SUBMISSOS, EM PAZ COM DEUS – Homilia – Santa Maria Mãe de Deus (2025)

Caríssimos irmãos, ao celebrarmos a solenidade da Circuncisão do Senhor e da Maternidade Divina de Maria, somos convidados pela Igreja a contemplar o mistério que une, em sua grandeza, o sangue Redentor do Verbo Encarnado e a Nura Maternal daquela que, ao gerar o Filho de Deus, tornou-se também a mãe de todos os homens. A circuncisão de Jesus, realizada ao oitavo dia após seu nascimento, é mais que um simples cumprimento da lei abraâmica; é o primeiro derramamento de seu sangue, sinal da obediência perfeita ao Pai e prenúncio da entrega total que se consumará na cruz. O mesmo Deus que, na plenitude dos tempos, nascido de mulher, nascido sob a lei, submete-se agora ao rito da antiga aliança para não apenas cumpri-la, mas elevá-la a um significado eterno.

Eis aqui o contraste sublime: o criador do universo, o legislador eterno, abaixa-se, permitindo que uma lâmina toque sua carne frágil para ensinar-nos a grandeza da humildade e da redenção. Adoremos aquelas primeiras gotas de sangue que brotam da Santíssima carne do Senhor. Elas mostram que Ele não apenas é humano, mas que é homem; mostram que Ele carrega essa cicatriz em seu membro viril como sinal da fecundidade da sua redenção, que gerará pela fé filhos de Abraão de todas as nações da Terra.

Maria, por sua vez, é testemunha desse momento solene, a mãe que gerou o Salvador, agora assiste ao primeiro ato de sua paixão; é também ela que lhe dá o nome Jesus, um nome que não apenas identifica, mas revela a sua missão redentora, porque Ele salvará o seu povo de seus pecados. Que coração seria capaz de abarcar tamanha dor e tamanha alegria ao mesmo tempo? Somente o coração da Virgem Maria, cujo sim à vontade Divina tornou-a corredentora por excelência.

Na circuncisão, contemplamos o mistério insondável da submissão divina: o Filho eterno do Pai, porém, tudo foi criado, submete-se à dor de um rito humano. Essa obediência não é apenas um gesto externo, é um sinal da total entrega de seu ser à vontade do Pai, uma entrega que culminará na cruz. Assim como o primeiro Adão procurou a autonomia desobediente, Cristo, o novo Adão, repara aquela queda com a obediência perfeita, até mesmo ao preceito da lei que Ele mesmo instituiu.

Maria, sua participação é plena na circuncisão de Jesus; ela não apenas entrega seu Filho ao cumprimento da lei, mas também renova o seu Fiat, o seu faça-se, aceitando com coragem os primeiros passos do caminho de dor que acompanha a missão redentora. Sua maternidade divina é inseparável de sua maternidade espiritual. Ao entregar Jesus ao Pai, entrega também a si mesma para a salvação de todos os homens.

O nome de Jesus proclamado neste dia é um nome que ressoa através dos séculos; ele não é apenas uma identificação, mas um tesouro de significado: Yahvé salva. Este nome é um grito de esperança, uma ponte entre o céu e a terra, um farol que guia os homens perdidos para a luz divina. No nome de Jesus encontramos a chave para a reconciliação, a força para a luta contra o pecado, a paz para as almas inquietas.

Maria, a mãe, pronuncia este nome pela primeira vez, entregando à humanidade a palavra que salva. Como é belo contemplar o que este nome sagrado significa, nome colocado em seus lábios; aqueles lábios que o ensinaram a falar, a louvar, a amar. Ela, que é a mãe do nome, também é mãe de todos os que invocam esse nome com fé.

A solenidade que hoje celebramos também exalta a Maternidade Divina de Maria, proclamada solenemente pelo Concílio de Éfeso como Ate Tocos, a mãe de Deus. Essa verdade de fé é a pedra angular do mistério da Encarnação: aquele que nasceu de Maria é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. A humanidade de Jesus é inseparável de sua divindade, e Maria, ao dar-lhe a carne, tornou-se o canal pelo qual a graça entrou no mundo.

Hoje, na antífona do cântico evangélico de Laudes, a Igreja coloca em nossos lábios a seguinte exclamação: “Um maravilhoso mistério é nos declarado hoje: inovado em sua natureza, Deus se fez homem; aquilo que Ele foi permanece e aquilo que Ele não era, Ele assumiu, sem sofrer mistura nem divisão. ” O menino que nasceu tem a natureza humana, mas é uma pessoa divina; por isso, Maria Santíssima é mãe de Deus. Mas a maternidade de Deus imita o nascimento de Cristo; em cada etapa de sua vida, ela esteve presente, cuidando, protegendo, acompanhando, sofrendo.

E, ao pé da cruz, Jesus lhe confiou uma missão ainda maior: ser a mãe de todos os redimidos. Quando Jesus disse a João: “Eis a tua mãe”, Ele não apenas entregou Maria a um apóstolo; entregou-a a toda a humanidade. O que este duplo mistério nos ensina?

Em primeiro lugar, aprendemos que a obediência à vontade de Deus é o caminho para a redenção. Assim como Cristo submeteu-se à circuncisão e Maria submeteu-se ao plano divino, também nós somos chamados a entregar nossas vidas ao Senhor, confiando que sua vontade é sempre para o nosso bem. Em segundo lugar, aprendemos a grandeza do nome de Jesus: invocar esse nome é abrir-se à graça, à proteção, à salvação.

Que este nome esteja sempre em nossos lábios e em nossos corações como fonte de graça e consolo; tudo que pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá. Finalmente, aprendemos com Maria a abraçar nossa própria missão neste mundo. Como ela, somos chamados a ser portadores de Cristo, testemunhas de sua graça, instrumentos de sua paz.

Que a mãe de Deus nos ensine a viver com o mesmo amor, a mesma coragem e a mesma fé que marcaram toda a sua vida. E qual é o fruto de sermos submissos à vontade divina? Não é outro senão a paz, meus irmãos: a paz de Deus, que excede todo entendimento.

Como dizia o profeta Isaías: “Tu conservarás em paz aquele cujo coração está totalmente em ti, porque confia em ti. ” A obediência a Deus, ainda que doa, é fonte segura de paz e serenidade. Meus irmãos e irmãs, hoje é a circuncisão do Senhor e a maternidade divina de Maria.

Renovemos nosso compromisso de viver como verdadeiros filhos de Deus. Desde este momento, invocamos sobre cada dia deste ano a cobertura do Sangue Derramado de Jesus. Que o sangue derramado por Cristo nos purifique e liberte de toda cilada do inimigo.

Que o nome de Jesus seja nosso escudo, e que a proteção de Maria nos conduza sempre mais perto do coração do Salvador. Em nome de Jesus e sob o olhar maternal de Maria, avancemos neste novo ano com esperança e fidelidade. Amém.