A Ferrari é uma daquelas marcas que dispensam apresentações. Sinônimo de esportividade, os carros da marca com toda certeza são o sonho de consumo de muitos apaixonados por automóveis. Seu criador, o piloto Enzo Ferrari, é provavelmente um dos nomes mais famosos de toda a indústria automobilística, e dedicou sua vida à velocidade e ao amor pelos motores.
Mas a Ferrari não é a única no mundo a produzir supercarros altamente cobiçados, na verdade, uma de suas principais concorrentes surgiu quando o próprio Enzo disse de maneira arrogante “um fabricante de tratores não pode reclamar da embreagem de uma Ferrari” a ninguém menos que Ferruccio Lamborghini. Foi o suficiente pra que Lamborghini, que até então fabricava apenas tratores sob sua marca, resolvesse entrar no jogo se propondo a fazer carros melhores que os da Ferrari – era o início de uma autêntica rivalidade italiana que moldaria a indústria dos supercarros. Hoje, apesar de ambas as marcas produzirem carros que estão entre os mais caros e luxuosos do mundo, uma coisa torna a Ferrari diferente das outras, e não necessariamente de uma maneira boa: sua política de extrema exclusividade não tem contribuído muito pra reputação da fabricante.
Se engana quem pensa que pra comprar uma Ferrari basta ter saldo suficiente no banco – os italianos são bem mais exigentes que isso. Pode demorar anos até que você seja considerado um “comprador adequado”, e mesmo assim, qualquer mínimo detalhe pode ser motivo pra fabricante não querer vender nem um parafuso pra você. Além disso, conseguir comprar é “só” o primeiro passo.
Caso você faça algo com seu carro que eles não aprovem, eles vão te dar uma bela dor de cabeça e vão te processar na primeira chance. Então, o que a Ferrari ganha agindo assim com seus clientes e potenciais clientes? E o que você precisa ter pra entrar no clubinho zero quilômetro da Ferrari?
A saga de quem pretende ter uma Ferrari nova de fábrica é extensa, burocrática e chata. Não só pelos valores altíssimos dos carros da marca, mas também por todo o trabalho que é o processo inteiro até finalmente concretizar a compra. A Ferrari é altamente exigente com seus clientes, tanto que muitas vezes se fala que não é você que escolhe a Ferrari, a Ferrari é quem escolhe você.
Isso quer dizer que existe um certo perfil a quem a fabricante “confia” seus carros zero quilômetro, e se você não cumprir com os requisitos deles, dificilmente haverá um negócio fechado. Pra modelos padrão da Ferrari, geralmente a marca exige um histórico de posse dos clientes, pra saber por exemplo se o comprador já possui ou possuiu uma Ferrari em sua garagem. Se você nunca teve uma Ferrari antes, nova ou de segunda-mão, suas chances de comprar uma zero quilômetro já são bem baixas – e se você tem uma Lamborghini então, pode esquecer a Ferrari nova.
Além disso, o fator idade pesa bastante na avaliação também: a maioria dos vendedores da Ferrari sequer cogitam vender um carro novo pra alguém que tenha menos de 40 anos. O comprador também precisa dar uma entrada generosa e ter um score de crédito bastante alto se quiser negociar algum tipo de financiamento, mas isso é de se esperar se tratando de veículos tão valiosos. Também é preciso que o cliente se comprometa a cumprir algumas exigências da Ferrari depois que tiver em posse do carro, como só realizar reparos e manutenções em oficinas autorizadas, não fazer alterações no motor ou na carroceria, não aplicar pinturas na cor rosa ou semelhantes, nem cobrir o emblema da marca.
A lista continua, e caso o cliente não cumpra algum desses requisitos, a Ferrari pode inclusive pegar o carro de volta. Mas se você acha que toda essa exigência já é inconveniente demais, calma, a coisa fica ainda pior quando se trata de algum dos raros modelos de edição limitada da fabricante. Pra comprar uma edição limitada zero quilômetro, além de ter que cumprir todas as exigências que os modelos padrão já requerem, é preciso cumprir outros muito mais difíceis de conseguir, e que podem levar anos até serem atingidos.
Um deles, por exemplo, é conquistar a confiança dos vendedores Ferrari, ou seja, é preciso criar uma verdadeira relação com um vendedor durante anos, pra que ele te enxergue como um comprador plausível de uma edição limitada. Outro ponto é que o cliente em potencial deve ser fiel à marca, já tendo sido proprietário de diversas Ferraris, e já tendo feito uma visita à fábrica da Ferrari em Maranello, na Itália. Esses são só alguns requisitos básicos, na verdade é impossível saber quais são os requisitos exatos da Ferrari, já que eles fazem questão de manter um mistério acerca disso, então cumprir com essas exigência não garante de maneira alguma que você seja aprovado como comprador.
Apesar disso, sabe-se que ser uma celebridade pode facilitar um pouco desse processo e melhorar suas chances de um negócio bem sucedido. Ainda assim, não basta ser famoso, a Ferrari analisa muito bem que tipo de celebridade você é, a que sua imagem tá associada, e se o seu comportamento e estilo de vida são compatíveis com o posicionamento da marca. Em 2016, o ex-piloto multimilionário Preston Henn de 85 anos não foi aprovado como comprador de um exemplar da edição limitada LaFerrari Spider, mesmo sendo um ávido colecionador de Ferraris há décadas, chegando a possuir 18 exemplares diferentes, incluindo um Fórmula 1 dirigido por Michael Schumacher.
Preston não ficou nada feliz com a notícia – especialmente depois de ter enviado uma carta e um cheque de 1 milhão de dólares direto pro diretor da Ferrari – e resolveu processar a empresa italiana por difamação. No fim das contas, a dor de cabeça foi tão grande, que Preston simplesmente desistiu da compra e do processo, e adquiriu um Acura NSX, dizendo depois que foi o melhor carro que ele já teve. É claro que toda essa burocracia e a extrema rigidez da política de vendas adotada pela Ferrari já gera muita controvérsia por si só, mas o fato é que comprar o carro é só o primeiro passo disso tudo.
O pós-venda da Ferrari também não é nada convidativo, e eles não vão medir esforços pra garantir que você seja mesmo “digno” de possuir um supercarro Ferrari. Quem já comprou sua Ferrari zero quilômetro certamente já conseguiu vencer alguns desafios: primeiro, conseguir a grana, claro, e segundo, sobreviver ao processo bastante eliminatório da fabricante pra ser aprovado como comprador. Mas não é agora que as coisas melhoram, e se o cliente pensa que vai ser só curtir sua nova máquina sem preocupações, ele tá completamente enganado.
A Ferrari vai continuar na cola do novo proprietário pra garantir que ele não faça nada que a própria Ferrari desaprove. Caso ele faça, os italianos contam com um time legal pronto pra agir e pegar de volta o que é da Ferrari. Isso gera uma sensação de que mesmo após adquirir seu carro extremamente caro, o comprador sempre deve satisfações à fabricante.
Não é preciso dizer que isso pode não ser um sentimento lá muito agradável, já que usufruir da sua Ferrari tendo que seguir um livro de regras rígidas não é exatamente a experiência com que muitos fãs da marca sonharam. Isso acaba sendo suficiente pra que potenciais compradores simplesmente não vejam motivação pra tentar comprar uma Ferrari zero quilômetro. Bill Ceno é um colecionador de carros que possui quatro Ferraris de edições limitadas.
O web designer de 55 anos comprou todas as quatro de segunda mão, e mesmo pagando mais caro, ele diz preferir fazer isso a passar pela política de aprovação da Ferrari pra comprar uma nova. Já o apresentador americano Jay Leno, conhecido por sua notória paixão por carros e possuidor de uma impressionante coleção de mais de 180 automóveis, disse em entrevista que não tem nenhuma intenção de comprar um carro novo da Ferrari. Ele explica que nunca gostou de lidar com os vendedores da Ferrari e seus processos cansativos e exigentes.
Fazendo uma comparação com a compra da sua McLaren MP412c, ele diz: O processo de compra foi excelente. Eu tinha o carro por 6 ou 7 meses, minha McLaren MP4 12C e eles me ligaram e ofereceram um upgrade pra aumentar de 592cv para 617cv, ‘você quer o upgrade? ’ Eu perguntei ‘Quanto é?
’, e eles disseram ‘É de graça’. Quando eu comprei eu disse que queria o conjunto de freios de fibra de carbono, e o vendedor perguntou “Você usa o carro nas pistas? ”, eu disse que “Não, uso na rua mesmo”, e eles responderam “Então você não precisa dos freios de carbono, economize esses 20 mil”.
Leno também conta sobre uma experiência muito boa com a Porsche: quando o comediante comprou seu Carrera GT, o tratamento que recebeu foi incrível. A Porsche enviou até mesmo 2 mecânicos no dia da entrega pra ensinar Jay tudo sobre o carro, além de vários brindes, como uma jaqueta exclusiva pra ele. Esse tipo de experiência fez com que ele se sentisse um verdadeiro cliente, quando a Ferrari faz exatamente o contrário.
Não é difícil encontrar casos onde a Ferrari foi lá incomodar outras pessoas ou até mesmo seus clientes, e o time de advogados não economiza nem um pouco no número de processos abertos pra proteger os interesses da marca. Em 2020, a fabricante resolveu processar uma ONG italiana que combate o doping nos esportes. O motivo é que a Ferrari queria obter exclusividade no uso do nome “Purosangue”, o nome adotado pela ONG, pra que pudesse usar esse nome em um de seus novos modelos.
Já um estilista alemão costumava publicar fotos dos seus produtos no Instagram usando sua Ferrari 812 Superfast como plano de fundo. Foi o suficiente pra Ferrari forçar o alemão a remover todas as publicações com o carro, alegando que o estilista usava a marca pra promover seus próprios produtos. A Ferrari conta com uma lista persona non grata.
Algumas delas são celebridades como Justin Bieber, que não pode comprar modelos exclusivos, Floyd Mayweather, Kim Kardashian, Nicolas Cage e Fifty Cent. Entre os motivos estão falar mal dos carros em redes sociais, fazer modificações proibidas pela marca, revender os carros por um preço muito abaixo do mercado, ou até mesmo não terminar os pagamentos da compra. Nem mesmo os fãs escapam da fúria vermelha: um outro caso ocorreu contra o fundador de uma fanpage da Ferrari no Facebook.
Em 2008, Sammy Wasem criou uma página de fãs da empresa italiana, que acabou crescendo e superando os 10 milhões de seguidores. Quando soube do sucesso da fanpage, em 2010, a Ferrari propôs dividir o controle da página com o rapaz, que acabou aceitando. Mas alguns anos depois a Ferrari retirou Sammy da administração subitamente, o que acabou gerando uma resposta judicial do jovem contra a empresa, mas que não resultou em nada.
Já o brasileiro Vitor Estevam resolveu construir uma réplica da Ferrari F40 com peças de veículos batidos que comprou em leilões, tudo por paixão. Quando teve um problema financeiro e resolveu vender sua réplica por 80 mil, a Ferrari processou o dentista por falsificação, e seu projeto acabou sendo apreendido. Vitor ganhou a batalha na justiça, mas esse é só um dos exemplos de como a Ferrari pode chegar longe pra tentar proteger sua marca, mesmo que seja de um fã com um projeto amador.
Mas além de todas as regras impostas, tem uma coisa em específico que a Ferrari tem tentado combater com bastante empenho: a cultura das redes sociais e a imagem da Ferrari nelas. Em 2014, o produtor de música eletrônica Deadmaus resolveu fazer algumas modificações na sua Ferrari 458 Italia. Ele envelopou o carro com um desenho de um gato da internet chamado Nyan Cat, e resolveu batizar o carro de “Purrari” – em referência ao ronronar de um gato – basicamente transformando sua Ferrari num meme caro e ambulante.
Além disso, ele trocou os símbolos da marca por versões customizadas acompanhando a temática do seu projeto, e trocou até os tapetes do carro por uma versão mais “felina”. Não é difícil imaginar que a Ferrari não ficou nada feliz com essa brincadeira, e não demorou muito até que eles enviassem uma notificação de “Cease and Desist” pro canadense, basicamente uma exigência pra que ele desfizesse a customização ou iria enfrentar consequências legais. Foi o suficiente pra que Deadmaus se irritasse e desfizesse todas as modificações, antes de colocar o carro à venda.
Mas o que exatamente incomodou a Ferrari nesse episódio? Simplesmente a ideia de um de seus carros não ter sido levado a sério. A Ferrari age dessa maneira com todo mundo porque eles têm uma preocupação extrema em manter uma determinada imagem da marca e dos seus produtos.
A imagem de que seus carros são obras de arte, que poucos têm acesso e que devem ser tratados com o máximo de respeito como os supercarros que são. Suas regras pra aprovação de clientes servem pra que eles não deixem os carros novos caírem na mão de qualquer um, e que esses possam acabar fazendo algo que prejudique a reputação da marca, ou associe seus carros a imagens e estilos de vida que não fazem parte da visão da Ferrari. Isso é muito relevante pra entender por que a Ferrari age contra a cultura das redes sociais atuais, onde nada é levado a sério, onde há muita ostentação e pouco significado, e onde uma Ferrari pode parecer só mais um carro na coleção de um influencer endinheirado.
A Ferrari quer que o público dê a devida importância a seus carros, que sejam sinônimo de luxo, potência, qualidade, mas que também sejam exclusivos e raros. E especialmente que seus carros não sejam simples sinônimos de status e fama, mas sim que sejam mantidas as raízes da empresa, com o foco nas pistas, pela qual a Ferrari ficou tão famosa. Mas isso vai de encontro com a abordagem de outras marcas, que preferem abraçar os memes e as tendências das redes sociais.
Quando Deadmaus resolveu se livrar da sua Purrari, a Nissan rapidamente ofereceu ao produtor um substituto: um Nissan GTR envelopado com o Nyan Cat – uma forma de tirar um sarro da Ferrari e aproveitar a publicidade. O canadense acabou recorrendo à Lamborghini em 2015, e comprou uma Lamborghini Huracán, que usou pra refazer o seu design meme, dessa vez apelidando o carro de “Purracan”. A Lamborghini não se importou nada com a brincadeira, pelo contrário, ela acabou entrando no jogo, oferecendo um “update” da Huracán pra uma Aventador quando o produtor resolveu vender a Purracan em 2017.
Ou seja, enquanto a Ferrari caça qualquer um que ameace ferir a imagem perfeita da marca, a Lamborghini, assim como outras fabricantes, aprenderam a abraçar as redes sociais e não “proibir” clientes de comprarem seus carros. Não à toa, uma pesquisa de 2020 indicou que a Lamborghini é dominante quando o assunto é marketing nas redes sociais – um resultado da maior aproximação com o público, um branding forte e consistente, e uma grande variedade de conteúdo espalhado por diversas plataformas. Uma Ferrari vermelha talvez seja a combinação mais emblemática da história automotiva.
Chama a atenção pelo design, ronco e a própria cor. O grande foco de Enzo Ferrari eram as pistas e a venda aberta ao público nunca foi o objetivo dele. Foi somente em 1950 que Luigi Chinetti abriu a primeira concessionária da Ferrari nos Estados Unidos.
Até este ponto, as Ferraris estavam disponíveis apenas para entusiastas de corridas com muito dinheiro e para competições, e Enzo não tinha interesse em adaptar seus carros para as estradas e o consumidor comum. Mas como ele precisava de dinheiro para financiar os projetos para as pistas, ele decidiu começar a venda de carros. Uma frase famosa de Enzo foi “Eu não vendo carros; Eu vendo motores.
Os carros eu dou de graça, já que algo precisa segurar os motores. ” A grande Ferrari F-40 foi o último projeto de Enzo e ela não tem absolutamente nada de luxo. No vídeo que Doug Demuro fez, ele mostra que o carro não tem ar condicionado, vidros elétricos, luz de leitura e nem maçanetas internas.
Até as marchas são com foco nas pistas, no estilo dog-leg, onde a primeira marcha é à esquerda e para baixo para facilitar a troca entre a segunda e a terceira marchas, as quais são mais utilizadas nas pistas. Após o falecimento de Enzo Ferrari, o executivo de longa data Luca di Montezemolo assumiu o cargo de presidente. Sob sua direção, a Ferrari se transformou em uma marca de luxo global.
E em tempos de influenciadores que querem chamar a atenção, uma Ferrari seria uma aquisição óbvia e até certo ponto necessária para poder vender um produto ou passar o status de “milionário”. Mas como não basta ter dinheiro para adquirir uma Ferrari, e muitos desses influenciadores estão mais preocupados em chamar a atenção e pouco se lixando para o carro em si, é que entra a próxima opção, Lamborghini, que não está nem aí para quem compra seus carros e chama a atenção do público exatamente como uma Ferrari. Se for amarela então, melhor ainda.
Talvez a Ferrari não queira mesmo ser associada a esse tipo de pessoa, que não está nem aí para o carro e o utiliza como um meio de chamar a atenção, e apesar de a estratégia da Ferrari não parecer ser muito popular à primeira vista, a verdade é que ela acaba dando certo. É claro que é muito relativo dizer se vale a pena ou não se submeter à estratégia controversa da Ferrari – só pra ser o dono de um carro zero quilômetro criado pela mais fina engenharia italiana. Mas é estimado que cerca de 10% de seu faturamento total venha só da venda de modelos de edição limitada.
A raridade e exclusividade desses modelos valorizam os carros que acabam sendo vendidos com margens de lucro muito maiores que os modelos padrão. O que significa que mesmo que você provavelmente nunca compre uma Ferrari zero na sua vida, ainda tem muita gente com dinheiro que quer uma Ferrari pelos motivos “certos”, e são eles que a Ferrari quer. E ai, qual é a sua opinião sobre a Ferrari?
Comenta aqui embaixo e dá uma olhada no que o pessoal tá falando sobre isso. Se você quer fazer de 2023 o melhor ano da sua vida, eu acabei de gravar uma aula onde eu te mostro como utilizar o que é chamado de Mecanismo Oculto pra criar um negócio absurdamente lucrativo e escalável, pra assistir é só acessar link aqui na descrição aqui em baixo, ou apontando a câmera do seu celular pro QR code que tá na tela enquanto essa aula ainda tá no ar. Agora, pra descobrir o que é e como correu o Grande Escândalo da empresa americana WeWork, confere esse vídeo aqui na tela.
Aperta nele que eu te vejo lá em alguns segundos. Por esse vídeo é isso, um grande abraço e até mais.