Esta é a configuração de um Boeing 777 da British Airways, e ele possui 4 tipos de classes, a primeira, a executiva, a econômica premium e a econômica. Em 2020 a configuração de alguns modelos passou por modificações e hoje, possuem essa configuração. Notou alguma diferença?
A primeira classe foi de 14 para 8 assentos para uma melhor experiência da classe executiva, que melhorou as cabines e agora possui 49 assentos, ao invés de 48. Enquanto isso, você pode não ter notado, mas tem uma coisa mais que mudou, que é a configuração da classe econômica, que foi de 124 assentos para 138, adicionando um assento por fileira e sem aumentar o espaço. Apesar dessa configuração de 10 assentos por fileira não ser nova, ela encolhe ainda mais a classe econômica e parece ser a tendência para o futuro, já que mais empresas estão adotando a configuração e vendo um aumento de 20% nos lucros por viagem Estão simplesmente empilhando pessoas com assentos cada vez menores na classe econômica com a nova formação 3-4-3 ao invés da 3-3-3.
Mas nem sempre foi assim No início da aviação comercial, tudo era premium. Viajar de avião era tão caro que o fato de estar em um avião já era a experiência mais luxuosa da época. Passados alguns anos, na era de ouro da aviação na década de 1950, o glamour tomava conta e os passageiros eram brindados com refeições finas, bebidas à vontade e espaço suficiente para as pernas.
Todo mundo era tratado como uma estrela. Então, como fomos desse tratamento VIP para um assento que mal cabe uma pessoa e ainda pagando por amendoins? E o que de fato está acontecendo com a classe econômica?
Continua aí que é exatamente isso que vou te contar neste vídeo! No início da aviação comercial não existiam classes. Aliás, o primeiro voo comercial ligava as cidades de St Petersburg e Tampa, na Flórida em 1914 e tinha apenas um passageiro.
Longe de ser primeira classe. Aviões da Primeira e depois da Segunda Guerra começaram a ser convertidos para passageiros, e na década de 30, os passageiros já contavam com uma única cabine espaçosa para até 38 passageiros, completo com carpete de parede a parede, banheiros no avião, comissários de bordo e refeições luxuosas. Como as companhias aéreas ainda não tinham permissão para cobrar diferentes tarifas em um voo, elas começaram a dividir as rotas.
Rotas mais curtas com escalas custavam menos e rotas sem escalas mais longas custavam mais. E preços mais baixos significam um padrão mais baixo de serviço. Isso até 1952, quando foi permitido voos com tarifas múltiplas, combinando uma classe padrão e a classe econômica com serviço inferior.
Foi então que surgiu a primeira classe, com a TWA introduzindo duas cabines separadas em 1955 no seu Super Constellation de rotas internacionais. A partir daí as coisas evoluíram lentamente, principalmente porque até a década de 70, a aviação era controlada por muitas regulamentações, então era difícil pras empresas venderem passagens com preços que elas queriam, pra diferentes classes. E justamente nos anos 70 e 80 começou a desregulamentação nos Estados Unidos e Europa e, com isso, as empresas passaram a ter mais controle sobre o valor de suas passagens e as rotas oferecidas aos clientes.
Aeronaves novas e melhores foram surgindo e os serviços foram aprimorando, e com o lançamento do maravilhoso 747 era possível experimentar novas categorias, incluindo a chamada executiva, focada no viajante de negócios. Antes da Classe Executiva se tornar oficialmente uma classe, havia a econômica e econômica Full Fair. Nessa época, quem pagava a passagem full fair ficava logo atrás da primeira classe e recebia um melhor nível de serviço.
Por isso, atraiu muitos viajantes a negócios que queriam se afastar das famílias barulhentas indo tirar férias no exterior. No início esse passageiro ficava junto com a classe econômica, mas depois as empresas aéreas começaram a melhorar a experiência desse passageiro. Em 1979 a Qantas criou uma parte separada do avião para eles.
A diferença foi aumentando significativamente entre a Executiva e a Classe Econômica, até que a Econômica Premium foi introduzida para preencher o vazio. Mas ela nunca teve um padrão e até hoje suas vantagens variam muito de uma companhia para a outra. Uma matéria do The Traveller Insider resume bem toda essa história, ela diz que a Classe Executiva de hoje é equivalente à Primeira Classe de antigamente, e que a Econômica Premium de hoje é equivalente à Classe Executiva de antigamente.
Infelizmente, não há nenhuma melhoria na Classe Econômica, que está pior do que nunca. As companhias estão espremendo as pessoas para ganhar mais dinheiro por viagem e fazendo com que elas optem pelos assentos maiores das classes premium, que geram mais lucro. Mas como chegamos até aqui?
A década de 70 foi crucial para o estabelecimento da classe econômica. Além da desregulamentação, que fez com que as companhias aéreas tivessem a liberdade de cobrar o valor que quisessem por suas tarifas, o Boeing 747 chegou no mercado aéreo como uma aeronave muito mais espaçosa, com espaço de sobra para desenvolver melhor as cabines separadas. Esses dois acontecimentos resultaram na expansão da aviação e na redução das tarifas.
Essa foi ainda a época de lançamento do Concorde, a aeronave supersônica que surgiu com a promessa de ser o avião dedicado à primeira classe. Ele viajava de Londres a Nova York em menos de 4h e focava mais no viajante de negócios para o qual a velocidade era importante. Além disso, a fabricante British Aircraft Corporation disse, em 1970, que mais de 30% do mercado pagaria tarifas de primeira classe para viajar no Concorde.
O Concorde seria o meio de transporte do futuro. . e dos ricos.
Com essa promessa, o Concorde fez com que as companhias estagnassem em serviços para a primeira classe e focassem em agradar a classe econômica e a executiva. Mas com o tempo as coisas foram mudando. A velocidade já não era mais tão importante nem mesmo para os mais ricos, pois as companhias foram melhorando o serviço das classes superiores e introduzindo assentos que deitam, e dessa forma os passageiros poderiam passar a noite dormindo no avião e chegar renovado no destino.
E já não fazia mais tanto sentido arcar com os custos de uma aeronave da década de 60, sendo que o mercado e o passageiro de negócios estavam em constante evolução. Enquanto o Concorde não tinha divisão de classes, porque tudo nele era premium, nos 27 anos em que ele operou, o mercado evoluiu a ponto de uma única aeronave ter 4 tipos de classes. Para explicar como são divididas algumas aeronaves hoje em dia, eu vou seguir no exemplo do Boeing 777-200 da British Airways.
Existem 4 classes: a World Traveller, que é a econômica, a World Traveller Plus, que é a Econômica Premium, a Club World que é a Executiva, e a melhor de todas, a Primeira Classe. Na World Traveller os assentos são básicos e dão pouco espaço pras pernas, na World Traveller Plus os assentos são do tamanho ideal para um ser humano e existe mais espaço, na Club World são oferecidos assentos do tipo cama e na Primeira Classe a exclusividade fala mais alto, e a própria British Airways descreve como “a melhor experiência” De início, a classe econômica parecia uma excelente opção para aqueles que não podiam pagar mais caro para viajar e até mesmo uma oportunidade, já que poderiam optar por trocar vários dias viajando de ônibus ou navio por algumas horas no avião. Mas acontece que as companhias acabaram percebendo que esses benefícios não se estendem a elas.
E isso afetou diretamente a forma como conduzem suas estratégias. “Esqueça tudo o que você sabe sobre empuxo, arrasto, sustentação e gravidade; o que faz um avião voar é o dinheiro. ” Essa frase famosa da aviação diz muito sobre o que tá acontecendo agora.
Manter uma companhia aérea não é tarefa simples e barata, e existem altos custos de manutenção, por isso toda empresa aérea precisa de dinheiro. O problema com a classe econômica começou quando elas perceberam que conseguem um lucro muito maior com as outras classes, principalmente com a executiva. Em especial quando vemos a evolução dessa classe, onde a British Airways lançou um assento reclinável por volta do ano 2000 e, desde então, praticamente todas as outras grandes operadoras seguiram o exemplo.
Isso tornou a classe executiva muito mais atrativa, mas, ao mesmo tempo, desvalorizou as ofertas da Primeira Classe. E isso pode ser evidenciado ainda mais quando vemos que desde os anos 2000 as cabines executivas melhoraram de tamanho novamente, ganharam mais luxo, são privativas e agora tomam mais espaço do avião, enquanto o número de assentos na Primeira classe caiu quase pela metade. Inclusive, nos seus novos A350, a configuração nem possui primeira classe.
E a tendência de crescimento deve seguir também na Econômica Premium. O número de assentos deve triplicar de 3. 800 em 2021 para 11.
145 em 2025, de acordo com um novo estudo da Counterpoint. As companhias aéreas de todo o mundo estão adicionando assentos econômicos premium às suas configurações, à medida que se tornam a classe mais lucrativa por metro quadrado em algumas das principais companhias do mundo. Isso porque a classe econômica premium normalmente oferece assentos mais largos com mais espaço para as pernas do que a econômica, além de mais vantagens, como uma bebida de boas-vindas, telas de TV maiores e uma refeição um pouco mais elegante.
Para esse conforto adicional, as companhias aéreas podem cobrar de 40 até 80% a mais do que uma passagem econômica por um produto que ocupa apenas um pouco mais de espaço e não custa muito mais para a companhia aérea. Mas é preciso um cuidado especial para não tornar a cabine muito luxuosa, pois nesse caso elas correm o risco de perder passageiros que poderiam ter comprado classe executiva. E segundo matéria da Investopedia, 75% do lucro das companhias aéreas vem dos 12% de passageiros da classe Executiva.
Seth Kaplan, o editor da Airline Weekly, falou o seguinte sobre o assunto: “Sempre que você puder receber o dobro por algo que não custa o dobro para produzir, esse é um bom lugar para se estar para qualquer empresa”. Eles estão literalmente apertando os passageiros para fazer mais dinheiro. Bem, mas será que ainda existe espaço para a Classe Econômica e Primeira Classe?
Não é só a Classe Econômica que tá encolhendo, a Primeira Classe também, mas em outro sentido. Enquanto a Econômica vê assentos cada vez menores, a Primeira Classe vê a oferta diminuir. Com o espaço sendo reduzido na Econômica e o aumento do luxo da Executiva, cada vez mais pessoas têm optado por voar na Classe Econômica Premium e Executiva.
Isso porque não são todos que estão dispostos a aturar desconforto para pagar mais barato. Em um artigo para a Time, Angus Whitley e Sybilla Gross falam que viajar está se tornando um teste de resistência física. Por isso, muitas pessoas estão preferindo pagar um pouco mais caro para conseguirem esticar suas pernas.
Então, as companhias aéreas viram a demanda por esse tipo de passagem aumentar, principalmente depois da pandemia. Em uma teleconferência sobre os resultados da empresa, Glen Haustein, presidente da Delta, uma das maiores companhias aéreas dos Estados Unidos, falou sobre como a demanda por assentos premium cresceu na medida em que as viagens de avião foram voltando ao ritmo normal. Aí vem a pergunta que não quer calar: se a diferença de qualidade não vale o extra no preço da passagem, por que tem cada vez mais pessoas comprando a premium?
A real é que muita gente não para pra pensar por esse lado. Uma pessoa de condições razoáveis, principalmente se planeja uma viagem mais longa de avião, não vai ficar refletindo sobre como a companhia está lucrando em cima de sua passagem econômica premium, o que ela quer é conforto e espaço para esticar as pernas. Bem, mas então por que as companhias ainda não estão investindo em aviões sem a classe econômica?
A verdade é que ainda não tem demanda pra isso. Não é todo mundo que pode ou quer pagar mais caro na passagem, então por enquanto é muito melhor manter a classe econômica com os assentos ocupados, do que viajar sem ela e com assentos vazios na econômica premium. E já que o preço é baixo e não existe conforto mesmo, as companhias aéreas vão continuar espremendo a classe econômica até onde der.
Mas até que ponto vale a pena? É matemática básica: quanto mais pessoas espremidas em uma única cabine, mais passagens são vendidas e, portanto, mais dinheiro é feito em uma única viagem. O que preocupa aqui é até que ponto as companhias aéreas estão dispostas a amontoar gente para ganhar mais dinheiro, e como isso pode deixar essas viagens cada vez mais desconfortáveis.
Já chegou ao ponto de diminuírem a refeição na classe econômica para reduzir o peso da aeronave para economizar mais combustível. E fato é que os assentos estão diminuindo e isso levanta preocupações não somente com o conforto, mas também com a segurança dos passageiros. A FlyersRights, uma organização sem fins lucrativos com sede nos Estados Unidos que defende os direitos e interesses dos passageiros das companhias aéreas, está exigindo uma regulamentação para que exista um tamanho mínimo de assentos.
Mas pra ser sincero as companhias aéreas não parecem muito preocupadas com isso. Elas ganham de todo jeito. Se o passageiro optar por se espremer em uma cadeira econômica, a companhia vai ganhar mais um assento ocupado.
E, se esse mesmo passageiro optar por voar na classe premium, melhor pra empresa, o lucro pra ela será ainda maior. Isso se as companhias não resolverem inovar ainda mais e nós começarmos a levar a sério idéias como essa, onde literalmente estão empilhando pessoas, ou essa, onde você terá que praticamente sentar em um banco de bicicleta por algumas horas, haja hipoglós depois de atravessar meio mundo nesse assento. Agora eu quero saber de você: O que você acha da estratégia das companhias aéreas?
Uma estratégia pra sobreviver no mercado pós pandemia? Ou só mais uma forma de lucrar a todo custo? Comenta aqui embaixo e dá uma olhada no que o pessoal tá falando sobre isso.
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