a casa estava mergulhada em um silêncio quase melancólico interrompido apenas pelo zumbido baixo do ventilador na sala Maria estava sentada no velho sofá de couro que dividira por tantos anos com o marido seus dedos deslizavam suavemente pela borda do porta-retratos sobre a lareira era uma foto antiga tirada em um verão distante onde os dois sorriam despreocupados alheios a o peso que o tempo um dia traria naquele dia completavam 10 anos desde que ele partirá e embora a vida tivesse continuado Maria se sentia presa naquele momento de perda ela tentava seguir em frente mas a solidão
parecia sempre encontrá-la especialmente nas noites mais silenciosas felizmente sua filha Carolina e seus netos a visitavam com frequência trazendo risos e vozes que preenchiam os vazios entre os netos Gabriel o mais velho sempre trazia uma energia especial com sua personalidade vibrante um sorriso cativante ele era capaz de iluminar qualquer ambiente mas ultimamente Maria começava a notar algo diferente nele ele parecia Mais maduro mais Atento e isso a fazia perceber como o tempo havia passado rápido demais Naquela tarde quente Maria tentava ocupar a mente limpando os armários da cozinha foi quando ouviu o som conhecido da
motocicleta de Gabriel parando no quintal logo depois a porta se fechou com um som seco vó cheguei gritou ele do Corredor com uma voz mais grave do que ela se lembrava estou na cozinha querido respondeu Maria tentando suar animada embora sentisse um nó na garganta quando ele apareceu na porta Maria ficou imóvel por um momento a camisa branca grudava no corpo dele pelo suor os cabelos bagunçados caíam sobre a testa e seu sorriso apesar do cansaço visível permanecia tão encantador qu antes precisa de ajuda com alguma coisa perguntou ele pegando um copo de água não
já terminei mas se quiser pode sentar comigo um pouco respondeu ela indicando a mesa pequena no canto da cozinha Gabriel sorriu e se sentou eles começaram a conversar sobre coisas triviais trabalho amigos e problemas do dia a dia no entanto em certo momento Gabriel a Olhou de um jeito que fez Maria estremecer era um olhar profundo cheio de curiosidade E algo mais que ela não conseguiu identificar vó sabe Eu sempre sinto que posso ser eu mesmo quando estou com você disse ele mexendo no copo com os dedos Maria engoliu seco aquela sinceridade repentina desarmou nunca
tinha ouvido algo assim dele antes é porque eu sempre estive aqui para você querido e sempre estarei Aconteça o que acontecer respondeu tentando disfarçar a emoção que ameaçava transbordar Gabriel ficou em silêncio por um instante mas logo se levantou dizendo que precisava sair Maria o acompanhou até à porta observando-o enquanto ele se afastava quando fechou a porta atrás dele sentiu as pernas fraquejarem encostou-se na madeira tentando recuperar o fôlego e repetiu para si mesma que aquilo Não significava nada no entanto naqu noite ao se deitar a imagem de Gabriel voltou à sua mente seu sorriso
suas palavras Aquele olhar tudo Parecia ecoar em sua cabeça Maria tentou convencer-se de que era apenas sua imaginação mas no fundo sabia que algo havia mudado nos dias seguintes ela se Manteve ocupada com tarefas domésticas e visitas ao mercado mas não conseguiu afastar os pensamentos a lembrança daquela tarde parecia se fixar nela como uma melodia que se recusava a desaparecer os dias seguintes foram preenchidos por uma rotina mecânica para Maria ela lavava cortinas reorganizava gavetas e limpava os móveis tentando ocupar a mente e afastar os pensamentos inquietantes que insistiam em voltar no entanto por mais
que tentasse a lembrança de Gabriel continuava Viva sua voz o sorriso e aquele olhar permaneciam em sua memória como um Eco persistente no sábado seguinte como de costume sua filha Carolina trouxe os netos para passar a tarde enquanto os mais novos correram para brincar Gabriel entrou na cozinha encostando-se casualmente no batente da porta o que vamos preparar hoje vó perguntou ele com seu sorriso despreocupado Pensei em fazer empanadas quer me ajudar respondeu Maria tentando manter um tom leve ele assentiu e caminhou até a mesa durante quase uma hora trabalharam juntos amassando a massa e preparando
o recheio Gabriel brincava e contava história sobre o trabalho e os amigos e Maria se esforçava para manter a conversa fluindo no entanto havia algo diferente no ar cada movimento e cada toque acidental pareciam carregar um peso Invisível em um momento enquanto Maria enrolava uma das empanadas sentiu o olhar de Gabriel sobre ela levantou os olhos e o encontrou observando-a com uma intensidade que a fez estremecer o que foi perguntou ela tentando soar casual nada respondeu ele com um sorriso suave só estava pensando no quanto você é incrível sempre faz tudo por nós eu não
sei o que faríamos sem você as palavras dele atingiram de uma maneira Inesperada ela quis agradecer mas não encontrou as palavras certas em vez disso desviou o olhar e continuou trabalhando no entanto a tensão entre eles só aumentava quando terminaram Gabriel se ofereceu para limpar enquanto Maria colocava as empanadas no forno ao se virar para agradecê-lo percebeu que estavam muito mais próximos do que imaginava tão perto que pode sentir o calor do corpo dele você está bem vó perguntou ele em um tom quase sussurrado Maria assentiu mas sua voz falhou algo dentro dela gritava para
se afastar mas seus pés pareciam presos ao chão então de repente sentiu a mão dele roçar a sua de forma tão casual que poderia ter passado despercebida mas não passou Acho que vou sair um pouco para o quintal disse ela finalmente tentando recuperar o controle no Jardim Maria respirou fundo tentando acalmar os batimentos acelerados de seu coração repetia para si mesmo que tudo aquilo era um mal entendido fruto de sua mente cansada mas no fundo sabia que não era tão simples assim ao cair da tarde depois que os netos foram embora Maria se refugiou em
seu quarto sentou-se na cama encarando as sombras projetadas nas paredes e tentou lembrar do rosto do marido pensou nas promessas que fizeram e nas décadas que compartilharam mas por mais que tentasse a imagem que vinha à sua mente não era dele era de Gabriel naquela noite o silêncio da casa parecia mais pesado do que nunca Maria sabia que estava No Limiar de algo perigoso e embora dissesse a si mesma que precisava parar uma parte dela não queria fazê-lo nos dias seguintes Maria tentou evitar Gabriel inventava compromissos e passava mais tempo com as vizinhas no entanto
cada vez que ouvia o som da moto dele aproximando seu coração disparava não podia ignorar o que sentia e Isso assustava foi em uma quarta-feira que tudo começou a desmoronar Gabriel chegou como sempre com o seu sorriso despreocupado Maria estava dobrando roupas na sala e tentou não demonstrar o nervosismo ao vê-lo precisa de ajuda com isso vó perguntou ele sentando-se ao lado dela não é necessário já estou terminando respondeu rapidamente evitando olhá-lo nos olhos mas ele não se afastou pegou uma camisa e começou a dobrá-la Maria tentou se concentrar no que fazia mas a proximidade
dele era como um Irã você está diferente ultimamente está tudo bem perguntou Gabriel de repente sem tirar os olhos do que estava fazendo ela quis negar mas não conseguiu mentir para ele apenas deu de ombros fingindo indiferen é sóis da idade respondeu tando encerrar o assunto mas Gabri não insisti o que se segui foi ainda pior como se dise mais do que quer palav poderia expressar mais tardia sair para jardim para arse so a velha de Limões e tentou encontrar solo no ambiente tranquilo mas não demorou para que Gabriel aparecesse Posso sentar aqui perguntou ele
suavemente Maria assentiu sem olhá-lo ficaram em silêncio por alguns minutos mas a tensão era palpável foi Gabriel quem finalmente quebrou o silêncio às vezes sinto que não conheço você tão bem quanto pensava é como se houvesse algo que você guarda Só para si disse ele olhando para o horizonte As palavras dele pegaram Maria de surpresa ele nunca hav sido tão direto e isso a deixou ainda mais vulnerável algumas coisas é melhor guardar querido nem tudo precisa ser compartilhado respondeu ela tentando soar firme mas Gabriel não aceitou a resposta tão facilmente às vezes guardar as coisas
machuca mais do que compartilhá-las não acha insistiu ele Maria não soube o que responder só conseguia pensar no quanto tudo havia mudado entre entre eles em tão pouco tempo naquela noite depois que Gabriel foi embora Maria ficou acordada por horas sabia que precisava dar um fim naquilo antes que fosse tarde demais mas parte dela não tinha certeza se realmente queria parar os dias seguintes passaram como um turbilhão silencioso Maria continuava tentando se ocupar reorganizando a casa lavando roupas e preparando refeições que ninguém comeria por mais que tentasse não conseguia escapar dos Pensamentos que a atormentavam
cada lembrança de Gabriel parecia ganhar vida em sua mente especialmente as palavras e os olhares que ele deixava para trás na sexta-feira Gabriel apareceu novamente sua filha Carolina trabalharia até tarde e pediu que ele ficasse com Maria para fazer companhia quando ele entrou pela porta trazendo o cheiro da noite fria com ele Maria sentiu o coração acelerar tentou ignorar focando na preparação do jantar Que tal um café antes de começarmos a cozinhar sugeriu Gabriel tirando a jaqueta e pendurando a na cadeira Maria assentiu tentando manter a compostura observou preparar a cafeteira seus movimentos precisos e
controlados havia algo hipnotizante na forma como ele se movia pela cozinha como se aquele espaço já lhe pertencesse Como foi o dia perguntou ela tentando que quebrar o silêncio igual aos outros respondeu ele sem desviar os olhos da cafeteira mas agora estou aqui e tudo parece melhor Maria sentiu um nó na garganta aquelas palavras ditas com tanta naturalidade pareciam carregadas de um significado mais profundo tentou rir suavemente minimizando a atenção mas nada parecia diminuir o peso do momento quando o café ficou pronto sentaram-se à pequena mesa Gabriel contou história sobre o trabalho e os amigos
mas Maria mal conseguia se concentrar estava mais atenta a cada gesto dele a cada sorriso foi então que a conversa tomou um rumo inesperado vó sabe o que eu mais admiro em você perguntou ele de repente o quê respondeu ela tentando parecer despreocupada sua capacidade de ouvir você nunca me julga sempre me faz sentir em casa não importa o que aconteça Maria sentiu as palavras atingirem seu coração como um raio tentou responder mas ficou sem voz por um instante seus olhares se cruzaram de uma maneira que nunca havia acontecido antes o tempo pareceu parar foi
Gabriel quem desviou o olhar primeiro mas não antes de deixar um leve sorriso escapar Maria levantou-se apressadamente dizendo que precisava verificar algo na sala na verdade precisava de ar precisava respirar poucos minutos depois Gabriel apareceu no corredor Estreito que ligava a cozinha à sala Maria virou-se para falar alguma coisa mas ele se aproximou colocando uma mão gentilmente em seu braço o toque fez seu coração disparar obrigado por tudo vó de verdade disse ele baixinho antes que ela pudesse reagir ele se inclinou e lhe deu um beijo rápido nos lábios foi um gesto tão inesperado e
delicado que Maria ficou paralisada Gabriel recuou imediatamente parecendo perceber o que havia feito desculpa eu balbuciou ele mas Maria apenas levantou a mão pedindo que Ele saísse quando a porta se fechou atrás dele Maria desabou no sofá as lágrimas escorreram por seu rosto enquanto tentava entender o que havia acontecido aquilo não poderia estar acontecendo não com ela não com seu neto na manhã seguinte Maria acordou decidida a manter a distância sabia que qualquer aproximação só pioraria as coisas no entanto quando Gabriel apareceu com um saco de pães frescos sorrindo como se nada tivesse acontecido Maria
sentiu as paredes que havia tentado erguer começarem a desmoronar hoje vamos tomar café juntos como nos velhos tempos Ok disse ele colocando os pães sobre a mesa Maria tentou sorrir mas sentia-se vulnerável sentou-se à mesa fingindo estar calma mas cada palavra trocada parecia carregar uma tensão oculta você está bem perguntou Gabriel com um olhar preocupado estou querido só não dormi muito bem essa noite respondeu rapidamente tentando desviar o assunto ele pegou sua mão sobre a mesa e Maria sentiu o coração disparar puxou a mão discretamente levantando-se para buscar algo na cozinha Acho que vou sair
para caminhar depois do café disse ela desesperada para escapar da situação eu te acompanho respondeu ele sem hesitar Maria não teve coragem de dizer não caminharam pelo bairro em silêncio até chegarem a um parque onde Gabriel costumava brincar quando criança sentaram-se em um banco cercados por lembranças do passado vó lembra quando você me ensinou a andar de bicicleta aqui eu achava que você ficava bravo comigo quando eu caía mas agora percebo que você só queria que eu tentasse de novo Maria sorriu lembrando-se daquele dia nunca foi raiva querido foi orgulho eu sabia que você conseguiria
por um breve momento tudo pareceu normal Mas então o silêncio voltou carregado de algo mais Gabriel a olhou fixamente com uma seriedade que fez Maria prender a respiração vó eu preciso te dizer uma coisa começou ele não precisa dizer nada interrompeu ela tentando encerrar o assunto antes que fosse longe demais Gabriel suspirou como se entendesse levantou-se e estendeu a mão para ajudá-la a se levantar voltaram para em silêncio mas Maria sabia que aquilo não havia acabado naquela noite sentada diante do espelho ela buscava respostas que não conseguia encontrar sabia que precisava colocar um fim naquela
situação mas parte dela se sentia incapaz de fazê-lo estava dividida entre o que sabia ser certo e o que sentia os dias seguintes foram um teste de resistência para Maria ela tentava se manter ocupada mas cada movimento dentro de casa parecia recuar a ausência de Gabriel O beijo embora breve e tímido marcará um ponto sem retorno Maria sabia que precisava colocar um fim naquela situação mas algo dentro dela hesitava como se uma força invisível a mantivesse presa naquele turbilhão de emoções na tarde de domingo Carolina chegou com os filhos para o tradicional almoço em família
a rotina parecia familiar e reconfortante enquanto Carolina preparava os pratos principais Maria organizava os acompanhamentos na cozinha os mais novos corriam pela casa mas Gabriel como sempre ficou ao lado dela hoje você vai cortar os legumes disse Maria tentando suar casual Ou posso fazer guacamole você sabe que o meu é melhor que o seu respondeu ele com aquele sorriso que sempre a desarmava Maria riu entregando-lhe os ingredientes trabalharam lado a lado como de costume no entanto as mãos dele se tocaram mais vezes do que o necessário cada contato por mais breve parecia carregar um peso
que Maria não conseguia ignorar a tensão crescia como uma tempestade prestes a desabar tudo estava indo bem até que a neta mais nova falou algo que paralisou Maria vovó Por que você anda olhando tanto para o Gabriel perguntou a menina com a inocência típica das Crianças O silêncio que se seguiu foi sufocante Maria sentiu o rosto corar enquanto Gabriel desviava o olhar Carolina que estava Servindo um copo de água colocou o jarro sobre a mesa com um baque seco seu olhar cruzou com o de Maria e naquele instante algo mudou era como se Carolina começasse
a juntar as peças mãe está tudo bem perguntou Carolina com um tom que tentava soar casual mas estava carregado de tensão Claro querida as crianças sempre inventam coisas respondeu Maria esforçando-se para parer preocupada mas as palavras não tiveram o efeito desejado durante o resto do almoço Carolina ficou distante respondendo com frases curtas e evasivas Maria sentia o olhar dela sobre si analisando cada gesto após o almoço enquanto as crianças brincavam no quintal Carolina fechou a porta da cozinha e cruzou os braços Posso te perguntar uma coisa disse ela em um tom sério claro o que
foi Oi respondeu Maria embora já soubesse a resposta o que está acontecendo entre você e o Gabriel perguntou Carolina diretamente a pergunta foi como um soco no estômago Maria tentou responder mas as palavras não saíram tudo que conseguiu fazer foi baixar os olhos para o chão mãe insistiu Carolina aumentando o tom de voz eu preciso que você Seja honesta comigo é complicado murmurou Maria sentindo a garganta apertar complicado o que isso significa retrucou Carolina incrédula antes que Maria pudesse responder Gabriel apareceu na porta ele tinha ouvido tudo sua expressão era uma mistura de culpa e
determinação a culpa é minha disse ele entrando na cozinha Cala a boca interrompeu Carolina Furiosa eu não quero ouvir nada de você eu quero que ela me explique Maria sentia como se o chão estivesse desmoronando sob seus pés tudo que tentou esconder agora estava exposto eu não queria que isso acontecesse disse ela com a voz embargada eu juro que tentei evitar tentar não foi suficiente gritou Carolina com lágrimas nos olhos Como você pôde antes que a discussão pudesse continuar um dos n entrou correndo na cozinha interrompendo a conversa Carolina Aproveitou a oportunidade para sair da
sala deixando Gabriel e Maria sozinhos ele tentou se aproximar mas Maria ergueu a mão pedindo que ele parasse é melhor você ir embora disse ela sem conseguir olhar nos olhos dele Gabriel hesitou por um momento mas acabou obedecendo Maria ouviu o som da porta se fechando e o barulho da moto se afastando O silêncio que restou parecia mais pesado do que nunca nas semanas seguintes Carolina Manteve distância não havia mais visitas alegres ou almoços em Família o relacionamento entre elas parecia irreparável Maria passava os dias em silêncio tentando lidar com a culpa e o arrependimento
uma noite enquanto preparava o jantar um acidente na cozinha trouxe Gabriel de volta à sua memória ela se queimou ao derramar água quente sobre a blusa e no meio do caos lembrou-se de como Gabri estava por perto para ajudá-la Mas desta vez ele não estava lá dias depois Gabriel apareceu sem avisar sua exão era séria mas determinada precisamos conversar disse ele Maria assentiu e sentou-se no sofá Gabriel ficou em pé por alguns segundos antes de finalmente dizer eu vou embora por um tempo minha mãe e eu conversamos e acho que precisamos dessa distância isso não
está certo Vó nós dois sabemos Maria sentiu o coração despedaçar Mas sabia que ele tinha razão eu só quero o melhor para você querido se isso é o que precisa eu aceito ele se inclinou e lhe deu um abraço breve Mas cheio de emoção quando saiu deixou uma nota sobre a mesa obrigado por tudo sempre estarei aqui mesmo à distância Maria ficou olhando a nota por um longo tempo Deixando as lágrimas correrem pelo rosto sabia que aquilo era necessário mas isso não tornava despedida menos dolorosa naquela noite pela primeira vez em muito tempo o silêncio
da casa Parecia um alívio era um novo começo uma chance de Se Curar e reconstruir o que havia sido quebrado