Você sabe o que é a mente? Grandes filósofos consumiram anos a investigar a natureza da mente, e sobre ela se têm escrito vários volumes; mas, prestando-se toda a atenção, acho que é bastante simples descobrir o que é a mente. Você já observou sua própria mente?
Observe sua própria mente para ver como ela é inquieta, uma vez que está sempre ocupada com alguma coisa: com o que alguém disse ontem, com alguma notícia recebida neste instante, com o que você fará amanhã e etc. , ela nunca se encontra desocupada. Enquanto ela está ocupada com o que quer que seja - as coisas mais elevadas ou as mais insignificantes - a mente é sempre limitada, medíocre.
E a mente medíocre é incapaz de resolver qualquer problema; ela só sabe manter-se ocupada com ele. Enquanto a mente está “cheia”, ocupada com alguma coisa - seja a mente de uma dona de casa, seja a do maior dos cientistas, ela é pequena, restrita, e nunca será capaz de resolver qualquer problema a que se aplique. Mas, ao contrário, a mente que está desocupada, que tem espaço, pode aplicar-se ao problema e resolvê-lo, porque essa mente é fresca, e, portanto, se aplica ao problema de maneira nova e não com a velha herança de suas próprias lembranças e tradições.
Portanto, só a mente que está desocupada pode considerar e resolver um problema. Mas, é dificílimo ter a mente desocupada. Observe a si mesmo, veja esse pequeno espaço de consciência que você chama “a mente”, e perceba como ele está repleto de pensamentos.
A mente simples é a mente tranquila. E ela só pode estar tranquila se não estiver mais armazenando, condenando, julgando e pensando. Só a mente que esvaziou-se do conhecido é criativa.
Se você está ouvindo pela primeira vez a esta afirmação de que você deve estar livre do pensamento, você pode dizer: “Coitado, ele está louco”. Mas, se você realmente escutou, você saberá que o que está sendo dito tem uma extraordinária vitalidade, uma verdade penetrante. Essa é, A Mente Simples.
Jiddu Krishnamurti. Para compreender este estado de mente, você tem que conhecer a si mesmo, tem que observar o processo de seu pensar - observá-lo, não alterá-lo, não mudá-lo, mas apenas observá-lo, como olha a si mesmo num espelho. Tudo o que até hoje você aprendeu, a lembrança de todas as suas pequenas experiências, tudo o que seus pais e mestres lhe ensinaram, tudo o que você leu em livros e observou no mundo circundante - tudo isso é a mente.
É a mente que observa, que discerne, que aprende, que cultiva as chamadas virtudes, que comunica ideias, que tem desejos e temores. Ela é, não só o que você vê à superfície, mas também as profundezas do inconsciente, onde estão ocultas as ambições, motivos, impulsos, conflitos. Tudo isso constitui a mente.
Pois bem; a mente quer estar sempre ocupada com alguma coisa, assim como a mãe que se preocupa com os filhos, ou a dona de casa com sua cozinha, ou o político com sua popularidade, sua posição no Parlamento; e a mente que se mantém ocupada é incapaz de resolver um problema. Percebe isso? Só a mente que não está ocupada, está fresca e pode compreender um problema.
Quando você silenciosamente observa um problema sem condenação e justificação, surge a consciência serena. Nesta passiva conscientização, todo problema é compreendido e dissolvido. Simplicidade - é ação sem ideia, coisa raríssima, que significa criação.
Só a mente que esvaziou a si mesma do conhecido é criativa. Isso é criação. Liberdade do conhecido é o estado da mente que está em criação.
Como pode a mente que está em criação estar preocupada com ela mesma? Enquanto a mente está formulando e produzindo, não pode haver nenhuma criação. É só quando a mente está vazia, quando ela não cria um problema - nessa serena atenção, existe criação.
O que estou dizendo poderá ser, para vocês, difícil de compreender, mas é verdadeiramente importante. Muito importa, pois, descobrir o que é ser criador. Você só pode ser criador quando há “abandono”; isso significa, em verdade: Quando não há sentimento de compulsão, medo de “não ser”, não ganhar, não alcançar.
O problema vem à existência apenas quando há procura de resultado. Quando a procura de resultado cessa, só então não há mais nenhum problema. Há, então, grande austeridade, simplicidade e, ao mesmo tempo, amor.
Essa totalidade é beleza, um estado criador. Essa é a mente simples. Só a mente simples pode entender o real, não uma mente repleta de palavras, conhecimentos e informações.
Porém, a simplicidade não é coisa que se possa cultivar e experimentar. A simplicidade, tal como uma flor que desabrocha, surge no momento exato em que cada um de nós compreende todo o processo da existência e das relações. A simplicidade nasce quando não há “eu”.
Quando o “eu” não está envolvido em especulações, conclusões, crenças e idealizações. Só a mente assim pode achar a verdade. Só essa mente pode receber o que é imensurável, aquilo que não se pode dar nome.
Isso, é o que é simplicidade.