprego e deixou o filho com religiosas que trabalhavam no colônia um dia quando voltou para visitá-lo a criança não estava mais lá Nunca mais eu tinha notícia dele Nunca mais eu tio notícia João Bosco foi para um orfanato e depois para bem quando eu era adolescente Eu não eu não tocava no assunto e não permitia que ninguém tocasse n assunto assim tipo perguntar sobre minha mãe mim isso era um era um tabu João Bosco passou no concurso do Corpo de Bombeiros os colegas da Corporação foram até Barbacena para descobrir quem era a mãe dele e a encontraram em 2011 o reencontro foi uma surpresa na comemoração dos seus 45 anos para mim foi a melhor coisa né que eu esperava de acontecer na vida e aconteceu DAE parecer né e ter o que o carinho que ele tem comigo por mais que que as contingências da vida leve cada um para um lado mas existe a a essa essa essa coisa esse laço invisível essa coisa esse laço laçado por Deus entre a mãe e o filho ninguém rompe então quando quando quando quando você reencontra você só tá voltando à origem no próximo bloco você vai ver como é a vida das pessoas que deixaram os hospita psiquiátricos e hoje vivem em residências [Música] [Aplausos] terapêuticas voltar para casa após longos anos de internação em um Hospital Psiquiátrico é um grande desafio José Horácio tenta a reaproximação com a família desde 2013 Quando deixou o hospital em Barbacena ele havia chegado ao Colônia em 1977 ele tinha 14 anos caía no meio da rua não dava sossego também já vi na hora dele matar a gente dentro de casa foi obrigado a mandar depois de 38 anos de internação funcionárias do hospital encontraram a família de José Horácio em Araçuaí Minas Gerais ele começou a demonstrar esse interesse de est voltando para Araçuaí para morar com a mãe e nós né fizemos contato com Caps Municipal E aí nós fizemos essa viagem na realidade pra gente poder conhecer lá a rede o municípios né se ele teria condições de estar voltando ele chegou que ele tinha o diagnóstico f71. 1 que era um retardo mental leve o quadro psíquico dele estava estável ele morou com a família aproximadamente uns do meses mas ele teve conflito familiar e após o uma uma crise com a mãe foi uma Na verdade uma briga né ele desestabilizou um pouco ele chegou a agredir a mãe tem razão dele ter me estranhado não foi criado mais eu foi criado foi mais vees lá a mãe não conseguiu ficar com o filho e pediu ajuda à justiça José Horácio foi então viver numa residência terapêutica de vez em quando visita a mãe os dois não fazem planos de tentar morar juntos novamente ele não fala em outra coisa a não ser retornar para o hospital em Barbacena soldade botar para lá mesmo quer ficar aqui não aqui não tem lugar de fazer nada não ficar lá mesmo é um trabalho de formiguinha restabelecer todos os vínculos familiares novamente um dos principais símbolos da humanização na psiquiatria é justamente uma casa como a que o José Horácio mora atualmente o direito básico do homem foi devolvido a milhares de brasileiros com transtornos psiquiátricos por meio do projeto das residências terapêuticas em 1989 foi apresentado aqui no Congresso Nacional um projeto de lei para regulamentar os direitos das pessoas com transtorno mental a proposta determina a extinção progressiva dos manicômios no país em 2001 depois de 12 anos de tramitação A lei 10. 216 foi sancionada é uma lei que pode ter destinação sanitária mas ela não é uma lei de características médicas ela é um procedimento que a sociedade brasileira quer dos seus médicos não é que atendam em liberdade que não isolem que escutem a a história da Loucura Por que a pessoa chegou àquele ponto E que encontre um caminho se não for possível de cura porque nem todo nem todo sintoma e nem toda doença às vezes permite a cura mas que pelo menos seja um tratamento assistido de acordo com dados do Ministério da Saúde a lei está sendo cumprida atualmente existem cerca de 25.
000 leitos psiquiátricos do SUS em 166 hospitais psiquiátricos no país em 2006 havia quase 41.