eu te convido a imaginar a seguinte cena um jovem deixou um tênis no chão de um museu não avisou a ninguém se afastou e ficou observando e gravando a reação das pessoas aos poucos os visitantes começavam a parar diante do tênis observar aquele tênis tirar fotos examinar o objeto como se fosse uma obra de arte não precisa imaginar isso aconteceu de verdade é um vídeo que tem nas redes sociais que um jovem coloca ali o tênis né E fica filmando e rindo daquela situação Olha só como essas pessoas são idiotas achando que esse tênis é
arte as pessoas acham que tudo é arte Mas será que não é mesmo Será que o tênis e será que tudo não pode ser arte eu sou PH Santos crítico cinema e eu estudei bastante esse negócio de Museu arte etc na faculdade acho que foi a coisa que eu mais estudei junto com as pesquisas que fazia sobre cinema tá E hoje eu quero explorar o que realmente confere status de arte a um objeto quero falar também sobre museus sobre o con da aura artística e o papel do sujeito observador vamos [Música] lá recentemente eu assisti
a um vídeo do canal os três elementos onde os três discutiam a exibição de uma caveira de cristal falsa nesse caso em um museu ali na Inglaterra de fato existe tá esse objeto existe Eles estavam discutindo como pode né o Acho que foi o Carlos ru ficou espantado com o fato de um objeto falsificado estar ali sendo exibido Como pode gente as caveiras são falsas Mas por que que a gente tá eh colocando isso de ponto de vista artístico proibido Marcel do champ nos ensinou que a escolha de um objeto pode ser por si só
um ato artístico o museu ele transforma o objeto escolhido em algo que merece ser observado por mais que antes não não merecesse ele transforma algo que não tinha valor artístico simplesmente por estar ali então dane-se se é falso ou verdadeiro o museu tá buscando alguma reflexão ao colocar aquele treco ali junto com vários outros que são verdadeiros que são entre aspas merecedores dessa observação e assim sucessivamente Vamos pensar um exemplo tá armaduras medievais armaduras medievais foram feitas para guerrear né PR as pessoas batalharem e não morrerem disso a gente concorda só que quando a gente
coloca uma armadura no museu uma armadura numa sala de um Palácio que também vira um museu quer que seja essa armadura se torna um objeto de contemplação um aprisionamento de um tempo histórico que faz a gente refletir sobre o tempo sobre a coisa em si sobre nós pessoas que adoramos guerrear Originalmente ela não foi criada para isso já falei ela não foi criada como uma peça de arte mas ela ganha o poder de uma peça de arte A aura de uma peça de arte vou melhorar essa reflexão tá imagina essa armadura medieval coloca do lado
agora um colete à Prova de Balas o que é que temos ora temos reflexões vezes 2 vezes 3 vezes 1000 sobre as mudanças dos costumes sobre como certos os objetos mudam ao longo o tempo mas talvez nem tanto como o objeto muda mas o sujeito continua fazendo guerra nos pergunta ou nos faz refletir se ainda somos quem sabe sujeitos medievais tentando conquistar um pedaço de terra eu falo um pouco sobre isso num conto que eu escrevi é que é o febre um momento aqui nesse conto eu falo sobre a mudança de um objeto ao longo
do tempo então se você quiser adquirir esse conto são dois contos tá tá aqui na descrição o link o que eu quero dizer com isso é que o museu o espaço é parte do entendimento da obra enquanto arte o museu transforma o museu provoca assim como o cinema vai pegar um vídeo que foi feito por acaso e montado de tal maneira que se exibido no cinema ele pode ganhar uma aura um peso diferente dentro desses espaços os objetos fazem danação essa é a palavra eles ficam Danados eles se danam a armadura repito não foi pensada
para ser arte mas transformou-se danou-se e virou arte qual a diferença dela pro tênis do jovem o colete a prova de balas também não foi pensado para aquilo e é um objeto contemporâneo Por que que ele virou arte de novo qual é a diferença dele para o tênis do jovem a danação do objeto é fruto desse livro aqui ó do Professor Francisco réis Lopes Ramos meu professor de Museu na faculdade de história livro que eu li em 2007 que mudou muito minha reflexão sobre Museu quando eu Visitei pela primeira vez o museu do Ceará aqui
que inclusive está fechado Largado às traças pelas Secretaria de Cultura aqui da cidade São outros 500 quando eu entrei no museu do Ceará uma das primeiras coisas que que a gente vê assim é de um lado um cocar indígena do outro lado um canhão que não são da mesma era tá são de momentos diferentes mas isso não importa e ao centro um pouco mais à frente dos dois o primeiro mapa de Fortaleza primeiro mapa da cidade quando você olha apenas os dois cocar e o canhão Você tem uma observação né Olha só o canhão dos
colonizadores que destruíram os indígenas que ala estava quando você dá um passo para trás e o e o mapa fica em perspectiva os dois ficam embaçados Se você olhar pro mapa sugere portanto que aquele mapa é fruto daquela morte só que eu quero exagerar A reflexão eu sou sujeito observador tô numa camada e se outra pessoa estiver me observando se outra pessoa tiver me observando aquele mapa é fruto daquela guerra mas eu também sou fruto daquele mapa Eu sou filho da minha cidade assim todos os objetos estão se danando estão se movendo de maneira diferente
eu observador sou fruto daquilo portanto eu observador também sou fruto de uma reflexão porque não arte ou seja o jovem que colocou o tênis lá para caçoar das pessoas que estavam exagerando do seu ponto de vista artístico o jovem também é fruto de reflexão coisa que eu tô fazendo aqui nesse vídeo vou lá no Marcel do champ de novo tá é o do champ ele colocou um mictório no museu e declarou que aquilo também era arte isso é bem conhecido né muita gente até fala assim PH é desses que e fica o cara bota um
micó no museu e fica achando que é arte pd sou desses sou desses porque o que o Marcel do champ estava provocando Ali era uma crítica ao que é considerado alta arte ou baixa arte quer dizer que alta arte é o que vem do passado alta arte é o que foi feito pelos grandes pintores e só que isso aqui é baixa arte Então o que o jovem faz no museu é igual ele testa os limites do que é arte ele tá sendo um sujeito extremamente provocador tanto quanto do Chan e ele tá provando que o
espaço de um museu tem o poder de transformar o ordinário em extraordinário mas só o museu será não só tá eu acho que e contextos carregam histórias qualquer contexto carrega história é porque o meu recorte aqui é o museu né o museu e outros espaços parecidos mas noutros vídeos eu posso ir além inclusive já fui no vídeo sobre pixação eu falo como a cidade em si é ou pode ser uma grande Mura Mas voltando pro ponto não vou exagerar sobre isso coloque o desenho do seu filho de 5 anos na porta da sua geladeira ele
vai transformar a geladeira não vai mas não vai ser um grande objeto artístico mas ele vai transformar a sua geladeira aquela geladeira como se tivesse um um sentimento agora um coração é diferente Coloca esse mesmo desenho ao lado da Monalisa lá no luvre ele será modificado para sempre pela sua nova posição Como pode o desenho dessa criança do lado da Monalisa já mudou ao fazer essa pergunta já mudou coloque-o agora de volta na geladeira e agora você tem não só a geladeira diferente mas um pedaço do luvre dentro da sua casa ou seja esse objeto
ele ganhou uma nova aura daquele Museu Mas também da monaliza ele foi ressignificado e esse valor invisível mais sensível faz com que o que antes não era arte passe a ser arte e o que deveria ser arte nem sempre recebe o status merecido diga-se de passagem os espaços onde a arte reside tornam-se arte em si também o museu é arte os observadores idem eu citei o caso do museu do Ceará nós somos agentes tão importantes quanto o objeto e quanto o artista tá exagerando né PH tudo é arte então coisas simples são arte Tás exagerando
tem um episódio da série Love Death and Roberts que é o zima Blue é acho que ele ajuda bastante a gente aqui nessa reflexão o zima é um personagem que começa a cada vez fazer obras de artes mais cal alfabéticas mais abstratas mais complexas e no final ele chega a um simples quadrado azul e diz que aquilo é a sua masterpiece a sua obra perfeita a partir disso ele questiona O que é a arte e qual é o seu propósito enquanto artista zima ele foi criado para realizar uma função muito simples ele era um limpador
de piscinas e daí ele desgarrou ao refletir sobre o mundo ele desgarrou ao fim ele entende que toda a sua busca artística filosófica existencial foi de certo modo um retorno à sua Total simplicidade o zima Blue é um azulejo azul o zima Blue é um retorno às suas origens mecânicas a função mais simples para a qual foi projetado que o fez se encontrar com a sua obra mais perfeita de todas o que eu quero dizer é que o processo é é o grande chamariz aqui desse assunto o processo observar o processo produzir o processo organizar
esse processo dialoga com a questão levantada sobre o que define o valor artístico de um objeto assim como o tênis no museu a armadura transformada em arte pelo contexto de Exposição zima questiona O que torna uma obra significativa ele reflete sobre o papel do artista do Observador do próprio objeto sugere que o valor da arte pode estar em algo tão simples tão banal quanto uma tarefa cotidiana nesse sentido zima Blue explora Como a arte pode emergir de qualquer lugar inclusive de uma máquina programada para limpar piscinas contanto que haja contemplação e reflexão sobre a sua
existência sem isso a arte nem o local dela consegue ganhar o que Walter Benjamin chama de aura quando aquele J jovem tá jogando ali o tênis e uma pessoa parou para observar esse tênis pode brincar pode rir pode ser o que quiser aquele tênis virou zima Blue uma arte tão perfeita quanto as outras que estavam pregadas nas paredes de lá isso acontece porque a aura de uma obra de arte tá relacionada ao seu contexto ao local onde ela foi criada onde ela tá exposta Mas também como o artista processa aquilo o tênis foi criado para
quê para calçar e andar só assim como o zima foi criado para para limpar uma piscina só que o mesmo tênis deixado no museu largado lá mesmo como uma brincadeira ganha uma nova aura por estar naquele espaço naquele local e o jovem que fez isso ele também se torna parte dessa obra porque ele inclusive me instigou a fazer esse vídeo que eu tô fazendo mas instigou outras pessoas a refletirem sobre por dechos essa bosta desse tênis tá aqui Portanto o jovem é artista Portanto o tênis agora é arte quando a última temporada de Game of
Thrones foi estrear e escolheram vários lugares no mundo mundo para colocar um Trono de Ferro para as pessoas sentar bater foto né uma uma questão de Marketing e uma das dos locais escolhidos foi Aqui Ceará mais precisamente a cidade de Beberibe onde tem falésias lindas e aí parecia dorne né Areal medonho colocaram o trono não avisaram a ninguém mas as pessoas foram descobrindo filas homéricas foram formadas e beberi passou por aquele momento a ser uma espécie de peregrinação para os fãs de Game of Thrones percebe como que não é artista é um produto tá ele
foi colocado num local e ressignificou aquele local porque o Game of Thrones em si ele é arte o Game of Thrones é arte é um projeto artístico de alguém então ao colocar a simbologia artística do Game of Thrones no local aquele local foi ressignificado até hoje tem a placa aqui esteve O Trono de Ferro pessoas vendo em camisa O Trono de ferro é o tênis do [Música] garoto o Pierre bourdier ele propõe nesse livro aqui aqui ó o amor pela arte esse livro aqui do Pierre bourdier ele argumenta aqui que o valor da arte é
definido por instituições mas também pelo observador ou seja não é só o museu se O Observador quiser ele vai transformar aquele treco ali em arte esse microfone esse Mouse ele vai se O Observador quiser ele consegue ao contemplar um tênis esse livro inclusive tá aqui na descrição por favor me ajude Eu posso ganhar R 1 por cada livro mas enfim ele pode contemplar o tênis a Caveira de Cristal falsa mas o fato de perceber aquilo torna aquilo artístico não é só o artista que faz arte não é só o objeto que é arte a nossa
reação a ele também faz parte do processo artístico o museu enquanto espaço legitimador transforma qualquer coisa que ela esteja em algo passivo de reflexão Mas se não tiver nós do lado de cá não funciona também ou seja a moldura faz parte da obra mas em algum momento a obra também se torna parte da moldura O Observador faz parte da obra e a obra também faz parte do Observador a partir daquela experiência é uma relação simbiótica transferível alienável moldável eu tive uma experiência que ilustra isso muito bem Um dos museus que eu mais gosto se chama
ha czin que fica em Amsterdam e eu fui na última viagem que eu fiz com a intenção de observar quadros do verme do rembrand só que eu caí numa besteira de começar a a visita eu queria observar uns 10 quadros sei lá sentar e observar eu levo um banquinho sento tem uma foto minha aí e fico a notando né mas mas enfim eu queria observar uns 10 quadros só que eu disse o que é que o guia tá falando sobre esses quadros E aí eu peguei o guia do museu só que ao seguir as as
instruções o guia ele meio que direcionava os visitantes todos para uma obra muito específica num espaço lá tinha várias obras maravilhosas do vermer das pessoas recebendo as cartinhas assim outros escrevendo carta e eu danado para saber o que diabo tava naquela carta eu tava altamente empolgado com aquelas cartas com as mulheres recebendo as cara fazendo cara de espanto eu queria saber o que diabo tinha dentro daquela carta mas as pessoas não olhavam para esses outros quadros olhava apenas pra leiteira a curadoria do museu portanto fez a leiteira ser o quadro mais interessante ali por mais
que do meu ponto de vista não fosse o quadro mais interessante outros quadros Magníficos eram deixados de lado todo mundo só via o jach da leiteira só que olha o que eu tô fazendo aqui eu tô falando das pessoas e da relação delas com a arte Então o meu objeto nessa observação toda foi o museu em si sua curadoria e também a relação das pessoas com os objetos que estavam pregados ali na parede eu mesmo virei objeto artístico objeto de reflexão de curiosidade eu como eu disse eu pego meu banquinho cento de frente pro quadro
e fico anotando tinha um quadro lá sobre enfim São Jerônimo não sei o quê tava observando pá não sei o qu aí eu pego meu banquinho fecho e vou andando assim pra outra obra O cara me para me chama assim em inglês tal não sei o quê e diz olha eu tava tão curioso para saber o que você tava fazendo ali e você pode me explicar eu expliquei aí quando eu saí eu disse Rapaz então o cara me observou tu tá entendendo então o peso Vocês estão entendendo o peso gigante que tem a participação do
ser humano a participação do sujeito observador no entendimento de arte como um todo ou seja se ninguém tivesse parado lá pro jacho do tênis ele não realmente não teria virado um objeto de reflexão não teria E aí eu vou começar a chegar aonde eu queria chegar com esse vídeo [Música] tá o John De filósofo améric ano ele argumenta que a arte é uma experiência e não apenas um objeto quando interagimos com algo no museu ou até fora dele estamos vivendo um experiência artística como um todo noutras palavras não somos sujeitos passivos na experiência artística a
arte não é algo distante não pode ser é próxima como um tênis ou como um mictório ou como um gordo sentado observando os objetos não deveríamos achar que é algo além de nós não é é algo de nós para nós a partir de nós nós o tênis no museu é diferente do tênis na rua no museu ele provoca ele questiona Mas na rua Se alguém quiser parar e refletir sobre aquele tênis ele também pode se tornar algo relevante de percepção artística a fotografia faz isso não é não a localização do objeto e a forma como
interagimos com ele criam novos significados Esse é o ponto desse vídeo o tênis a Caveira de Cristal o desenho de uma criança tudo isso pode ser arte desde que os coloquemos no contexto propício ou que estejamos dispostos a refletir sobre eles não só o artista mas O Observador também faz parte da criação o museu ao nos proporcionar essas interações transforma tudo que toca em algo digno de contemplação mas nós também porque a arte está em todos nós enquanto experiência ela é reflexiva fluida e depende da nossa interação com o mundo ao nosso redor somos intrínsecos
à arte que nos cerca e jamais deveríamos nos distanciar disso [Música] jamais Muito obrigado e até a próxima [Música]