Estranhas no ninho | Podcast Rádio Novelo Apresenta

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Rádio Novelo
Estratégias para não sair do lugar. No primeiro ato: a ascensão profissional de duas mulheres no c...
Video Transcript:
Esse é o rádio novela apresenta eu sou a Branca Viana para mim já parece uma Encarnação distante mas eu comecei a minha vida de Podcast em 2018 o programa se chamava Maria vai com as outras eram quase sempre duas entrevistas com duas mulheres sobre ser mulher no mercado de trabalho que é outra forma de falar sobre ser mulher no mundo e como muitas vezes a gente acaba se sentindo Um Estranho no Ninho a gente tentava falar de tudo mulheres nas ciências nos esportes mulheres gerenciando condomínios enormes trabalhando em plataforma de petróleo juíza criminal motorista de
aplicativo trabalhadores do sexo dona de casa a gente falava sobre Ser ou não ser mãe sobre roupa [Música] foram quatro temporadas e algumas dezenas de episódios mas em todo esse tempo eu nunca ouvi nada parecido com essas histórias que a Bárbara vai contar hoje imagina a seguinte cena a Teresa uma mulher aposentada de 70 e poucos anos é furtada no Rio de Janeiro Ela tá no ônibus alguém abre a bolsa dela passa a mão na carteira e no celular e ela nem vê ela só vai se tocar depois quando ela já tá descendo no ponto
e veio que a bolsa tá aberta pois bem o que que essa senhora faz ela vai pessoalmente até a delegacia mais próxima para registrar um boletim de ocorrência Aí ela disse quando ela entrou na delegacia de um policial mais velho assim né Ele olhou para ela e falou não acredito né você não ela disse que ela olhou assim com a cara dele aí ele pelo amor de Deus fala que é você aí falou não vem cá Aí ela disse que ela olhou assim começou a rir aí ele falou meu Deus a gente não sabia o
que tinha acontecido contigo se você sabe a gente fazia Aposta se você morreu se você foi preso a gente sabia que não tinha sido mas se você morreu se você foi para outro lugar tem gente inclusive que disse que sabia que você tinha sido morta que tinha sido enterro seu velório para esse policial a Teresa era quase uma celebridade Aí ela disse que ela começou a rir aí ele pediu ainda para tirar uma foto com ela falou posso tirar uma foto para mandar ela falou eu foto não aí ela foto né daí eu não me
pegou até hoje aí ela disse que ela falou pô fiquei meio bolada fui embora falei eu não vou fazer mais borboletinha não vou embora daqui aí foi embora mas ela disse que ela achou o episódio maravilhoso porque ela falou ih aquele bobão deve ter contado para os outros lá que eu tô aqui plena viva maravilhosa e eles aí me procurando a vida inteira a Teresa para aquele policial veterano não era celebridade à toa a essa altura com 70 e poucos anos ela tava aposentada mas dos 14 aos 60 ela tinha construído uma carreira de sucesso
no tráfico de drogas do Rio de Janeiro Aí ela disse que o cara ainda falou para ela caraca tu me deu trabalho Fiquei atrás de você um tempão falou Pô não acredito aí o cara pediu até para dar um abraço nela um abraço nela eu fiquei pô não acreditou que ele tava vendo aquela figura na frente dele não foi para mim que a Teresa contou essa história aliás Teresa você já deve imaginar não é o nome real dela a traficante aposentada que a gente tá chamando de Teresa contou a história dela para Thaíssa meu nome
é Thaíssa Rios Esse é o nome dela mesmo eu conhecia a Taíssa Rios quando eu tava trabalhando no nenê da Brasilândia que é um podcast original da wandre produzido pela rádio novela se você não ouviu ainda terminando esse episódio procura por nenê da Brasilândia no aplicativo do amazon music ou em qualquer outra plataforma todos os oito episódios já estão disponíveis Brasilândia conta a história da Floripa e Souza de Oliveira a mulher que comandou maiores esquema de tráfico de drogas na cidade de São Paulo nos anos 70 e 80 durante a ditadura militar isso bem antes
da fundação e do domínio do PCC e quando a gente estava pesquisando a história da Nenê a gente queria entender o quanto o fato de ser uma mulher impactou na trajetória dela no crime foi aí que eu cheguei na Taíssa são formada em segurança pública na minha primeira graduação depois eu fiz uma estrada de Justiça de segurança terminei no final do ano passado o tema da minha dissertação de Mestrado são as mulheres traficantes aqui no Rio de Janeiro e quais questões de gênero elas enfrentam tipo dentro do tráfico de drogas a dissertação da Thaíssa na
Universidade Federal Fluminense tem o título melhor ter uma mulher na boca do que 10 fuzil a construção social da traficante entre trabalhadoras e trabalhadeiras em favelas da região metropolitana do Rio essa frase mulher na boca é melhor do que 10 fuzil veio da Teresa Foi ela que me falou isso a traficante aposentada ela falava assim pô eu na época era melhor do que der fuzil com esses Otário Gasta não sei quantos mil hoje para comprar entendeu E gasta um dinheirão e e compra só para Morrer para perder o fuzil porque não adianta é melhor você
ter uma mulher na boca do que 10 fuzil do que uma metralhadora porque você vai ter uma cabeça pensante ela falou que tipo não adianta você ter 300 pessoas para sair dando tiro e não raciocinar nada não tem estratégia não tem jeito e tal não ter amando não ter logística não tem nada disso e esse sucesso dela Como uma figura de gestão ela associa muito ao fato dela ser uma mulher do tráfico associa principalmente na época dela porque ela diz que na época dela quase não tinha mulher tudo começou quando a Teresa tinha 14 anos
a Teresa era uma adolescente no ano de 1975 que decidiu afrontar o pai e a mãe dela e sair da vida rígida que ela tava vivendo ali de que ela tinha que ficar em casa lavar a louça arrumar a casa ela tinha vontade de estudar os pais não deixavam e a mãe dela tinha casado com 16 anos com o pai dela que era 8 ou 9 anos alguma coisa assim mais velha que a mãe dela e ela não queria aquilo para ela ela dizia que ela tipo Ela olhava a vida da mãe dela falava cara
a vida da minha mãe ia ficar trancada dentro de casa ter filho e eu não quero isso para mim E aí um dia ela conheceu um cara no bairro dela que o pai dela falava que não era gente para andar junto e aí aquilo começou a despertar curiosidade dela né porque tudo que o pai dela achava certo ela achava errado então se tinha alguém que o pai dela achava errado para ela tinha alguma coisa ele te interessa Aí ela disse que ela começou a usar da carinha dela bonitinha de boneca ela falou exatamente Comecei a
usar a minha carinha de boneca da minha cara bonitinha para poder chegar perto do tal do cara que o pai dela falava que não era gente para ela chegar perto não foi assim uma paixão uma avassaladora bem longe disso Aliás a Teresa fala que nem gostava tanto assim dele para além da vontade de Contrariar o pai mas também tinha um fundinho de interesse é que esse cara era traficante ele vendia droga e como andava uns assaltos na região ele tem dinheiro ele tem carro ele tinha telefone em casa na época eu lembro muito ela falando
isso né que ninguém tinha telefone aí ele tinha telefone na casa dele tinha uma linha telefônica então ela queria ser daquele jeito ali a única forma que ela encontrou de ser daquele jeito foi se aproximar dele viveu romance com ele fugiu de casa foi morar com ele aprendo tudo que ele fazia o interesse da Teresa era muito menos no cara em si e muito mais no Ofício Então ela começou a se colocar junto com ele no trabalho do tráfico foi fazendo contatos pegando o jeito e aí ela foi tipo aprendeu as coisas depois ela participou
de uma emboscada para ele ele foi preso e ela sumiu o lugar dele porque ela era a única pessoa que tinha todos os contatos de saber fazer tudo que ele mesmo participou embos participou ela meio marmorou junto com as pessoas ela falou Olha então ele tá dando sei lá um chute aqui né ele tá dando 10 mil a gente pode começar a conseguir 15 se a gente tirar ele do jogo E aí tiraram ele e aí ela tipo cumpriu com que ela prometeu ela falou ah se não foi ele foi Eu no lugar dele eu
vou passar aumentar tanto aqui para vocês aí os caras aceitaram e ela foi fazendo assim a emboscada para o namorado ser preso deu certo e assim começou oficialmente a carreira longuíssima da Teresa no tráfico e essa coisa do romance seguido de emboscada aliás virou um modoso Operandi dela ela ia casando assim foi indo e ela aprendi as coisas com os caras e depois arrumava um jeito de dispensar eles para ela ela primeiro se fazia presente ali na aproveitava da figura do homem para poder estar em certos ambientes depois que ela fazia os contatos dela tipo
ela descartava aquela figura que virava um concorrente para ela na verdade né E ela tem uma autoestima sem muito engraçada muito elevada que ela fala cara chegou num momento em que eu prestígio era ser meu marido não era eu casar com eles ser poderoso ela tá comigo tá na minha casa tá na minha festa está comigo então ela continuou tipo trocando de marido até pouco tempo pelas contas da Teresa foram umas 20 trocas de marido e quase 50 anos de tráfico a Teresa trabalhava principalmente como gerente administrando a distribuição de drogas no Rio e administrando
bem a parte da grana Claro mas ela chegou Inclusive a morar em outros estados para poder controlar de perto o fluxo do Comércio em outros lugares e com o passar dos anos ela acompanhou a evolução do Crime Organizado no Rio de Janeiro inclusive ela fala que foi ela que trouxe a Brizola que hoje em dia cocaína né o pó para cá Ela tem maior orgulho de falar isso ela falou aqui não tinha fui eu que trouxe e eu que coloquei aqui e aí ela fala que ela usava muito da carinha de boneca dela para poder
fazer isso sabe que ela era uma mulher que ela considerava muito bonita loira com aqueles olhos bonitos aí ela fala muita bunda dela ela fala olha minha bunda aqui minha filha você acha que essa bunda que era alguma coisa era para distrair os outros tipo ela não andava armada ela fazia Essa gestão também mas ela não andava com a droga em si tanto que ela conta que ela foi pega várias vezes pela polícia ela disse que quando policial pegava botava a mão dela já começava a gargalhar ela começa me falava que que você quer vai
perder seu tempo e o meu tá atrasando meu serviço e o seu então fala cara vou andar com as coisas todo mundo me conhece todo mundo sabe quem sou eu tá explicado porque daquele policial veterano ter ficado tão impressionado de encontrar ela na Delegacia depois de décadas né ela nunca foi presa nunca foi preso ela falou que todo mundo sabia que era ela era ela que fazia o esquema ela era que fazia um negócio ela era super conhecido super respeitado ela disse que quando eu chegava na esquadrada de samba das favela porém a festa todo
tipo abri a caminho para ela passar sabe ela tipo feliz da vida Todo mundo inclusive a polícia sabia que a Teresa tava metida no tráfico mas como eles nunca conseguiam pegar ela com nada com nenhuma prova do crime eles tinham que deixa ela ir embora a Teresa ela teve dois filhos mas ela falou que foi completamente contra a vontade dela Ela só teve esses filhos porque ela teve um deslize no meio desse caminho todo destes maridos que ela foi arrumando e ela de fato se apaixonou por um cara E aí quando ela se apaixonou por
ele ele conseguiu convencer ela de ser mãe ela falou que antes disso ela já tinha feito vários abortos toda vez que ela engravidava ela abortava porque ela não queria nunca ser mãe porque a ideia dela do que era ser mãe era ser a mãe dela sabe era aquela imagem de tudo que ela fugiu E aí ela engravidou desse cara e morou com ele por uns anos esse cara o pai dos filhos da Teresa é o único da sequência de maridos dela que não era traficante nunca teve nada a ver com o tráfico nessa época a
Teresa já tinha uma carreira razoavelmente consolidada no crime e na visão dela o trabalho no tráfico e a maternidade eram duas coisas impossíveis de conciliar Então ela quis que os dois filhos fossem criados pela avó a mãe da Teresa era um jeito de se distanciar da ideia de mulher que ela nunca quis ser E aí ela não queria os filhos próximos a ela porque ela disse que se ficasse próximo a ela ia se tornar como ela ou viveu o meio que ela vivia e ela não queria aquilo ela não queria aquilo mas não teve jeito
quando o filho mais velho dela cresceu ele acabou se envolvendo nos negócios da mãe acabou entrando para o crime também e o filho dela foi assassinado depois por causa dela o assassinato do filho da Teresa foi um divisor de águas na vida dela foi depois dessa perda que ela começou a pensar em se afastado tráfico ela chegou a fazer um plano de aposentadoria mesmo aos 60 anos ela ia parar e a dedicar o tempo dela a cuidar do neto o filho do Caçula dela que ainda tá vivo o filho dela que tá vivo ele usa
droga Então ele é viciado e ela acha que isso é alguma forma que ela tá pagando pecado a Deus porque ela foi uma mulher que foi contra tudo que deveria ser então ela acha que isso é uma forma de e ela resolveu tipo largar tudo entregou tudo e foi sem a avó aí foi sem aquela avó que faz comida coloca a criança que brinca que leva na escola e aí ela se afastou para poder viver esse papel que ela falou que a morte do filho dela fez ela pensar muito nisso sabe que ela falou que
talvez se ela tivesse abandonada a vida que ela tinha para poder ser o papel da mãe dela o filho dela não teria morrido e aí ela ela considera que tipo ela fala pô tem um monte de casa hoje eu vivo de aluguel mas o preço foi alto Já faz mais de 10 anos que a Teresa tá aposentada hoje ela vive da grana e dos bens que ela acumulou nas décadas de carreira no tráfico só que ao mesmo tempo também ela fala que hoje ela não se sente mais segura tipo ela fica muito mais em casa
sabe trancada e tal ela não sai muito à noite porque ela dizia que ela é aquela velha que ia sair que é curtir ela não faz isso ela fica muito trancado em casa vamos cigarro dela bebe cerveja ela ficou de interação copinho de um lado assim e ela gosta de pegar sol aí usa fio dental é muito engraçado tipo 74 anos fio dental desfilando o dia inteiro de biquíni uma vez ela até brincou comigo ela falou bem minha filha você tem quantos anos aí na época eu falei acho que eu tinha falado 23:22 ela com
essa bunda e eu sou mais a minha bunda a Teresa é só uma das mulheres traficantes que aparecem na dissertação da Taíssa ao todo ela entrevistou Sete Mulheres de diferentes idades raças e localidades e cada uma delas como a trajetória completamente diferente a ideia das entrevistas era tentar entender como o fato de ser mulher impactava cada uma daquelas sete traficantes no Ofício delas deixava bem claro não quero saber nada do tráfico informação nenhuma do tráfico é a questão assim de vocês como é que é para lidar sendo mulher e para minha surpresa conforme eu ia
falando isso ela é super se interessavam sabe ela fala assim não conversa com você sim e tal até isso a conta na dissertação que nas pesquisas dela ela achou muito pouco material sobre como é ser mulher no crime a gente tem muitos dados sobre as disparidades de gênero em tudo quanto é mercado e a gente tem muitos estudos sobre tráfico traficantes todas as facetas desse mercado mas mulheres no tráfico quase nada porque é como se elas não existisse né e elas ficam brincando aí com invisibilidade né porque elas mesmas falam isso Tipo tem hora que
é super legal é maneiro quando eu posso passar no meio da operação policial olhar para a cara do policial da bunda boa tarde para ele ele não saber não tem ideia de que o tráfico dele agora não é legal quando elas querem moral dando a realidade delas querem respeito e não tem então quando elas conversavam comigo elas contavam também muitas coisas que elas não tinham tipo força para poder reclamar sabe porque se ela chegassem ali dentro da boca de fumo para falar daquela questão e falar pô isso aqui para mim é um problema e essa
é mais uma chacota sabe não ia ser visto como um problema e Muitas delas falavam para mim a gente passa por tanta coisa aqui sabe não tem ninguém interessado em saber o que que tá acontecendo comigo e ela se sentem muito assim pelas coisas que a gente conversou principalmente por serem mulher e aqui é importante a gente colocar o tráfico como um trabalho mesmo para posicionar essa relação de poder no centro da pesquisa dela a Taíssa coloca o tráfico em pé de igualdade com outras atividades comerciais que funcionam dentro da legalidade eu sei todas imoralidade
também a questão da ilegalidade Não é esse o meu foco sabe não é o mercado ilícito de drogas não é se é certo sai errado se elas estão fazendo uma coisa boa você não tá fazendo uma coisa boa não é esse foco na minha pesquisa a questão que eu queria trazer era como que mulheres até mesmo no lugar que muita das vezes não é visto como Positivo né como uma profissão e tal como elas ainda sofrem desigualdade de gênero como elas ainda tem problema ali dentro sabe A Thaíssa faz uma analogia que a princípio parece
um pouco curiosa para desmistificar a coisa toda ela compara a boca de fumo com uma padaria quando eu falo que é igual uma padaria é porque cara todo mundo conhece o padeiro todo mundo sabe quem compra todo mundo sabe que ali tem pô tem pão tem sonho tem docinho tem tudo na boca é a mesma coisa para galera é um comércio local que tá ali tipo todo mundo sabe que aquilo ali é uma boca de fumo quem trabalha naquela boca quem é o dono quem é o funcionário que entrega quem não entrega quem vai lá
comprar então tipo assim o funcionamento é como nesse local como qualquer outro não é uma coisa que pô ninguém sabe onde é onde vivem o que come o que faz e os traficantes não todo mundo sabe que são pessoas quer dizer para quem vive numa área dominada pelo tráfico não tem nada de misterioso nem obscuro ali a boca de fumo é um comércio uma empresa mesmo uma empresa como hierarquia muito bem definida O Dono do Morro é o nome já é multiplicativomente ele tá ali De frente tomando todas as decisões e geralmente é o contato
direto com o dono ele chamou de braço direito do dono o gerente geral é quem comanda as outras coisas de baixo que tipo para não ficar passando problema por frente o tempo todo e aí tem a parte de idola que é droga né quem fica ali fazendo droga montando os pacotinhos montando as coisas para poder vender soldado é quem fica armado fazendo a segurança tanto da boca de fumo a parte de guardar droga e armamento etc e tem aviãozinho e mula tipo mula geralmente é quem leva para presídio aviãozinho leva droga ali para perto e
quem fica de vapor fica ali na boca vendendo droga na pesquisa dela A Thaíssa procurou entrevistar mulheres que exercem posições diferentes dentro dessa hierarquia Pela minha pesquisa tipo elas estão em todas mas é nítido assim que é muito mais comum você ver mulheres nas posições mais baixas aviãozinho mula que mais tem e eu acho que é a que mais tem principalmente pelo fato de que os próprios traficantes eles têm essa ideia de que não existe lugar para mulher no tráfico então para eles a galera de fora também enxerga assim então tipo é mais fácil você
colocar uma mulher para poder levar droga para presídio para algum lugar porque ela vai ter mais facilidade ela vai passar mais batido pela polícia pela revista pelas coisas para poder levar droga e para Além disso também eu acho que é uma posição que é muito descartável sabe é uma posição que foi preso tipo não dá muito prejuízo para eles eles não ligam com aquela pessoa tá saindo ali é diferente de você ter um frente de Morro preso um dono de Morro preso então assim São pessoas que são substituíveis são descartáveis então para eles não fazem
diferença a Teresa a traficante aposentada trabalhou em épocas diferentes Claro com uma estrutura de comando diferente mas o trabalho que ela Fazia era mais ou menos como de gerente lembra administrando o fluxo de mercadoria e de dinheiro eu não encontrei nenhuma Dona para poder entrevistar e nem ouvir ninguém falar que conhecia alguma Dona dessa vez que eu entrevistei frente eu entrevistei a cicatriz Inclusive era a frente a cicatriz é outra entrevistada da Thaíssa cicatriz não é o nome no RG dela né Nenhum apelido de verdade foi um nome que ela mesmo escolheu para ser identificada
na dissertação a cicatriz era uma menina que morava na favela desde que nasceu e Ela sonhava em estudar trabalhar e aí ela tinha alguns amigos que eram já da boca que era amigo dela de Infância conhecido gente da família também e um dia teve uma troca de Facção na favela depois de confronto teve uma troca de facção e eles expulsaram todo mundo que facção que tomou né A facção rival expulsou todo mundo que era da família da galera que tava na boca do morro e ela foi uma dessas pessoas que saiu do morro e eles
tiveram que para outro lugares nessa época a cicatriza era adolescente ela tinha uns 17 anos Ficou desesperada ela e a família dela toda porque tipo simplesmente perderam tudo e tiveram que para outro lugar e aí no meio desse caminho aí ela sofreu um acidente no acidente tipo Sério que ela ficou com a saúde bem bem delicada na época O acidente foi feio a cicatriz Ficou um tempão em recuperação e precisou largar os estudos só que para agilizar a recuperação dela não dava para depender só do SUS e aí quem acabou bancando o tratamento dela foram
alguns traficantes da região para onde a família dela tinha se mudado depois de ser expulsa do morro e aí ela foi começou a se aproximar e aí também já tava num ponto que já não tinha mais dinheiro não tinha mais nada aí ela resolveu falar vou tentar alguma coisa que ela disse que na época quando ela falou com eles que ela queria tentar fazer alguma coisa dele até comecei a fazer ela não quero pagar e também quero ter dinheiro ela disse que foi até uma repulsa assim no início para poder entrar mas aí ela acabou
que começou tipo se envolveu e começou fazendo o assalto ela usava justamente dessa ideia de que as pessoas tinham de que ela não poderia ser uma traficante para poder assaltar até que que ela entrou por tráfico mesmo tipo parou de fazer roubo na rua e entrou para o tráfico e começou na posição lá de baixo foi subindo aos pouquinhos chegou a frente do Morro do momento em que ela entrou no tráfico até chegar o segundo cargo mais alto o de frente foram 10 anos de trabalho duro a primeira coisa é que ela tinha que se
enquadrar dentro da ideia do que eles pensam que é ser uma mulher responsa quando eles ainda haviam como uma mulher isso porque segundo a própria cicatriz para ela poder crescer na hierarquia do tráfico ela teve que esconder todas as características e vontades dela que são socialmente vistas como femininas ou seja para conquistar confiança e respeito ela basicamente tinha que esconder o fato de que ela é uma mulher ela disse que ela começou tipo aí com roupas menos femininas começou a falar de um jeito mais bruto com mais gíria né começou a omitir que ela sentia
certas coisas ou pensar Sei lá ela não contava que ela havia novela entendeu porque veio uma velha coisa de menininha né coisa de mulher começou a entrar nessa de tipo super bom mais de tacar camuflada digamos ali no meio da galera e dali ela tipo pegou confiança porque ao mesmo tempo quando ela conseguiu se camuflar e conseguiu essa má masculinidade ali né que é masculinidade feminina que eu falo delas Então ela foi conquistando tipo a confiança o cara que era dono do Morro gostava dela então colocava ela achava ela inteligente botava ela para fazer as
coisas ela foi fazendo contabilidade da boca foi indo foi indo até que ela virou frente do Morro lembra nem A Hierarquia do tráfico frente é a segunda posição mais alta é o braço direito do dono quem comanda de fato negócios no dia a dia e aí um dia deu um problema lá o dono Caiu né foi preso e aí quando o dono caiu e foi preso ela falou Caraca né Que merda Fulano foi preso com a queda do dono o natural na hierarquia seria que a frente no caso a cicatriz subisse na cadeia de comando
e agora né pô vou ter que assumir o morro viradona pela lógica da hierarquia do tráfico era isso que ia acontecer a ideia dois dias teve a tal da reunião lá da firma deles para poder falar né que que ia acontecer tal e ela já foi toda toda preparada dizendo que não vou falar coisas que eles podem confiar em mim e tal e aí os cara anunciaram para ela simplesmente falou cicatriz Então esse aqui é o fulano de tal e ele tá vindo ele que vai ser o dono daqui ele vai assumir chamaram um outro
cara um outro homem de outro lugar que não conhecia nada dali para assumir como o Dono do Morro Como assim ele que vai assumiu sua frente a gente tem que procedeu a gente não tem proceder entendeu vai botar outra pessoa não faz sentido nenhum porque que vai botar outra pessoa e ela disse que ao mesmo tempo que ela queixonou porque eles vão botar outra pessoa a ficha dela caiu sabe a cicatriz tinha conseguido se camuflar entre os homens do tráfico durante 10 anos para chegar o posto de frente mas uma mulher como dona do Morro
aí ela tava querendo demais ela disse que os cara simplesmente riram sabe a moral dela foi tudo tipo assim ela foi derretendo Água Abaixo porque tipo os caras riram e fala cara tipo não vai botar uma mulher para ser dona a gente vai ficar muito mais fragilizada geral vai achar que pode vir aqui tomar o morro a hora que quer a polícia vai brigar com a nossa cara recuar vai aumentar tudo vai aumentar Pô não tem condição nem a gente botar a mulher para ser dona de humor e é interessante porque segue mais ou menos
o que acontece com as mulheres em outras áreas né teto de vidro das mulheres traficantes é esse né quando eu contei essa história para branca ela lembrou na hora do teto de vidro a ideia de que não ia hierarquia de trabalho não existe assim uma explícita uma plaquinha dizendo nesse cargo não entra mulher é um teto invisível de vidro você vai indo vai indo e uma hora você dá de cara no vidro foi o que aconteceu com a cicatriz a pessoa chega até o segundo nível mas não vira-se eu exato que o seu é mais
do que tudo uma figura né a figura da cabeça do chefe e tal que vai dar confiança aos acionistas e tudo mais e os acionistas nesse caso são os donos dos outros morros né É mais ou menos isso porque aí não passa uma firmeza assim uma confiança eles falam Ah isso aqui vai virar uma festa vai baixar vai ter tiroteio aqui todo dia e não tem nem como saber se é verdade porque eu nunca teve nenhuma né então não sabe se essa premissa de que vai da polícia toda hora não sabe se isso é verdade
ou não né é uma suposição a gente até encontrou alguns poucos pouquíssimos casos de mulheres traficantes que chegaram a cargos de liderança no tráfico no Rio talvez você até se lembre de ouvir os nomes de algumas delas no noticiário mas observar que Alguma delas chegou a ser doando morro de fato é bem mais difícil acabavam entrando mais nessa categoria de frente mesmo como A Thaíssa explicou mais cedo então tinha precedente para mulheres nesse cargo de liderança e não tinha ao mesmo tempo Como você ouviu mais cedo teve também a Teresa a traficante aposentada que teve
uma longunzima carreira de sucesso mas sem ser se ou de Morro nenhum em São Paulo teve a neném da Brasilândia que chegou a comandar o maior esquema de tráfico de São Paulo na época dela é difícil comparar aquele mercado aquele cenário com o de hoje colocando a Teresa a neném e a cicatriz lado a lado a gente fica com a impressão de que nem sempre as coisas não para frente nem na padaria nem na sala dos executivos e nem na boca nessa história da cicatriz eu perguntei para Taíssa o que que o antigo dono do
Morro o que tinha sido preso tinha achado de tudo isso afinal a cicatriz era braço direito dele né ela tinha conquistado a confiança dele ela disse que tipo que isso foi uma coisa que ele também falou sabe que ela não tinha condição de ficar ali na posição dele sabe era mais fácil pegar outra pessoa de confiança a cicatriz Claro saiu dessa se sentindo traída e desrespeitada E aí ela quis pular fora se ela ia continuar ralando ali sem poder crescer então ela não queria mais Então é isso aí se eu sou mulher e sendo mulher
eu não sirvo para ser dono então vocês se vira aí fica aí com o morro de vocês aí ela ainda deu sorte porque por ela tem muita moral muito respeito então ela não apanhou não sofreu nenhuma represália ser mais forte aí ela ficou de castigo em casa com os meses consideráveis trancada em casa sem poder sair sem nada mas ela ainda falou isso para mim no dia que eu conversei com ela ela não é pelo menos não rasparam minha cabeça não levei Paula fazendo na apanhei não foi expulsa ela teve sorte porque ela não apanhou
e nem teve a cabeça raspada a força Ela só teve que passar meses trancada em casa mas não ficou por isso mesmo depois de 10 anos no tráfico em meses trancada em casa a cicatriz tinha que arrumar um jeito de ganhar dinheiro ela ainda tinha que sustentar a família toda dela e depois de um tempo ela não viu outra alternativa Ela acabou pedindo para voltar e aí como punição eles botaram tipo tiraram ela de frente e falou você não vai ter mais carro de poder aqui e tal falou Pô você não quer não quer ser
macho não tá falando que você é boa então agora você ser soldado porque eles tinham que mostrar tanto dentro ali da boca de fumo quanto para fora da favela que o poder estava com eles que eles que mandavam e não dá força para outras mulheres fazerem a mesma coisa entendeu ah você tem poder você é boa mas espera aí né você ainda é muito essa questão sempre vou falar isso eles rodam roda roda e fala você ainda é mulher e é uma coisa que não tem nada Que ela possa fazer né ela tentou o máximo
possível caramba que história [Música] Essa foi a Bárbara rubira produtora da Rádio novelo a Bárbara Aliás foi a produtora da série nenê da Brasilândia que é um podcast da ondry produzido pela rádio novelo todos os oito episódios de nenê da Brasilândia já estão disponíveis gratuitamente no Amazon music e em todas as plataformas quando terminar esse episódio Procura lá nenê da Brasilândia essa reportagem foi produzida com o apoio da Amazon a segunda história do episódio de hoje tem a ver com outro jeito de ser uma estranha no ninho muitas vezes essa estranheza é uma combinação de
coisas de quem a gente é mas também de onde a gente veio e o que a gente percebe que os outros não percebem e às vezes a estranheza vem de fora não é só a gente se sentindo estranha tem outras pessoas que percebem também na quando eu procurei a Silvana Nunes eu confesso que eu tava com medo dela cortar logo a conversa já ela desliga na minha cara assim que soubesse do que eu queria falar com ela porque eu sabia que era um assunto delicado que podia ser incômodo mas acho que quando ela topou me
atender ela já tava desconfiada do rumo da entrevista não era a primeira vez que alguém questionava Silvana sobre o que ela faz então eu passei muito por isso quando eu fiz uma mestrado em ensino de História na UERJ mais do que questionar Na verdade eu tive colegas negros que pararam de falar comigo os colegas negros da Silvana no mestrado pararam de falar com ela por causa do trabalho dela mas desse outro aqui sou guia né de percurso na cidade de Vassouras foi uma das cidades mais importantes na época da economia né a feira que era
nossa região quando o Brasil ainda era em pé [Música] s é uma cidade no interior do Estado do Rio de Janeiro no Vale do Paraíba e Vale do Paraíba é aquela região que a gente aprende na escola que foi o cenário do primeiro ciclo de cultivo intensivo de café no Brasil ainda hoje daria para gravar uma novela sobre essa época Lá tem muita coisa que ainda tá de pé as igrejas os casarões antigos uma Senzala ou outra tudo espalhado entre morros pelados onde antes do café deveria ter uma mata fechada foi nesse lugar que a
Silvana nasceu e ela conhece muito bem a história da região não só porque ela é historiadora e guia turística quando ela ainda era pequena ela já sentia que o passado daquele lugar se impunha sobre ela estar no interior do Rio de Janeiro uma cidade altamente aristocrata é você já viver e já a crescer sabendo que você é diferente diferente da Auto aristocracia mas parecida com quem foi levado para lá para sustentar essa mesma alta aristocracia a Silvana é uma mulher negra como aqueles amigos dos tempos de Mestrado que pararam de falar com ela quer dizer
que eu estava enaltecendo a história desses senhores a cidade onde a Silvana vive e trabalha tem um histórico problemático na forma de lidar com a memória não com qualquer memória Qual a memória da escravidão especificamente em 2016 vassouras virou notícia Nacional depois que uma reportagem publicada pela intercept Brasil revelou que uma fazenda de lá tinha virado tipo a Disney só que a Disney da escravidão a repórter Cecília Oliveira foi até lá e viu com os próprios olhos um passeio em que pessoas negras vestidas como escravas serviam bolo e café para os turistas depois da repercussão
A Fazenda Santa Eufrásia Onde aconteceu isso foi investigada pelo Ministério Público Federal a dona da fazenda se comprometeu a colocar placas com os nomes de 162 pessoas que foram escravizadas e um texto que dizia que o lugar tinha sido palco de um crime contra a humanidade no século passado então assim eu não tô sozinha de achar esquisitíssima essa nostalgia de uma época em que boa parte da população brasileira estava sendo torturada e isso era lido só como um modelo econômico toda vez que eu vejo uma cena dessas de cosplay da escravidão eu fico intrigada primeiro
porque eu não consigo aceitar que alguém goste de ver isso então sinceramente o público desses passeios pouco me interessa mas o outro lado da cena esse sim me atrai quem topa se prestar esse papel para enaltecer senhores de escravos a resposta óbvia é a necessidade necessidade de falta de conhecimento Talvez Mas aí tem a Silvana que conhece bem vassouras que a professora de História porque ela ia fazer alguma coisa que levasse outras pessoas negras acusarem ela de enaltecer quem escreveu sempre tem uma história por trás do jeito que as pessoas agem né e eu queria
saber qual era a história que a Silvana tinha para me contar então eu trabalhava no hotel um hotel em Vassouras como recepcionista alguns anos atrás e eu vi as pessoas querendo saber a história da cidade e os turistas vinham para cá e isso é 30 anos atrás 32 anos atrás isso até onde a Silvana trabalhava decidiu criar um passeio histórico uma experiência que ia ser oferecida nas fazendas da região como a história da região girava em torno do café a experiência era um café da tarde aí nós nos enchemos de mucamas né ou seja escravizadas
de dentro de casa e Íamos nos lugares para se servir o café e tal descalças vestidos com roupas bem simples de algodão branco e quietas nenhuma mucama podia dar um piu para dar uma ideia de como era aquele lugar no auge das plantações de café a situação toda era bem parecida com o tal passeio na Fazenda Santa Eufrásia que o intercept relatou mas essa história que a Silvana está contando aconteceu muito antes uns 30 anos atrás só que tem que em algum momento Natália aquilo começou a me incomodar essa nostalgia essa coisa das pessoas ficarem
felizes né serem servidos por alguém em pleno século 20 naquela época vestida de escrava sabe E aí eu comecei a mente como pessoa quem era eu o que que tinha que servia a mesa o que que eu tinha que agradar as pessoas daquela maneira naquela altura a Silvana só sabia que ela não gostava daquela situação não gostava do que tava acontecendo ali mas ela não conseguia dizer o motivo você começa a falar assim mas o que que me incomoda [Música] Foi aí que a Silvana decidiu mudar o rumo da vida dela ela pediu demissão saiu
da recepção do hotel e prestou vestibular para estudar história e virou professora não tava enraizado só no presente mas no passado de Vassouras que insistia em se fazer presente Porque era um passado de que grande parte das pessoas ali sentia nostalgia achava bonito depois que essa ficha caiu a Silvana podia ter saído de Vassouras podia ter procurado outra cidade para trabalhar um lugar mais perto do Século 21 Mas ela ficou não Só ficou como o plano dela era voltar para essas mesmas fazendas e hotéis onde ela servia café vestida de mucama mas para contar a
história dos meus dos ancestrais dela de pessoas que foram escravizadas em Vassouras só que para voltar a trabalhar nesses hotéis mas com essa nova agenda a Silvana sabia que ela ia ter que negociar se é estratégica não dava para ela contar a história da escravidão como ela fazia com os alunos dela no turismo é diferente de você estar dentro de uma sala de aula as pessoas quando vão para o passeio turístico elas querem ficarem Encantadas Enem brigadas além de ter que encantar os turistas a Silvana não podia Contrariar o dono da fazenda o que a
fazenda tem um proprietário ele podia fechar fazendo e dizer eu não quero que conta essas histórias da minha fazenda não podia Claro era bem possível provável na verdade não quero que conte essas histórias é o resumo de como o Brasil lida com a memória da escravidão ignorando completamente 100%. mas a Silvana arrumou um jeito disso não acontecer ela conseguiu entrar na fazenda e falar do que ela queria tinha um senhor aqui que faleceu seu Toninho Canecão ele era de um quilombo chamado Quilombo São José e ele falava uma frase que eu nunca esqueci que a
gente não quer tirar o retrato do Barão da parede a gente só quer colocar o nosso lá dos escravizados na parede sem mexer no outro ela começou a contar histórias de pessoas escravizadas sem mexer no jeito como a história dos Barões de café dos Senhores de escravos é contada então eu vou falar desse senhor como ser humano que tem defeitos que tem qualidades né que tenham pensar mas que é um homem de seu tempo em sala de aula nós vamos fazer uma análise sobre Quem esse homem de forma que ele se trata de que forma
que ele está no poder Então realmente tem que ser feito de uma forma crítica de poder de tempo de política de questão financeira de questão Econômica isso também é falado no turismo mas não é feito uma análise mais reflexiva então por isso que eu digo que a gente só joga a semente no turismo dentro dessas fazendas o que a Silvana faz para encantar os turistas deixar eles inevreados por um lado é exatamente a mesma coisa que ela já fazia antes se vestir como uma pessoa que foi escravizada mas com detalhe estratégico que muda tudo e
aí a estratégia era dar um nome a minha personagem porque ela precisava ser pessoa Isso é pessoas têm nome né então não era mais uma um cama que servia a casa eu era uma pessoa que tinha um nome e para ter esse nome eu precisava ter uma documentação a documentação de pessoas escravizadas é muito precária mas em Vassouras aconteceu um episódio marcante que deixou alguns rastros e nomes foi a revolta de Vassouras em 1838 o Estopim foi o seguinte numa fazenda que já tinha fama de aplicar castigos pesados um Capataz matou um escravo isso gerou
uma comoção entre as outras pessoas escravizadas aí um grupo protestou para que o dono da fazenda tomasse alguma Providência essa é uma lição por início capaz mas o cara não fez nada disso E aí a indignação Aumentou e os escravos decidiram fugir os líderes dessa fuga foram Manuel Congo e a Mariana crioula que era um propriedade do Senhor de escravos que não tinha tomado Providência não se sabe ao certo quantas pessoas fugiram mas foi bastante gente o suficiente para esse senhor e outro Senhores da região ficarem preocupados e pedirem ajuda por aguarda Nacional o Manuel
Congo foi condenado à morte para passar o recado para todo mundo de que não era para tentar fazer aquilo de novo os outros fugitivos foram capturados e levados de volta para as fazendas Esse foi o destino da Mariana crioula A Mariana é um dos personagens que a Silvana incorpora para contar a história de Vassouras para mostrar que as pessoas escravizadas tinham estratégia se organizavam e protestavam contra a escravidão a Silvana acredita que esses dois retratos juntos na parede de quem escravizou de quem foi escravizado bastam para o que ela quer colocar os turistas para pensar
Então se elas param para pensar e refletir a gente já conseguiu balançar um pouquinho essa estrutura né esse emdeusamento desse dessa nostalgia né só o período imperials Barões e baronesas né o que eu pretendo fazer no meu trabalho é esse desconstruir esse olhar mas não desqualifá-lo percebeu eu não sei se eu tô conseguindo ser Clara sem ser críticas quer dizer não eu sou crítica eu só não sou incisiva foi isso que incomodou os colegas da Silvana ela fala desse jeito menos incisivo sobre os proprietários de pessoas escravizadas Você já foi lá se não fosse assim
desse jeito estratégico a Silvana tem certeza de que ela nunca ia ter conseguido pisar numa fazenda de Vassouras para dizer as coisas que ela disse então assim vamos lá assiste meu trabalho me dê sugestões me ensina a fazer melhor sabe agora sair dali Vai me adiantar do quê das pessoas que têm controle poder e política frequenta esses espaços para essas pessoas que eu tenho que falar porque são essas as pessoas que precisam entender Por que que não dá para ter saudade desse passado e eu tento também trazer para atualidade sabe Natália o que hoje isso
deixou de legado para gente que racismo é esse que ideias foram plantadas né a partir do século 19 início do século 20 para que nós não tivéssemos direito a nada que democracia racial é essa que dizem que existe no Brasil e que na verdade não existe assim como Mariana crioula e outras tantas pessoas escravizadas resistiram diante da escravidão usando infinitas estratégias para isso A Silvana encontrou o jeito dela sobreviver no mundo que nasceu do passado certo mesmo seria que toda essa gente que se beneficiou da escravidão fosse obrigada a preservar e contar a história para
que ela nunca mais se repita só que o Brasil decidiu apagar o passado ou pelo menos fazer de tudo para pagar o passado como se isso fosse possível e o caminho que a Silvana escolheu para resistir foi esse e isso é você circular nesse espaço que ele é negado não é mais de alguma forma tentar combater todo e essa dor que a gente traz na nossa ancestralidade né só falar de dor Ele já sabe que a minha dor e quando alguém já sabe a minha dor ele pode se negar a ver ele pode achar chato
e aí eu posso perder um colaborador eu posso perder o integrante da visita né eu posso criar um clima desagradável numa coisa que você comprou para o seu lazer então é sempre uma reflexão sem agressividade sabe a gente não precisa concordar com a Silvana de que esse é o melhor caminho mas não dá para negar que esse é um caminho e essa discordância entre a Silvana e os colegas de Mestrado dela mostram que existem outros caminhos vários diversos porque as pessoas negras são diversas e todas elas quer dizer todas nós precisamos encontrar um caminho próprio
uma estratégia para sobreviver e Para Viver num país que nem queria que a gente tivesse aqui eu realmente acho que acredito né Não acho acredito que a gente só sobreviveu todo esse horror Pelas nossas estratégias sabe pela nossa coisa de estar junto de contar história de se fortalecer o respeito ao mais velho do respeito a sabedoria ancestral sabe poder de negociar né e estratégia meio assim como eu tenho hoje e que ela pode ser Sutil como amigo ela pode ser radical como você envenenar alguém como você matar alguém sabe depende do tamanho da sua dor
se algum dia né me convencer que eu esteja errada eu vou pedir desculpa mas eu pelo menos você tentar entendeu Natália depois eu vi a história que a Silvana tinha para me contar eu entendi [Música] Essa foi a Natália Silva produtora do rádio novela apresenta muito obrigada por ouvir a gente mais essa semana Aliás você tá em Dia com todos os 28 Episódios do rádio novela apresenta a nossa ideia quando a gente desenha cada episódio é que ele não fique velho que você possa ouvir ele na hora que sai ou daqui a três semanas ou
daqui a cinco anos então lembra disso quando você tiver procurando alguma coisa para escutar para não esquecer de ouvir a gente toda semana o melhor jeito é assinar a nossa newsletter que te quebra ainda vem com uma dica esperta de alguém aqui daqui e também curtiu a presença no aplicativo que você ouve podcast se quiser dar uma forcinha e ajudar ou apresenta a chegar mais gente aproveita logo para dar cinco estrelas deixar um comentário no episódio no Spotify fazer uma resenha do podcast na Apple e não esquece que a gente tá no Instagram e no
twitter também sempre no arroba rádio novelo no nosso site para cada episódio sempre tem algum materialzinho a mais essa semana tem fotos da Silvana Nunes em Ação interpretando o papel da Mariana crioula E também o link para você ouvir todos os episódios de nenê da Brasilândia se você tiver uma história que é a cara do apresenta manda para cá apresenta @ rádionovelo.com.br o rádio novela apresenta é um original da Rádio novelo a gente tem um apoio da Open nations tem Episódio novo toda quinta-feira a direção criativa é da Paula scarpin e da flora Thomson levou
e a produção executiva É do Guilherme Alpendre a gerência de criação é do Thiago Rogério a executiva é da Marcela casaca e a de produto e audiência é da Juliana e águia nossos produtores Sênior São o Victor Hugo Brandalise a Evelyn agenta e a Bia Guimarães as produtoras da nossa equipe são a Bárbara rubira da Júlia Matos e a Natália Silva a checagem desse Episódio foi feita pela Camila o livro A Mariana leão colaborou na montagem desse Episódio e a Júlia Matos fez a sonorização nesse Episódio usamos a música do Maria vai com as outras
repaginada pela Mari Romano a música original do neném da Brasilândia música original do Vitor Rodrigues Dias composta especialmente para o rádio novela apresenta e também música adicional o desenvolvimento de produto e audiência é feito pela Bia Ribeiro o Gilberto Possidônio é o responsável pelo conteúdo e engajamento das nossas redes sociais o design das nossas peças é do Mateus Coutinho obrigada e até a semana que vem [Música]
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