novel novelo tá começando o rádio novelo apresenta eu sou a Branca Viana boa parte da filosofia das religiões e até da ciência é dedicada a explicar o fim o que que acontece quando a gente morre você pode acreditar em céu ou em energia ou em vidas passadas ou acreditar que tem tipo um interruptor que desliga quando o coração para de bater o fim o fim da vida é um tema que dá tanto pano paraa manga que ia ser impossível dar conta dele num Episódio só ou mesmo numa série ou mesmo em todas as séries e
filmes e livros do mundo falar de morte é sempre lançar um facho pequenininho de luz numa escuridão gigantesca cada uma das duas histórias de de hoje joga uminho de luz nesse tema na verdade num subtema dentro desse tema sobre quando fim não é o fim sobre quando ele só o começo de outra hisa quem vai contar primeira história de hoje é antropólogo fbio zuer e a história dele comea com um corpo o corpo tá deit numa rede enfeitado com penas numa casinha de palha no meio da floresta não tem ninguém por perto nenhum sinal de
violência mas o corpo tá ali numa história de detetive o mistério seria tentar descobrir quem matou e como quem deixou o corpo daquele jeito Essa não é uma história de detetive nem uma história de morte matada Mas é uma história cheia de m mos e talvez a nossa última chance de desvendar aqueles mistérios pode ter ido embora junto com aquele homem agora um corpo deitado na rede puxa ele levou o segredo dele com ele parece que ele sentiu a morte chegar provavelmente ele foi perdendo a sua condição de sobrevivência né E se enfeitou com as
penas que ele tinha né deitou e olhou para cima e esperou a morte eu achei muito muito lindo muito Digno e muito emocionante Esse é o indigenista e cineasta van sanarelli o principal personagem dessa história é o homem que deitou na rede dele e esperou a morte mas a gente tá contando a história dele aqui hoje porque durante toda vida desse homem ele recusou o contato com a sociedade brasileira então tudo que a gente sabe dele é o que os outros podem dizer dele e a partir dos rastros que ele deixou tem algumas pessoas que
convivam na medida do possível com ele que conviveram à distância e uma delas é o Van eu conheci os índios muito cedo com 16 anos e muito rapidamente resolvi que faria dessa companhia com os índios a minha vida o Van conhecido por muitas coisas ele passou pela Funai a Fundação Nacional dos povos indígenas trabalhou em várias zes socioambientais e fundou mais algumas mas talvez o mais marcante da carreira dele seja um projeto que começou nos anos 80 foi esse projeto que fez o vão cineasta e foi esse o projeto que colocou ele no caminho do
homem que morreu sozinho coberto de penas o vansan é antropólogo de formação e a história da antropologia sobretudo no século XX tá cheia de antropólogo branco filmando pessoas não brancas contando a história delas do jeito que eles achavam que tinha que ser o vanc a companheira dele a também antropóloga Virgínia Valadão resolveram virar isso de ponta cabeça e foi justamente nessa primeira experiência que a experiência seminal do V das Aldeias que consiste simplesmente a a devolução imediata da imagem a devolução imediata da imagem era assim ao longo dos anos 80 as câmeras de vídeo tinham
ficado mais baratas portáteis e fáceis de usar então a ideia era dar esse equipamento pros indígenas contarem as próprias histórias registrarem as próprias memórias e mostrar as imagens para eles na hora e saber deles o que que o que eles fariam ao perceber que é possível se produzir né se se retratar não é o vancel levou uma câmera paraa Aldeia nambiquara no Oeste do Mato Grosso e quando eles ligaram a câmera os indígenas decidiram fazer um ritual de perfuração do do lábio superior e do nariz era um ritual que eles tinham deixado de fazer há
muito tempo mas diante da câmera a tradição renasceu esse primeiro experimento deu origem ao projeto que acabou ficando conhecido como vídeo nas aldeias formando cineastas indígenas em todo o Brasil hoje são 80 coletivos de cinema indígena no país todo lá no começo uma das pessoas que estava com van participando das experiências do virgem nas aldeias era o Marcelo Santos Marcelo Santos era o indigenista era um colega ex-colega meu porque eu já tinha caído fora da FUNAI há muito tempo o vançan tinha saído da FUNAI o Marcelo ainda estava lá nessa época ele tinha sido indicado
pela Funai para fazer uma vistoria numa fazenda não é que na época para acessar os financiamentos da Sudan para desenvolver a Amazônia ou ou desmatar a Amazônia n que era isso não é precisava de um documento da certidão negativa da presença de índios a Sudan que o Vana falou é a superintendência do desenvolvimento da Amazônia eu sei o nome é complicado mas ele é meio autoexplicativo também a Sudan foi um órgão criado pelo governo militar para incentivar projetos de desenvolvimento entre aspas da Amazônia de colonização agrícola basicamente e para ganhar esse financiamento Você tinha que
ter uma certidão de inexistência de povos indígenas nos lugares onde a floresta ia ser derrubada isso para dar espaço para fazendas primeiro de gado e hoje de soja Mas enfim num dia em 1985 o Marcelo tava indo até uma fazenda em Rondônia para ver se não tinha mesmo indígenas por lá e o Marcelo foi nessa missão e chegou lá na fazenda e conversou com os trabalhadores que disseram olha aqui não mas ali parece que atiraram nos índios atiraram nos índios Teoricamente uma certidão da inexistência de povos indígenas devia ser só uma constatação de que não
tinha nenhuma comunidade naquela região né mas na prática em muitos casos essa exigência virou Uma Sentença de Morte fazendeiros trataram de exterminar as comunidades existentes e apagar qualquer registro delas numa palavra genocídio os fazendeiros usavam várias técnicas nessa campanha de extermínio alguns davam açúcar com arsênico outros doavam roupas contaminadas com vírus e tinha a tática de matar um boi e botar veneno na carne mas muitas vezes era na base da bala mesmo porque quando descobrem um grupinho de índios não descobertos pela fun foi o que foi feito vai lá tenta exterminar não é e e
ninguém na calada da Mata ninguém vai né É só que sempre acaba vazando alguma coisa O Marcelo tinha ouvido essa denúncia de que atiraram nos índios isso foi final de 85 já no comecinho de 86 o Van tava por ali fazendo filmagens do vídeo nas aldeias E aí o Marcelo chamou ele para ir lá vamos aproveitar que você tá com uma câmera aí vamos lá no local onde mataram os zunu e para você registrar é super importante a mata cresce muito rápido não é e a gente foi no local lá com com vários índios negarotê
e mamã D que estavam na festa negarotê e mamãe D são subgrupos na biquara era com eles que o Van Estava filmando a festividade da perfuração labial e quando eles chegaram lá na fazenda em Rondônia eles viram na hora que aquilo era a cena de um crime ali mesmo a gente desenterrou cerâmica e um cabo de Machado Tod uma série de objetos que quem fez o serviço talvez tenha mal feito porque eh deixou inclusive ali naquele local foram achado várias cápsulas de bala e pros indígenas que estavam com a gente também era tão Evidente da
presença que é todo aqueles pé de Urucum né que a gente planta perto em casa tem que se pintar toda hora tal tinha os rastros dos indígenas e os rastros da tentativa de apagar eles do mapa esse não era um incidente isolado nos anos 80 e 90 Rondônia foi palco de uma série de massacres o governo militar tinha prometido distribuir terras para quem quisesse cultivar mas Com passar dos anos grandes fazendeiros foram comprando os lotes concentrando terra e poder e as populações indígenas que viviam por lá acabavam sendo exprimidas cada vez mais em pequenas reservas
de Floresta tudo isso incentivava a violência contra indígenas e contra trabalhadores sem terra também o Van estava correndo de um lado pro outro com a câmerazinha dele tentando colher provas ele e o Marcelo não sabiam quem tinham sido as vítimas nem quantas eles só tinham a convicção que tinha tido uma chacina mas o vanan acabou sendo expulso da região A Fazenda foi desinterditada e nem ele nem o Marcelo conseguir investigar mais tratados como mentirosos enfim a invenção de um genocídio vai sendo desacreditado por todas as as forças contrárias eles só conseguiram voltar para lá em
1995 quase 10 anos depois foi quando Marcelo assumiu um novo cargo na Fun para lidar com povos indígenas em isolamento a paisagem que eles tinham visto em 1986 era de uma fronteira agrícola ainda incipiente as áreas já estavam loteadas então tinha muito pouco as fazendas já tinha sua sede caminhos de acesso né mas a abertura dos Passos ainda era muito pouco e 9 anos depois tudo mudou quer dizer as fazendas foram abertas né houve um índice muito grande de desmatamento outra coisa que tinha mudado nesses anos era a tecnologia naquela época em 86 87 era
muito difícil e era procurar uma uma agulha no palheiro aquele era uma uma mata gigante não é já 10 anos depois tinha muita coisa desmatada e através das fotos satélites a gente podia ver aonde estavam as bolinhas de mata não é e ler pequenos pequenos desmatamentos e buscar pequenos desmatamentos que podiam ser roças indígenas esse era um jeito de tentar identificar comunidades vulneráveis mas tinha outro jeito também focar nas fazendas que tinham proibido a gente acessar proibiu é que tem coisa não é então a gente focou o focou nessas fazendas agora com respaldo da FUNAI
eles conseguiam abrir as Porteiras das fazendas Foi numa dessas idas que o vanan e o Marcelo conseguiram finalmente fazer contato com o povo isolado os indígenas canu do Rio omerê tudo isso acabou indo parar num filme do vanan um filme que ele levou 20 anos para fazer e que saiu em 2009 chama Corumbiara no filme dá para ver o primeiro contato com os canoé as tentativas de comunicação todo trâmite para interditar uma parte da Fazenda os canoé do rio amerê era um grupinho remanescente mas eles não eram os remanescentes do ataque que o Marcelo tinha
ouvido falar em 1985 os canoé tinham sido expulsos daquela região nos anos 40 e levados para Guajará Mirim a uns 500 km dali esse grupo cujo encontro foi filmado pelo vanan era de descendentes dos que tinham conseguido fugir eles conseguiram intérprete de Guajará Mirim um dos últimos daquela comunidade e depois de ganhar a confiança dos canoé os indígenas foram levados Até outro povo isolado o povo akuntsu eram eles as vítimas da chacina de 85 pelo que deu para reconstruir pelo menos 10 pessoas tinham sido assassinadas e dois dos Sobreviventes a kunun tsu ainda tinham marca
de bala no corpo a partir do contato com os zunu e com os canoé deu para esclarecer muita coisa mas os corpos das vítimas nunca apareceram eu até hoje eu espero que um dia alguém resolva falar onde foram interrados os corpos dos Mortos dos zunu naquele local que Nós visitamos né a marca do trator de esteiro passando em cima dos barracos enfim aquilo era uma ação um genocida muito explícita e Clara agora os índios não foram eh os corpos não foram encontrados o que foi feito desses corpos tem alguma testemunha isso não ninguém faz sozinho
não é não sei até hoje eu tenho uma esperança que que esses corpos vão aparecer foi no meio dessa segunda viagem dessa segunda tentativa de investigar os massacres de quase uma década antes que o vã começou a ouvir um boato era uma notícia misteriosa ainda que o índio tinha sido visto lá numa fazenda o indo isolado um peão de uma fazenda na região tinha encontrado uma cabana A Cabana estava abandonada e dentro tinha uma escavação retangular no chão Funda sem nada dentro nos registros antropológicos não tinha nada sobre um povo que fizesse um buraco no
chão da cabana não tinha nenhum precedente para nada assim a equipe do vã sentiu que eles deviam est perto de contatar mais um povo isolado e na falta de um nome porque eles não tinham conseguido falar com esse grupo ainda eles chamaram essa comunidade de índios do buraco mais tarde olhando nas imagens do satélite eles viram um buraco de outro tipo um buraco de desmatamento no meio da floresta que não estava lá antes o mais estranho é que esse pedaço na mata tinha sido derrubado durante a Estação das chuvas o que os fazendeiros não costumam
fazer porque a Mata cresce muito rápido e o que eles encontraram lá não foi uma casinha de palha foi uma aldeia inteira que tinha sido destruída tinham queimado derrubado as árvores e passado com um trator por cima das construções chegamos lá e aí descobrimos que era o local do índio do buraco e tinha muitos buracos inclusive de tamanho muito grande não é e o trator de esteira tinha arrasado tudo e tinh tentado tapar algum desses buracos era um local evidentemente de ocupação antiga né claramente o vanan não conseguia investigar muito no lugar porque ficava dentro
de uma propriedade uma propriedade chamada Fazenda Modelo então ele ficou um tempo ali na cidadezinha mais próxima assuntando a população próxima chamada Chupinguaia e descobri uma testemunha que tinha sido contratada inclusive por fazer um pé de fogo nesse lugar desmatado durante o inverno e ela tava apavorada e contando que o o Hércules da lafine dono da Fazenda Modelo não é tinha contratado um capanga para atirar e botar o índio para correr a testemunha era uma cozinheira de uma um local el e o marido tinham sido chamados para roçar o pasto mas depois de um tempo
um capanga da Fazenda Modelo pediu para eles queimarem o que tinha sobrado da Aldeia começo foi assim quando nós fomos F Lar nós fomos para trabalhar para roçar pasto que nem eu falei pro senhor aí depois aí o homem chamou depois de dias que nós estava trabalhando lá que já tinham feito essa derrubada aí ele passou lá e chamou nós para o meu marido mandou ele para lá para fazer esse pé de fogo lá para ele ní nós foi sem saber de nada né e eu até fiquei fiquei com medo de ficar lá vi embora
para cá e e que o homem que fez a derrubada foi o o o que atirou por cima dos índios né pros índios fugir de lá foi esse daí que aconteceu Esse é um depoimento que o vança gravou com uma câmera oculta era índio diz pelo jeito era tudo cabeludo né índio brabo mesmo índio n pelo que a cozinheira tinha ouvido os índios tinham sido expulsos a tiros ela achava que eles não tinham sido assassinados só espantados e que tinha um que aparecia de vez em quando quando ele vê o o povo ele corre diz
que corre assim o homem que fez a derrubada disse e para mim foi um dilema muito grande porque eu conseguia a confissão assim com uma câmara oculta né e depois eu fia é um pouco Uma Sentença de Morte né um trabalhador fazer uma denúncia e ela tava como dinheira da pensão onde eu estava hospedado e o cara que tinha tirado nos índios o tal do Careca né não cheguei a cruzar com ele mas ele tava rondando lá e e ameaçando ela já se você falar certo cabo contigo Quando a cozinheira conversou com vançan ela já
tava com medo e aí logo depois ela e o marido fugiram sumiram na calada da noite e o vã então sentiu que ele podia usar as provas para pedir interdição daquele pedaço da Fazenda Só que essa interdição era provisória se os indigenistas não conseguisse alguma imagem de um dos indígenas isolados A Fazenda ia voltar ser liberada o índio só passará a existir legalmente se conseguirmos uma imagem dele índio que ninguém viu é boato a gente começou a visitar um monte de de barracos dele pela Mata não é e provavelmente cada vez que um peão de
Madeireira encontrava ele sumia e fazia nessas idas a Campo eles estavam chegando à conclusão de que só um homem tinha sobrevivido ao massacre uma equipe liderada pelo sertanista alir alger e acolhendo pistas sobre esse homem a partir daquilo que Ele deixava por ali e a maior pista era que em toda a casinha que ele fazia tinha um buraco no chão a gente elaborou várias hipóteses o buco né agora todas as casas São umas verdadeiras paliçadas e uma uma das vezes a gente viu que a a rede ficava meio afundada no buraco Isso é uma técnica
de defesa muito conhecida né quer dizer você bota um negócio ali na rede e deita embaixo e provavelmente o o borbagato se chegar ele vai atirar na rede né E essa paliçada é dúvida é uma uma defesa de de tiros é claro que esse sobrevivente estava na defensiva e os indigenistas lá insistindo Na tentativa de contato embora a gente tenha deixado muitos presentes muitas ferramentas mas durante muito tempo ele recusou inclusive os presentes a gente chegava dois meses depois um belo facão negócio coisas preciosas para ele né ele deixava ele não trisca no negócio depois
de muitas tentativas um dia aconteceu e nesse dia a gente topou com ele na mata e ele correu e era uma Tocaia de caça né uma casinha que eles ficam escondido e esperando a caça para flechar de dentro da Tocaia ele o arco e flecha dele estavam dentro da Tocaia então quando ele viu a gente chegar ele correu para Tocaia e aí se viu [Aplausos] cercado a gente era eu Marcelo e Altair da FUNAI né e estavam ali também a tir mantu canu o purá e o moron tinha três canu que a gente achou como
a gente não sabia que que língua esse cara poderia falar então a gente levou os canu para dá uma fala lá ver se eles e entendiam se ele entendia se tinha alguma resposta Mas eles ficaram bastante apavorados também ficaram bastante à distância essa cena do documentário do vanan é inesquecível o grupo se aproxima da cabana tentando comunicar que eles não querem fazer mal pro homem que tá ali não dá para ver ele ali dentro só a ponta da Flecha no meio das Folhas ó lá a flecha dele lá dentro E durante 6 horas a gente
ofereceu batata milho facão Machado tudo que pudesse e agradar ele quando os indigenistas chegavam perto oferecendo comida ele nem se mexia mas quando vanan se aproximou com a câmera Ele soltou uma flecha não não não por muito pouco a flecha não encontrou o alvo ele estava completamente acuado ali ele estava apavorado e ficou o tempo todo com arco armado né e a ponta da flex indo voltando ali foi uma situação extremamente tensa né e ele estava determinado a não se render depois de algumas horas o você conseguiu dar a volta na casinha e se postar
atrás de uma árvore tava bem colado na tocaia de ele né eu consegui entrar ali atrás dessa árvore mas eu consegui fazer uma Zoom né ele me olhando e bastou aquilo dava para ver a cara de um homem de meia idade com uma barba rala olhos bem abertos e desconfiados era ele o Vana se sentiu mal na hora de estar filmando um homem acuado que claramente tinha sobrevivido a vários ataques para todos os efeitos para ele esse era só mais um ataque que a gente tava numa missão difícil assim pro coração não é pelo sentimento
Assim de tá eh forçando uma coisa né Cuando um cara que vai saber por quantas esses cara já tinha passado eh mas era necessário porque senão não não teria uma interdição de área e a vida dele tava em risco também então reconhecer a existência dele também era garantir a sua sobrevivência ali agora que eles tinham conseguido fazer o registro Eles podiam deixar o homem em paz quer dizer tava provado quem ele era mas estava resolvida a questão o índio do buraco existe ele tá lá se entende graças à imagem aquela área de 2000 hear foi
interditada em 1997 e isso garantia que aquele homem pudesse viver em paz na floresta dele no sul de Rondônia Eu acho que o primeiro impacto com certeza é esse visual né de dessa cor contrastante de um laranja amarelado de um lado e um verde profundo do outro assim uma numa divisão ali que você pode colocar um pé de cada lado praticamente né hoje em dia quem consegue autorização para entrar naquela área reservada sente que tá passando de um universo pro outro de um lado mata Serrada do outro poeira meio tudo muda você sente a secura
do ar o calor do sol estalando de um lado e a umidade que eu sinto na pele nos cabelos no na na respiração né nas vias aéreas completamente diferente sem entrar pouquíssimos metros né Essa é a Amanda Vila que trabalha hoje na região sul de Rondônia S Amanda Vila Pereira sou antropóloga trabalho com povos indígenas em isolamento né isolamento voluntário não sei isolados is é um termo sempre em disputa né já desde 2015 venho desenvolvendo as pesquisas no estado de Rondônia e trabalho agora também como igienista no observatório dos povos isolados quando a gente fala
assim povos isolados a primeira reação das pessoas é ou ou desacreditar né Não não é possível que hoje em dia ainda tem pessoas que nunca tiveram contato ou no mesmo sentido só que universo ter essa concepção de que são pessoas que vivem numa bolha assim né não tem a menor ideia do que existe no mundo de cidades de carros de enfim não sabem de nada né estão presos ali na floresta e a realidade né Por assim dizer é um um meio do caminho né esse meio do caminho é que Esses povos optaram pelo isolamento Eles
escolheram não travar contato com a sociedade ao redor deles e o motivo é geralmente algum trauma alguma violência provocada pela colonização entendem que a a optam né pela maneira de viver ali afastada das cidades dos centros aonde ainda restam áreas de Floresta essas populações vão se refugiando acho que a gente pode usar essa palavra né vão se refugiando nesses locais reinventando seus modos de viver o homem conhecido como índio do buraco foi um desses refugiados e em algum momento durante esses anos todos ele ganhou outro nome taru taru não foi um nome que ele escolheu
mas era o nome de um rio que passava pela terra dele e uma pessoa que nunca desistiu né da própria vida que para mim é uma coisa muito impressionante o taru viveu durante décadas sozinho na floresta preservada e em agosto de 2022 ele foi encontrado pela alir auger da FUNAI que desde aquelas primeiras imagens é a pessoa que mais conviveu por assim dizer com taru taru estava numa das Cabanas dele deitado na rede enfeitado com penas de arara ao que parece o taru teve uma boa [Música] morte mas assim que se soube da passagem dele
os fazendeiros interessados naquela área invadiram a terra indígena o corpo do taru ficou em sepulto durante 71 dias passando por perícias para determinar tanto a causa da morte quanto a genética dele e quando ele finalmente foi enterrado na floresta na casa dele o túmulo dele foi violado mais de 20 anos depois do primeiro contato a terra indígena taru ficou sem nenhum indígena agora muita gente enxerga aquela Floresta como vazia como se os únicos rastros que o taru e o povo dele tivessem deixado fosse algumas cabanas e que por isso aquela Terra agora tava vaga para
jogo mas não é bem assim por muito tempo assim se pensou que a grande parte da Amazônia ela fosse na verdade ocupada por uma floresta que até chamada de Floresta virgem entocada né como se a floresta ela não tivesse cultura cultura humana e cultura de outros animais Então essa é a da Universidade Federal de Santa Catarina Geralmente se pensa na Amazônia de dois pontos de vistas assim um deles é que a amazônia é uma das grandes regiões preservadas de Floresta extensa como se fosse uma imensidão Verde cheio de água cheio de biodiversidade e a outra
visão é que a amazônia ela tem sido intensamente destruída por atividades econômicas que geram degradação né na biodiversidade como mineração como é a pecuária extensiva Eu chamei a Carolina para me ajudar a entender como sair desse contraponto a ideia de que ou se tem uma floresta preservada e absolutamente sem gente ou se tem uma floresta sendo derrubada como se a natureza fosse incompatível com a presença humana e a gente vem detectando e mostrando isso que a floresta ela é uma floresta cultural uma floresta domesticada a gente tá dizendo que essa Floresta ela foi moldada por
um longo processo de interação entre os povos que fazem parte dessa Floresta milhares gianos povos indígenas e a diversidade de todas as outras formas de vida e que esse processo Principalmente quando a gente fala de processo de domesticação da floresta esse processo ele acaba levando a uma alteração na composição na forma que a floresta tem e essa Floresta ela passa a ser uma floresta mais segura e muitas vezes mais produtiva para as pessoas estudos de diversas áreas de conhecimento da arqueologia a Ecologia tem mostrado que na floresta as partes que ocupação humana há mais tempo
tem uma diversidade maior de plantas Então o que a gente vê é que a gente detecta que essas florestas que estão cheias de alimento e remédio elas estão localizadas muito próximas de sítios arqueológicos então de antigas habitações dos povos ind indgenas isso nos indica que todo esse trabalho todo esse manejo cuidado com as plantas e com as árvores da floresta acabou levando a uma transformação de uma floresta que a princípio era uma floresta que tinha talvez não tantos recursos ou plantas alimentistas para as pessoas e se transformou numa floresta super rica em alimento né o
resultado desse processo é o que é chamado de uma antropogênica uma floresta que não nasceu pronta não uma selva virgem mas que foi moldada uma floresta cultural os povos indígenas que habitam o que hoje é o Brasil fizeram uma coisa grandiosa a maior floresta do planeta e a terra indígena taru provavelmente vai ser desinterditada o movimento tentou fazer uma reserv assim simbólica tal mas eu acho que não sei se vai rolar porque o fazendeiro estava louco Para retomar a área dele né dele dele entre todas as aspas essa proposta de reserva simbólica que o Van
mencionou é uma tentativa de manter a resistência que o taru mostrou em Vida de fazer da floresta um memorial vivo ao genocídio dos povos indígenas de Rondônia uma destinada à multiplicação da vida que o taru defendeu e tanto cultivou o taru o homem cujo nome a gente nunca pode conhecer não tá mais entre nós ele não deixou nenhum Testamento e ele pode ter levado embora o segredo dos massacres perpetrados contra ele e os seus familiares Mas a maior obra dele ainda tá ali esperando para quem saiba interpretar essa história foi produzida em parceria com o
Brasil Lab do Instituto de estudos internacionais e regionais da Universidade de prinston nos Estados Unidos uma iniciativa acadêmica que considera o Brasil um nexo planetário Vital a pesquisa para esse episódio foi feita pelo antropólogo Fábio zucker você pode conhecer mais em brasil. prinston pedu e Brasil laab tem dois l e z é BR r a z i l l. prinston pedu nossa segunda história acontece numa escala muito menor que a primeira em vez da saga de vários povos ameaçados tentando sobreviver ao longo de décadas de uma floresta sendo moldada ao longo de séculos a gente
vai passar para um dia na vida em 1996 mas um dia que fez toda diferença quem Conta essa história é a Sara zel é 1996 eu tinha 14 anos tudo começou na verdade na véspera no dia 1º de Março de 1996 Essa é a Luana Karen Gonçalves Quirino da Silva e um tempinho atrás ela escreveu pra gente para contar essa história que começa na véspera do aniversário da tia dela a Tati bom meu nome é Tatiana a Tatiana Gonçalves Quirino ai eu sou um pouco tímida que também tinha 14 anos na verdade ela ia fazer
14 anos no dia 2 de março de 96 sim apesar da Tati ser tia da Luana As duas têm praticamente a mesma idade a tatia é a filha caçula e temporã dos avós da Luana Ou seja a Tati é a irmã da mãe da Luana que já tinha mais de 20 anos quando ela nasceu mas na prática as duas meninas A gente cresceu como irmãs duas foram criadas juntas em casas vizinhas no Gama que é uma cidade satélite ou uma região administrativa para usar um nome mais oficial ali no entorno de Brasília o gama foi
um dos povoamentos criados na década de 60 para abrigar a população que migrou para lá durante a construção de Brasília e o Davi pai da Tati avô da Luana veio da Paraíba nessa época Hoje em dia a Luana repórter da EBC a empresa brasileira de comunicação e a tatia é secretária parlamentar as duas trabalham em Brasília mas ainda moram lá no Gama a Luana descreve a região da casa delas como uma roça até hoje E lembra que foi só nos anos 90 que começou a chegar asfalto nas ruas de lá isso tudo para dizer que
elas cresceram Vivendo uma vida simples a vida de crianças do interior que não tinham internet assistiam o show da Xuxa na TV e conviviam praticamente só com a família e com os amiguinhos da escola a experiência delas não tinha muito a ver com a dos Adolescentes hiper conectados de de hoje uma menina de 14 anos naquela época era totalmente diferente de uma menina de hoje em dia a gente não tinha rede social a gente não tinha notícia a gente não a gente ficava brincando na rua descalça jogando bola Bet queimada sabe pic esconde a gente
ainda brincava nessa época dessas coisas então então foi bem surpreendente quando no dia primeiro de março o meu avô meu avô Davi pai da ta eh chegou em casa e deu para ela r$ 50 de presente r$ 50 de presente em 1996 o pai da tatia era motorista de caminhão e ele não costumava fazer essas extravagâncias pros filhos mas a tatia era a caçula de oito filhos ele já tava numa idade já um pouco mais avançada então era a pupila dos olhos dele e na época R 50 era muito dinheiro era muita grana sabe para
uma menina que ia fazer 14 anos e da roça assim em março de 1996 fazia menos de 2 anos que o plano real tinha sido lançado a moeda brasileira ainda tava praticamente um para um com dólar americano e a nossa sensação de quanto valia cada real era muito diferente na época R 50 era metade de um salário mínimo e dava para comprar 1 litro de leite com tipo 60 centavos as duas meninas nunca tinham visto tanto dinheiro na vida e de repente pareceu que nada que a Tati pudesse comprar ali no Gama ia fazer valer
aquele presentão Então ela teve uma ideia ela pai eu posso ir amanhã no shopping comprar um gente com esse dinheiro aí ele ficou assim né ah mas vocês é tão nova né pequenininha 13 anos então tudo que eu ia fazer eu tinha que fazer com alguém aqui é a ta como ela disse antes ela é um pouco tímida então a maior parte dessa história tá na voz da Luana e aí o meu avô falou assim não tudo bem Eu deixo você ir mas só se a Lula for com você meu avô me chamava de Lula
e aí eu tava na hora Vô eu vou Uai Claro a Luana era 9 meses mais velha que a ta e um pouco mais madura ela já tinha peg o ônibus sozinha pra região central de Brasília algumas vezes ônibus porque do gama até o o shopping que a gente ia que fica no conjunto nacional que é no plano piloto são uns 35 km de distância então a gente tem que ir de ônibus né não tinha como ir de outro modo e não tinha Shopping não tinha lugar pra gente comprar um presente Digno né de R
50 o dia seguinte 2 de março de 96 que era o aniversário da Tati Começou cedo nós pegamos o ônibus aqui no Gama 7:30 da manhã já com esses R 50 já desenterramos essa riqueza pegamos o ônibus pagamos a passagem com esse dinheiro e aí fomos pra rodoviária do Plano Piloto o trajeto era bem tranquilo até porque essa rodoviária tem um acesso direto ao conjunto nacional para quem não é de Brasília o conjunto nacional é um shopping sem muros assim ele são várias lojas você pode entrar no shopping antes dele est aberto e ficar vendo
as vitrines até que deu o horário das lojas abrirem né ainda bem que as meninas chegaram lá muito cedo e tava tudo fechado Então o que dava para fazer era ficar andando pelos corredores tentando ter alguma ideia do presente que ia fazer jus aqueles R 50 mas tava difícil escolher alguma coisa quando você ganha um dinheiro assim que você nunca ganhou na vida você quer comprar tudo e ao mesmo tempo você não consegue comprar nada porque você quer um monte de coisas e fica indeciso né do que comprar elas andaram e andaram o shopping finalmente
abriu e nada e aí a gente entrou em uma loja em outra mas nada é incrível nada agradava assim nada enchia os olhos e Engraçado que a gente sempre foi muito simples né a gente famía pobre e tudo então é de repente uma bolsa um sapato uma blusa poderia encher os nossos olhos mas parecia que não era aquilo né nada parecia especial ao ponto de justificar gastar aquele monte de dinheiro aí de repente passa uma garota umas duas três garotas com uma faixa escrita Mamonas Assassinas isso já era umas 10:30 da manhã Mamonas Assassinas a
tatia era fã os Mamonas Assassinas a banda favorita da Tati e de boa parte das crianças e adolescentes brasileiros da época eles só tinham um álbum que tinha sido lançado menos de um ano antes em junho de 95 mas o sucesso da banda foi meteórico e até hoje o disco tá na lista dos mais vendidos de todos os tempos no Brasil no fim de 95 duas das músicas daquele álbum vira vira e Pelados em Santos ficaram em segundo e terceiro lugar no ranking de Hits mais tocados no país eles só perderam pra música Take a
da Madona os Mamonas estavam em todos os lugares nas rádios no Faustão no programa daa elão de Guarulhos uma banda de Guarulhos aqui de São Paulo e a música estourou telados em Santos né fo [Música] os Mamonas Assassinas er uma banda de rock cômico mas na real eles navegavam por vários gêneros musicais do foró ao o que unia a produção do grupo era mais a pegada de comédia de sátira que tava em todas as músicas Músic aos meus ouvidos tem Piada homofóbica tem piada classista racista de nordestino as letras são meio que você esperaria daquele
humor preconceituoso dos anos 90 Mas enfim a gente não tá aqui para discutir esse mérito hoje tanto a Luana quanto a ta me falaram que elas ainda TM carinho pela banda Mas elas também escutam as músicas com ouvidos diferentes e enxergam as partes problemáticas mas lá em 95 96 a sociedade era outra e essas coisas passavam batido por quase todo mundo principalmente pelas crianças e adolescentes que eram o coração do público dos Mamonas e esse público mais infanto juvenil delirava com os integrantes usando fantasias absurdas do palco falando de peido e [ __ ] debochando
de tudo e de todos o sentimento geral era de que os Mamonas eram uma banda irreverente mas inofensiva no fim era como a Cha disse eles faziam rir e dançar voltando PR ta PR Luana primeira que eu ouvi Mamonas eu fiquei um pouco com vergonha sabe PC as letras eram um pouco assim decentes assim eu achava né E se a Luana ainda tinha alguma dúvida a Tati era super fã real oficial eu era fã dos caras entendeu assim eu era tinha 14 anos então eu acho que fora a Xuxa era a primeira vez que eu
era muito fã de alguém entendeu eu acho que eles faziam muitas coisas que a gente queria fazer e não podia porque o pai brigava sabe então acho que é por isso que a gente ficava tão magnetizado pela imagem deles assim né então quando elas viram Aquelas garotas no shopping com a faixa dos Mamonas na cabeça a Tati eu já fiquei assim ai onde será que elas compraram vamos ver de repente eu compro Elas tiveram que parar e perguntar moça onde é que você conseguiu essa essa faixa que você tá usando aí lá lá no estádio
vai ter show deles hoje aqui em Brasília a gente foi lá tem um monte de ambulante vendendo coisas dos Mamonas comprar uma bandana e quem sabe até uma camiseta dos Mamonas já parecia um presente muito superior a qualquer coisa que elas tinham visto no Shopping Bom do conjunto nacional até o estádio manega rincha onde ia ser o show dá uns 2 Km as meninas foram andando até lá chegando lá tinha uma fila de pessoas comprando ingressos muita gente vendendo camiseta faixa do Mamon nas Assassinas eu me lembro do riso da Tati assim da Alegria dela
é isso é isso que eu tava procurando é isso que eu quero mas tinha uma coisa que ia ser ainda mais especial e aí a gente tá tipo curiosidade Vamos ver quanto é que é o ingresso do show você Só por curiosidade porque a gente imaginava que daria para comprar assim né E também não poderia né tipo Imagina a gente não ia nunca para esse show né tudo muito muito assim sem cabimento para duas meninas assim roceiras né E aí a gente foi lá e sal vingando era r$ 2 Cada ingresso r$ 2 cada então
para comprar dois ingressos r$ 0 e até aquele ponto elas só tinham gastado uns trocados nas passagens de ônibus e numa coxinha com refresco que as duas ainda de então o show ainda cabia no orçamento aí eu já olhei assim pra Luana aqueles olhinhos brilhantes né Aí eu falei cara e se a gente fosse no show a Tati ficou eufórica ela tinha encontrado o presente ideal e nada além daquele show ia fazer valer os R 50 só que tinha um probleminha elas nunca tinham feito nada assim na vida a gente era muito preso assim em
casa sabe a gente brincava no máximo aqui na Rua e quando a gente conseguia dar uma escapada porque eu principalmente meus pais não deixavam mesmo eu sair de casa só de ter conseguido ir no shopping já tinha sido uma vitória a ideia de ir num show desacompanhadas no meio de uma multidão de estranhos nunca tinha passado nem perto da cabeça delas até aquele momento eu sei que eu Dev que deve ter passado na minha cabeça que eles não iam deixar mas eu ia tentar conseguir De toda forma né minha única chance era tentar as chances
não er boas e elas calcularam o seguinte se elas voltassem para casa para tentar pedir permissão negociar algum acordo provavelmente a coisa ia acabar ali mesmo iam barrar aquela ideia em casa não iam deixar elas voltarem pra Brasília então o jeito era tentar convencer os pais pelo telefone tinha o orelhão no shopping e enquanto elas caminhavam de volta elas iam matutando o que iam dizer e elas só iam ter uma chance antes de ligar pro meu avô a gente pensou tudo como vai fazer Qual é a barreira Que ele vai colocar O que que a
gente vai como é que a gente vai conseguir dobrar isso entendeu e eu já pensei logo no meu tio Fábio o Fábio era irmão da ta e devia ter uns 18 anos na época se o Fábio concordassem ir com elas quem sabe isso seria o suficiente para convencer os pais da Tati que eram mais difíceis e a Luana achava que se a coisa passasse pelo crio deles a mãe dela também ia deixar então chegando no conjunto nacional A ta ligou do orelhão pro pai dela que lembra era o avô da Luana ela falou com meu
avô e aí ele mas como é que você vai fazer isso menina como é que vocês vão fazer esse negócio Como é que vocês vão ficar aí até é tipo era 11 e pouco da manhã era no meio-dia como vão ficar aí até à noite assistir um show aí a Tati a Tati ou eu não enfim não me lembro mais falou não mas a gente vai chamar o Fábio o Fábio vai com a gente a o Fábio né tem responsabilidade ele já é maior de idade foi um trabalho árduo de argumentação e convencimento E no
fim no final das contas o meu avô falou Não tudo bem se o Fábio for encontrar vocês eu deixo senão vocês vão ter que vir PR casa na memória da Luana foi o avô dela o pai da Tati que autorizou já pra Tati Foi a mãe que finalmente deu o aval de qualquer forma o resultado foi o mesmo sucesso em seguida elas falaram com o Fábio e ele topou pra Brasília depois do trabalho para acompanhar as duas no show e a mãe da Luana também deu o ok elas mal acreditavam que o plano tinha funcionado
Imagina eu era uma adolescente que saía para canto nenhum e de repente eu tava indo no show da minha banda favorita realmente era algo Digno finalmente a gente tinha encontrado o presente Digno daqueles r$ 50 elas voltaram pro estádio e compraram os ingressos ainda sobrou um troco paraas passagens de ônibus de volta e para comprar uma água e Para não gastar mais elas já tinham pedido pro Fábio levar um lanche para elas porque elas iam ficar ali o dia inteiro só com sustento de meia coxinha cada uma isso era perto da hora do almoço e
o show só ia começar umas 7 horas com a banda Baba Cósmica abrindo pros Mamonas mas a ansiedade era tanta que as duas já foram pra fila os super fãs já estavam se amontoando fora do estádio e a atmosfera era elétrica durante a espera a Tati até deu uma entrevista pra TV local que estava cobrindo o show e a gente não conseguiu assistir essa essa reportagem nunca vi até se fosse hoje em dia no outro dia tava no YouTube né Pois é na verdade eu encontrei uns trechinhos dessa gravação no YouTube a reportagem filmou um
monte de crianças e adolescentes esperando show tal faixa do Mamonas amarrada na cabeça e bate bem com que elas me contaram tava um clima de festa todo mundo muito animado cantando as músicas se cab seu corpão violão meho deoc deixando infelizmente a entrevista da ta não aparece nesse vídeo mas se você olhar bem dá pr ver a Luana e a Tati ali no meio da galera quando deu umas 5:30 o Fábio chegou levando um amigo junto eles compraram ingressos e foram encontrar as meninas e como elas estavam lá no comecinho da fila Quando o estádio
abriu deu para garantir um lugar bem na frente Os Mamonas subiram no palco lá pelas 8 eles entraram no palco e aí eles estavam vestidos de presidiários O show foi tudo que elas esperavam e mais um pouco então cantaram todas cantaram Brasília amarela né a gente estava em Brasília interagiram com público Fizeram brincadeira gracinha o show tinha muita gente assim a geral tava lotada as cadeiras não estavam lotadas mas tinha muita gente eu me lembro de olhar para trás e ver muita gente aquela coisa da expectativa do show começar tudo novo tudo a primeira vez
assim tudo muito incrível e a Noite Enluarada também a noite tava bonita tava estrelada o céu segundo uma matéria que saiu depois no Correio Brasiliense o show na verdade foi um certo fracasso de público os produtores esperavam umas 15.000 pessoas que era o que os Mamonas vinham trazendo nas apresentações anteriores mas naquela noite numa nega rincha só 4500 pessoas apareceram tanto que a tatia e a Luana conseguiram comprar ingresso no dia e o Fábio e o amigo dele praticamente na hora só que ninguém parece ter Se importado com o estádio meio vazio o público em
grande parte crianças e adolescentes foi a loucura e no caso da Luana e da Tati 4.000 ou 15.000 pessoas não fazia lá muita diferença de qualquer jeito aquela era a maior multidão que elas já tinham visto na vida a gente pulou muito cantou bastante cantamos todas as músicas a gente sabia tudo de core Foi muito legal o show acabou com direito Abis que foi o hit vira vira para Delírio total do público e aí a banda se despediu Deixando as meninas com aquela energia residual de ter vivido um dia de muitas aventuras e de muitas
primeiras vezes muito na Euforia da experiência no melhor aniversário da vida da E eu ganhei de lambuja também esse presente né porque tava lá com ela então assim ela meu sonho o melhor aniversário da minha vida ela tava exultante ela tava assim num Estádio de Total alegria e felicidade e a gente chegou aí na área de próxima do palco a gente se não me engano a gente pegou um guardanapo a gente pegou algumas coisas que tav Ah esse aqui acho que foi deles ISS aqui acho que foi deles foi usado por eles Vamos pegar vamos
levar PR casa de lembrança a ainda lembra que elas tentaram ver a banda uma última vez mas eu lembro que a gente ainda ficou um tempão no estádio lá fora a gente demorou muito ficamos conversando com o pessoal fazendo festa a gente ficou na esperança do carro passar e a gente V alguma coisa no fim elas não conseguiram ver eles passando e aí elas pegaram o ônibus de volta para casa tomaram banho foram dormir mais do que satisfeitas foi nossa primeira aventura assim e sei lá eu acho que poucas coisas se equivaleriam a isso tudo
assim na vida do que a gente viveu e tendo vivido muito já bastante desde [Música] então e aí vira a história né na manhã seguinte minha mãe acordou primeiro minha mãe acordou de manhã cedinho e vi o plantão de notícias E aí me acordou né Luana Luana aqui Mamonas Nós voltamos a falar ao vivo da Serra da Cantareira zona norte de São Paulo o avião que trazia os Mamonas Assassinas caiu numa área de difícil acesso a 1200 m de altitude aí embaixo a gente vê as imagens dos destroços do avião e os bombeiros que fazem
o resgate na casa ao lado onde a Tati morava o telefone não parava de tocar era uma cunhada da Tati a Tati estava dormindo e não queria atender mas o pai dela insistiu aí ele voltou e falou a ela de novo vai atender porque ela vai ficar ligando aí eu falei tá vou atender aí eu atendi e ela foi muito muito assim sensível né Ela simplesmente Oi oi bom dia não sei o qu ela ela simplesmente não sei que falou os Mamonas morreram aí aí eu até levei um susto assim eu falei não não morreram
não menina a gente estava no show deles ontem à noite não aí elas morreram Sim eles se acidentaram depois do show teve um momento que eu tava conversando com ela que eu não sabia se eu tava sonhando porque assim era tão surreal ela falar aquilo para mim sabe depois da noite que eu tinha tido E aí ela falou Liga a TV que você vai ver aí eu desliguei o telefone e Liguei a TV e aí foi aquele choque né porque já tava em todos os canais avião que trazia o grupo Mamonas Assassinas de Brasília no
dia anterior enquanto a Tati e a Luana estavam pegando o ônibus pro Gama a banda estava pegando um jatinho para voltar para Guarulhos e às 11:16 o avião se chocou contra a Serra da Cantareira nove pessoas estavam dentro do avião no avião tava o vocalista Dinho o tecladista Júlio rassek o guitarrista Bento inoto o baixista Samuel reoli e o irmão dele o baterista Sérgio reoli e também o segurança Sérgio Saturnino o r Isaac solto o piloto Jorge Luiz Martini e o copiloto Alberto taeda nenhum dele sobreviveu parentes e amigos do grupo Mamonas Assassinas também estão
aqui no local numa outra clareira que fica alguns metros Nós voltamos a qualquer momento com mais informações lá no Gama a Luana correu pra casa da Tati eu me lembro dos gritos da t até hoje ela gritou ela gritou assim ela desesperadamente assim como se tivesse perdido uma pessoa não não é possível Como assim a gente teve que controlar ela a gente teve que acalmar ela porque ela ficou muito nervosa todos nós ficamos muito nervosos mas ela ela sempre expôs muito sabe ela sempre colocou muito para fora e nesse momento não foi diferente foi o
nosso primeiro contato com a morte então como é que pode pessoas jovens com sucesso morrerem isso pra gente era inaceitável tinha a gente tinha perdido o nosso bisavô com 90 e poucos anos assim eu Ok é normal né assim uma pessoa idosa morrer agora pessoas novas morrerem no auge do Sucesso pra gente era uma coisa que não era possível acontecer era algo impossível era algo assim inexplicável então a ta mergulhou num luto num luto de verdade assim de só vestir preto a Tati mergulhou num luto misturado com obsessão foi um choque realmente muito grande para
mim eu fiquei muito abalada todo mundo me ligou me dando os pesos parecia que eu era parente dele sabe mas assim depois que eles morreram o meu quarto ficou não dava nem para você enxergar a parede eu preguei eu era assim sabe aquela fã maluca depois do acidente os Mamonas Assassinas viraram o centro da vida da Tati ela colecionava tudo que ela pudesse achar da banda Roupa CD objetos e bugigangas variadas gravações revistas na família todo mundo sabia do caso e quando alguém encontrava algum item dos Mamonas dava para Tati na escola as meninas ganharam
uma certa atenção por terem ido ao último show e a Tati e as amigas até tentaram organizar um fã clube oficial a Luana lembra que elas escreveram cartas de pesar pras namoradas dos integrantes falecidos E a Tati conta que ela chegou a falar no telefone com uma delas numa espécie de linha de atendimento aos fãs aquele dia do show o dia do aniversário de 14 anos da ta ficou com elas por um bom tempo eu acho que foi o melhor presente e depois foi o pior assim na verdade porque talvez se a gente não tivesse
vivido o show a experiência pós morte não teria sido tão traumática agora saber que eles estavam vivos alegres cantando super animados na véspera e logo em seguida estavam mortos tanto foi foi foi chocante Foi incrível Foi algo do extraordinário desse contato de como a morte pode ser cruel como a morte pode estar ali na porta e a gente não sabe aqueles momentos que a gente se dá conta de que para morrer basta tá vivo né só que a gente acha que não atinge a gente ainda mais quando você é adolescente né nem quem a gente
ama porque a gente se sente ali Invencível Ainda mais depois de uma aventura dessa em que com o tempo as meninas foram crescendo e o choque e a obsessão foram se diluindo isso mas acabou a inocência eu não lembro do momento exato em que eu perdi minha inocência de criança em que eu cruzei algum véu Imaginário em entre o mundo infantil e a adolescência e comecei a ter um vislumbre do que é a vida adulta eu não lembro de quando eu conhecia a liberdade que é fazer o meu próprio caminho no mundo e também não
sei quando eu percebi as consequências e os medos de viver como gente grande que isso aconteceu aconteceu mas foi um processo gradual uma trilha que eu fui caminhando devagarinho através de anos e aí quando eu me vi eu já tava do outro lado já EA Luana viveram tudo isso em pouco mais de 24 horas elas foram da Euforia da primeira aventura a angústia da Morte elas descobriram nelas mesmas uma Independência eletrizante um outro jeito de existir no mundo e logo depois elas Descobriram que ninguém tá acima da dor da morte do inesperado pras duas o
fim da inocência infantil tem uma data marcada no calendário foi no dia 3 de Março de 9 se O Dia Depois do último show dos Mamonas Assassinas Essa foi a Sara zel produtora Sênior da Rádio novelo obrigado por ouvir mais um episódio do rádio novelo apresenta você que escuta a gente até os créditos já sabe mas toda semana a gente deixa algum material extra no site relacionado às histórias da da semana porque sempre dá vontade de cavucar mais um pouco e sempre tem coisa que não cabe no episódio essa semana tem sugestões de leitura sugeridas
pelo Fábio zucker sobre o taru e sobre florestas antropogênicas e também mais detalhes sobre o último show dos Mamonas Assassinas e para quem tá ouvindo o episódio fresquinho assim que ele tá indo ao ar pela próxima semana até o dia 9 de novembro dá para assistir ao filme do Vincent Car Corumbiara de graça no vimo e para quem chegar depois dá para alugar por lá a gente vai deixar todas as coordenadas na página do episódio no site quando você tiver no nosso site aproveita para assinar a newsletter do rádio novela apresenta que chega toda semana
junto com o episódio e traz uma dica Cultural de alguém da equipe e se você quiser mandar uma sugestão de história pra gente vai lá Numa seção do site onde diz envie uma pauta que tá explicado direitinho como fazer o rádio novelo apresenta é um original da Rádio novelo a gente tem o apoio da Open society foundations tem Episódio novo toda quinta-feira a direção criativa é da Paulo escarpim e da flora Thomson devau e a produção executiva É do Guilherme Alpendre a gerência executiva é da Marcela casaca e a gerência de produto é da Juliana
yeger nossos produtores Sênior São o Víctor Hugo Brandalize a Evelyn argenta a Bia Guimarães e e a Sara zel as produtoras da nossa equipe são a Bárbara rubira a Natália Silva e a Júlia Matos a checagem desse Episódio foi feita pela Luisa Silvestrini nesse Episódio a gente usou música original de Luna França e também da Blue dot a mixagem é do pipoca sound o desenvolvimento de produto e audiência é feito pela Bia Ribeiro O Gilberto porcidonio é o responsável pelo conteúdo e engajamento das nossas redes sociais o design das nossas peças é do Mateus cotinho
obrigada e até a semana que [Música] vem