Toda Educação é Política - Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire (Parte 2)

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Prof. André Azevedo da Fonseca
Todas as práticas de ensino estão carregadas de ideologia, às vezes de forma explícita, mas na maior...
Video Transcript:
Não foi Paulo Freire quem "inventou" que a educação tem que ser ideológica. Não é ele quem "prega" que a educação tem que ser política. Ele simplesmente constatou que não há neutralidade na educação e que toda prática de ensino, mas principalmente aquela que se diz neutra é necessariamente carregada de ideologia.
A questão dos condicionamentos ideológicos na educação é tema de um subcapítulo próprio do livro. Mas esse e o próximo vídeo vão falar sobre como a gente pode começar a lidar com isso. Desde o momento da escolha dos conteúdos da ênfase nisso e não naquilo, mas sobretudo, desde o estabelecimento do perfil que a escola deseja para os seus alunos, um perfil que é registrado naquilo que, não por acaso, se chama projeto político-pedagógico da escola que toda escola tem, e muitas vezes com uma coisa no papel e outra coisa na prática, o fato é que todo ensino está necessariamente carregado de ideologia, às vezes de forma explícita, mas na maioria das vezes de forma oculta.
Quando a gente pega um conteúdo de qualquer disciplina, é interessante fazer as seguintes perguntas: O que a escola está ensinando? Por quê? Para que fim?
Com que objetivo? Qual o sentido em estudar isso, mas não aquilo? Se há tantos conhecimentos no mundo, e nem tudo cabe no currículo, quais foram os critérios que fizeram com que isso aparecesse e aquilo não?
Quais são os valores incorporados nos livros didáticos? Os alunos são incentivados a fazer o quê com os conhecimentos escolares? Ou são incentivados a não fazer nada?
Todo projeto político-pedagógico de qualquer escola é permeado por uma visão de mundo, e portanto, por uma escolha política que privilegia um determinado conjunto de saberes, que necessariamente expressa um determinado conjunto de crenças e valores. Quando a escola é democrática, os gestores, os professores, os alunos e as suas famílias participam ativamente da redação e da revisão do projeto político-pedagógico. Que formação queremos para os nossos filhos?
A comunidade escolar é que decide. Mas quando a gestão da escola é autoritária, esse documento é redigido unicamente pelos chamados especialistas, que sob o discurso da neutralidade técnica, acabam impondo os seus próprios valores. Por isso é prudente desconfiar de quem prega “neutralidade” no ensino, porque certamente essa pessoa está apenas tentando esconder a sua posição ideológica a favor de alguma coisa e contra alguma coisa, ou melhor, a favor de alguns e contra outros.
Por isso, mais uma vez, não é Paulo Freire quem defende que a educação tem que ser política. Ele simplesmente observou que toda e qualquer educação está permeada de valores, e que o discurso da neutralidade esconde uma escolha política a favor da permanência. É um empenho deliberado para manter um determinado sistema de conhecimento, e por consequência, um determinado sistema social.
A opção pela neutralidade é uma escolha política. Constatando que toda educação é política, como é que a gente resolve isso? Em primeiro lugar, a escola e o próprio professor deve ter consciência de que todo observador constrói a sua visão de mundo a partir de um ponto de vista.
O ponto de vista não necessariamente induz o observador ao erro. A questão é que ele não deve se fechar, absolutizar o seu ponto de vista, como se aquela visão parcial, ou mesmo pessoal, fosse capaz de representar todas as dimensões da vida. E mais importante, ele deve manter o espírito aberto e sempre alerta para a consciência de que, mesmo que convencido do acerto do seu ponto de vista, é preciso tomar cuidado para verificar se a razão ética está com ele, ou não.
Paulo Freire, pela sua experiência com alfabetização de adultos, trabalhando em comunidades rurais e com populações pobres, ele assumiu o ponto de vista dessas pessoas. Ele não se enuncia como um educador neutro e imparcial. Ele se apresenta em favor de uma educação que insira as pessoas na sociedade como sujeitos da história.
E ele faz questão de deixar claro que o seu ponto de vista jamais permite qualquer transgressão aos valores fundamentais, ligados à ética universal do ser humano. "Estou com os Árabes na luta por seus direitos mas não pude aceitar a malvadez do ato terrorista nas Olimpíadas de Munique. " E a solução propriamente pedagógica para essa questão?
Como lidar com os condicionamentos ideológicos em sala de aula? É o que veremos no próximo vídeo. Agora um tema para debatermos no fórum.
Quais valores estão mais presentes na dinâmica da sua escola? Os estudantes são motivados a fazer o que com a sua formação? Quais discursos ideológicos são mais presentes e de que modo eles influenciam concretamente os alunos?
Participe do fórum! E não se esqueça de curtir e compartilhar o vídeo para convidar os seus amigos ao debate.
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