[Música] mudanças climáticas desigualdade social especulação Imobiliária violência urbana as cidades brasileiras têm enfrentado novos e velhos problemas e em 2024 faltando poucos meses aí para as eleições municipais muitas dessas questões voltam à tona e a vida né nas nas cidades tem estado cada vez mais como parte importante do debate público Nacional eh Carta Capital acompanha já há bastante tempo esse assunto e nessa quarta-feira Eu e minha colega Ana Luísa Basílio repórter do site de carta capital temos a honra de receber para uma conversa a respeito desse assunto uma das maiores especialistas Brasil produziu em direito
a cidade e urbanismo a professora Raquel rck que é da faculdade de arquitetura urbanismo da Universidade de São Paulo professora seja muito bem-vinda e obrigada em nome de carta capital por ter aceitado o nosso convite Eu que agradeço É uma honra e um prazer est aqui com vocês hoje professor eu gostaria de trazer um um tema que embora não não seja novo né na na vida pública no no seu trabalho acadêmico acabou tem circulado muito nas redes sociais justamente por conta de uma ofensiva eh de alguns vereadores da cidade de São Paulo contra o Padre
Júlio Lancelote e outras organizações que atuam na região da Cracolândia em São Paulo né Essa é uma questão muito debatida e que de quando em quando volta mais a tona por conta de operações policiais malsucedidas por conta de cenas abertas de uso de drogas de violência naquela região e um vídeo da senhora numa Assembleia em São Paulo recentemente voltou a circular muito nas redes sociais e foi uma reflexão muito importante acho que nova para muitas pessoas a respeito de como a violência se organiza naquela região e que interesses regem esse tipo de ofensiva policial né
e violenta so sobre uma questão que é primeiramente saúde pública Como é o uso de drogas e toda aquela organização na Cracolândia em São Paulo porque a ação a atuação de organizações na Cracolândia do próprio Padre Júlio incomoda tanto eh alguns da sociedade a seu ver eu acho que pra gente entender o que se passa na Cracolândia a cracolândia é uma espécie de quadro extremo radical das questões dos conflitos e das tensões que estão colocadas na cidade de São Paulo e elas envolvem disputas pelo território disputas também eh em relação a valores que tem que
organizar a cidade a vida comunitária A a vida urbana e particularmente naquele lugar nós estamos falando de uma área situada no centro histórico de São Paulo que é uma área que historicamente na sua constituição foi lá atrás no século XIX uma área um dos primeiros loteamentos exclusivos da Elite café cultora Acho que foi o primeiro primeiro loteamento exclusivo da Elite café cultora de palacetes nós estamos falando dos Campos elios foi o primeiro loteamento feito para ser um loteamento exclusivo da Elite CAF cutor e foi habitado lá e aí eu vou ter que pular evidentemente Senão
nós vamos acabar nunca essa conversa aqui para contar toda a história de transformação daquele lugar né evidentemente isso a gente já sabe que uma série de transformações urbanísticas ao longo do tempo fizeram com que essas elites se deslocassem dali em direção a genpol Avenida Paulista aos Jardins aos novas frentes de expansão dessas mesmas elites mas ali também foi uma área que eh viveu por processos intensos de popularização E por que popularização por porque não só já já tava né situada ali as duas principais estações de trem que eram as conexões com as outras cidades do
país e nos anos 40 50 é por ali também que entram migrantes nordestinos e do interior de São Paulo de Minas também na cidade mas sobretudo porque ali foi instalada rodoviária de São Paulo e eh todos os locais qualquer lugar do mundo inteiro você os locais onde tem o uma rodoviária onde tem as estações de trem são locais de passagem São locais de migrantes são locais de recém-chegados São locais de soltos são locais de solitários são locais de prostituição são locais da presença de um comércio muito popular são locais de pensões para uma curtíssima duração
então aquilo foi caracterizando o uso deste espaço no centro da cidade como um lugar absolutamente popular e de passagem e e combina vários tipos de processos desse tipo quando a rodoviária é deslocada de lá nos anos 70 para construir a nova rodoviária Então você tem uma espécie de decadência dessa rede de espaços e comércios e serviços voltadas para isso mas ainda a permanência de um de um comércio popular e nesse momento ela se populariza ainda mais ainda mais porque vai perdendo valor e desde então a gente pode olhar desde os anos 80 você começa a
ver sistematicamente há uma espécie de desejo e anúncio por parte da política pública que começa a falar em revitalização começa a falar de que aquele lugar é um lugar que eh precisa ter um precisa sofrer um processo de transformação urbanística mas sistemáticamente os processos de transformação urbanística são traduzidos na PR na política urbana da cidade como um local que as classes médias e altas abandonaram precisam voltar então aí começa o primeiro embrolho aquele lugar tem vidas tinha vidas nos anos 80 continua tendo vidas nos anos 90 situadas de uma forma muito precária em ocupações em
pensões em sublocação em aluguel de cama em situações de precariedade mas presença uma presença de vidas lá vivendo precariamente e a discussão sobre a revitalização E aí que eu quero chegar é uma discussão que em vez de pensar um projeto de melhoria das condições para estas vidas né que merecem e devem na verdade foi sistematicamente uma espécie de guerra a presença dessas pessoas e dessas vidas para abrir um espaço de formação urbanística para os produtos Imobiliários contemporâneos ofertados pelo mercado imobiliário Torres corporativas eh Torres residenciais BNB aluguel residencial isso para esses produtos entretanto houve uma
dificuldade enorme do mercado imobiliário de capturar esse lugar e ali fazer uma nova frente de expansão e aí a política pública foi tentando incentivar e e puxar e fazer uma série de ações e para fazer isso Começou Inclusive a demolir construções e deixar esse espaço limpo e livre e quando começa a demolir começa a criar um espaço em ruínas aquele lugar começa a atrair os indivíduos em ruínas que que são os indivíduos em ruínas os refugiados urbanos Como diz a Taniele Rui as pessoas que eh por problemas de saúde mental de desconexão com as suas
famílias de conflitos eh delinquencia pessoas que viveram processos carcerários que depois foram soltas então isso começou a ser o local que atrai e ali ali a partir dali é que se constitui o que depois foi denominado como Cracolândia tentando caracterizar isso E é isso que essa Assembleia Legislativa tentava fazer até através de uma CPI um problema craque o problema é o craque a droga Aquele é um lugar de drogados de craque por isso precisa ser combatido porque droga é um assunto de polícia é tráfico é traficante É circuito policial Então dessa forma se arma todo
um arcabo para que o tratamento desse lugar seja um tratamento Como é o tratamento de todos os circuitos que interconectam mercados de droga com situações precárias Como como é o caso das favelas né uma uma boa parte das felas do Rio de Janeiro Belo Horizonte cidades também então por que que eu coloquei isso porque na verdade essa eh eu diria que Cracolândia e guerra o craque é uma espécie de cortina de fumaça porque o que tá acontecendo ali naquele território é uma das cenas de disputa pelo território aonde há uma espécie de coalisão entre a
política pública e os interesses da expansão do mercado imobiliário corporativo para capturar aquele lugar e que enfrentam uma série de limites E por incrível que pareça nesse lugar um dos limites é a própria presença a presença desses refugiados urbanos a presença do sem teto a presença da miséria a presença da precariedade e o ataque a todas as pessoas aos grupos que tem uma empatia com os miseráveis os precários os excluídos ela é muito importante no sentido de desmontar qualquer rede de apoio e de qualquer outra coalizão digamos de apoio aqueles que estão que estão presentes
nesse território Desculpa me alonguei muito de fato é uma questão absolutamente complexa entar ela na complexidade que ela tem é que é fundamental e é tudo que não está sendo feito não abordando a complexidade Claro que no meio desse ataque é Padre Júlio eu não posso deixar de falar isso né Tem muito né de um vereador nem vou falar o nome dele Porque essa é a estratégia dele mesmo para ser bem conhecido e se cacifar para se reeleger como Vereador na cidade de São Paulo para ser o cara da direita e do mbl né o
enfrentamento que ele faz o Padre Júlio é para é uma é uma ação absolutamente midiática mas tem também essa dimensão quem é este Vereador esse Vereador ele é um total representante desta outra coalizão que eu tô me referindo Raquel agora a gente sabe como você tava falando com a gente que a especulação imobiliária é uma força econômica e e e é uma força grande nessa disputa pelo território mas a gente repara que ao passo que algumas alas políticas tentam criminalizar esse esse movimento de assistência à populações Mais vulneráveis também né que são produto do capitalismo
eh por outro lado a gente percebe que politicamente a gente não encontra uma solução eh tanto pro aumento do fluxo da Cracolândia que tem ocorrido e também pro aumento da população em situação de rua né a gente tem um problema gravíssimo de déf Déficit Habitacional na cidade de São Paulo Então como que a gente pode pensar Raquel eh do ponto de vista sustentável Que tipo de ordenamento político e urbano a gente poderia ter para de fato a gente enfrentar essa situação que não só se mantém há anos como se agrava bom de novo vamos de
novo responder essa questão na complexidade eu queria começar fazendo um comentário sobre a tua pergunta né é muito sintomático você denominar a ação do mercado imobiliário o que eu diria hoje do complexo imobiliário financeiro de especulação Imobiliária porque né É realmente eu concordo com você é da natureza mesmo do complexo imobiliário financeiro ser especulativo né porque é uma aposta em valorizações futuras é exatamente isso que é a especulação eh mas eu acho que aí você tem que eh começar falando do contexto da crise Habitacional a cracolândia ela mescla dois fenômenos que estão muito presentes na
área central e que tem e que lá exatamente no local da onde se concentra o fluxo ou os vários fluxos eles se combinam tá são são duas coisas primeiro o aumento da população de rua na cidade de São Paulo isso aí é inegável tem senso no vou mostrando todo mundo tá vendo isso na rua você tinha uma Estimativa de 25.000 pessoas na rua isso há uns 4 anos er os números oficiais da prefeitura já com a suspeita de que havia-se muito mais mais recentemente só para informação quem nos assiste são mais de 100.000 pessoas né
contabilizadas fala assim 50.000 em São Paulo né Eh essa essa contabilidade é uma crise Habitacional eu diria uma das piores crises habitacionais da história da cidade mas o São Paulo teve uma crise Habitacional muito muito muito séria eh no século passado nos anos 20x que foi o que mudou completamente a matriz Habitacional da cidade e essa é uma das maiores crises habitacionais da cidade de São Paulo e é impressionante a relação entre esses dois fenômenos Qual que é a relação entre existência e ação de um complexo imobiliário financeiro e a crise Habitacional porque a pergunta
que não quer calar para nós e para todos os ouvintes é o seguinte nós estamos vivendo um bom imobiliário na cidade também é visível do mesmo jeito que a gente tá vendo cada vez mais gente mando na rua Nós estamos vendo uma quantidade de lançamentos residenciais inclusive lançamentos residenciais que foram incentivados através do plano diretor e zoneamento que agora acaba de triplicar a a aposta né nesse modelo dizendo vamos promover mais adensamento e mais edificações em altura na cidade para poder produzir habitação de interesse social em nome da da habitação de interesse social é que
se nós estamos vivendo uma combinação entre uma regulação urbanística que estimula e uma disponibilidade de Capital financeiro global no planeta com desejos muito grandes antes de ir para o imobiliário então a venda desses produtos Imobiliários e esse Boom por incrível que parece essa é a pergunta como é possível que na mesma hora que aumentou a oferta loucamente de Novos Produtos residenciais tem mais gente morando na rua e não menos ora não devia cair preço que nem de celular fez mais celular ficou mais barato produziu Mais Tomate ficou mais barato e não na verdade não o
que tá acontecendo bom primeiro que é absolutamente falso que aquilo que tá sendo produzido pelo pelos os produtos residenciais que estão sendo produzidos são habitação de interesse social não são porque se fosse mais gente Estaria morando e não está é mais gente que tá na rua pelo contrário isso tá produz o excesso de Capital disponível para ir para imobiliário tá produzindo um aumento de trê cada vez mais cada vez mais gente não consegue mais pagar aluguel tá indo pra rua não consegue ter alternativas né de casa própria nem se falar né alternativas de viver então
nós estamos vivendo um aumento de população de rua num modelo em que a política pública absolutamente não tem uma resposta para isso então para começar a te responder parte da questão tá em você desenhar uma política Habitacional realmente voltada para as necessidades habitacionais das pessoas da cidade especialmente aquelas que têm menos renda e não uma política Habitacional e uma política urbanística voltada pras necessidades do Capital que circula no complexo imobiliário financeiro essa é a primeira grande questão a segunda é que claro não dá para negar a questão da saúde mental da droga de da dependência
do craque e do ácool ninguém fala disso né álcool é permitido e a maior parte das pessoas que estão ali na Cracolândia tem uma dependência química do álcool tá essa é a primeira questão que também precisa ser enfrentada que também é uma grande é um grande problema mas ali as pessoas que se encontram no fluxo encontraram uma for for de sobreviver na margem na ruína uma forma de se organizar para poder ter roupa companhia apoio solidariedade de alguma forma e evidentemente também acesso a pedra ao craque e acesso eh ao álcool que não é crime
que você acede basta você ter o centavos e os reais no bolso sem entra em qualquer lugar que você compra á eu quero lembrar disso porque É raro se falar da dependência química do álcool como uma questão muito Central ali também presente então que é um processo né de de muitas vezes a resposta a resposta é multidimensional qualquer atuação nessa região é uma atuação que articula saúde mental Assistência Social moradia trabalho é é complexa a estrutura da prefeitura não só de São Paulo a estrutura de gestão Municipal que a gente tem no país é toda
em caixinhas separadas não é multidimensional e para você poder enfrentar essa questão é uma questão que tem que ser a mobilização dessas várias dimensões Ah muito complicado eu quero lembrar que um conjunto de organizações e entidades que acompanham essa região pelo menos desde 2017 pelo menos a 5 anos fizeram em conjunto com os moradores uma tentativa de fazer uma proposta concreta se chama Campus Elísios Vivo e é uma proposta de atuação urbanística Habitacional de saúde mental baseada sim naquilo que foi os avanços do programa braços abertos mas tentando também enfrentar as ausências e os problemas
do programa braços abertos baseado naquela experiência e procurando ir mais além daquela experiência essa proposta foi apresentada pros vereadores pra prefeitura pro Governador eh pros deputados foi solenemente ignorado solenemente o que que eu quero dizer com isso é possível é possível enfrentar essa questão na sua complexidade claro que é mas qual é o Projeto o projeto da na Cracolândia predominante hegemônico é um projeto de limpeza e é limpeza étnica sim também porque ali né no centro da da da e no centro da cidade de São Paulo no setor do centro da cidade de São Paulo
é também um território negro um lugar que assim como algumas extremas periferias concentra proporcionalmente uma quantidade maior de população negra além da população de baixa rend Tem ciganos a gente tem que entender né Qual é a natureza de quem tá lá e como que ela isso pode ser enfrentado através de políticas Raquel a gente vai voltar Ness nessa questão eh mais adiante mas eu gostaria de aproveitar um gancho que você trouxe para falar de políticas de habitação de planejamento Urbano justamente nessa questão do centro de São Paulo né o nosso espectador aqui que se apresenta
como Chácara cultura visual pergunta né em Marcela na França segundo ele já a denúncia de que rbnb que é uma plataforma forma de aluguéis domina eh o a as unidades em mais de 40% das edificações e pergunta se São Paulo né tem risco de repetir mais queria também trazer o fato que é mesmo imóveis em São Paulo que estão sendo favorecidos ou pelo plano diretor ou por políticas de revitalização do centro na prática tem eh operado como como pequenas moradias que servem muito mais a propostas como rbnb do que estão de fato hospedando pessoas ao
mesmo tempo que que oferecem e se apresentam ali como uma alternativa de lazer no centro se aproveitam dessa carência de áreas verdes que as pessoas têm aqui na região para apresen apresentam-se como propostas inovadoras de ocupação a direito à cidade mas parecem na prática tá repetindo eh caminhos que ajudaram a agravar o problema que a gente tem hoje em São Paulo queria que a senhora falasse um pouquinho a respeito disso Isso ótimo obrigado Obrigada porque isso me permite desenvolver muito mais essa ideia né da produção de espaços residenciais como estacionamento de Capital excedente financeiro né
muitos nem nem nem colocados em uso eh então lá porque se você for olhar eh inclusive na próprios stands de venda né os stands de venda oferecem esses produtos esses produtos estúdio de 20 m qu 15 m oferecem excelente para investidor né E tem compra dois compra três compra CCO né porque a valorização que isso vai ter no no no Médio prazo é maior do que qualquer outro investimento financeiro em qualquer outro produto financeiro É essa a expectativa então Os Capitais que são muitos que são e que não tem Fronteira nenhuma e podem viver e
passar livremente pelo planeta e podem chegar em qualquer lugar e que são capitais excedentes pensa o Fundo de Investimento da Apple e da Google mais o fundo soberano da Alemanha mais a fortuna dos shakes do petróleo né mais o fundo soberano do Brasil Enfim tudo aquilo os fundos de pensão dos trabalhadores que são todos privados todos eles as companhias de seguro eles têm expectativas de remuneração do Capital deles de médio e longo prazo não é de não é que não é que nem a gente né que fala ai não deixa eu comprar isso para ter
um aluguel Zinho para completar minha renda Quando eu foi aposentado todo mundo deve ter ouvido isso alguém na família fez isso não sei o qu Não tô falando disso não eu tô falando de uma uma massa de Capital que não sabe não precisa desse dinheiro para nada né mas precisa que esse dinheiro se Valorize no médio e longo prazo esse o imobiliário o espaço construído se transformou no principal ativo é seguro É bom não desaparece não vira pó e valoriza Com certeza no longo prazo então é muito para isso são produtos desse tipo e esse
Capital tá disponível para comprar e pras construtoras incorporadoras um pouco se lixando quem vai comprar quem não vai precisa vender para rolar Então é isso vai vendendo vai vendendo vai vendendo e não é e porque e chama gis isso que é a pegadinha é a fraude é a fraude a gente vive uma fraude no plano diretor foi incentivada a produção de habitação de interesse social e isso foi incentivado através de um valor máximo de venda e é por isso que virou aqueles negócios de 20 m qu 3 35050 mas é o maior valor de metro
Quad da cidade por metro qu né então isso tem esses produtos e fora isso tem toda uma discussão também que a gente tá vendo do aumento do aluguel como o aluguel e habitação de aluguel como nova frente de financiera também complexo imobiliário financeiro dos quais plataformas do tipo rbnb elas são bastante importantes porque essas plataformas digitais elas são capazes de fazer a gestão de uma e extrair valor e extrair renda de uma quantidade enorme né de ativos construídos e espalhados pelo planeta e que no fim das contas remuneram quem o Fundo de Investimento do rbnb
é ele que tá ali também fazendo render isso claro que isso tem a ver com a a a existência de nômades digitais né de você do trabalho online do trabalho online que ficou muito mais possível de você aumentar esse mercado então para aluguel de curta duração e qual é a mágica que o rbnb faz o aluguel de curta duração que devia ser proibido ele não precisa atender a nenhuma regulação de proteção do inquilino nenhuma eh então ele foge completamente de qualquer controle Então tá acontecendo já em São Paulo em várias outras cidades Rio de Janeiro
também um exemplo claro como vai se capturando um pedaço do mercado Residencial que deixa de ser uma oferta para as pessoas morarem então diminui a oferta de aluguel disponível num preço legal pras pessoas que precisam morar de aluguel alugarem e vai jogando esse aluguel num valor muito mais alto hoje eu vi um tweet de manhã na rede né fala de um um edifício que foi incentivado por programas de retrofit da cidade de São Paulo cujos aluguéis de estúdio R 30.000 por mês oi né através de mecanismos como rbnb cada lugar da cidade que é ocupado
por isso é um lugar a menos paraas pessoas que precisam morar V demorar basicamente professora que vou vou interromper a Ana mas mas eu queria aproveitar esse gano já que a gente falou de eleições municipais a gente tem o campo Progressista vem com uma chapa provavelmente competitiva para essas eleições e essa questão eh de de direito à cidade do direito à moradia da desigualdade Urbana são pautas fundamentais do da atuação do Guilherme bolos até aqui e quais você acha que vão ser as discussões Chaves mais próximas das eleições que envolvam eh uma ação do estado
não só da prefeitura mas do governo estadual e do governo federal também para eh interromper esse movimento que tem tem Tornado o acesso à moradia digna cada vez mais como um sonho cada vez mais distante pra maioria da população pobre do país eh eu acho que tá pautada na cidade está claro você vê debate na imprensa você vê presente grande aç a questão da área central de São Paulo a questão da população de rua a questão da Cracolândia eu não tenho a menor dúvida que ela já está pautada no debate eleitoral mas eu diria de
uma forma mais geral Infelizmente o debate da política urbanística como um todo que foi expressa no plano diretor no zoneamento ele não ganhou corações e mentes da cidade no sentido sentido de se constituir numa agenda política central e é por isso que esse processos de revisão todos foram aprovados na Câmara inclusive com o voto da bancada inteira do PT menos a Luna zaratini honrosa exceção e a bancada do PSOL né então é importante a gente entender esse contexto eh aconteceram movimentos bastante importantes de denúncia de resistência em vários lugares da cidade sobretudo em bairros de
classe média mas é como se a política urbanística que em tese deveria est sendo discutida no plano diretor no zoneamento ela não é o assunto do plano diretor do zoneamento não é a política urbanística das cidades não é a crise não é o que tá acontecendo nas periferias não é o que as pessoas estão enfrentando no dia a dia da cidade no fundo a discussão de plano diretor de zoneamento ficou a absolutamente confinada e capturada pela discussão do complexo imobiliário financeiro e seus produtos Onde que eu posso fazê-los E como eu posso fazê-los posso fazê-los
aqui ou não posso fazê-los ali é isso e reduzindo toda a discussão de um projeto de cidade a Isso é um absurdo então eu espero sinceramente que o debate eleitoral possa traz uma discussão de projeto de cidade por exemplo vocês colocaram na introdução disso mudança climática né gente como que que a cidade vai fazer para enfrentar isso que já está acontecendo vai acontec já está acontecendo projeto de cidade nós temos UMS a a cidade de São Paulo e as cidades brasileiras de uma forma geral elas vivem um modelo modelo de cidade estruturado nos anos 50
60 70 que é o modelo rodoviarista baseado na circulação sobre pneus que trata as águas como alguma coisa para se abandonar então se enterra rio se canaliza que trabalha com uma visão de engenharia da questão de drenagem né que na verdade tem provocado cada vez mais enchentes né que que tem uma interação entre a discussão da drenagem e o Caminho das Águas e a discussão da mobilidade muito grande porque em cima de rios tamponados é que se instala um sistema viário um sistema viário que é completamente baseado né Eh na exploração de petróleo porque é
o asfalto né e que todas questões que assim a gente vai ter que parar de usar petróleo a gente tem que parar de poluir a gente vai ter que e nada disso é como se isso não existisse e não tem discussão sobre modelo de cidade nós vamos ter que começar a enfrentar a discussão do modelo de cidade né É como se a discussão fosse assim aonde eu Onde eu posso fazer mais desse tipo de cidade ponto né este modelito né que é o modelo dos produtos que são os produtos à venda né para esse Capital
que tá a fim de comprar né é um pouco a discussão ficou só isso terminou tem mais nada né então me parece que vai ser muito importante e não sei como que isso vai acontecer né na cidade que é como se a gente tivesse do ponto de vista político dois debates um debate que é setor imobiliário seus produtos sim não sim ou não né e que não tem nada que ver com a maior parte né da população e o debate da Periferia e o debate da vida da maior parte das pessoas na verdade não é
um debate sobre projeto de cidade é equacionado num modelo de controle e Distribuição de benefícios controlados por vereadores e partidos eu vou levando um pouquinho de água para cá esgotinho ali uma escola uma uma quadra esportiva um asfalto uma iluminação e você vai votando em mim e todo todo o processo de discussão política tá capturado nessa lógica quem é capaz de trazer o benefício de então não tem discussão de modelo de cidade não tem Eu acho que isso nossa para mim é uma das maiores aflições exatamente nesse momento a gente porque assim faliu esse modelo
Oi faliu tem aquelas enormes enchentes Pan elétrica que não acaba tá falido tá na cara que tá falido Quando é que a gente vai começar a conversar sobre outra Utopia de cidade sobre outro projeto de cidade que não é esse a senhora não tem é só um comentário eu vou mas não ten a impressão também que a gente a gente viveu há poucos anos um momento onde começou-se a a revisar a criar-se uma nova maneira de pensar a cidade mas que que que esse foi quase um voo de galinha na política a gente pouco sonhou
em relação a isso e de repente toda aquela aquele movimento aquela efervescência estava acontecendo esborrachou no chão também me parece que que o campo Progressista eh enfrenta também ess essa dificuldade que é que é uma derrota muito recente né em relação a a essa disputa de uma maneira de enxegar à cidade mesmo né São Paulo tinha na rua hoje as pessoas estão apavoradas com a rua né e há poucos anos atrás a gente tava no momento de ocupar a rua hou vários movimentos nesse sentido e agora parece que isso retrocedeu assim para um para um
nível para patamares anteriores ao início desse desse movimento mais aberto e não tenho dúvida e eu te diria que junho de 2013 e toda a discussão e toda a questão e a equação em torno de junho de 2013 também ajudou a isso por quê Porque eu leio que inicialmente o o o impulso de junho de 2013 é um impulso que veio que bebeu naqueles movimentos progressistas e nos pensamentos de transformação e nos coletivos e nos grupos e nos movimentos que estavam envolvidos ali e que vai pra rua exigindo mais mais né Eu quero cidades padrão
FIFA eu da porta para fora entendeu Já comprei computador geladeira e p Espanha agora eu quero uma cidade gostosa legal que funcione né e eu quero um lugar para viver Então esse movimento todo quando vai pra rua e aí não vou fazer análise de junho de 2013 aqui pelo amor de Deus ele por circunstâncias políticas Inclusive a circunstância política de que justamente o partido que foi uma das lideranças do movimento Progressista na cidade estava no poder naquele momento no nível local e no nível Federal aquilo foi muito abortado depois aquilo foi capturado por outras pautas
enfim por pautas Ant PT e acabou virando Então eu acho que ali ali era um era uma era um momento de era um momento de ruptura era um momento de respostas inovadoras em vez das respostas inovadoras e das culturas a gente teve pá um fechamento total e eu acho que aí bom E aí é desgraceira né porque aí foi tudo Ladeira baio né foi Ladeira baixo então Eh mas eu vejo esse momento para concluir e essa eleição particularmente eh como um momento de retomada aver aver Raquel eu queria entrar um pouco agora no tema também
da questão ambiental né das mudanças climáticas dessas consequências cada vez mais desastrosas né tanto de ponto de vista social ambiental que as cidades no geral T sofrido aqui no país né a gente tem visto de fato fortes precipitações de chuva eh parece que isso vem ganhando escala né dado o contexto aí das mudanças climáticas mas ao mesmo tempo a gente não tá falando de um fenômeno novo né A gente todo verão vê praticamente janeiro fevereiro a cena se repetir né então a gente tem grandes tragédias eh escorregamento de encostas casas desabando isso não é novo
e a gente já sabe assim eh a gente acompanha né nós que acompanhamos o debate a população também tá cansada de ouvir de falar que a saída seriam as ações de prevenção mas sempre parecem que as gestões estão correndo atrás do prejuízo depois né e a gente também acompanha uma fala quase quast teorizada aí de políticos depois que a tragédia já aconteceu seu dizendo não ações foram feitas ou como recentemente ontem Cláudio Castro disse mediante ali a tragédia mais uma vez da Baixada Fluminense não faltou nada pra sociedade não faltou nada pra população a minha
pergunta Raquel é qual é a dificuldade para que o Brasil as gestões municipais os estados operem na lógica da prevenção é só uma falta de priorização política ou você acha que tem outro outros fatores por trás por exemplo como eh melhoria das equipes de Defesa Civil ampliação dessas equipes na rua tem outros fatores por trás disso ou você colocaria só na conta de não é prioridade política e ponto eu acho que tem várias coisas primeiro a forma como o estado é organizado né e a lógica do estado e a gente tem uma coisa muito importante
no campo político no Brasil que é a ideia da Obra nova inauguração da Obra nova né quer dizer é é uma é uma é é é eh e e e o e pouquíssimo quase nada é desesperador pouquíssimo investimento na Gestão na manutenção no Cuidado então por exemplo uma parte das questões que tem a ver com Chen tem a ver com lixo coleta de lixo tem a ver com como você trabalha isso né vai muito mais lixo doos bueiros do que deveria ir né então você tem muitas coisas que tem a ver com gestão isso é
muito pouco valorizado muito pouco estruturado o própria forma de contratação né Eu sou prefeita do campus eh da da do Butantã da Usp eu vivo dramas de gestão eu vivo as dificuldades de você manter uma gestão de cuidado permanente preventivo né porque o modelo todo é todo um modelo de obra de começo meio fim de entrega por produto inaugura corta a fitinha e Yes ganha o voto né então eu acho que tem essa questão que é muito importante mas eu acho também que eh as eh temas muito fundamentais relacionados à questão de enchentes por exemplo
tem a ver com modelo de infraestrutura modelo de cidade então vamos ou não finalmente romper com o modelo rodoviarista a gente não tem só a ver com quantidade de chuva ou com a quantidade de luz que vai pro bueiro tem a ver com o modelo rodoviarista que faz sistema viário em cima de Rio ou do lado de Rio e enfiando o Rio dentro de eh de um cano e enterrando o Rio né então para você mudar isso você tem que mudar a concepção de infraestrutura é agora como é que você vai fazer isso e ao
mesmo tempo você vai fazer incentivos eh para gerar empregos para a indústria automobilística opa oi não você tinha que pegar o dinheiro inteirinho e só transporte público de massa metrô treem trem de superfície ponto acabou é só isso que tem capacidade de carregar Tanta gente ao mesmo tempo tem entende então você tem que tem ou a Ah porque as pessoas vão morar em áreas sujeitas a deslizamento uhum Ok beleza e elas alternativa que elas têm é Ou seja a solução ela não vai est só ali em como você vai cuidar da área sujeita a deslizamento
é também qual é a alternativa de moradia que você vai dar pras pessoas para que elas não tenham que construir casa na beira do Córrego porque o único lugar que está disponível para elas morarem Porque elas estão bloqueadas né do resto da cidade de morar então a dificuldade an é a dificuldade de que nós estamos falando de coisas muito estruturadoras e quando eu tava falando de projeto de cidade eu tava falando disso de como que a gente muda elementos que são muito estruturadores alguém pode falar gente mas essa mulher é louca tá pensando em mexer
em Matriz rodoviarista de Enchente mudar completamente a política Habitacional e isso já aconteceu na história da cidade mais de uma vez até os anos 30 a gente só andava em trilho né o modelo de habitação não era autoconstrução na periferia isso já aconteceu a gente já fez uma mudança e essa mudança foi fruto do quê de decisão de política pública que foi tomada lá infelizmente então outras decisões são capazes cidades se reinventam uma cidade como são PA tem uma capacidade basta a gente ver né a gente anda pela cidade num bairro da a gente passa
três meses depois já mudou já fechou coisa já abriu coisa já tem out isso é capacidade de se reinfectar então acho que a gente tem isso só que o que falta me parece me acho que falta eh um projeto de cidade uma liderança de projeto de cidade que possa levantar de novo a esperança e mobilizar em torno disso e constituir uma coalizão poderosíssima em torno disso porque quem tá hegemonizado a cidade hoje é a coalizão que quer manter Exatamente isso porque ganha dinheiro e poder com isso como é que a gente rompe ela essa é
a questão e é uma questão política sim não é uma questão política partidária é uma questão política mais funda né mais me parece na cidade e de novo isso é totalmente possível eu acho que a gente tem que apostar né porque senão professor eu tenho uma última questão pra senhora que que envolve um debate recente que que vem na ESA Da Da comoção com essas tragédias de origem climática especialmente no Rio né teve um tweet da ministra ni Franco que colocou na na boca das pessoas o termo racismo ambient tal que embora seja um termo
Eh que que é debatido na academia já há muitas décadas provocou certa controver nas redes sociais com pessoas questionando até a existência de uma de a validade desse conceito de Fato né a partir da da sua experiência acadêmica eu gostaria que a senhora falasse um pouco do do conceito e que e Porque é importante que ele expresse essa ideia que é absolutamente simples que é os lugares de que mais tem populações negras marginalizadas não só no Brasil no mundo todo são de fato desproporcionalmente afetados por esses eventos climáticos que estão ficando cada vez mais frequentes
o debate eh Ecológico digamos e e o movimento eh de Ecologia né que tem origem já há muito muitos anos há muitas décadas né são lutas que já estão presentes no debate público Há muitas décadas tem uma vertente né que é a vertente da Justiça territorial que é muito importante me parece né E que tá muito vinculada a toda uma visão socioambiental né a ideia de que a questão não é eh Vou salvar as árvores não vou salvar as árvores e as florestas e os Animais mas também que modos de vida e quem e que
grupos vão poder sobreviver a partir daí né Então essa perspectiva socioambiental e essa Perspectiva da Justiça territorial tem uma tradição importante acadêmica e de luta também eh no nosso país acho que a luta indígena é uma das mais mais que mais expressa isso uma das que mais expressa isso mas não apenas ela né Eu acho que a gente tem muita tem também uma história né de uma perspectiva eh de luta socioambiental e de Justiça territorial e eh me parece que o termo racismo ambiental ele ele é uma derivação é uma continuação ou um aprofundamento ou
um desenvolvimento dessa vertente no seguinte sentido nas dimensões quando a gente fala em desigualdade no nosso país e hoje tá absolutamente Claro porque o movimento negro tá pautando isso com uma clareza como não vi né Há muitos anos Isso tá muito pautado é muito importante é uma das principais transformações políticas que aconteceram recentes na nossa sociedade foi a ideia do racismo estrutural no sentido de que a desigualdade que ah não desigualdade é negó de dinheiro ele tem mais ele tem menos será que ganhou mais ganhou menos mas não é a desigualdade ela tem dimensões interseccionais
e que no caso brasileiro a questão racial especialmente a situação dos negros e negras é absolutamente chocante e ela é estruturadora da nossa desigualdade e na cidade nos territórios isso também é assim quando quando eu falei não foi por acaso que eu falei gente sabe lá na Cracolândia e outras áreas do centro tem populações negras então a pergunta é gente como assim população negra no lugar mais valorizado e central e bem localizado sidad fora a história das políticas Urbanas no Rio de Janeiro desde reforma Pereira Passos depois as intervenções na Era Vargas aqui em São
Paulo também desde as reformas do do do prefeito eh Antônio Prado tratou-se de tirar a população negra do centro da cidade dos locais onde viviam das suas redes de vida e expulsá-las expurgadas para situações de mais precariedade urbanístico Isto É racismo ambiental por quê Porque os lugares mais suscetíveis a a escorregamento os lugares mais suscetíveis H enchentes os lugares que são mais difíceis não é que é impossível ocupar é que para ocupar você precisa mais dinheiro e mais tecnologia é que foram disponibilizados paraas pessoas que não têm nem dinheiro nem acesso à tecnologia e fala
ocupa aí meu né É aí que você vai viver Então isto é racismo ambiental não é à toa Você tem uma população né Negra não predominantemente negra em favelas e essas situações e é muito importante e é muito importante enfrentar a discussão da mudança climática pautando o elemento racial porque dessa forma fica mais claro como é o jogo porque não se trata só de ai fui estou morando lá ou não E isso tem a ver com uma questão que que foi levantada antes porque a solução que se apresenta historicamente para essa questão de áreas suscetíveis
a escorregamento e a inundação é ah remove sim tira de lá e a remoção a história das nossas remoções é a história do quê de tirar e as pessoas irem parar na rua ou num outro lugar pior que aquele para começar a viver porque nunca teve atendimento nenhum então é essa essa discussão fazendo nesses termos ela começa com a conversa de como vamos garantir que a população negra da nossa cidade tenha condições adequadas de vida um lugar adequado para viver é assim que tem que começar a conversa né Eh e não tira esses caras daqui
Tira esses caras de lá né sem nenhuma preocupação com o seu [Música] destino perfeito Raquel eu gostaria muito de agradecer a sua disponibilidade aqui na carta capital agradecer essa entrevista que foi tão rica foi tão esclarecedora no momento também em que a gente também entra um ano aí de eleições né esse tema deve ser um tema muito candente aí pro debate político questão da do urbanismo de como isso também perpassa ali a questão de segurança pública né que a gente tem visto a cidade de São Paulo com todos os seus problemas aí urbanos então mais
uma vez quero te agradecer em nome de carta capital portas aqui sempre abertas eu espero que a gente se reveja numa breve oportunidade Eu que agradeço Eu que agradeço vocês Muito legal essa conversa desculpe mas todas essas questões são complexas e a gente tem que enfrentar elas na complexidade chega de simplificação preto branco polarização isso não ajuda nada Vamos Vamos enfrentar as questões na complexidade que elas muito obrigada professora contamos com a senhora em futuras [Música] oportunidades [Música] p