[Música] Olá boa noite sejam todos muito bem-vindos a bordo do Roda Viva estamos ao vivo para todo o Brasil pela TV Cultura e emissoras afiliadas e nos quatro cantos do Globo Terrestre Graças principais plataformas digitais e a we cultura Play o programa de hoje é um daqueles que foram fruto de uma certa obsessão da apresentadora faz um pouco mais de um ano que eu descobri os inscritos da nossa entrevistada de hoje primeiro no Instagram e depois nos livros levou um tempão para que a gente conseguisse viabilizar o programa porque ela estava na maior parte deste
tempo todo ancorada num fiorde congelado na Groenlândia não é preciso se Avent nem mesmo destemido para embarcar nas expedições literais e literárias que ela pilota sozinha e isando velas traçando linhas com a mesma precisão as jornadas e os escritos falam da relação entre seres humanos e a natureza de sonhos de planejamento da passagem do tempo de solidão de Barreiras de gênero de laços familiares e também de autodescoberta para ficar só em alguns temas de uma grande lista que ela aborda cruzando o Atlântico ou invernando no Ártico ela sempre e sempre em Solitário ela parece ter
precisado ir longe para se enxergar por dentro e esse é também um dos muitos paradoxos filosóficos que ela propõe Então se prepare para embarcar nas histórias e nos Ensinamentos da navegadora e escritora Tamara clink [Música] que nasceu em São Paulo em 1997 é uma das três filhas da fotógrafa Marina Bandeira e do navegador Amir klink começou os estudos em arquitetura na USP e se formou na França comprou o primeiro barco pelo preço de uma bicicleta um veleiro pequeno e antigo batizado de sardinha pela avó Ana a única que conhecia os planos da neta em 2021
com 24 anos foi a mais jovem brasileira a cruzar o Atlântico em Solitário a travessia na sardinha foi relatada nos livros mil milhas e nós aos 26 anos se tornou a primeira mulher no mundo a passar o inverno isolada no ártico o escuro não foi tão escuro frio não foi tão frio a solidão não foi tão solitária te mando notícias no caminho [Música] vovó para entrevistar a Tamara clink a nossa tripulação de hoje é composta por Alexandre verani repórter da revista go outside Beatriz Lourenço repórter da Revista Cláudia Márcio Atala Professor especialista em longevidade colunista
do Globo e da Jovem Pã Isabela Menon repórter do jornal Folha de São Paulo e Bruna Cambraia Editora das revistas Trip e TPM voltamos ainda com os desenhos do nosso Capitão Luciano verones Boa noite Tamara finalmente conseguimos sim finalmente muito obrigada pelo convite para est aqui hoje Obrigada a você por ter aceitado entre você partir da França paraa sua invernagem em Solitário na Groenlândia e você regressar tudo isso levou mais de um ano Mas computar todo o tempo do planejamento anterior da viagem foi mais tempo ainda queria comear te perguntando quanto você mudou nessa jornada
e se essa mudança foi mais radical do que aquela que você sentiu na sua expedição anterior pelo Atlântico acho que hum por um lado eu sinto que eu me aproximei mais de quem eu era quando eu era criança porque muitas das coisas que eh eu vivi eh e que eu aprendi foram des aprendizados de coisas que tinham virado normais e não deveriam ser então o valor eh do trabalho mudou para mim o valor eh da aceitação dos outros eh da etiqueta eh o sentido do prazer e que de certa maneira acho que eu tinha perdido
a importância que eu deixei de dar pra diversão eh e que eu voltei a dar quando eu quando voltou Finalmente quando eu passei a morar sozinha eh essas coisas mudaram também a relação que eu tenho com as roupas que eu visto e e acho que eu passei a eh viver o retorno como se fosse também uma grande brincadeira porque de repente se vestir não era mais uma coisa que parecia tão importante era quase como se fizesse parte de eh um jogo de mentirinhas ou de ficções que a gente eh se conta e a gente se
acredita eh para viver em sociedade vestidos eh acho que também a o valor que os livros tinham para mim antes eles ele aumentou quando eu voltei eh porque eu via nos livros eh possibilidades de de criar eh realidades paralelas que eram tão eh reais quanto as realidades que a gente tem na tela do celular hoje eh que a gente até acredita que muitas são verdade quando não são eh e onde a o sentido da Verdade tá tão eh eh confuso e e talvez eh talvez nem tenha mais tanta importância mas eu pergunto entre as duas
viagens porque agora que você vai começar a lançar o nó que é o livro da viagem anterior e você falou que você olha para aquelas páginas e não se reconhece em Muitas delas Imagino que esse sentido do tempo do calendário seja muito diferente para quem viveu o que você viveu Deve parecer que você viveu muito mais anos do que na verdade se passaram né É por um lado e quando eu voltei eu me sentia uma uma idosa eh por outro lado eh eu olho pra minha cara no espelho e sei que sou e eu olho
pros anos que eu vivi e converso com pessoas mais velhas que eu e vejo que por mais que eu tenha aprendido ou desaprendido muitas coisas eu não tenho ainda a idade então não tive ainda tempo de errar eh tanto quanto eu terei errado quando eu for mais velha e e sobre o nós acho que eu mudei muito porque hoje eu olho pra viagem que eu fiz com a sardinha a primeira eh e e muitas das dos riscos que eu tomei naquela época hoje eu seria incapaz de tomar porque eu tenho consciência dos perigos que eu
corri eh então amadurecimento de alguma maneira a gente vai explorar tudo isso ainda Márcio por favor bom primeiro Parabéns Fiquei fiquei curioso com a pergunta da da Vera quando você traz que eh você se despiu ali de muitos conceitos que você tinha a gente sabe que o nosso meio ambiente ele determina muito aquilo que a gente faz né então quando você fala que você deixou de valorizar algumas coisas que você começou a resgatar outras no ambiente que você tá mais solitária você com você Eu imagino que isso seja mais forte como manter isso numa sociedade
hoje que valoriza tanto a aparência o ter onde a gente é conectado o tempo inteiro que é muito mais importante parecer do que ser como manter isso que você conquistou lá nesse meio ambiente que contamina o tempo inteiro acho que a maneira que eu eu tô descobrindo ainda né faz dois meses que eu voltei da Groenlândia é meu barco ainda tá lá então ainda voltar e eu tô vivendo esse retorno como uma viagem também uma outra eh não sei se tudo que eu vivi lá precisa ser mantido eu acho que eh recuperar os códigos e
da sociedade que faz a gente viver em conjunto E numa falsa ou relativa paz e aparência de pais eh eu acho que são importantes também eh só não dou mais tanta importância para certas coisas acho que não dou tanta importância mais para por exemplo e encontrar um par perfeito uhum eh que para mim antes parecia algo muito importante porque eu cresci lendo eh relatos ou contos de fada eh em que a felicidade era estar com uma alma gêmea ou com um outro par eh e hoje eu já não acho o amor romântico importante como eu
achava antes hoje eu valorizo muito mais as amizades por exemplo eh acho também a experiência de ter quase morrido me fez colocar em perspectiva O que é estar vivo e qual é o sentido de viver que para mim hoje é muito mais eh sentir do que do que fazer algo do que ir além do que sei lá conquistar coisas eh Então acho que de certa maneira eu eh mudou a minha hierarquia mas não quer dizer que eu tenha que se colocar contra me incomoda Claro é ter que vestir um vestido que eu tive que passar
ferro antes de vir ficar horas passando a maquiagem e o cabelo que meu cabelo não é assim eh então eu espero que as pessoas na TV acreditem Eh que que eu não sou assim de fato e que isso não é uma pessoa normal né Hã e mas eu acho que se eu viesse do jeito que eu sou sem a maquiagem sem o cabelo sem ter sepado minhas sombrancelhas Talvez as pessoas ficassem um pouco assustadas Eh Ou talvez eu tivesse eu fechasse algumas portas de contato eh por causa disso e desse as pessoas ficassem impressionadas com
coisas que eu não gostaria que fossem o foco da atenção eh Então acho que eu eu jogo também o jogo eh eu acho que eu precisei fechar o portal para voltar para cá não dáa para eu ficar sempre vivendo naquela minha experiência sozinha que é uma experiência que que que também é fictícia porque só foi possível estar só porque durante muito tempo eu estive junto com pessoas que me ensinaram eh como sobreviver sozinha quais eram as coisas que eu precisava ter eh pessoas que me ajudaram a me preparar fisicamente eh psicologicamente eh então eu vivi
também uma ficção e voltar é uma outra agora quando você fala dessa preparação só eh quando a gente gente prepara um atleta a gente tenta eh simular tudo que a gente vai encontrar para você deve ter sido muito difícil né ã sim e não acho que eu tive grande oportunidade de ser obrigada a simular todos os dias e em que eu trabalhei no barco porque o tempo todo vinha a gente eh perto de mim e dizia que eu tava louca dizia que eu ia morrer que eu ia ser atacada para um urso e que meu
barco ia pegar fogo porque eu ia ter aqu sor dentro que eu não ia saber resolver os problemas que eu não ia ter força física necessária para eh concertar meu barco se tivesse um problema para empurrar uma placa de gelo caso ela esmagasse meu barco que o meu barco ia afundar então eu sem querer eh era forçada a me projetar nessas situações e a inventar soluções que às vezes eram eh realizáveis às vezes não eh e simular na minha cabeça tá o que eu farei se vier um urso eh e acho que porque eu tinha
essas questões antes Eu também perguntei para quem sabia mais que eu então quando eu cheguei na Groenlândia eu perguntei PR os groenlandeses o que fazer se vier um urso e eles perguntavam mas o urso se for eh os ursos são como os humanos os ursos eh são bons Caçadores ou maus Caçadores eh Se eles forem gordinhos é porque eles são bons Caçadores e e desses você não precisa ter medo porque você não é a presa deles eles preferem focas mas se eles forem muito magros Então tome cuidado porque ele é um mau Caçador ele vai
querer correr até você e te atacar E nesse caso você atira para cima se não der certo você imagina uma linha de 100 m entre você e o urso e se ele percorrer a linha você atira nele e eu era vegetariana H 15 anos não pretendia nunca na minha vida usar um fuzil e de repente me vi lá fazendo aulinha de fuzil porque fazia parte do protocolo de morar na Groenlândia um lugar onde existem predadores de urso e onde as pessoas vivem há milhares de anos caçando a própria comida e nada cresce no chão Alexandre
Tamara Boa noite eh como você falou da preparação física e psicológica né quem foram as pessoas que te ajudaram durante essa preparação psicológica para você chegar lá pronta para para aguentar 3S meses sem ver a luz do sol 4 meses sem nenhum contato com humanos Como foi esse processo de preparação psicológica E o que mais consumiu consumiu sua mente nesse período acho que a preparação psicológica é a preparação de uma vida que é amadurecer errar muito acertar Mas eu também tive o acompanhamento eh da psicóloga Nair Pontes com quem eu fiz terapia durante de muitos
anos e fiz até uma terapia mais intensiva antes da viagem a gente eh usou várias metodologias diferentes a gente usou imdr eh para trabalhar os traumas e a gente usou técnicas de visualização a gente fez muita interpretação de sonhos eh onde surgiram muitas questões que que não tinham Aparecido na nossa terapia de fala eh a gente também aprende técnicas de respiração com ela eh e e foi muito importante ter feito essa preparação não sei se se meu pai chegou a fazer na época dele acho que era mais Tabu eh hoje em dia eu vejo a
importância que isso teve para mim para que a viagem não fosse nem uma fuga de algo que eu tava vivendo e nem é que ela me colocasse num num uma ratoeira num num buraco eh porque eu sabia que durante 3 meses eu não veria a luz do sol durante se meses talvez eu não visse nenhum humano eh os medos e os eh pensamentos negativos eles podem se aumentar ciclicamente eh então eu precisava estar o mais eh de certa maneira resolvida possível para ter certeza que se algo acontecesse de muito ruim eu ia poder contar com
meu instinto de autopreservação E além disso eu usei eh também como acho que ferramentas suplementares eh as ferramentas locais quando muitos Caçadores me diziam que eu devia ficar esperta porque iam ter muitos espíritos os kiv to eh eu fui numa chaman e perguntei o que fazer se os espíritos viessem então a gente fez uma uma viagem com o tambor onde eu fiz a visualização de como seria a viagem acho que hoje a gente tem muitas ferramentas eh para poder eh melhorar acho que nossa maneira de raciocinar eh nas horas difíceis e e eh muitas dessas
pessoas Acho que e atias pessoas que eu encontrei ao longo da viagem que também foram meu apoio os livros que eu li eh navegadores mais experientes né entre eles meu pai essa vez que deu até umas ajudas e e alguns conselhos talvez acho que dessa vez mais como pai do que como navegador mais que no Atlântico sim um pouco mais Isabel Tamara você comentou agora que você foi vegetariana por muito tempo né Eu acho que na sua travessia pelo Atlântico você não pescou você comeu um peixinho que você até uma foto e mas agora na
Groenlândia além de levar comida você também pescou queria entender como que essa sua relação com a com a alimentação mudou e como que era também comver com essa dualidade em que os animais eles eram só companhia mas também podiam ser uma ameaça e também alimentação eu tinha a ideia antes que seria como na Disney onde os animais seriam meus amigos e rapidamente eu vi que não que quando eu pescava as raposas apareciam no meu barco de noite em horários onde geralmente eu estava inativa e para roubar os peixes e e e todos os animais que
estavam ao meu redor eram oportunistas porque eu tava num terreno onde a comida não crescia no chão a comida corria e voava nadava e todo mundo precisava caçar e também eu levei muita comida para essa viagem no meu barco acho que uma grande parte da preparação é que eu fiz com o Rogério tomazela e com a Isadora Berto ele foi calcular quantas gramas de arroz eu ia consumir por dia e quantos tipos de macronutrientes e micronutrientes eu ia precisar para estar na melhor forma possível durante todo esse tempo não ter nenhuma carência e e quando
eu cheguei lá eu vi que comer tofu na Groenlândia era também uma grande e ficção e uma grande de mentira que ia est me contando porque e eu tava muito longe de qualquer lugar onde pudesse crescer soja e que a soja também não era mais pacífica e não teve menos violência na sua no seu crescimento e do que a caça porque para fazer a soja crescer a gente precisou e Destruir todo um ecossistema com árvores florestas eh papagaios Araras eh mico leão eh e e achar que só porque aquele aquele ingrediente não não era não
vinha de um animal vivo eh mamífero eh ou ave eh não fazia daquela comida mais limpa eh de violência e eu passei a pescar também porque era o o alimento que deixava menos resíduo então eu pescava todo lixo do Peixe tudo que eu não ia comer Sei lá uma parte da pele ou a caluda e a cabeça às vezes eu fazia sopa mas as espinhas elas viravam comida para outro bicho elas viravam ferramenta para alguma outra para algum outro animal e e os ciclos se continuavam até o ponto onde eu comecei a questionar qual era
o sentido de de tirar os humanos desse ciclo de vidas e e enterrar eles encaixas embaixo da terra se a gente poderia viver para sempre dentro desse ciclo eh infinito que é a continuidade das das Gerações das espécies que acontece pela alimentação mas os caçadores ficaram horrorizados quando eu comecei a falar disso diga Beatriz eh bom por muito tempo os homens iam Navegar enquanto as mulheres ficavam em casa esperando ou nos portos esperando eles voltarem né de alguma maneira você tá subvertendo essa lógica Principalmente quando você foi a primeira a a invernar sozinha no Ártico
né e mas eu queria saber para você o que significa se a primeira mulher a realizar algo se é um sinal de avanço ou evidência de um atraso para mim não significa nada eu acho só foi possível mas ao mesmo tempo assim pessoalmente não tem muita importância eh mas eu acho que eu para outras mulheres eh isso expande o Imaginário dos possíveis eh que eu mesma não tive quando eu fui fazer isso porque eh ficava questionando Por que será que não não vieram Será que é porque as todo mundo que diz que eu não vou
dar conta tem razão que é porque eu sou muito fraca que meus braços são muito finos eh que ã quando a gente menstrua a gente fica mais frágil e depois quando eu tava lá eu vi que não que que menstruar no Ártico é igualzinho menstruar na terra e na cidade com a diferença de que lá eu podia simplesmente e ficar abraçar a perna e ficar que nem uma bolinha e E torcer para passar logo e quando na Terra às vezes a gente tem que pegar um ônibus atravessar a cidade ser simpático com as pessoas e
que eu tava bem mais tranquila eh lá do que qualquer outra mulher eh menstruando aqui na cidade de São Paulo eh mas eu também sei que eu só pude fazer isso porque muitas mulheres vieram antes né mulheres que entraram vestidas de homens em navios eh mulheres que eh brigaram para ter direito de estar a Bordo mulheres que eh foram mal vistas eh por Navegar e como a floran fartou que a gente estava comentando eh e que ã tiveram que ser muito mais radicais e muito mais eh bravas e violentas para poder ter o direito de
eh sair eh de casa e Navegar e também sei que isso só foi possível para mim porque existe toda uma cadeia de outras mulheres que me criaram né minha mãe é minha avó mas também eh babás eh cozinheiras que fizeram a minha comida que cuidaram de mim então acho que poder fazer isso ainda não é um privilégio para todas as mulheres é um privilégio para uma para um pequeno grupinho que existe eh mas pelo menos eh já a gente já pode desejar isso que era antes que que era algo que antes a gente não conseguia
Mas enfim na na prática na vida real eh eu ser mulher é algo que eu até esqueci durante um tempo porque quando eu tava eh vivendo só eu não me sentia fraca eu não me sentia forte eu não me sentia inteligente nem burra eu era o que eu podia ser eh eu não precisava aparecer mais e com isso eu tinha muito mais energia e tempo disponível para Pro Meu Prazer e e eu podia dedicar muito mais atenção para minha sobrevivência e que era algo importante lá o meu prazer e minha sobrevivência E então eu via
que eh aquilo que me diziam que seria um limitador era muito mais fruto da Imaginação das pessoas do que algo de fato Ou talvez fruto de uma de discursos protetores que muitas vezes só servem para reforçar ideia de que o nosso lugar I ficar presas e em gavetas ou em cofres com a chave fora maravilhoso Bruna bom Tamara você falou agora eh que enfim tudo que você conseguiu realizar é um privilégio seu e de um grupo muito pequeno de pessoas né então Eh eu isso tem tudo a ver com a minha pergunta eh você já
saiu do país várias vezes e não só você também se já se formou você se formou fora do país também né fora do Brasil na França e então você é uma pessoa que tem acessos e tem conforto também tem uma família que te ama que te apoia E aí eu queria saber por que para esse projeto Você escolheu o desconforto porque você sabia que ia ser um desafio né que teriam muitos riscos Então eu queria saber por que essa escolha consciente Por que que você fez essa escolha conscientemente acho que eu escolhi o desconforto porque
eu pude escolher eh E também porque acho que eu quis eh eu acho que existe uma espécie de de prazer que a gente encontra em aprender eh em em ter que se preparar para ser capaz de algo para o qual a gente ainda não está preparado quando a gente decide eh fazer né Eu quando comecei a preparação para viagem nunca tinha tocado numa arma de fogo nem contava tocar na minha vida eh eu não sabia pescar eu não sabia eh me injetar em injeção não sabia costurar minha pele não sabia costurar nem minha vela não
sabia um monte de coisa não sabia reparar o meu motor eh não sabia tanto de elétrica quanto eu sei hoje ainda posso aprender muito mais eh mas eu acho que quando a gente decide fazer um projeto muito ambicioso em certa medida eh o projeto já vale só pelo fato da gente ter que ser mais e ter que ser melhor para conseguir chegar lá eu acho que ao longo do processo eu aprendi tantas coisas que se por acaso a viagem desse errado e eu não saísse do porto nunca já teria valido a pena pelo por tudo
que eu aprendi Eu também sabia que como como ia ser muito perigoso eu precisava eh de eh de conselhos de outras pessoas eu precisava aprender com os erros dos outros e com isso Eu me autof forcei a falar com pessoas com as quais eu não teria coragem de falar se eu não sentisse que minha vida poderia depender disso eh eu acho que também isso mudou a minha relação até com o meu pai porque eu comecei a me colocar muitas vezes no lugar dele como meu pai deve ter sentido quando ele passou por esse processo anos
atrás num Brasil que é e num tempo antes do meu então ele não teve acesso à referências que eu pude ter ele não teve nem acesso à própria referência de como teria sido a viagem dele que eu pude ter Então já foi um avanço a mais eu acho que existe uma espécie de prazer nisso em em ter que ser melhor eh do que a gente é quando a gente decide maravilhoso com isso então a gente fecha o primeiro bloco do Roda Viva vai para um rápido intervalo e volta já já com mais Tamara [Música] clink
cultura que aproxima Bradesco [Música] estamos de volta com Roda Viva que hoje recebe a navegadora e escritora Tamara kink no bloco anterior você falou um pouquinho de Privilégio Hoje em dia a gente tem aí o conceito dos neple babies que são os filhos de pessoas de celebridades que erdam alguns privilégios mas a sua história não foi exatamente assim seu pai não prontamente te eh incentivou te estimulou a seguir os passos dele ou as jardas ali dele e e você teve que trilhar um caminho meio de tentativa e erro nem sempre contando com essa aprovação eu
vi que no primeiro bloco você citou o Amir que já esteve nesse centro duas vezes tá ali na audiência privilegiadíssima da gente você citou ele três vezes queria entender essa relação hoje em que ponto vocês estão Air é sua grande de referência isso eu já vi mas hoje em dia ele ele incentiva apoia ou ainda é um alguém que olha de longe e deixa você fazer do seu jeito você responde podia ter microfonado meu pai eu acho não e eu acho que ele torte para não morrer em primeiro lugar que bom noss também eu acho
que se eu fic pensando assim às vezes nossa se a viagem tivesse dado errado e se por acaso eu tivesse tido um acidente Será que ele I falar assim ah é o processo da vida ou ser Elia quera falar ah me arrependo de não ter ajudado ficava pensando assim para para se pensar né pai para se pensar depois é eh mas eu acho que foi muito Libertador para mim quando eu tinha sei lá uns 12 anos e eu pedi ajuda pro meu pai para preparar minha viagem eu pedi o barco emprestado e ele disse não
ele disse que ele me ajudaria com zero centavos zero contato zero conselhos fazer assim zero zero zero e aí eu ficava fiquei meio assustada f pensei bom se meu pai não vai me ajudar eu preciso achar outra pessoa que vai me ajudar aí eu fui atrás dos livros li muito por causa disso depois eu fui pra França e para mim estar longe de casa não era um problema porque eu sabia que na minha casa não ia ter conselhos e acho que de certa maneira me libertou e me fez ganhar muita energia Eu vejo muitos amigos
e da minha idade ou um pouco mais velhos às vezes um pouco mais novos que ficam torcendo para até aprovação do pai que brigam com o pai porque o pai não ajudou porque o pai não me apoiou porque o meu pai não quis e eu acho que foi muito bom para mim ter ouvido não porque eu não perdi esse tempo porque eu não precisava eu não eu não contei com isso e de certa maneira o fal dele ter me dito não foi ainda acho que um um G me deu um gás maior de de tentar
achar meus próprios caminhos quando ele falava assim ah você quer ir então tá então Boa sorte então boa viagem me avisa quando o barco estiver pronto me avisa quando você tiver chegado e era só isso e f Então eu preciso ir atrás eu preciso fazer eu preciso dar um jeito você tá falando isso é porque que deve ser possível senão ele estaria falando não faz não faça e esse nunca ouvi do meu pai esse esse não faça eu nunca ouvi só não zero ajuda maravilhoso vai lá Isabela Tamara você falou sobre a possibilidade de morrer
né você caiu na água e foi difícil você você sair mas você conseguiu e eu imagino que passou um filme na sua cabeça nesse momento mas se desse um outro problema um problema enorme você tivesse uma pend City na Groenlândia o que que o que que você faria você tinha um plano b você tinha que recorrer você poderia ter feito algo Ah eu fiz uma conta quando eu escolhi o lugar da invernagem era quantos dias levaria para eu ir esquiando até o vilarejo mais próximo então isso contou nas escolhas de lugar ao mesmo tempo eu
queria estar isolada eh mais tarde quando naveguei até o norte norte norte da Groenlândia o nú Vilarejo é depois da viagem eu vi que isso também não era algo muito pertinente porque e muitos vilarejos da Groenlândia tudo que eles têm como acesso a a a médico atendimento médico é um telefone uma pessoa do Vilarejo tem um telefone com o qual ela pode ligar para uma enfermeira eh e essa enfermeira pode ligar para um médico que fica a dias e dias de distância então eu fiquei numa casa eh de um caçador de ursos com a esposa
dele a gente ficava e limpando as focas a gordura das focas para esticar as peles e tinha duas crianças na casa que passavam um dia jogando videogame um com o outro pelo celular eh e aí ficava meio assim assustada pensando Nossa até aqui na Groenlândia as crianças el não fazem mais nada ficam o tempo inteiro no videogame e E aí o pai me mostrou o vídeo da caça deles durante o inverno caça aos ursos onde essas mesmas crianças estavam vestidos inteiros com pele de urso cada um carregando o seu próprio fuzil e cada um no
seu próprio trenó de cachorros guiando os cachorros e eh andando e dias e dias com esse cachorro acampando no debaixo das tempestades de neve no dia escuro assim como eu imaginava que os inuits viviam e como a gente via nos filmes né que os inuit viviam milhares de anos atrás e tudo isso coexistia e e uma dessas crianças tinha tido um problema ali estava jogando futebol chutou uma pedra e tinha quebrado o joelho o helicóptero de primeiro socoro estava quebrado então levou três semanas pro helicóptero ser consertado quando o helicóptero veio e levou ele para
um hospital já estava cicatrizado e lá estava ele de muleta e assim ele a ficar até quem sabe ser consertado os pescadores com quem eu convivia toda vez que tinham dor de dente arrancavam dente Então muitos pescadores não tinham mais dente com 30 anos e era isso era a parte da cidade da vida lá eh cidade é o cidade cidade deles né que é bem diferente na nossa cidade aqui mas não tão diferente assim eh por outros motivos mas eh Então eu acho que eu aceitei mais assim o esse essa possibilidade de de problemas de
repente ter uma infecção era o que não era tão eh chocante assim eh eh aceitei mais que as coisas podiam dar errado e e isso faz parte da vida acho que tem muita energia que a gente a gente né coloca em em estar sempre protegido eu tive um cachorro durante 10 dias que eu queria levar como alarme de urso depois vamos ref falar que eu tô fazendo respostas muito longas aqui qu coisa daqui a pouco você fala maravilhoso ca mas esse cachorro a onde esse cachorro eu tive quando quando eu cheguei lá todo mundo me
falava assim é muito bom levar um cachorro porque ele serve de alarme de urso e você vai ficar muito sozinha então é bom ter um uma um outro outra entidade um ser vivo com quem ter companhia e durante 10 dias eu fiquei com cuidando desse cachorro que eu dei o nome da cidade e Luli é apelido luuli é e eu fiquei cuidando lá da Lui eu fiz uma caminha para ela era ela era um filhote e e e aí eu liguei pros veterinários né no Brasil lá na Groenlândia mesmo uma dinamarquesa e perguntei o que
que eu levo o que que eu faço e se tiver um problema e eles falavam não leve não tire um cachorro bebê de perto da mãe não tire ela de um lugar onde pode ter veterinário Porque se ela tiver que fazer uma transfusão sanguínea O que você vai fazer e disse mas se ela tiver que fazer uma transão sanguínea eu não posso fazer isso nem em mim mesma muito menos no cachorro então não leve ela é muito perigoso você não vai conseguir eh socorrer ela e ela pode ter muitos problemas e aí você está tirando
dela a possibilidade de ter uma vida é feliz com outros cachorros de trenó como ela você vai atrapalhar o desenvolvimento mental do cachorro isso é péssimo aí eu me sinto tão culpado assim por em algum momento ter pensado em levar ela tirar ela do lugar dela achando péssima e dois meses depois eu recebo na no meu localizador lá eh eu consegui receber esses e-mails que era tudo tudo que eu tinha como comunicação eram esses e-mails em um endereço onde só as pessoas próximas tinham acesso e e minha equipe técnica e eu recebo por e-mail a
notícia de que esse cachorro morreu com dois meses ele tava lá junto com a aninhada dele tinham eram nove cachorros no total e do lado de onde ele ficava tinha um outro time de cachorros de trenó um cachorro um pouco maior mordeu ela até matar morreu e é isso não dá para prever muito e aí eu pensei que eu eu pensei tanto nos perigos de ir e eu não pensei nos perigos de ficar Tamara e uma você disse aqui que os livros são uma válvula de escape durante as suas as petições né e na invernagem
você citou em uma entrevista que as caminhadas eram uma também era uma vva de escape eu queria saber como eram essas suas andanas no gelo elas eram questão de sobrevivência de prazer e como era fazer parte daquele ambiente tão inóspito assim como você você se sentiu parte aquele ambiente ão tão inóspito que não é convidativo eu eu diria que nem os livros nem as caminhadas são válvulas de escape eu acho que eles são a vida acho que o resto é o escape eu quando eu tava caminhando eu sentia um absoluto prazer e eu sentia que
a minha vida já valia a pena só por estar caminhando e que era para isso que ela servia era para eu me levar para onde eu queria ir e para onde eu conseguia ir só com as minhas pernas eh os livros também já eram o prazer já era o destino final não era o meio para chegar em um outro lugar eh eu sinto que talvez até ao lugar da literatura hoje eu acho que escrever livros é até Idealista hoje porque leva tanto tempo para se ler um livro e E cada vez que eu assino um
livro eh de um leitor eu vejo que um leitor publica uma foto de um trecho na internet me sinto muito privilegiada que alguém dedicou essa atenção tão concorrida para ler aquele livro com palavras e letras numa folha branca que você tem que carregar ainda por cima algumas pessoas aqui tem até Liv você tem que carregar aquela coisa que ocupa um espaço enorme você tem que ter uma bolsa para por dentro que não cabe no bolso eh e talvez porque a literatura tenha perdido esse essa posição de de destino final e tenha virado um meio para
outra coisa um meio para você poder conversar sobre algumas assunto para poder aprender alguma coisa para poder ser diferente acho que eh ela já serve por por existir por dar essa oportunidade de você imaginar coisas e criar na sua cabeça e lugares que só existem em você e a caminhada também não é não era uma maneira de sei lá perder peso ou de encontrar alguém ou de chegar emum lugar era só era só aquilo era só o caminhar e isso já era o suficiente diga Beatriz Tamara Em alguns momentos da sua viagem você precisou seguir
seus instintos né Principalmente quando você cita no livro noss O que aconteceu em Cabo Verde né que nos documentos que você tinha dizia que a cidade já estava chegando e você não via terra nenhuma nada tava perto eh como você aprendeu a confiar no invisível Você tem algum tipo de religiosidade isso funcionou de alguma forma para você e porque a cidade por exemplo nesse caso ela não mudou de endereço mas você não via eh e você precisou confiar né em alguma coisa como foi isso como a gente confia nesse invisível todos os dias como é
que a gente abre uma tela de um celular vê uma notícia de um jornal e acha que aquilo é o que tá acontecendo de fato a gente já vive num planeta onde as nossas realidades são feitas de palavras e e ficções e trechos fragmentados e a gente recompõe eh com a nossa imaginação eh ou com os nossos preconceitos as lacunas entre as informações que a gente recebe eh quando nesse Episódio em Cabo Verde eu olhava pra carta náutica Eu sabia que eu devia est perto da cidade e eu não via por porque não aparecia porque
talvez o lugar tivesse se perdido porque talvez o mapa tivesse sido errado Eh e e Demorou muito para abaixar as nuvens eu começar a ver os passarinhos e ver pelos passarinhos que a terra não devia estar longe porque eles tinham asas muito curtas e e e muito largas para serem pássaros pelágicos eh e Eu segui em frente aceitando que talvez essa terra talvez não existisse ou talvez eu passasse por ela sem perceber que ela estava lá eh e mas existe um prazer enorme em Navegar eh e estar num ambiente onde os perigos eles são Concretos
e são visíveis eh e teve esse pequeno Episódio onde a terra tava invisível mas mas não era que ela tava invisível era simplesmente que eu não conseguia eh ver e que a carta não batia mais tarde na Groenlândia As cartas não batiam quase nunca eh tinha vários lugares onde dizia que havia Ilhas e as Ilhas estavam deslocadas em alguns lugares a carta dizia que havia Terra porque quando a carta foi feita quase 100 anos atrás existia uma grande geleira que já derreteu eh e agora é água eh E eu simplesmente era eu simplesmente agia e
acho que não é muito diferente do que a gente vive no nosso dia a dia eh quando a gente está quando a gente desliga o nosso telefone e e está no mundo real Bruna eh entrevista ao Trip FM o programa da revista Trip você disse que escolheu enfrentar o período de invernagem no Ártico para descobrir a verdade com v maiúsculo então que verdade é essa com v maiúsculo que você descobriu lá você descobriu o qu E você também disse que eh você queria ser só um ser humano sem gênero sem nome sem sobrenome você queria
enfim eh viver essa experiência então eu queria saber quais verdades com v maiúsculo você descobriu nesse período e quem é a Tamara quando ninguém tá olhando quando quando você não tem nome não tem sobrenome não tem gênero queria que você comentasse um pouco Ah acho que eu descobri muitas coisas estando lá mas acho que como eu também disse nessa entrevista vista assim eu não precisava ter ido para lá para descobrir essas coisas eu não precisava ter ido para lá para descobrir que eh que a A vida é curta que ela acaba não precisava ter ido
para lá para descobrir que eh a pessoa que eu sou não é a pessoa que que não é a pessoa que as que os outros imaginam que eu devo ser eh eu não precisava estar lá para eh descobrir que o meu prazer era muito importante eh eu não precisava ir para lá para eh para saber que eh eu sou principalmente os os meus limites eh e não as minhas capacidades que eu eu sou eh eu sou essas distâncias essas distâncias que eu consigo eh atingir com os meus dois braços eh que depois de andar por
alguns quilômetros as minhas pernas começam a ficar cansadas que se eu ando rápido a minha estar bem eh eu não precisava estar lá para descobrir que se eu quiser sair desse programa eu posso simplesmente levantar e ir andando e ir embora eh e tem muitas coisas que eu tenho vontade de fazer e que eu retenho eh porque não faz parte dos códigos acho que tem muitas coisas que eu descobri que nem cabem nas palavras e que as palavras são mentirosas porque a gente lê elas acreditando que elas eh São coisas que elas jamais serão e
cada palavra tem para cada pessoa um sentido Complet totamente diferente acho que para mim é como eh como se as palavras fossem ruas Ah não fossem casas em em ruas que ficam dentro de ruas e e elas dão acesso a algumas portas eh Só que cada um tem a sua própria Rua eh e por mais que eu dê eh as mesmas chaves para todas as pessoas elas só vão conseguir abrir as as portas das suas próprias casas e não da minha casa então quando eu descrevo a minha experiência quando eu falo até eh sei lá
o que é um urso polar o que é uma tempestade O que é o mar o que é o medo o que é a saudade O que é o pai isso nunca vai ter o mesmo sentido para mim que vai ter pras outras pessoas e então acho que o que as verdades que eu descobri foram principalmente mentiras di Tamara hoje a gente é bombardeado de informação né nunca se teve tanto relato de problema com a saúde mental justamente porque a gente recebe muito mais informação que a nossa o nosso cérebro tem a capacidade de reter
Então você tá vivendo aqui em São Paulo consumindo isso tudo de repente você tá ali sozinha você falou um pouco da caminhada queria que você falasse como que foi essa questão do tempo para você essas 24 horas onde ninguém fica te acessando Você não tem o WhatsApp você não tem as pessoas te convidando para fazer alguma coisa e principalmente Como que foi o seu sono nessa história toda aí foi muito bom eu recomendo para todos fazer uma invernagem no Ártico acho que é tem muita gente aqui que tá precisando eh era por mais que não
tivesse muitas informações assim na forma de textos escritos ou de falas de outras pessoas eu tinha muitas informações esse tempo todo muito mais do que eu conseguia reter e no céu e nas estrelas nas auroras boreais e na mudança das das nuvens Que indicava mudanças no tempo eh nos meus próprios instrumentos né no meu relógio que indicava números que já não batiam mais com o que eu imaginava que aquela hora com a luminosidade que eu imaginava que aquela hora deveria ter eh e e tinha informações nos sons dos outros bichos nas nas patas que estavam
na Neve eh mas de certa maneira eu me sentia eh ativa e e e capaz e até valiosa para mim que acho que é ao contrário da sensação que eu tenho aqui na terra quando quando a gente acessa um monte de artigos o tempo inteiro aquele f aqueles fedos infinitos e a gente se sente cada vez mais inútil e cada vez mais sem valor para nós mesmos de repente começa me comparar com sei lá pessoas que não se parecem comigo pensando ah será que eu deveria ser daquele jeito eh ou vejo pessoas falando coisas inteligentes
na internet penso Será que eu deveria ser tão inteligente assim eh Será que eu tô atrasada em relação à minha geração eh Será que eu tô adiantada demais Será que eu não faço parte ou que eu faço parte Enfim acho que eh é isso que essa foi a sensação que eu tive assim depois de de tá que algo algo tinha se perdido e quando você fala sobre o sono eu Teve teve uma mudança assim de períodos de sono muito extrema eu passei de dormir de 20 20 minutos durante a travessia do Atlântico entre a França
e a Groenlândia Uhum que para mim era ok Porque na Travessa do Atlântico que tá no livro nos né entre a Noruega e o Brasil foi a mesma coisa só que dessa vez tinha icebergs no meio do caminho eh então quando eu comecei a entrar na zona dos icebergs 20 minutos começou a aparecer muito e aí de repente tinha que diminuir os períodos de sono para cinco é ou para quatro ou para zero e passar di sem dormir e ficar desesperada tem Alucinação começando a ver árvores no meio do mar e ouvindo vozes de pessoas
eh ouvindo voz da minha mãe lavando a louça e e eu falava assim não vou acordar agora porque eu vou deixar ela lavar a louça se eu acordar ela vai parar de lavar a louça então eu vou ficar aqui mais um tempo e de repente era o medo que me acordava falou assim Tamara você precisa acordar porque senão você vai morrer porque umberg vai bater no seu barco e e já era vai ser Titanic dois e aí eu acordava e era o medo que me salvava e quando eu cheguei no lugar da invernagem e que
o mar congelou ao redor do barco é e de repente eu não tinha mais nada que eu podia fazer para impedir o vento de aumentar ou para impedir é o gelo de bater contra o barco foi uma espécie de grande alívio também porque eu comecei a poder dormir muito tempo e eu tava exausto mesmo então tinha noites que eu dormia assim 14 horas direto eu não sabia mais se era de manhã ou de noite porque o tempo todo ficava escuro né tinha só vai uma hora de uma espécie de microc claridade no horizonte aquilo era
assim meu meio-dia e E aí depois essa microc claridade desapareceu e era tudo uma grande penumbra ou uma grande ES E aí eu podia dormir o tempo que eu quisesse E se eu acordasse ia ser bom se eu não acordasse ia tá ótimo E agora eu valorizo mais o sono cabe mais uma nesse bloco quem vai posso fal vai lá eu pode ir isab tá estava falando sobre acesso a informação e como que era você tava lá você ficou sabendo de tragédias climáticas que estavam acontecendo aqui no Brasil tipo as chuvas do Sul e como
é que foi para você saber disso você tinha alguma noção do que tava acontecendo enquanto você estava no meio da natureza lá ah quando eu aí tinha guerras acontecendo eu sabia mas eu não recebi nenhuma informação e até pras pessoas as únicas pessoas que conviviam comigo que a maior parte tá aqui dentro dessa sala né que é a minha família mas também eu tinha contato direto com a Maria clabin uma amiga e com a Cecília Pompeia que fazia as publicações nas redes sociais e por mim e quando chegou nessa época e das chuvas né no
Rio Grande do Sul e a cicília abriu uma sessão e ela compartilhou comigo as notícias ela contava o que estava acontecendo para mim foi muito impressionante porque parecia tão fictício ou mais fictício do que os livros que eu tava lendo na época que eram livros de ficção eh foi muito impressionante e muito injusto eu achei Porque como podia eu que escolhi correr perigo que escolhi estar exposta a eventos climáticos extremos estar em mais segurança do que as pessoas que estavam vivendo as vidas delas normais e em Porto Alegre e eu fiquei revoltada que não era
para est conendo isso e ao mesmo tempo eu olhava ao redor E assim eu tinha passado o percurso inteiro ouvindo Eh da boca das pessoas que eu encontrava pessoas jovens eh porque as geleiras eram muito maiores antes os iceberg estão cada vez menores eh porque a banquisa não vai mais tão longe quanto ela costumava ir a gente passava todos os invernos só eh se deslocando em cachorros de trenó e agora a gente vai de barco eh e e essas coisas estão todas conectadas Estão sim né e e e pro do outro lado eu olhava aquilo
e e assim me sentia até fria demais ou eh acho que de certa maneira muito eh sem antipática sem empatia porque quando a Cecília falava assim Tamara tem muita gente morrendo tem tem eh filas nos hospitais e hospitais cheios d' água e não chegam medicamentos e e tem um monte de gente se reunindo para tentar ajudar eu olhava e falava assim tá mas mas vai ficar pior porque esse é o rumo que a gente tá escolhendo pro nosso planeta antes de começar o programa a gente viu a propaganda da Shell defendendo eh falando que amanhã
é energia de combustível fóssil Esse é o futuro que a gente tá escolhendo a gente acabou de ver o resultado da cop então eh eu me senti assim nesse lugar e falava para C acho melhor não comentar nada agora né vou voltar pr pra minha comunicação eh inspiracional encorajar adora poética a não vou falar sobre o que eu penso mesmo e o que eu sinto vem daqui o que eu vejo ao meu redor porque eu acho que tem coisas que que tem tem ficções que a gente prefere continuar reproduzindo porque as verdades são muito duras
Mas elas chegam e eu acho que é quem estiver mais pronto a aceitar essas Verdades e as preparar é quem vai ter melhores condições de salvar mais vidas e por mais que seja muito difícil enfim é nessa altura do campeonato é fazer todo mundo mudar o sua forma de consumir de agir de existir no planeta eu acho que enquanto ainda há seres humanos eh ainda vale a pena eh fazer o que a gente pode para descarbonizar né assunto parece tão Óbvio Mas às vezes não para descarbonizar para reduzir as emissões de todos os gases do
efeito estufa é e não apenas né parar de jogar plástico no mar parar de Enfim fazer embalagens que vão durar muito mais do que a espécie humana essas coisas né maravilhoso conheci então a gente encerra esse bloco e volta já já com mais Tamara clink no Roda [Música] Viva cultura que aproxima Bradesco [Música] estamos de volta com Roda Viva que hoje recebe a navegadora escritora Tamara clink queria falar justamente sobre a escrita agora entender Em que momento ela se insere nessa sua rotina quando você tá ou eh navegando ou ancorada hivern se todo dia você
tem uma rotina de escrever se você tem uns insights no meio da noite anota para não esquecer e como é que vem isso e os vídeos também porque tem toda uma parte de preparação da viagem que foi deixar os vídeos pra sua avó que foi uma maneira de você fazer um diário de viagem se comunicar com ela tinha também as cartas para você mesma como se fossem mensagens na garrafa em que você imaginava o que estaria acontecendo queria entender essa parte da comunicação como ela entra na preparação da viagem escrever é primeiro uma necessidade acho
que uma necessidade de poder de alguma maneira criar um diálogo interno e eu sei que eu preciso escrever quando eu não quero escrever que eu tô querendo esconder de mim mesmo alguma coisa assim então quando eu tô com com pouca vontade de escrever quando eu mais escrevo e às vezes eu consigo me reter e não escrever e e geralmente é quando eu percebo que tem alguma coisa que eu tô tentando pôr debaixo do tapete Então acho que é também uma ferramenta é de eh de tomada de decisão de tomar consciência sobre algumas coisas eh e
eu também escrevo pros outros mas aí é um outro um outro jeito de escrever é um outro é um outro texto é um outro tipo de eh de linguagem até Ah que é uma linguagem muito menos autorre referenciada onde eu explico coisas que para mim parecem óbvias onde eu tento me colocar no lugar de das outras pessoas é um que para mim é meio uma acho que uma brincadeirinha assim que eu faço uma espécie de fantasia eh como se eu tivesse eh me me me auto colocando no lugar de uma personagem eh então tenho esses
mútiplos diários esse diário pros outros diário para mim e eu tenho um diário de sonhos também e eles são fisicamente separados sim hum são diários diferentes em lugares diferentes e tem o diário dos sonhos e esse diário dos sonhos é no meu celular porque se eu tento escrever o sonho e de manhã quando ainda tô meio sonolenta e começo a procurar caneta e caderno aí eu me perco então eu pega o telefone que já tem a luz própria dentro dele não precisa pegar caneta e aí eu tento anotar o sonho mais rápido que eu posso
e eu vi ao longo da viagem Que esse diário de sonhos ele acabava também trazendo muitos assuntos e e questões eh que não tinham das coisas não tinha consciência ainda então no começo eu via pelo Diário de sonhos que eh eu ainda questionava se eu tinha feito uma boa decisão do lugar quando para mim no meu diário normal eh pessoal eu achava que a decisão tinha sido boa mas no nos sonhos par sempre alguém dizendo você tomou a decisão errada ou de repente no lugar onde eu tava começava a construir uma cidade ao Meu Redor
e ou aparecia um barco do lado que eu detestava ou meu barco afundava e eu tinha que me mudar ou aparecia uma bifurcação e no final da viagem eu vi nos sonhos que eu ainda não tinha me dado conta que a viagem tinha acabado e que eu tinha feito ela porque eu começava de novo a encontrar pessoas que me aconselharam no começo e e eu perguntava para essas pessoas mas quantos metros de corrente você acha que eu preciso levar mas você acha que Eh tudo bem usar só o gerador eólico para fazer energia eh energia
elétrica Eh mas você acha que esse essa quantidade de comida foi suficiente e E se eu precisar tirar um urso o que eu faço então eu começ continuava a questionar e depois eu precisava lembrar calma Tamar Você já fez a viagem agora você que pode contar Quais foram as decisões que você tomou E como foi se algo fez falta ou não eh e eu percebi também que no fim da viagem eh com esses outros diários que que eu fazia pros outros e também com os e-mails que eu troquei porque tinha também essa correspondência que eu
fiz eh eu eh escrevia coisas eh que de certa maneira o fato de escrever apagava a minha lembrança daquela coisa e a e as lembranças se tornavam aquelas palavras que eu tinha posto então era como se Os Diários pros outros roubassem de mim Eh a sua experiência vivida a experiência vivida e Minha experiência vivida virava aquelas palavras acho que hoje Ler o livro eh os livros livos que eu fiz sobre as viagens anteriores também é isso eu já não a partir do momento que eu termino de escrever e eu já não lembro mais o que
foi se lembro daquelas palavras que eu usei acho que esse é o meu medo agora escrevendo o livro dessa última viagem é de de roubar a experiência que não vai voltar quando o livro for escrito e essa narrativa tiver terminado uau diga eu gostaria que você narrasse a sua experiência de de quase morte até o momento que você decidiu sair um pouco do scpt e ligar pro seu pai E como que essa viagem te levou o limite se se ela te levou ao limite físico essa invernagem acho que estar lá também era era imaginar os
limites torcer para não encontrá-los e poupar o máximo que eu podia eh então no momento onde todo mundo me diz ah você vai est lá sozinha então Eh como você não vai ter nada para fazer tenta fazer exercícios tenta tenta fazer flexão semra abdominal pol chinelo para manter sua força física e eu tava sempre numa lógica de economia de não não não vou fazer isso agora porque pode ser que eu precise dessa energia daqui a pouco a qualquer momento e eu sabia desde o começo que um dos grandes perigo seria cair na água ah porque
se a gente cai na na água a água é muito fria e a gente pode ter hipotermia muito rápido Além disso E se a gente cai no meio do Gelo a banquisa é Lisa em cima então é difícil a gente conseguir se arrastar para fora e e antes de eu perguntei pros locais né os groenlandeses qual era a ferramenta que eles usavam para andar em cima do Gelo me falaram sobre o toque que é como um pedaço um cabo de vassoura Comprido com uma lâmina na ponta eh eu fiz meu toque eh para levar lá
eu tinha dois e era essa ferramenta que eu usava quando eu tava lá para fazer furos no gelo media a espessura e saber se o gelo tava firme então eu me sentia de certa maneira eh segura por isso e acho que a segurança também é algo que a gente vai conquistando aos poucos e que às vezes a gente não deveria eh eu fui aos pouquinhos me sentindo muito autoconfiante eh nem aparecia mais nem nos meus diários para mim nem nos e diários de sonho nem nos diários pros outros a sensação de perigo eu me sentia
muito mais segura lá do que eu jamais tinha me sentido e aqui em São Paulo onde eu sempre andava olhando para trás para ver se tinha alguém me seguindo onde eu atravessava a rua se aparecia alguém no escuro onde tinha ruas caminhos que eu não tomava e com medo de de ter alguém ou com medo de ter alguma coisa estranha e lá eu não tinha isso eu simplesmente ia ficava atenta com aos barulhos é ficava atenta aos animais e carregava o meu fuzil e sabia que se viesse um urso eu poderia usá-lo esperava que não
mas poderia usá-lo Ao menos para assustá-lo eh quando em São Paulo a gente não anda com arma too caso espero que ninguém ande aqui eh e eh quando isso aconteceu bom eu não esperava claro né eu saí do meu barco feliz estava pronta para mais uma caminhada como todas veas que eu costumava fazer todos os dias eh e e eu estava andando no gelo medi bem a espessura para ter certeza que estava firme longe do barco eu tava a 2 Km do barco eh e aquela aquela tarde tinha tido uma Maré mais alta do que
o normal eh Então as bordas do Gelo tinham sido eh tinham sido invadidas por água então as bordas estavam molhadas as bordas da placa onde eu vivia eh então gel Tava um pouco mais mole um pouco mais fino também eh e aí eu fui procurar a passagem que que era parecia ser a mais firme de todas vi que não tinha muito elas estavam sempre meio moles na borda mas vi que tinha um pedaço de gelo solto pensei tá vou pular nesse pedaço de gelo solto e de lá eu pulo para um outro pedaço de Gelo
e de lá eu pulo pra terra aí eu medi o gelo antes com meu cabo de vassoura comprido e vi que tava firme pulei na hora que eu pulei ele quebrou embaixo do meu pé e eu cai na água e eu pensei bom isso era tudo que eu queria que nunca acontecesse mas tá acontecendo o meu maior peso está acontecendo não tenho tempo de pensar em morrer não tenho tempo de ter medo eu vou simplesmente fazer tudo que eu puder para sobreviver e eu só me concentrei todas as minhas as menções possíveis em sair dali
E aí eu ficava tentando fazer furos no gelo e não conseguia escorregava Porque o gelo era liso em cima e eu fui procurar um lugar onde Gelo Era mais podre E aí eu vi e que tinha lugar onde Gelo Era mais podre onde tinha uma espécie de pedra e o gelo em cima era como se fosse uma massa folhada Então tinha várias camadinhas E aí lá eu tinha mais aderência e conseguia fazer os furos e eu fui fazendo E aí centímetro por centímetro fui me arrastando e eu conquistava mais 1 cm mais 1 centímetro mais
1 centímetro E aí aos poucos eu fui subindo subi em cima dessa pedra Quando eu olho ao redor tem tava que nem aqui assim tinha 1 m e pouco de água em todos os lados e de uma de um canto tinha um paredão é com gelo liso com verglas e e eu pensei como é que eu vou fazer agora porque ou eu pulo na água de volta e tento subir de novo na banquisa que eu não tinha conseguido subir ou eu tento escalar esse paredão pulando que nem um gato esse 1,5 M que me Separa
da parede e de alguma maneira tentando me segurar onde dá aí eu lembro do meu to o cabo de vassoura ele tava quase mergulhado assim sobrou isso aqui fora d'água puxo ele ah aí consigo usar ele para fazer como se fosse é umas prises como se fosse como se chama aquel negócio de escalada o picareta não não as ranhuras né aquelas ranhuras inhas as Pedrinhas lá façam uns buracos para poder segurar tu E aí eu P quei um gato e aí eu comecei a escalar escalar escalar escalar escalar escalar escalar escal até at é que
eu vejo que eu Tô escalando na horizontal e aí eu me sinto segura para andar que parece que os humanos foram tem pernas são bípedes e E aí eu vou andando e a de repente penso Nossa Que dia bonito amanhã deve aparecer o sol aqui finalmente depois de mais de 100 dias sem ver o sol Nossa que como tá tudo muito bem e aí eu me senti muito confortável tirei as botas tirei as meias comecei a tirar água de dentro das meias tirei água de dentro das Botas vi que a calça tava molhada penso Ah
será que eu tiro a bota tiro a meia e aí a calça para tirar água e depois eu penso assim nossa mas quando eu saí do barco o termômetro indicava menos 26 não era para eu estar tão assim confortável E aí eu penso que tem algo meio estranho e aí eu lembro da imagem do meu balde de xixi porque toda vez que eu enfim fazia meus defeitos e eu punha o balde para fora e aí em poucos minutos congelava aquela água e pensava vai acontecer com a minha calça o mesmo que acontecia com aquele com
a água do balde e depois aconte mesma coisa com a minha perna e com as minhas Botas e eu não vou conseguir voltar pro barco e aí eu decido ir pro barco e aí eu vou meio rapidinho assim o mais rápido que eu posso Porém sei que ser rápido demais senão ia transpirar ia cansar enfim asas coisas que a gente tem que pensar quando faz muito frio é E aí eu vou andando meio rapidinho rapidinho rapidinho pro em direção ao barco aí eu pulo que nem uma baleia em cima da placa de gelo para distribuir
muito a minha força peso e fazer pouca pressão e E aí eu me coloco de pé vou até o barco quando chego no barco eu sento tiro as roupas que estavam já congelando e penso e agora e a eu não saia muito o que fazer e eu me questiono se eu tô viva ou se eu morri e meu corpo ficou lá e a minha alma veio andando e é por isso que eu não sinto frio nem dor nem medo eh e não tinha ninguém ao meu redor para dizer não tá tudo certo tá tudo tranquila
olhava ao redor E tinha tudo tinha a mesma cara que tinha quando eu saí e só que eu não sentia mais nada e E aí eu pensei bom acho que eu preciso falar com alguém e E aí eu tinha e nesse aparelho iridum a gente conseguia fazer ligações eram ligações curtas e e quase nunca funcionava era porque minha avó detesta esse negócio ela falava que eu devia ter investido melhor nos sistemas eu escolhi o sistema que tinha ligação ruim justamente para não não ter não poder usar só só poder usar em casos de muita urgência
enfim fiquei um pouco arrependida nesse momento mas eh usei esse aparelho eu tinha direito a 10 minutos de ligação naquele mês e E aí eu penso assim quem a pessoa que vai ser racional direta que vai saber me reconfortar com poucas palavras em poucos minutos porque não vai dar para ficar tendo muitas muitos debates uma pessoa assim concisa aí eu ligo e aí começa a tocar ninguém responde aí eu perco lá dois minutos já aí eu ligo de novo torc tomara que ele atenda Tomara que elee atenda tomar que ele atenda e a alô alô
papai Oi morena Oi papai tudo bem sim tudo bem tudo bem aí sim eu caio na água mas eu sobrevivi ele bom não posso falar agora que eu tô entrando num avião e depois a gente você fala tá tchau aí sobrar lá aqueles minutos nunca jamais utilizados e essa é sensação de que bom pelo menos eu não devo estar morta porque eu acho que pessoas mortas não falam no telefone Diga lá Beatriz pra última do Bloco Eh bom aproveitando assuntos difíceis né Eh no seu livro nós tem uma passagem que você reflete como é bom
ficar sem camiseta no barco né E você diz abre aspas deve ser legal ser homem e fazer isso o tempo todo sem ter a impressão de estar cometendo um crime fecha aspas eh você parece ser muito consciente da desigualdade de gênero queria entender como que isso surgiu h em você e como essa desigualdade te afeta durante essas viagens eu não sei se tenho muita consciência o que eu sinto é que eu quando eu era menor eu olhava meu pai navegando e e os amigos dele que navegavam eu ficava questionando Será que eu posso fazer parte
desse grupo se eu não apareço com eles então acho que de certa maneira e a falta de exemplos ela rouba da gente a possibilidade de de itar ou de querer e foi só mais tarde quando eu comecei a ter acesso a livros escritos por outras mulheres que eu comecei a me dizer que talvez eu eu podia também fazer isso eu tive muitos privilégios eh e acho que o principal privilégio que eu tive eh de ser filha dos meus pais é de ter tido um Porto para onde voltar se tudo desse errado é por mais que
eu não tenha dito exatamente o que eu deveria fazer e nem tenha me emprestado coisas eh eu sempre soube que se eu naufragar mas conseguisse de alguma maneira chegar até uma Costa sobreviveu ia ter um um endereço eh para onde voltar uma casa então isso me deu a chance de de errar e de tentar que outras pessoas outras eh homens e mulheres eh e não apenas né outras pessoas não não tem não não tiveram eh mas eu também Vejo assim que nos relatos de viagem que eu li grande parte escritos por homens eh tinha muitas
lacunas assim temas que nunca apareciam né assim por exemplo eh os os discursos eh protetores que que falam e reforçam essa ideia que a gente tem que ficar e que vem na forma às vezes de de comentários bem intencionados pessoas que vão dizer assim eh ai Tamara se você eh for não fale para ninguém onde você vai ficar porque um homem pode querer quebrar o mar congelado eh e ir até você sabendo que você vai estar sozinha Só para te estuprar no seu barco e aí no momento onde eu deveria estar procurando Aliados eu vi
esses discursos que me diziam que era para eu desconfiar de todo mundo na hora que eu ia procurar um patrocínio técnico e pras roupas da viagem o diretor da marca falava falou né não são todos quer dizer não conheço todos né mas esse aí falou fez uma piadinha ai Tamara e assim é um prazer te vestir e Mas você sabe que eu sou muito melhor em despir mulheres do que inv vesti-las ou quando você é vai contratar um funcionário e ele te infantiliza ou ele diz que é uma vergonha trabalhar para uma menininha de 25
anos Eh Ou você vai contrata uma outra pessoa um amigo de um amigo e ele fala que ele só trabalha para você se você for pra cama com ele e esse tipo de coisa não aparecia nos livros que eu li não apareceu não apareceu n nos relatos que meu pai me contou de como tinha sido as Preparações deles quando ele estava preparando os barcos dele e mas que para mim eram extremamente eh cansativos porque Eu perdia muita energia com essas pessoas e com essas falas que seriam muito melhor investido na minha preparação no meu descanso
nas minhas despedidas perfeito com isso então a gente faz mais uma pausa volta já já com mais reflexões da [Música] Tamara cultura que aproxima Bradesco [Música] estamos de volta com o roda viv Quem pergunta pra Tamara agora é a Bruna Cambra bom Tamara no último bloco você falou sobre a energia que você desprendeu lidando com as violências os contatos violentos que você teve que enfim enfrentar o Mach e e todo esse lugar que o patriarcado coloca nós mulheres né Eh Se você fosse se você não fosse uma mulher branca eu acho que talvez você eh
lidasse com o triplo dessas violências e talvez nem conseguisse viabilizar o projeto né não conseguisse Patrocínio enfim eu sei que não é o caso você não é você é uma mulher branca mas criando esse cenário e pensando se caso você não tivesse conseguido e abrir essas portas e viabilizar o projeto você acha que você desistiria ou você continuaria tentando foram tantas as possibilidades e os momentos em que eu pensei em desistir que eu acho que eu teria desistido e eu acho que além disso assim só pensando além do que assim dos do racismo e da
desigualdade que a gente tem no Brasil quando eu cheguei na Groenlândia eu não me dava conta antes mas as pessoas que moram lá também são vistas de maneira muito inferiorizada eh pelas pessoas brancas colonizadoras que vieram da Dinamarca né então já existe esse racismo eh com os povos originários também na Groenlândia onde eles próprios têm muita dificuldade de eh se reconhecendo a própria identidade porque a identidade que lhes foi imposta é uma realidade que eh Coloca eles dentro da caixinha do folclore de os groenlandeses são inuites eh são os esquimós que é um termo pejorativo
eh que vivem em iglus O que é mentira eles nunca viveram emem iglus e quem fez iglus eram pessoas que estavam em viagem e que estavam sem tendas e sem trenós então eles usavam essa solução arquitetônica temporária para eh dormir ao longo das viagens mais longas eh ele a gente coloca eles numa posição de primitivos eh de pessoas sem educação eh de pessoas eh incapazes ou com eh conhecimentos eh muito rudimentares e sempre Associados eh à à terra e e ao passado e nunca ao presente eh os próprios eh eh visitantes que vê na Groenlândia
T dificuldade de associar os groenlandeses com pessoas eh que são pilotos de avião que são artistas que são médicos que são Engenheiros também e que podem podem querer isso e que podem querer não voltar pro lugar de onde eles vieram que podem querer não ser Caçadores e não ser pescadores ou que podem também ter acesso a bens eh de consumo caros que podem querer ter motor grande no barco que podem querer morar numa casa cheia de coisas supérfluas e eles podem querer também fazer turismo onde eles bem entenderem eh podem querer fazer turismo no Brasil
e tirar foto com eh quem eles quiserem eh aqui e com moças de biquíni na rua eles também têm direito a isso porque porque não teriam e eu acho que e existe essa dificuldade em reconhecer eles como como pessoas que também TM direito a ao prazer aos mesmos Prazeres as mesmas futilidades e aos mesmos erros também que a gente que a gente né me colocando na categoria dos brancos colonizadores eh tem aqui é claro quando eles lam olhavam para mim eles me viam como eh uma europeia mesmo que eu não fosse porque não tenho papel
eh de europeia então eu estar lá já era para mim algo eh que era mais do que eu poderia querer eh e e eles me viam como essa pessoa europeia colonizadora que tava ali impondo regras e eu passei a me ver também depois de um tempo quando eu cheguei eu olhava para eles como as pessoas que sabiam mais os marinheiros locais eh que sabiam mais que tinham mais direitos do que eu naquela terra e no final eu já não me via mais desse jeito porque eles me tratavam de com esse jeito eh que é o
mesmo que eles tratariam eh qualquer dinamarquês que estava lá a disse tudo isso porque eu me questionava Será que o que eu faço seria tão eh tão valorizado se eu fosse daqui se eu não fosse de Fora Será que eu teria direito a a ser chamada de Aventureira ou de corajosa eh ou de grande navegadora eh se eu tivesse nascido na Groenlândia num Vilarejo aqui do lado será que os groenlandeses também T direito a ser chamados de exploradores polares já que eles passam a vida inteira deles navegando no meio deess Bergs ou viajando longas distâncias
em cima de cachorro de trenó eh do mesmo jeito que eh os ingleses ou franceses que vêm aqui são chamados de exploradores polares e e valorizados por isso será que eles também teriam sido teriam recebido tantas oportunidades e tantos elogios quando eles voltaram e quando eu tava lá eu via que assim muitas mulheres Nunca nem pensaram em fazer isso porque eh a caça ou mesmo a a independência estar sozinha era um direito que não lhes foi dado porque elas sempre ouviram que elas eram fracas ou inferiores ou incapazes Então esse discurso também era reproduzido lá
mesmo num lugar onde as mulheres trabalham junto com os homens na preparação das peles e diga Isabela eh em você você gravou uma série de vídeos pra sua avó enquanto você estava agora na Groenlândia em um deles você conta que ela te apoiou eh na travessia do Atlântico mas que ela não apoiaria essa invernagem na Groenlândia pelo medo de vocês não se reencontrarem mas também pelo medo pelo risco de você desaprender a viver em sociedade eh você acha que esse risco ele é É verdade você acha que foi difícil voltar para pra vida normal eh
voltar a comer dormir conversar com muitas pessoas foi esquisito depois de tanto tempo sozinho Ah acho que do mesmo modo que eu aprendi a me adaptar a viver só eu também me adaptei a viver em grupo eh Talvez eu tenha ficado mais Sé com algumas coisas mais dura eh com algumas coisas algumas pessoas talvez eh e eh acho que eu valorizo muito mais estar com as pessoas que eu gosto eu faço menos questão de conhecer pessoas novas do que eu fazia antes talvez porque eu fiquei muito tempo e sem ver essas pessoas e nessa nessa
fala da minha avó também tinha a que implícita eh uma ideia que é a ideia de que a vida acaba para todo mundo em algum momento então que quando a gente tá perto eh quando a gente já é idosa muitos amigos morrem eh e eu acho que minha vó tinha medo que que algo acontecesse enquanto a gente estivesse separado e ela não entendia como eu poderia fo será avó como eu poderia querer eh estar sozinha se eu poderia estar com ela nesse tempo todo passar um ano só com ela eh isso era alo que ela
não entendia e acho que eh tava provavelmente eu também não entenderia se eu fosse um pouco mais velha eh hoje que eu já fiz a viagem eu tenho o privilégio de terminado e terminado viva e terminado bem eh eu acho que foi muito bom que foi é muito especial eu adorei ter ido mas eu sei que as coisas as melhores coisas que eu vivi lá são coisas que eu não presava ter ido para lá para viver é e e eu acho que eu entendo mais o que ela quis dizer porque quando eu volto eu tenho
mais vontade de de estar com as pessoas que são importantes para mim Márcio e eu olhando aqui você falando eu tô olhando pra sua família principalmente pra sua mãe e pra sua avó né E aí tem um olhar assim Claro muita admiração mas muito carinho né é uma coisa assim impressionante e você é movida a desafios né ninguém que não é movido a desafios faz o que você fez Você já pensou no seu próximo desafio sim tem vários assim acho que agora meu principal desafio é ficar em terra ess essa essa a resposta pros jornalistas
tá esse é o diário dos Jornalistas agora é o diário dos sonhos jornalistas sim meu maior desafio agora reencontra meus amigos Faz muito tempo e também escreveu o livro que tá dando muito trabalho esse livro novo e sim mas eu tenho outros desafios tanto que eu deixei o barco lá na Groenlândia né não levei o barco pro Brasil para outro lugar ainda para poder ter esse já esse ponto de partida bem definido pra próxima viagem então para quem está acompanhando acompanhe vai caber mais uma quem quem vaiando no assunto do barco entre a sardinha um
e a sardinha dois tem algum assim que você vai vai ficar com ele você vai adaptar para uma próxima Aventura qual que tá mais preparado para uma próxima Aventura is você poderia falar também das diferenças entre um barco que foi feito para uma travessia do Atlântico e um barco que foi feito PR para invernagem nem a sardinha foi feita para atravessar o Atlântico nem a sardinha dois foi feita para uma invernagem a sardinha um é um barco de fim de semana e na Noruega é um barco geralmente é o primeiro barco que as pessoas compram
para aprender a Navegar não é um barco feito para ir tão longe eh mas ela tem um casco muito espesso porque quem começa geralmente erra muito e foi o meu caso e e e provavelmente dos Barcos como ela que é um barco de série é relativamente antigo agora feito nos anos 80 deve ter sido um dos barcos que mais navegou e longe né ã mas ela não foi feita para isso em vários momentos da viagem eu percebi isso porque entrava muita água dentro do barco eh porque faltava um riso na vela mestre que eu acrescentei
depois para poder diminuir mais a área vélica quando os ventos eram muito fortes é então fiz algumas adaptações mas o pai ficou um pouco horrorizada quando ele foi na sardinha eh e eu eu já entendo mais assim agora que a viagem deu certo eu posso olhar para trás eu acho que se fosse para refazer eu provavelmente não refar a viagem desse jeito com esse mesmo barco do jeito que tava eh e a sardinha dois também não foi feita PR PR ir pro gelo ela é um barco de aço que foi feito porque o aço era
um material que o antigo dono sabia eh usar muito bem era o trabalho dele trabalhar com aço e e ele construiu esse barco no jardim da casa dele né Eh o Senhor jaqu lebert ele e a esposa Claudina e construíram Esse barco no Jardim para viajar em família talvez ir até a Inglaterra talvez atravessar o Atlântico quem sabe mas eles não planejavam eh ir pro gelo e quando eu comprei o barco eu tinha um pouco essa dúvida se ela ia aguentar ou não mas Ero barco que eu podia comprar com o dinheiro que eu tinha
naquela e que era um pouco limitado não era o orçamento ideal mas era um orçamento que dava para eu pelo menos comprar um barco um pouco antigo de aço e que era um material mais barato que alumínio e e eu sabia que se tivesse algum problema ia ser muito mais fácil arrumar pessoas para reparar um barco de aço que um barco de alumínio porque é um pouco mais fácil de fazer a solda enfim nenhuns barcos feitos para isso mas eu adaptei isso o risco do Gelo quebrar o casco quando ele mar congelasse Muita gente me
diz que haveria esse risco do barco ser esmagado mas nos relatos que eu tinha lido antes de outros navegadores que tinham ido para lá eles tinham usado barcos de Aço meu pai usou um barco de alumínio né mas eh o Geron poné e a Sally poné tinham usado um barco de Aço eh que acho que até era do mesmo arquiteto do barco que eu comprei eh o GK sudde um outro navegador tinha ido para uma Bahia muito próxima de onde eu fiquei com uma galinha inclusive eh e ele tinha usado um barco de Aço não
era também um barco feito para isso acho que a gente tem assim um talvez até é um mito eh de ou sei lá uma fantasia de que as pessoas que navegam nesses lugares eh tem todos os recursos possíveis disponíveis eh mas nas nos relatos de navegação franceses que eu tinha lido antes não era esse Não era essa a história a história Era muito mais sobre eh o que eu consigo fazer com o que eu tenho hoje como recurso e com as competências que eu tenho hoje aí a sardinha dois acho que a preparação dela foi
muito mais uma despreparada do que uma preparação eh eu quis que ela fosse o mais simples possível de ser reparada caso eu tivesse algum problema então ela não tinha chuveiro é o banheiro eu não usei não usei o toalete usei só é um balde porque era mais fácil resolver se tivesse um problema quer dizer balde não tem problema é simplesmente um objeto perfeito eu não vejo nenhum problema num balde se alguém aqui souber algum eh ouso né ouso a risco de dizer que não há eh e e ela era muito simples não tinha assim nem
aquecedor de água assim a água quando quando o mar congelou eu eu simplesmente ia lá fora buscava um pedaço de iceberg ou juntava Neve derretia e e fazia água para beber ou para cozinhar eu tomava banho com a neve que caía eu juntava toda derretia e e enfiava o pé num balde lavava um pé um dia outro pé outro dia um braço um dia o cabelo né O que mais tinha que levar porque aparecia nas fotos tava oleoso com caspo enfim eh eu me adaptei Nesse contexto e e eu acho que foi muito bom ter
um barco que era muito simples eh porque isso me dava também muita a liberdade de não precisar e sempre depender dos outros para resolver as coisas Muitas coisas eu podia resolver por mim mesma e na Groenlândia eu sabia não poderia contar com ajuda maravilhoso é isso a gente encerrou o penúltimo bloco do Roda Viva vai pro último intervalo e volta já já pra conclusão desse papo maravilhoso com a Tamara kink [Música] cultura que aproxima [Música] Bradesco Rod viv está de volta hoje recebendo a navegadora Tamara kink Tamara num dos belos textos que antecederam a sua
viagem você fazia uma comparação com os 9 meses da preparação dizendo que preferiu gestar uma viagem a gestar uma vida uma criança mas num outro depois da viagem você refletia que as mudanças climáticas talvez fizessem com que os seus filhos não conhecessem o mesmo cenário que você tava vendo ali queria saber se isso é um ponto de inflexão em relação à sua ideia sobre ser ou não mãe e o que que você pensa sobre essa coisa da Maternidade é uma você já disse eu não me vejo mais no amor romântico já desconstruiu vários desses papéis
de gênero queria saber para para você com a ligação que você tem com a família como é a questão da Maternidade eu acho que se eu decidi ser mãe em algum momento não será sozinha não será em Solitário não será em Solitário eu acho que é algo que demanda muita coragem e eh também muita capacidade de eh pensar no outro e nesse momento bom não estou nesse momento eh de pensar criar uma outra vida e abrir mão da minha por essa outra vida eh e acho também que a partir do momento bom Se eu por
acaso vier a decidir isso eu não poderei lidar com os riscos e com os perigos da mesma maneira que eu lido hoje acho que até assim existe uma pressa em fazer essas viagens e enquanto eu sou nova Nem sou tão nova assim mas é comparado com outros navegadores enquanto eu sou nova comparado com meu pai e porque eu sei que se por acaso um dia decidir ter um filho eh ou filha filho filha sei lá eh eu não vou poder mais ou pelo menos não vou conseguir mais pô minha vida em risco do jeito que
eu coloco hoje e enfim e aí pensando também na do ponto de vista climático eu não sei mais o que significa decidir e colocar no mundo uma pessoa que que vai viver um cenário muito mais catastrófico do que o nosso e acho que a gente tem que ser muito e acho que Otim na capacidade humana em e em se unir em prol de um objetivo comum que é o da nossa espécie e quando a gente toma a decisão de criar uma nova vida maravilhoso tá aberto gente diga már é você enfim com o seu feito
né você se coloca num lugar onde as pessoas param para te ouvir você tá escrevendo um livro Provavelmente você vai ser chamada para centenas de palestras Qual a mensagem que você gostaria de passar para essas pessoas que vão te ouvir que muitas vezes são pessoas umas que precisam enfim de uma palavra ali um conselho outras que são pessoas que decidem a vida de de milhares de de colaboradores que mensagem que que você pretende deixar você já tá deixando vai ah eu não sei se eu tenho uma mensagem a deixar eu acho que eh eu fiz
fiz coisas né Eu não eu não eh não alcancei palavras acho que eh a a mensagem tá nos gestos eh e não sou eu que vou interpretar Eh esses gestos não sou eu que vou eh conseguir colocar palavras né no que eu fiz eh tão bem quanto as pessoas que olham e que pensam e que eh que de certa maneira eh talvez [Música] eh se vejam possíveis que elas não vinham antes ou criem vejam novas referências que antes Elas não tinham acho que essa é a graça de ser navegadora é que eu não preciso Como
diz meu pai né vou aqui roubar uma frase do meu pai que eu não preciso criar metáforas né eu faço as metáforas existindo uma das mensagens é cuidar melhor do planeta acho que seria cuidar melhor primeiro da nossa vida acho que antes antes de falar da nossa espéci ou do nosso planeta cuidar melhor da nossa vida e dos nossos próprios e Prazeres dos nossos próprios sonhos dos nossos próprios eh amigos eh Isso já é algo muito grande de se fazer muitas pessoas nem conseguem eh fazer isso a gente eh tem uma atenção que é Tão
disputada pelas redes sociais que às vezes a gente não tem tempo de olhar para si pros nossos amigos Pro espelho eh e outra mensagem seria talvez é eh pensar que como como espécie mesmo a gente tem uma um uma luta grande eh para para vencer que essa de de defender o presente antes de defender o futuro né Eh antes de falar de de catástrofes que vão acontecer ainda a gente tem muitas catástrofes que estão acontecendo todos os dias Dias eh no Brasil eh com pessoas eh pobres eh negras eh meninos eh que são mortos por
Acidente ou por violência policial a gente tem eh muitas mortes no trânsito a gente tem eh muitas pessoas que não TM ainda acesso a banheiro em casa ou água corrente ou à saúde Então antes de falar do que vai acontecer porque o planeta eh vai entrar num colapso climático tem muitas coisas que a gente já pode fazer agora é que a gente deve fazer agora para defender essas pessoas eh que não tem o privilégio de ler livros ou de pensar no próprio prazer ou nos próprios sonhos uhum eh e e paraas outras pessoas mas eu
acho que assim não nunca vai ha uma mensagem final que eu possa transmitir uma pergunta muito difícil eh pegando o gancho da sua fala Eh você mostrou que é possível sim ser uma mulher jovem velejadora e você usa sua plataforma para falar sobre mudanças climáticas sobre machismo e sobre essas tragédias que acontecem todos os dias em sociedade né você percebe suas ações e suas falas como políticas e você pretende usar a sua voz e a sua plataforma para fazer com que mais mulheres tenham esse acesso eh a viagens e a sonhos que você teve acho
que a gente nós todos somos seres políticos eh e eu não sinto que assim eu as minhas meus textos são instrumentos para alguma coisa acho que eu escrevo sobre o que eu vivo e o que eu sinto e o que eu penso eh eh e talvez esteja errada em tudo que eu disz talvez eu seja completamente matura Talvez eu seja louca é dentro do que eu tô dizendo mas eh sendo ou não eu tenho a sensação que isso de certa maneira ressoa eh em coisas que outras pessoas pensam ou sentem que talvez eu coloque palavras
eh dentro de palavras para paraas Sensações que chegam sem palavras nos outros eh e eu acho que eu tenho uma espécie de de eh de vontade secreta que é de dar para dentro da navegação Então dentro desse universo pequeno que é o da navegação eh de dar para outras pessoas a chance de saber o que era eh crescer na casa dos meus pais ouvindo essas histórias que não eram histórias eh completamente inventadas eram histórias vividas eh e para mim É como se eu tivesse acesso a como se eu tivesse lido quando era criança eh contos
de fada ou Harry Potter e eu pudesse entrar e em Hogwarts e pudesse e andar em cima de Vassouras que voam e e falar palavras mágicas junto com uma varinha e fazer coisas acontecerem Essa foi a sensação de descobrir a navegação e conseguir e sentir as Sensações que eu tinha e ouvido descritas antes eh no meu próprio nos poros da minha própria epiderme é Tamara a já falou sobre a pressa de fazer as suas viagens mas queria saber se sua escolha de ter ido agora paraa Groenlândia tem alguma relação com a possibilidade do local não
ser mais o mesmo daqui a alguns anos em decorrência das mudanças climáticas e se agora que você voltou já deu tempo de sentir falta da invernagem sim eu sinto muita falta às vezes eu penso em fazer de novo uma mais comprida mas estão faltando lugares agora tá ficando mais difícil achar esses lugares é sim Ach teve essa relação também com a a certeza de que os lugares estão mudando muito né infelizmente né a constatação eh provavelmente fazer essa viagem daqui 10 anos eh vai ser muito diferente da de fazê lá do jeito que eu fiz
diga Bruna eh você teve um exemplo dentro de casa para eh ter vontade de se tornar velejadora e além de ser velejadora Você também é escritora E aí eu queria saber se você não tivesse tido esse a oportunidade Enfim nem oportunidade mas assim não tivesse crescido eh com esse com esse exemplo que Outra profissão você o que o que você acha que você faria Quem seria a Tamara não vale fotógrafa a gente é muito influenciado pelo meio né os nossos desejos também vem dos Desejos das pessoas com quem a gente convive se eu não tivesse
crescido Numa família onde as pessoas navegam ou falam sobre isso provavelmente eu não teria desejado isso se eu não tivesse crescido numa casa onde os livros eram uma parte importante da arquitetura eh da casa provavelmente eu não teria eh dado tanto valor pra leitura nem pra escrita se minha mãe não tivesse me obrigado a escrever quando eu era criança o meu próprio diário provavelmente não teria eh usado a palavra como eh um uma salvação Em alguns momentos ou como a minha ferramenta de de existir e de me conhecer eh eu não sei o que eu
teria sido acho que eu teria sido o fruto também do lugar onde eu tivesse eh e ao mesmo tempo Acho que eu também teria sido curiosa e provavelmente eh muito teimosa eh em uma outra profissão Alexandre Tamara tem um movimento na Europa que tá começando agora contra o o turismo de massa Então as pessoas estão se mobilizando para tentar melhorar as os pontos turísticos por causa da do Turismo de massa e esse turismo ele tá chegando em lugares cada vez mais afastados então já chegou na Antártica Já chegou na Groenlândia também o que você pensa
desse tipo de turismo de massa nesses lugares onde você tá tão acostumado a velejar e enfrentar a natureza no estado mais puro dela que que você pensa do Turismo chegando nesses lugares eu acho que o turismo no total eh como consumismo é péssimo não importa onde ele esteja ou não importa onde ele aconteça acho que eh ver o turismo como eh tratar o turismo da mesma maneira que a gente trata eh o consumo de qualquer outra coisa eu acho péssimo acho que e vira uma espécie de Fest Fest Fashion Fest coisa Fest food é vira
esse Fest turismo eu acho que ele empobrece tanto os lugares quanto as pessoas porque a gente vai para um lugar em pouco tempo a gente quer bater as figurinhas a gente quer fazer o checklist dos lugares turísticos a gente quer tirar as fotos pro Instagram pras outras pessoas verem eu não vejo em que medida isso pode tornar a gente uma pessoa melhor e ou mais interessante ou ou em que medida a gente aprende para mim o o turismo e eu sou turista também né porque eu vou para lugares de onde eu não vim para mim
ele só me interessa quando eu saio da minha zona de conforto quando eu fico desconfortável com as coisas quando eh eu me sinto e imatura quando eu me sinto ingênua quando eu me sinto e errada eh quando eu saio do meu eixo onde eu tenho sempre razão sobre as coisas e e e estou confortável acho que tem que ser desconfortável para para ser eh para ser ser a natureza tem o tempo dela e tem que para é para para servir para para ser sentido Tamara a gente tem o último minutinho do programa queria entender se
essas suas expedições e tudo que você fez você usou um drone agora Você filmou muita coisa se isso vai virar alguma obra audiovisual Num futuro próximo também Sim estou trabalhando na exposição que eu quero fazer com as correspondências que eu fiz com a Maria clabin onde ela fez pinturas para cada uma das as correspondências que a gente trocou eh por e-mail ao longo da viagem também vou fazer o filme da viagem estou trabalhando nisso Eh agora e o livro é da da viagem que deve sair no no fim do ano que vem se tudo der
certo se essa caneta continuar a riscar muitas páginas já temos o título ou não não temos o título não os livros da Tamara saem pela companhia das Letras recomendo que todo mundo Leia que são ótimos te agradeço demais pela conversa que finalmente saiu obrigada muito obrigada obrigada a todos os jornalistas maravilhoso é isso gente além de agradecer imensamente a Tamara por dividir essa experiência riquíssima de vida com a gente meu muito obrigada se estende também esses companheiros de travessia Alexandre versani Beatriz Lourenço Márcio Atala Isabela Menon Bruna Cambraia e Luciano Veronesi Obrigada a você espectador
espectadora que a cada semana embarca com a gente rumo aos mais mais diferentes destinos um dos muitos aprendizados que a Tamara diz ter tirado das suas aventuras sozinha a Bordo das sardinhas é o de que a vida só existe no corpo mas ela também já disse que as mesmas jornadas não teriam sido possíveis sem a contribuição de tanta gente que a ajudou que torceu que deu alguns ensinamentos até de quem duvidou torceu o nariz existimos no corpo mas não existimos dissociados dos outros do planeta em que a gente vive as viagens da Tamar os escritos
as fotos os desenhos que agora ela disse que vão virar exposição vão virar filme tudo isso ajuda a formar uma cartografia preciosa do nosso tempo que é um tempo em que a gente avançou em muitas coisas avanço na ciência em mais respeito mais direitos para as mulheres na consciência das mudanças climáticas Mas também muitas vezes a gente vive retrocessos nesses mesmos pontos é como um gelo fino que ainda não solidificou o suficiente para que todo mundo possa andar sobre ele em segurança paciência persistência e Sabedoria para lidar com o tempo São ensinamentos preciosos que ela
deu pra gente a cada uma dessas jornadas Roda Viva volta na próxima segunda-feira como sempre às 10 da noite eu espero você até lá [Música] w [Música] cultura que aproxima Bradesco [Música]